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Roteiro para uma analise Institucional - G. Baremblit Arquivo

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BAREMBLIT, Gregório
Compêndio de Análise institucional e outras correntes: Teorias e prática/ 
5ª. Ed. Beto Horizonte, MG: Instituto Félix Guattari, 2002 
Capítulo VI
ROTEIRO PARA UMA INTERVENÇÃO INSTITUCIONAL PADRÃO
Vamos tratar de um roteiro para uma intervenção institucional do tipo standard, isto é, a 
mais habitual, a mais corriqueira, a mais conspícua. Antes de começar, no entanto, eu gostaria 
de fazer uma breve classificação - que, seguramente, será muito incompleta e esquemática - de 
algumas formas diferentes de intervenção, pois me parece que, metodológica e tecnicamente, é 
uma questão que não estou seguro de ter conseguido transmitir no percurso destes capítulos. É 
um assunto importante, porque quando não fica claro, permanece nas pessoas uma dúvida 
enorme no tocante à condição de contratação deste tipo de serviço. Então eu gostaria de, pelo 
menos, mencionar algumas delas.
Tendo em vista a divisão já mencionada dentro do Institucionalismo entre a configuração 
de um campo de análise e um campo de intervenção, é evidente que o campo de análise 
consiste apenas num espaço conceituai ou nocional. Em outras palavras, é um tema do qual o 
institucionalista quer se ocupar. Esse tema pode ser abstraio ou concreto; pode ser 
contemporâneo, passado ou futuro. E pode ser muito vasto ou mais restrito. Mas
90
é um processo de produção de conhecimento com respeito a esse campo e não implica 
necessariamente uma intervenção técnica; envolve apenas o fato de que o institucionalista vai 
tentar entendê-lo. Aliás/ isso pode abranger até mesmo um tipo de material que não é 
propriamente histórico-social, no sentido das formas institucionalizadas-organizadas: pode ser um 
texto literário ou uma obra arquitetônica, por exemplo.
Agora/ o campo de intervenção, como já foi dito, pressupõe um campo de análise, porque 
se pode entender sem intervir, mas não se pode intervir sem entender, embora durante a 
intervenção iremos entendendo cada vez mais. O campo de análise pode não coincidir, em 
termos empíricos, com o campo de intervenção. Ou seja, pode-se escolher como campo concreto 
de intervenção uma fábrica, uma indústria. Mas pode-se delimitar um campo de análise que não 
compreenda unicamente o entendimento dessa fábrica, e resolver estudar o processo histórico 
de implantação desse tipo de indústria no Brasil, para poder saber como funciona essa 
organização concreta, fabril, escolhida como campo de intervenção.
Partindo, pois, dessa discriminação entre campos de análise e campo de intervenção, 
digamos que as modalidades de intervenção podem ser variadas. Uma modalidade de 
intervenção - aquela a que vamos nos referir de forma predominante quando repassarmos este 
roteiro standard, tradicional- é um serviço oferecido desde posições mais ou menos clássicas, 
convencionais, habituais, dentro do panorama social. É o que se dá como serviço oferecido na 
condição de profissional liberal ou autônomo, na
1
condição de sociedade cientifica - uma sociedade científica de Análise Institucional que oferece 
trabalhos, por exemplo; é o exercício oferecido por um estabelecimento de prestação de serviços 
privados, um instituto de Análise Institucional que pode ser uma sociedade anônima de 
responsabilidade limitada ou uma micro empresa; é o que pode ser oferecido por um 
departamento especial de uma faculdade, um departamento de Análise Institucional numa 
universidade.
Outra modalidade possível de prestação deste serviço pode ser feita por parte de uma 
equipe que integra, que é interna à organização na qual se vai intervir. É o famoso caso, por 
exemplo, do departamento de Recursos Humanos de uma empresa, que tem de fazer uma 
intervenção dentro de sua empresa mesma,
91
ou um departamento de acompanhamento institucional de uma universidade.
Outra possibilidade é a de uma prestação de serviços feita de uma maneira parecida com esta 
anterior, que acabamos de expor, mas menos caracterizada burocrática e profissionalmente. Por 
exemplo, é o caso de um sindicato ou de um partido político que, nos seus quadros, tem 
institucionalistas que são militantes formais. Então, esse sindicato ou esse partido político pede a 
seus militantes institucionalistas uma intervenção em um setor, em um segmento, em uma frente, 
em um espaço da vida e da atividade partidária, trabalho esse que pode ser ou não pago, 
contanto que seja considerado como parte da vida militante. Mas, em todo caso, é um acordo 
muito definido, pois se trata de uma oferta e uma solicitação formais, em que se reconhece no 
militante institucionalista um saber "específico"/ e ele é procurado nesta condição.
