Buscar

Era Vargas - De 1929 ao Estado Novo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 188 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 188 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 188 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Era Vargas – Dos anos 20 ao Estado Novo
Na disciplina Era Vargas – dos anos 20 ao Estado Novo, analisaremos a conjuntura dos anos 20, período de grande efervescência e profundas transformações para a sociedade brasileira. Trataremos da crise que o país experimentou e que ocasionou a revolução de 1930.
Refletiremos ainda sobre a sucessão de eventos que mudaram, de forma significativa, o panorama político, econômico e cultural brasileiro. No plano social, focalizaremos o crescimento da classe média, da classe trabalhadora e a diversificação de interesses das elites econômicas.
Mais ainda... Ao optar por fazer a disciplina Era Vargas – dos anos 20 ao Estado Novo, você optou também por participar de um método de ensino especial – o ensino a distância. Dessa forma, você terá bastante flexibilidade para realizar as atividades nele previstas. Embora você possa definir o tempo que irá dedicar a esse trabalho, ele foi planejado para ser concluído em um prazo determinado. Verifique sempre, no calendário, o tempo de que você dispõe para dar conta das atividades nele propostas. Lá estarão agendados todos os trabalhos, inclusive aqueles a serem realizados em equipe ou encaminhados, em data previamente determinada, ao Professor-Tutor da disciplina. 
	
A disciplina Era Vargas – dos anos 20 ao Estado Novo tem por objetivo apresentar um panorama abrangente e atualizado da conjuntura dos anos 20 – período de grande efervescência e profundas transformações para sociedade brasileira.
Sob esse foco, a disciplina Era Vargas – dos anos 20 ao Estado Novo foi estruturada em quatro módulos, onde foi inserido o seguinte conteúdo... 
Módulo 1 – Crise dos anos 20
Neste módulo, analisaremos a conjuntura dos anos 20, período de grande efervescência e profundas transformações para sociedade brasileira. Trataremos da crise que o país experimentou e que ocasionou a revolução de 1930. 
Refletiremos ainda sobre a sucessão de eventos que mudaram, de forma significativa, o panorama político, econômico e cultural brasileiro. No plano social, focalizaremos o crescimento da classe média e trabalhadora, e a diversificação de interesses das elites econômicas.
Ou seja, neste módulo, nosso olhar se fixará na crise dos anos 20 que culminou na Revolução de 30.
Módulo 2 – Revolução de 30
Neste módulo, trataremos da conjuntura política – marcada pela divergência entre Minas e São Paulo em relação à indicação de candidatos à sucessão presidencial – e da Aliança Liberal, que, ao se aproximar das lideranças do movimento tenentista, abriu espaço para a eclosão da Revolução de 30. 
Módulo 3 – do Governo Provisório ao Estado Novo
Aqui analisaremos o contexto em que a Assembleia Nacional Constituinte foi convocada. Além dos parlamentares eleitos pelo voto direto da população de eleitores, participariam desse processo os representantes das associações de classes – eleitos indiretamente por delegados escolhidos pelos sindicatos de suas respectivas categorias profissionais.
Módulo 4 – Encerramento do curso
 Neste módulo, além da avaliação deste trabalho, haverá algumas divertidas opções para testar seus conhecimentos sobre o conteúdo desenvolvido nos módulos anteriores – caça-palavras, palavras cruzadas, forca e criptograma. Entre neles e bom trabalho!
Neste módulo, analisaremos a conjuntura dos anos 20, período de grande efervescência e profundas transformações para sociedade brasileira. Trataremos da crise que o país experimentou e que ocasionou a revolução de 1930.
Refletiremos ainda sobre a sucessão de eventos que mudaram, de forma significativa, o panorama político, econômico e cultural brasileiro. No plano social, focalizaremos o crescimento da classe média e trabalhadora, e a diversificação de interesses das elites econômicas.
Ou seja, neste módulo, nosso olhar se fixará na crise dos anos 20 que culminou na Revolução de 30.
módulo 1 – crise dos anos 20
unidade 1 – conjuntura
Anos 20
panorama político
criação do Partido Comunista
movimento tenentista
comemoração do centenário da Independência
sucessão presidencial de 1922
panorama cultural
semana de arte moderna
questionamento de padrões culturais vigentes
panorama econômico
altos e baixos
primeiros anos declínio dos preços internacionais do café
alta da inflação
crise fiscal
expansão do setor cafeeiro
anos seguintes expressivo processo de crescimento
diversificação da agricultura
desenvolvimento das atividades industriais
expansão de empresas já existentes
surgimento de novas empresas ligadas à indústria de base
panorama social
crescimento das camadas médias
crescimento populacional
crescimento da classe trabalhadora
Módulo 1 – Crise dos anos 20
1-Conjuntura
Mergulhado em uma crise – com sintomas que se manifestaram nos mais variados planos -, o país experimentou uma fase de transição cujas rupturas mais drásticas se concretizaram a partir do movimento de 1930.
1.1-Crise dos anos 20
Nos anos 20, a sociedade brasileira viveu um período de grande efervescência e profundas transformações.
1922: A crise econômica
A década de 1920 é uma das mais importantes do ponto de vista da história econômica, política e cultural brasileira, e mesmo mundial. É um período de transição, de grande efervescência, que tem paralelos interessantes com o que acontece hoje. Minha intervenção aqui se centrará, contudo, no ano de 1922, momento em que talvez se tenha chegado mais perto de uma ruptura, exceção feita evidentemente para o final da década, quando a ruptura realmente ocorreu. Talvez eu focalize mais a árvore e perca um pouco da floresta da década de 20, mas como o desafio daqueles anos foi uma espécie de tentativa de resolver a ressaca da crise econômica de 1921-1922, 22 é um bom começo.
Mil novecentos e vinte e dois é um ano de profunda crise econômica, só comparável, na experiência republicana anterior, à gigantesca crise da década de 1890, que só acabou com o enorme esforço de ajustamento do período Campos Sales sob a tutela financeira britânica. Tem-se em 22 uma crise do café, uma inflação em alta e, especialmente, uma crise fiscal. É o final do governo Epitácio Pessoa, que, no entanto, havia começado com uma grande esperança de prosperidade, com grande otimismo, depois de anos de guerra, apreensões e dificuldades – de certa maneira, o fim do governo Epitácio parece muito com o fim do governo Sarney.
É desse clima de crise do Estado que surge ou que é renovado, como também se pode interpretar, o acordo Minas – São Paulo, que garante a eleição do mineiro Artur Bernardes, mas dá aos paulistas o controle absoluto da economia, com Sampaio Vidal no Ministério da Fazenda e Cincinato Braga no Banco do Brasil. Se se quiser recortar um exemplo de acordo café com leite, não existe nenhum melhor do que este, que solidifica a candidatura Bernardes contra os ataques violentos dos militares, numa situação de crise fiscal e crise do Estado como a que marca o final do governo Epitácio. Essa aliança marca também o primeiro compromisso formal do governo federal com a valorização permanente do café, que será uma bandeira do governo Bernardes mais à frente. Vinte e dois é, portanto, um ano de crise, mas de uma crise que gera uma reação de continuidade do regime, que sacode Minas e São Paulo para uma aliança formal. Por que, afinal, 22 foi tão ruim? A partir de que momento o governo Epitácio degringolou na gestão da economia? Quais as origens da crise? 
A crise que começa na segunda metade de 1920 chega ao auge em 1922, mas, na verdade, se arrasta até o final do governo Bernardes. Ela é um exemplo de livro-texto de choque externo adverso, ou seja, daqueles choques que marcam o comportamento de uma economia primária exportadora muito dependente do preço do seu produto básico. Epitácio Pessoa assume o governo em ótimas condições em 1919. É um período de alta do preço do café sem precedentes na memória das pessoas que viveram naquela época. Em 1918, uma imensa geada havia arrasado os cafezais de São Paulo.Ora, a produtividade logo depois de uma geada é muito pequena, pois as árvores demoram um tempo para se recuperar. Em 1919, portanto, os estoques estão baixos. Além disso, há um grande crescimento da demanda nos países centrais devido ao fim da guerra e à desmobilização das tropas. O medo do desemprego que a desmobilização rápida dos homens, com as mulheres ainda nas fábricas, poderia provocar, conduz esses países a uma política econômica expansionista, levando os governos a soltar o crédito. Diga-se de passagem, também, que na Europa a população civil não tomava café havia muito tempo. Esse crescimento da demanda mundial, combinado à restrição da oferta, eleva o preço do café até as nuvens.
A entrada no Brasil de uma receita de exportação muito grande leva, por sua vez, a uma enorme apreciação cambial, exatamente numa época em que a indústria está querendo investir. Os bens de capital tornam-se mais baratos, e abre-se um período de aumento das importações. O crescimento da atividade econômica tem um impacto muito favorável sobre a receita fiscal do governo, e o ano de 1919 se abre com grandes perspectivas de boa saúde financeira do governo. Com os Estados Unidos ainda no começo de sua disputa com Londres pela posição de centro financeiro, o Brasil começa a negociar empréstimos norte-americanos em 1920. Essa melhora na posição fiscal, somada a uma espécie de visão consensual sobre a necessidade de investimento público, leva finalmente a um grande programa de obras.
De fato, Epitácio Pessoa assume o governo em 1919 com um programa de obras que se ergue sobre duas pernas. A primeira delas está no Nordeste – afinal tratava-se de um presidente nordestino, o que aliás constitui outro ponto de semelhança com Sarney. Pouco tempo antes tinha havido também uma grande seca que se tornou famosa. O primeiro grande programa de obras contra as secas, com a construção de açudes, é assim lançado no governo Epitácio Pessoa, e isso nos custa uma grande quantia de dinheiro em libras e dólares, pois não tínhamos, na época, oferta interna de serviços e tecnologia, e as obras tiveram de ser contratadas no exterior.
