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DISCIPLINA DE IMUNOLOGIA CLÍNICA II/2013 Profª MSc Bruna Comparsi CASO CLÍNICO – Transplante renal devido a complicações do diabete melito dependente de insulina Manoel era filho único. Seu crescimento e desenvolvimento foram normais. quando tinha 12 anos, começou a perder peso e desenvolver uma sede enorme que o fazia consumir 3 litros de líquido/dia. A sede e consumo excessivo de líquido foram acompanhados por micção frequente. Ele foi levado ao médico da família, que diagnosticou diabete melito. Descobriu-se que vários parentes do pai de Manoel também tinham desenvolvido surtos de diabete juvenil. Manoel começou a receber injeções diárias de insulina, mas sempre foi difícil controlar sua glicose sanguínea. Apesar dessa deficiência, Manoel continuava bem na escola e acabou entrando na faculdade. Logo após sua formatura, ele conseguiu um emprego e casou-se. Aos 35 anos, durante um exame físico de rotina, seu médico observou que sua pressão sanguínea estava elevada e que sua urina estava positiva para presença de proteínas. A creatinina era de 7,5 mg/dl (normal: <1,0 mg/dl). Com base nesses resultados, o médico de Manoel suspeitou que ele havia desenvolvido complicações renais decorrentes do diabete. O médico prescreveu drogas para controlar a pressão sanguínea e pediu uma biopsia de rim. A biopsia, que envolve a retirada de uma pequena amostra de tecido, mostrou extensa glomeruloesclerose diabética (dano nos glomérulos por tecido fibroso), mostrando que Manoel estava em risco iminente de falha renal. Foi então marcada hemodiálise duas vezes por semana. Ele também foi colocado na lista de espera para transplante renal cadavérico. O tipo sanguíneo de Manoel era B, Rh positivo. Seu tipo de HLA era A2, 24; B50, 51; DR3,4. Após um período de espera de seis meses, durante o qual ele continuou a hemodiálise, um rim cadavérico foi obtido de um homem de 20 anos que sofreu um acidente fatal. O doador era do grupo sanguíneo B e Rh positivo. Somente a tipagem do HLA-A e HLA-B do doador esta disponível. Ele tinha HLA-A2, 11; B7, 35. O soro de Manoel foi testado para anticorpos contra os leucócitos do doador potencial e mostrou não ser reativo. Manoel foi para o hospital e, na manhã seguinte, seus rins foram removidos por um cirurgião e substituídos pelos do doador. Durante o procedimento, Manoel recebeu 100 mg de metilprednisolona e 40 mg de anticorpos monoconal anti-ICAM. Durante o primeiro dia após a cirurgia, o rim transplantado expelia 200 mL de urina. Isso é cerca de um quinto da produção de uma pessoa saudável, mas comum para pessoas, recém transplantadas, mostrando que o órgão estava ativo. Ele recebeu 450 mg de ciclosporina, 100 mg de azatioprina, 160 mg de metilprednisolona e 40 mg de anticorpos anti-ICAM. A creatinina sérica voltou ao normal durante os 5 dias seguintes. Após o 5º dia, a administração de anticorpos anti-ICAM foi interrompida e Manoel continuou recebendo 100 mg de azatiprina, 400 mg de ciclosporina e 20 mg de prednisona. Manoel recebeu alta 10 dias após o transplante. Sua pressão sanguínea e creatinina sérica eram normais. o transplante parecia normal pela ultra-sonografia. Uma semana após a alta, Manoel notou que a quantidade de urina havia diminuído para cerca de metade do normal. Quando ele voltou ao hospital, os níveis de creatinina haviam aumentando para 2,5 mg/dl e o enxerto estava aumentado e macio. Uma biópsia renal revelou a presença de muitos linfócitos no transplante comparada com um rim normal, indicando que o rim estava sofrendo rejeição. A terapia imunossupressora foi aumentada para 500 mg de metilpredisonolona intravenosa, a ciclosporina foi continuada e as injeções intravenosas de 5 mg de anticorpo monoclonal contra CD3 foram administradas por 10 dias. Após este tratamento, seu sangue periférico continha 15 % de céls CD3+. Este regime de imunossupressão suprimiu com sucesso os sintomas de Manoel, que continuou bem por 6 semanas. Após, enquanto se recuperava na casa de seus pais, Manoel apresentou febre e uma tosse severa que produzia uma escarro espesso e amarelo. Seu médico foi chamado e, uma amostra do escarro foi testada para Mycobacterium tuberculosis, a qual não foi detectada, e para bactérias gram-negativas e gram-positivas, as quais estavam presentes mas esparsas, o que é normal. A coloração de prata para Pneumocystis carinii também foi negativa. Culturas de Aspergillus fumigatus foram obtidas da amostra de seu escarro. Ele foi tratado com anfotericina B e se recuperou. Um ano após o transplante, Manoel voltou ao trabalho. Sua pressão sanguínea permanecia normal, sua creatinina sérica era de <1,0 mg/dl e ele continua recebendo baixas doses de azatioprina, prednisona e ciclosporina. Questões e discussão 1) Por que Manoel desenvolveu uma infecção oportunista por Aspergillus fumigatus? 2) Como age a ciclosporina A? 3) Quando o enxerto sofreu rejeição de primeira fase, ele ficou inchado e macio. Como você explica isso? O que seria rejeição de segunda fase? 4) Por que se considerou mais importante estabelecer a compatibilidade do grupo sanguíneo do doador potencial com o de Manoel e garantir que ele não teria anticorpos citotóxicos contra o doador do que se preocupar com a compatibilidade completa do HLA? 5) Vários membros da família paterna de Manoel também tiveram diabete juvenil. Por quê? 6) Como fatores ambientes contribuem para o desenvolvimento do diabete melito dependente de insulina? Material complementar: VAZ, A; TAKEI, K; BUENO, E C. Imunoensaios: fundamentos e aplicações. p. 288-293. Disponível no xerox.
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