Uma outra possibilidade é aquela pela qual um institucionalista - que não se caracteriza 
como tal e não oferece seus serviços como tal- infiltra-se em uma organização, à qual ele pode 
pertencer organicamente ou não, e o faz sob um rótulo, na condição de qualquer outra coisa 
que faça parte dos papéis formais existentes nessa organização, mas que não seja o de 
institucionalista. É o caso, por exemplo, de um morador numa associação de bairro, em que 
ninguém sabe que seja institucionalista, ninguém está informado de que ele oferece serviços 
institucionalistas, mas que, dentro de seu papel de morador, opera como institucionalista, sem 
explicitar essa condição.
Existe uma última possibilidade dentro desse espectro esquemático que ainda é pobre, 
limitado, que consiste numa variação dessa última possibilidade. Uma variação que parece a 
menos comprometida e, sem dúvida, é a mais difícil de todas: é a daquele que pratica o 
Institucionalismo na convivência cotidiana. Ou seja: é aquele que nem oferece serviços como 
institucionalista, nem é solicitado como tal, nem se infiltra sob outra condição não formal, mas 
simplesmente é um "cristão", isto é, é um próximo que, tendo assimilado princípios teóricos, 
formas técnicas de operar, vive dessa maneira, convive dessa forma e, então, pratica o 
Institucionalismo com sua mulher, com os filhos, com os companheiros, com os adversários. Em 
outras 
92
2
palavras: é aquele que tem do mundo uma concepção institucionalista e uma maneira de viver 
de acordo com esses princípios. Isso inclui o seu âmbito de trabalho, mas é
principalmente na coexistência, na colaboração cotidiana com seus companheiros, que 
ele se comporta como institucionalista.
Essa esquemática sistematização requer um tratamento, uma explicitação e uma 
abordagem muito detalhados e complexos das peculiaridades que adquire cada uma dessas 
inserções possíveis, o que não faremos por várias razões; em primeiro lugar,
porque ela não foi exaustivamente feita em texto algum -e suspeito que jamais será feita, porque 
é demasiadamente ampla, heterogênea, complexa, inclusive por causa da pretensão 
institucionalista de que cada intervenção tem de ser singular, tem de ter uma característica de 
originalidade, de irrepetibilidade, o que torna a sistematização dessas diferenças eventualidades 
muito difíceis e improváveis. Mas, em todo caso, o importante é reter isso, a amplitude de 
possibilidades, amplitude essa que produz um efeito contraditório nos jovens institucionalistas, 
porque esses novatos são formados dentro de uma orientação disciplinar: querem ser 
especialistas, querem ser profissionais e querem ter um corpo de saber e de prescrições, de 
estratégias e de táticas, claro, simples, limitado e preciso. Querem saber quem são, que direitos 
têm, que deveres têm, qual o seu estatuto científico, qual sua condição profissional, e querem ter 
uma teoria simples, clara, assim como opções técnicas não demasiadamente numerosas para 
poderem saber, com toda facilidade, o que devem fazer em cada conjuntura. E nisso consiste a 
formação disciplinar que tende a produzir técnicos e, em muitas ocasiões, embora não em todas, 
à condição de técnico se acrescenta a de funcionário ou de burocrata.
Felizmente ou não, o Institucionalismonão é assim; não é isso o que ele propõe, apesar 
de que, em algumas ocasiões infelizes, possa vir a cair nisso. Então, essa amplitude gera nos 
jovens agentes uma angústia, um mal-estar que pode derivar numa recusa, que pode levá-los a 
adotar uma atitude depreciativa que os conduz a dizer: "Isso é muito vago, muito complicado, 
muito impreciso; não faço; deixe-me tranquilo como médico, como advogado, algo tradicional e 
não demasiadamente autocrítico." É o famoso problema de focalizar isso de maneira otimista ou 
pessimista. A maneira pessimista é dizer que é muito
93
complicado, muito impreciso, há demasiadas opções. A maneira otimista é dizer: "Graças 
a Deus, há tantas possibilidades e tantas margens para a invenção..."
O que vamos desenvolver agora é apenas uma dessas formas de intervenção, que é a 
intervenção institucional standard a qual: l) não é a única (o que espero, tenha ficado claro); 2) 
nem sempre é a melhor - apesar de costumar ser a mais clara e a mais sistematizada; e 3) muito 
frequentemente não é possível, porque as características da demanda não a propiciam. Então, 
deve-se ter cuidado, porque se a gente se prende a esse tipo de intervenção, se se apega a esse 
modo de operar, corre o risco de pensar que quando ele não é possível, não existem outros que 
pelo menos, deixaremos esboçados.
