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formacao social, historica e p (2)

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1
UNIDADE 1
O ADVENTO DA REPÚBLICA NO 
BRASIL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• compreender as circunstâncias nas quais o regime político republicano foi 
implantado no Brasil;
• analisar aspectos do conjunto de interesses dos grupos políticos envol-
vidos na implantação da República, assim como daqueles que surgiram 
entre os anos de 1889 e 1930;
•	 refletir	sobre	alguns	aspectos	dos	movimentos	sociais	na	Primeira	Repú-
blica;
•	 identificar	as	condições	nas	quais	a	luta	de	classes	encontrou	projeção	no	
espaço	urbano	industrial	na	Primeira	República.
Essa	 unidade	 está	 organizada	 em	 três	 tópicos.	 Em	 cada	 um	 deles	 você	
encontrará	dicas,	 textos	complementares,	observações	e	atividades	que	 lhe	
darão	uma	maior	compreensão	dos	temas	a	serem	abordados.
TÓPICO	1	–	A	TRANSIÇÃO	ORQUESTRADA:	CONVENIÊNCIAS	DO	
																					REGIME	REPUBLICANO
TÓPICO	2	–	PRIMEIRA	REPÚBLICA:	A	“REPÚBLICA	DAS	OLIGARQUIAS”
TÓPICO	3	–		TRABALHADORES	NA	PRIMEIRA	REPÚBLICA:	CONDIÇÕES	
																						À	“LUTA	DE	CLASSES”
Assista ao vídeo 
desta unidade.
2
3
TÓPICO 1UNIDADE 1
A TRANSIÇÃO ORQUESTRADA: 
CONVENIÊNCIAS DO REGIME 
REPUBLICANO
1 INTRODUÇÃO
Resultado	de	uma	convenção	criada	na	Europa	do	século	XIX,	momento	
em	que	a	História	se	constituía	como	disciplina,	ganhava	projeção	institucional	e	
aspirava	à	cientificidade	a	“História	Contemporânea”,	que	haveria	tido	seu	marco	
inaugural em 1789, ano de importantes eventos políticos e sociais responsáveis 
pela	instauração	da	Revolução	Francesa.	Segundo	esta	convenção,	com	o	perdão	
da	redundância,	seríamos	“contemporâneos	de	uma	História	Contemporânea”.	
Não	há	como	negar	que	a	Revolução	Francesa	desencadeou	eventos	com	
projeções	maiores	 do	 que	 aquelas	 restritas	 ao	 continente	 europeu,	 mas,	 em	 se	
tratando	do	nosso	país,	 pensar	 a	 existência	de	uma	“História	Política	do	Brasil	
Contemporâneo”	é	uma	atitude	que	nos	remete	a	um	recorte	temporal	diferenciado,	
principalmente	porque,	do	ponto	de	vista	político,	a	“História	Contemporânea”	
brasileira	ganha	maior	significado	no	espectro	do	regime	republicano.
Instaurada	 em	 15	 de	 novembro	 de	 1889,	 um	 século	 após	 o	 início	 da	
Revolução	Francesa,	 a	República	não	 significou	a	materialização	de	um	projeto	
político e administrativo para o país e para sua população, mas uma via conciliatória 
para interesses díspares de uma elite política que não mais se adequava ao regime 
monárquico.	A	confirmação	dessa	tese	pode	ser	encontrada,	por	exemplo,	na	falta	
de respaldo popular ao ideário republicano, situação que só teve par na absoluta 
insipiência da maneira como a carcomida monarquia foi defendida nos dias 
seguintes	à	proclamação	da	República.	Por	outro	lado,	os	rumos	que	o	novo	regime	
tomou	até	os	anos	trinta	do	século	XX	são	testemunhos	de	peso	considerável.	Senão	
vejamos.
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
4
2 OS INTERESSES E AS PROPOSTAS EM EVIDÊNCIA
Por	maiores	que	sejam	as	discrepâncias	entre	os	trabalhos	de	historiografia	
que	discorrem	sobre	a	transição	da	Monarquia	à	República,	podemos	indicar,	sem	
maiores	problemas,	a	existência	de	alguns	pontos	de	convergências	nas	explicações	
que	estes	dão	a	ler.	Em	linhas	gerais,	
[...]	Da	mesma	forma	que	para	o	fim da escravidão, em geral, para se 
explicar	a	Proclamação	da	República	(15	de	novembro	de	1889)	recorre-
se às transformações econômico-sociais	por	que	passaria	o	país	no	final	
do	 século.	Assim,	 teríamos	 a	 decadência	 das	 oligarquias	 tradicionais	
(leia-se,	em	especial,	a	do	Vale	do	Paraíba),	a	imigração	e	o	definhamento	
da	escravidão,	fenômenos	que	levariam	ao	aprofundamento	das	relações	
capitalistas	no	campo,	o	processo	de	industrialização	e	a	urbanização.	
No	interior	deste	ambiente,	encontraríamos	o	crescimento dos Partidos 
Republicanos, a campanha pelo federalismo frente à centralização 
monárquica, a penetração das ideias positivistas no exército e o 
aguçamento	da	chamada	Questão Militar.	Caberia	aos	militares	o	ato	
de	 15	 de	 novembro	 de	 1889	 e	 seriam	 eles	 os	 primeiros	 presidentes,	
ficando	no	poder	até	1894.	(LINHARES,	1990,	p.	187,	grifo	nosso).
Individualmente,	 todas	 as	 questões	 em	 negrito	 na	 citação	 anterior	
mereceriam	um	olhar	mais	atento	e	uma	análise	específica.	Contudo,	interessa-nos	
aqui entender a contribuição que cada uma delas deu ao processo de instauração 
da	República.	Portanto,	vamos	por	partes,	começando	pela	última	delas:	a	Questão	
Militar.
Segundo	 uma	 expressão	 bastante	 conhecida	 entre	 os	 historiadores	 e	
cientistas	 sociais,	 enunciada	por	Aristides	Lobo,	 o	 povo	 teria	 assistido	 à	 queda	
da	Monarquia	“bestializado,	atônito,	sem	saber	o	que	significava”.	O	fato	é	que,	
embora a existência de partidos republicanos fosse constatada desde 1870, o ato 
inaugural da República não foi obra de uma articulação política entre civis, mas um 
“evento	até	certo	ponto	misterioso	para	os	que	dele	não	participaram	diretamente,	
ou	seja,	para	os	que	não	pertenciam	ao	seleto	grupo	de	militares	conspiradores”.	
(DEL	PRIORE;	VENÂNCIO,	2003,	p.	141).	
Ao	longo	da	segunda	metade	do	século	XIX,	principalmente	após	o	término	
da	Guerra	do	Paraguai	(1864-1870),	as	relações	entre	o	governo	imperial	e	o	exército	
não	eram	das	melhores.	Nos	meios	militares	havia	um	profundo	ressentimento	
em	relação	ao	absoluto	descaso	com	que	o	governo	tratava	o	exército.	A	falta	de	
investimentos, tanto em infraestrutura quanto em contingente e treinamento, era 
uma	das	razões	para	o	fato	de	o	exército	brasileiro	viver	em	estado	precário.	Essa	
situação,	contudo,	não	impediu	a	vitória	brasileira,	em	conjunto	com	a	Argentina	
e	o	Uruguai,	na	Guerra	do	Paraguai.	Finda	a	guerra,	aqueles	que	lutaram	pelo	país	
passaram	a	reivindicar	com	maior	veemência	a	devida	atenção	aos	seus	interesses.
TÓPICO 1 | A TRANSIÇÃO ORQUESTRADA: CONVENIÊNCIAS DO REGIME REPUBLICANO
5
FIGURA 1 – HOMENAGEM DA REVISTA ILLUSTRADA À 
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
FONTE: REPÚBLICA no Brasil. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro: Republica_no_brasil.jpg>. Acesso em: 7 mar. 
2010.
Associa-se	ao	descaso	outro	fato	importante.	Mesmo	diante	das	condições	
adversas,	a	partir	de	1850	o	exército	brasileiro	enfrentava	um	paulatino	processo	
de	 profissionalização.	 No	 entendimento	 de	 Del	 Priore	 e	 Venâncio	 (2003),	 tal	
processo,	dentre	outras	 consequências,	 acarretou	uma	modificação	nos	 critérios	
de	promoção,	ou	seja,	a	progressão	na	hierarquia	militar,	historicamente	acessível	
apenas a membros da elite, tornou-se uma prerrogativa do mérito individual e 
possibilitou	a	projeção	de	 jovens	de	origem	humilde.	Uma	vez	que	no	 exército	
era	possível	também	obter	acesso	à	educação	formal	e	ao	conhecimento	científico,	
criaram-se	as	 condições	para	a	propagação	do	 ideário	 cientificista	que	ganhava	
forte	projeção	no	século	XIX,	principalmente	no	mundo	ocidental.	
Em poucas palavras, é possível dizer que a crença na ciência como 
promotora	 do	 progresso,	 do	 desenvolvimento	 e	 da	 “civilização”,	 encontrou	 no	
exército	um	terreno	fértil	para	germinar.	O	fruto	desse	plantio	foi	a	difusão,	entre	
seus	membros,	do	Positivismo,	doutrina	filosófica	concebida	por	Auguste	Comte,	
cujo	 lema,	 “a	Ordem	por	 base,	 o	Progresso	por	fim”,	disseminou-se	 entre	 toda	
uma	geração	formada	na	escola	militar.	Não	por	outro	motivo,	o	lema	inscrito	na	
bandeira	nacional	(a	Bandeira	Republicana),	“Ordem	e	Progresso”,	é	tributário	do	
ideário	positivista.		
Evidentemente, não foi a força das ideias que guiava o grupo comandado 
pelo	Marechal	Deodoro	 da	 Fonseca	 a	 única	 responsável	 pela	República.	Dado	 o	
empurrão inicial, o carro republicano só entrou em movimento devido a uma ampla 
conjunção	de	fatores.	A	abolição	do	trabalho	escravo	certamente	constaentre	eles.
A	assinatura	da	Lei	Áurea	foi	o	ato	final	de	um	processo	que	se	estendeu	por	
mais	de	quarenta	anos.	Desde	1850,	com	a	assinatura	da	Lei	Eusébio	de	Queirós,	o	
tráfico	interatlântico	de	escravos	fora	proibido	(decorrência	das	pressões	sofridas	
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
6
de	parte	dos	 ingleses,	agentes	contentores	do	 tráfico	entre	a	África	e	a	América	
desde	1845).	Durante	esta	segunda	metade	do	século	ocorreu	um	prolongamento	
da	escravidão	até	a	impossibilidade	de	sua	manutenção.	Atos	legais,	como	a	criação	
da Lei do Ventre Livre, sancionada em 1871, e a Lei dos Sexagenários,	em	1885,	nada	
mais representaram do que a protelação do inevitável, principalmente se levarmos 
em	conta	que	o	Brasil	foi	um	dos	únicos	países	da	América	a	manter	a	escravidão	
depois	de	proclamada	a	independência	política	em	relação	à	sua	metrópole.