Em segundo lugar, mas não menos importante, vem o programa de investimentos nessa espécie de sala de visitas que era o Rio de Janeiro da época, com vistas à Exposição do Centenário de 1922. A importância que as elites brasileiras davam à preparação da cidade para a exposição pode ser vista na epígrafe do capítulo 2 do livro de Marly Silva da Motta, onde se lê: É preciso que quem aqui aportar encontre, como primeira cidade brasileira, alguma coisa que provoque louvores. As obras para a exposição são monumentais. O que havia sobrado – e havia sobrado muito – do morro do Castelo, foi levado para dentro d'água. Vários pavilhões foram construídos, muitos deles com o dinheiro dos governos dos países participantes. De toda forma, a infraestrutura da exposição consome um colosso de dinheiro. Também no governo Epitácio, tem início a urbanização de Ipanema e da Lagoa Rodrigo de Freitas, com arruamentos, calçamento com paralelepípedos e construção de redes de esgotos. O imenso programa de obras do Rio de Janeiro beneficia ainda outras áreas públicas.
É engraçado observar, lendo os depoimentos da época, que como num reflexo do que se passava na Europa, Epitácio justificava seu imenso programa de obras como uma medida para combater o desemprego que iria se seguir à guerra, o que no Brasil não fazia o menor sentido. O desemprego no Brasil era estrutural, o país não empregava, mas também não tinha mobilizado um grande número de tropas para a guerra. Obviamente o programa do Nordeste se justificava por si só, devido aos efeitos sociais e econômicos da seca. Porém, justificar os altos investimentos em obras públicas como uma forma de minimizar o desemprego, incorporando a preocupação conservadora europeia e americana com o avanço das esquerdas no pós-guerra, era algo absolutamente esquizofrênico.
Toda essa perspectiva positiva que está por trás do início do governo Epitácio, em termos de solidez fiscal e de condições para um bom programa de obras, desaparece, no entanto, como por magia com o começo da crise mundial. Na verdade, o período de 1919 a 1922 é conhecido na literatura sobre a economia mundial como o período do boom e da recessão do pós-guerra. As origens da recessão são muito parecidas com as origens do boom: são as mudanças na política econômica dos países centrais, preocupados com o efeito da desmobilização. Primeiro, esses países viram que o efeito do desemprego provocado pela reconversão à economia de paz não foi tão grande. Por outro lado, a expansão monetária e o crescimento muito rápido das economias beligerantes levaram ao enfraquecimento das moedas dos países europeus e à dificuldade de combater a inflação herdada da guerra.
Começa então a aparecer a reação conservadora, que depois vai se cristalizar na França com Poincaré e na Inglaterra com a volta dos Tories, com Churchill como ministro da Fazenda, reação essa que está muito mais preocupada com a restauração do valor da moeda e com a solidez financeira do que com o emprego. Começa então a mover-se o pêndulo: depois de se preocupar com o desemprego, a restauração burguesa da Europa começa a dar mais peso ao conservadorismo monetário e fiscal. No começo de 1920, há na Europa uma passagem clara para políticas de contenção fiscal e de juros altos, que levam a uma reversão do boom do pós-guerra, que por sua vez tem efeitos devastadores sobre o café.
A reversão provoca uma queda nos preços de commodities em geral, mas atinge particularmente o café por razões exatamente contrárias àquelas que haviam feito subir seu preço em 1919, ou seja, escassez de oferta e crescimento de demanda. Em 1920, a oferta já está normal e a demanda cai. A virada no mundo ocorre na verdade no meio do ano de 1920. Os preços do café, que vinham subindo enormemente, param de aumentar no terceiro trimestre e despencam no final do ano. Esse fato tem efeitos graves sobre a saúde financeira do Estado brasileiro. Exatamente naquela hora, Epitácio havia iniciado um programa de metas que implicava compromissos políticos importantes e que ele não podia mais suspender. O Rio de Janeiro tinha de ser a sala de visitas do país na Exposição do Centenário, e o futuro político de Epitácio estava pendurado em seu programa de obras contra as secas.
A crise de 1920-1922, em termos de efeitos sobre os preços em nível de atividade internacional, é mais severa do que a Grande Depressão. A variação dos preços internacionais e do desemprego é maior em termos de amplitude. É uma crise mais rápida que não tem os efeitos perversos, em cadeia, ocorridos em 1929-1932. Não houve reações protecionistas, a economia mundial não foi descendo lentamente pelo abismo. Houve um choque muito violento. A economia mundial voltaria a crescer, e pode-se dizer que, por volta de 1922, o pior já havia passado. Entretanto, o período entre o fim de 1920 e o começo de 1922 é muito duro.
Para o Brasil, os efeitos do colapso do preço do café são duríssimos. Primeiro, há uma enorme desvalorização cambial, que chega a valores nunca vistos na história da República. As importações caem, e isso afeta as receitas públicas, para as quais eram importantes as tarifas alfandegárias. O nível de atividades se reduz, e isso é grave num país cuja estrutura tributária era baseada em impostos indiretos. A receita do governo diminui, de um lado, em consequência da queda no volume das transações, e, de outro, em virtude da depreciação rápida do câmbio, que encarece os produtos estrangeiros e tem um efeito perverso sobre a inflação. Na economia aberta da Primeira República, a inflação está muito associada ao câmbio. Toda vez que se tem uma depreciação muito forte, segue-se um período de inflação. E a inflação, como cansamos de ver agora nos anos 80, erode ainda mais a receita fiscal.
O que acontece no Brasil, em resumo, é um enorme desequilíbrio financeiro do governo. Para piorar, a crise faz com que os empréstimos norte-americanos,que haviam começado a aparecer logo depois da guerra, cessem. A Inglaterra ainda levaria três ou quatro anos para arrumar a casa e poder emprestar, e a França não mais voltaria a fazer empréstimos depois do choque psicológico do calote soviético. Sobra apenas um meio de financiar o déficit: a emissão de moeda ou a colocação de títulos da dívida pública no mercado. Isso aumenta o desequilíbrio financeiro e alimenta a inflação. Além do mais, por ter sido muito violento, o colapso dos preços reacende de 1921 para 1922 uma forte pressão de São Paulo em favor da defesa do café. A última pressão havia ocorrido em 1917. Desde o convênio de Taubaté, não se falava mais nisso, mas agora os paulistas voltavam com força. Bancar a defesa do café significava mais gastos públicos para comprar estoques e segurar os preços, porém, o governo Epitácio cede; por duas razões.
A primeira delas é a decisão de atender aos interesses corporativos do café. Porém, o mais importante é o reconhecimento do fato de que a crise fiscal do Estado era decorrente da depreciação cambial, que por sua vez era decorrente do colapso do preço do café. Existe um discurso de Epitácio que não deixa a menor dúvida a respeito da defesa do café, e vários outros documentos já provaram que a racionalidade era essa significa defender o Estado, a estabilidade econômica e financeira do Estado. Os interesses da cafeicultura e do Estado brasileiro se confundem. E mais: há um acordo tácito de que não se interromperiam as obras do Nordeste em troca da defesa do café. É um tipo de acordo que sempre se faz no Brasil com o dinheiro público - no final dois mais dois são oito.
Por tudo isso, o final do governo Epitácio Pessoa apresenta um absoluto desequilíbrio fiscal. No entanto, a defesa do café também tem um imenso efeito positivo: segurando-se os preços do café, corta-se o desequilíbrio do balanço de pagamentos, que está na base do desequilíbrio fiscal e da queda das receitas públicas. Isso tem um efeito positivo sobre a indústria, e nos permite dizer que, do ponto de vista do nível de atividades, o pior estava passando. De toda forma, a herança do governo Epitácio é um desequilíbrio fiscal gigantesco, e isso o torna ainda uma vez parecido com o governo Sarney.
A aliança política que apoia Artur Bernardes é muito clara. Sampaio Vidal e Cincinato Braga vão para o governo basicamente para fazer a defesa permanente do café. É um modelo novo de defesa. Constroem-se armazéns enormes nos entroncamentos ferroviários, e os estoques comprados pelo governo passam a ser controlados dentro do país – antes, eram mandados para a Europa e ficavam sob controle dos importadores estrangeiros. Agora tudo passa a ser feito no Brasil, mas é preciso dinheiro. O programa dessa aliança passa, portanto, por um ajuste fiscal, imposto pela necessidade de financiamento das safras. Todo o discurso de austeridade fiscal de Bernardes vai por água abaixo.
Em 1923, há novamente pressão. A safra é grande, e o Banco Central independente criado por Cincinato Braga vira uma máquina de fazer dinheiro para financiar o café. O desequilíbrio fiscal continua, o governo se vê de novo à beira de uma crise fiscal e tem de fazer algo muito parecido com o que fez o governo Campos Sales na tentativa de preservar a República, ou seja, tem de entrar em contato com o governo inglês para um grande empréstimo de consolidação. Uma missão inglesa vem ao Brasil e coloca condições para esse empréstimo. Uma delas é que o governo abandone a defesa do café. Bernardes concorda, e, em 1924, há um racha importante no acordo Minas – São Paulo.
Os mineiros, ao contrário dos paulistas, sempre derivaram seu poder na Primeira República do controle dos recursos públicos. Nunca houve uma burguesia mineira como havia em São Paulo, onde a elite política era visivelmente plutocrata, de origem fazendeira. Em Minas, havia políticos de carreira e cultivava-se a idéia de que o equilíbrio fiscal era coisa a ser preservada. É assim que Bernardes ejeta Sampaio Vidal e Cincinato Braga sem a menor cerimônia e adota um rígido programa de austeridade. Em dois anos, é restaurado o equilíbrio fiscal, apesar do relativo insucesso das negociações com os ingleses, de cujo empréstimo só chega muito depois. Só que esse ajuste fiscal vem numa hora em que o governo já não precisava tanto dele, pois o mundo estava começando a melhorar e novamente começavam a aparecer capitais.
