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FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 1 APOSTILA FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 2 Auxiliar Veterinário MÓDULO I Sumário Origem dos Canídeos 03 Introdução a Anatomia e Fisiologia Animal 12 Sistema Nervoso 26 Sistema Circulatório 30 Afecções Cardíacas 36 Sistema Respiratório 40 Sistema Digestivo 42 Patologias do Sistema Digestivo 48 Reprodução 57 Cruzamento 63 Gestação 68 Parto 72 Intervenções Cirúrgicas 76 2º edição – AGOSTO/2009 FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 3 1o MÓDULO AAuullaa 11 Origem dos Canídeos Se admitirmos que as origens da Terra remontam, aproximadamente, a 4,5 bilhões de anos, as origens dos primeiros mamíferos (100 milhões de anos), a dos primeiros canídeos (50 milhões de anos) e, seguidamente, as dos primeiros hominídeos (3 milhões de anos) afiguram-se extremamente recentes. Com efeito, se compararmos a história da Terra a um percurso de 1 km, a vida dos mamíferos representaria apenas os últimos metros e a dos canídeos os últimos centímetros! Os canídeos são mamíferos caracterizados por dentes caninos pontiagudos, dentição adaptada a um regime onívoro e um esqueleto dimensionado para a locomoção digitígrada. A sua evolução e diversificação teve início no continente norte-americano, com o aparecimento de uma família de carnívoros semelhantes à doninha atual - os miacídeos – que proliferaram nesse continente há 40 milhões de anos, compreendendo na altura 42 gêneros diferentes, enquanto que hoje apenas se subdivide em 16. A família dos canídeos atuais comporta 3 sub-famílias: os cuonídeos (licaon), os otocinonídeos (otocion da África do Sul) e os canídeos (cão, lobo, raposa, chacal, coiote). A domesticação do lobo A descoberta de pegadas e ossadas de lobo nos territórios ocupados pelo homem na Europa ascende a 40 000 anos, se bem que a sua utilização real não tenha sido autenticada pelo Homo sapiens nos frescos pré-históricos. Nesta época, o homem não era ainda sedentário e alimentava-se com os produtos das suas caçadas, cujas migrações acompanhava. As mudanças climatéricas – o final de um período glacial e o aquecimento brutal da atmosfera – ocorridas há, sensivelmente, 10 000 anos durante a passagem do Pleistoceno para o Holoceno, levaram à substituição das tundras pelas florestas e, consequentemente, à diminuição de mamutes e bisontes, cujo lugar foi ocupado por veados e javalis. Esta redução FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 4 da caça tradicional impeliu o Homem a inventar novas armas e a adaptar as suas técnicas de caça. Nesta fase, tinham de competir com os lobos que se alimentavam do mesmo tipo de presas e utilizavam as mesmas técnicas de caça em matilha com recurso a "batedores". Como tal, o homem teve, naturalmente, de procurar converter o lobo num aliado de caça, tentando, pela primeira vez, domesticar um animal muito antes de ele próprio se tornar sedentário e de se dedicar à criação de animais. Assim, o cão primitivo, era indiscutivelmente, um cão de caça e não um cão pastor. Resultados da seleção realizada pelo Homem Muito embora se encontre a descrição de "galgos" na paleontologia egípcia ou de "molossos" na história assíria, na realidade tratavam-se apenas de subespécies de Canis familiaris, variedades ou tipos de clãs. O aparecimento das raças caninas, tais como as conhecemos na atualidade, constitui um fenômeno muito mais recente do que a domesticação, uma vez que data da Antiguidade. Para além de algumas raças caninas, como o Bichon, cuja identidade racial foi possível conservar num território limitado, a maioria das raças caninas resultam da seleção exercida pelas nossas civilizações, da ação possibilitada pela domesticação e da orientação dos acasalamentos. O aparecimento de diferentes tipos de cães Tendo surgido durante o terceiro milênio na Mesopotâmia, delinearam-se, então, dois grandes tipos de cães constituídos pelos Molossóides, encarregados da proteção dos rebanhos contra os predadores (o urso, e ironia do destino, do seu antepassado, o lobo!) e o tipo "galgo" adaptado à corrida e às regiões desérticas, que se tornou num precioso auxiliar de caça para o homem. Juntamente com esses dois tipos básicos, encontravam-se já, sem dúvida, os tipos de cães correspondentes atualmente aos principais grupos classificados pela Sociedade Central Canina. Origem dos felinos Os Felídeos primitivos Durante o período Oligoceno, esboça-se claramente nos Felídeos uma tendência para a individualização de duas linhagens distintas de felinos. Por um lado, animais grandes e robustos, embora lentos, providos de enormes caninos semelhantes a lâminas de sabre: os Eusmilus; e por outro, os grandes gatos mais ágeis e mais rápidos com uma dentição próxima dos atuais Felídeos, os Proailurus, e mais tarde FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 5 CURIOSIDADES!!! Ao contrário dos grandes felinos, os pequenos felinos caracterizam-se pela particularidade do seu osso hióide ser completamente rígido, o que não lhes permite rugir. Ronronam durante a inspiração e a expiração, enquanto que nos grandes felinos o ronronar só se produz durante a expiração. Todos os felinos de pequenas dimensões pertencem ao mesmo grupo, até mesmo o Puma, que tem o tamanho de uma pantera. os Pseudailurus cuja locomoção se as-semelha à dos Viverrídeos. Por exemplo, o atual Fossa (Crytoprocta ferox) constitui um verdadeiro fóssil vivo. O Pseudailurus seria assim o primeiro membro da família dos gatos modernos dos quais o Smilodon, na América, é um representante espetacular. Os pequenos felinos foram-se adaptando a regiões tão diversificadas como os desertos, florestas, estepes e pântanos. Sobrevém a era do Mioceno, durante a qual, em França, existia o Felis zitteli, animal muito próximo do gato selvagem atual. Posteriormente, no período Pleistoceno da era quaternária, surgiu o gênero Felis, enquanto que, por outro lado, os felinos primitivos, Smilodons e Machairodus, espécie de tigres dentes de sabre, vão desaparecendo. A domesticação dos gatos A domesticação do gato permanece envolta em bastante mistério e, como tal, não pode ser estabelecida com uma certeza absoluta. Segundo a crença tradicional, a domesticação terá ocorrido no Egito, local onde foram encontrados os primeiros vestígios da domesticação do gato, por volta do ano 4500 AC. O gato egípcio seria assim descendente de uma das subespécies do Gato selvagem Felis silvestris libyca. Inicialmente, este gato começou por ser um comensal do Homem, partilhando a sua alimentação; posteriormente, estabeleceu-se uma relação de maior proximidade entre o Homem e o animal, que primeiro se tornou "familiar" e, mais tarde, de "companhia”. Desde a época do Novo Império (sensivelmente nos anos 1580-1070 AC) até ao período ptolomeico (do ano 300 ao ano 30 AC), os egípcios chegaram mesmo a permitir a aproximação dos gatos selvagens e a sua domesticação. Mais tarde, mandaram também mumificá-los, tal como o faziam aos espécimes domesticados há muito tempo. No Antigo Egito, o gato doméstico, trazido do sul ou do oeste por volta do ano de 2.100 a.C., é considerado um ser divino, de tal ordem que, se um deles morrer de morte natural, as pessoas da casa raspam as sobrancelhas em sinal de luto. Deusa Bastet, em forma de gata, evidenciando a adoração do povo egípcio pelos felinos. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 6 AAuullaa 22 A primeira escola de veterinária Em 1761, Claude Bourgelat, um dos melhores cavaleiros da Europa,dirigia, há vinte anos, a Academia do Rei, estabelecida em Lyon, França. Disciplinas como a equitação, as armas, a música e a matemática eram ensinadas. Mas, o seu interesse pela anatomia e pela patologia equinas, levou Bourgelat a refletir sobre as bases de um ensino veterinário, capaz de preservar e melhorar a espécie equina, e de proteger o gado das epidemias que o dizimavam. Conseguiu convencer Bertin, controlador geral das finanças, a atribuir-lhe um subsídio para criar o primeiro estabelecimento veterinário em Lyon. Assim, a Escola da Guillotière é fundada em 1762. Ao contrário do ensino universitário da época, o ensino veterinário privilegiava a reflexão e a observação, a habilidade manual e a memória visual. Desde o início, os estudantes praticavam através de consultas e hospitalizações de animais. Muito rapidamente, esta primeira escola atraiu alunos estrangeiros e foi uma referência em matéria de Medicina Veterinária. Tornou-se Escola Real Veterinária em 1764. O ensino veterinário evoluiu juntamente com as descobertas científicas. A sua missão de formação expandiu-se para o campo da investigação. As colaborações entre Médicos e Médicos Veterinários permitiram vencer numerosas doenças. Podemos citar os trabalhos do Médico Veterinário Henry Bouley e de Pasteur sobre a vacinação contra o carbúnculo, de Camille Guérin e o médico Albert Calmette, que desenvolveram a B.C.G. contra a tuberculose, e de Auguste Ramon, que descobriu as anatoxinas anti- tetânicas e