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DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins – V. 2 – n. 01. p. 160-174, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p160 [163] AMACIANTES CÁRNEOS: TIPOS E APLICAÇÃO EM CARNE BOVINA SOFTENERS MEAT: TYPES AND APPLYING IN BEEF Amanda Rodrigues Maciel Iasmin Souza Silva Izabel Bastos Pereira Neta Naylla Raiane Silva Rocha Ranielle Nascimento Silva Vitória Nazaré Costa Seixas Universidade do Estado do Pará - UEPA RESUMO Nos últimos anos devido ao maior nível de exigência dos consumidores internos estimulados pela propaganda de carne de qualidade fez com que o comércio varejista passasse a exigir dos frigoríficos o fornecimento de carnes e carcaças que apresentassem certas características qualitativas (maciez, suculência e cor). O objetivo do trabalho foi explanar os tipos de amaciantes cárneos, que tem eficácia no processo de maciez da carne bovina. Atualmente o amaciamento das carnes pode ser feito por amaciantes industrializados, principalmente constituídos de papaína. Estes amaciantes industrializados apresentam vantagens de serem facilmente encontrados e de custo relativamente baixo, além de fácil utilização. O amaciamento enzimático da carne é um resultado da degradação parcial dos componentes da carne. A papaína proveniente do mamão, a bromelina proveniente do abacaxi e a ficina proveniente do figo possuem efetiva ação amaciante. O rompimento do colágeno ocorre no tecido conectivo e nas proteínas contrateis, no qual a papaína, bromelina, tripsina e Rhozyme P-11 hidrolisam as proteínas solúveis da carne, mas a bromelina e a ficina degradam o colágeno, enquanto a elastina é somente degradada pela papaína e ficina. Conclui-se que mecanismos como os amaciantes cárneos são eficientes e capazes de melhorar este atributo, sendo auxiliares na obtenção organoléptica de maior influência na carne. É certo ressaltar que o mercado varejista atual, vem se policiando com o tipo de produto que compra e que vende, pois o consumidor de hoje mostra-se mais exigente em relação a quantidade e qualidade do produto que está consumindo. Palavras-chave: amaciantes cárneos, enzimas, maciez. ABSTRACT In recent years due to the higher demand of domestic consumers encouraged by the quality of meat, the marketing has made the retail spend the demand of refrigerators the supply of meat and carcasses to submit certain quality characteristics (tenderness, juiciness and color). The objective was to explain the types of meat softeners, which is effective in beef tenderness process. Currently industrialized softeners mainly consisting of papain can make the softening of the meat. These softeners have industrial advantages of being readily available and relatively inexpensive, and easy to use. The enzymatic softening of the meat is a result of partial degradation of the meat component. The papain from papaya, bromelain from pineapple and ficin from fig have effective softener action. Collagen disruption occurs in connective tissue and the contractile proteins in which papain, bromelain, trypsin and Rhozyme P-11 hydrolyzes the soluble proteins of the meat, but bromelain and ficin degrade the collagen while elastin is only degraded by papain and ficin. It follows that mechanisms such as meat softeners are efficient and able to improve this attribute, and assists in obtaining DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins – V. 2 – n. 01. p. 160-174, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p160 [164] the greatest influence on the organoleptic meat. Admittedly mentioning that the current retail market, has been policing to the type of product they are buying and selling, for today's consumer shows up more particular about the quantity and quality of the product they are consuming. Keywords: meat softeners, enzymes, softness. Recebido em 01/04/2015. Aceito em 06/10/2015. Publicado em 18/01/2016. INTRODUÇÃO Em 2003, as exportações brasileiras de carne bovina contribuíram para que o país praticamente dividisse a liderança do comércio exportador mundial do produto com a Austrália, sendo que as previsões apontam para uma consolidação do Brasil como maior exportador mundial de carne bovina, podendo atingir, até 2010, a marca de 2 milhões de