O fim do governo Bernardes é interessante. Quando ele ejeta os paulistas, abre mão, de modo totalmente unilateral, da responsabilidade federal pela defesa do café e a entrega ao governo de São Paulo. Bota o bebê na porta e toca a campainha. Porém, no momento em que Bernardes consegue fazer esse ajuste fiscal fantástico, cria-se um problema muito parecido com o do período Campos Sales – Rodrigues Alves. A economia mundial cresce, e começa-se a ter um embaraço de riquezas: muito fluxo de capital, exportações se comportando bem, atividades ainda reprimidas e, portanto, importações ainda baixas. Tem-se então um excesso de cambiais, e a taxa de câmbio começa a valorizar de novo. Bernardes acha bom, porque pensa nas finanças públicas, mas o setor produtivo não gosta muito disso. Sabe-se que os exportadores não gostam de câmbio que valoriza, mas não são só os cafeicultores que protestam. Os produtores têxteis são os que mais berram contra a apreciação do câmbio no final do governo Bernardes. Começam então, de novo, as pressões para a estabilização da moeda e para a volta ao padrão-ouro, mecanismo pelo qual se evita a apreciação cambial. Estabilizando-se a taxa de câmbio, cresce o volume de moeda interna, o que é música para os ouvidos dos empresários. É evidente que, num ano de campanha eleitoral, o candidato à presidência tenderia a incorporar ao seu discurso a volta ao padrão-ouro e a criação de uma Caixa de Estabilização. Foi isso o que fez Washington Luís. Em seu governo, o país conheceu um imenso crescimento, até o mundo mudar novamente, com a Grande Depressão. Mas esta já é outra fase da história do Brasil.
Fonte
FRITSCH, Winston. 1922: a crise econômica. In:______. Estudos históricos, v. 6, n. 11, Rio de Janeiro: CPDOC, 1993. p. 3-8.
1.2-Panorâma político
1922-A crise política
Em síntese: O sistema oligárquico foi a base política da Primeira República (1889-1930). O poder era controlado por uma aliança entre as oligarquias paulista e mineira, que se expressava no revezamento de representantes desses dois estados na presidência da República. Na década de 1920, essa longa hegemonia começou a ser contestada com maior vigor por outros grupos oligárquicos, que dominavam estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia e estavam descontentes com seu afastamento das principais decisões políticas do governo. Nas eleições presidencias de 1922, esses grupos lançaram o nome de Nilo Peçanha contra o candidato situacionista Artur Bernardes. A derrota da oposição abriu caminho para uma crise militar que deu origem ao movimento tenentista. Às vésperas das eleições presidenciais de 1930, uma nova frente de estados oposicionistas se formou, agora com apoio da oligarquia mineira, e lançou a candidatura de Getúlio Vargas. A derrota do candidato da oposição para o paulista Júlio Prestes, e a aliança dos derrotados com os "tenentes" acabaram conduzindo à Revolução de 1930.
A Primeira República brasileira, que teve por base a Constituição de 1891 definiu seu padrão político no final da década de 1890. Seu principal mecanismo foi a "política dos governadores", que teve como base o seguinte acordo: o governo federal garantia ampla autonomia aos grupos oligárquicos dominantes de cada estado, e em troca as bancadas estaduais lhe davam apoio político no Congresso. O resultado desse pacto foi o enfraquecimento das oposições, a fraude eleitoral e a exclusão da maior parte da população de qualquer participação política.
O controle político oligárquico também era assegurado pelo voto aberto e pelo reconhecimento dos candidatos eleitos não pelo Poder Judiciário, maspelo próprio Poder Legislativo. Como o Congresso sofria a influência do presidente e dos governadores, esse mecanismo dava margem à chamada degola dos candidatos indesejáveis.
A "política dos governadores", no entanto, não impedia a luta dos grupos oligárquicos pela presidência da República. Para regular a disputa, chegou-se a um novo acordo informal: o revezamento de São Paulo e Minas Gerais na chefia do Poder Executivo. Esses dois estados elegeram 8 dos 13 presidentes na Primeira República.
Os estados de menor força política ficavam praticamente à margem nesse jogo de cartas marcadas. Já estados de importância mediana, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia, buscavam ocupar espaços atuando individualmente ou em conjunto. Nas eleições presidenciais de 1922 esses estados de segunda grandeza se uniram com o intuito de romper com o predomínio de Minas Gerais e São Paulo. Foi criado um movimento político de oposição - a Reação Republicana - que lançou o nome do fluminense Nilo Peçanha contra o candidato oficial, o mineiro Artur Bernardes.
O programa oposicionista defendia a maior independência do Poder Legislativo frente ao Executivo, o fortalecimento das Forças Armadas e alguns direitos sociais do proletariado urbano. Todas essas propostas eram apresentadas num discurso liberal de defesa da regeneração da República brasileira.
Até aí não havia grandes novidades. Parecia que a lei de ferro das sucessões presidenciais na Primeira República iria se manter, isto é, a oposição iria concorrer, perder e reclamar das fraudes sem resultado. A história, no entanto, foi um pouco diferente. Para começar porque pela primeira vez organizava-se uma chapa de oposição forte com o apoio de importantes grupos regionais. Além disso, o movimento contou com a adesão de diversos militares descontentes com o presidente Epitácio Pessoa, que nomeara um civil para a chefia do Ministério da Guerra. Finalmente, a Reação Republicana conseguiu, em uma estratégia praticamente inédita na história brasileira, desenvolver uma campanha baseada em comícios populares nos maiores centros do país. O mais importante deles foi o comício na capital federal, quando Nilo Peçanha foi ovacionado pelas massas.
No mês de outubro de 1921 a campanha eleitoral esquentou. Foram publicadas na imprensa carioca cartas atribuídas a Artur Bernardes em que este fazia comentários desrespeitosos sobre os militares. Apesar de Bernardes negar a autoria das cartas, o episódio - mais tarde chamado das "cartas falsas" - acirrou os ânimos e abriu caminho para que alguns oficiais iniciassem movimentos no sentido de impedir, a todo custo, a vitória do candidato oficial.
A conspiração não teve maiores consequências, e as eleições puderam transcorrer normalmente em março de 1922. Como era de se esperar, a vitória foi de Artur Bernardes. O problema foi que nem a Reação Republicana nem os militares aceitaram o resultado. Como o governo se manteve inflexível e não aceitou a proposta da oposição de rever o resultado eleitoral, o confronto se tornou apenas uma questão de tempo.
No mês de julho de 1922, algumas unidades militares no Rio de Janeiro e em Mato Grosso se levantaram contra o governo. Foram derrotadas. A rebelião mostrou-se desarticulada e sem base política, mas serviu de detonadora para outros levantes militares nos anos seguintes. Era o início do movimento tenentista. O governo reagiu decretando o estado de sítio.
O clima de tensão política permaneceu durante toda a gestão do presidente Artur Bernardes. A imprensa foi censurada e centenas de oposicionistas civis e militares foram presos e desterrados para campos de internamento no norte do país. Com os grupos dissidentes vigiados e controlados, coube aos militares a vanguarda das ações contra o governo. Dois anos depois eclodiram os levantes de 1924 e pouco mais tarde formou-se a Coluna Prestes.
No governo seguinte, a situação se acalmou um pouco. O presidente Washington Luís levantou o estado de sítio com a promessa de reduzir a repressão política. A crise política apenas ganharia fôlego novamente na sucessão presidencial de 1930. E foi motivada, principalmente, pela cisão causada pela atitude de Washington Luís de indicar para a sua sucessão o paulista Júlio Prestes, e não, como se esperava, o mineiro Antônio Carlos. Interessava a Washington Luís que seu sucessor mantivesse o seu plano de estabilização financeira. Mas com isso rompeu-se a aliança que havia dominado por décadas a política brasileira.
Como resultado direto do rompimento do pacto Minas-São Paulo, a oposição reaglutinou-se, agora com apoio da poderosa oligarquia mineira. Foi formada a Aliança Liberal, que lançou as candidaturas do gaúcho Getúlio Vargas para a presidência e do paraibano João Pessoa para a vice-presidência. A chapa foi apoiada também pela dissidência paulista, organizada no Partido Democrático, e por diversos outros setores civis e militares.
O nome de Getúlio Vargas cresceu durante a campanha, mas a candidatura de Júlio Prestes manteve-se como favorita. A grande maioria dos grupos oligárquicos regionais manteve-se fiel à orientação do presidente da República.
Em março de 1930 realizaram-se as eleições, e a história mais uma vez foi a mesma: venceu a candidatura oficial. As denúncias de fraude ganharam a imprensa, e grupos oposicionistas civis e militares começaram a conspirar. Repetia-se o que havia ocorrido no ano de 1922. Mas agora a oposição estava mais forte e articulada. De março a outubro foram sete meses de tensão política que tiveram como desfecho a derrubada de Washington Luís na Revolução de 1930.
Indicadores importantes dos novos ventos que sopravam colocando em questão o contexto político da Primeira República.
Criação do Partido Comunista
Partido Comunista do Brasil (PCB)
Partido político de âmbito nacional fundado em março de 1922 com o objetivo principal de promover no Brasil uma revolução proletária que substituísse a sociedade capitalista pela sociedade socialista.