anti-diftéricas. A Medicina Veterinária atual se beneficia das melhores técnicas médicas e cirúrgicas. Ecografia e endoscopia fazem parte da prática quotidiana e, por vezes, os animais até se beneficiam da ressonância magnética. As investigações atuais tendem a melhorar os cuidados dados aos animais e contribuem, assim, para o progresso da Medicina Humana. Para isso é cada vez mais necessário o auxílio de profissionais não- veterinários, como o auxiliar de veterinário, para manter sempre o padrão de qualidade e de funcionabilidade de hospitais, clínicas, zoológicos e pet’s shops. Principais ramos da medicina veterinária A veterinária divide-se em 2 grandes ramos: a produção animal e a medicina veterinária propriamente dita. Na produção animal são estudados tópicos como criação de animais (também chamado zootecnia) como bovinocultura, equicultura, psicultura, caprino-ovinocultura, apicultura; estudo de pastagens; melhoramento animal; reprodução. A medicina veterinária propriamente dita estuda a medicina preventiva dos animais, a sanidade, patologia, cirurgia e a clínica médica. Dentro destas áreas FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 7 diversas subáreas já são bem definidas, sendo que já existem médicos veterinários que são anestesistas, odontólogos, oftalmologistas, obstetras, pediatras, patologistas clínicos, ortopedistas, nutricionistas, dentre outros. Dentro da veterinária, ainda existem aqueles profissionais que lidam com animais selvagens (também chamados silvestres), sendo que eles se ocupam tanto da clínica e cirurgia, da nutrição, quanto da criação destes animais. O auxiliar de veterinária É cada vez mais crescente o mercado de trabalho para os médicos veterinários, de todas as áreas. Neste contexto se destaca uma área em especial, a do chamado Mercado Pet, que é uma das áreas comerciais que mais crescem na atualidade. Sendo assim, a necessidade de mão de obra qualificada para o trabalho nos mais variados estabelecimentos veterinários também tem crescido bastante. É justamente nesse mercado crescente que o auxiliar de veterinária pode se enquadrar, ajudando em todas as seções e repartições dos pet shops, consultórios, clínicas ou hospitais veterinários, além de zoológicos e fazendas. Dentre as atividades que podem ser realizadas pelo auxiliar de veterinária, dentro da rotina clínica, estão: • Aferir temperatura • Observar condições físicas e neurológicas dos animais • Informar as condições de saúde dos animais ao veterinário • Auxiliar na coleta de materiais para a realização de exames • Controlar sinais vitais do animal, como temperatura, pulso, perfil capilar • Ministrar medicamentos sob a supervisão do médico veterinário • Aplicar injeções • Fazer curativos • Alimentar os animais FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 8 • Exercitar os animais • Higienizar o local de estada dos animais • Glosar e arrancar dentes de cavalos • Prestar primeiros socorros • Pesar o animal • Conter o animal • Auxiliar nos procedimentos de acesso intravenoso • Fazer a tricotomia de animais antes da cirurgia • Selecionar as caixas cirúrgicas • Preparar o material cirúrgico • Auxiliar no procedimento de intubação do animal • Posicionar o animal na mesa de cirurgia • Fazer a assepsia do animal • Transportar o animal dentro do estabelecimento • Recolher o material utilizado (instrumentos) • Separar materiais descartáveis • Separar o lixo hospitalar • Embalar o lixo hospitalar para descarte • Lavar os instrumentos cirúrgicos • Montar a caixa de cirurgia • Dobrar panos, aventais e uniforme • Esterilizar materiais, instrumentos e o ambiente FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 9 Dentre as atividades que podem ser feitas pelo auxiliar de veterinária, no que diz respeito às outras áreas do pet shop, consultório, clínica e hospital estão: • Atender a clientes-proprietários dos animais • Buscar os animais • Conversar com os proprietários • Informar sobre normas e regulamentos do estabelecimento • Orientar sobre noções de saúde, higiene e alimentação • Indicar o atendimento do animal pelo médico veterinário • Entregar o animal • Orientar sobre cuidados especiais para estética • Orientar sobre tipos e raças de animais para aquisição • Administrar o local de trabalho • Solicitar material e medicamentos • Repor material e medicamentos • Controlar óbitos • Embalar cadáveres • Encaminhar os cadáveres para necropsia ou para o aterro sanitário • Enviar materiais coletados para os laboratórios • Limpar e lubrificar equipamentos • Desinfetar equipamentos • Demonstrar competências pessoais • Demonstrar capacidade no trato com animais • Demonstra paciência • Demonstrar autocontrole • Demonstrar bom humor • Demonstrar concentração • Demonstrar paciência FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 10 • Avaliar riscos • Demonstrar senso estético • Administrar conflitos • Demonstrar conhecimento teórico EXERCÍCIOS 1. O que você entende por canídeos? E por felídeos? 2. Explique com suas palavras como se deu a domesticação dos cães e gatos. 3. O que fez com que os gatos selvagens se aproximassem do homem pela primeira vez? Em que região do mundo se deu essa aproximação? 4. Quando surgiu a primeira escola de Medicina Veterinária? Em qual país? Qual era a principal espécie animal estudada? 5. Para você, quais são as 10 principais funções de um Auxiliar de Veterinária? AAuullaa 33 A morfologia do cão Com base no tamanho, os cães podem ser divididos em: • Pequenos (menos de 46 cm); • Médios (de 46 a 61 cm); • Grandes (mais de 61 cm). Com base no peso, a divisão é a seguinte: • Pequenos (menos de 10 kg); Duchshund: exemplo de cão porte pequeno Bulldog inglês: cão de porte médio Pastor Alemão: cão de porte grande FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 11 • Médios (de 11 a 25 kg); • Grandes (de 26 a 45 kg); • Gigantes (acima de 46 Kg ) Todos os cães possuem regiões do corpo idênticas: • Zona anterior: composta pela cabeça, pescoço e membros anteriores; • Corpo: composto pelo dorso, rins, caixa torácica e abdome; • Zona posterior: composto por ancas, membros posteriores e cauda. O corpo do cão: as 3 grandes regiões:zona anterior, corpo e zona posterior. O São Bernardo, raça de porte gigante que pode chegar a 100kg de peso! FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 12 1. Trufa 2. Chanfro (zona posterior do nariz) 3. Olho 4. Orelha (pavilhão) 5. Pescoço (região dorsal) 6. Espádua 7. Cernelha ou Garotte 8. Dorso 9. Rim 10. Garupa 11. Cauda 12. Coxas 13. Articulação (joelho) 14. Perna 15. Jarrete (tarso) 16. Metarso 17. Região inguinal (virilha) 18. Prepúcio 19. Flanco 20. Ventre 21. Braço 22. Pescoço (zona ventral) 23. Bochecha 24. Boca 25. Codilho (cotovelo) 26. Ante-braço 27. Carpo 28. Mão (dedos) 29. Unhas 30. Esterno 31. Ponta da espádua 32. Peito ou costelas 33. Garganta 34. Nuca 35. Extremidade das nádegas 36. Extremidade do cotovelo Classificação zoológica do cão: Classe : Mamíferos Subclasse : Eutérios Supra-ordem : Carnívoros Ordem : Carnívoros terrestres Família : dos canídeos Género : Canis Espécie : Canis familiaris – cão doméstico FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 13 AAuullaa 44 Introdução à anatomia e fisiologia animal O corpo do cão é descrito por regiões. Cada uma corresponde a um setor anatômico preciso. Encontram-se, assim, definidas 52 regiões que permitem, nomeadamente ao perito de certificação ou ao juiz de exposição, apreciar o espécime apresentado e explicar as decisões tomadas ao seu proprietário. Cabeça 1. região frontal 2. r. parietal 3. r. temporal 4. r. auricular 5. r. zigomática 6. r. orbital 7. r. intraorbital 8. r. nasal 9. r. bucal 10. r. massetérica Pescoço 11. r. da laringe 12. r. da parótida 13. r. dorsal do pescoço 14. r. lateral do pescoço 15. r. ventral do pescoço (r. traqueal) 16. r. pré-escapular Tórax 17. r. interescapular 18. r. dorsal 19. r. Lombar 20. r. da espádua 21. r. do pré-esterno 22. r. do esterno 23. r. das costelas 24. r. do hipocôndrio FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 14 49. r. da perna 50. r. do tarso 51. r. do metatarso 52. r. metatarso-falangiana O aparelho locomotor do cão e do gato O esqueleto é a estrutura do cão e do gato. Trata-se de um conjunto de ossos organizados entre si por meio de articulações que podem ser de tipos distintos de acordo com o grau de amplitude entre dois ossos: algumas são totalmente fixas (ossos do crânio), outras permitem movimentos em três dimensões (articulação entre o crânio e a coluna vertebral). A mobilidade do esqueleto é assegurada pelos músculos estriados que, por meio de tendões, se inserem sobre ossos diferentes. A sua contração implica movimentos ao nível das estruturas ósseas, umas em relação às outras, tal como nos movimentos de flexão e extensão. As contrações musculares são comandadas pelos nervos através do sistema nervoso central: o cérebro e o cerebelo para os movimentos voluntários, a espinal-medula para os reflexos. Os neurônios que tomam parte no comando dos movimentos são designados por