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Lei de Combate as Organizações Criminosas

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BREVES COMENTÁRIOS 
À LEI DE COMBATE 
ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
(LEI Nº 12.850/2013) 
2 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Sumário 
I - TIPO PENAL DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA....................................................3 
II - DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DA PROVA..........................9 
III - DA COLABORAÇÃO PREMIADA....................................................................10 
IV - DA AÇÃO CONTROLADA..............................................................................20 
V - DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES......................................................................25 
VI - DO ACESSO A REGISTROS, DADOS, DOCUMENTOSE INFORMAÇÕES.........29 
VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................31 
BIBLIOGRAFIA....................................................................................................32 
 
3 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
BREVES COMENTÁRIOS À LEI DE COMBATE 
ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS (LEI Nº 12.850/2013) 
 
I - TIPO PENAL DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA 
 
Evolução legislativa e conceito legal de organização criminosa 
 
 Em 1995, o Congresso Nacional editou a Lei 9.034, dispondo sobre “a utilização 
de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações 
criminosas”. Todavia, referida lei não definiu o que viria a ser organização criminosa. Ou seja, 
apesar de trazer instrumentos para o combate às organizações criminosas, o objeto da lei 
continuou sem definição. Diante deste vácuo legislativo, parcela da doutrina e jurisprudência 
se valeu da definição trazida pela Convenção de Palermo, que trata da criminalidade 
organizada transnacional. 
 
 Contudo, o STF, no julgamento do Habeas Corpus 96007, envolvendo a 
lavagem de dinheiro por meio de uma organização criminosa, entendeu pela atipicidade do 
crime antecedente de organização criminosa, por ausência de definição na legislação penal 
brasileira. Entendeu a Suprema Corte que a Convenção de Palermo não poderia ser utilizada 
para suprir a omissão legislativa quanto à definição jurídica de organização criminosa. Seria 
“acrescentar à norma penal elementos inexistentes, o que seria uma intolerável tentativa de 
substituir o legislador, que não se expressou nesse sentido”. 
 
 Em seguida, veio a Lei 12.694/2012, trazendo o julgamento colegiado em 
primeiro grau de jurisdição e definindo organização criminosa para o Direito Penal Interno, 
em seu art. 2º, da seguinte forma: “para os efeitos desta Lei, considera-se organização 
criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e 
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta 
ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena 
máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional”. 
 
 Finalmente, em 2013, veio a Lei 12.850, redefinindo organização criminosa e 
dispondo sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais 
correlatas, o procedimento criminal a ser aplicado, revogando ainda expressamente a Lei 
9.034/95. 
 
 De acordo com o art. 1º, § 1º, desta norma, “considera-se organização 
criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e 
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta 
ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais 
 
 
 
 
 
 
 
4 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter 
transnacional”. 
 Analisando as definições trazidas pelo legislador brasileiro, verifica-se 
que as grandes mudanças entre os conceitos trazidos pela Lei 12.694/2012 e 
12.850/2013 são: o primeiro conceito exige o mínimo de 3 (três) associados, 
enquanto o segundo exige o mínimo de 4 (quatro) pessoas; a definição de 2012 fala 
de “prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos”, já a 
nova definição afirma “prática de infrações penais cujas penas máximas sejam 
superiores a 4 (quatro) anos”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ATENÇÃO: as Leis 12.694/12 e 12.850/2013 atualmente coexistem, tendo sido a 
primeira revogada tacitamente apenas no que se refere ao conceito de organização 
criminosa. 
 
Aplicabilidade por extensão 
 
 Embora esta a Lei 12.850/2013 tenha sido editada para tipificar 
organização criminosa, regulando o procedimento de sua apuração, o legislador 
optou também por estender a aplicação dos seus institutos (ação controlada, 
infiltração de agentes, colaboração premiada etc.) a outras infrações penais, 
consideradas de elevada danosidade social. Daí o art. 1º, § 2º definir que esta lei 
também se aplica: 
 
 
 
 
 
 
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA 
EVOLUÇÃO CONCEITUAL 
CONVENÇÃO DE PALERMO LEI 12.694/2012 LEI 12.850/2013 
grupo estruturado de três ou 
mais pessoas 
associação, de 3 (três) ou mais 
pessoas 
Associação de 4 (quatro) ou 
mais pessoas 
existente há algum tempo e 
atuando concertadamente 
estruturalmente ordenada e 
caracterizada pela divisão de 
tarefas, ainda que 
informalmente 
Estruturalmente ordenada e 
caracterizada pela divisão de 
tarefas, ainda que 
informalmente 
com a intenção de obter, 
direta ou indiretamente, um 
benefício econômico ou outro 
benefício material 
com objetivo de obter, direta 
ou indiretamente, vantagem 
de qualquer natureza 
Com objetivo de obter, direta 
ou indiretamente, vantagem 
de qualquer natureza 
com o propósito de cometer 
uma ou mais infrações graves 
ou enunciadas na Convenção 
mediante a prática de crimes 
cuja pena máxima seja igual ou 
superior a 4 (quatro) anos ou 
que sejam de caráter 
transnacional 
mediante a prática de 
infrações penais cujas penas 
máximas sejam superiores a 4 
(quatro) anos, ou que sejam de 
caráter transnacional 
5 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, 
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no 
estrangeiro, ou reciprocamente; 
 
II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática 
dos atos de terrorismo legalmente definidos (alteração esta trazida pela Lei 
13.260/2016, conhecida como Lei Antiterrorismo). 
 
Da criminalização da organização criminosa 
 
 Embora a Lei 12.694/2012 tenha trazido para o Direito Penal Interno o 
conceito de organização criminosa, apenas com a Lei 12.850/2013 a promoção, 
constituição financiamento ou a integração à organização criminosa passou a ser 
crime autônomo. De acordo com o art. 2º da lei em comento, constitui crime: 
 
Art. 2o Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, 
organização criminosa: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às 
demais infrações penais praticadas. 
 
 Ou seja, este dispositivo pune a organização criminosa, cuja definição 
encontra-se no já referido art. 1º, § 1º. Com a Lei 12.850/2013, a figura da 
organização criminosa deixou de ser apenas uma forma de se praticar crime para se 
tornar delito autônomo, com pena de reclusão de três a oito anos. Está-se diante de 
novatio legis incriminadora irretroativa, não podendo alcançar, portanto, fatos 
pretéritos. 
 
Partindo do conceito do art. 1º, § 1º, pode-se afirmar que, além da pluralidade de 
agentes, o tipo penal demanda estabilidade e permanência. Ausentes taisrequisitos, 
pode-se estar diante de um mero concurso de pessoas. 
 
Sujeito ativo: qualquer pessoa, desde que se identifique, no mínimo, quatro pessoas 
(crime de concurso necessário). 
Obs.: esse número mínimo de 4 associados pode ser constituído, inclusive, por 
inimputáveis, bem como associados não identificados, bastando haver provas de que 
naquela organização havia, no mínimo, 4 pessoas. 
 
Sujeito passivo: é a sociedade. Está-se diante de um crime vago (ou de vitimização 
difusa). 
 
 
 
 
 
6 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Bem jurídico tutelado: a paz pública 
 
Elemento subjetivo: delito doloso (não admite forma culposa). 
 
Classificação: crime comum (qualquer pessoa pode praticar); formal (não exige a 
consumação de qualquer resultado naturalístico); de forma livre; comissivo; misto 
alternativo (pode o agente praticar uma ou mais conduta das previstas que ainda assim 
configura apenas um crime); permanente, cuja consumação se prolonga no tempo enquanto 
perdurar a organização; de perigo abstrato (potencialidade lesiva presumida por lei); 
plurissubjetivo (demanda várias pessoas para sua concretização); plurissubsistente 
(praticado em vários atos). 
 
Consumação e tentativa: tratando-se de delito formal, consuma-se com o ato de promover, 
constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização 
criminosa. Não admite tentativa. Por se tratar de delito permanente, cuja consumação se 
prolonga no tempo, cabe flagrante enquanto não desfeita a associação. 
ATENÇÃO: por ser delito autônomo, a punição da organização criminosa independe da 
prática de qualquer outro crime por parte de seus membros. Caso pratiquem crimes, ocorre 
concurso material (art. 69, CP), cumulando-se as penas. 
 
Obstrução ou embaraço de investigação de infração penal referente à organização 
criminosa 
 
Art. 2º, § 1º, “Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a 
investigação de infração penal que envolva organização criminosa”. 
 
 Pratica este crime pessoa que não pertença à organização criminosa, mas que, 
de qualquer forma, passa a embaraçar a investigação de uma organização criminosa ou 
crime por ela praticado. 
 
Majorante do emprego de arma de fogo 
 
Art. 2º, § 2o “As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização criminosa 
houver emprego de arma de fogo”. 
 