toneladas exportadas, que equivale a aproximadamente 3 bilhões de dólares (ANUALPEC, 2004). O efetivo de bovinos foi de 212,798 milhões de cabeças no ano de 2011, ou 1,6% de aumento em relação ao registrado em 2010. Este efetivo encontra-se disperso por todo território nacional, embora seja encontrado em maior número na região Centro-Oeste do país, com 34,1%. Nesse comparativo o crescimento do rebanho bovino ocorreu com maior intensidade nas Regiões Norte, Nordeste e Sudeste (IBGE, 2011). Este rebanho representa aproximadamente 61% do gado bovino da América do sul (cerca de 332,79 milhões de cabeças) e 16% do rebanho mundial (1,22 bilhão de cabeças), segundo as estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2004). Historicamente, a carne dos zebuínos (Bos indicus) era identificada como dura, porque esses animais eram criados em pasto e abatidos mais velhos, se comparados com as raças precoces de bovinos americanos ou europeus. A menor maciez da carne dos zebuínos também era justificada pela alta correlação positiva entre a idade de abate dos animais e o número de ligações cruzadas termoestáveis do colágeno dos músculos, favorecendo a dureza da carne, e ainda pela menor deposição de gordura na carcaça e ao fato de não apresentar gordura intramuscular (marmorização), o que favorecia o resfriamento mais rápido das massas musculares, provocava o encurtamento dos sarcômeros (unidades contrácteis dos músculos) e, consequentemente endurecimento da carne (Oliveira, 2000). Nos últimos anos devido ao maior nível de exigência dos consumidores internos estimulados pela propaganda de carne de qualidade fez com que o comércio varejista passasse a exigir dos frigoríficos o fornecimento de carnes e carcaças que apresentassem certas características qualitativas (maciez, suculência e cor). Quando avaliados parâmetros que DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins – V. 2 – n. 01. p. 160-174, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p160 [165] envolvem a qualidade de carne, a maciez é o fator de maior variabilidade, sendo o atributo mais desejável pelo consumidor (Lage et al., 2009). As oportunidades de expansão do mercado de carne bovina estão intimamente associadas à capacidade competitiva do setor produtivo e, nesse aspecto, a qualidade é ponto fundamental. Dentre as características de qualidade da carne bovina, a maciez assume posição de destaque, sendo considerada a característica organoléptica de maior influência na aceitação da carne por parte dos consumidores. (Paz e Lucharia Filho, 2000; Alves et al., 2005). A dureza da carne pode ser dividida em dureza residual, causada pelo tecido conjuntivo e outras proteínas do estroma, e dureza de actomiosina, causada pelas proteínas miofibrilares. Dentre os fatores que influenciam a maciez da carne, podem ser destacados a genética, a raça, a idade ao abate, o sexo, a alimentação, o uso de agentes hormonais (β- adrenérgicos) e os tratamentos post-mortem. A qualidade final da carne é resultante de tudo o que aconteceu com o animal durante toda a cadeia produtiva. Devem-se assegurar procedimentos adequados de transporte, armazenamento, manipulação, exposição e preparo da carne, a fim de se obter um produtode melhor qualidade (Alves et al., 2005). Advém que fenômeno do encurtamento muscular pelo frio (“cold shortening”) foi a primeira revolução na ciência da carne e que a segunda foi a descoberta de que o amaciamento muscular acontece devido a proteólise medida pela ação de proteases especificas como a calpaína (Taylor, 2003). Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo explanar os tipos de amaciantes cárneos, que tem eficácia no processo de maciez da carne bovina. AMACIANTES CÁRNEOS O amaciamento da carne é um processo que merece grande atenção dos pesquisadores, pois atualmente tem crescido a exigência dos consumidores por produtos de qualidade. Grande parte do processo de amaciamento da carne post mortem ocorre durante a estocagem refrigerada, ou maturação, e consiste na proteólise dos componentes estruturais das proteínas miofibrilares presente no tecido muscular (Kirinus et al., 2014). Enzimas e preparações enzimáticas, como os amaciantes cárneos são alimentos isentos da obrigatoriedade de registro sanitário, desde