neurônios motores em oposição aos neurônios sensitivos que conduzem a informação ao cérebro. Abdome 25. r. xifoidiana 26. r. do flanco 27. r. umbilical 28. r. hipogástrica 29. r. inguinal 30. r. do prepúcio Pelve 31. r. do sacro 32. r. coccígea ou r. caudal 33. r. dos glúteos 34. r. da tuberosidade coxal 35. r. da tuberosidade isquiática Membro torácico 36. r. da articulação escapulo-humeral 37. r. do braço 38. r. bicipital 39. r. do codilho 40. r. do ante-braço 41. r. do carpo 42. r. do metacarpo 43. r. metacarpo- falangiana 44. r. ungiculada Membro pélvico 45. r. da articulação da anca 46. r. da coxa 47. r. do joelho 48. r. póplitea FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 15 O cão possui três a quatro formas de locomoção, com maior ou menor grau de desenvolvimento consoante a raça: passo, trote, galope, passo travado. O cão é um bom saltador e um nadador médio, apresentando sempre variações em função da raça. O esqueleto do cão • O esqueleto. A coluna vertebral, formada por diferentes tipos de vértebras, desempenha o papel de eixo axial na qual se inserem 13 costelas, 10 das quais ligadas pelo esterno, formando a caixa torácica. O crânio articula-se com a primeira vértebra cervical em forma de receptáculo, o atlas. Este articula-se com a seguinte, o axis, em forma de "pivot", de tal forma que a cabeça se pode movimentar em volta do eixo formado por estas duas vértebras. • Os membros posteriores, verdadeiro sistema de propulsão do cão, engrenam-se na bacia ao nível da articulação da anca, estando a bacia, por sua vez, unida à coluna através de um sistema de ligamentos complexos. Os membros 1. Mandíbula 2. Face 3. Crânio 4. Vértebras cervicais 5. Vértebras torácicas 6. Costelas 7. Vértebras lombares 8. Íleo 9. Sacro 10. Vértebras caudais 11. Ísquio 12. Fémur 13. Rótula 14. Fíbula 15. Tíbia 16. Tarso 17. Metatarso 18. Falanges 19. Metacarpo 20. Carpo 21. Rádio 22. Ulna 23. Esterno 24. Úmero 25. Escápula FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 16 anteriores, com um papel menos ativo na propulsão, estão simplesmente ligados à coluna torácica por meio da escápula e músculos adjacentes. • Os ossos são formados por uma estrutura fibrosa calcificada. Esta calcificação ocorre progressivamente no decurso da vida fetal e durante a fase de crescimento. Esta última fase é muito longa no caso dos cachorros de raças grandes, pelo que se aconselha uma grande prudência em relação aos aportes de cálcio da alimentação para evitar carências e excessos. O cálcio ósseo constitui, ao longo de toda a vida do cão, uma reserva que aumenta ou diminui ao passo que o teor de cálcio sanguíneo permanece constante. O centro dos ossos é constituído pela medula óssea, tecido esponjoso que produz as células sanguíneas. O esqueleto do gato O esqueleto do gato é composto por 279 a 282 ossos, geralmente alongados, esguios e finos, mas muito resistentes. • Coluna vertebral: 50 a 54 vértebras distribuídas por 5 segmentos ou regiões. Inclui 7 vértebras cervicais, 13 dorsais ou torácicas, 7 lombares, 3 sagradas e 20 a 24 caudais ou coccígeas (cauda); • Tórax: esterno; 13 pares de costelas, 9 das das quais esternais; • Cabeça: o osso frontal é extremamente curto e o crânio é volumoso e globular. As fossas temporais e as órbitas são muito extensas. As mandíbulas são fortes e curtas. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 17 AAuullaa 55 Introdução à anatomia e fisiologia animal (continuação) As articulações e músculos do cão • As articulações São diferentes de acordo com os movimentos que condicionam: a simples soldadura que impede qualquer movimento (ossos do crânio), a sínfise cartilaginosa que permite um ligeiro movimento entre duas estruturas ósseas (sínfise púbica), a verdadeira articulação em que as superfícies em causa se encontram cobertas por uma cartilagem hialina e por uma cápsula comum às 2 articulações. Esta cápsula recobre uma cavidade repleta por um líquido viscoso, a sinóvia, que desempenha simultaneamente um papel nutritivoe lubrificante para a cartilagem. A cartilagem é um tecido muito frágil, não renovável caso seja destruído, razão que explica a importância dessa dupla proteção sinovial. Frequentemente, a cápsula articular está envolvida por um revestimento fibroso e numerosos ligamentos que reforçam a contenção articular. Caso duas extremidades ósseas não sejam estritamente complementares, pode estar inserido um disco ou menisco cartilaginoso complementar entre as duas superfícies articulares (articulação do joelho). • Os músculos São constituídos por um conjunto de células contráteis ligadas entre si por membranas que formam feixes musculares. Esses feixes reúnem-se formando tendões fibrosos que se ligam às zonas de inserção óssea. As células contráteis possuem constituintes específicos que lhe vão permitir encurtar-se, situação que produz, à escala muscular, a contração. Esta requer a energia transportada pelo fluxo sanguíneo, armazenada e metabolizada a nível celular. A determinação desta contração é nervosa, designando-se por placa motriz a junção entre a célula nervosa e a célula muscular. Trata-se de um sistema complexo que permite a transformação da informação nervosa em contração muscular. O sistema muscular está assim 1. Mandíbula 2. Face 3. Crânio 4. Vértebras cervicais 5. Vértebras torácicas 6. Costelas 7. Vértebras lombares 8. Íleo 9. Sacro 10. Vértebras caudais 11. Ísquio 12. Fémur 13. Rótula ou Patela 14. Fíbula 15. Tíbia 16. Tarso 17. Metatarso 18. Falanges 19. Metacarpo 20. Carpo 21. Rádio 22. Ulna 23. Esterno 24. Úmero 25. Escápula FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 18 12. Semitendinoso 13. Gastrocnêmio 14. Músculo flexor dos dedos 15. Tendão calcanear comum 16. Músculos extensor longo dos dedos 17. Músculo tíbial cranal 18. Músculo intercostal interno 19. Peitoral profundo 20. Flexor ulnar do carpo 21. Músculo extensor do carpo 22. Músculo extensor comum dos dedos 23. Músculo extensor radial do carpo estreitamente interligado ao sistema circulatório e nervoso, qualquer alteração a nível de um deles implica repercussões imediatas no aparelho locomotor. Músculos superficiais do cão As articulações e músculos do gato As articulações são notavelmente flexíveis e móveis. Os membros conseguem efetuar uma rotação completa sem risco de luxação. O esqueleto é extremamente flexível e a cauda pode assumir todas as posições. 1. Glândula parótida 2. Glândula mandibular 3. Braquicéfalico 4. Esterno-cefálico 5. Trapézio 6. Grande dorsal 7. Abdominais (músculo oblíquo externo do abdómen) 8. Glúteo médio 9. Músculos sacrocaudais 10. Músculo tensor da fáscia lata 11. Bíceps fémurais 24. Bíceps braquial 25. Peitoral 26. Tríceps braquiais 27. Deltóide 28. Esterno-hióideo 29. Orbicular da boca 30. Zigomático 31. Levantador naso-labial 32. Masseter 33. Orbicular 34. Temporal FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 19 Os músculos da cabeça são caracterizados pelo seu grande desenvolvimento, complexidade e interligação com os músculos subcutâneos. Os músculos mastigadores são extremamente desenvolvidos. A região cervical é composta por uma espessa massa muscular que está subdividida em 4 camadas. Os músculos do abdome são muito desenvolvidos, conferindo à parede abdominal a sua textura carnuda e espessura característica. Os músculos da anca e coxas são bastante fortes. As características específicas dos músculos dos membros são baseadas no número dos dígitos das mãos e dos pés. Os membros possuem músculos rotatórios (de pronação e de supinação: movimentos de rotação de 180¼ da face palmar ou plantar das mãos e pés). Os membros posteriores, mais fortes que os anteriores, estão sempre preparados para o relaxamento ou propulsão do animal. No caso do gato, a corrida é composta por uma série de saltos longos e rasantes. O gato é um corredor de velocidade e não de distâncias longas. Os seus músculos e garras permitem-lhe escalar e trepar com facilidade. Consegue saltar muito alto e, quando a altura é suficiente, consegue criar sobre as 4 patas. Músculos superficiais do gato 1. Músculo trapézio 2. Músculo grande dorsal 3. Fáscia toracolombar 4. Músculo glúteo médio 5. Músculo tensor da fáscia lata 6. Músculo sacrocaudal 7. Músculo gastrocnêmio 8. Músculo oblíquo externo do abdómen 9. Músculo recto do abdómen 10. Músculo tríceps do braço 11. Músculo braquiocefálico 12. Músculo esternocefálico FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 20 Afecções do aparelho locomotor A artrose Afecção das articulações caracterizada pela destruição progressiva da cartilagem articular associada à formação de osteófitos (pequenos ossos) e de modificações do osso subcondral e da membrana sinovial. É a evolução sistemática de uma articulação dolorosa. Dor, agravada pela umidade e pelo frio. Melhora com o exercício moderado, mas agrava-se sob exercício muito violento. Estes sintomas representam o estágio 1. O estágio 2 é caracterizado por episódios agudos, como ganidos e supressão de apoios. A doença evolui para o bloqueio total da articulação