 Logo, não se aplica esta majorante para o uso de qualquer arma, mas apenas 
armas de fogo. Ademais, de acordo com os tribunais superiores, é dispensável a apreensão 
da arma, bastando apenas a prova inequívoca de sua utilização. 
 
7 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Agravante referente ao comando da organização criminosa 
 
Art. 2º, § 3o “A pena é agravada para quem exerce o comando, 
individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique 
pessoalmente atos de execução”. 
 
 Sobre esta agravante, Sanini (2014) afirma que 
 
“(...) está aí mais uma clara influência da teoria do domínio do fato, pois, 
nos seus termos, autor é não só quem executa a ação típica (autoria 
imediata), como também aquele que tem o poder de decisão sobre a 
realização do fato. Aliás, o dispositivo em questão foi além, punindo de 
maneira mais severa a conduta daquele que exerce o comando da 
organização criminosa”. 
 
Demais causas de aumento de pena 
 
“Art. 2º, § 4o A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): 
I - se há participação de criança ou adolescente; 
II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização 
criminosa dessa condição para a prática de infração penal; 
III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em 
parte, ao exterior; 
IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações 
criminosas independentes; 
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da 
organização”. 
 
 Sobre a causa de aumento de pena prevista no inciso V (transnacionalidade da 
organização), afirma Nucci (2014) ser “inaplicável, evitando-se o bis in idem, quando se 
tratar de organização transnacional. Afinal, a transnacionalidade é elementar do tipo 
incriminador (art. 2.º, caput, c.c. o art. 1.º, § 1.º., da Lei 12.850/2013)”. 
 
Afastamento cautelar do servidor público de suas funções 
 
Art. 5º, § 5o Se houver indícios suficientes de que o funcionário público 
integra organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento 
cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, 
quando a medida se fizer necessária à investigação ou instrução 
processual. 
 
 
8 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
 Este parágrafo apenas reforça o disposto no art. 319, VI, CPP, que já previa 
como medida cautelar diversa da prisão a “suspensão do exercício de função pública ou de 
atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização 
para a prática de infrações penais”. Tal medida pressupõe o binômio das cautelares, qual 
seja, a presença do fumus boni juris e o periculum in mora. 
 
Perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e interdição para o exercício de 
função ou cargo público 
 
Art. 5º, § 6o A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário público a perda do 
cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo 
público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena. 
 
 Trata-se de efeito automático da condenação, imposto por força de lei. Logo, 
independe de imposição expressa do magistrado na decisão condenatória. 
 
Da investigação de policiais envolvidos com organização criminosa 
 
Art. 2º, § 7o Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata esta Lei, a 
Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que 
designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão. 
 
 Logo, quem investiga agente policial, de acordo com esta disposição legal, é a 
própria Polícia, sob fiscalização do Ministério Público. Trata-se de desdobramento do 
controle externo da atividade policial exercido pelo MP. Este dispositivo visa a garantir a 
eficiência das investigações, impedindo-se omissões decorrentes de corporativismos. 
 
Organização criminosa x associação criminosa 
 
 Além de trazer nova definição para organização criminosa, a Lei 12.850/2013 
alterou ainda o art. 288 do CP, excluindo a denominação “quadrilha ou bando”, passando o 
tipo a se chamar “associação criminosa”. Segue quadro comparativo entre organização 
criminosa e a figura da associação criminosa: 
 
 
9 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Obs.: além dos dispositivos citados, a lei 12.850/13 criou ainda outros novos tipos penais, 
em especial, buscando resguardar a eficiência dos meios extraordinários de obtenção de 
prova (Art. 18. Revelar a identidade, fotografar ou filmar o colaborador, sem sua prévia 
autorização por escrito; Art. 19. Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a 
Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações 
sobre a estrutura de organização criminosa que sabe inverídicas; Art. 20. Descumprir 
determinação de sigilo das investigações que envolvam a ação controlada e a infiltração de 
agentes; Art. 21. Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e informações 
requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou delegado de polícia, no curso de investigação ou 
do processo...). 
 
II - DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DA PROVA 
 
 O art. 3º da Lei 12.850/2013 traz um rol de meios de obtenção de provas que 
poderão ser utilizados no curso da persecução penal(fase investigatória e processual), sem 
prejuízo de outros já previstos em lei. Tais meios de prova podem ser utilizados tanto para 
investigar a organização criminosa em si como também para as infrações penais dela 
decorrentes. Segue o rol previsto pela lei: 
 
I - colaboração premiada; 
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos; 
III - ação controlada; 
IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais 
constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou 
comerciais; 
V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação 
específica; 
 
 
 
QUADRO COMPARATIVO 
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA 
 
- 4 ou mais pessoas 
 
- exige estabilidade e permanência 
 
- exige divisão de tarefas e estrutura ordenada 
 
- visa a prática de infrações penais com pena 
superior a 4 anos ou caráter transnacional 
 
- visa vantagem de qualquer natureza 
 
 
- 3 ou mais pessoas 
 
- exige estabilidade e permanência 
 
- dispensa divisão de tarefas e estrutura 
ordenada 
 
- fim específico de cometer crimes 
 
 
 
10 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação 
específica; 
VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11; 
VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais 
na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução 
criminal. 
 
 Observa-se que os meios de provas elencados no art. 3º já existiam. A grande 
novidade da Lei 12.850/213, então, não foi a criação destes meios, mas sim regulamentá-
los. Muitos aspectos que antes eram discutidos apenas em sede doutrinária e 
jurisprudencial foram, enfim, regulamentadas pelo Congresso Nacional. A seguir, uma 
síntese destas novidades. 
 
III - DA COLABORAÇÃO PREMIADA 
 
Conceito 
 
 Colaboração é uma técnica especial de investigação através da qual o coautor 
ou partícipe da infração penal presta auxílio, colabora trazendo dados desconhecidos e de 
importância para as investigações, buscando uma vantagem ou recompensa. A Lei 
12.850/2013 utiliza o termo colaboração premiada, embora a expressão mais comumente 
utilizada até então seja delação premiada. Parte da doutrina defende que colaboração 
premiada seria gênero, ao passo que delação premiada seria uma das espécies de 
colaboração. Isto porque, quando se fala em delação, obrigatoriamente, o agente delataria 
os demais coautores ou partícipes. Mas não é o que sempre ocorre. Num crime de lavagem 
de capitais, por exemplo, o interesse pode não ser em descobrir os demais coautores, mas 
sim a localização do produto do crime, como dinheiro desviado para contas no exterior. 
 
Previsão legal 
 
 Alguns doutrinadores defendem que o nosso Código Penal, desde a reforma da 
parte geral de 1984, já traria alguns instrumentos de delação premiada, como a atenuante 
prevista no art. 65, III, b, e os institutos do arrependimento eficaz e arrependimento 
posterior, previstos, respectivamente, nos arts. 15 e 16. Porém, a primeira lei que tratou da 
colaboração premiada expressamente foi a Lei dos Crimes Hediondos, no ano de 1990 (Lei n. 
8.072/90). O instituto, com o passar dos anos, acabou ganhando espaço no ordenamento 
jurídico brasileiro, estando previsto, atualmente, em diversas outras leis, como o art. 159, § 
4º, do Código Penal; arts. 13 e 14 da Lei de Proteção às Testemunhas(Lei 9.807/99); art. 16 
da Lei dos Crimes Contra a Ordem Tributária, Econômica e Contra as Relações de Consumo 
(Lei 8.137/90); art. 25, § 2º da Lei dos Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei 
7.492/86); art. 1º, § 5º da Lei de Lavagem de Capitais (Lei 9613/98); art. 41 da Lei de 
Drogas (Lei 11.343/06); art. 87 da Lei do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência(Lei 
12.529/11); bem como na Lei 13.850/2013, ora objeto de estudo. 
 