A	pressão	contra	a	manutenção	do	regime	de	trabalho	escravo	desenvolveu-
se	em	várias	 frentes.	À	revolta	cada	vez	mais	 incisiva	 (e	perigosa)	dos	escravos	
cativos é necessário somar a proliferação de clubes abolicionistas, dos quais faziam 
parte,	por	exemplo,	tanto	intelectuais	e	profissionais	liberais,	quanto	membros	da	
elite	 e	 ex-escravos.	Nestes	 clubes	 constavam	aqueles	 que	defendiam	a	 extinção	
lenta	 e	 gradual	 da	 escravidão	 (emancipacionistas)	 e	 aqueles	 que	 lutavam	 por	
sua	 extinção	 imediata	 (abolicionistas).	 Por	 outro	 lado,	 as	próprias	necessidades	
internas	do	capitalismo	em	desenvolvimento	no	país	(é	importante	lembrar	que	
a constituição de um mercado consumidor, com renda própria, é condição de 
existência	para	a	manutenção	do	capitalismo)	agiram	no	sentido	de	 fomentar	a	
abolição.	Contra	essas	frentes	ficavam	os	escravistas,	defensores	da	existência	do	
regime	de	trabalho	escravo.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Golden_
 law_1888_Brazilian_senate.jpg>. Acesso em: 7 mar. 2010.
FIGURA 2 – LEI QUE ABOLIU A ESCRAVIDÃO
A figura mostra o Senado brasileiro aprovando a lei que aboliu a escravidão no 
país, em 1888. Uma multidão está reunida no andar de cima e ao fundo no térreo assistindo.
UNI
TÓPICO 1 | A TRANSIÇÃO ORQUESTRADA: CONVENIÊNCIAS DO REGIME REPUBLICANO
7
Se	a	“ordem	natural	dos	acontecimentos”,	supondo	que	esta	exista,	apontava	
o	final	do	século	XIX	como	o	momento	do	suspiro	final	da	escravidão,	o	ato	da	
Princesa	Isabel	pode	ser	interpretado	como	um	atropelo	dessa	ordem.	Rompendo	
com	a	proposta	dos	emancipacionistas,	a	abolição	significou	para	os	escravistas	
“[...]	uma	traição,	um	confisco	de	propriedade	alheia.	A	reação	deste	grupo	não	
tardou	a	acontecer.	Um	ano	após	o	‘13	de	maio’,	à	oposição	dos	militares	somou-
se	agora	a	de	numerosos	ex-senhores	de	escravos.”	(DEL	PRIORE;	VENÂNCIO,	
2003,	p.	258).	Conforme	nos	fala	Penna	(1999),	sem	base	econômica	e	política	capaz	
de	lhe	dar	sustentação,	a	Monarquia	não	resistiu	a	uma	singela	parada	militar.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lei-
 %C3%81urea-original-da-Lei-3353.jpg>. Acesso em: 7 mar. 2010.
FIGURA 3 – PUBLICAÇÃO OFICIAL DA LEI ÁUREA
Do	ponto	de	vista	político-administrativo,	o	elemento	que	mais	militava	
contra	a	Monarquia	era	o	excesso	de	centralização	do	poder.	Para	que	você	tenha	
uma	 ideia	 do	 peso	 desta	 questão,	 é	 importante	 saber	 que	 durante	 o	 Segundo	
Reinado,	ou	seja,	durante	o	período	em	que	Dom	Pedro	II	governou,	havia	uma	
interferência	 direta	 do	 governo	 na	 vida	 política	 das	 mais	 diversas	 regiões	 do	
país.	Esta	postura	 impossibilitava	a	 livre	ação	de	grupos	oligarcas	regionais	e	a	
sua	perpetuação	no	poder.	Por	mais	opaca	que	a	 ideia	de	República	parecesse,	
havia	 em	seus	preceitos	a	 sinalização	para	a	 implantação	da	descentralização	e	
do	federalismo,	sendo	estas,	inclusive,	as	principais	reivindicações	do	movimento	
republicano	 originado	 em	 1870.	 Ou	 seja,	 como	 você	 pode	 notar,	 contrariando	
os princípios da Res Publica	 (palavras	de	origem	latina	que	significam	“coisa	do	
povo”),	a	República	brasileira,	tanto	por	ocasião	da	sua	implantação,	quanto	em	
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
8
NOTÍCIAS DE JORNAIS SOBRE A PROCLAMAÇÃO DA 
REPÚBLICA
A	partir	 de	 hoje,	 15	 de	 novembro	de	 1889,	 o	 Brasil	 entra	 em	nova	 fase,	
pois	 pode-se	 considerar	 finda	 a	 Monarquia,	 passando	 a	 regime	 francamente	
democrático	com	todas	as	consequências		da	Liberdade.
Foi o exército quem operou esta magna transformação; assim como a de 7 
de	abril	de	31	ele	firmou	a	Monarquia	constitucional	acabando	com	o	despotismo	
do	Primeiro	Imperador,	hoje	proclamou,	no	meio	da	maior	tranquilidade	e	com	
solenidade	realmente	imponente,	que	queria	outra	forma	de	governo.
Assim	desaparece	a	única	Monarquia	que	existia	na	América	e,	 fazendo	
votos	para	que	o	novo	regime	encaminhe	a	nossa	pátria	a	seus	grandes	destinos,	
esperamos que os vencedores saibam legitimar a posse do poder com o selo 
da moderação, benignidade e justiça, impedindo qualquer violência contra os 
vencidos	e	mostrando	que	a	força	bem	se	concilia	com	a	moderação.	Viva	o	Brasil!	
Viva	a	Democracia!	Viva	a	Liberdade!	Gazeta da Tarde, 15 de novembro de 1889.
Despertou	 ontem	 esta	 capital	 no	 meio	 de	 acontecimentos	 tão	 graves	 e	
tão	imprevistos	que	as	primeiras	horas	do	dia	foram	de	geral	surpresa.	Rompeu	
com o dia um movimento militar que, iniciado por alguns corpos do exército, 
generalizou-se rapidamente pela pronta adesão de toda a tropa de mar e terra 
existente	na	cidade.
A	consequência	imediata	desses	fatos	foi	a	retirada	do	ministério	de	7	de	
junho,	presidido	pelo	Sr.	Visconde	do	Ouro	Preto,	que	teve	de	ceder	à	intimação	
LEITURA COMPLEMENTAR
suas primeiras décadas, apresentou-se como uma interessante conveniência às 
elites	nacionais.
De	acordo	com	Penna	(1999),	a	República	nasceu	de	maneira	suficientemente	
pluralista para atender de imediato às expectativas de vários setores do quadro 
político	 nacional,	 mas	 não	 suficientemente	 capaz	 de	 dar	 abrigo	 aos	 interesses	
da grande massa da população, que continuou à margem dos canais efetivos de 
condução	dos	destinos	do	país.	Em	“Formação	do	Brasil	contemporâneo”,	Prado	
Júnior	(1999)	sugere	que	desde	os	tempos	do	Brasil	Colônia	criaram-se	em	nosso	
país	estruturas	de	poder	cujo	sentido	de	continuidade	determinou	o	nosso	“sentido	
histórico”	(pelo	menos	até	a	década	de	1930).	A	permanência	das	oligarquias	rurais	
(a	elite	agrária)	direta	ou	indiretamente	associadas	ao	poder	de	mando	sustenta	este	
ponto	de	vista.	Contudo,	há	que	se	considerar	que	os	arranjos	políticos	necessários	
à implantação da República, dada a multiplicidade de interesses envolvidos, logo 
demonstrariam	 o	 lado	 frágil	 dessa	 “transição	 orquestrada”.	Analisaremos	 esta	
questão	no	Tópico	2.
TÓPICO 1 | A TRANSIÇÃO ORQUESTRADA: CONVENIÊNCIAS DO REGIME REPUBLICANO
9
feita	pelo	Sr.	Marechal	Deodoro	da	Fonseca	que	assumiu	a	direção	do	movimento	
militar.	À	exceção	do	lastimoso	caso	do	Sr.	Barão	do	Ladário,	que	não	querendo	
obedecer	a	uma	ordem	de	prisão	que	lhe	fora	intimada,	resistiu	armado	e	acabou	
ferido,	nenhum	ato	de	violência	contra	a	propriedade	ou	a	segurança	individual	
se	deu	até	o	momento	em	que	escrevemos	estas	linhas.	[...]		Jornal do Commércio, 
16 de novembro de 1889.
FONTE: Disponível em: <http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/LiteraturaInfantil/ Link%20
 rep%FAblica.htm>. Acesso em: 8 mar. 2010.
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia os seguintes livros:
CARVALHO, José Murilo. A Formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São 
Paulo: Cia das Letras 1990. 
Conforme o subtítulo dá a entender, a obra do historiador José Murilo de Carvalho oferece ao 
leitor preciosas informações sobre o processo de construção do imaginário republicano no 
Brasil, ou seja, sobre a maneiracomo ideias e símbolos foram mobilizados no intuito de dar 
sustentação (e promover a aceitação) do ideário republicano em nosso país. 
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 6. ed. São Paulo: 
Brasiliense, 1994.
NOVAIS. Fernando A. (org.). História da Vida Privada no Brasil. República: da Belle Époque à 
era do rádio. São Paulo: Cia das Letras, 1998.
As três obras discorrem sobre aspectos relativos ao processo de transição da Monarquia à 
República.
Além de: HUBERMAN, Léo. História da Riqueza do Homem: do feudalismo ao século XXI. 22 
ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010. 
DICAS
10
Neste tópico você viu que:
•	Nosso	estudo	sobre	a	“Formação	Social,	Histórica	e	Política	do	Brasil”	toma	por	
base	os	eventos	ligados	à	instauração	e	institucionalização	da	República	Brasileira.
•	A	República	não	foi	o	resultado	de	um	projeto	político	devidamente	pensado	
para o país e sua população, mas uma saída conciliatória para os interesses de 
uma	elite	nacional.
•	O	exército,	responsável	pelo	ato	formal	de	Proclamação	da	República,	nutria	vários	
descontentamentos	em	 relação	ao	governo	 imperial.	Tais	descontentamentos,	
aliados à difusão do pensamento positivista nos meios militares, foram 
responsáveis	pelo	surgimento	da	“Questão	Militar”.
•	A	abolição	do	 trabalho	 escravo	 resultou	no	 ressentimento	dos	proprietários	
de	 escravos,	membros	de	uma	oligarquia	 rural.	 Esse	 ressentimento	gerou	o	
engrossamento	das	fileiras	opositoras	da	Monarquia.
•	O	excesso	de	centralização	do	poder	por	parte	do	governo	imperial	ofuscava	os	
interesses	políticos	das	oligarquias	regionais.	As	propostas	de	descentralização	
e do federalismo funcionaram como uma sinalização para os interesses que estas 
nutriam	em	relação	à	conquista	e	manutenção	do	poder	político.
RESUMO DO TÓPICO 1
11
1	Partindo	de	uma	análise	dos	textos	presentes	na	Leitura	Complementar,	teça	
alguns	comentários	sobre	a	maneira	como	os	jornais	anunciaram	a	Proclamação	
da	República.	Procure	enfocar	a	reação	da	população	frente	aos	acontecimentos	
do	dia	15	de	novembro	de	1889.
2	Uma	vez	que	a	ideia	de	“ordem”	e	“disciplina”	é	um	dos	pilares	das	práticas	
militares,	você	acha	plausível	a	afirmação	de	que	o	exército	se	considerava	a	
instituição	melhor	indicada	para	conduzir	os	rumos	políticos	do	Brasil	após	
a	Proclamação	da	República?	Justifique	sua	resposta.
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de
resolução da questão 2
Assista ao vídeo de
resolução da questão 1
12
13
TÓPICO 2
PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS 
OLIGARQUIAS”
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Conforme	 você	 pôde	 ler	 na	 parte	 final	 do	 tópico	 anterior,	 embora	 a	
implantação	da	República	tenha	sido	um	arranjo	conveniente,	uma	possibilidade	
de aglutinação de interesses díspares, a quantidade de interesses em jogo era 
muito ampla para que o processo de transição entre o regime monárquico e 
o	 republicano	 fosse	 tranquilo.	Com	efeito,	 nos	primeiros	 anos	do	novo	 regime,	
principalmente enquanto os militares permaneceram no poder, o cenário político 
nacional	permaneceu	bastante	agitado.	