acompanhado por uma diminuição da dor (estágio 3). As artrites São inflamações da articulação. Podem ter diferentes origens: sépticas, com a presença de um microorganismo infeccioso na articulação (a inoculação do microorganismo na articulação pode, por exemplo, ocorrer por ocasião de dentadas), ou estéreis, podendo ser imunológicas (poliartrites, as mais freqüentes) ou não. A artrite séptica é caracterizada por uma inflamação (vermelhidão, calor, tumefação, dor) com inchaço nítido e eventualmente supressão de apoios. Pode atingir uma ou várias articulações que são mais frequentemente as grandes articulações ou as articulações intervertebrais. As poliartrites apresentam os mesmos sintomas, sendo algumas, no entanto, mais específicas de uma raça. A displasia coxo-femural Trata-se de uma afecção congênita, de caráter hereditário contestado, caracterizada por um desenvolvimento anormal da articulação coxo-femural, que tem como conseqüência uma má imbricação do fêmur na cavidade articular do quadril. É freqüente nos cães grandes e tem desenvolvimento rápido (Terra-Nova, Labrador, Pirinéus, Pastor Alemão). FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 21 A primeira fase, dominada pela dor, é observada nos cães em fim de crescimento. Pode ser suspeitada nos seguintes casos: marcha anormal "desengonçada" dos posteriores, posição em "X" dos posteriores vistos por trás, recusa em trotar; galope de lebre: o cão não desenvolve o movimento de flexão-extensão característico; recusa do salto; coxear constante; dor à manipulação forçada em flexão- extensão. A segunda fase ocorre por volta dos 3 anos de idade: existem os mesmos sintomas, exacerbados pela artrose. AAuullaa 66 A pele do cão e do gato A pele, no sentido mais puro, representa o limite entre o organismo e o meio exterior. Inclui duas estruturas: a pele, no sentido estrito, ou seja, a estrutura queratinizada e os seus anexos (pêlos e diversas glândulas). Estrutura da pele A pele possui uma estrutura queratinizada. Podem distinguir-se 3 níveis na espessura da pele: 1. A epiderme, composta por uma camada basal, constituída por células em divisão e células produtoras de melanina (pigmento responsável pela cor da pele); uma camada clara (duas a três camadas celulares) muito espessa ao nível da trufa e das almofadinhas. Trata-se de células resultantes de divisões anteriores e de macrófagos (responsáveis pela "eliminação" dos elementos estranhos); de uma camada granulosa em que as células se aplanam; de uma camada córnea composta por células muito planas sem núcleo, contendo uma quantidade considerável de queratina;uma camada superficial onde se situam as células de descamação. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 22 2. A derme, separada da estrutura anterior por uma lâmina basal e que representa uma camada espessa da pele: 1,3 mm no dorso até 2,5 mm nas almofadinhas. Contém fibras elásticas e colágeno que asseguram a elasticidade e a resistência a pele. 3. A hipoderme, que forma a camada mais profunda, rica em adipócitos (células gordas ou lipídicas). Apenas a derme e a hipoderme são vascularizadas e inervadas, atuando como receptores das informações provenientes do exterior e do interior. Os anexos da pele São compostos por diversas formações: • Os folículos pilosos, constituídos por um pêlo e sua respectiva bainha, uma glândula sebácea e um músculo eretor, responsável pelo eriçar do pêlo. • As glândulas sudoríparas: as apócrinas, situam-se na derme profunda e o seu canal desemboca a jusante da glândula sebácea. Estão presentes em todo o corpo. As exócrinas, localizam-se na junção da hipoderme e da derme profunda. Encontram-se, apenas, sobre as almofadinhas plantares e a trufa. Os seus respectivos canais desembocam ao nível da epiderme independentemente do folículo piloso. • As outras glândulas compreendem as glândulas anais, que servem para a marcação territorial, e as glândulas supra-caudais, situadas sobre a base da cauda. 1. Pêlo primário 2. Epiderme 3. Derme 4. Músculo eretor do pêlo 5. Gordura subcutânea 6. Glândula sebácea 7. Glândula sudorípara 8. Pêlo secundário 9. Papila FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 23 EXERCÍCIOS 1. Cite, de acordo com os seus conhecimentos, 3 raças de cães de porte pequeno, 3 de porte médio e 3 de porte grande. (você ainda não estudou as raças, portanto, pode ser que não saiba todos, mas pelo menos tente!). 2. O que é o esqueleto? O que garante sua mobilidade? 3. Cite os anexos da pele. Afecções mais comuns da pele Alergias cutâneas São fenômenos de hipersensibilidade de expressão cutânea que ocorrem em animais sensíveis. O alérgeno pode penetrar no organismo por quatro vias: a inalação (pode então provocar uma atopia urticária), a ingestão (provoca uma alergia alimentar, medicamentosa, urticária), através da pele (alergia por contacto) ou a via parenteral (caso das dermatites por alergia à picada de pulga – DAPP -, injeções de medicamentos ou urticária). Alopecias São definidas como uma perda anormal de pêlos, deixando aparecer a pele. Podem ser: localizadas, regionais, gerais, bilaterais e simétricas e não simétricas. Existem vários tipos de alopecias conforme a sua origem: Vista palmar do membro torácico do cão: 1. Almofadinha do carpo 2. Almofadinha palmar (metacarpo) 3. Almofadinhas digitais 4. Unha 5. Esporão FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 24 • Reversíveis: podem ser: de origem endócrina não ligada ao sexo (hipertiroidismo, síndrome de Cushing, síndrome de Cushing iatrogênicas, nanismo hipofisário), ligada ao sexo (disfunção endócrina de origem ovariana ou testicular: sertolinoma, síndrome feminilizante dos machos); devidas a uma infecção bacteriana (piodermite) e fúngica; resultado de afecções parasitárias: sarna (sarcóptica), demodécica, queiletielose, trombiculose, pulicose, DAPP, leishmaniose; ou de origem pouco conhecida: acantose pigmentar, seborréias, dermatites piotraumáticas. • Irreversíveis: Podem ser hereditárias: alopecia congênita do cão, alopecia mutante de cor (Doberman, Setter, Chow-Chow); ligadas a um processo necrosante: agente físico e químico, piodermite profunda, micose profunda, lúpus eritematoso disseminado ou discóide, doença de Lyell, de tipo neoplásico. Dermatite atópica Trata-se de uma dermatite pruriginosa alérgica, de predisposição hereditária, causada por alérgenos inalados (pólen, poeiras, escamas). Manifesta-se em animais com 1 a 3 anos de idade nas raças Terrier, Dálmata, Setter irlandês e Pequinês e apresenta um caráter sazonal. Dermatite de contato É uma reação inflamatória da pele causada pelo contato direto com uma substância irritante (sabão, detergente, solo, inseticidas, ácidos, alcatrão, gasolina) ou alergênica (depois de contactos repetidos, ocorre o aparecimento local de uma dermatite nas regiões de contacto. Ex.: vegetais, lã, tapetes sintéticos, plástico, coleira inseticida, cobertores). Dermatite de lambedura Esta dermatite é causada por lambidela das patas. É típica das grandes raças, muito ativas, que ficam sós durante o dia. Dermatite por picada de pulgas (DAPP) É provocada pela presença de pulgas na pelagem e cuja picada leva a uma hipersensibilização do tegumento do animal à saliva do inseto. As regiões do pescoço, dorso-lombar, abdominal e a cauda são as mais atingidas. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 25 Seborréias Manifesta-se sob a forma de uma afecção cutânea caracterizada por uma produção anormal de sebo pelas glândulas sebáceas dos folículos pilosos e escamação exagerada. Muitas vezes é secundária a uma dermatose (demodicose, sarna). Pode ser primária nos Cockers, Épagneuls, Terriers ingleses e Pastores alemães. Com freqüência, há um desequilíbrio hormonal (genital na fêmea) que é a causa determinante. Principais sintomas: Aspecto gorduroso e escamoso da pele. Odor de ranço característico. Prurido ausente a moderado. Evolução crônica, podendo complicar-se por uma infecção bacteriana ou parasitária. As sarnas A sarna do cão é uma doença de pele causada por um pequeno ácaro microscópico chamado Sarcoptes Scabiei. O parasito 'cava' túneis nas camadas mais profundas da pele causando intensa coceira, o sintoma mais conhecido da sarna tanto em humanos como em animais. Mas é claro que nem todo prurido (coceira) significa sarna. Os ácaros penetram na camada mais profunda da epiderme, denominada germinativa, responsável pela regeneração da pele, perfurando-a e revestindo-a com queratina, fazendo com que se crie uma parede cornificada, provocando assim esfoliação das camadas superiores. Novas camadas de camada córnea são geradas em reação defensiva frente aos ácaros, Como resultado há uma maior vascularização da epiderme com conseqüente rubor e calor, que se detecta como uma inflamação. Os parasitos carregam consigo germes que são os causadores das infecções secundárias que se estabelecem no local, e que põe em alerta as defesas naturais do organismo do cão, que passa a combater não apenas um invasor parasita, mas também a bactéria ou fungo, o que complica ainda mais o quadro clínico. Além da coceira, que pode ter tão intensa que faça com que o animal pare de comer pelo estresse, a sarna causa perda de pêlos, descamações e crostas na cabeça, orelhas e patas, podendo alastrar-se para todo o corpo do animal, se não for tratada. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 26 No gato, a sarna é causada por um outro ácaro, o Notroedis cati. Os sintomas são praticamente os mesmos que nos cães, porém, encontramos lesões principalmente na cabeça e orelhas. O ácaro pode também infestar outras espécies como o cão, o coelho, o burro e ainda o Homem. A sarna notoédrica é altamente contagiosa, quase sempre por contacto direto. À semelhança do Sarcoptes scabiei (sarna canina), este ácaro resiste alguns dias no ambiente fora do hospedeiro. Desta forma, as camas e os utensílios de limpeza (escovas, pentes, tosquiadoras...) podem ser fontes de contágio. Os animais podem pegar sarna no contato direto com outros cães ou gatos doentes, ou pelo contato indireto através de cobertores, roupinhas, toalhas, escovas, etc., contaminados. Por isso, no tratamento da doença, é importante não apenas tratar o animal, mas também os objetos usados por ele, lavando-os com água quente e, se possível, passando a ferro em temperatura alta. A escabiosenão deve ser confundida com demodicose ou "sarna negra". Essa última é causada por outro agente, o Demodex canis, não é transmissível de um animal para outro, mas sim da mãe para o filhote. Enquanto a escabiose pode ser tratada, a sarna negra não tem cura, mas controle. Caso não seja devidamente tratada, além de causar queda de pêlos generalizada, pode levar à morte, pela infecção secundária que se estabelece na pele do animal causada por entidades patogênicos encontradas inclusive na terra ou pelagem dos próprios animais, agravada ainda pela comichão intensa que provoca, levando a escoriações causadas pelas unhas do próprio animal. A sarna demodécica não é contagiosa para o homem, não havendo necessidade de maiores cuidados por parte das pessoas que com o animal doente tenham tido contato. Uma dúvida freqüente é sobre a possibilidade dos animais passarem a sarna para o homem. Embora exista um tipo de ácaro da escabiose para cada espécie (cães, gatos, homem, etc.), a sarna dos animais pode, eventualmente, contaminar as pessoas também. As lesões de sarna no ser humano se manifestam como pontos avermelhados FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 27 nos braços e tórax, justamente as áreas onde as pessoas têm contato direto com os animais quando os carregam. A coceira é o sintoma característico e esse tipo de sarna no homem tem tratamento fácil, na maioria das vezes. Para diagnosticar a sarna é preciso raspar as lesões da pele do animal, especialmente as áreas com descamações. Ao microscópico, esse raspado de pele irá revelar ácaros ou seus ovos. Muitas vezes as lesões da pele e o histórico são tão característicos de sarna que nem é necessário o exame. Porém, a escabiose pode ser confundida com algumas dermatites que também causam coceira, como as alergias. Assim, antes de iniciar um tratamento contra sarna, o veterinário deve ser consultado para confirmar se realmente trata-se dessa doença. As micoses Alguns tipos de fungos são os causadores de micoses, tanto no homem quanto nos animais. Esses fungos podem viver no solo, nas plantas ou na pele. Mesmo sendo tão facilmente encontrados, os fungos só irão causar micoses na presença de condições especiais como baixa resistência do organismo. Assim, numa mesma casa com vários animais, um deles pode apresentar micose em vários locais do corpo e os outros não. A micose mais conhecida e comum nos animais é causada por um fungo denominado Microsporum. Popularmente, essa micose é conhecida por "tinha". Ela é transmissível ao homem, porém, da mesma maneira que nos animais, a pessoa só será afetada se estiver numa condição de baixa resistência. Cães e gatos podem apresentar micose em qualquer local da pele. Ela se inicia com uma crosta que, ao ser retirada, revela uma lesão arredondada, sem pêlos, em formato moeda (pode ser irregular também). As micoses de pele geralmente não causam coceira, porém, alguns animais desenvolvem alergia ao fungo e passam a coçar e morder o local afetado. O diagnóstico é feito pelo aspecto da lesão e/ou por raspados de pele que vão revelar a existência de fungos. No caso de uma lesão isolada, o tratamento é feito com cremes ou pomadas aplicadas no local (tópicas). Mas há animais que apresentam lesões espalhadas pelo corpo todo. Nesses casos, e nas vezes em que só a medicação tópica não foi suficiente, fazemos uso dos antimicóticos por via oral. Normalmente as micoses são tratadas com facilidade e os pêlos começam a crescer em 15 ou 20 dias. Casos resistentes requerem a mudança de tratamento, associação de medicamentos por via oral ou cultura de fungos. Animais que constantemente apresentam micoses podem recorrer a vacinas específicas. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 28 AAuullaa 77 O sistema nervoso O sistema nervoso recolhe as informações provenientes do exterior ou produzidas pelo organismo, o que se dá o nome de estímulos. Liberta também impulsos que vão determinar a contração dos músculos voluntários e involuntários (os músculos do esqueleto que controlam os movimentos e os que fazem parte das vísceras, a secreção das glândulas). O sistema nervoso é composto por células exclusivamente nervosas, os neurônios e células de suporte que as envolvem e que formam a neuróglia. Os neurônios podem funcionar como receptores quando recebem um estímulo, ou emissores quando enviam impulsos nervosos, ou ainda atuar em associação quando estabelecem uma relação entre dois neurônios diferentes. As diferentes fibras nervosas caracterizam-se pela sua excitabilidade e condutividade. A velocidade de condução da periferia para o cérebro e vice-versa é aproximadamente de 30 m/segundo. Os reflexos consistem numa transformação direta, através do sistema nervoso geral, de uma informação sensitiva externa ao sistema nervoso para o interior, numa informação motora, secretora ou inibidora, que parte do sistema nervoso até ao órgão implicado no reflexo em causa; tudo isto se processa num espaço de tempo relativamente curto. O sistema nervoso central É composto pelo cérebro, cerebelo, bolbo raquidiano (na cavidade craniana) e espinal- medula. Para além da proteção óssea que o envolve, o sistema nervoso central está recoberto por três membranas: a dura-máter, em contacto com o osso, o aracnóide e a pia-máter em contacto direto com o tecido nervoso. Esta proteção que funciona tanto em relação a choques como a agressões internas (existe uma "barreira" entre o sangue e as meninges designada por barreira hematomeníngica resistente a diversas substâncias) é justificada pelo fato dos neurônios serem células não renováveis. Qualquer lesão é assim irreparável. • No cérebro estão sediados diferentes centros: motor, sensitivo, visual, auditivo, olfativo e gustativo. É o centro da memória e da associação. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 29 • O cerebelo é a sede do equilíbrio e da coordenação de movimentos. • A espinal-medula constitui um importante centro de reflexos, tal como o bolbo raquidiano (vômito, salivação...) que é também o centro do automatismo respiratório, cardíaco e dilatador/constritor dos vasos sanguíneos. Conformação exterior dos hemisférios cerebrais I face lateral esquerda II face medial 1. Hemisfério cerebral 2. Cerebelo 3. Espinal-medula 4. Pedúnculos cerebrais 5. Fissura pseudo-silviana 6. Sulco rino-lateral 7. Cerebelo 8. Espinal-medula 9. Hipófise A medula espinhal 1. Septo dorsal 2. Veio lateral dorsal 3. Gânglio espinal 4. Ramo dorsal 5. Ramo ventral 6. Ligamento denteado 7. Nervo espinal 8. Funículo dorsal 9. Coluna dorsal 10. Coluna ventral 11. Funículo ventral 12. Fissura ventral 13. funículo lateral 14. canal central 15. coluna lateral FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 30 O sistema nervoso periférico É constituído pela reunião das fibras nervosas em nervos que se ramificam simetricamente para uma posterior distribuição pelo conjunto do corpo. Conduzem assim a informação sensível da periferia para os centros de integração do sistema nervoso central: os nervos sensitivos; ou então transportam os impulsos gerados pelo sistema nervoso central até ao órgão alvo: os nervos motrizes. Diversos nervos são mistos e compreendem simultaneamente fibras sensíveis e motrizes. O sistema nervoso vegetativo Tem na sua origem uma cadeia de gânglios nervosos situados de ambos os lados da coluna vertebral. Controla as funções vegetativas de organismo, cujo funcionamento não é comandado pelo sistema nervoso central ou periférico. Subdivide-se em dois sistemas: os sistemas simpático e parassimpático que possuem ações opostas, consoante o caso, ativadoras ou inibidoras das funções de um determinado órgão. Por exemplo, o sistema parassimpático ativa o trânsito intestinal enquanto queo sistema