 
11 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
COLABORAÇÃO PREMIADA / DELAÇÃO PREMIADA 
QUADRO COMPARATIVO 
PREVISÃO 
LEGAL 
CRIMES REQUISITOS PREVISTOS EM LEI PRÊMIO 
- art. 159, § 
4º, Código 
Penal 
- crime de 
extorsão 
mediante 
sequestro 
- denúncia facilitando a libertação do 
sequestrado 
- diminuição de um a dois 
terços 
- art. 8º, PU, da 
Lei de Crimes 
Hediondos Lei 
8.072/90 
- associação 
criminosa que 
pratica crime 
hediondo ou 
equiparado 
- denúncia da associação criminosa, 
possibilitando o desmantelamento 
Obs.: lei fala em “bando ou quadrilha”, mas, 
segundo a doutrina, deve-se entender 
atualmente como “associação criminosa” 
- diminuição de um a dois 
terços 
- arts. 13e 14 
da Lei de 
Proteção às 
Testemunhas 
Lei 9.807/99 
- qualquer 
crime 
 
- réu primário (para concessão do perdão 
judicial) 
- colaboração efetiva e voluntária 
- identificação de coautores ou partícipes 
- localização da vítima com integridade física 
preservada (para perdão judicial) ou com 
vida (para a redução da pena) 
- recuperação total ou parcial do produto do 
crime 
- consideração das circunstâncias subjetivas 
para o perdão judicial (personalidade do 
beneficiado e a natureza, circunstâncias, 
gravidade e repercussão social do fato 
criminoso) 
- perdão judicial (extinção 
da punibilidade) 
- redução de um a dois 
terços da pena 
- art. 4º a 7º da 
Lei das 
Organizações 
Criminosa 
Lei 12.850/13 
- crime de 
organização 
criminosa e os 
delitos por ela 
praticados 
- colaboração efetiva e voluntária 
- a identificação dos demais coautores e 
partícipes da organização criminosa e das 
infrações penais por eles praticadas 
- a revelação da estrutura hierárquica e da 
divisão de tarefas da organização criminosa 
- a prevenção de infrações penais 
decorrentes das atividades da organização 
criminosa 
- a recuperação total ou parcial do produto 
ou do proveito das infrações penais 
praticadas pela organização criminosa 
- a localização de eventual vítima com a sua 
integridade física preservada 
- análise das circunstâncias subjetivas 
(personalidade, natureza, circunstâncias, 
gravidade e repercussão social). 
- perdão judicial 
- redução em até 2/3 da 
PPL 
- substituição da PPL por 
PRD 
- não oferecimento da 
denúncia pelo MP se o 
colaborador: a) não for o 
líder da organização 
criminosa; b) for o 
primeiro a prestar efetiva 
colaboração (obs.: tema 
divergente se seria um 
“prêmio” ou apenas um 
não oferecimento 
temporário) 
- se a colaboração for 
depois da sentença: 
redução da pena até a 
metade ou progressão de 
regime, ainda que 
ausentes os requisitos 
objetivos 
12 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
- art. 16 da Lei 
dos Crimes 
Contra a Ordem 
Tributária, 
Econômica e c/ 
Relações de 
Consumo 
 Lei 8.137/90 
- crimes contra 
a ordem 
tributária, 
econômica e 
contra as 
relações de 
consumo 
 
- confissão espontânea revelando à 
autoridade policial ou judicial toda a trama 
delituosa 
- diminuição de um a dois 
terços da pena 
- art. 25, § 2º 
da Lei dos 
Crimes Contra o 
Sistema 
Financeiro 
Nacional 
 Lei 7.492/86 
 
- crimes contra 
o sistema 
financeiro 
nacional 
- confissão espontânea, revelando à 
autoridade policial ou judicial toda a trama 
delituosa 
- diminuição de pena de 
um a dois terços 
- art. 1º, § 5º 
da Lei de 
Lavagem de 
Capitais 
Lei 9613/98 
- crime de 
lavagem de 
capitais 
- colaboração espontânea 
 
- apuração das infrações penais 
 
- identificação dos autores, coautores e 
partícipes ou- localização dos bens, direitos ou valores 
objeto do crime 
 
- diminuição de pena de 
um a dois terços 
 
- cumprimento da pena 
em regime aberto ou 
semiaberto 
 
- não aplicação da pena 
(perdão judicial) 
 
- substituição da PPL por 
PRD 
- art. 41 da Lei 
de Drogas 
Lei 11.343/06 
- crimes da lei 
de drogas 
- colaboração voluntária 
 
- identificação dos demais coautores ou 
partícipes 
 
- recuperação total ou parcial do produto do 
crime 
- diminuição de um a dois 
terços da pena 
- art. 87 da Lei 
do Sistema 
Brasileiro de 
Defesa da 
Concorrência 
Lei 12.529/11 
 
- crimes contra 
a ordem 
econômica e 
nos demais 
crimes 
diretamente 
relacionados à 
prática de cartel 
- celebração de acordo de leniência, com 
diversos requisitos, dentre eles: 
 
- colaboração efetiva 
 
- identificação dos demais envolvidos 
 
- obtenção de informações e documentos 
que comprovem a infração 
 - cumprido o acordo de 
leniência pelo agente, 
extingue-se 
automaticamente a 
punibilidade dos crimes 
13 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Prós e contras da colaboração premiada 
 
 Dentre os pontos negativos trazidos pela doutrina, destacam-se os seguintes: a 
colaboração premiada seria um procedimento antiético, imoral, e, portanto, incompatível 
com o Estado Democrático de Direito, que estaria incentivando e premiando a traição. 
Ademais, feriria a proporcionalidade da pena, por possibilitar que o delator receba uma 
pena menor que os delatados, apesar de terem praticado condutas de similar gravidade. 
Além disso, traição, como regra, serve para agravar ou qualificar práticas delitivas, o que 
seria um contra-senso utilizá-la como prêmio legal. O instituto estimularia também 
vinganças pessoais e delações falsas. 
 Rebatendo as críticas, os defensores do instituto argumentam, dentre outras 
coisas, que no universo criminoso não se pode falar em ética ou valores moralmente 
elevados, dada a própria essência das organizações criminosas, que atuam desrespeitando 
as normas vigentes, ferindo bens juridicamente protegidos pelo Estado. A “traição”, aqui, 
teria bons propósitos, agindo contra o delito e em favor do Estado Democrático de Direito. 
Ressalte-se, ainda, que o delator, ao colaborar com o Estado, demonstraria menor grau de 
culpabilidade (juízo de reprovação social), sendo justificável uma reprimenda menos grave. 
Caso ocorram falsas delações, estas devem ser punidas severamente. 
 
Requisitos legais 
 
 Para a concessão dos benefícios da delação premiada, é necessário que o 
agente tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo 
criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: 
 
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das 
infrações penais por eles praticadas; 
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização 
criminosa; 
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização 
criminosa; 
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais 
praticadas pela organização criminosa; 
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. 
 
 A lei estipula ainda que a concessão do benefício levará em conta a 
personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão 
social do fato criminoso e a eficácia da colaboração. 
 
Obs.: voluntariedade significa agir livre de qualquer coação física ou moral, embora não seja 
necessária a espontaneidade. 
14 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Obs.2: colaboração com a investigação e com o processo criminal? A princípio, haveria 
cumulatividade, cabendo ao delator cooperar tanto na fase investigativa quanto no 
processo, tal como ocorre com a confissão, vez que de nada adiantaria apontar cúmplices 
durante o inquérito para, depois retratar-se em juízo. De acordo com Nucci (2014), “A 
cumulação é razoável. Entretanto, se o investigado não colabora durante a investigação, mas 
o faz na fase processual, pode-se acolher a delação premiada, dispensando-se a 
cumulatividade”. 
 
Possibilidades de prêmios advindos da colaboração 
 
 Havendo colaboração premiada, o juiz pode tomar uma das seguintes medidas 
(art. 4º, caput): 
a) conceder o perdão judicial, com a conseqüente extinção da punibilidade 
b) condenar o réu, porém, reduzindo a pena em até 2/3 
c) substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos do art. 43 do CP 
Se a colaboração for depois da sentença, caberá: 
a) redução da pena até a metade ou 
b) progressão de regime, ainda que ausentes os requisitos objetivos. 
 
 Sobre o perdão judicial, se a colaboração prestada for muito relevante, o MP 
ou o Delegado de Polícia poderão se manifestar pedindo ao juiz a concessão do perdão 
judicial ao colaborador, com a consequente extinção da punibilidade. É o que se extrai do 
art. 4º, § 2º da Lei 12.850/2013, segundo o qual: 
 
Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e 
o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério 
Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao 
colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-
se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de 
Processo Penal). 
 
Não oferecimento da denúncia 
 
 Prevê o parágrafo § 4º do art. 4º que o Ministério Público, quando presentes 
as hipóteses do caput (colaboração efetiva e voluntária com um ou mais resultados dos 
incisos), poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador: a) não for o líder da 
organização criminosa; e b) for o primeiro a prestar real cooperação. Sobre a questão, 
indaga-se: deixar de oferecer a denúncia por quanto tempo? Indefinidamente? 
-> 1º corrente – parte da doutrina, como Renato Brasileiro (2014, p. 529), defende que o 
Ministério Público pode deixar de oferecer a denúncia em relação ao colaborador de forma 
definitiva, pedindo o arquivamento das investigações em relação a ele. . Haveria aqui mais 
uma exceção ao princípio da obrigatoriedade. Aplicar-se-ia o mesmo raciocínio do art. 87 da 
 
 
15 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Lei do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (Lei 12.529/2011), em que a celebração 
do acordo suspenderia o prazo prescricional e impediria o oferecimento da denúncia, e que, 
uma vez cumprido o acordo, extinguir-se-ia a punibilidade do agente. 
 