A	tomada	do	poder	por	parte	dos	civis	via	eleição	que	empossou	Prudente	
de	Morais,	em	1894,	abriu	as	portas	para	um	período	da	história	política	nacional	
cuja	 nomeação	 é	 a	 mais	 variada.	 Você	 já	 deve	 ter	 ouvido	 falar	 em	 “Primeira	
República”,	 ou	 “República	 Velha”,	 ou	 “República	 Oligárquica”,	 ou,	 ainda,	 em	
“República	do	Café	 com	Leite”.	Ao	 longo	deste	 tópico	 tentaremos	explorar	um	
pouco	o	significado	desses	conceitos.
2 QUE REPÚBLICA? QUE REGIME ADMINISTRATIVO?
Sobre	os	primeiros	anos	do	regime	republicano,	a	historiadora	Emília	V.	da	
Costa	registra	que:
As	 contradições	 presentes	 no	 movimento	 de	 1889	 vieram	 à	 tona	 já	
nos primeiros meses da República, quando se tentava organizar o 
novo	 regime.	As	 forças	 que	momentaneamente	 se	 tinham	 unido	 em	
torno	 da	 ideia	 republicana	 entraram	 em	 choque.	 Os	 representantes	
do setor progressista da lavoura, fazendeiros de café das áreas mais 
dinâmicas e produtivas, elementos ligados à incipiente indústria, 
representantes	das	profissões	 liberais	 e	militares	nem	sempre	 tinham	
as	mesmas	 aspirações	 e	 interesses.	As	 divergências	 que	 os	 dividiam	
repercutiam	no	Parlamento	e	eclodiam	em	movimentos	sediciosos	que	
polarizavam momentaneamente todos os descontentamentos, reunindo 
desde	monarquistas	até	republicanos	 insatisfeitos.	Rompia-se	a	 frente	
revolucionária.	Representantes	da	oligarquia	rural	disputavam	o	poder	
a	elementos	do	exército	e	da	burguesia,	embora	houvesse	burgueses	e	
militares	dos	dois	lados,	em	função	dos	seus	interesses	e	ideais.	(COSTA,	
1994,	p.	276).
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
14
Cabe	 aqui	 lembrar	 que	 o	 excesso	 de	 centralização	 do	 poder	 por	 parte	
do governo monárquico minava suas bases, pois gerava um progressivo 
descontentamento	de	parte	das	oligarquias	regionais.	Como	na	segunda	metade	do	
século	XIX	o	carro-chefe	da	economia	nacional	era	a	exportação	do	café	produzido	
em grandes latifúndios, seus proprietários não mais se contentavam com o 
distanciamento em relação ao poder de mando, de decisão em relação aos rumos 
do	país.	Neste	 sentido,	 a	 federalização	–	 cujo	modelo	 fora	 tomado	dos	Estados	
Unidos	–	e	sua	proposta	de	ampliação	do	poder	das	unidades	da	federação	exerceu	
um	apelo	muito	grande.	Esta	era	a	principal	bandeira	dos	partidos	republicanos.
O	 Partido	 Republicano	 (PR)	 surgiu	 no	 início	 da	 década	 de	 1870.	 Em	
verdade,	não	há	como	falar	na	existência	de	um	partido	republicano,	pois	o	PR	
jamais	assumiu	uma	amplitude	nacional.	Como	nos	fala	Penna	(1999),	suas	bases	
eram	 constituídas	 pelas	 oligarquias	 regionais	 e	 expressavam	 seus	 interesses.	
Após	a	instauração	da	República	o	PR	se	pulverizou	em	diferentes	legendas,	cada	
qual	portadora	de	uma	estratégia	que	visava	contemplar	as	realidades	regionais.	
Contudo,	a	atomização	do	PR	não	foi	suficientemente	capaz	de	ofuscar	a	força	de	
algumas	siglas	regionais.	A	principal	delas,	PRP,	Partido	Republicano	Paulista,	foi	
uma	prova	disto.	
O	 PRP	 foi	 fundado	 em	 1872	 e	 em	 pouco	 tempo	 se	 tornou	 o	 partido	
republicano	 com	maior	 solidez	 em	 sua	 organização.	 Formado	 basicamente	 por	
grandes	 proprietários	 de	 terra	 desiludidos	 com	 a	 Monarquia,	 de	 acordo	 com	
Penna	(1999),	o	PRP	preservava	certa	autonomia	local,	principalmente	em	relação	
ao	 núcleo	 do	 Rio	 de	 Janeiro.	O	 ideário	 defendido	 pelos	 republicanos	 paulistas	
procurava	identificar	seus	interesses	de	classe	com	os	da	nação.	Assumia,	portanto,	
uma	identidade	liberal-conservadora.	Por	ocasião	da	tomada	do	governo	das	mãos	
dos	militares,	na	eleição	de	1894,	o	PRP	marcou	presença	efetiva.	Vejamos	como	
isso	aconteceu.
A	agitação	política	no	país	após	a	instauração	da	República	se	devia,	em	
grande medida, à ausência de um plano de governo claro e capaz de agradar a 
todas	as	correntes	e	interesses	associados	em	1889.	Por	ter	sido	o	condutor	direto	
do	“ato	fundante”,	a	“parada	militar”,	o	exército	detinha	a	prerrogativa	de	indicar	
o	primeiro	caminho	a	ser	tomado.	Dentro	do	exército	não	havia	unanimidade	do	
ponto de vista ideológico, mas um grupo de positivistas vinculado a Benjamin 
Constant	“introduziu	no	debate	político	brasileiro	a	ideia	de	ditadura republicana.	
Tal	perspectiva	política	fez	sucesso,	sendo	também	partilhada	por	aqueles	que	não	
seguiam	os	ensinamentos	comtianos”.	(DEL	PRIORE;	VENÂNCIO,	2003,	p.	268).	
Ainda	 segundo	 estes	 autores,	 um	 exemplo	 desta	 afirmação	 pode	 ser	
encontrado no fato de que em 1891, aproximadamente um ano depois da sua eleição 
como	presidente	constitucional,	o	Marechal	Deodoro	da	Fonseca	deu	mostra	da	
postura	ditatorial,	desrespeitando	a	Constituição	(promulgada	em	1891,	a	segunda	
Constituição	brasileira	e	a	primeirarepublicana)	e	fechando	o	Congresso.
A	essas	alturas	você	 já	deve	ter	notado	que	os	interesses	das	oligarquias	
regionais, principalmente a paulista, não encontraram respaldo na postura dos 
TÓPICO 2 | PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS”
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militares.	A	centralização	do	poder	em	suas	mãos	fez	com	que	Deodoro	sofresse	
pressões	as	mais	diversas,	sendo	que,	devido	a	uma	conspiração	militar,	acabou	
renunciando.	 Em	 seu	 lugar	 o	 Marechal	 Floriano	 Peixoto	 assume	 o	 governo.	
Este agiu de maneira a dar contornos ainda mais fortes à postura ditatorial e 
centralizadora	do	regime.	
Para	além	dos	ataques	no	plano	político,	o	governo	de	Floriano	enfrentou	
duas	 manifestações	 de	 desagrado	 que	 adentraram	 o	 plano	 da	 ação	 direta.	
A	 primeira,	 denominada	 Revolta	 da	 Armada	 (1893-1894),	 longe	 de	 ser	 uma	
conspiração antirrepublicana, representou o descontentamento de algumas alas 
das	 forças	 armadas	 em	 relação	 aos	 rumos	 que	 o	 governo	 da	 república	 havia	
tomado.	Ao	mesmo	tempo	em	que	confrontos	bélicos	ligados	à	Revolta	da	Armada	
se	processavam	no	Rio	do	Janeiro,	nos	estados	do	Sul	do	país	eclode	a	chamada	
Revolução	Federalista,	 cujo	embate	opôs	grupos	dominantes	 locais	em	“facções	
leais	e	inimigas	de	Floriano	Peixoto”.	(DEL	PRIORE;	VENÂNCIO,	2003,	p.	268).	
Um	dos	palcos	desse	confronto	foi	a	capital	de	Santa	Catarina,	à	época	chamada	
de	Desterro.	Após	a	vitória	do	grupo	ligado	a	Floriano	(e	a	consequente	execução	
de	 muitos	 dos	 líderes	 oposicionistas),	 a	 capital	 foi	 renomeada:	 assim	 surgia	
Florianópolis (a	cidade	de	Floriano).
A	necessidade	de	apoio	ao	combate	das	sublevações	oposicionistas	levou	
Floriano	Peixoto	a	se	aproximar	da	oligarquia	regional	com	maior	poder	econômico,	
no	Brasil	da	década	de	1890.	O	Partido	Republicano	Paulista,	representante	desta	
oligarquia, surge então como articulador da passagem do governo das mãos dos 
militares	para	os	civis.	Assim,	“em	1894,	através	da	eleição	de	Prudente	de	Morais,	
é	dado	o	primeiro	passo	e,	em	1898,	com	Campos	Sales,	a	transição	se	consolida.	
Inaugura-se,	então,	o	que	se	convencionou	denominar	política	dos	governadores”.	
(DEL	PRIORE;	VENÂNCIO,	2003,	p.	268).	A	partir	deste	momento	os	rumos	da	
Primeira	República	ficavam	definitivamente	traçados.	O	paradoxo	da	“democracia	
excludente”,	materializado	no	 coronelismo,	 ganhara	 corpo	 e	projeção.	O	pleno	
domínio das oligarquias deu margem à constituição de uma Res Publica	de	fachada.
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
16
3 REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS: A ARTICULAÇÃO E OS 
 MOVIMENTOS DE CONTESTAÇÃO
Respondendo pelos anseios das oligarquias regionais, o texto da 
Constituição	 de	 1891	 previa	 a	 existência	 do	 federalismo.	 Embora	 significasse	
uma	margem	grande	de	autonomia	para	os	estados,	o	 federalismo	dificultava	o	
fortalecimento	 do	 governo	 republicano	 central.	 Deve-se	 a	 este	 fato,	 em	 grande	
medida,	 os	 problemas	 enfrentados	 pelos	 governos	 de	 Deodoro	 e	 Floriano.	 A	
manutenção	da	República	passou	a	depender	de	um	arranjo	de	forças	capaz	de	lhe	
dar	sustentação.	A	resposta	a	este	 imperativo	foi	dada	pelo	segundo	presidente	
republicano	civil,	Campos	Sales.	A	questão	é	que
Tentava-se garantir a reprodução do regime eximindo-o dos 
traumatismos e crises inerentes aos processos sucessórios em que 
“oposição”	 e	 “situação”	 se	 revezassem,	 desregradamente,	 no	 poder.	
A	Política	dos	Governadores	 foi	 o	 seu	nome	e	 consistiu	na	 aplicação	
dos	 seguintes	 princípios:	 o	 reforço	da	figura	 presidencial	 (a	 despeito	
da	independência	dos	poderes)	e	a	solidarização	das	maiorias	com	os	
Executivos	 (estaduais	 e	 federal).	 Partindo	 deste	 princípio,	 o	 mesmo	
sufrágio	que	elege	as	primeiras	deve	eleger	o	segundo,	reconhecendo-se	
a	“legitimidade”	das	maiorias	estaduais,	comprometendo-se	o	Governo	
Federal	a	não	apoiar	dissidências	locais.	(LINHARES,	1990,	p.	230).
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/1/1a/Guarda _Nacional_na_Revolta_da_Armada.jpg>. 