3
Ora, a intervenção apresenta uma série de passos que têm de ficar bem 
explicitados. São passos ideais, aos quais deveríamos prestar atenção, tratar em 
separado a cada um deles durante a intervenção, se houvesse tempo, se houvesse 
calma, se houvesse dinheiro, se houvesse todas as condições necessárias para fazer as 
coisas de maneira confortável. Em geral essas condições não existem, então pulam-se e 
misturam-se passos, e age-se, mais ou menos, "como é possível". Se vocês querem um
exemplo corriqueiro, conhecer esses passos e executá-los é como em algumas épocas 
gloriosas da etiqueta, quando nos ensinavam a caminhar de maneira elegante e, então, 
se nos diziam: calcanhar- planta-ponta, calcanhar-planta-ponta... Ora, ninguém caminha
assim. Mas acontece que caminhar assim resulta num andar elegante. Depois, a gente 
não vai mesmo pensar nisso, e simplesmente caminha mais ou menos, tão 
elegantemente como pode. Ou como quando a gente aprende a nadar, que consiste 
primeiro em levar o braço direito, depois o braço esquerdo, e bater as pernas 
coordenadamente, e a cabeça se volta para esse ou aquele lado... Quando a gente nada 
assim, só pensando nessas regras, se afoga, apesar de ser a maneira mais correia de 
fazê-lo...
O primeiro passo consiste em fazer a análise da produção da demanda. Isso, em 
um sentido particular, consiste no cuidadoso exame que a organização ou a pessoa que 
está para fazer a intervenção institucional faz da maneira como ela ofereceu os serviços; 
ou seja, o estudo da forma como ela produziu a demanda que lhe é feita. Temos 
enfatizado muito que correntes
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atuais, tanto de Marketing quanto de Psicanálise, ou de Psicanálise e Marketing (que não 
estão nada separados), têm insistido bastante na questão da demanda do usuário: o 
usuário demanda isso, mas não sabe que, na verdade, demanda outra coisa. 
Sistematicamente se esquece, nessas leituras, nessas investigações, que não existe 
demanda espontânea, que toda demanda é produzida, é gerada, e que existe um 
cruzamento na natureza da demanda, de tal maneira que não é necessariamente a 
organização que oferece um serviço a única responsável pela produção de demanda 
desse serviço. Muitas vezes, a produção da demanda de um serviço, por exemplo, um 
serviço de saúde,
é "naturalmente", em princípio, produzida pêlos estabelecimentos de saúde que oferecem 
seus serviços. Mas ela é produzida, igualmente, pela falência, por exemplo, de outras 
ofertas de outras organizações e dos serviços dessas organizações que são incompletos, 
que são distorcidos, que são anacrônicos e que geram demanda de serviços de saúde 
porque não resolvem bem os problemas da sua especificidade. Em outras palavras:
como as organizações responsáveis pela demanda urbanística, de moradia, realizam mal e 
resolvem mal sua oferta, elas produzem uma demanda à qual não respondem. Isso traz
consequências em saúde; os problemas sanitários, por exemplo. Então, quem é que 
gerou a demanda do serviço de saúde? Não foram apenas os estabelecimentos de 
saúde. Foram também os estabelecimentos de urbanização, não por geração de uma 
demanda de saúde coerente, racional e consciente, articulada com a oferta, mas pela 
inconsciência e pela falência de sua oferta. Mas esse exemplo que acabo de dar é 
4
insignificante, porque, devido às questões de atravessamento e às questões de 
transversalidade, isso se torna um complexo mecanismo no qual a gente só consegue 
averiguar algumas das determinantes cruzadas da produção de demanda com a oferta... 
e em geral se perdem muitas. É importante que isso fique claro. Mas, em todo caso, o 
mínimo que podemos saber sobre isso é que não existe demanda espontânea e natural, 
nem universal, nem eterna, mas, pelo contrário, ela é produzida pela oferta. Portanto, a 
primeira coisa a ser feita ao nível de um campo de análise é uma pesquisa, a mais ampla 
possível, de como produzimos a demanda de serviços. Nesse caso, a demanda de 
Análise Institucional é, como o leitor compreenderá, nem mais nem menos que o começo 
da
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análise da implicação. Porque se a análise da implicação é a análise do compromisso 
sócio-econômico-político-libidinal que a equipe analítica interventora, consciente ou não, 
tem com sua tarefa, ela começa pela análise da implicação existente na oferta, ou seja, 
na produção da demanda. Na oferta ou produção de demanda há muitas características 
que não podemos detalhar aqui porque excede nossos propósitos. Mas há uma que 
temos de revelar, ter presente, e eu gostaria de descrevê-la de maneira pitoresca, para 
que seja mais lembrada pêlos leitores. Há uma piada famosa que se passa num forte 
militar, numa dessas guarnições que ficam lá na fronteira. Um oficial pede a um soldado 
que suba na torre de controle para ver se os índios estão vindo ou não. É um forte 
americano, em território índio. Então, o vigia sobe, olha e diz: "Sim, os índios estão 
vindo... São muitos; vêm correndo." O oficial pergunta: "Mas esses índios são amigos ou 