-> 2ª corrente – segundo Nucci (2014), o não oferecimento da denúncia não seria 
permanente e não equivaleria ao arquivamento, vez que toda colaboração somente recebe 
o prêmio, seja ele qual for, passando por juiz. Além disso, o arquivamento, puro e simples, 
não fornece nenhuma segurança ao delator, que poderá ser chamado a depor e não poderá 
recusar-se, nem invocar medidas de proteção. Há um termo de acordo de colaboração 
premiada a ser feito por escrito e a ser devidamente homologado pelo juiz, que deve avaliar 
a sua regularidade, legalidade e voluntariedade. Ademais, segundo se sabe, o arquivamento 
pode provocar processo-crime posteriormente, desde que surjam provas novas. Nucci 
defende a aplicação do prazo previsto no § 3º para o não oferecimento da denúncia, ou 
seja, de até seis meses, prorrogáveis por igual prazo. 
 
Suspensão do prazo para oferecimento da denúncia ou processo 
 
 Durante as investigações, é possível que a colaboração do delator dependa de 
mais dados ou informes, até que seja possível solicitar ao juiz o prêmio. Em razão disso, a lei 
autoriza a suspensão por até seis meses, prorrogáveis por igual período, do prazo para 
oferecimentoda denúncia ou do processo, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional 
(art. 4.º, § 3.º, da Lei 12.850/2013). 
 
Quem realiza as negociações? 
 
 Segundo a letra da lei, realizam negociação o delegado, o investigado e o seu 
defensor, contando com a manifestação do Ministério Público; ou o Ministério Público, o 
investigado (ou acusado) e seu defensor (art. 4.º, § 6.º). Efetivado o acordo, lavra-se o 
termo por escrito, nos termos do art. 6.º da Lei 12.850/2013. 
 
ADI 5508 e a legitimidade do delegado de realizar acordo de colaboração premiada 
 
 A ADI 5508, ajuizada no STF pelo Procurador Geral da República, Rodrigo 
Janot, questiona a legitimidade do delegado para realizar acordos de colaboração premiada. 
No mérito, a ADI pede a declaração de inconstitucionalidade dos trechos questionados 
(parágrafos 2º e 6º do art. 4º da Lei 12.850/2013) ou, sucessivamente, que seja dada 
interpretação conforme a Constituição, a fim de considerar indispensáveis a presença do 
Ministério Público em todas as fases de elaboração de acordos de colaboração premiada e 
sua manifestação como de caráter obrigatório e vinculante. 
 
16 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REALIZAÇÃO DE ACORDOS DE DELAÇÃO PREMIADA E A LEGITIMIDADE DO DELEGADO DE 
POLÍCIA – ADI 5508 
PRINCIPAIS ARGUMENTOS CONTRÁRIOS À 
LEGITIMIDADE DO DELEGADO TRAZIDOS PELO 
PGR 
PRINCIPAIS ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À 
LEGITIMIDADE DO DELEGADO TRAZIDOS PELA 
AGU 
 
- os trechos impugnados da lei, ao atribuírem a 
delegados de polícia legitimidade para negociar 
acordos de colaboração premiada e propor 
diretamente ao juiz concessão de perdão 
judicial a investigado ou réu colaborador, 
contrariam os princípios do devido processo 
legal e da moralidade. 
 
 
- contrariam, ainda, a titularidade da ação penal 
pública conferida ao Ministério Público pela 
Constituição (artigo 129, inciso I), a 
exclusividade do exercício de funções do 
Ministério Público por membros legalmente 
investidos na carreira (artigo 129, parágrafo 2º, 
primeira parte) e a função constitucional da 
polícia como órgão de segurança pública (artigo 
144, especialmente parágrafos 1º e 4º). 
 
- a investigação deve ocorrer em harmonia com 
as linhas de pensamento, de elucidação e de 
estratégia firmadas pelo MP, “pois é a este que 
tocará decidir sobre propositura da ação penal e 
acompanhar todas as vicissitudes dela, até final 
julgamento”. 
 
 
 
 
– “Perfeitamente possível e constitucional, pois, 
que o delegado de polícia possa realizar 
tratativas visando à realização de acordo de 
colaboração, dando uma maior eficácia ao 
processo penal, garantindo maior celeridade à 
justiça e na consecução da verdade processual e 
no desmantelamento da criminalidade, na 
medida em que possibilita a obtenção de 
informações privilegiadas acerca de crimes com 
grande dimensão”. 
 
- “a presidência do inquérito policial é 
exclusividade da Polícia Judiciária, como não se 
cansa de afirmar a Suprema Corte, competindo 
tal presidência ao delegado de polícia. A 
legislação confere ao delegado de polícia, por 
ser o titular do inquérito policial, as ferramentas 
necessárias ao exercício dessa competência”. 
 
- “a autoridade mais indicada para saber quais 
as necessidades da investigação em 
desenvolvimento, e a utilização da colaboração 
premiada constitui um dos possíveis caminhos a 
serem trilhados na busca pela verdade e na 
formação do convencimento jurídico acerca dos 
fatos durante a investigação policial” 
 
- “a legitimidade de o delegado de polícia ao 
realizar tratativas de colaboração premiada 
desburocratiza o instituto e o torna mais ágil e 
eficaz, não importando em perdas para o Estado 
de Direito Democrático, na medida em que será 
submetida à apreciação do Ministério Público e 
à homologação pelo Poder Judiciário” 
 
17 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Momento para a celebração do acordo 
 
 Em geral, a celebração do acordo de colaboração premiada ocorre na fase 
investigatória, destinada à colheita de elementos de informação necessários para o início do 
processo. No entanto, este acordo de colaboração premiada também pode ser celebrado 
durante a fase processual. E, findada a instrução do processo-crime, permanecendo o 
acordo homologado entre delator e Estado, o juiz apreciará a sua abrangência para 
aplicação do que fora acordado (art. 4.º, § 11, da Lei 12.850/2013). 
 
 Vale ressaltar ainda que é perfeitamente possível que a colaboração premiada 
seja celebrada durante a execução penal, cabendo como prêmio, neste caso, a redução da 
pena até a metade ou a progressão de regime, ainda que ausentes os requisitos objetivos 
(art. 4º, § 6º). 
 
Atuação do juiz 
 
 O juiz deve ser imparcial. Em razão disso, a lei, corretamente, o exclui das 
negociações entre o Estado e o delator (art. 4.º, § 6.º). Porém, uma vez celebrado o 
acordo, o respectivo termo, acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da 
investigação, será remetido ao juiz para homologação, cabendo ao magistrado verificar a 
regularidade, legalidade e voluntariedade do ato, podendo para este fim, sigilosamente, 
ouvir o colaborador, na presença de seu defensor (art. 4.º, § 7.º). É possível que o juiz 
recuse a homologação do acordo, caso entenda não preenchidos os requisitos legais, ou, 
ainda, que realize uma adequação ao caso concreto (art. 4.º, § 8.º). 
 
Formalidades do acordo de colaboração premiada 
 
 As formalidades do acordo de colaboração premiada estão previstas no art. 6º 
da lei em estudo, que determina que o respectivo termo deverá ser feito por escrito e 
conter: 
 
I – o relato da colaboração e seus possíveis resultados (identificação de coautores; 
crimes cometidos; delitos a praticar etc.) - o prêmio deve ser adequado à amplitude do 
resultado 
II – as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia – como 
dito em tópico antecedente, existe uma ADI questionando a legitimidade dos 
delegados para negociar. 
III – a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor – é a prova cabal da 
voluntariedade do colaborador. 
IV – as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de polícia, 
do colaborador e de seu defensor. 
 
 
18 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
V – a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando 
necessário – são as medidas de proteção previstas na Lei de Proteção às 
Testemunhas(Lei 9.807/99) 
 
Direito ao silêncio 
 
 A lei afirma que, “Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na 
presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de 
dizer a verdade” (art. 4º, § 14.). Mas, se uma das características dos direitos fundamentais 
é a inalienabilidade, seria possível renunciar ao direito ao silêncio? Pacelli (2013) afirma que 
houve neste dispositivo ausência de técnica legislativa e que a colaboração seria um ato 
voluntário do agente, e não uma imposição legal. O ideal é pensar que o colaborador optará 
pelo não exercício do direito ao silêncio. Assim como sempre foi possível confessar, ao invés 
de se valer do direito ao silêncio, também seria possível colaborar sem que isso importasse 
em renúncia a tal direito, que, como direito fundamental, é irrenunciável. 
 
Dos direitos do colaborador 
 
 Os direitos do colaborador estão previstos no art. 5º da Lei em comento. São 
eles: 
I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica – tais medidas 
estão previstas na Lei 9.807/99 (Lei de Proteção a Testemunhas e Vítimas), 
particularmente, no disposto pelos arts. 7º,8º e 9º. 
II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados. 
III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes. 
IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados. 
V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado 
ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito - trata-se de decorrência do inciso 
II. Aliás, constitui crime tal divulgação, conforme se verifica no art. 18 desta lei. 
VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou 
condenados - evita-se, com isso, represálias contra o colaborador. Isto porque o 
delator se torna um inimigo geral dos delinqüentes, podendo ser agredido até mesmo 
morto. 
 