O congresso de fundação do PCB realizou-se em Niterói, reunindo alguns poucos operários e intelectuais do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Quase todos os fundadores haviam iniciado sua militância política nos meios anarquistas e só se converteram ao comunismo após a vitória da Revolução Russa de 1917. Apesar da pouca repercussão do congresso de fundação, já em junho de 1922 o governo de Epitácio Pessoa colocou o partido na ilegalidade, condição em que passaria a maior parte de sua existência.
Em janeiro de 1927 o PCB recuperou a legalidade, e formou-se o Bloco Operário, frente eleitoral que elegeu Azevedo Lima para a Câmara dos Deputados. Já em agosto, porém, o PCB voltava a ser ilegal. Buscando ampliar suas alianças, em dezembro o partido enviou seu secretário geral Astrojildo Pereiraà Bolívia para conversar com Luís Carlos Prestes, o líder da Coluna Prestes que havia desafiado o governo e se encontrava exilado naquele país. Em outubro, o Bloco Operário Camponês (BOC), nova denominação do Bloco Operário, elegeu dois membros do PCB para o Conselho Municipal do Rio de Janeiro: Otávio Brandão e Minervino de Oliveira.
Em 1929, Prestes foi convidado a disputar a eleição presidencial do ano seguinte na legenda do BOC, mas não aceitou. Disposto a não apoiar os candidatos apresentados - Júlio Prestes, pela situação, e Getúlio Vargas, pela oposição -, o PCB lançou o nome do vereador carioca Minervino de Oliveira, que obteve uma votação inexpressiva. Em seguida o partido se negou a dar apoio à Revolução de 1930, por considerar o movimento uma simples luta entre grupos oligárquicos.
Nessa época teve início, sob o estímulo da Internacional Comunista, um processo de mudanças no PCB caracterizado pela crítica à política de alianças promovida nos anos anteriores, o que levou à dissolução do BOC e à substituição dos intelectuais que estavam na direção do partido por trabalhadores. Esse processo de "proletarização" foi responsável pela rejeição das iniciativas de Luís Carlos Prestes,que desde o início da década de 1930 buscava aproximar-se do partido. Convidado em 1931 a morar na União Soviética pelas autoridades daquele país, Prestes só seria aceito no PCB em 1934, quando sua filiação foi imposta ao partido pela direção da Internacional Comunista.
Em 1933, O PCB participou das eleições para a Assembleia Nacional Constituinte sob a legenda da União Operária e Camponesa, mas não conseguiu eleger nenhum de seus candidatos.
O avanço internacional do nazi-fascismo e de seu similar brasileiro, o integralismo, fez surgir, em 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), da qual os comunistas participaram ao lado de outros setores de esquerda. Luís Carlos Prestes, agora membro do PCB, foi aclamado presidente de honra da organização, e seu nome era aplaudido em cada manifestação pública da ANL. Apesar disso, porém, Prestes só retornou da União Soviética em abril de 1935, e aqui chegando manteve-se na clandestinidade, já que trazia instruções da Internacional Comunista para promover um levante armado com o objetivo de instaurar um governo "popular, nacional e revolucionário" no país. No segundo semestre de 1935, após a decretação de sua ilegalidade pelo governo, a ANL perdeu seu poder de mobilização. A partir desse momento, começaram a ganhar espaço em seu interior os comunistas e alguns elementos oriundos do antigo movimento tenentista, que, sob a liderança de Luís Carlos Prestes, passaram a articular um levante armado para assumir o poder. O levante foi deflagrado em novembro, mas foi logo sufocado. Aprofundou-se, então, o processo repressivo movido pelas autoridades governamentais e policiais contra os setores oposicionistas, que iria culminar com a instauração da ditadura do Estado Novo, em 1937.
Com a maioria de seus dirigentes presos, o PCB se desarticulou completamente durante o Estado Novo. Em fins de 1941, grupos isolados no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia empreenderam iniciativas no sentido da reorganização do partido. Foi formada, então, a Comissão Nacional de Organização Provisória (CNOP). Na prisão desde o início de 1936, Prestes mantinha seu prestígio como líder máximo do partido.
A partir de 1943, estimulados pela entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados, os comunistas começaram a discutir no interior do partido a proposta de união nacional em torno de Vargas, que acabou sendo aprovada pela Conferência da Mantiqueira, realizada em agosto. Nessa conferência, Prestes foi escolhido como novo secretário geral. Em 1945, com o avanço do processo de redemocratização do país, Prestes e outros dirigentes foram anistiados e passaram a apoiar o movimento "queremista", que defendia a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte com Vargas no poder.
Em outubro ainda de 1945 o PCB retornou à legalidade, obtendo seu registro eleitoral. O enorme prestígio desfrutado pela União Soviética após o fim da Segunda Guerra Mundial contribuiu para que o partido obtivesse expressivo crescimento. Nas eleições presidenciais realizadas em dezembro, o PCB lançou a candidatura do ex-prefeito de Petrópolis, Iedo Fiúza, que não pertencia aos seus quadros. Fiúza obteve 10% do total de votos. Votação semelhante recebeu a chapa do partido para a Assembleia Nacional Constituinte, tendo sido eleitos 14 deputados federais. No Distrito Federal, Prestes foi eleito senador com enorme votação. O bom desempenho do partido na capital federal seria confirmado nas eleições municipais de 1947, quando os comunistas conquistaram a maior bancada na Câmara Municipal.
A legalidade do PCB, porém, não duraria muito. Em abril de 1947, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cancelou seu registro argumentando que o partido era um instrumento da intervenção soviética no país. No ano seguinte, os parlamentares eleitos pela legenda do PCB perderam seus mandatos. Começava assim um novo e longo período na clandestinidade.
Movimento Tenentista
A Primeira Guerra Mundial colocou na ordem do dia a questão da defesa nacional. Governo e setores da sociedade começaram então a dar maior atenção às Forças Armadas. Algumas medidas concretas de modernização foram adotadas: o recrutamento universal e a vinda da Missão Francesa para melhor formar os oficiais brasileiros.
Só que no começo dos anos 1920 a situação continuava desalentadora no Exército. Faltava de tudo: armamento, cavalos, medicamentos, instrução para a tropa. Os oficiais brasileiros se ressentiam de uma política mais eficaz e mostravam-se descontentes com a nomeação do civil Pandiá Calógeraspara ao Ministério da Guerra pelo presidente Epitácio Pessoa. Os soldos permaneciam baixos e o governo não fazia menção de aumentá-los.
Esta situação afetava particularmente os tenentes. Havia um grande número deles, e as promoções eram muito lentas. Um segundo-tenente podia demorar dez anos para alcançar a patente de capitão.
Foi nesse quadro de crescente insatisfação, com as condições do Exército e com a política do governo, que eclodiram diversos levantes militares. A presença significativa de tenentes na condução desses movimentos deu origem ao termo "tenentismo". Os principais movimentos tenentistas da década de 1920 foram os 18 do Forte, os levantes de 1924, e a Coluna Prestes.
O principal objetivo dos tenentes era derrubar o governo. Mas que tipo de governo desejavam implantar no país? Em suas formulações percebe-se que nem eles mesmos sabiam muito bem o que queriam. Eram pródigos na ação e na crítica mas econômicos na proposição. Não havia um programa muito claro, apenas algumas idéias gerais. Eram homens formados na caserna. Suas formulações derivavam principalmente dessa situação. Acreditavam que sua ação era parte de uma missão que salvaria o país.
As propostas políticas dos tenentes de uma maneira geral se vinculavam ao clima do pós-Primeira Guerra Mundial, marcado pelo avanço do nacionalismo e da centralização política. Nesse ponto, eles assumiam bandeiras de luta próximas às das oligarquias regionais que se opunham ao predomínio de Minas Gerais e São Paulo. Entre outras reformas, defendiam o voto secreto, a independência do Poder Judiciário e um Estado mais forte.
Os movimentos tenentistas foram combatidos por outras correntes no interior do Exército que defendiam a legalidade e a profissionalização. Muitos oficiais continuavam descontentes com o governo federal, que não fazia muita coisa para alterar a situação geral da instituição, mas achavam que os métodos de ação dos tenentes dividiam e enfraqueciam o Exército. 
Entre meados da década de 1920 e o início dos anos 1930, foi tomando corpo uma proposta que concebia a intervenção na vida política do país como algo que deveria ser feito não por um grupo ou facção, mas pela própria instituição militar, representada pelo seu estado-maior. Seus principais formuladores foram Bertoldo Klinger e o tenente-coronel Góes Monteiro. Segundo essa concepção, o Exército e a Marinha, como instituições nacionais, tinham o dever de intervir na vida política brasileira em caso de grave ameaça à organização nacional.
Muitos tenentes, devido às perseguições, se exilaram. E no exílio, se dividiram. Luís Carlos Prestes, principal líder da Coluna Prestes, aderiu ao socialismo e afastou-se de vários de seus antigos companheiros que no final da década 1920 retornaram ao Brasil animados com a possibilidade de promover um novo levante armado. Para eles, a hora da revolução havia chegado. Em 1930, os ânimos estavam exaltados nos meios políticos e nos quartéis. A vitória do candidato oficial Júlio Prestes contra o oposicionista Getúlio Vargas promoveu divisões nos grupos regionais dominantes e colocou por terra o projeto de alguns deles de chegar ao poder pela via legal. A conspiração ganhou corpo no decorrer daquele ano, contando com o apoio de lideranças civis e militares, entre eles Góes Monteiro, interessadas em reservar para o Exército uma situação de maior importância no futuro governo. Os tenentes, mesmo divididos, tiveram um papel fundamental tanto na preparação como na direção do movimento que promoveua derrubada do governo na Revolução de 1930. A partir daí, subiram de posto e chegaram ao poder. O caminho agora estava aberto para reformar o país.