inimigos?" Ao que o soldado responde: "Olhe, devem ser amigos, porque estão vindo 
todos juntos..." Se a gente se lembra desta piada, fica mais fácil lembrar que a realidade 
com que trabalhamos vem toda junta. A divisão em especialidades, profissões, só existe 
dentro da classe ou da equipe, mas não nos usuários. A realidade "vem toda junta": as 
divisões que fazemos são totalmente produzidas. Mas a realidade vem junta e nós não 
estamos juntos; o mais que conseguimos, às vezes, é estar próximos, um ao lado do 
outro. E o que acontece é que cada especialidade, cada profissão, acha que os 
problemas da realidade são problemas de seu campo. Isso não é maldade dos agentes; 
pode ser uma desonestidade, e muitas vezes é, mas não frequentemente. Acontece que o 
aparelho científico disciplinar e a condição profissional estão estruturados para isso, para 
encarar qualquer problema da realidade e estar, em princípio, convencido de que o 
problema é nosso: de cada um, do especialista, do profissional. Então, um senhor ou uma 
organização vem consultar-nos sobre um problema de saúde. Eu sou especialista em 
saúde. Além disso, sou profissional. Vivo
disso. Adquiri uma série de conhecimentos nos quais confio porque eles têm-se 
demonstrado eficazes. Cabe lembrar que obtenho todo o meu dinheiro, todo o meu poder 
social e todo o meu prestígio através disso que eu faço. Então não tenho culpa
de nada. Se alguém me consulta por um problema de saúde, certamente ele tem saúde 
ou não tem saúde e isso é da minha
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5
alçada. Então: "Venha que esse problemaé comigo..." Quantos profissionais, quantos 
cientistas vocês conhecem que, após ouvirem cuidadosamente alguma demanda, 
concluem que esse problema não é para eles resolverem, e encaminham a alguma
organização ou a outra especialidade? Não se conhecem muitos profissionais assim... 
Existem poucos. Às vezes há quem diga: "Sim, o problema é meu, mas seria conveniente 
fazer uma consulta a um especialista em tal ou qual área." Isso já é muito, é difícil de se 
ouvir. O que é absolutamente improvável de se ouvir é uma resposta do tipo: "Permita-me 
dizer-lhe que esse problema não é privativo de nenhuma especialidade. Esse problema 
tem de ser resolvido com seus amigos, seus companheiros, seus colaboradores ou 
sozinho." Estou tratando de ser simples. O problema fundamental é esse: quando a gente 
recebe uma demanda, a primeira coisa que ocorre é que a gente tende a pensar
que não tem nada a ver com a crítica dessa demanda; se o sujeito está demandando em 
primeira instância, somos levados a aceitar que é porque já sabe o que está 
demandando. E se me procura, estou a seu dispor. Procura-me porque algum lado do 
problema tem a ver com o que faço, e então o atendo, esquecendo-me de que, se ele me 
procura, é porque me ofereci. Não necessariamente me ofereci a essa pessoa que me 
procura; pode ser uma oferta vasta, ampla, cruzada. Mas se eu não me oferecer, ninguém 
me procura. Se eu não me constituo num lugar científico, profissional, se não vendo o que 
faço, ninguém "compra".
Então, o que tenho de fazer é analisar, com cuidado, como foi que vendi isso, para 
que foi que "vendi", que coisas, realmente, posso solucionar, que coisas posso solucionar 
parcialmente e que coisas não devo solucionar, devo encaminhar noutra direção ou
devo devolver, dar de volta ao usuário o que ele solicita de mim. Essa é a análise da 
implicação na produção da demanda, ou seja, na oferta. Essa análise tem aspectos 
conscientes e pré-conscientes formuláveis assim: "Companheiros de equipe, vamos ver 
como foi que convencemos este fulano a nos procurar." Mas tem aspectos inconscientes, 
ou seja: que fiz eu, sem me dar conta, o que foi que fizemos nós sem dar-nos conta, para 
"capturar este peixe"? Mas é claro que essa pergunta não tem uma resposta reflexiva e 
voluntária. A primeira coisa a ser feita para isso é despojar-se da convicção de que a 
oferta de nossos serviços é lícita, válida, resolutiva etc., porque, pelo contrário, o que
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vivemos fazendo é lutar pela legitimação, pela autorização e pelo reconhecimento social 
de nosso serviço.
O passo seguinte é a tentativa de análise do encaminhamento/ isto é: quais foram 
os passos intermediários que conectaram o usuário-demandante conosco? Há muitos, 
mas para dar um exemplo simples: qual foi o cliente que, definindo nossos serviços como 
eficientes, chegou à conclusão de que seu próximo se beneficiaria também com esse 
serviço? Quais são as razões válidas e as razões inconfessáveis, ou as razões 
recalcadas pelas quais ele fez esta recomendação? O que acontece quando quem fez 
esta recomendação é um congênere, isto é, não é exatamente um colega, mas outro 
profissional e outro especialista que resolveu fazer a concessão de nos encaminhar 
alguém? São passos intermediários da conexão entre a oferta e a demanda. São as 
famosas fórmulas: consulta a organização tal ou o fulano de tal porque "é o melhor"; 
6
consulta porque "é caro"; consulta porque "é barato"; consulta porque ele é "dos nossos". 