Do sigilo 
 
 O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo 
apenas informações que não possam identificar o colaborador e o seu objeto (art. 7º, 
caput). As informações pormenorizadas da colaboração serão dirigidas diretamente ao juiz a 
que recair a distribuição, que decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas (§ 1º). Trata-
se, porém, de prazo impróprio, ou seja, uma vez descumprido, não gera qualquer 
 
 
 
 
19 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
consequência. Porém, conforme o caso, diante da urgência, cabe ao magistrado homologar 
o mais breve possível. 
 
 Tendo em vista o sigilo das investigações e dos termos do acordo submetido à 
homologação, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado 
de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, 
no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao 
exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados 
os referentes às diligências em andamento (§ 2o). Por exemplo, uma escuta telefônica 
judicialmente autorizada, enquanto estiver em desenvolvimento, não cabe 
acompanhamento pela defesa do investigado, sob pena de se tornar inútil. 
 
 Afirma o § 3º do art. 7º que “o acordo de colaboração premiada deixa de ser 
sigiloso assim que recebida a denúncia, observado o disposto no art. 5º”. Porém, Nucci 
(2014) afirma que, excepcionalmente, “o juiz pode decretar sigilo durante a instrução em 
juízo, medida assegurada pelo próprio texto constitucional, com o fim de preservar a 
intimidade e garantir o interesse público”. 
 
Oitiva do colaborador e necessidade de advogado 
 
 Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado 
pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de 
polícia responsável pelas investigações (art. 4º, § 9º). 
 
 Aliás, a lei afirma outrossim que, ainda que beneficiado por perdão judicial ou 
não denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou 
por iniciativa da autoridade judicial (§ 12). 
 
 Vale ressaltar que, em todos os atos de negociação, confirmação e execução 
da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por defensor (§ 15). É a garantia da 
ampla defesa. A delação envolve admissão de culpa, entrega de comparsas, dentre outros 
fatores. Logo, por tratar de questões delicadas, a assistência jurídica é de extrema 
importância. 
 
 Por cautela, a lei especifica que “sempre que possível” (quando os meios 
estiverem disponíveis no local da investigação), o registro dos atos de colaboração será feito 
pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, 
inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações (§ 13). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Possibilidade de retratação da proposta. 
 
 Retratar significa voltar atrás, desdizer. Por exemplo, o colaborador pode 
entender que a delação lhe trará mais prejuízos que vantagens com o acordo, ou os órgãos 
de persecução podem não ter sucesso na obtenção de provas, tal como prometido pelo 
delator. Daí, a lei trazer a possibilidade de retratação da proposta. A lei ressalta, todavia, 
que, neste caso, as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser 
utilizadas exclusivamente em seu desfavor (art. 4º, § 10). 
 
Valor probatório da colaboração premiada 
 
 O CPP, em seu art. 197, já estabelecia que “o valor da confissão se aferirá pelos 
critérios adotados para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá 
confrontá-la com as demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existe 
compatibilidade ou concordância”. De igual forma, o § 16 do art. 4º reproduz o caráter de 
relatividade conferido à confissão do réu também ao instituto da colaboração premiada, ao 
afirmar que “nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas 
declarações de agente colaborador”. Isto porque a colaboração pode ter vários interesses 
escusos, inclusive vingança, abrangendo mentiras e falsidades. Daí por bem o legislador 
atribuir expressamente valor probatório relativo. 
 
IV - DA AÇÃO CONTROLADA 
 
Conceito 
 
 De acordo com a lei objeto de estudo, “consiste a ação controlada em retardar 
a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa 
ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a 
medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de 
informações” (art. 8o, caput). Assim, quando, futuramente, ocorrer a intervenção dos órgãos 
estatais responsáveis pela persecução penal, será possível, por exemplo, atingir um maior 
número de envolvidos, a apreensão de maior quantidade de armas, drogas, etc. 
 
 Verifica-se que a nova lei permite, de maneira inovadora, que a providência da 
ação controlada seja efetivada também no âmbito administrativo, e não apenas por parte 
da polícia. Assim, autoriza-se o monitoramento e controle do ato ilícito em apurações 
administrativas, como agentes das receitas estaduais e federal, integrantes da Agência 
Brasileira de Inteligência, etc. 
 
 
21 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Previsão legal 
 
 Além dos arts. 8º e 9º da Lei das Organizações Criminosas (Lei 12.850/2013), o 
instituto também possui previsão no art. 53, II, da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006) e art. 4º-
B, da Lei de Lavagem de Capitais (Lei 9.613/1998), com redação dada pela Lei n. 
12.683/2012, que veio dar maior eficiência à persecução penal dos crimes de lavagem de 
capitais. 
 
Da (des)necessidade de autorização judicial e limites à ação controlada 
 
 Na Lei 9.034/95, que tratava do combate às organizações criminosas, revogada 
expressamente pela Lei 12.850/2013, não havia qualquer menção à necessidade de prévia 
autorização judicial. Em virtude disso, alguns doutrinadores, inclusive, faziam menção à ação 
controlada ali prevista como uma verdadeira “ação controlada descontrolada”. 
 
 A seu turno, o art. 53 da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006), caput, é expresso ao 
mencionar que o retardamento da atuação policial se dará “(...) mediante autorização 
judicial e ouvido o Ministério Público”. 
 
 De igual forma, a Lei de Lavagem de Capitais (Lei 9.613/1998), em seu art. 4º-
B, preleciona que “(...) poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público” a ordem 
de prisão e as medidas assecuratórias (art. 4º-B). 
 
 Logo, denota-se que, tanto na Lei de Drogas quanto na Lei de Lavagem de 
Capitais, é indispensável a autorização judicial para se valer da ação controlada. 
 
 Questão interessante surge com a Lei 12.850/2013, cuja previsão legal do art. 
8º, § 1º, assevera que o retardamento da intervenção policial ou administrativa “(...) será 
previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá osseus limites e 
comunicará ao Ministério Público” (art. 8º, § 1º). Verifica-se que o legislador, neste caso, 
não fez referência à necessidade de prévia autorização judicial, sendo certo que, caso 
quisesse, teria feito de forma clara e expressa, como ocorre na infiltração de agentes, em 
que a Lei 12.850/2013 afirma que “será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa 
autorização judicial, que estabelecerá seus limites”. 
 
 Conclui-se, portanto, que a Lei 12.850/2013 não exige para a ação controlada a 
prévia autorização judicial, bastando a comunicação prévia. Acertada a decisão do 
legislador, vez que, de um lado, a exigência de prévia autorização judicial poderia 
comprometer as investigações, vez que os fatos, muitas das vezes, podem se desenrolar de 
uma maneira muito rápida, exigindo-se, também, rápidas tomadas de decisões, tornando-se 
inviável aguardar uma decisão judicial, que pode demorar alguns dias. Por outro lado, o 
aviso prévio possibilita uma fiscalização da ação controlada por parte do Poder Judiciário, 
 
 
22 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
evitando-se abusos e atos de corrupção. Ex.: determinada unidade policial recebe propina 
para não atuar na repressão de um esquema de contrabando de armas, do qual tinha 
ciência, e, uma vez descoberta a sua não atuação por outros órgãos fiscalizatórios, 
questionada sobre os fatos, alega estar em “ação controlada”. O aviso prévio ao magistrado 
possibilita, de igual forma, que o judiciário estabeleça limites à ação controlada, que podem 
ser de duas espécies: limites temporais (prazo máximo de duração da ação controlada) e 
limites funcionais (ou seja, estabelecer que ocorra a pronta intervenção da autoridade 
policial diante da possibilidade de danos a bens jurídicos de maior relevância). 
 