Criação do Centro Dom Vital
Liga Eleitoral Católica
Na década de 1920, a crescente urbanização, a secularização da cultura e a fundação do Partido Comunista do Brasil enfraqueceram visivelmente a influência tradicional do catolicismo. Para fazer frente a tais mudanças, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Sebastião Leme, liderou um movimento destinado a defender os ideais cristãos na vida política nacional. Foi com esse intuito que foram criados a revista A Ordem (1921) e o Centro Dom Vital (1922), sob a direção de Jackson de Figueiredo. Foi somente no final da década de 1920, quando Alceu Amoroso Lima assumiu a direção do Centro Dom Vital e de A Ordem, que a Igreja conseguiu se tornar uma força político-social expressiva.
Em 1932, com o objetivo de articular-se com o mundo da política, o grupo católico, tendo novamente à frente dom Leme, criou a Liga Eleitoral Católica (LEC), que teve como secretário geral Alceu Amoroso Lima. Dom Leme optou por essa estratégia em nome da "segurança da comunidade católica" e frequentemente lembrava, nas páginas da revista A Ordem, as virtudes da concessão e do compromisso àqueles que se opunham a Vargas e pretendiam formar um partido católico de oposição.
Congregando intelectuais e segmentos da classe média, a LEC teve uma participação expressiva nas eleições de 1933 para a Assembleia Nacional Constituinte. Sua atuação consistiu em supervisionar, selecionar e recomendar ao eleitorado católico os candidatos aprovados pela Igreja, mantendo uma postura apartidária. Argumentava-se não haver necessidade de um partido católico, quando as mais variadas agremiações partidárias aceitavam os postulados da Igreja. Numerosos deputados foram eleitos com o apoio da LEC, entre eles Luís Sucupira, Anes Dias, Plínio Correia de Oliveira e Morais Andrade.
Comemoração do Centenário da Independência
Em síntese: 1922 foi um ano crítico para o governo brasileiro, repleto de disputas políticas e levantes militares. Provavelmente por isso mesmo e para mostrar que fazíamos parte do mundo civilizado, convinha comemorar com toda a pompa o Centenário da Independência. O governo do presidente Epitácio Pessoa não poupou esforços nem recursos para fazê-lo. Mudou a face do Rio de Janeiro, então capital federal, para celebrar a data e sediar um importante evento a Exposição Universal do Rio de Janeiro.
O mundo virou pelo avesso com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O tempo de otimismo e expansão da belle époque foi substituído pela dura realidade da guerra que varreu a Europa. Com os ânimos exaltados, o governo e a imprensa dos países envolvidos no conflito procuraram estimular suas tropas insuflando-lhes um sentimento nacional. É claro que esse clima afetou o Brasil. As elites brasileiras ficaram preocupadas com o despreparo militar do país. A imprensa discutia a necessidade de se modernizar o Exército brasileiro, enquanto a Liga de Defesa Nacional defendia o serviço militar obrigatório.
A virada da década de 1910 para a de 1920 foi também uma época em que se aguçou a questão social no Brasil. Eclodiram grandes greves nas principais cidades do país. O movimento operário ganhava força e reivindicava melhores condições de vida e de trabalho. Este era outro tema que mobilizava e opunha diferentes setores da imprensa e da intelectualidade. Uma prova de como as posições divergiam em termos de propostas para a sociedade é que no mesmo ano de 1922 foram fundados o Partido Comunista do Brasil (PCB) e o Centro Dom Vital, de orientação católica.
Em meio a tudo isso, aproximava-se o Centenário da Independência. Que país era esse que comemorava cem anos de soberania? Vivíamos sob a chamada Primeira República (1889-1930), regida pela Constituição de 1891. Nossa política externa nos havia levado a participar da Primeira Guerra Mundial e nos garantira um assento na Conferência de Paz de Paris, assim como na Liga das Nações. Mas estávamos nós à altura do mundo civilizado? Iniciou-se, então, uma verdadeira campanha, por parte de vários jornais cariocas, com o objetivo de vigiar e pressionar o governo no sentido de adotar medidas concretas para a realização de uma grande comemoração do Centenário. Estaria a capital federal pronta para sediar a primeira das exposições universais do pós-guerra?
A economia do país não ia muito bem naquele início da década de 1920. Isso, no entanto, não impediu o governo federal de iniciar os preparativos para o grande evento. O Rio de Janeiro, palco do espetáculo, deveria ser saneado e embelezado. Epitácio Pessoa nomeou então um técnico de renome para a prefeitura do Distrito Federal: o engenheiro Carlos Sampaio.
Em pouco tempo, o novo prefeito tratou de executar um amplo programa de obras que previa, entre outras coisas, o desmonte do morro do Castelo. O projeto de demolição do morro promoveu um amplo debate na imprensa carioca. Para alguns jornais e revistas a medida era mais que necessária. O morro era considerado uma excrescência que deveria ser retirada do centro da cidade. Em seu lugar seriam construídos os pavilhões para a Exposição. Para outros, porém, o desmonte do morro representava um desrespeito à memória carioca, pois ali se localizavam antigas igrejas e jaziam os despojos de Estácio de Sá, o fundador da cidade.
A polêmica na imprensa sobre a Exposição e o morro do Castelo - que acabou afinal sendo parcialmente demolido - fazia parte, na verdade, de uma discussão que envolvia os destinos da República brasileira: o que conservar, o que transformar? Este seria o grande tema da arte e cultura da década de 1920. Mas não eram só polêmicas que o governo tinha de enfrentar. Em meio aos preparativos para a Exposição, o clima esquentou nos quartéis e agravou-se a crise política. Algumas importantes lideranças militares não reconheceram a derrota do candidato oposicionista Nilo Peçanha nas eleições presidenciais de março de 1922. Alegavam fraude e não queriam aceitar que o candidato eleito Artur Bernardes tomasse posse em novembro. Era o início do movimento tenentista.
No começo de julho, a situação tornou-se crítica com a prisão do presidente do Clube Militar, marechal Hermes da Fonseca. No dia 5, eclodiu um levante militar no Rio de Janeiro. A revolta foi logo debelada mas um grupo de jovens oficiais do Exército resolveu enfrentar, em plena praia de Copacabana, as forças legais. Foram fuzilados. Sobreviveram apenas dois: Eduardo Gomes e Siqueira Campos. O episódio ganhou as páginas dos jornais e tornou-se conhecido como os 18 do Forte. O governo reagiu decretando o estado de sítio, que seria mantido até o final do ano de 1922. Os militares envolvidos na revolta foram presos e processados.
Foi, portanto, em estado de alerta que no mês de setembro Epitácio Pessoa começou a receber os visitantes estrangeiros para a Exposição Universal do Rio de Janeiro.
Sucessão Presidencial de 1922
18 do Forte
Ao se aproximar a sucessão presidencial de Epitácio Pessoa, em 1922, aguçaram-se as contradições entre o Exército e as oligarquias dominantes. O Exército já guardava ressentimento contra Epitácio, que havia nomeado o civil Pandiá Calógeras para o Ministério da Guerra. As coisas pioraram quando, em outubro de 1921, a imprensa divulgou cartas supostamente escritas pelo candidato oficial, Artur Bernardes, contendo acusações ao Exército e ofensas ao marechal Hermes da Fonseca, presidente do Clube Militar.
Em março de 1922, apesar da oposição, Artur Bernardes foi eleito presidente da República. Sua posse estava marcada para novembro. Em junho, o governo, ainda chefiado por Epitácio, interveio na sucessão estadual de Pernambuco e foi duramente criticado pelo marechal Hermes da Fonseca. Em reação, Epitácio, ordenou a prisão do marechal e o fechamento do Clube Militar, no dia 2 de julho de 1922.
Na madrugada de 5 de julho, a crise culminou com uma série de levantes militares. Na capital federal, levantaram-seo forte de Copacabana, guarnições da Vila Militar, o forte do Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1° Batalhão de Engenharia; em Niterói, membros da Marinha e do Exército; em Mato Grosso, a 1ª Circunscrição Militar, comandada pelo general Clodoaldo da Fonseca, tio do marechal Hermes. No Rio de Janeiro, o movimento foi comandado pelos "tenentes", uma vez que a maioria da alta oficialidade se recusou a participar do levante.
Os rebeldes do forte de Copacabana dispararam seus canhões contra diversos redutos do Exército, forçando inclusive o comando militar a abandonar o Ministério da Guerra. As forças legais revidaram, e o forte sofreu sério bombardeio. O ministro da Guerra, Pandiá Calógeras, empreendeu em vão várias tentativas no sentido de obter a rendição dos rebeldes.
Finalmente, no início da tarde do dia 6 de julho, ante a impossibilidade de prosseguir no movimento, os revoltosos que permaneciam firmes na decisão de não se renderem ao governo abandonaram o forte e marcharam pela avenida Atlântica de encontro às forças legalistas. A eles aderiu o civil Otávio Correia, até então mero espectador dos acontecimentos.
Conhecidos como os 18 do Forte - embora haja controvérsias quanto a seu número, pois os depoimentos dos sobreviventes e as notícias da imprensa da época não coincidem -, os participantes da marcha travaram tiroteio com as forças legais. Os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes sobreviveram com graves ferimentos. Entre os mortos, estavam os tenentes Mário Carpenter e Newton Prado.
Em 15 de novembro de 1922, Artur Bernardes assumiu a presidência da República sob estado de sítio, decretado por ocasião do levante de julho.