Acesso em: 10 mar.2010.
FIGURA 4 – FORTIFICAÇÃO (REVOLTA DA ARMADA)
A ilustração mostra uma fortificação passageira, 1894. Vê-se um canhão de 280 
mm (único no Brasil) e soldados do 4º Batalhão de Artilharia da Guarda Nacional. 
Proveniente da série Revolta da Armada (Museu Nacional).
UNI
TÓPICO 2 | PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS”
17
FONTE: Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/
 Ficheiro:Revista_Illustrada_1898.jpg>. Acesso em: 7 
 mar.2010.
FIGURA 5 – CARICATURA PUBLICADA EM REVISTA 
A caricatura, publicada em 1898, retrata uma animada conversa entre Campos 
Sales (à direita) e Prudente de Morais. O texto diz: “Em família. Conversam animadamente sobre 
Europa, as viagens, as manifestações, o estado sanitário, etc. Só não tratam de política... Muito 
bem”. Campos Sales, paulista, sucedeu Prudente de Morais, também paulista, na Presidência da 
República. 
A	Política	dos	Governadores,	articulada	em	torno	dos	interesses	paulistas	e	
mineiros	(a	preponderância	da	elite	desses	dois	estados,	São	Paulo	e	Minas	Gerais,	
deu	margem	ao	surgimento	da	chamada	Política	do	“Café	com	Leite”);	passou	a	
ser,	portanto,	a	base	do	sistema	político	republicano	entre	1898	e	1930.
A alusão feita ao “leite” deve-se ao fato de o Estado de Minas Gerais ser um 
grande produtor de leite durante a República Velha. Contudo, estudos mais recentes sugerem 
que a alcunha mais correta seria “República do Café com Café”, pois o principal produto de 
comercialização mineiro também era o café. A legitimidade desta hipótese pode ser encontrada 
no interesse que o Partido Republicano Mineiro, cujas ações respondiam pelas aspirações 
da elite econômica do estado, manifestava no sentido de instrumentalizar as políticas de 
valorização do café. Mais à frente analisaremos esta questão.
UNI
ATENCAO
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
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Para	compreender	melhor	o	funcionamento	dessa	política	é	importante	que	
você	entenda	duas	questões.	Em	primeiro	lugar,	ao	contrário	do	que	se	poderia	
supor,	a	autonomia	dos	estados	garantida	pela	federalização	não	significou	o	total	
desprendimento	em	relação	ao	governo	central.	Crises	econômicas	gestadas	desde	
a	segunda	metade	do	século	XIX	enfraqueceram	muitos	estados,	principalmente	
os	do	Nordeste.	Essa	situação	implicava	a	necessidade	de	estabelecimento	de	laços	
mais	 fortes	 com	o	 governo	 central.	 Esses	 laços,	 por	 sua	 vez,	 eram	 constituídos	
via	utilização	de	um	elemento-chave	nas	engrenagens	do	poder:	o	líder	local,	ou	
coronel.	
Dadas	as	dimensões	continentais	do	nosso	país	e	devido	às	dificuldades	
ao estabelecimento de contato com a população do interior, o intermediário dessa 
ligação	passava	a	ser	o	coronel	(daí	o	surgimento	do	termo	coronelismo).	Detentor	
de	uma	forte	influência	sobre	familiares,	agregados	e	subalternos,	o	coronel	recebia	
carta	branca	para	agir	em	sua	área	de	influência	de	acordo	com	interesses	próprios.	
Em troca dessa liberdade, cooptava os votos da população para os candidatos que 
lhe	fossem	indicados,	do	executivo	Estadual	e	do	federal.	O	uso	da	força	passou	
a ser uma constante, tanto em relação às pessoas simples quanto em relação a 
adversários	políticos.	Milícias	armadas	eram	comuns,	principalmente	no	Nordeste,	
onde os coronéis usavam os serviços de jagunços.	
São	Paulo	e	Minas	Gerais	souberam	muito	bem	se	aproveitar	desse	quadro	
político para se perpetuarem no poder, promovendo uma alternância na condução 
do	 Executivo	 nacional.	 Do	 ponto	 de	 vista	 econômico,	 um	 elemento	 marcante	
das	 políticas	 governamentais	 da	 Primeira	 República	 pode	 ser	 encontrado	 nas	
constantes	interferências	voltadas	à	valorização	do	café.	Já	no	início	do	século	XX	
essas	medidas	se	fizeram	valer,	contudo,	tornaram-se	absolutamente	clarasa	partir	
da assinatura do Convênio de Taubaté,	em	1906.	Resultado	de	um	acordo	entre	
dirigentes	políticos	de	São	Paulo,	de	Minas	Gerais	e	do	Rio	de	Janeiro,	o	Convênio	
tinha	por	objetivo	a	garantia	de	lucro	para	os	grandes	produtores	via	manutenção	
do	preço.	Neste	sentido,	as	oscilações	no	mercado	internacional	eram	corrigidas	
pela	compra,	estocagem	e	destruição	de	partes	das	safras.	A	diminuição	da	oferta	
resultava	no	aumento	do	preço.	
O	dinheiro	público	usado	para	cobrir	as	perdas	dos	cafeicultores	do	Sudeste	
era	motivo	de	discórdia.	Com	efeito,	 a	 ação	das	 lideranças	políticas	paulistas	 e	
mineiras	 gerava	 o	 descontentamento	 e	 a	 revolta	 de	 outras	 elites	 regionais.	 Em	
verdade,	tanto	do	ponto	de	vista	das	cisões	entre	as	elites,	quanto	das	manifestações	
de segmentos da população sem poder econômico, durante toda a República 
Velha	houve	situações	nas	quais	o	governo	republicano	sofreu	enorme	pressão.	
Ao	longo	da	década	de	1920,	principalmente	em	seus	últimos	anos,	a	política	dos	
governadores	 não	mais	 se	 sustentou.	 Criavam-se	 as	 condições	 para	 uma	 nova	
etapa	da	República	brasileira.	Mas	vamos	por	partes.
No	cenário	das	manifestações	populares,	o	primeiro	grande	teste	imposto	
ao	governo	republicano	ficou	por	conta	da	“Guerra	de	Canudos”.	Segundo	Novais	
(1998),	as	autoridades	republicanas	foram	avisadas	da	existência	do	povoado	de	
Canudos,	no	sertão	da	Bahia,	já	em	1893	(até	então	ele	nem	constava	nos	mapas).	
TÓPICO 2 | PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS”
19
Sob	 a	 liderança	 de	Antônio	 Vicente	Mendes	Maciel,	 conhecido	 como	 “Antônio	
Conselheiro”,	pessoas	 simples	e	humildes	do	 sertão	nordestino	montaram	uma	
comunidade	na	qual	vigorava	o	regime	de	posse	e	de	trabalho	solidário.	Isolados	
em	meio	do	nada,	os	moradores	do	“Arraial	de	Belo	Monte”	em	hipótese	alguma	
significariam	 perigo	 à	 República	 não	 fosse	 a	 maneira	 como	 passaram	 a	 ser	
representados.	Evidentemente,	alguns	fatores	contribuíram	para	isso.
Antônio	 Conselheiro	 era	 um	 líder	 espiritual.	 Sua	 influência	 sobre	 os	
sertanejos	não	deixava	de	ser	uma	pedra	no	sapato	da	Igreja.	Além	disso,	a	criação	
de um reduto populacional que oferecia abrigo aos despossuídos funcionava como 
um	ímã	para	pessoas	que	até	então	viviam	sob	o	mando	de	coronéis	locais.	Isto	
significava	perda	de	mão	de	obra	e	a	possibilidade	de	 concorrência	 econômica.	
Aos	elementos	locais	somou-se	o	fato	de	Antônio	Conselheiro	professar	um	vago	
saudosismo	monárquico,	o	“que	deu	margem	para	ser	acusado	de	conspirar	contra	
a	República	e	de	ser,	no	sertão,	o	braço	armado	dos	restauradores”.	(DEL	PRIORE;	
VENÂNCIO,	2003,	p.	278).	A	fragilidade	do	regime	republicano	recém-implantado	
não permitia a sobrevivência de um reduto populacional acusado, mesmo que 
através	de	sofismas,	de	ser	um	foco	monarquista.	Após	algumas	derrotas	das	tropas	
republicanas	enviadas	para	destruir	Belo	Monte,	isso	ficou	ainda	mais	evidente.	
Canudos	precisava	ser	destruído.	E	de	fato	foi,	em	1897,	totalmente	destruído:	não	
sem	antes	caírem	todos	seus	últimos	defensores	sob	o	fogo	do	exército	brasileiro.
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/
 fa/Canudos_rebels.jpg>. Acesso em: 12 mar. 2010.
FIGURA 6 – MULHERES E CRIANÇAS, SEGUIDORAS DE ANTÔNIO 
 CONSELHEIRO, PRESAS DURANTE OS ÚLTIMOS DIAS DA GUERRA
Exemplos	de	manifestações	populares	que	resultaram	em	confronto	com	o	
governo	republicano	podem	ser	encontrados	durante	toda	a	Primeira	República.	No	
Tópico	3	desta	unidade	estudaremos	a	participação	do	Movimento	Operário.	No	
momento,	além	da	Guerra	de	Canudos	(1896-1897),	podemos	indicar	a	Guerra	do	
Contestado	(1912-1915),	a	Revolta	da	Vacina	(1904),	a	Revolta	da	Chibata	(1910)	e	o	
movimento	conhecido	como	“Tenentismo”,	que	deu	origem	a	uma	série	de	levantes	
militares	durante	a	década	de	1920.		Dada	a	natureza	do	grupo	que	o	compunha	e	a	
singularidade	de	sua	proposta,	o	Tenentismo	merece	uma	análise	mais	atenta.
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
20
Ao	 longo	 da	 década	 de	 1920	 o	 Brasil	 passou	 por	 uma	 série	 de	 crises	
econômicas.	Em	meio	a	 crises,	 a	 contestação	do	poder	 instituído	 sempre	ganha	
forças.	De	acordo	com	Linhares,
As	 rebeliões	 tenentistas	 da	 década	 foram	 o	 mais	 cabal	 exemplo	 da	
explosão	 simultânea	de	questionamentos	 “de	dentro”	 e	 “de	 fora”	do	
pacto político, alastrando-se a rebeldia desse setor intermediário da 
oficialidade	militar	justamente	quando,	em	1922,	as	oligarquias	do	Rio	
Grande	do	Sul,	Bahia,	Pernambuco	e	Rio	de	Janeiro	uniram-se	contra	a	
candidatura	do	eixo	Minas/São	Paulo,	formando	a	reação	republicana.	
(1990,	p.	253).
 
O	 movimento	 tenentista	 teve	 origem	 em	 1922	 e	 representou	 uma	
inflexão	na	vida	política	brasileira.	Seus	 idealizadores,	membros	da	oficialidade	
militar intermediária, eram portadores de um discurso moralizador que previa 
a	 purificação	 das	 forças	 armadas	 e	 da	 sociedade	 como	 um	 todo.	 Sua	 proposta	
apresentava traços de nacionalismo, centralização do Estado e ataques frontais à 
oligarquia	paulista.	O	acesso	à	educação	formal	permitia	aos	tenentes	a	construção	
de	um	ideário	que	 lhes	colocava	na	condição	de	porta-vozes	das	reivindicações	
populares.	 Contudo,	 o	 caráter	 elitista	 do	 tenentismo	 não	 comportava	 uma	
vinculação	mais	íntima	com	as	classes	populares.	O	“ato	fundante”	do	Tenentismo	
ocorreu	em	5	de	julho	de	1922,	ocasião	em	que	um	levante	militar	mobilizou	jovens	
oficiais	 no	Rio	de	 Janeiro.	A	 ação	ficou	 conhecida	 como	“Os	dezoito	do	 forte”,	
uma	alusão	ao	fato	de	terem	sido	dezoito	os	militares	participantes	do	levante.	Ao	
marcharem	contra	as	tropas	legalistas	foram	recebidos	à	bala.	O	fracasso	militar	
não	significou	fracasso	político,	pois	a	ofensiva	serviu,	ao	governo	civil,	como	um	
indício	de	que	mudanças	se	apresentavam	no	horizonte.