 Pergunta-se: e se, por acaso, uma organização criminosa atuar no tráfico de 
drogas, há a necessidade de ordem judicial? Neste caso, antes mesmo do advento da Lei 
12.850/2013, já havia precedentes do STJ no sentido de desnecessidade de autorização 
judicial, conforme exemplo a seguir: 
 
(...) à míngua de previsão legal, não há como se reputar nulo o procedimento investigatório 
levado à cabo na hipótese em apreço, tendo em vista que o artigo 2º, inciso II, da Lei 
n. 9.034/95 não exige a prévia autorização judicial para a realização da chamada "ação policial 
controlada", a qual, in casu , culminou na apreensão de cerca de 450 kg (quatrocentos e 
cinquenta quilos) de cocaína. 2. Ademais, não há falar-se na possibilidade dos agentes policiais 
virem a incidir na prática do crime de prevaricação, pois o ordenamento jurídico não pode 
proibir aquilo que ordena e incentiva. (STJ, HC 119.205/MS) 
 
 Logo, será possível que a autoridade policial invoque o art. 8º, § da Lei 
12.830, bastando apenas a comunicação prévia ao magistrado. 
AÇÃO CONTROLADA 
QUADRO COMPARATIVO 
 LEI DAS ORGANIZAÇÕES 
CRIMINOSAS 
LEI DE TÓXICOS LEI DE LAVAGEM DE 
CAPITAIS 
 
 
 
CONCEITO 
LEGAL 
 
“Consiste a ação controlada 
em retardar a intervenção 
policial ou administrativa 
relativa à ação praticada por 
organização criminosa ou a 
ela vinculada, desde que 
mantida sob observação e 
acompanhamento para que a 
medida legal se concretize no 
momento mais eficaz à 
formação de provas e 
obtenção de informações” 
(art. 8º) 
 
 
 
 “Em qualquer fase da 
persecução criminal relativa aos 
crimes previstos nesta Lei, são 
permitidos, além dos previstos 
em lei, mediante autorização 
judicial e ouvido o Ministério 
Público, os seguintes 
procedimentos investigatórios 
(...) a não-atuação policial sobre 
os portadores de drogas, seus 
precursores químicos ou outros 
produtos utilizados em sua 
produção, que se encontrem no 
território brasileiro, com a 
finalidade de identificar e 
responsabilizar maior número 
de integrantes de operações de 
tráfico e distribuição, sem 
prejuízo da ação penal cabível”. 
(art. 53, II) 
“A ordem de prisão de 
pessoas ou as medidas 
assecuratórias de bens, 
direitos ou valores poderão 
ser suspensas pelo juiz, 
ouvido o Ministério Público, 
quando a sua execução 
imediata puder 
comprometer as 
investigações” 
 (art. 4º-B) 
 
 
23 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Procedimento da comunicação ao juiz 
 
 Primeiramente, ocorre a comunicação ao juiz, conforme já mencionado (art. 
8º, § 1º). Em segundo lugar, essa comunicação será sigilosamente distribuída de forma a 
não conter informações que possam indicar a operação a ser efetuada (art. 8º, § 2º). 
Caberá ao juiz, então, se entender pertinente, estabelecer os limites da ação controlada, 
comunicando também ao Ministério Público. Até o encerramento da diligência, o acesso aos 
autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de 
garantir o êxito das investigações (art. 8º, § 3o ). E, ao término da diligência, elaborar-se-á 
auto circunstanciado acerca da ação controlada art. 8º, § 3o ). 
 
Ação controlada é sinônimo de flagrante prorrogado (retardado ou diferido)? 
 
 O flagrante prorrogado funciona como espécie de mitigação ao flagrante 
obrigatório, em que se deixa de efetuar a prisão de quem se encontra em estado flagrancial 
para efetuá-la num momento subseqüente. Diversos doutrinadores tratam tal modalidade 
de flagrante como sinônimo de ação controlada. Todavia, parcela da doutrina defende que a 
ação controlada seria mais abrangente que o flagrante prorrogado, vez que nem sempre a 
ação controlada dirá respeito à prisão em flagrante, podendo recair também sobre a prisão 
preventiva, temporária, e, ainda, sobre medidas assecuratórias, como o sequestro de bens 
ou a busca e apreensão. O art. 4º-B, da Lei de Lavagem de Capitais é exemplo disso, o qual 
prevê que “A ordem de prisão de pessoas ou as medidas assecuratórias de bens, direitos ou 
valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução 
imediata puder comprometer as investigações”. Tal dispositivo fala em ordem de prisão de 
pessoas. Porém, as duas únicas espécies de prisão cautelar que dependem de ordem prévia 
são as prisões preventiva e temporária. Em razão disso, alguns doutrinadores, como Renato 
Brasileiro (2014, p. 552), defendem que na Lei de Lavagem de Capitais a ação controlada 
sequer pode recair sobre a prisão em flagrante. Em seus dizeres, 
 
 
 
 
 
 
 
ORDEM 
JUDICIAL? 
 
A lei fala que o retardamento 
da intervenção policial ou 
administrativa “(...) será 
previamente comunicado ao 
juiz competente que, se for o 
caso, estabelecerá os seus 
limites e comunicará ao 
Ministério Público” (art. 8º, § 
1º) 
 
- não há necessidade de 
ordem judicial 
- basta a prévia comunicação 
A lei fala que o retardamento 
da atuação policial se dará “(...) 
mediante autorização judicial e 
ouvido o Ministério Público” 
(art. 53) 
 
- há, portanto, necessidade de 
autorização judicial 
A lei fala que “(...) poderão 
ser suspensas pelo juiz, 
ouvido o Ministério 
Público” a ordem de prisão 
e as medidas 
assecuratórias (art. 4º-B) 
 
- extrai-se também a 
necessita de ordem judicial 
24 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Diversamente da Lei 11.343/06, a Lei 9.613/98 silenciou quanto ao adiamento da prisão em 
flagrante. De fato, ao se referir à suspensão da ordem de prisão de pessoas, inequivocadamente 
referiu-se à prisão preventiva, eis que a prisão em flagrante não depende de ordem judicial. 
Assim, para a autoridade policial e seus agentes, a prisão em flagrante continua configurando 
como obrigatória nos casos de lavagem de capitais, eis que não abrangidapelo dispositivo em 
análise. 
 
Em que consiste a entrega vigiada? 
 
 A entrega vigiada também é uma espécie de ação controlada, prevista na 
Convenção de Palermo (Decreto 5.015/2004), definida neste documento como “a técnica 
que consiste em permitir que remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais 
Estados, os atravessem ou neles entrem, com o conhecimento e sob o controle das suas 
autoridades competentes, com a finalidade de investigar infrações e identificar as pessoas 
envolvidas na sua prática” (art. 2, “i”). O art. 20, que trata das técnicas especiais de 
investigação, afirma também que “1. Se os princípios fundamentais do seu ordenamento 
jurídico nacional o permitirem, cada Estado Parte, tendo em conta as suas possibilidades e 
em conformidade com as condições prescritas no seu direito interno, adotará as medidas 
necessárias para permitir o recurso apropriado a entregas vigiadas e, quando o considere 
adequado, o recurso a outras técnicas especiais de investigação (...) a fim de combater 
eficazmente a criminalidade organizada”. Ressalta ainda que “4. As entregas vigiadas a que 
se tenha decidido recorrer a nível internacional poderão incluir, com o consentimento dos 
Estados Partes envolvidos, métodos como a intercepção de mercadorias e a autorização de 
prosseguir o seu encaminhamento, sem alteração ou após subtração ou substituição da 
totalidade ou de parte dessas mercadorias”. Exemplo: a EBCT (Correios), durante suas 
vistorias internas, suspeita que no interior de uma correspondência há uma grande 
quantidade de drogas sendo enviada para o exterior. Daí, referida empresa pública 
comunica à polícia sobre o fato, a qual pode permitir que essa encomenda siga seu itinerário 
normal exatamente para que, no momento da entrega da encomenda, seja possível 
identificar quais seriam os demais envolvidos no esquema criminoso. No exemplo dado, 
seria possível ainda que a polícia substituísse a droga por outra substância permitida 
(entrega vigiada limpa) ou ainda que mantivesse a substância original (entrega vigiada suja). 
 
Obs.: Inicialmente, a entrega vigiada foi idealizada apenas para os casos de drogas. Todavia, 
com o passar dos anos, sua utilização acabou sendo estendida para outros crimes, como o 
tráfico de armas, tráfico de animais, obras de arte, lavagem de capitais, dentre outros bens 
que possam ser enviados através de correspondência. 
 
 
 
25 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ação controlada envolvendo transposição de fronteiras 
 
 Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da 
intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das 
autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de 
modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do 
crime (art. 9º da Lei nº 12.850/2013). Ademais, respeita-se, com tais providências, a 
soberania de outros países, evitando-se um conflito internacional. 
 
V - DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES 
 
Conceito 
 
 A infiltração de agentes é uma técnica de investigação que se vale da 
introdução de um agente, de maneira dissimulada, no âmbito de uma organização 
criminosa, que passa a agir como um de seus integrantes, ocultando sua real identidade e 
acompanhando as atividades do grupo, conhecendo sua estrutura, divisão de tarefas, 
hierarquia, bem como outros elementos capazes de permitir a desarticulação da referida 
organização. 
 
Previsão legal 
 
 O instituto em tela foi inicialmente tratado pela Lei 9.034/95 (antiga legislação 
das organizações criminosas, art. 2º, V) e na Lei 11.343/06 (Lei do Tráfico de Drogas, art. 53, 
I). Porém, agora, com a Lei 12.850/2013, o legislador, enfim, regulamentou de maneira 
detalhada o assunto, trazendo requisitos, procedimento, direitos do agente infiltrado, sua 
responsabilidade etc. 
 