que previstas em Regulamentos Técnicos específicos, inclusive suas fontes de obtenção, e que atendam às especificações estabelecidas nestes regulamentos (Brasil, 2010). DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins – V. 2 – n. 01. p. 160-174, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p160 [166] Atualmente o amaciamento das carnes pode ser feito por amaciantes industrializados, principalmente constituídos de papaína. Estes amaciantes industrializados apresentam vantagens de serem facilmente encontrados e de custo relativamente baixo, além de fácil utilização (Pedreira, 2001). A carne pode sofrer um amaciamento artificial por ação de uma série de ingredientes, como vinagre, suco de limão, sal e enzimas vegetais. A papaína proveniente do mamão, a bromelina proveniente do abacaxi e a ficina proveniente do figo possuem efetiva ação amaciante (Oliveira et al., 2013). Desse modo os principais amaciantes utilizados são a papaína, no qual sua importância comercial é devido aos variados usos nas indústrias têxteis, farmacêutica, cosméticas e alimentícia (Galindo-Estrella et al., 2009). Essa enzima proteolítica causa hidrólise geral de todos os componentes estruturais do músculo da carne bovina. Sua penetração é baixa (de 0,5 a 2,0 mm), necessitando-se, assim, a perfuração da carne durante sua preparação, para que esta enzima penetre mais facilmente na carne. (Flávio et al., 1989). A ficina é uma enzima proteolítica obtida do látex de figos imaturos (Ficus carica). Como a papaína, a ficina atua sobre as proteínas estruturais da carne (Pedreira, 2001; Velloso, 2003). Outro amaciante é o abacaxi, no qual é a principal fonte da enzima proteolítica bromelina (França et al., 2009). A presença da enzima bromelina depende da fase de crescimento da planta, sendo que ela não é encontrada quando a planta é muito jovem ou muito velha. Acredita-se que esta enzima, nestas fases, seja transformada em uma outra proteína com função metabólica diferente, como enzima produtora de sabor e aroma (Baldini et al., 1993). A bromelina tem diversos usos, todos baseados em sua atividade proteolítica. A sua importância econômica está relacionada com a produção de fármacos e a sua utilização na indústria alimentícia (na clarificação de cervejas, na fabricação de queijos, no amaciamento de carnes, no preparo de alimentos infantis e dietéticos, entre outros), no tratamento de distúrbios, digestivos, feridas e inflamações, preparo de colágenos hidrolisados, nas indústrias têxteis, para amaciamento de fibras e também na produção de detergentes (Baldini et al., 1993). Além dessas técnicas de amaciamento, existe também técnicas como a maturação e a marinação que promovem a melhora, principalmente na maciez da carne o que possibilita o uso destas técnicas para corrigir esta característica de qualidade. Estas técnicas, além de serem extensivamente utilizada na indústria avícola apresentam também a vantagem se serem de baixo custo (Komiyama, 2009). DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins – V. 2 – n. 01. p. 160-174, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p160 [167] ATUAÇÃO DAS ENZIMAS Enzimas são proteínas produzidas por todos os organismos vivos. Elas aceleram as reações químicas de forma seletiva como parte do processo essencial da vida, tais como digestão, respiração, metabolismo e manutenção de tecidos. Em outras palavras, são catalisadores biológicos altamente específicos. As enzimas agem sob condições mais ou menos moderadas, o que as tornam catalisadores ideais para utilização na tecnologia de alimentos, em que o fabricante pretenda modificar seletivamente matérias-primas alimentícias, sem destruir os nutrientes essenciais (Food Ingredientes Brasil, 2011). O amaciamento enzimático da carne é um resultado da degradação parcial dos componentes da carne, ou seja, o amaciamento ocorre devido modificações na estrutura da carne (Pedreira, 2001). As enzimas apresentam a capacidade de reagir com determinados constituintes das células, denominados substratos, formando complexos, ou mesmo compostos com ligações covalentes; esse fato é denominado atividade biológica. Esta atividade é dependente da estrutura da proteína, ou seja, do número de cadeias peptídicas e arranjo dessas cadeias na