1.3-Panorama Cultural
Em síntese: Na década de 1920 era nítida a preocupação de se discutir a identidade e os rumos da nação brasileira. Todos tinham algo a dizer - políticos, militares, empresários, trabalhadores, médicos, educadores, mas também artistas e intelectuais. Como deveria ser o Brasil moderno? Através da literatura, das artes plásticas, da música, e mesmo de manifestos, os artistas e intelectuais modernistas buscaram compreender a cultura brasileira e sintonizá-la com o contexto internacional. O marco de seu movimento foi a Semana de Arte Moderna de 1922. Mas havia também intelectuais preocupados com a reforma das instituições - a começar pela Constituição de 1891 -, que se dedicaram a apresentar propostas para a reorganização da sociedade brasileira.
Arte e Cultura
A Semana de Arte Moderna colocou em questão os padrões culturais vigentes na Primeira República
A entrada do Brasil na modernidade foi parte de um processo complexo em que se entrecruzaram dinâmicas diferentes. Nas primeiras décadas do século XX aceleraram-se a industrialização, a urbanização, o crescimento do proletariado e do empresariado. De outro lado, permaneceram a tradição colonialista, os latifúndios, o sistema oligárquico e o desenvolvimento desigual das regiões. 
De toda forma, com a expansão dos centros urbanos, modificaram-se os valores da cultura cotidiana e os próprios padrões da comunicação social. As idéias de simultaneidade, concisão, fragmentação, velocidade e arrojo passaram a expressar os tempos modernos. As Kodaks, o cinema e as revistas ilustradas captavam um mundo feito de imagens. 
Era inevitável que a arte expressasse as transformações trazidas pela modernidade. Mas, no Brasil, outros problemas também preocupavam artistas e intelectuais. "Nós não nos conhecemos uns aos outros dentro do nosso próprio país." A frase, do escritor carioca Lima Barreto, caracteriza bem o espírito da década de 1920. Era um tempo de indagações e descobertas. A tarefa que se impunha era a de construir a nação, e isso significava também repensar a cultura, resgatar as tradições, costumes e etnias que haviam permanecido praticamente ignorados pelas elites. A questão da identidade nacional estava agora em primeiro plano: que cara tem o Brasil? Artistas e intelectuais buscaram responder a essa pergunta, e esse esforço foi uma característica importante do modernismo brasileiro. Isso não quer dizer que o modernismo tenha sido um movimento homogêneo. Ao contrário: produziu imagens e reflexões sobre a nacionalidade profundamente contrastantes entre si.
A Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo no ano de 1922, representou uma verdadeira "teatralização" da modernidade. Mas o movimento modernista não se resumiu à Semana. Na verdade, começou antes de 1922 e se prolongou pela década de 1930. Tampouco se restringiu a São Paulo. Houve também uma modernidade carioca, e a proliferação de revistas e manifestos por todo o país indica que o raio de ação do movimento foi maior do que se supõe.
Assim como a Exposição Universal do Rio de Janeiro de 1922, a Semana de Arte Moderna fazia parte da agenda oficial comemorativa do Centenário da Independência. O evento teve grande impacto na época, pois formalizou e discutiu questões que já se estavam esboçando na vida cultural. Por exemplo: como integrar tradição e modernidade? regional e universal? popular e erudito?
Mário de Andrade defendia a perspectiva de integração dinâmica do passado ao presente. No "Prefácio interessantíssimo" de seu livro de poemas Paulicéia desvairada (1922), definia o passado como "lição para meditar não para reproduzir". A tradição em si não tinha valor, a não ser que estabelecesse um elo vivo com a atualidade. Era esse o sentido dos estudos folclóricos a que se dedicou. Seu célebre livro Macunaíma (1928) mostra um herói que nasce índio, torna-se negro e no final é branco. O herói Macunaíma sobrevoa o Brasil nas asas de um pássaro. O que importava era destacar a nossa multiplicidade étnico-cultural, vislumbrar o conjunto da nacionalidade.
Outro autor modernista de renome, Oswald de Andrade, propunha no "Manifesto pau-brasil" (1924) uma síntese capaz de unir o "lado doutor" da nossa cultura ao lado popular. Já no "Manifesto antropofágico"(1928), sugeria um projeto de reconstrução da cultura nacional. Metaforicamente, deveríamos devorar e absorver de maneira crítica as influências do "inimigo" externo. As idéias do futurismo, do dadaísmo e do surrealismo poderiam ser integradas à nossa cultura desde que fossem reelaboradas. No quadro de Tarsila do Amaral intitulado "Abaporu" - que significa "o homem que come" - está expressa plasticamente a idéia da integração cultural.
O grupo dos verde-amarelos, por sua vez, tinha idéias bastante diferentes: propunha um "retorno ao passado", considerado como o depositário das nossas verdadeiras tradições. Via no popular, com sua índole pacífica, a alma da nacionalidade, a ser guiada pelas elites político-intelectuais do país. No manifesto "Nhengaçu verde-amarelo" (1929), defendia as fronteiras nacionais contra as influências culturais estrangeiras. Nesse ponto o grupo reforçava a tese do nacionalismo militarista de Olavo Bilac, fundador da Liga de Defesa Nacional e criador da figura do "poeta-soldado". As idéias dos verde-amarelos seriam mais tarde incorporadas pelo regime autoritário do Estado Novo (1937-1945).
Entre os intelectuais dos anos 20 cujas análises visavam à definição de novos rumos para o país, incluíam-se Oliveira Viana, Gilberto Amado, Pontes de Miranda. Eles escreveram ensaios que foram publicados em 1924 em uma coletânea organizada por Vicente Licínio Cardoso, chamada À margem da história da República. Na base de seu ideário estava o pensamento do político e escritor fluminense Alberto Torres.
Um dos nossos maiores problemas, na opinião desses pensadores, era a debilidade do governo federal. A Constituição de 1891 estava a seu ver ultrapassada, e isso por dois motivos principais: possuía inspiração externa e assegurava grande poder aos estados em detrimento do poder central. Urgia que o país construísse seu próprio modelo e criasse instituições adequadas à realidade nacional.
1.4-Panorama econômico
Do ponto de visa econômico, a década de 20 foi marcada por altos e baixos.
Nos primeiros anos, o declínio dos preços internacionais do café gerouefeitos graves sobre o conjunto da economia brasileira, alta da inflação e uma crise fiscal sem precedentes. Apesar disso, foi significativa a expansão do setor cafeeiro e das atividades a e vinculadas.
Passados os primeiros momentos de dificuldades, o país conheceu um processo de crescimento expressivo que se manteve até a Grande Depressão em 1929.
Diversificação da agricultura;
Desenvolvimento das atividades industriais;
Expansão de empresas já existentes;
Surgimento de novas empresas ligadas indústria de base.
A paralização de todos os negócios do mundo capitalista ocasionada pela superprodução de todos os artigos industriais e agropecuários na escala do mercado mundial, se manifesta, em primeiro lugar, no Brasil com a crise do café, cuja superprodução provoca a caída do seu preço.
A crise industrial, também, toma proporções alarmantes. Os fazendeiros e a burguesia nacional brasileira, se encontram no mesmo «beco sem saída» do capitalismo mundial. A sua máquina econômica também se decompõe. O trabalho nas fazendas, nas usinas, canaviais, seringais e outras plantações diminue e se paralisa.
A produção apodrece e se destrói nos campos e nos armazéns. As casas comerciais, os bancos, as industrias, as fabricas quebram, fecham suas portas, reduzem o trabalho a 4, 3, 2 dias por semana.
Os camponeses pobres colonos, colonos, arrendatários, camaradas e jornaleiros das lavouras e plantações sofrem uma situação de miséria e fome espantosa. Mais da metade está sem trabalho.
A situação dos poucos que continuam trabalhando não é melhor. Os salários são rebaixados em 30, 40 e até 50%. O horário é aumentado. O trabalho é intensificado. 
Nas cidades, o proletariado e os trabalhadores em geral se alimentam a feijão e angu de fubá uma vez ao dia e grande parte nem isso tem para comer, alimenta-se com café e farinha de mandioca, porque o salário que ganham com o trabalho reduzido a 4, 3 e 2 dias por semana, não chega para comprarem outra coisa e viverem melhor.	 
A base desta situação alarmante, os fazendeiros, latifundistas, comerciantes, industriais buscam a solução da crise em empréstimos imperialistas a todo preço. E nesta corrida louca produzem-se agrupamentos, rupturas e reagrupamentos entre os fazendeiros, latifundistas, comerciantes e industriais, entre a grande e a pequena burguesia.
Os empréstimos nada podem resolver. Concorrem somente para escravizar mais o país aos estrangeiros e para aumentar a exploração, a opressão e a miséria das massas operarias e camponesas.
Nenhum governo capitalista pode resolver nossa situação, porque não pode governar sem apoiar-se nos fazendeiros e na burguesia nacional, cujos interesses estão ligados indissoluvelmente aos interesses dos capitalistas e banqueiros estrangeiros.
Para as massas oprimidas e exploradas só existe um caminho: o caminho da luta contra os fazendeiros, a burguesia nacional e os imperialistas estrangeiros, o caminho da Revolução dos Operários e Camponeses, que estabelecerá o Governo Operário e Camponês. O único governo realmente revolucionário dos oprimidos e explorados do Brasil, que combaterá de facto contra os fazendeiros, contra a burguesia nacional e contra o domínio dos imperialistas. Dirigidas pelo PARTIDO COMMUNISTA, as massas operarias e camponesas acabarão com a exploração da burguesia nacional, expulsarão do país os exploradores estrangeiros e realizarão as aspirações de bem-estar e liberdade de todos os oprimidos.