simpático o inibe. O sistema nervoso participa em numerosas afecções e interações medicamentosas. Os danos podem ser muito variados e exigem um bom domínio do tema. As convulsões O termo convulsão refere-se ao distúrbio paroxístico (ataque súbito) involuntário do cérebro, geralmente manifestando-se como uma atividade muscular descontrolada. Epilepsia refere-se à recorrência ou repetição das convulsões, particularmente se a causa fundamental não pode ser identificada (epilepsia idiopática). As convulsões caracteristicamente são não precipitadas, estereotipadas e cessam espontaneamente. Portanto, a epilepsia é uma enfermidade funcional do cérebro caracterizada por convulsões tônico-clônicas, periódicas, recorrentes geralmente de breve duração e aparentemente similar à epilepsia do homem. A epilepsia idiopática foi descrita em muitas espécies, mas com grande freqüência nos cães, principalmente nas raças Cocker Spaniel , Beagle, Pastor Alemão, Setter Irlandês, etc. Animais com epilepsia freqüentemente tem uma FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 31 história de nervosismo e desorientação antes da convulsão. Esta fase pré-ataque é seguida pelas próprias convulsões, que normalmente duram de 1 a 2 minutos e se caracterizam pela perda ou perturbação da consciência, pelo olhar fixo, pela alteração do tono muscular, movimentos dos membros (tonico-clonicos) e alguns animais também apresentam micção, evacuação e salivação. As convulsões podem começar no primeiro ano de vida do cão, mas com maior freqüência no segundo ano. O local de origem das convulsões no cérebro é chamado de foco das convulsões sendo que elas podem ser amplamente divididas em dois grupos: nas ormas generalizadas e focal (parcial). Exercícios 1. Cite e explique os diferentes sistemas nervosos 2. Qual sistema nervoso é responsável pelos ataques convulsivos: o central, o periférico ou o vegetativo? Por que? AAuullaa 88 O sistema circulatório Entende-se por circulação sanguínea o estudo dos vasos (veias e artérias) e do coração, não só no plano anatômico como também fisiológico. A circulação linfática é o sistema de drenagem que auxilia a circulação geral. Na seqüência de um desenvolvimento normal, o eixo do coração do cão deve apresentar-se oblíquo em relação ao eixo do corpo, situando-se o coração mais à esquerda do que à direita. O coração é achatado transversalmente, o lado direito em posição cranial (em direção à dianteira do cão) e o lado esquerdo em posição caudal (em direção à traseira). Assim, a base do coração onde estão situados os vasos é simultaneamente cranial e dorsal, enquanto que o ápice é caudal e ventral. A sua área de inserção situa- se entre a 3° e a 6° costela e o peso varia consideravelmente em função da raça do cão. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 32 1. 3° costela 2. 6° costela 3. Orifício aórtico 4. Orifício pulmonar 5. Orifício átrio-ventricular esquerdo O coração Divide-se em quatro grandes compartimentos: o átrio direito que recebe o sangue pobre em oxigênio e envia-o para o ventrículo direito, que o expele em direção aos pulmões; o átrio esquerdo que recebe o sangue dos pulmões rico em oxigênio, envia-o para o ventrículo esquerdo que por sua vez o expele para as diferentes zonas do corpo. No adulto o coração é totalmente compartimentado, não se verificando a mistura entre os sangues rico e pobre em oxigênio, a passagem pelos diferentes compartimentos processa-se graças a válvulas que formam um sistema de “portas”. 6. Ponta do coração 7. Ponta do cotovelo 8. Válvula tricúspide 9. Orifício aórtico 10. 3° costela Coração do cão face auricular 1. Ventrículo direito 2. Tronco pulmonar 3. Aurícula direita 4. Veia cava cranial 5. Aorta 6. Veia cava caudal 7. Aurícula esquerda 8. Ventrículo esquerdo FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 33 Os batimentos cardíacos Os batimentos cardíacos processam-se segundo um ciclo bem definido. Graças à fraca pressão do retorno venoso e à abertura das válvulas átrio-ventriculares, os ventrículos enchem-se passivamente (estando as válvulas arteriais fechadas), seguidamente a contração dos átrios completa o enchimento: a sístole auricular (ou atrial). Segue-se a sístole ventricular, o ventrículo encontra-se no ponto máximo de enchimento, a pressão intraventricular aumenta, provocando o fechamento das válvulas átrio-ventriculares no início da contração dos ventrículos. Esta contração vai adquirindo cada vez maior intensidade até ao ponto em que a pressão intraventricular passa a ser superior à pressão das artérias, desencadeando assim a abertura das válvulas arteriais. Finalmente, os músculos cardíacos relaxam permitindo o encerramento das válvulas arteriais: a fase de relaxamento. Os átrios voltam a encher- se, as válvulas átrio-ventriculares abrem-se, os ventrículos enchem-se e tem início um novo ciclo. De fato, durante a auscultação com estetoscópio, o clínico apenas percebe os ruídos provocados por estas diferentes fases. Os batimentos cardíacos traduzem-se no cão por dois sons: "bum" - pequeno silêncio – "ta" - grande silêncio. O "bum" corresponde a um som longo uma vez que a sua origem é múltipla: encerramento das válvulas átrio- ventriculares, entrada do sangue sob pressão nos ventrículos e entrada turbulenta do sangue na raiz dos troncos arteriais mais grossos. O "ta" corresponde a um som mais breve uma vez que a sua origem é única: o fecho das válvulas arteriais. Ao nível do cão, qualquer ruído suplementar pode ser considerado patológico. No entanto, graças à utilização de métodos recentes tais como a eletrocardiografia ou a ecocardiografia, os batimentos cardíacos podem ser estudados com maior rigor. A sua interpretação é bastante complexa e deve ser entregue a especialistas. Finalmente, podemos interrogar-nos sobre a proveniência do ritmo cardíaco. De fato, na parede muscular existem 3 tecidos, denominados nodais, compostos por células que podem despolarizar-se lenta e espontaneamente, dando origem a um potencial de ação que se propaga a todas as células cardíacas, provocando assim a contração do coração. É o tecido nodal situado ao nível dos átrios que impõe o seu ritmo, desempenhando assim a função de “marca- passo” do coração. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 34 Esquema geral da circulação 1. Capilar da cabeça 2. Veia cava cranial 3. Tronco braquio-cefálico 4. Aorta 5. Tronco pulmonar 6. Veias pulmonares 7. Capilar dos pulmões 8. Tronco celíaco e mesentérico 9. Capilar das vísceras 10. Capilares do corpo O ritmo cardíaco pode ser modificado por diferentes fatores, quer externos (percepção de um objeto estressante...) quer internos, possuindo uma ação sobre os trajetos nervosos compostos por fibras aceleradoras ou moderadoras. De igual forma, o pulmão e os gases sanguíneos vão influir na freqüência cardíaca por meio de baroreceptores situados na curva aórtica. O excesso de oxigênio conduz à diminuição do ritmo cardíaco enquanto que o excesso de gás carbônico possui um efeito acelerador. AAuullaa 99 As artérias e veias O coração desempenha apenas o papel de propulsor mas são os vasos sanguíneos que transportam o sangue até aos órgãos. Do ponto de vista anatômico, designam-se por artérias os vasos que saem do coração (quer o sangue seja rico ou 11. Canais linfáticos do corpo 12. Veia porta 13. Capilar do fígado 14. Veias sub-hepáticas 15. Canal torácico (linfa) 16. Veia cava caudal 17. Ventrículo esquerdo 18. Ventrículo direito 19. Aurícula esquerda 20. Aurícula direita FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 35 pobre em oxigênio) designando-se por veias os que regressam ao coração. Estas últimas comportam pequenasválvulas que proporcionam ao sangue uma pressão fraca mas indispensável à circulação. É por este motivo que, quando se corta uma artéria o sangue jorra em jatos, enquanto que no caso de uma veia o derrame se processa de forma contínua. A aorta, grande artéria cujo sangue se apresenta enriquecido em oxigênio, parte da zona esquerda do coração em direção à zona anterior do animal. Curva-se rapidamente, formando o arco da aorta, tomando então a direção da zona posterior. Imediatamente antes da curvatura, encontra-se o início do tronco braquiocéfalico (que vasculariza a cabeça e os membros anteriores) assim como a artéria subclávia esquerda com destino ao tórax. Seguidamente a aorta passa pelo abdome para irrigar todos os órgãos e membros posteriores através da ramificação em artérias progressivamente de menor calibre. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 36 As veias no cão As artérias do cão 1. Artéria temporal 2. A. auricular 3. A.cervical 4. A. escapular dorsal 5. A. torácica 6. A. intercostal 7. A.celíaca 8. A. mesentérica cranial 9. A. lombar 10. A. ilíaca externa 11. A. ilíaca interna 12. A. sacral 13. A. pudenda interna 14. A. tibial 15. A. safena 16. A. femoral 17. A. média 18. A.antebraquial 19. A. braquial 20 e 21.A. torácicas 22. A. axilar 23. Tronco costo- cervical 24. A.tiroidiana 25. A.carótida comum 26. A.vertebral 27. A. carótida externa 28. A. facial 13. V. auricular 14. Glândula parótida 15. V. do olho, do nariz e dos lábios 16. Glândula mandibular 17. V. facial 18. V. jugular externa 19. V. axilar 20. V. do coração 21. V. torácica interna 22. V. cefálica 23. V. metacarpiana 24. V. cava caudal 25. V. hepática 26. V. porta 27. V. hepigástrica 28. V. dorsal da glande 29. V. safena interna 30. V. metatarsiana 31. V. safena lateral 32. V. poplitea 33. V. fémural 34. V. ilíaca externa 35. V. pudenda interna 1. Veia caudal 2. V. ilíaca interna 3. V. sacral lateral 4. V. testicular 5. V. renal 6. V. porta 7. V. intercostal 8. V. cava cranial 9. V. costocervical 10. V. cervical profunda 11. V. vertebral 12. V. jugular interna FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 37 Uma vez chegado ao músculo ou ao órgão, a artéria divide-se num feixe de arteríolas, artérias que permitem a distribuição do oxigênio e que em troca retiram o dióxido de carbono. O sangue volta a sair por vênulas que confluem numa veia de pequeno calibre. Todas estas pequenas veias partem então em direção à veia cava cranial na zona anterior do corpo ou à veia cava caudal na zona posterior. Estas duas veias trazem o sangue de volta ao lado direito do coração que o propulsiona seguidamente, através do tronco pulmonar, em direção aos pulmões onde o sangue se liberta do gás carbônico. Regressa ao coração pelas veias pulmonares para retomar a aorta: e o círculo encerra-se. A circulação linfática do cão e do gato Trata-se de um sistema de drenagem que retira a linfa da circulação geral (sanguínea). Os vasos são igualmente valvulados aglomerando-se com intervalos reduzidos para atravessar a linfa em dois grandes troncos coletores: o ducto torácico e o ducto linfático direito. Os vasos em si são pouco visíveis, no entanto são facilmente detectáveis os linfonodos linfáticos (ou gânglios) que filtram a linfa da mesma região. O seu número é relativamente considerável, alguns são superficiais e palpáveis, outros profundos (nas grandes cavidades) e apenas podem detectados por via da radiologia ou ecografia. Na maioria dos casos a sua hipertrofia reflete uma inflamação ao nível da região de drenagem, razão que justifica a importância da palpação durante o exame clínico. Trata-se também de um local de passagem privilegiado das células cancerígenas ao transitar de um órgão para outro, explicando-se assim que se proceda a extirpação dos gânglios quando se faz a ablação de um tumor para limitar a extensão da doença. Sistema linfático do cão 1. Troncos lombares 2. Tronco visceral 3. Tronco traqueal 4. Tronco torácico 5. Tronco bronco-mediastinal FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 38 Afecções cardíacas de cães e gatos Cardiomiopatia dilatada As cardiomiopatias referem-se às afecções do miocárdio (músculo cardíaco) e são frequentemente de origem desconhecida. A cardiomiopatia dilatada é caracterizada por uma dilatação dos ventrículos, agravada por uma diminuição das capacidades contrácteis do coração, que levam a uma falha na ejeção do sangue. Atinge principalmente os cães adultos de grande porte, especialmente das raças Doberman, Boxer e Cocker. De surgimento rápido nos cães relativamente jovens (aproximadamente 5 anos), pode-se suspeitar desta doença quando há o aparecimento de uma tosse principalmente noturna cada vez mais forte, dificuldades respiratórias (aumento da freqüência respiratória, Gânglios linfáticos da cabeça 1. Gânglios linfáticos retrofaríngeos laterais 2. Gânglio linfático retrofaríngeo medial 3. Gânglio linfático mandibular 4. Gânglio linfático parotídeo Gânglios linfáticos clinicamente exploráveis 1. Gânglios linfáticos axilares acessórios 2. Gânglios linfáticos axilares 3. Gânglio linfático cervical superficial ventral 4. Gânglios linfáticos cervicais superficiais dorsais 5. Gânglio linfático retrofaríngeo medial 6. Gânglios linfáticos mandibulares 7. Gânglio linfático parotídeo 8. Gânglio linfático retrofaríngeo lateral 9. Gânglios linfáticos mediastínicos craniais 10. Gânglios linfáticos mesentéricos craniais 11. Gânglio linfático poplíteo superficial 12. Gânglio linfático inguinal superficial. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 39 discordância: não sincronismo dos movimentos respiratórios torácicos e abdominais), cianose (a língua fica azul) e emagrecimento. Insuficiência mitral Pertence às insuficiências cardíacas que acometem a parte esquerda do coração. A insuficiência cardíaca define-se como uma diminuição da função de bombeamento do coração provocando o aparecimento de efeitos secundários graves. No caso de insuficiência mitral, é a válvula mitral entre a aurícula e o ventrículo esquerdo que se encontra lesada. O refluxo de sangue no átrio esquerdo leva ao aparecimento de um edema pulmonar. De acordo com a sua extensão, este edema caracteriza-se por uma tosse principalmente noturna, depois cada vez mais forte, dificuldades respiratórias visíveis apenas durante o esforço e depois espontâneas, crises significativas de asfixia, sintoma de um edema pulmonar agudo, cianose durante o esforço e, nos casos mais graves, uma síncope. Conforme a gravidade, os exercícios do cão deverão ser encurtados ou até limitados a saídas higiênicas. Se esta afecção for diagnosticada logo no início, o tratamento instaurado pelo Médico Veterinário poderá retardar o agravamento dos sintomas. O sangue O sangue é um líquido viscoso, heterogéneo, composto por uma parte líquida – o plasma – e uma parte globular formada pelos glóbulos vermelhos (hemácias), glóbulos brancos e plaquetas. Possui uma dupla função: transporte e defesa. Permite o transporte de: • Gases respiratórios, como o oxigênio e o dióxido de carbono; • Metabólitos celulares; • Resíduos produzidos pelas células; • Substâncias que regulam a atividade celular, como hormônios; • Calor, entre as zonas de produção e as de eliminação. O sangue desempenha também um papel fundamental na defesa do organismo. Graças às propriedades de hemeostase e de coagulação, as hemorragias são estancadas em caso de ruptura da parede interna de um vaso sanguíneo. Algumas células, como os macrófagos, desempenham um serviço de limpeza, removendo todos os resíduos de origem interna ou invasores externos.Finalmente, o sistema imunitário permite detectar todos os elementos estranhos "memorizados" e reconhecidos, eliminando-os com maior eficácia. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 40 Os glóbulos vermelhos Os glóbulos brancos Os glóbulos brancos ou leucócitos atuam simultaneamente na limpeza e no patrulhamento organizado contra os invasores. Com efeito, são compostos por diferentes tipos celulares especializados que cooperam ativamente na troca permanente de informações, graças a mensageiros químicos denominados citocinas. Conseguem detectar todos os elementos estranhos e resíduos, destruindo, envolvendo e digerindo-os. Estão dotados de uma grande capacidade de aprendizagem - a função imunitária - que lhes permite reconhecer com maior eficácia um elemento já anteriormente detectado (antígeno), atacando-o graças à presença de anticorpos específicos. A vacinação tira partido desta capacidade de memória. As plaquetas São pequenas células que entram em atividade logo que surge um elemento estranho no sangue, ou ao entrarem em contato com o tecido conjuntivo, no local de uma pequena ruptura vascular. Possuem a capacidade de aderirem a essa área, onde rapidamente se aglomeram, formando uma espécie de tampão. Simultaneamente, os vasos contraem-se localmente e a hemorragia é estancada. Este processo é conhecido por hemostase. Com um formato discóide, os glóbulos vermelhos ou hemácias contém hemoglobina, uma proteína composta por ferro e que transporta oxigênio. Caracterizam-se por possuir paredes muito elásticas, o que lhes permite atravessar os vasos capilares, por mais estreitos que sejam. O seu tempo médio de vida é de 2 meses. Após a sua destruição por células especializadas, a hemoglobina transforma-se num pigmento, a hemoglobina transforma-se num pigmento, a bilirrubina, que por sua vez é transformada e eliminada através da bílis e urina, o que lhes confere uma coloração amarela ou verde. Os elementos do sangue 1. Plaquetas 2. Leucócitos 3. Hemácias FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 41 Exercícios 1. Explique resumidamente as funções dos glóbulos vermelhos, dos glóbulos brancos e das plaquetas. AAuullaa 1100 A respiração A respiração é a função que permite ao organismo fornecer oxigênio às células e tecidos e, simultaneamente, eliminar o dióxido de carbono (trocas gasosas). O aparelho respiratório divide-se em duas partes: o aparelho respiratório superior e o inferior. Aparelho respiratório superior É constituído pelas cavidades nasais, nasofaringe, laringe e traquéia. As cavidades nasais estão situadas no chanfro e na fronte do cão e abrem-se para o exterior através das narinas que, por sua vez, se encontram na trufa. Dotadas de uma estrutura cartilaginosa, evidenciam uma boa abertura e permitem a entrada de ar. As cavidades