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e5/Os_18_
 do_ Forte_(2).jpg>. Acesso em: 20 mar. 2010.
FIGURA 7 – REVOLTA DOS 18 DO FORTE DE COPACABANA: TENENTES VÃO DE 
ENCONTRO ÀS FORÇAS LEGALISTAS, NA AVENIDA ATLÂNTICA
TÓPICO 2 | PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS”
21
A	insipiência	das	manifestações	tenentistas	no	meio	urbano	fez	com	que	
o	movimento	ganhasse	um	novo	rumo	a	partir	de	1925,	momento	em	que	 teve	
origem	a	“Coluna	Prestes”	(organizada	por	Luiz	Carlos	Prestes),	uma	marcha	pelo	
interior	do	país	que	se	estendeu	por	mais	de	24	mil	quilômetros:	“foram	29	meses,	
10	estados	da	federação	e	uma	média	de	45	quilômetros	por	dia”.	(PENNA,	2003,	
p.	 159).	 Embora	 a	 adesão	popular	não	 tenha	 sido	 a	 esperada	 e	 a	Coluna	 tenha	
sofrido	perseguições	constantes	por	parte	das	tropas	federais	(o	que	resultou	na	
dispersão	do	movimento,	em	1927),	a	iniciativa	–	o	movimento	tenentista	como	um	
todo	–	resultou	na	abertura	de	um	caminho	para	derrubada	do	pacto	oligárquico	
São	Paulo/Minas	Gerais.
Em	1929,	 em	meio	a	uma	grave	crise	econômica	mundial	 cujo	epicentro	
ocorreu	 em	Nova	York,	 o	 poder	 econômico	 dos	 cafeicultores	 foi	 drasticamente	
reduzido.	Neste	mesmo	ano,	conforme	o	acordo	firmado	entre	o	Partido	Republicano	
Paulista	e	o	Partido	Republicano	Mineiro,	o	presidente	Washington	Luiz,	paulista,	
deveria	 indicar	 como	seu	 sucessor	o	mineiro	Antônio	Carlos,	 chefe	do	governo	
de	Minas.	Contrariando	o	pacto,	Washington	Luiz	indica	o	paulista	Júlio	Prestes.	
Esta	 atitude	 resultou	 em	uma	aproximação	 entre	Minas	Gerais,	Rio	Grande	do	
Sul	e	Paraíba.	Formava-se	a	Aliança	Liberal,	responsável	pela	Revolução	de	1930.	
Analisaremos	esta	questão	na	segunda	unidade	desde	caderno.
FONTE: Disponível em: <www.wikipedia.org>. Acesso em: 12 mar. 
 2010.
FIGURA 8 – A FÓRMULA DEMOCRÁTICA, DE STORNI
A charge “A fórmula democrática”, de Storni, foi publicada na Revista Careta,em 29 
de agosto de 1929. No alto são representadas as oligarquias paulista e mineira. 
UNI
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
22
LEITURA COMPLEMENTAR I
O BRASIL DE EUCLIDES DA CUNHA
Neste	ano	completa-se	o	centenário	de	morte	de	Euclides	da	Cunha	(1866-
1909),	um	dos	mais	importantes	autores	nacionais.	Euclides	viveu	e	produziu	em	
um momento em que as ideias deterministas ainda manifestavam seu vigor com 
base	explicativa	para	a	realidade	brasileira.	No	livro	que	o	consagrou	como	um	dos	
maiores intérpretes do Brasil, Os Sertões	(1902),	pode	ser	encontrado,	para	além	
da	análise	da	Guerra	de	Canudos,	um	estudo	sobre	a	formação	do	povo	brasileiro	
e	a	diversidade	geográfico-climática	do	país.	A	obra,	dividida	em	“A	Terra”,	“O	
Homem”	e	“A	Luta”,	foi	organizada	de	acordo	com	a	hierarquia	das	ciências	aceita	
na	época:	partindo	da	noção	de	que	os	fundamentos	de	toda	a	realidade	repousam	
sobre	 “matéria”,	 o	 relato	 inicial	 baseia-se	 nas	 ciências	 inorgânicas	 (Geografia,	
Geologia),	passando	depois	para	as	orgânicas	(Biologia)	e,	por	fim,	para	as	ciências	
sociais	(História,	Sociologia).	Obedecendo	a	esta	sequência,	Euclides	começa	pelo	
estudo	da	 infraestrutura	geológica,	das	variações	do	clima	e	do	 sistema	fluvial,	
para	estender-se	à	flora	e,	por	último,	tratar	do	homem	e	das	injunções	históricas.
Por	meio	dos	vetores	“meio”,	“raça”	e	“história”,	Euclides	irá	interpretar	os	
conflitos	entre	o	que	considerava	a	área	“civilizada”,	ou	seja,	o	litoral,	e	o	interior	
do	país,	resguardado	por	um	isolamento	geográfico	e	histórico	que	o	teria	mantido	
vinculado	ao	passado.	Segundo	Euclides,	a	civilização	avançaria	sobre	os	sertões,	
impedida	pela	implacável	“força	motriz	da	História”,	as	raças	fortes	esmagando	
as	 fracas.	 (CUNHA,	 2003,	 p.	 9).	 Percebe-se,	 em	 sua	 análise,	 a	 confluência	 de	
explicações	históricas	e	raciais,	sobrevivendo	os	mais	aptos	em	todos	os	terrenos,	
em	uma	clara	alusão	ao	darwinismo	social.
Enviado	ao	cenário	da	guerra	de	Canudos	(que	durou	de	novembro	de	1896	
a	outubro	de	1897)	como	correspondente	do	jornal	O	Estado	de	São	Paulo,	Euclides	
da	Cunha,	por	ser	militar	e,	ademais,	comungar	com	a	visão	oficial	que	tratava	os	
sertanejos como revoltosos antirrepublicanos, silenciou sobre as atrocidades do 
massacre.	Revê	esta	posição	durante	os	cinco	anos	que	leva	escrevendo	Os Sertões.	
Reconhece	um	 elemento	de	messianismo	na	 reação	dos	 sertanejos	 e	 condena	 o	
exército	pelos	excessos	cometidos.
Euclides esforçava-se para compreender como o sertanejo, um mestiço, 
teoricamente	 portador	 de	 desequilíbrios	 típicos	 do	 cruzamento	 de	 raças	 (um	
“degenerado”,	 segundo	as	 teorias	deterministas),	 resistiu	a	 tantas	 investidas	do	
exército	republicano	(quatro	batalhas),	só	sendo	derrotado	diante	do	poderio	das	
armas	de	 fogo	empregadas	pela	última	expedição.	Os	combatentes	de	Canudos	
pareciam rebelar-se até mesmo como objetos de estudo, para contradizer, em 
relação	ao	pensamento	de	Euclides,	as	teses	do	determinismo	social.
Ao	longo	do	livro,	Euclides	alterna	a	visão	do	sertanejo	como	uma	sub-raça	
“instável”,	“efêmera”,	“retardatária”	e	“próxima	da	extinção”	para	“a	rocha	viva	
da	nação”.	Se	o	sertanejo	corria	o	risco	de	desaparecer	diante	da	competição	com	os	
TÓPICO 2 | PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS”
23
imigrantes	estrangeiros,	era,	de	maneira	contraditória,	“antes	de	tudo,	forte”.	Neto	
de	bandeirante	paulista	(CUNHA,	2003,	p.	104),	trazendo	em	si	a	bravura	do	início	
e	a	autonomia	do	branco	português,	quase	sem	mescla	de	sangue	africano	(p.	105),	
vencendo o meio inóspito marcado pela seca e pela caatinga e, principalmente, 
sendo	 aquele	 que	 teve	 tempo	 de	 fortalecer-se	 fisicamente	 enquanto	 aguardava	
o	 desenvolvimento	moral	 e	 civilizacional	 posterior	 da	 região	 (p.	 117),	 Euclides	
representa	 o	 sertanejo	 como	 estando	 em	 “compasso	 de	 espera”,	 preparando-se	
para	exercer	um	papel	importante	no	futuro	da	nação.
Por	outro	lado,	os	soldados	que	lutaram	em	Canudos,	em	grande	proporção	
mulatos	vindos	principalmente	do	Rio	de	Janeiro	e	da	Bahia,	que,	ao	final	da	guerra,	
degolaram barbaramente todos os prisioneiros, mesmo vivendo em contato com 
a	“civilização”,	na	opinião	de	Euclides	não	seriam	seus	legítimos	representantes.	
Ao	contrário,	assemelhavam-se	a	seres	incapazes	de	fazer	frente	à	complexidade	
da	vida	urbana	em	termos	de	suas	exigências	intelectuais	e	morais.	Quem	não	se	
lembra da famosa frase do livro Os Sertões, em que Euclides se refere aos mulatos 
apontando	 “o	 raquitismo	 exaustivo	 dos	 raquíticos	 neurastênicos	 do	 litoral”?	À	
fraqueza	física	somava	uma	“doença	dos	nervos”:	a	neurastenia.
	No	contraste	entre	sertanejos	e	mulatos,	embora	ambos	fossem	mestiços,	
Euclides	elogia	os	primeiros	e	desqualifica	os	segundos.	O	fator	racial	considerado	
“inferior”	do	sertanejo,	o	índio,	não	era	de	todo	desprestigiado	por	Euclides,	que	
acreditava	 estar	 diante	 de	 uma	 raça	 autóctone	 –	 o	 homo americanus	 –	 surgida,	
portanto,	na	América,	desvinculada	do	Velho	Mundo,	com	um	desenvolvimento	
autônomo.	Dono	de	coragem	e	 resistência	 física,	o	 índio	 teria	vencido	o	meio	e	
criado	 um	 modo	 de	 vida	 vigoroso.	 Já	 o	 fator	 racial	 visto	 como	 “inferior”	 do	
mulato,	 o	 negro,	 era,	 para	 Euclides,	 irrecuperável:	 era	 o	 homo afer,	 “filho	 das	
paragens	adustas	e	bárbaras,	onde	a	seleção	natural	[...]	se	fez	pelo	uso	intensivo	
da	ferocidade	e	da	força”.	(CUNHA,	2003,	p.	73).
Euclides	 foi	 um	 homem	 insatisfeito	 em	 relação	 às	 suas	 atividades	
profissionais.	Militar	e	engenheiro	de	formação,	sempre	aspirou	ser	um	escritor	
reconhecido.	Depois	da	publicação	de	Os Sertões,	tornou-se	membro	do	Instituto	
Histórico	e	Geográfico	Brasileiro	e	foi	eleito,	também,	para	a	Academia	Brasileira	
de	Letras.	Propôs	uma	“guerra	dos	cem	anos”	para	combater	a	seca	do	Nordeste,	
com a construção de açudes, poços artesianos, estradas de ferro e o desvio do Rio 
São	Francisco	para	irrigar	as	áreas	mais	atingidas	pela	estiagem.	Tornou	público	
seu	 interesse	 pela	Amazônia	 ao	 publicar,	 em	 1904,	 no	 jornal	 O	 Estado	 de	 São	
Paulo,	 artigos	 sobre	os	 conflitos	entre	Peru,	Bolívia	e	Brasil,	que	via	 como	uma	
disputa	pelo	acesso	ao	oceano	no	Atlântico.	A	morte	prematura,	aos	43	anos,	por	
assassinato,	aproximou	sua	história	pessoal	da	tragédia	grega	que	tanto	admirou	
em	vida.	