E preciso ver o que significa cada um desses atributos: qual é o problema que aglutina a 
quem solicita. Consulta porque "é daqui", ou porque "vem de fora". Tudo isso modula a 
demanda, e o faz com elementos conscientes e inconscientes no usuário, na mesma
proporção neles e em nós, que ofertamos o serviço.
O passo seguinte é a análise da gestão parcial. Isto é: qual foi o setor da 
organização que assumiu o papel de vir consultar- nos ou fazer o contato? E o setor de 
direção? E o setor administrativo? É o setor financeiro? São os quadros intermediários? 
São as bases? É o proprietário? Ou seja: a gestão parcial da demanda de serviços é 
protagonizada por diferentes segmentos da organização. E isto é muito importante, 
porque nos pode dar toda uma antecipação dos motivos desta consulta, os interesses em 
jogo, os desejos em pauta e, sobretudo, o grau de consenso, de unanimidade que motiva 
os protagonistas dessa solicitação. Não é a mesma coisa ser solicitado pela direção ou
pêlos proprietários e ser solicitado pelas bases. Costuma ser, para os institucionalistas, 
infinitamente melhor serem solicitados pelas bases do que pela direção ou pêlos 
proprietários. Isso, sem dúvida, não é nenhuma garantia, porque as bases não são
homogeneamente revolucionárias, nem homogeneamente progressistas, nem 
homogeneamente sinceras. Coisa que se constata claramente naquela célebre frase que 
diz: "A. ideologia
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dominante é a ideologia das classes dominantes." Então, as bases são, em geral, 
originais, singulares, solidárias etc., mas estão infiltradas pêlos interesses e desejos dos 
setores dominantes. Então, ser solicitado por elas não é garantia de uma intenção
transparente. Isso também tem de ser analisado.
O grupo que protagoniza a gestão parcial em geral não contém todas as partes, 
mas apenas uma delas. Estamos falando de uma situação ideal em que, geralmente, vem 
apenas um segmento (apenas uma parte faz a demanda). Por outro lado, uma 
organização numerosa nunca virá toda para fazer uma solicitação. Vem um setor, que dá 
uma visão absolutamente parcial da realidade. A compreensão da determinação dessa 
parcialidade é importante, pois o fato de você considerar o parcial é que vai lhe permitir 
imaginar a existência de uma totalidade complexa, contraditória, desigual, conflitiva. Isso, 
claro, sabendo que uma organização nunca é integralmente totalizável.
Então, a análise da gestão diz respeito a isso: como foi que esse grupo resolveu 
consultar e como foi que consultou. O passo seguinte é a análise do encargo.
Na análise do encargo há um problema terminológico que seria interessante que 
ficasse claro para os leitores. Há uma discriminação muito importante que se estabelece 
entre demanda e encargo. Nessa terminologia, demanda é a solicitação formal,
consciente, deliberada, que nunca coincide com o encargo, que é um pedido que envolve 
os três níveis da discriminação que fizemos entre má-fé, desconhecimento e recalque. A 
diferença entre demanda e encargo pode passar por esses três tipos de determinações. A 
demanda nunca coincide com o encargo. Mas não coincide por quê? Por má-fé? Pode 
7
ser. É claro que as pessoas estão solicitando uma coisa, mas o que elas querem obter é 
outra. Pode-se dar um exemplo clássico, mas não único, nem exclusivo:
a solicitação de intervenção institucional, na medida em que a Análise Institucional está 
cada vez mais em moda e que crescentemente ocupa lugares formais, é uma solicitação
consciente que, em geral, passa pela idéia confusa de que um serviço de Análise 
Institucional forma parte da parafernália de serviços característicos do progresso, da 
tecnologia moderna em relações humanas. Então, a demanda é geralmente uma 
demanda do tipo: "Bom, veja, viemos consultá-lo porque sabemos da importância desta 
disciplina e queremos melhorar o ambiente
99
dos operários, da direção, ou queremos melhorar o clima entre professores e alunos, a 
comunicação, o entendimento, a negociação etc." Por quê? Porque já se sabe que existe 
uma tecnologia modernista que conhece do assunto e vai se ocupar disso. Ora,
acontece que o encargo pode não ter nada a ver com isso. O encargo pode ter a ver, por 
exemplo, com algo que acontece quando, na organização, está surgindo um grave conflito 
por problemas de condições de trabalho, por problemas de nível de salário, por problemas 
de autoritarismo na liderança, todo tipo de atritos maisou menos explícitos. Então, há 
uma demanda, num plano manifesto, de uma intervenção profilática, progressista,
melhoradora. O encargo, no entanto, é: "Olhe, veja se acaba com esta revolta, localiza os 
líderes, me aconselha como desmontar este movimento, como desmobilizar, como 
fragmentar, como paralisar isto, ou como aumentar a produtividade sem tocar na
questão do salário." Isso pode ser feito com plena consciência e com má-fé. Muitas vezes 
o interventor solicitado tem uma trajetória que permite que lhe seja solicitado isso com 
toda clareza, porque é um corrupto ou porque é um reacionário. Há especialistas em
fazer essas coisas. Agora, quem tem fama de institucionalista dificilmente será solicitado 
abertamente para isso, porque já se tem uma vaga ideia de que se ele não é 
revolucionário, pelo menos é democrata ou humanista. Então não se lhe pede isso 
diretamente. Mas pode-se perceber, perfeitamente, que se diz uma coisa e se
está pedindo outra.