molécula, da natureza do substrato e, ainda, se existir, da natureza do grupo prostético (Food Ingredientes Brasil, 2009). Os amaciantes vegetais são termoestáveis como a papaína do mamão, a ficina do figo e a bromelina do abacaxi. Essas enzimas têm a propriedade de degradar não só as proteínas miofibrilares como também apresentam uma atividade colagenolítica elevada (Oliveira, 2000). As enzimas vegetais quando adicionadas à carne exercem maior efeito de hidrólise durante a cocção, por ela ser desnaturada pelo aquecimento. Essas enzimas continuam em atividade em 80°C e sofrem inativação em temperaturas mais elevadas (Park e Draetta, 1971). O colágeno é uma proteína termolábel, que pela ação do calor experimenta mudanças que afetam a qualidade dos produtos cárneos. Apresenta efeito direto sobre a textura da carne, atuando diretamente na maciez da carne. A influência na maciez da carne depende da quantidade e da qualidade de colágeno, localização no tecido muscular, dimensão (tamanho da fibra de colágeno) e tipo de ligação cruzada (solubilidade) dentro dos tipos de colágeno. Outros fatores como raça, espécie animal, idade, sexo, etc., também influenciam na estrutura e conteúdo de colágeno no músculo (Flores e Bermell, 1988). Quando em cocção, a carne é amaciada devido as elevadas temperaturas afetarem o colágeno do Tipo I (encontrado no epimísio), enquanto que o colágeno do Tipo III é menos afetado pelo calor. A explicação para esse fenômeno é que, o colágeno do Tipo I apresenta DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins – V. 2 – n. 01. p. 160-174, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p160 [168] mais ligações cruzadas lábeis ao calor e ao ácido, enquanto que o colágeno do Tipo III apresenta ligações dissulfeto intramoleculares, aumentando a estabilidade ao calor das fibras (Burson e Hunt, 1986). Em estudos a solubilidade do colágeno da carne de animais abatidos aos 1 a 16 meses, relataram que, conforme se aumenta a temperatura de cozimento da carne, também ocorre um aumento da solubilidade da hidroxiprolina, consequentemente, do colágeno. O cozimento mais lento resulta em maior solubilidade dessa proteína, oque não ocorre quando o cozimento é mais rápido. No mesmo estudo, foi observado que, com aumento da porcentagem de colágeno solúvel, houve um decréscimo nos valores de força de cisalhamento (Penfield e Meyer, 1975). Nesse mesmo sentido foram encontradas positiva correlação entre força de cisalhamento e conteúdo de colágeno total (r=0.72) e conteúdo de colágeno insolúvel (r=0.66) (Torrescano et al., 2003). AÇÃO DOS AMACIANTES Na indústria alimentícia, as enzimas proteolíticas são largamente utilizadas para o amaciamento de carne e clarificação da cerveja (Chambers et. al, 1998). Na industrialização do couro, a papaína é empregada no processo de remoção dos pelos e amaciamento do couro, agindo na degradação do colágeno (Sasmito et al., 1982). O rompimento ocorre no tecido conectivo e nas proteínas contrateis. A papaína, bromelina, ficina (protease do figo), tripsina e Rhozyme P-11 hidrolisam as proteínas solúveis da carne, mas a bromelina e a ficina degradam o colágeno, enquanto a elastina é somente degradada pela papaína e ficina. A papaína é 2 vezes mais ativa sobre a elastina do que a ficina. A ficina também é apontada por atuar rapidamente sobre as proteínas musculares, colágeno e elastina, enquanto a papaína tem menor e a bromelina maior efeito sobre o colágeno (Park e Draetta, 1971). O amaciamento da carne pelo emprego de enzimas vegetais, bacterianas e fúngicas, surge como outra técnica capaz de proporcionar uma melhoria na maciez. Essas enzimas têm ação similar às proteases cisteínicas. As enzimas proteolíticas bacterianas e fúngicas atuam unicamente sobre as proteínas da fibra muscular, enquanto que as enzimas proteolíticas de origem vegetal atuam preferentemente sobre as fibras do tecido conjuntivo. O mesmo afirma ainda que estas enzimas não atacam o colágeno nativo, mas sim o colágeno desnaturado pelo DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins – V. 2 – n. 01. p. 160-174, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p160 [169] cozimento. Dentre as preparações enzimáticas de origem bacteriana e fúngica podem ser destacadas a protease 