Café e indústria
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o fluxo internacional de comércio sofreu uma drástica desaceleração. Aumentaram as dificuldades para a exportação do café brasileiro, que foram ainda mais agravadas pela volumosa safra de 1917-18. Paralelamente, porém, o conflito mundial favoreceu o processo de industrialização do Brasil. A interrupção da entrada de capitais estrangeiros e a obrigação de honrar os compromissos da dívida externa minaram os estoques de divisas nacionais. Como consequência, foi necessário controlar as importações, já prejudicadas devido à guerra, e promover a produção nacional de artigos industrializados. Estima-se que a produção industrial brasileira cresceu a uma taxa anual de 8,5% durante os anos de conflito.
Ao mesmo tempo que incentivava, a guerra criava limites à expansão da nossa indústria, ao impedir a reposição e manutenção de máquinas e equipamentos. O problema era que o Brasil continuava carente de uma indústria de base que inclui a produção de aço, ferro e cimento. Data somente de 1924 o início da produção de aço no país, pela siderúrgica Belgo-Mineira, enquanto a produção de cimento, pela Companhia de Cimento Portland, só se iniciou em 1926.
O processo de industrialização da década de 1920 se dividiu em duas etapas: a primeira até 1924, coincidindo com a terceira valorização do café – 1921-24 –, quando foram realizados importantes investimentos em maquinaria, que levaram à modernização da indústria; a segunda, de 1924 até 1929, quando ocorreu um processo de desaceleração na produção industrial, em virtude da retomada do fluxo de importações, graças a uma taxa de câmbio que tornava mais barato o produto estrangeiro. 
A despeito da relação simbiótica entre café e indústria, que se refletia inclusive na união das famílias por meio de casamentos ou no duplo papel do cafeicultor-industrial, não se pode negar a existência de disputas entre fazendeiros e industriais, principalmente quanto à delicada questão da elevação de tarifas. Tanto a burguesia cafeeira quanto a nascente burguesia industrial queriam proteger seus interesses. 
Assim, em 1922 foi criado o Instituto de Defesa Permanente do Café, órgão destinado a organizar o mercado produtor nacional. Não tardou muito para que essa função passasse a ser atribuição do estado de São Paulo, com a criação, em 1924, do Instituto do Café de São Paulo. Os industriais também se organizaram em diversas associações de classe, em cidades como São Paulo, Porto Alegre e Juiz de Fora. Mas foi o Centro Industrial do Brasil – CIB –, sediado no Rio de Janeiro, o que mais se destacou por procurar articular os interesses empresariais em todo o país. Ao longo das greves ocorridas entre 1917 e 1920, conseguiu garantir a união do setor industrial frente à classe operária. O CIB também procurou limitar a intervenção do Estado na questão social, a fim de evitar um excesso de ônus para os industriais e o cerceamento de sua liberdade na condução das relações com o operariado. 
A crise política dos anos 20 foi caracterizada pela rejeição do sistema oligárquico, que era associado ao rei Café. Seu desfecho foi o fim da hegemonia da burguesia cafeeira na condução da economia e da política brasileiras. Mas a estreita relação entre café e indústria fez com que tanto os cafeicultores quanto os industriais fossem identificados como beneficiários da política do governo. De fato, os industriais – supostamente representantes dos novos tempos – aliaram-se em sua maioria aos setores mais conservadores das forças em luta. Ao se inaugurar a Era Vargas, apesar das dificuldades políticas e econômicas enfrentadas, a industrialização do país já iniciara um caminho sem retorno.
1.5-Panorama social
Em síntese: Durante quase toda a Primeira República a questão social foi considerada no Brasil como "caso de polícia". Desde a década de 1910, entretanto, enquanto o processo de industrialização se acelerava, o movimento operário procurava obter dos empresários e dos políticos algum tipo de proteção ao trabalho que levasse à criação de uma legislação social no país. Foi só a partir de 1930, no entanto, que essa legislação passou a ser realmente implementada, tanto na área trabalhista quanto na previdenciária.
Durante a Primeira Guerra Mundial a indústria brasileira registrou alto índice de expansão, fruto do declínio do comércio internacional e da conseqüente necessidade de substituição das importações. Com o aumento das atividades industriais, aumentou o contingente de trabalhadores organizados, o que fortaleceu o movimento operário.Entre 1917 e 1920 inúmeras greves foram decretadas nos principais centros urbanos do país. Em decorrência, o debate sobre a questão social e sobre as medidas necessárias para enfrentá-la ganhou considerável espaço no cenário político nacional. O mesmo acontecia no plano internacional, tanto que o Brasil participou da Conferência do Trabalho de Washington, em 1919. 
Esse foi um ano de eleições presidenciais aqui, e o tema foi bastante explorado pelo candidato de oposição Rui Barbosa. Mesmo sem apoio de uma máquina eleitoral, Rui conseguiu cerca de um terço dos votos e saiu vitorioso no Rio de Janeiro, então capital da República.
O objetivo central da classe operária era melhorar as condições de vida, de trabalho e salário. Já o empresariado considerava a possibilidade de fazer algumas concessões ao operariado para garantir o processo de produção e de acumulação de capital e, simultaneamente, fazer frente às críticas antiindustrialistas que acusavam o setor de ser o causador da alta do custo de vida além de estimulador de graves problemas sociais com sua intransigência.
Enquanto a classe trabalhadora negociava com os empresários através dos seus sindicatos legalmente organizados, o patronato também se reunia em associações. Entre as principais figurava o Centro Industrial do Brasil (CIB), que funcionou como um órgão de negociação. Jorge Street, industrial presidente do CIB, representava a corrente mais favorável à concessão de certos direitos para a classe trabalhadora como condição para a reprodução do capital e da força de trabalho. Além disso, aceitava a intervenção estatal na regulamentação do mercado de trabalho, até então relativamente ausente, desde que fosse respeitada a iniciativa individual dos empresários.
O Poder Legislativo deu início a um debate com vistas a encaminhar a aprovação de um Código de Trabalho, o que não chegou a acontecer. Dois deputados destacaram-se na defesa das demandas da classe trabalhadora: Maurício de Lacerda e Nicanor Nascimento. 
É bem verdade que, para a maioria dos políticos da época, a questão social não era percebida como sendo de natureza econômica ou mesmo social, mas sim como um problema de moral e higiene. Daí, portanto, a tendência a tratá-la em conjunto com os temas de educação e saúde. Com o tempo, entretanto, a questão educacional e a questão sanitária ganharam sua área própria, e abriram-se novas discussões, sobre as reformas educacionais e o movimento sanitarista.
Aos poucos começaram a ser tomadas algumas iniciativas para a criação de normas jurídicas de regulação e controle dos contratos de trabalho. Dava-se início à formação de uma legislação social no país. A primeira dessas leis foi a relativa a acidentes de trabalho, de 1919. Para se precaver, o patronato criou companhias seguradoras, responsáveis pelo pagamento dos benefícios, mas igualmente fontes de acumulação de capital. Em 1920 foi criada a Comissão Especial de Legislação Social da Câmara dos Deputados, com a função de analisar toda e qualquer iniciativa legislativa na área trabalhista. A lei de criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões, de 1923, é considerada a primeira lei de previdência social. Também conhecida como Lei Elói Chaves, nome do autor do projeto, ela concedia aos trabalhadores associados às Caixas ajuda médica, aposentadoria, pensões para dependentes e auxílio funerário. A Lei Elói Chaves beneficiou de início apenas os trabalhadores ferroviários. Só três anos mais tarde seus benefícios foram estendidos aos trabalhadores das empresas portuárias e marítimas.
Em 1922 inaugurou-se o governo de Artur Bernardes, que seria marcado por uma grande instabilidade política devido ao movimento tenentista, e por uma forte repressão ao movimento operário. Uma das principais correntes deste último movimento, a dos anarquistas, além de enfrentar a polícia, passou a sofrer a concorrência dos comunistas, que fundaram em 1922 o Partido Comunista do Brasil. O enfraquecimento do poder de pressão da classe trabalhadora, juntamente com a desaceleração do ritmo da produção e o aumento das importações, fez com que setores do empresariado retrocedessem em seu relativo apoio as demandas sociais e trabalhistas. Além disso, o patronato sentia-se, dia a dia, mais lesado em seus direitos e liberdades com o crescente intervencionismo do Estado no campo trabalhista.
Ainda assim, duas leis importantes foram introduzidas na segunda metade dos anos 20: a Lei de Férias (1925) e a Lei de Regulamentação do Trabalho de Menores (1926/27). A primeira visava a obrigar os empresários a concederem 15 dias de férias a seus empregados, sem prejuízo do ordenado, mas foi sistematicamente desrespeitada. Já o Código do Menor estipulava a maioridade a partir dos 18 anos e propunha uma jornada de trabalho de seis horas. Ao contrário da Lei de Férias, enfrentou uma reação apenas parcial, com relação aos limites de idade (de 14 anos) e ao horário de trabalho estipulados.
O cumprimento da legislação social, entretanto, deixava muito a desejar devido à ausência de fiscalização adequada. Apenas os trabalhadores mais organizados e de maior peso político conseguiram, assim mesmo com muita luta, garantir sua aplicação. Isso também se restringia aos grandes centros do país, São Paulo e Distrito Federal, não tendo, portanto, um caráter nacional. Mesmo a criação do Conselho Nacional do Trabalho em 1923, concebido como um órgão específico para tratar de questões dessa natureza, não resolveu o problema. O Conselho teve uma atuação de caráter meramente consultivo, não chegando a operar como planejador de uma legislação social. Só a partir de 1928 o órgão adquiriu poderes para atuar como árbitro de conflitos trabalhistas.