Mas a diferença entre a demanda e o encargo pode não passar pela má-fé. Pode 
ser fruto do desconhecimento, ou seja, você pode perfeitamente ter uma impotência 
sexual psíquica, e procurar um urologista, que não sabe uma palavra sobre isso. O 
urologista irá receitar, então, cloridrato de ioimbina ou viagra, e se isso não funcionar, vai 
acabar implantando uma prótese peniana para ver se opera, quando, simplificando 
humoristicamente, trata-se de algum conflito com a "mamãe"... Não é comum isso? Trata-
se, pois, de um problema de ignorância. O usuário não tem como saber qual é o lugar e o 
expert adequado (?) para a consulta.
Mas pode ser, finalmente, um problema recalcado, inconsciente, de quem vem 
consultar alguém que tenha reprimido (em um sentido amplo) qual seja a diferença entre 
sua demanda e o encargo recalcado, entre o que ele pede e o que ele inconscientemente 
espera conseguir.
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Agora cabe aclarar uma coisa importante. Quando se simplificou isso, anteriormente, no 
tocante à diferença entre a demanda e o encargo, em termos de má-fé, de 
desconhecimento ou de recalque, falou-se no caso de quadros de proprietários ou
de quadros diretivos que pedem um serviço. Mas se os quadros são de base, pode 
acontecer exatamente o mesmo: o pedido pode ser fruto de má-fé, de desconhecimento 
ou de recalque, porque os quadros de base podem fazer essa solicitação, por exemplo,
porque não querem trabalhar, descartado o fato de que todo trabalho é alienado, que 
sempre existe uma extração de mais- valia, e que sempre há dominação etc. Mas vocês 
devem Ter ouvido, com frequência, estes grandes "protestos revolucionários", porque não 
se quer estudar, não se quer trabalhar. Então solicita-se alguma reivindicação, mas tem-
se outro pedido como encargo: "Dê um jeito para que a gente não trabalhe." Já tenho 
recebido demandas dramáticas, heróicas, pelo fato de ter sido colocado o cartão de 
ponto. E claro, numa sociedade onde o trabalho é alienado, o cartão de ponto quer
dizer muita coisa, e a maioria delas não é boa. Mas também quer dizer que você tem um 
horário de trabalho que odeia cumprir, ou um estudo que não tem vontade de encarar, ou 
uma autocrítica que não consegue suportar. Sem dúvida este desagrado pelo trabalho ou 
o estudo não é produto de uma "natureza ruim", ou de uma essência "vadia". Os 
determinantes do "desprazer ocupacional" na nossa sociedade são reais e 
espantosamente complexos. Frequentemente a "resistência" à tarefa é uma tática de luta 
que exprime o fato de que trabalhamos por dever ou forçados pela sobrevivência. Mas, 
em todo caso, é bom que tais manobras fiquem claras para o institucionalista e para o
demandante.
Já dissemos do que se trata a análise de encargo parcial. Já sabemos o que é 
encargo, e também análise da demanda parcial. Na realidade, não se podem separar 
esses dois pontos. Entendendo a demanda parcial e sua diferença em relação ao
encargo parcial - são dois pólos de uma unidade, não se pode entender um sem o outro -, 
então temos de caracterizar os analisadores "naturais". Vocês se lembram do que é 
analisador natural: é um fenômeno (dito em termos clássicos, incorretos e ilustrativos) 
mais ou menos similar ao que Pichon Rivière chama de emergente, que é o que surge 
como resultante de toda uma
101
série de forças contraditórias que se articulam neste fenômeno. E são "naturais", porque 
não foram fabricados por um interventor institucional. Então, suponhamos um analisador 
chamado natural (criticamos a palavra natural porque nada é "natural"):
um analisador natural seria um terremoto, e nunca nos chamaram para analisar um 
terremoto porque temos pouco para dizer a respeito disso, pelo menos enquanto 
acontecimento geológico. Então, não existem analisadores naturais propriamente ditos. 