15, rhozima, amilase fúngica e hidrolase D (Oliveira, 2000). A papaína promove a hidrolise das ligações peptídicas das proteínas da carne, produzindo um enfraquecimento estrutural proteico. A ação da papaína, sobre as fibras de colágeno do tecido conjuntivo e sobre as proteínas miofibrilares do tecido muscular contraído, resultando no amaciamento cárneo. (Pedreira, 2001). As aplicações dessas enzimas proteolíticas podem ser feitas por imersão dos cortes cárneos em solução, passando a solução pela superfície antes do cozimento, com um spray aerossol e injeção diretamente na carne ou injeção ante mortem de solução de enzima na veia jugular do animal. O método de aplicação dependerá do tipo do corte cárneo e do resultado que se queira alcançar (Pedreira, 2001). Após aplicado na carne o produto deve ficar em repouso, por um tempo não superior a 15 minutos, pois pode haver o rompimento muito intenso das fibras (Pires, 2009). A enzima bromelina vem sendo amplamente caracterizada. A bromelina do fruto tem uma atividade proteolítica maior que a bromelina do talo em diversos substratos proteicos, e sua atividade é máxima em pH 8,0 e temperatura de 70ºC (Rowan, 1990). A temperatura de armazenamento ou de exposição de uma enzima também é um fator de extrema importância para a manutenção de sua atividade catalítica, já que o calor é um agente desnaturante. Assim como o pH, a temperatura pode ser um fator de desnaturação proteica e consequentemente de perda da atividade enzimática. Baseando-se nesta possibilidade, a atividade proteolítica da enzima bromelina foi testada em diferentes temperaturas. Em estudo feito pode-se notar um decréscimo inicial da atividade enzimática entre as temperaturas de 20ºC a 30°C, seguido de uma alta taxa de atividade enzimática e um decréscimo praticamente constante com a elevação da temperatura até 70°C. A bromelina apresentou temperatura ótima de 40°C, sendo que em 70°C a enzima apresentou-se desnaturada. Estudos anteriores a esse relataram a temperatura ótima para a bromelina de 60°C sendo que além desta, a enzima apresenta-se desnaturada (Rowan et al., 1990, Suh et al., 1992). RESTRIÇÃO DOS AMACIANTES Os tecnólogos em alimentos não só precisam saber quais enzimas degradam, sintetizam ou interconvertem com o material dos substratos alimentícios, como também precisam poder quantificar o quanto de determinada enzima é necessário e em quais condições deverá atuar para atingir a máxima eficiência econômica na conversão de material DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins – V. 2 – n. 01. p. 160-174, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p160 [170] (Food Ingredientes Brasil, 2011). A substituição da carne de primeira qualidade pelo uso de carnes como a paleta, para bifes, requer o emprego de amaciantes naturais. O suco de abacaxi na quantidade adequada proporciona maciez às carnes; porém quando em excesso ele pode acarretar o rompimento das fibras musculares levando a desintegração da estrutura da carne (RIEKES, 2004). A cinética enzimática qualitativa e quantitativa mostra que as enzimas se comportam de forma previsível em sistemas ideais simples, como os usados para classificar e caracterizar as preparações enzimáticas em laboratórios de pesquisa e controle de qualidade. Trabalham de forma máxima em valores específicos de pH, temperaturas e concentrações de substrato, de acordo com regras bem estabelecidas (FIGURA 1). Em concentrações de substrato fixo, as taxas de reação enzimática dependem da concentração da enzima, dependendo da eficiência de volume da preparação enzimática específica. Os perfis de temperatura e pH derivados de condições de teste simples são geralmente aplicáveis em ambientes alimentícios complexos porque são dependentes das propriedades moleculares da proteína da enzima em si e não das propriedades do substrato (Food Ingredientes Brasil, 2011). Figura 1: Efeito do pH, temperatura, concentração da enzima e concentração do substrato sobre a taxa inicial de reações catalisadas por enzimas em solução. Figure 1: Effect of pH , temperature , enzyme concentration and substrate concentration on the initial rate of enzyme catalyzed reactions in solution. Fonte: Adaptado de Food Ingredients Brasil, 2011. A definição da relação entre a