FONTE: TORRES, Lilian de Lucca. O Brasil de Euclides da Cunha. Leituras da História, São Paulo, 
 ano 2, n. 21, p. 60-61, 2009.
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
24
LEITURA COMPLEMENTAR II
CANUDOS NÃO SE RENDEU
Fechemos	este	livro.
Canudos	não	se	rendeu.	Exemplo	único	em	toda	a	história,	resistiu	até	ao	
esgotamento	completo.	Expugnado	palmo	a	palmo,	na	precisão	integral	do	termo,	
caiu	no	dia	5,	ao	entardecer,	quando	caíram	os	seus	últimos	defensores,	que	todos	
morreram.	Eram	quatro	apenas:	um	velho,	dois	homens	feitos	e	uma	criança,	na	
frente	dos	quais	rugiam	raivosamente	5	mil	soldados.
Forremo-nos	 à	 tarefa	 de	 descrever	 os	 seus	 últimos	 momentos.	 Nem	
poderíamos	 fazê-lo.	 Esta	 página,	 imaginamo-la	 sempre	 profundamente	
emocionante	e	trágica;	mas	cerramo-la	vacilante	e	sem	brilhos.
Vimos	como	quem	vinga	uma	montanha	altíssima.	No	alto,	a	par	de	uma	
perspectiva	maior,	a	vertigem.	
Ademais,	 não	 desafiaria	 a	 incredulidade	 do	 futuro	 a	 narrativa	 de	
pormenores	em	que	se	amostrassem	mulheres	precipitando-se	nas	fogueiras	dos	
próprios	lares,	abraçadas	aos	filhos	pequeninos...
E	de	que	modo	comentaríamos,	com	a	só	fragilidade	da	palavra	humana,	o	fato	
singular	de	não	aparecerem	mais,	desde	a	manhã	de	3,	os	prisioneiros	válidos	colhidos	
na	véspera,	e	entre	eles	aquele	Antônio	Beatinho,	que	se	nos	entregara,	confiante	–		e	
a	quem	devemos	preciosos	esclarecimentos	sobre	esta	fase	obscura	da	nossaHistória?
Caiu	o	arraial	a	5.	No	dia	6	acabaram	de	o	destruir	desmanchando-lhe	as	
casas,	5.200,	cuidadosamente	contadas.
Os Sertões, Euclides da Cunha. Fragmento do capítulo VI – O fim – da terceira parte, A Luta. 
FONTE: BIBLIOTECA virtual do estudante brasileiro. Disponível em: <http://www.bibvirt.futuro 
 .usp.br>. Acesso em: 24 abr. 2010.
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia o seguinte livro e assista 
ao filme:
Livro: Os Sertões, de Euclides da Cunha
Filme: Guerra de Canudos (Brasil – 1997, 169 min). Direção de Sérgio Resende
O filme Guerra de Canudos é uma adaptação cinematográfica da obra “Os Sertões”, de Euclides 
da Cunha. Presente no conflito como enviado especial do jornal O Estado de S. Paulo, o jovem 
escritor narra com riqueza de detalhes suas impressões sobre o que presenciou no fronte. Vale 
a pena cruzar as informações do livro com aquelas apresentadas na versão cinematográfica. 
Além de: HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da civilização brasileira: O Brasil 
republicano, economia e cultura. São Paulo: Bertrand do Brasil, 2008.
DICAS
25
RESUMO DO TÓPICO 2
 Neste tópico tivemos a oportunidade de conhecer alguns delineamentos 
da Primeira República, República Velha, ou República das Oligarquias. É 
importante você lembrar que:
•	Após	a	implantação	da	República,	os	interesses	dos	grupos	envolvidos	em	sua	
articulação	entraram	em	choque.	Em	um	primeiro	momento,	o	governo	militar	foi	
alvo	de	críticas.	O	que	estava	em	questão	era	a	centralização	versus	o	federalismo.
•	Durante	o	governo	do	Marechal	Floriano	Peixoto	ocorreram	dois	 importantes	
conflitos:	a	Revolta	da	Armada	e	a	Revolução	Federalista.
•	A	estabilização	do	regime	foi	alcançada	a	partir	do	governo	do	paulista	Campos	
Sales,	momento	no	qual	se	implantou	no	Brasil	a	“Política	dos	Governadores”.
•	A	Política	dos	Governadores	 consistiu	na	 criação	de	mecanismos	 capazes	de	
garantir	a	perpetuação	no	poder	das	oligarquias	regionais.	Estabeleceu-se,	então,	
uma	troca	de	favores	entre	o	governo	federal,	os	governantes	dos	estados	e	chefes	
locais,	os	coronéis.
•	Durante	 a	Primeira	República	ocorreram	movimentos	 sociais	de	 contestação	
direta	ou	indireta	aos	rumos	tomados	pelo	governo	republicano.	Dentre	eles	se	
destacam	A	Guerra	de	Canudos	(1896-1897),	a	Guerra	do	Contestado	(1912-1915),	
a	Revolta	da	Vacina	(1904),	a	Revolta	da	Chibata	(1910)	e	o	Tenentismo.
•	Embora	não	tenha	obtido	êxito,	o	Tenentismo	abriu	as	portas	para	os	eventos	que	
resultaram	na	quebra	do	pacto	entre	São	Paulo	e	Minas	Gerais	e	na	Revolução	de	
1930.
26
1	Descreva,	em	linhas	gerais,	os	rumos	tomados	pelo	governo	republicano	até	
1930.
2	Teça	alguns	comentários	sobre	o	funcionamento	da	“Política	dos	Governadores”.
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de
resolução da questão 1
27
TÓPICO 3
TRABALHADORES NA 
PRIMEIRA REPÚBLICA: CONDIÇÕES À “LUTA 
DE CLASSES”
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O	século	XIX,	principalmente	em	sua	segunda	metade,	foi	o	momento	de	
afirmação	 da	 hegemonia	 do	 capitalismo.	 Embora	 a	 Revolução	 Industrial	 tenha	
ocorrido	 já	no	 século	XVIII,	 em	seus	primórdios	o	processo	de	 industrialização	
não	englobava	muitos	setores.	A	partir	da	década	de	1870	o	sistema	de	produção	
capitalista	 dá	 um	 salto	 quantitativo	 e	 qualitativo,	 com	 o	 advento	 da	 chamada	
Segunda	Revolução	Industrial,	ou	Revolução	Científico-Tecnológica.
De	 fato,	 o	 desenvolvimento	 da	 ciência	 e	 a	 sua	 aplicação	 no	 campo	
tecnológico	resultaram	na	proliferação	de	descobertas	e	invenções	que	mudaram	a	
face	do	mundo	conhecido,	diminuindo	as	distâncias,	aumentando	as	velocidades,	
interligando	 as	mais	diversas	 regiões	do	 globo	 terrestre.	 Para	 se	 ter	 uma	 ideia,	
neste período surgem os
[...]	 veículos	 automotores,	 os	 transatlânticos,	 os	 aviões,	 o	 telégrafo,	 o	
telefone, a iluminação elétrica e a ampla gama de utensílios domésticos, 
a	fotografia,	o	cinema,	a	radiodifusão,	a	televisão,	os	arranha-céus	e	seus	
elevadores, as escadas rolantes e os sistemas metroviários, os parques 
de	diversões	elétricas,	as	rodas-gigantes...	(NOVAIS,	1998,	p.	9).	
O	fato	é	que	o	mundo	até	então	conhecido	estava	deixando	de	existir	ou,	
na	melhor	das	hipóteses,	estava	sendo	transformado	de	tal	maneira	que	as	pessoas	
tinham	dificuldades	para	 traçar	uma	linha	de	continuidade	entre	o	passado	e	o	
presente.	Evidentemente,	estas	transformações	adentravam	também	o	campo	das	
relações	sociais.	A	vida,	principalmente	a	vida	urbana,	tornava-se	cada	vez	mais	
complexa.	E,	por	maiores	que	fossem	as	diferenças	entre	a	realidade	brasileira	e	
aquela	relativa	à	Europa	e	aos	Estados	Unidos,	paulatinamente	o	Brasil	também	
acabou	se	inserindo	neste	novo	cenário.
Em	 seus	desdobramentos,	 a	Revolução	 Industrial	promoveu	uma	nítida	
demarcação	de	classes	sociais.	De	um	lado,	segundo	Karl	Marx,	estariam	os	donos	
dos	meios	de	produção	(indústrias,	terras),	a	Burguesia; do outro, os detentores 
da	 força	 de	 trabalho,	 o	Proletariado.	 Este	 venderia	 sua	 força	 de	 trabalho	 para	
aquela.	 No	 relevo	 social,	 as	 relações	 estabelecidas	 entre	 estes	 dois	 grupos	 ou	
“classes	sociais”	ditariam	os	rumos	a	serem	seguidos	pelo	capitalismo	nos	séculos	
seguintes.	
28
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
Ainda	segundo	Marx,	uma	sociedade	dividida	em	classes,	com	interesses	
distintos,	deve	ser	pensada	do	ponto	de	vista	do	conflito,	da	luta,	pois	interesses	
díspares	 se	 fariam	 valer	 resultando,	 inevitavelmente,	 em	 um	 confronto.	 Com	
efeito,	ao	longo	do	século	XIX	vários	foram	os	embates,	principalmente	no	meio	
urbano,	entre	burguesia	e	proletariado	na	Europa	industrializada.	Neste	mesmo	
século,	 no	 Brasil,	 a	 permanência	 do	 regime	 de	 trabalho	 escravo	 e	 o	 incipiente	
desenvolvimento industrial mantiveram o país em uma situação bastante peculiar 
em	 relação	 aos	 acontecimentos	 no	 Velho	 Continente.	 Seria	 preciso	 a	 atividade	
industrial	ganhar	 força	e	o	 trabalho	 livre	se	 institucionalizar	para	que	a	 luta	de	
classes,	nos	moldes	capitalistas,	tomasse	corpo	em	terras	brasileiras.	Neste	tópico	
nosso	objetivo	será	analisar	este	processo.
2 ANTECEDENTES: RAÍZES DA INDÚSTRIA NACIONAL
Embora	a	criação	das	primeiras	indústrias	no	Brasil	tenha	ocorrido	já	no	
período	monárquico,	do	ponto	de	vista	 econômico	 sua	 importância	 se	define	 a	
partir	da	implantação	da	República.	De	acordo	com	Del	Priore	e	Venâncio	(2003),	
o processo de industrialização brasileiro difere daquele ocorrido na Europa, 
principalmente	devido	ao	fato	de	que	aqui	não	houve	um	desenvolvimento	lento	
a partir do artesanato e da pequena manufatura, mas um início caracterizado pela 
implantação	de	fábricas	modernas.	A	importação	do	maquinário	europeu,	que	já	
contava com um século de aperfeiçoamento, impulsionou nosso desenvolvimento 
industrial,	 dependente,	 desde	 o	 seu	 início,	 da	 influência	 internacional,	
principalmente	 europeia.	 Levando	 em	 conta	 a	 situação	 do	 sistema	 educacional	
brasileiro	no	século	XIX	e	início	do	século	XX	–	extremamente	atrasado	–,	é	possível	
entender	por	que	a	criação	de	tecnologias	nacionais	era	algo	raro.		