Mn verdade os analisadores são espontâneos ou históricos. Qual seria um analisador 
desse tipo? Grande, pequeno ou médio, poderia ser uma greve, a morte de um operário, 
o aumento das doenças de trabalho, uma grande briga: esses são analisadores 
chamados naturais. Então, temos de caracterizá-los, delimitar quais são. l:
9
quando tivermos feito tudo isso, poderemos chegar ao que se chama diagnóstico 
provisório. Um primeiro entendimento sobre o que está acontecendo lá na organização. 
Só que esse diagnóstico provisório é o que os médicos costumam chamar de 
"presuntivo", que é uma hipótese ainda especulativa sobre o quadro. Mas então,
temos de fazer, a esta altura, um contrato de diagnóstico. Este contrato já implica a 
construção de dispositivos para ouvir todas as partes. O contrato de diagnóstico é um 
acerto, é um convênio feito para poder construir um dispositivo no qual possamos ouvir
todas as partes. Porque só ouvimos uma, aquela que fez a demanda parcial. Só que é 
bom fazer este novo acordo, porque ele implica que o diagnóstico já é uma operação de 
intervenção. Então já tem de ser autorizado, legitimado e, no caso de existirem
honorários, já devem ser pagos. Senão, o que acontece? Ioda a intervenção pode acabar 
aí, no entanto não é valorizada pêlos usuários. Por isso, se entre outras coisas o 
institucionalista vive disso, é interessante receber os honorários, e também porque
um contrato de diagnóstico lhe dá direito a credenciais para poda ter acesso aos lugares 
que têm de ser diagnosticados. Senão, se vai lá, entra-se para diagnosticar e o segurança 
te manda embora Depois do contrato de diagnóstico, cria-se dispositivos para
recolher todo o material necessário. Então, tenta-se analisar, fundamentalmente, as 
defesas, isto é, quais foram as resistências que se levantaram nos outros setores que se 
foi ouvir. Com esse contrato, assegura-se o respeito geral necessário, pelo falo ilr
que, em primeira instância, o institucionalista foi solicitado por um setor, por um segmento 
qualquer, e não por todo o coletivo.
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O passo seguinte consiste em, a partir desse diagnóstico provisório, poder planejar 
uma política, uma estratégia, uma tônica e técnicas para começar sua intervenção. Mas 
não foi concluído ainda o diagnóstico provisório. Ainda é um presuntivo já mais elaborado, 
mas não é sequer o diagnóstico provisório. Então vai-se criar analisadores construídos, 
ou dispositivos para poder recolher todos os dados do diagnóstico provisório. Por
enquanto, só se ouviu os setores distintamente. Ouviu-se passivamente, mas não se criou 
condições para cutucar o não- dito que queremos investigar.
Mas será que quando crio instrumentos de investigação, de indagação, não estou 
deixando de ser institucionalista no sentido de que faço averiguações ativas sob a minha 
ética? Posso correr este risco? Sim e não. Evidentemente é um procedimento ative e não 
é "natural"; é "artificial" - já fizemos a diferença entre analisadores naturais e analisadores 
artificiais. Mas talvez isso se possa entendei" um pouco melhor simplificando esses 
dispositivos e analisadores construídos. Eles não são tãoindutivos assim, porque se trata 
simplesmente de propor. Vamos dar um exemplo fácil. Depois que se fez a investigação 
passiva, resolve-se que o analisador artificial que vai agitar o ambiente e que vai dar-nos 
o material mais profundo, mais crítico, mais comprometido, é uma reunião de cineclube. 
Cheguei ã conclusão de que vou propor a projeção de um filme e uma discussão sobre o 
mesmo, e importante, porque é indireto, desloca a problemática da situação
espontaneamente referida. Por outro lado, não é demasiadamente indutivo, porque o 
interventor não está baixando regras, mas está propondo um dispositivo agitador, um 
agenciamento ativador. Os usuários podem aceitar ou não. Se não aceitam, teremos que 
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pensar em outras alternativas. Uma vez aceito, pode dar certo ou não. Pode ter um 
resultado rico ou pode não dar em nada. Também se pode propor outra coisa bem 
interessante:
um laboratório prolongado de tini de semana em um espaço diferente do habitual: 
vamos nos reunir todos em um lugar e vamos conviver durante estes dois dias e permitir-
nos observar o que acontece nessa convivência. E muito recomendável e não
é nada autoritário, nada impositivo. Depois que se executam os dispositivos do 
diagnóstico provisório, reúne-se a equipe interventora e parte-se para analisar toda a 
colheita, fazendo-se a análise da demanda e do encargo
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definitivo. Da mesma maneira que ativamos esse coletivo ou mobilizamos e o colocamos 
em condições de manifestar-se muito mais livremente, muito mais ricamente/ também 
somos mobilizados/ somos igualmente ativados, temos uma vivência de contato diferente. 
Então, temos de voltar a fazer uma auto-análise da implicação: o que foi que isso 
acordou/ despertou em nós, que não tínhamos percebido em todos os passos anteriores?