quantidade de abacaxi a ser utilizado para a quantidade de carne a ser preparada é resultado de observações e avaliações feitas, para que a mesma não se desmanche. É oriundo também a seleção dos cortes de carnes, no qual através das características visuais, é aplicado a solução de abacaxi apenas nos cortes mais duros, como DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins – V. 2 – n. 01. p. 160-174, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p160 [171] coxão duro, paleta, tatu, uma vez que se for aplicado em cortes macios eles irão se desmanchar (RIEKES, 2004). CONSIDERAÇÕES FINAIS É conciso que o entendimento da presença e da ação de enzimas apresenta-se como ferramenta importante para o entendimento dos mecanismos que condicionam a qualidade da carne. Diversos fatores influenciam neste parâmetro, tanto no pré-abate como no pós-morte, o que pode provocar variação na maciez. Diante disso, tem-se que mecanismos como os amaciantes cárneos são eficientes e capazes de melhorar este atributo, sendo auxiliares na obtenção organoléptica de maior influência na carne, a maciez,apresentando vantagens de serem facilmente encontrados tanto em escala industrial e natural, constituindo um custo relativamente baixo. É certo ressaltar que o mercado varejista atual, vem se policiando com o tipo de produto que compra e que vende, pois o consumidor de hoje mostra-se mais exigente em relação a quantidade e qualidade do produto que está consumindo. REFERÊNCIAS ALVES, D. D.; GOES B. T. H. R.; M. MANCIO B. A. 2005. Maciez bovina da carne. Revista Ciência Animal Brasileira, 6 (3): 135-149. ANUALPEC. 2004. Anuário da pecuária brasileira. Disponível em: http://www.informaecon- fnp.com/publicacoes/anuarios/anualpec. Acesso em: 14/03/2015. BALDINI, V.L.S.; IADEROZA, M.; FERREIRA, E.A.H.; SALES, A.M.; DRAETTA, I.S.; GIACOMELLI, E.J. 1993. 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Amanda Rodrigues Maciel Acadêmica do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da área de Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: amanda-maciel@outlook.com Iasmin Souza Silva Acadêmica do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da área de Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: iasminsouza.work@gmail.com Endereço: Universidade do Estado do Pará, Centro de Ciências Naturais e Tecnologia- CCNT. Travessa Enéas Pinheiro, 2626, Marco CEP: 66095100 - Belem, PA - Brasil Izabel Bastos Pereira Neta Acadêmica do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da área de Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: izabelbastos@gmail.com Endereço: Universidade do Estado do Pará, Centro de Ciências Naturais e Tecnologia- CCNT. Travessa Enéas Pinheiro, 2626, Marco CEP: 66095100 - Belem, PA - Brasil Naylla Raiane Silva Rocha Acadêmica do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da áreade Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: anny_nota_10@hotmail.com Endereço: Universidade do Estado do Pará, Centro de Ciências Naturais e Tecnologia- CCNT. Travessa Enéas Pinheiro, 2626, Marco CEP: 66095100 - Belem, PA - Brasil Ranielle Nascimento Silva Acadêmica do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da área de Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: ranny_silva@hotmail.com Endereço: Universidade do Estado do Pará, Centro de Ciências Naturais e Tecnologia- CCNT. Travessa Enéas Pinheiro, 2626, Marco CEP: 66095100 - Belem, PA - Brasil Vitória Nazaré Costa Seixas Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) em 2014; mestre em Ciência Animal pela Universidade Federal do Pará (2006) e especialista em Processamento e controle de qualidade em carne, leite e ovos pela Universidade Federal de Lavras (2007). Atualmente é professora da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins – V. 2 – n. 01. p. 160-174, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p160 [174] médico veterinário - Secretaria Executiva de Saúde Pública(SESPA), atuando em Vigilância Sanitária de alimentos. E-mail: medicavet13@yahoo.com.br Endereço: Universidade do Estado do Pará, Centro de Ciências Naturais e Tecnologia- CCNT. Travessa Enéas Pinheiro, 2626, Marco CEP: 66095100 - Belem, PA - Brasil
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