 
 
 
 
 
 
QUADRO COMPARATIVO 
FLAGRANTE POSTERGADO AÇÃO CONTROLADA ENTREGA VIGIADA 
Refere-se apenas à prorrogação 
da prisão em flagrante. 
Obs.: há diversos doutrinadores 
que tratam flagrante postergado 
como sinônimo de ação 
controlada. 
Nem sempre a não atuação dos 
órgãos persecutórios diz respeito 
à prisão em flagrante, podendo 
recair também sobre prisão 
preventiva, temporária, e, ainda, 
sobre medidas assecuratórias, 
como o sequestro de bens ou a 
busca e apreensão 
Espécie de ação controlada que 
“consiste em permitir que 
remessas ilícitas ou suspeitas 
saiam do território de um ou mais 
Estados, os atravessem ou neles 
entrem, com o conhecimento e 
sob o controle das suas 
autoridades competentes, com a 
finalidade de investigar infrações 
e identificar as pessoas envolvidas 
na sua prática” (art. 2, “i” da 
Convenção de Palermo). 
26 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Atribuição para a infiltração 
 
 Extrai-se da alteração legislativa que, enquanto a revogada Lei 9.034/94 falava 
em “infiltração por agentes de polícia ou de inteligência” (art. 2º, V), a Lei 12.850/2013 fala 
apenas em “infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação” (art. 10, caput), 
excluindo a possibilidade de infiltração por agentes que não sejam policiais. 
 
 Vale ressaltar que, ao mencionar agentes de polícia, a lei está se referindo a 
agentes de polícia no exercício de polícia judiciária (Polícia Federal e Polícias Civis), na 
medida em que se trata de uma técnica especial de investigação. Ou seja, não é adequado 
que um policial militar seja utilizado como agente infiltrado (a não ser que esteja na 
investigação de um crime de natureza militar). 
 
Requisitos 
 
 Renato Brasileiro (2014, p. 562-563) elenca os seguintes requisitos para 
infiltração policial: 
 
a) prévia autorização judicial - a autorização deve conter os argumentos fáticos e 
jurídicos que indiquem a necessidade da diligência. A lei fala de “de circunstanciada, 
motivada e sigilosa autorização judicial”, que estabelecerá os limites da infiltração (art. 
10, caput). 
b) “fumus comissi delicti” e “periculum in mora” – ou seja, é a demonstração da 
presença dos pressuposots das cautelares. A infiltração de agentes está condicionada à 
existência de elementos indiciários da existência de crimes praticados pelas 
organizações criminosas (fumus comissi delict). Afirma o art. 10, § 2º que “será 
admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art. 1º (...)”. 
Em relação ao periculum in mora, há de ser levado em consideração o risco ou prejuízo 
que a não realização imediata dessa diligência poderá representar para a aplicação da 
lei penal, para a investigação criminal ou para evitar a prática de novas infrações 
penais. 
c) indispensabilidade da infiltração – ou seja, quando a prova não puder ser produzida 
por outros meios. Por ser uma medida invasiva à intimidade alheia, a infiltração deve 
ser a ultima ratio. É a clara aplicação do princípio da proporcionalidade. 
d) anuência do agente policial - nenhum policial pode ser obrigado a atuar como 
agente infiltrado. Logo, o agente pode recusar-se a cumprir esta diligência (“Art. 
14. São direitos do agente: I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada;”). 
 
Da representação do delegado e do requerimento do MP 
 
 A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação pode ser 
representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo MP, após manifestação técnica do 
delegado de polícia quando solicitada no curso do inquérito policial (art. 10, caput). Quando 
 
27 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
for hipótese de representação do delegado, o juiz competente, antes de decidir, ouvirá o 
MP (art. 10, § 1º). 
 
 Tanto o requerimento do Ministério Público quanto a representaçãodo 
delegado de polícia para a infiltração de agentes deverão conter a demonstração da 
necessidade da medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou 
apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração (art. 11). 
 
Procedimento 
 
 O pedido de infiltração (representação do delegado ou requerimento do MP) 
será sigilosamente distribuído, de forma a não conter informações que possam indicar a 
operação a ser efetivada ou identificar o agente que será infiltrado (art. 12, caput). 
 
 Distribuído o pedido, as informações quanto à necessidade da operação de 
infiltração serão dirigidas diretamente ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 
(vinte e quatro) horas, após manifestação do Ministério Público na hipótese de 
representação do delegado de polícia, devendo-se adotar as medidas necessárias para o 
êxito das investigações e a segurança do agente infiltrado (art. 12, § 1º). A autorização 
judicial deve conter os argumentos fáticos e jurídicos que indiquem a necessidade da 
diligência. A lei fala de “de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial”, que 
estabelecerá os limites da infiltração (art. 10, caput). 
 
 A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de 
eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade (art. 10,§ 3º). Tem-se, aqui, 
um prazo mais coerente com a complexidade desta técnica de investigação (ao contrário do 
que ocorre com o exíguo prazo de 15 dias, prorrogáveis, previsto para a interceptação 
telefônica na Lei 9.296/96). 
 
 Findo o prazo, será elaborado relatório circunstanciado para apresentação ao 
juiz competente, que imediatamente cientificará o MP (art. 10, § 4º). Este relatório deve 
conter todos os detalhes da diligência até então empreendida. Tal documento é 
fundamental para que o magistrado tenha subsídio para, eventualmente, prorrogar o 
pedido de infiltração e, ainda, para que tome ciência do andamento da atividade. É possível 
ainda, no curso do inquérito policial, antes mesmo de terminado o prazo, que o delegado de 
policia determine aos seus agentes a elaboração de um relatório de atividade, podendo 
ainda o Ministério Público requisitá-lo (art. 10, § 5º). Cuida-se de providência de 
acompanhamento importante, a fim de manter a proximidade com a diligência efetuada, 
afinal, os agentes estatais estão atuando dentro de uma organização criminosa. 
 
 Para preservar a eficácia da diligência, os investigados (ou acusados) e seus 
respectivos defensores não podem tomar conhecimento da diligência em andamento. 
Porém, finda a medida, abre-se lugar para o contraditório e a ampla defesa com todos os 
28 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
recursos que lhes são inerentes. Aliás, é o teor da Súmula Vinculante 14, que estipula que “é 
direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova 
que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com 
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”. Sobre o 
acesso às informações da infiltração, afirma o § 2º do art. 12 que “os autos contendo as 
informações da operação de infiltração acompanharão a denúncia do Ministério Público, 
quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a preservação da identidade do 
agente”. 
 
Momento para a infiltração 
 
 Em regra, ocorre durante as investigações policiais. Porém, nada impede que, 
assim como a colaboração premiada, seja realizada durante a instrução criminal. 
 
Sustação da atividade 
 
 A lei determina que “havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre 
risco iminente, a operação será sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo 
delegado de polícia, dando-se imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial” 
(art. 12º, § 3º). O interesse maior aqui é preservar a integridade física e a própria vida do 
agente infiltrado. Trata-se, aliás, de próprio direito do agente infiltrado fazer cessar a 
atuação infiltrada (O art. 14 traz os seguintes direitos do agente infiltrado: “I - recusar ou 
fazer cessar a atuação infiltrada;”) 
 
Direitos do agente infiltrado 
 
 O art. 14 traz os seguintes direitos do agente infiltrado: 
I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada; 
II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 9o da 
Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das medidas de proteção a 
testemunhas; 
III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações 
pessoais preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver 
decisão judicial em contrário; 
IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de 
comunicação, sem sua prévia autorização por escrito. 
 
Responsabilidade criminal do agente infiltrado 
 
 Para que seja útil a infiltração, o agente, muitas das vezes, deverá contribuir na 
prática de infrações penais, seja para mostrar lealdade e confiança no grupo, seja para 
acompanhar os demais. Daí a lei estabelecer que “não é punível, no âmbito da infiltração, 
 
 
 
29 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
a prática de crime pelo agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta 
diversa” (art. 13, parágrafo único). Trata-se de causa de exclusão da culpabilidade, capaz de 
imunizar o agente infiltrado pelo cometimento de algum delito. Se, todavia, o agente “não 
guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a finalidade de investigação, 
responderá pelos excessos praticados.”. Logo, a lei estabelece a proporcionalidade como 
critério para avaliação se houve ou não a excludente da culpabilidade. Ilustrando a questão, 
Nucci (2014) traz o seguinte caso: 
 
(...) o agente se infiltra em organização criminosa voltada a delitos financeiros; não há cabimento em 
matar alguém somente para provar lealdade a um líder. Por outro lado, é perfeitamente admissível 
que o agente promova uma falsificação documental para auxiliar o grupo a incrementar um delito 
financeiro. No primeiro caso, o agente responderá por homicídio e não poderá valer-se da excludente, 
visto a desproporcionalidade existente entre a sua conduta e a finalidade da investigação. No 
segundo, poderá invocar a inexigibilidade de conduta diversa, pois era a única atitude viável diante 
das circunstâncias. 
 