Até a inauguração da Era Vargas o direito social brasileiro só abrangia alguns poucos aspectos da questão trabalhista e menos ainda da questão previdenciária. Seja como for, a implantação de uma legislação social como um todo após a Revolução de 1930 tem suas raízes nessas iniciativas pioneiras e na luta dos trabalhadores desse período.
Paralelamente às mudanças no quadro econômico, processavam-se a ampliação dos setores urbanos com crescimento das camadas médias, da população e da classe trabalhadora, e com a diversificação de interesses no interior das próprias elites econômicas.
Em seu conjunto, essas transformações funcionaram como elementos de estímulo a alterações no quadro político vigente, colocando em questionamento as bases do sistema oligárquico da Primeira República.
Unidade 2
Sistema Político na Primeira República
2.1 – Instabilidade política
Um alto grau de instabilidade marcou a tônica dos primeiros anos do regime instituído em 1889.
A defesa do federalismo unia os grupos dominantes e os representantes das principais províncias.
Se por um lado, a defesa do federalismo unia grupos dominantes das principais províncias, por outro lado, outras questões relativas ao formato a ser dado ao novo sistema político provocam inúmeras divergências.
O regime republicano no Brasil: duas versões
Um dos problemas enfrentados pela República é a questão da legitimidade do novo regime. A proclamação parece ter sido uma ação militar, e os militares não tinham até então atuação reconhecida na história nacional. Durante 60 anos, o país não sofreu crise no governo imperial que fosse provocada pela força armada. A atuação na Guerra do Paraguai, por assim dizer, funda uma nova experiência, e, a partir daí, cresce a demanda por um novo papel das forças armadas na política brasileira, o que só se vai dar efetivamente na proclamação.
O esprit de corps que uniu os bacharéis fardados – tenentes, alunos ou ex-alunos de Benjamin Constant – e os tarimbeiros – oficiais superiores que tinham lutado na Guerra do Paraguai – possibilitou a ação política de proclamar a República. Essa unidade temporária resultante dos efeitos da Questão Militar produziu uma ação política, mas não garantiu a institucionalização da nova ordem nem sua legitimidade. E, é preciso lembrar: O núcleo republicano civil maispoderoso e organizado, o paulista, tinha poucos contatos com os militares e muitas dúvidas sobre a conveniência de envolvê-los na campanha (CARVALHO, 1977: 217).
Se é assim, cabe perguntar como se construiu a legitimidade da nova ordem e dos novos atores políticos. A antiga ordem havia se desagregado e a nova ainda não se consolidara sob a forma de instituições estáveis e aceitas. Este tempo forte, composto de momentos de efervescência da vida política, caracteriza os primeiros dez anos da República – 1889-98 –, também chamados de anos entrópicos, nos quais a quantidade de desafios parece ser maior que a capacidade dos atores de erradicar a ignorância sobre o que se passava (LESSA, 1988: 15).
Nessa década do caos, buscou-se, sem êxito, construir as bases da obediência legítima, já que...
 “...a noção de legitimidade não corresponde a nada além do reconhecimento espontâneo da ordem estabelecida, da aceitação natural, não obrigatoriamente das decisões daqueles que governam, mas dos princípios em virtude dos quais eles governam” (GIRARDET, 1987: 88).
Memórias específicas compõem as versões em conflito. Essas imagens construídas preenchem tanto uma função explicativa capaz de fornecer parâmetros para a compreensão do momento presente quanto uma função mobilizadora, quando o objetivo é alterar a ordem estabelecida. As versões expressam situações opostas no quadro político, expondo as posições de diferentes grupos que fazem parte da mesma sociedade.
Monarquistas e republicanos constituíam os dois grupos em conflito explícito no início da República, construindo cada qual a sua versão dos fatos e dos desafios a serem vencidos. Quem eram eles? O que pensavam? Quais os seus heróis?
Os monarquistas ou, como na feliz expressão de Maria de Lourdes Janotti (1986), os subversivos da República, formavam um grupo de grande consistência ideológica, composto por políticos influentes, jornalistas, intelectuais, ativistas, que se dividiam entre restauradores e adesistas ou neo-republicanos. Apesar de muitos deles terem aceito o novo regime como fato consumado, o grupo sempre esteve envolvido nas questões políticas que marearam a década do caos, trazendo dificuldades à consolidação republicana.
Os defensores da monarquia confiaram, em um primeiro momento, na possibilidade de rearticular sua força política por ocasião das eleições para a Constituinte. Desejavam levar o povo, através de um plebiscito, a não referendar a ação militar que proclamara a República. Entretanto, dentro de suas próprias fileiras, enfrentavam algumas questões cruciais: desde a de responsabilizar o gabinete liberal de Ouro Preto pela ruína do Império e a passividade de Pedro II em incentivar as ações restauradoras, até a difícil questão dinástica que incluía a possibilidade de uma regência.
Os monarquistas esperavam e desejavam que as crises republicanas convencessem as forças políticas das ameaças de desmembramento e da validade da única salvação possível – a restauração. Tinham esperança na ruína do regime, mesmo quando não estavam atuando neste sentido. Sofriam perseguições, eram vistos com desconfiança, principalmente os que aderiram ao novo regime e aceitaram jogar o jogo republicano.
A Revolta da Armada foi o movimento mais sério em que estiveram envolvidos. Resultante do manifesto de 13 oficiais que, em nome da defesa da Constituição republicana se rebelaram contra a posse de Floriano, esse movimento apareceu em um primeiro momento como uma reação legalista contra o militarismo que ameaçava tomar conta da República. A adesão do almirante Saldanha da Gama – conhecido monarquista – caracterizou o movimento como restaurador e forneceu munição aos jacobinos que apoiavam Floriano no combate à revolta.
O fato de os monarquistas terem participado intensamente da luta política não significa que tenham tido êxito. Entretanto, ressaltamos aqui sua superioridade do ponto de vista de sua versão e de seus quadros. Inúmeros intelectuais são seus porta-vozes, o que parece ter conferido mais estabilidade e consistência à sua interpretação.
Eduardo Prado, em seu livro Fastos da ditadura militar no Brasil (1902), reuniu artigos publicados – entre dezembro de 1889 e junho de 1890 – na Revista de Portugal, periódico dirigido por Eça de Queiroz. Sob o pseudônimo de Frederico S., Eduardo Prado denunciava as práticas da ditadura militar republicana que se opunham às teorias e práticas liberais vigentes no Império. O autor via no Império a presença liberal, enquanto a República se apresentava como a introdução do caudilhismo na política brasileira. A República trazia a ameaça de dividir o Brasil em múltiplos países, rompendo a unidade conseguida pelo Império.
Outro livro de Eduardo Prado, A ilusão americana, escrito em 1893, trata do período histórico que se estende de 1823, com a elaboração da doutrina Monroe, até 1892, com a chamada política do big-stick, sob a inspiração de Blaine, quando o expansionismo norte-americano fez sua presença armada na América Central.
A ilusão americana condena a forma republicana apresentando-a como a cópia do modelo político norte-americano. A crítica à República aparece já no prefácio, onde Eduardo Prado se refere a este regime como dolorosa provação que (...) tanto tem amargurado a pátria brasileira, ou quando diz: o governo republicano do Brasil, tristemente predestinado a reagir sempre contra a civilização.
A primeira parte de A ilusão americana centra-se na apresentação de fatos da política externa americana frente aos países da América Latina, com especial ênfase no caso mexicano e das Antilhas. A conclusão do autor é a de que o grande protetor da independência dos países latinos sempre foi a Inglaterra. A doutrina Monroe e sua execução estariam bem distantes da interpretação jacobina que os republicanos brasileiros estavam dando a ela.
Ao adotarem o modelo norte-americano, os países da América espanhola renegaram suas tradições. O Brasil, mais feliz, instintivamente, obedeceu à grande lei de que as nações devem reformar-se dentro de si mesmas, como todos os organismos vivos, com a própria substância (PRADO, 1893: 53). Em 1889, cometeu-se o mesmo erro dos países hispano-americanos: a imposição de um modelo que produziu, imediatamente, a perda da liberdade.
Eduardo Prado reconhece que a república americana fora criada em um período onde predominou o patriotismo e a abnegação, e relembra Montesquieu em sua proposição de que as repúblicas precisam ter como fundamento a virtude. Esse fora o fundamento da república americana ao tempo dos pais fundadores. Os vícios, as faltas atuais não estavam presentes no seu início, tinham a ver com a sociedade burguesa.
Do ponto de vista cultural, Eduardo Prado aponta o encantamento americano pela realeza e pelas aristocracias européias. Esta admiração tem sentido, já que os Estados Unidos são ainda uma colônia. A civilização vem-lhe da Europa (p. 116). Refere-se ao americano como um parvenu enriquecido. O encantamento pela realeza fez com que os Estados Unidos dessem preferência pelo apoio à Alemanha, durante a guerra franco-prussiana, mesmo depois da proclamação da república francesa. Aprovaram a guerra de 1870 e a consequente anexação da Alsácia e da Lorena. O autor deseja demonstrar que não há qualquer compromisso essencialmente republicano na política externa dos Estados Unidos.
Outro ponto de destaque é a questão da abolição. Segundo Prado, a solução norte-americana foi genuinamente republicana e norte-americana, isto é, pela violência, pela força, pela guerra entre irmãos. No Brasil tivemos a solução monárquica. Nossa monarquia teve a glória de ser punida pela sua ação libertadora (p. 131). Isto em si não é uma novidade, já que, para Eduardo Prado, todas as grandes reformas sociais se realizam sob um governo monárquico.
De acordo com Prado... 
“...na gestão dos negócios e dos dinheiros públicos, a monarquia arrisca a sua própria existência; é como uma firma solidária que responde com a sua pessoa e com a totalidade de seus bens. A República é uma companhia anônima

Outros materiais