Dada	a	dependência	da	economia	brasileira	 em	relação	à	agricultura	de	
exportação,	 durante	 as	 duas	 últimas	 décadas	 do	 século	 XIX	 e	 até	 a	 década	 de	
1930, o desenvolvimento industrial nacional se associou à iniciativa dos grandes 
produtores	 rurais.	 Em	 um	 primeiro	 momento,	 Rio	 de	 Janeiro	 e	 Minas	 Gerais	
ocuparam posição de destaque, mas no início do século XX foram superados por 
São	Paulo,	que,	na	década	de	1920,	apresentava	um	estágio	de	desenvolvimento	
bem	superior	ao	dos	seus	vizinhos.	Nunca	é	demais	lembrar	que	esta	situação	só	foi	
possível devido aos investimentos advindos dos lucros dos cafeicultores paulistas 
no	mercado	internacional.	Para	se	ter	uma	ideia,no	início	do	século	XX	o	Estado	
de	São	Paulo	produzia	sozinho	mais	da	metade	do	café	comercializado	no	mundo.
À existência de excedentes passíveis de serem aplicados nas indústrias 
é	necessário	acrescentar	o	 fato	de	que	algumas	regiões	de	São	Paulo	 receberam	
um	afluxo	 impressionante	de	 imigrantes,	principalmente	depois	da	abolição	do	
trabalho	 escravo.	Ou	 seja,	 São	 Paulo	 passou	 a	 reunir	 elementos	 indispensáveis	
para	o	desenvolvimento	 industrial:	capitais	para	 investimento,	mão	de	obra	em	
abundância e a possibilidade de criação de um mercado consumidor para nutrir a 
TÓPICO 3 | TRABALHADORES NA PRIMEIRA REPÚBLICA: CONDIÇÕES À “LUTA DE CLASSES”
29
demanda.	Esta	situação	era	mais	do	que	evidente	na	capital	paulista,	uma	cidade	
que,	 em	 aproximadamente	 quarenta	 anos	 (1872-1914),	 teve	 a	 sua	 população	
ampliada	de	“23	mil	para	400	mil	habitantes”.	(DEL	PRIORE;	VENÂNCIO,	2003,	p.	
296).	Evidentemente,	a	íntima	ligação	com	o	Poder	Executivo	nacional,	respaldada	
pela	“Política	dos	Governadores”,	forneceu	ao	Estado	de	São	Paulo	a	capacidade	
de administrar de maneira privilegiada crises econômicas tais como aquelas que 
atingiam	 seu	 principal	 produto	 de	 comercialização,	 o	 café.	A	manutenção	 dos	
lucros	gerados	pelo	café	permitia	a	manutenção	dos	investimentos	nas	indústrias.
FONTE: Disponível em: <www.wikipedia.org>. Acesso em: 10 mar. 2010.
FIGURA 9 – PANFLETO QUE AGENTES DE PROPAGANDA UTILIZAVAM PARA 
PROMOVER A IMIGRAÇÃO ITALIANA AO BRASIL
A	 criação	 e	 desenvolvimento	 de	 um	 setor	 industrial,	 um	 dos	 grandes	
responsáveis pelo acelerado processo de ampliação dos centros urbanos, projetou 
um	novo	cenário	no	campo	das	relações	sociais	em	nosso	país.	Nos	centros	urbanos,	
principalmente	aqueles	da	região	Sudeste,	trabalhadores	submetidos	a	condições	
precárias	de	vida	passaram	a	se	organizar	e	a	reivindicar	seus	direitos.	Por	outro	
lado, os interesses de classe se faziam valer também por parte da burguesia, 
composta	basicamente	por	empresários	e	fazendeiros	de	café.	Surgiam	as	condições	
para	disseminação	do	ideário	da	“luta	de	classes”	em	terras	brasileiras.
30
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
3 A ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES E A LUTA DE 
 CLASSES
Não	é	possível	afirmar	que	o	desenvolvimento	industrial	durante	a	Primeira	
República	tenha	sido	um	privilégio	da	região	Sudeste.	Ocorre	que,	do	ponto	de	
vista	da	organização	dos	 trabalhadores	 em	 torno	do	 ideário	da	 luta	de	 classes,	
os	eventos	relacionados	à	região	Sudeste	servem	como	um	vetor	para	se	pensar	a	
situação	do	país	como	um	todo.	Em	cidades	como	São	Paulo	e	Rio	de	Janeiro,	os	
embates	de	classe	nos	fornecem	preciosas	indicações.
Respondendo	 pelo	 signo	 da	 continuidade,	 aos	 trabalhadores	 urbanos	
da	República	Velha	 foi	 negada	 a	 condição	de	 cidadãos.	Com	efeito,	 durante	 as	
primeiras décadas de governo republicano a postura das elites dirigentes dava 
margem à reprodução de práticas de exclusão e de exploração que remontavam à 
época	do	Brasil	Colonial.	A	abolição	do	trabalho	escravo	não	significou	o	término	
da	exploração	dos	trabalhadores,	apenas	a	projetou	em	um	novo	relevo.	Diante	
desta	situação,	os	trabalhadores	tiveram	que	se	organizar	na	luta	por	direitos.	De	
acordo	com	Penna,
A	 discriminação	 contra	 os	 operários,	 desenvolvida	 pelas	 classes	
dirigentes,	produziu	uma	situação	de	verdadeira	segregação	geográfica	
e	sociocultural.	Assim,	nasceram	vilas	e	bairros	operários,	concentrando	
a	 vida	 dos	 trabalhadores,	 isolando-os	 das	 proximidades	 dos	 centros	
urbanos onde se instalavam as atividades comerciais e os bairros 
burgueses.
Esse	 isolamento	 propiciou	 maior	 integração	 dos	 trabalhadores	
assalariados.	Não	demorou	muito	e	essa	aglutinação	se	revelou	profícua	
na	luta	travada	entre	os	interesses	do	capital	e	do	trabalho.	(PENNA,	
1999,	p.	125).
O	 fato	é	que	a	 criação	desses	 espaços	de	 sociabilidades,	mesmo	que	em	
decorrência de uma política de exclusão social, trouxe consigo um elemento 
positivo,	pois	permitiu	aos	trabalhadores	se	reconhecerem	enquanto	membros	de	
uma	 totalidade	 submetida	à	opressão.	Este	 reconhecimento	 logo	 suscitou	ações	
práticas materializadas em greves e outras iniciativas de contestação no próprio 
ambiente	de	trabalho.	Ampliando	o	foco	é	necessário	lembrar	que	as	manifestações	
dos	 trabalhadores	 tinham	 como	 alvo	 a	 luta	 não	 apenas	 contra	 a	 exploração	do	
trabalho,	mas	contra	toda	uma	situação	mais	ampla	que	impunha	aos	trabalhadores	
péssimas	condições	de	vida	e	gerava	um	quadro	de	verdadeira	miserabilidade.
Na	 verdade,	 manifestações	 populares	 contra	 a	 opressão	 foram	 uma	
constante	ao	longo	da	História	do	Brasil.	O	elemento	novo	apresentado	na	Primeira	
República	foi	a	forma	como	essas	manifestações	se	desenvolveram	e	as	concepções	
ideológicas	que	as	guiaram.	Del	Priore	e	Venâncio	descrevem	da	seguinte	maneira	
esta	questão:
Na	 transição	do	 Império	para	a	República,	uma	nova	 forma	de	 fazer	
política	 teve	 início	 no	 Brasil.	 Por	 essa	 época	 começam	 a	 surgir	 os	
primeiros defensores de projetos socialistas, organizando partidos, 
sindicatos	e	jornais.	Tratava-se	de	fato,	de	uma	mudança	radical.	Basta	
TÓPICO 3 | TRABALHADORES NA PRIMEIRA REPÚBLICA: CONDIÇÕES À “LUTA DE CLASSES”
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lembrarmos	que,	ao	exaltar	o	“trabalhador”	como	principal	elemento	
da	sociedade,	o	movimento	operário	brasileiro	rompeu	com	tradições	
seculares,	herdadas	da	época	escravista,	que	consideravam	as	atividades	
manuais	aviltantes	e	indignas	para	os	cidadãos	–	inaugurava-se,	assim,	
um	novo	princípio	de	exercício	legítimo	do	poder,	que	terá	influência	
até	nossos	dias.	(2003,	p.	281).
 
Apresentado	como	uma	novidade	no	Brasil,	o	projeto	socialista	já	era	uma	
realidade	na	Europa	durante	a	maior	parte	do	século	XIX.	E	foi	exatamente	devido	
à vinda de imigrantes europeus para o Brasil, iniciados no ideário socialista e nas 
lutas pela reforma ou transformação radical da sociedade, que se constituíram 
lideranças	capazes	de	dar	sustentação	à	luta	de	classes.	Portugueses,	espanhóis	e	
italianos	compunham	o	grosso	do	fluxo	de	imigrantes	para	o	Brasil	nas	primeiras	
décadas	da	República	e	a	base	da	mão	de	obra	empregada	nas	indústrias.
Penna	(1999)	nos	fala	que	a	 tradição	de	 luta	dos	trabalhadores	europeus	
era	conhecida	desde	a	época	das	internacionais	(a	AIT,	Associação	Internacional	
dos	 Trabalhadores,	 fundada	 em	Londres,	 em	 1864,	 e	 a	 Internacional	 Socialista,	
criada	 em	 Paris,	 em	 1889,	 são	 um	 exemplo	 desta	 afirmação).	Aqui	 no	 Brasil	 a	
atuação dos imigrantes resultou na criação de partidos políticos operários e na 
disseminação de uma imprensa voltada à divulgação de ideias que representavam 
os	interesses	do	operariado.	No	plano	das	reivindicações	mais	imediatas,	podemos	
citar	a	implantação	de	uma	jornada	de	trabalho	de	oito	horas,	o	direito	ao	descanso	
semanal,	a	proibição	do	 trabalho	 infantil	e	a	criação	de	 tribunais	de	arbitragem	
para	solução	dos	conflitos	entre	patrões	e	empregados.
É importante saber que o movimento operário não se constituiu como 
um	todo	coeso.	Além	do	socialismo,	destacou-se	no	movimento	o	Anarquismo,	
principalmente a vertente anarco-sindicalista, que durante muito tempo foi a 
corrente	hegemônica	no	movimento	operário	organizado.	Optando	não	pela	via	
política,	como	era	o	caso	da	corrente	socialista,	mas	pela	chamada	“ação	direta”,	
cujo principal elemento era a greve, o anarco-sindicalismo marcou a luta dos 
trabalhadores	no	Brasil	durante	duas	décadas.	De	acordo	com	Penna	(1999),	esta	
tendência	teve	uma	origem	que	data	da	AIT,	sendo	tributária	das	ideias	de	um	de	
seus	membros,	o	russo	Bakunin.	A	proliferação	do	anarco-sindicalismo	resultou	
em	uma	disputa	no	seio	do	movimento	operário	brasileiro.	Esta	disputa	constituiu	
uma	das	fraquezas	do	movimento.		Mais	à	frente	abordaremos	estaquestão.
Os	anarco-sindicalistas	eram	orientados	pela	 teoria	que	preconizava	que	
“o	Estado,	 independentemente	da	classe	social	que	estivesse	no	poder,	era	uma	
instituição	repressiva,	daí	a	defesa	intransigente	de	sua	substituição	por	associações	
espontâneas,	tais	como	federações	de	comunas	ou	cooperativas	de	trabalhadores”.	
(DEL	PRIORE;	VENÂNCIO,	 2003,	p.	 283-284).	Lutavam	pelo	fim	da	burguesia,	
do	Estado	capitalista	e	pela	instauração	de	uma	sociedade	com	indivíduos	livres.	