VI - DO ACESSO A REGISTROS, DADOS, DOCUMENTOS E INFORMAÇÕES 
 
 Afirma o art. 15 que “o delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso, 
independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que 
informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela 
Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e 
administradoras de cartão de crédito”. Ou seja, o dispositivo possibilita a captação de tais 
informações por parte do delegado de polícia e Ministério Público de forma direta, não 
havendo necessidade de autorização judicial. A recusa ao fornecimento destes dados pode 
caracterizar o crime previsto no art. 21 desta lei, punido com pena de até dois anos de 
reclusão e multa. 
 
 Ressalte-se, porém, que o poder requisitório previsto neste dispositivo se 
restringe aos dados cadastrais do investigado, que informem exclusivamente a qualificação 
pessoal (nome completo, nacionalidade, data de nascimento, profissão, etc.), filiação (nome 
dos pais) e endereço (local de residência e trabalho). Embora possam ser requisitados de 
empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de 
cartão de crédito, informações resguardadas pelo sigilo bancário ou telefônico, por 
exemplo, ainda continuam sujeitas à cláusula de reserva jurisdicional. Segue julgado do STJ 
ratificandoa possibilidade de requisição direta a dados cadastrais: 
 
“O teor das comunicações efetuadas pelo telefone e os dados transmitidos por via telefônica são 
abrangidos pela inviolabilidade do sigilo - artigo 5.º, inciso XII, da Constituição Federal -, sendo 
indispensável a prévia autorização judicial para a sua quebra, o que não ocorre no que tange aos 
dados cadastrais, externos ao conteúdo das transmissões telemáticas. Não se constata 
ilegalidade no proceder policial, que requereu à operadora de telefonia móvel responsável pela 
Estação Rádio-Base o registro dos telefones que utilizaram o serviço na localidade, em dia e hora 
da prática do crime. A autoridade policial atuou no exercício do seu mister constitucional, 
figurando a diligência dentre outras realizadas ao longo de quase 7 (sete) anos de investigação” 
(HC 247331/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª. Turma, DJ 21.08.2014, DJe 
03.09.2014). 
 
 
 
 
 
30 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
Obs.: a lei de lavagem de capitais possui em seu art. 17-B previsão muito semelhante. Segue 
quadro comparativo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O art. 16 da lei em estudo, por sua vez, estipula que “as empresas de 
transporte possibilitarão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, acesso direto e permanente do juiz, do 
Ministério Público ou do delegado de polícia aos bancos de dados de reservas e registro de 
viagens”. Tal disposição, sem dúvidas, facilitará bastante a investigação criminal, vez que 
tornará mais viável o acompanhamento do deslocamento de pessoas suspeitas de 
envolvimento com a criminalidade organizada. 
 
 O art. 17, a seu turno, estabelece que “as concessionárias de telefonia fixa ou 
móvel manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades mencionadas no 
art. 15, registros de identificação dos números dos terminais de origem e de destino das 
ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais”. 
 
Obs.: em 2013, a Associação Nacional das Operadoras de Celulares (Acel) ajuizou a Ação 
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5063 contra os artigos 15, 17 e 21 da lei, 
argumentando que a matéria não poderia ser regulamentada por lei ordinária, mas sim por 
lei complementar. Em relação aos citados arts. 15 e 17 da Lei 12.850/2013, alega ainda que, 
em ambos os dispositivos, há violação ao artigo 5º, inciso X, da Constituição, que trata da 
inviolabilidade do direito à intimidade do indivíduo. Para a Acel, a norma, ao permitir que o 
delegado de polícia e o Ministério Público possam requisitar “quaisquer informações, 
documentos e dados pertinentes à investigação criminal, sem que haja ponderação judicial 
que determine esta medida”, afronta o princípio constitucional de proteção à privacidade e 
ao sigilo das comunicações. Quanto ao artigo 21, a Acel afirma que a imposição de pena de 
seis meses a dois anos de reclusão mais multa pela omissão dos dados cadastrais fere o 
princípio constitucional da proporcionalidade. 
 
 A Procuradoria Geral da República, em parecer encaminhado ao STF, 
manifestou-se pela improcedência da ação. O PGR alegou, em síntese, que não há violação 
aos princípios da privacidade e da intimidade, pois não ocorre acesso ao conteúdo das 
chamadas, apenas a dados cadastrais do investigado mantidos pelas empresas. Defendeu, 
também, que esse direitos não são absolutos e podem ser relativizados para que outros 
sejam assegurados. 
 
 
QUADRO COMPARATIVO 
LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS 
 Art. 15. O delegado de polícia e o Ministério Público 
terão acesso, independentemente de autorização 
judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado 
que informem exclusivamente a qualificação 
pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela 
Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições 
financeiras, provedores de internet e 
administradoras de cartão de crédito. 
Art. 17-B. A autoridade policial e o Ministério 
Público terão acesso, exclusivamente, aos dados 
cadastrais do investigado que informam qualificação 
pessoal, filiação e endereço, independentemente de 
autorização judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, 
pelas empresas telefônicas, pelas instituições 
financeiras, pelos provedores de internet e pelas 
administradoras de cartão de crédito. (Incluído pela 
Lei nº 12.683, de 2012) 
31 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
 Defende o PGR que a medida é necessária, pois não há outro meio disponível 
às autoridades investigadoras capaz de fornecer as informações de maneira tão célere e 
eficaz. Ademais, não haveria acesso indiscriminado e descontrolado aos dados, uma vez que 
estão baseados em investigações formalizadas e sujeitas a permanente controle judicial. O 
PGR aponta, ainda, que a jurisprudência do STF tem apreciado a possibilidade de acesso a 
informações privadas por instituições e órgãos públicos, independentemente de prévia 
autorização judicial. 
 
 Também é compatível com a Constituição, para o PGR, o artigo 21 da Lei 
12.850/2013, questionado pela Acel. "A recusa dos dados indispensáveis à investigação do 
crime organizado pode causar graves danos à eficiência da elucidação dessa forma 
especialmente lesiva de criminalidade, com risco à segurança da sociedade, à vida e à 
integridade física das vítimas desses atos", argumenta. 
 
 Ressalte-se, por fim, que a Associação Nacional dos Delegados de Polícia 
Federal (ADPF) requereu ingresso no feito na qualidade de amicus curiae, cujo pedido foi 
deferido pelo Relator, Ministro Gilmar Mendes. 
 
VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Estipula o art. 22 da Lei 12.850/2013 que os crimes previstos na lei em estudo 
e as infrações penais conexas serão apurados mediante procedimento ordinário previsto no 
CPP. Afirma ainda que o prazo para encerramento da instrução criminal não poderá exceder 
a 120 (cento e vinte) dias quando o réu estiver prezo. Cabe prorrogação do referido prazo, 
por igual período, por decisão fundamentada, desde que se possa constatar a complexidade 
da causa ou a prática de atos procrastinatórios atribuíveis aos réus (art. 22, parágrafo 
único). 
 
 A lei prescreve ainda que o sigilo da investigação poderá ser decretado pela 
autoridade judicial competente, para garantia da celeridade e da eficácia das diligências 
investigatórias, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso 
aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente 
precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento 
(art. 23). Sem dúvida, não haveria sentido em autorizar o defensor a acompanhar a 
diligência em plena realização, sob pena de frustração da medida. 
 
 Por derradeiro, prevê o diploma legal em estudo que, determinado o 
depoimento do investigado, seu defensor terá assegurada a prévia vista dos autos, ainda 
que classificados como sigilosos, no prazo mínimo de 3 (três) dias que antecedem ao ato, 
podendo ser ampliado, a critério da autoridade responsável pela investigação (art. 23, 
parágrafo único). 
 
 
32 LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
BIBLIOGRAFIA 
 
ADEPOL ALAGOAS. Acesso a dados cadastrais de investigado por delegado de polícia e pelo 
MP é constitucional, diz PGR. Disponível em: 
 <http://www.adepolalagoas.com.br/noticias/2014/08/acesso-dados-cadastrais-de-
investigado-por-delegado-de-policia-e-pelo-mp-e-constitu>. Acesso em: 13/07/2016. 
 
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DELEGADOS DE POLÍCIA FEDERAL. AGU entende que delegados 
podem fechar acordo de colaboração premiada. Disponível em: 
<http://www.adpf.org.br/adpf/admin/painelcontrole/materia/materia_portal.wsp?tmp.edt.
materia_codigo=8104&tit=AGU-entende-que-delegados-podem-fechar-acordo-de-
colaboracao-prem#.V4CwyvkrLIU> . Acesso em: 13/07/2016 
 
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DELEGADOS DE

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