Particularmente o material inconsciente. Por exemplo, depois de todo esse novo exame, 
temos adquirido solidariedade ou cumplicidade inconscientes com segmentos 
organizacionais? Isso agitou em nós ambições e desejos que não tínhamos e agora
percebemos? Por exemplo, quando se mantém uma convivência prolongada, pode-se 
chegar à conclusão que dessa intervenção podem ter origem dezenas de outras 
intervenções, porque essa agência faz parte de uma cadeia nacional de agências e que 
se a equipe fez uma boa intervenção aqui, vai conseguir outras intervenções noutros 
lados. É possível não se dar conta de que essa ambição acordou-se nos interventores. 
Então, a análise da implicação significa pesquisar, exaustivamente, no coletivo
interventor, quais foram os inconfessáveis e imperceptíveis ou recalcados que foram 
ativados. Nova análise da implicação. Por que é importante? Porque o passo seguinte é o 
diagnóstico definitivo e o planejamento da intervenção definitiva. Nova política, novas 
estratégias, táticas, técnicas definitivas, analisadores definitivos e um passo seguinte 
fundamental: proposta de intervenção e novo contrato.
Esse contrato definitivo, que envolve maior compromisso e requer mais retribuição, 
exige ter muito claro aquilo com que se está lidando e quais foram as ressonâncias 
inconscientes que isso despertou na equipe interventora. Também será preciso definir
qual a orientação geral que vai ser dada ao processo, será necessário precisar quais são 
as estratégias, os movimentos fundamentais para conseguir os propósitos políticos; será 
necessário desenhar as táticas, os espaços onde se vai dar essa "guerra", a ordem dos
mesmos, a importância dos mesmos e as técnicas, os procedimentos: psicodrama, 
técnicas expressivas, qualquer técnica, mas pensada anteriormente; uma festa, um 
cineclube, uma guerra simulada, um quebra-cabeça coletivo, toda técnica é boa, sempre
que a tática, a estratégia e a política estejam bem claras e resultem do diagnóstico 
definitivo e do entendimento da implicação.
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instrumentação de dispositivos para que esse coletivo continue fazendo, de forma 
permanente, o processo de auto-análise e o processo de autogestão que induzimos, que 
introduzimos como hetero. Nós saímos, e o trabalho continua. Podemos fazer um
acordo de acompanhamento, de intervenções periódicas de atualização. E, finalmente, já 
por nossa conta, temos de discutir, profunda e exaustivamente, como vamos elaborar 
todo o material, como vamos teorizá-lo e o que vamos fazer com ele, se vamos
publicá-lo ou se vamos obter algum tipo de benefício com ele: o coletivo no qual 
intervimos está alheio, mas a implicação e os problemas éticos, políticos e econômicos 
continuam sendo importantíssimos, sobretudo porque é um material que nos pertence 
muito relativamente: é propriedade do coletivo considerado. Nossa decisão deverá ser 
submetida a ele.
A intervenção standard que tentei explicar tem milhares de variações, tanto que se 
pode dizer que a regra são as exceções. Mas, em todo caso, é um esquema para se 
considerar e omitir os passos que não sejam possíveis, que não sejam recomendáveis,
condensar tantos outros etc. Em todo caso, é importante que cada interventor possa 
inventar um procedimento sui yeneris para cada situação.
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	Capítulo VI
	ROTEIRO PARA UMA INTERVENÇÃO INSTITUCIONAL PADRÃO
	Outra modalidade possível de prestação deste serviço pode ser feita por parte de uma equipe que integra, que é interna à organização na qual se vai intervir. É o famoso caso, por exemplo, do departamento de Recursos Humanos de uma empresa, que tem de fazer uma intervenção dentro de sua empresa mesma,
	Felizmente ou não, o Institucionalismo não é assim; não é isso o que ele propõe, apesar de que, em algumas ocasiões infelizes, possa vir a cair nisso. Então, essa amplitude gera nos jovens agentes uma angústia, um mal-estar que pode derivar numa recusa, que pode levá-los a adotar uma atitude depreciativa que os conduz a dizer: "Isso é muito vago, muito complicado, muito impreciso; não faço; deixe-me tranquilo como médico, como advogado, algo tradicional e não demasiadamente autocrítico." É o famoso problema de focalizar isso de maneira otimista ou pessimista. A maneira pessimista é dizer que é muito
	Ora, a intervenção apresenta uma série de passos que têm de ficar bem explicitados. São passos ideais, aos quais deveríamos prestar atenção, tratar em separado a cada um deles durante a intervenção, se houvesse tempo, se houvesse calma, se houvesse dinheiro, se houvesse todas as condições necessárias para fazer as coisas de maneira confortável. Em geral essas condições não existem, então pulam-se e misturam-se passos, e age-se, mais ou menos, "como é possível". Se vocês querem um

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