Até	aproximadamente	a	década	de	1920	o	número	de	greves	por	eles	organizadas	
aumentou	 significativamente	 nos	 centros	 industriais	 (resultando,	 inclusive,	 em	
uma	paralisação	geral	em	São	Paulo,	no	ano	de	1917,	considerada	a	primeira	greve	
geral	do	país),	mas	poucas	das	reivindicações	dos	trabalhadores	obtiveram	êxito.	
Além	disso,	o	aumento	da	pressão	sobre	a	burguesia	industrial	não	passou	impune.
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UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
FONTE: Disponível em: <www.wikipedia.org>. Acesso em: 13 mar. 2010.
Já	 em	 1913,	 com	 a	multiplicação	 das	 greves,	 foi	 aprovada	 a	 Lei	Adolfo	
Gordo,	 que	propunha	 a	 expulsão	do	país	 de	 operários	 estrangeiros	 envolvidos	
em	atividades	do	movimento	operário.	Ciente	de	que	as	lideranças	do	movimento	
eram	compostas,	em	sua	maioria,	por	imigrantes	europeus,	o	governo	tinha	por	
objetivo	 suprimir	 suas	 forças	 ao	 adotar	 esta	 medida.	 Uma	 onda	 de	 prisões	 e	
deportações	teve	início	e	agiu	em	paralelo	ao	uso	da	força	contra	manifestantes	e	
seus	órgãos	de	divulgações	de	ideias,	tais	como	os	jornais.	
Não	bastasse	a	repressão	estatal	–	respondendo	pelos	interesses	burgueses	
–,	o	declínio	do	movimento	anarquista	 foi	 favorecido	pela	 cisão	no	movimento	
operário.	Neste	sentido,	o	ano	de	1917	tem	um	significado	singular,	pois	a	eclosão	
da Revolução Russa resultou na paulatina propagação da ideia de elaboração de 
um	projeto	político	mais	consistente.	Como	os	anarquistas	se	negavam	a	participar	
do	jogo	político,	ou	a	apoiar	os	partidos	políticos	existentes,	havia	uma	dificuldade	
para	transformação	das	reivindicações	dos	trabalhadores	em	leis.	Em	1920,	durante	
a	 realização	 do	 II	 Congresso	 Operário	 Brasileiro,	 “[...]	 a	 força	 expressiva	 do	
exemplo soviético minou as resistências ideológicas dessa tendência e não foram 
poucos	os	que	se	voltaram	para	uma	outra	tendência	hegemônica	do	proletariado	
mundial.”	 (PENNA,	 1999,	 p.	 131).	 A	 cisão	 do	 movimento	 anarco-sindicalista	
acabou	resultando	na	criação,	em	março	de	1922,	do	Partido	Comunista	do	Brasil.
FIGURA 10 – OPERÁRIOS E ANARQUISTAS MARCHAM PORTANDO BANDEIRAS 
NEGRAS PELA CIDADE DE SÃO PAULO NA GRANDE GREVE DE 1917
TÓPICO 3 | TRABALHADORES NA PRIMEIRA REPÚBLICA: CONDIÇÕES À “LUTA DE CLASSES”
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FONTE: Centro de Referência da História Republicana Brasileira. 
 Disponível em: <www.republicaonline.org.br>. Acesso em: 14 
 mar. 2010.
FIGURA 11 – VAMOS REPARTIR ESSE CHOCOLATE!
Durante	 a	 década	 de	 1920	 o	 anarco-sindicalismo	 entrou	 em	 acelerado	
declínio.	Por	outro	lado,	a	atuação	dos	membros	do	Partido	Comunista	do	Brasil	
foi	dificultada	devido	à	decretação	oficial	da	ilegalidade	do	partido.	Como	você	
pode	notar,	a	burguesia	firmou	posição	e	criou	empecilhos	à	instrumentalização	
das	 reivindicações	 do	movimento	 operário.	 Esta	 foi	 uma	das	 faces	 da	 resposta	
que	a	elite	econômica	do	país	deu	à	luta	de	classes.	Mas,	malogrados	os	esforços,	
o	 fato	 é	 que	o	movimento	operário	na	Primeira	República	 foi	 responsável	pela	
emergência	de	uma	“Questão	Social”	que	não	mais	poderia	 ser	desconsiderada	
por	estas	mesmas	elites.	Os	desdobramentos	desse	 fenômeno	ganhariam	relevo	
em	um	novo	 cenário	político,	 criado	após	a	Revolução	de	1930.	Mas	este	 é	um	
estudo	que	desenvolveremos	na	próxima	unidade.
A figura mostra crianças que reivindicam o direito de comer Chocolates Lacta, 
em alusão satírica à vitoriosa revolução bolchevique, de 1917, no jornal O Estado de São Paulo.
LEITURA COMPLEMENTAR
AS CONDIÇÕES GERAIS DO TRABALHADOR
[...]	Antes	de	1919,	os	trabalhadores	das	fábricas	têxteis	mais	importantes	
costumavam	trabalhar	de	nove	horas	e	meia	a	doze	horas	diárias	durante	seis	ou	sete	
dias	na	semana.	E,	se	necessário,	a	jornada	diária	era	aumentada	segundo	critérios	
UNI
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UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
da	direção.	Na	fábrica	Mariângela,	parte	do	império	industrial	dos	Matarazzo,	os	
operadores	homens	trabalhavam	de	11	a	14	horas	por	dia.	As	crianças,	de	8	a	12	
anos	de	idade,	12	horas	diárias,	e	algumas	em	turnos	noturnos	que	iam	de	5	da	
tarde	às	6	da	manhã	do	dia	seguinte.
Um	relatório	feito	para	o	Congresso	Operário	de	1913	espelhou	a	situação	
nas	maiores	fábricas	do	Rio	de	Janeiro.	“Imaginem-se	em	um	lugar	onde	trabalhem	
centenas	de	operários	sem	sequer	uma	janela	para	abrir.	Pois	isto	é	o	que	há	em	
quase	todas	as	fábricas.	As	que	têm	janelas	não	as	abrem	por	não	quererem	que	
seus	escravos	percam	tempo	olhando	a	rua”.	Homens,	mulheres	e	crianças	eram	
forçados	a	respirar	diariamente	o	ar	estagnado	e	poluído.	Tais	condições	não	se	
restringiam	apenas	 à	 indústria	 têxtil.	O	Diretor	de	 Saúde	Pública	de	 São	Paulo	
encontrou,	 nas	 fábricas	de	vidro,	 empregados	que	 trabalhavam	excessivamente	
em	locais	que	não	atendiam	às	mínimas	exigências	de	saúde	industrial.
Forçadas	 a	 trabalhar	 por	 extrema	 necessidade,	 as	 crianças	 eram	 as	 que	
mais	 sofriam.	 Um	 repórter	 ficou	 horrorizado	 ao	 investigar	 as	 condições	 das	
crianças	nas	fábricas	do	Rio	de	Janeiro.	Um	amigo	radical	o	havia	convencido	a	
fazer	 um	 levantamento	 da	 situação.	 Em	 uma	 fábrica,	 viu	 crianças	 trabalhando	
ao	lado	de	adultos	de	6	da	manhã	a	6	da	tarde,	com	uma	hora	de	intervalo	para	
o	café	da	manhã	e	uma	hora	para	o	almoço.	As	crianças	pareciam	“esqueletos”,	
eram	 “magras,	 de	 bochechas	 fundas,	 olhos	melancólicos	 envoltos	 em	 sombras	
escuras...	As	 crianças	 que	 trabalhavam	em	 fábricas	 e	 oficinas	da	 capital	 federal	
estão	 destinadas	 à	 tuberculose”.	 Tais	 palavras	 poderiam	 parecer	 um	 exagero.	
Entretanto,	outro	estudo	 feito	nas	oficinas	do	governo,	onde	as	 condições	eram	
consideravelmente	melhores	que	na	indústria	privada,	indicou	que	a	maioria	das	
crianças	estava	tuberculosa.	
FONTE: Maram, (1979, p. 122-123)
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia o livro e assista ao 
documentário indicado:
Livro: MARAM, Sheldon Leslie. Anarquistas, imigrantes e o Movimento Operário Brasileiro, 
1890-1920. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
Filme: Os Libertários
Produção: Lauro Escorel Filho
Direção: Lauro Escorel Filho
Brasil/l976 – 26 min – P&Bí Documentário
O filme trata do papel do Anarquismo no início do movimento operário em São Paulo. Apresenta 
fotos, filmes e músicas da época para descrever as primeiras lutas e formas de organização dos 
trabalhadores.
Temas abordados: o início da industrialização em São Paulo; as condições de trabalho; o 
movimento operário; a imprensa operária; o papel do Anarquismo na organização operária e 
a imigração italiana. Além de: LAPA, José Roberto do. Os excluídos: contribuição histórica da 
pobreza no Brasil. Campinas: Unicamp, 2008.
DICAS
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RESUMO DO TÓPICO 3
 Neste tópico abordamos as seguintes questões:
•	Ao	longo	dos	últimos	anos	do	século	XIX	e	das	primeiras	décadas	do	século	XX	
desenvolveu-se no Brasil um processo de industrialização, em grande medida 
vinculado	aos	investimentos	dos	grandes	cafeicultores.
•	A	industrialização	foi	responsável	pelo	desenvolvimento	urbano	e	pela	delimitação	
de	classes	sociais	específicas,	a	burguesia	industrial	e	o	proletariado.
•	Disseminado	no	Brasil	por	imigrantes	europeus,	o	ideário	da	luta	de	classes,	em	sua	
vertente	socialista	e	anarquista,	obteve	receptividade	por	parte	dos	trabalhadores	
urbanos,	resultando	na	eclosão	de	vários	movimentosque	reivindicavam	melhores	
condições	de	vida	para	os	trabalhadores	e/ou	uma	mudança	radical	da	sociedade,	
via	derrubada	do	capitalismo.
•	O	ideário	da	luta	de	classes	também	ganhou	significado	na	reação	que	a	burguesia	
nacional,	à	frente	do	Estado,	operou	contra	as	manifestações	dos	trabalhadores.	
Prisões,	deportações	e	perseguições	das	mais	diversas	naturezas	foram	as	principais	
armas	de	combate	utilizadas	pelos	burgueses	na	luta	contra	o	proletariado.
•	Embora	distante	da	totalidade	das	propostas	originais,	algumas	das	reivindicações	
dos	trabalhadores	foram	atendidas	pelo	patronato.
•	Além	da	repressão	sistemática,	outro	elemento	que	militou	contra	o	movimento	
operário	organizado	foi	a	cisão	criada	pela	defesa	de	propostas	distintas	de	ação.	
O	socialismo	de	inspiração	soviética	e	o	anarco-sindicalismo	compuseram	a	linha	
de	frente	das	propostas	dissonantes.
•	Duramente	combatido	durante	a	década	de	1920,	o	movimento	operário	teve	que	
esperar até a eclosão da Revolução de 1930 para voltar a por seus interesses na 
ordem	do	dia.
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1	Durante	 os	 anos	de	militância	do	movimento	 operário	 surgiram	vários	
jornais com o objetivo de disseminar o ideário anarquista e socialista entre 
os	 trabalhadores.	Analisando	a	 charge	da	Figura	 11	 (Vamos	 repartir	 esse	
chocolate!),	explique	por	que	não	é	possível	enquadrar	a	imagem	no	conjunto	
desse	material.
2	Comente,	em	linhas	gerais,	os	motivos	que	levaram	ao	declínio	do	movimento	
anarquista.
AUTOATIVIDADE

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