nasais e a nasofaringe. As cavidades nasais no seguimento das narinas são constituídas por cornetos e seios nasais. São separadas por um septo ósseo médio cujos ossos se apresentam enrolados sobre si mesmos (cornetos). A mucosa que os recobre é bastante extensa o que permite amplificar o seu papel: Cavidade nasal do cão 1. Osso nasal 2. Osso incisivo 3. Maxilar 4. Cartilagem lateral 5. Septo nasal FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 42 ricamente vascularizada, aquece o ar saturando-o de vapor de água. Além disso, as glândulas nasais nela contidas segregam um muco que capta as partículas agressivas do ar (pó, micróbios...). Outra parte da mucosa, a olfativa, permite ao cão a percepção dos odores. Após a passagem nas cavidades nasais, o ar é encaminhado pelas coanas, para a nasofaringe situada no final da boca. Encontra-se, agora, a uma temperatura praticamente idêntica à do organismo e liberto das suas impurezas. A laringe. O ar prossegue o seu trajeto até aos pulmões pela laringe e traquéia. A laringe é constituída por quatro cartilagens (cricóide, tiróide, aritenóide e epiglote) e está ligada aos ossos do crânio pelo osso hióide. Um conjunto de músculos permite a mobilidade das cartilagens umas em relação às outras. Assim, a laringe abre-se para a respiração e fecha-se quando o cão deglute evitando a passagem dos alimentos para a traquéia, caso empreendessem a via errada. Modula, também, o débito de ar fechando- se em maior ou menor grau. A laringe comporta, também, as cordas vocais que vibram por meio da passagem de ar, emitindo sons: rosnados, latidos. A traqueia. É um tubo comprido constituído aproximadamente por 40 anéis cartilaginosos fechados por um músculo traqueal. Conduz o ar da laringe (na garganta) até aos brônquios (no tórax). A contração do músculo traqueal diminui o diâmetro da traquéia, modulando consequentemente o débito de ar ou evitando a sua dilatação excessiva em caso de tosse, por exemplo. O aparelho respiratório inferior É composto pelos brônquios e pulmões situados no interior da cavidade torácica da qual se encontram separados pela pleura. O tórax do animal está delimitado, lateralmente pelas costelas e, na zona posterior, pelo diafragma. Os pulmões estão separados da parede costal pela pleura que define a cavidade pleural. Mantém-se, assim, sempre cheios de ar. Os pulmões do cão estão divididos em 7 lobos: 3 à esquerda (lobo apical, médio e diafragmático) e 4 à direita (lobo apical, médio e diafragmático e acessório). Esquema geral do aparelho respiratório do cão 1.Cavidade nasal 2. seios nasais 3. Coana 4. Faringe 5. Laringe 6. Esôfago 7. Traquéia 8. Terminação da traquéia 9. Bordo basal do pulmão esquerdo 10. Projeção do diafragma 11. Pulmão esquerdo FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 43 Os brônquios dividem-se e asseguram a condução do ar até aos alvéolos pulmonares: o número de brônquios é idêntico ao dos lóbulos pulmonares. Dividem-se, seguidamente, em bronquíolos de calibre progressivamente menor. Os pulmões são, também, amplamente vascularizados de forma a permitir as trocas de oxigênio e dióxido de carbono (hematose) numa grande superfície. A hematose A hematose designa o conjunto de trocas gasosas entre o ar alveolar e o sangue. Resulta de fenômenos puramente passivos, envolvendo os gradientes da pressão parcial dos gases entre o ar e o sangue. O oxigênio, mais concentrado nos alvéolos do que no sangue, passa do ar para o sangue. O dióxido de carbono segue o caminho inverso. A única forma que o animal tem de agir sobre essas mudanças é fazer variar as pressões parciais, modificando o débito de ventilação. Qualquer aumento do débito de ventilação (hiperventilação) acelera a renovação do ar alveolar, aumentando as trocas gasosas. Os receptores localizados nas artérias carótidas e na aorta analisam permanentemente a composição do sangue arterial, adaptando a ventilação a qualquer variação, de forma a manter sempre os mesmos níveis de pressão parcial de oxigênio e dióxido de carbono. Afecções respiratórias A broncopneumonia É uma inflamação purulenta dos bronquíolos e dos alvéolos pulmonares adjacentes. Conduz à produção de toxinas e a uma impossibilidade de drenagem pelos bronquíolos, que são destruídos. Principais sintomas: Dificuldades respiratórias com aumento da freqüência respiratória; sopro labial (os lábios levantam-se quando o cão expira); pequena tosse curta, dolorosa e violenta, febre com hipertermia irregular e abatimento acentuado, eventual afecção cardíaca. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 44 O estado geral do cão requer uma consulta veterinária. Evitar as atmosferas secas e as mudanças bruscas de temperatura que agravam as dificuldades respiratórias. Da mesma forma, é preferível fracionar a ração do cão, ou seja aumentar o número de refeições diminuindo as quantidades. Isto permitirámelhorar o estado geral de saúde. Se o cão ficar muito tempo deitado, é preciso virá-lo de vez em quando para evitar a estagnação dos líquidos no mesmo lado dos pulmões. A paralisia de laringe É uma diminuição do orifício da laringe, que provoca dificuldades respiratórias e uma respiração ruidosa. A intensidade dos sintomas varia caso a paralisia atinja um lado da laringe (cão de guarda preso, cirurgia) ou os dois (Bouviers, Bull-Terriers, animais idosos braquicéfalos, origem neurológica). Em alguns casos basta uma intervenção cirúrgica para obter resultados. AAuullaa 1111 O sistema digestivo Graças à digestão, o animal dispõe de nutrientes (moléculas diretamente utilizáveis pelas células) enquanto ingere alimentos com uma natureza molecular demasiado complexa para serem simultaneamente absorvidos pelo intestino e utilizados pelas células. Por conseguinte, o tubo digestivo do cão e do gato está totalmente direcionado para a simplificação molecular dos alimentos (carboidratos, lipídeos, proteínas) e a absorção dos nutrientes. Divide-se em três seções anatômicas: a primeira – ingestiva - é formada pela língua, dentes, glândulas salivares, faringe e esôfago; a segunda – digestiva - compreende o estômago, intestino delgado, intestino grosso e as glândulas anexas (fígado e pâncreas); a terceira - evacuação - engloba a extremidade do intestino grosso e o canal do ânus. A ingestão dos alimentos • A boca. O cão abocanha os alimentos para seguidamente os ingerir. Tal como todos os carnívoros, os dentes dos canídeos possuem um papel específico em termos da mastigação. Atualmente, quer a alimentação do cão seja caseira ou industrial, o animal limita-se a engoli-la sem ter de efetuar uma pré-mastigação mecânica. As glândulas salivares - em número par - libertam a saliva na cavidade bucal; os seus componentes aquosos e mucosos humidificam os alimentos e facilitam o seu trânsito no esôfago. No momento da deglutição, a língua empurra os alimentos em direção à orofaringe, a epiglote fecha-se (evitando assim que estes transitem para a traquéia) e os alimentos são conduzidos para o esôfago. FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 45 • O esôfago. A chegada da refeição e as contrações musculares do esôfago conduzem os alimentos através do tórax e diafragma até ao estômago passando por uma região deste último designada por cárdia. A digestão do alimento Os alimentos são constituídos por três tipos de moléculas: os glicídios, as proteínas e os lipídios. A digestão de cada um destes grupos implica a atividade de mecanismos e enzimas diferentes situados em lugares distintos do tubo digestivo. Será interessante referir, neste ponto, as diferenças que se prendem com o formato do cão: assim, o tubo digestivo de um cão de raça pequena representa 7% do seu peso corporal, este valor é aproximadamente 3% no caso de um cão de raça grande, circunstância que o torna globalmente mais “frágil” do ponto de vista digestivo. Disposição geral do aparelho digestivo do cão 1. ânus 2. Reto 3. Cólon descendente 4. Estômago 5. Fígado 6. Cárdia 7. Esôfago 8. Glândula mandibular 9. Parótida 10. Molares 11. Caninos 12. Língua 13. Traqueia 14. Diafragma 15. Piloro 16. Intestino delgado 17. Duodeno FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 46 • O estômago. Situa-se na zona esquerda da cavidade abdominal, por trás das abas costais, ultrapassando ligeiramente o esterno. O seu volume é considerável comparativamente ao do intestino devido ao regime alimentar carnívoro do cão. Quando o animal termina a refeição, o seu volume aumenta: totalmente dilatado, pode chegar a ocupar metade da cavidade abdominal. No estômago, os alimentos são submetidos a uma digestão simultaneamente mecânica e química. As contrações das túnicas musculares produzem uma agitação que dá origem à mistura dos alimentos com o suco gástrico, verificando-se, então, uma importante digestão química. • O intestino delgado. O quimo (alimentos parcialmente digeridos) é seguidamente propulsionado pelo piloro em direção ao duodeno, a primeira parte do intestino delgado. No entanto, o intestino é frágil e o esvaziamento gástrico processa- se lentamente, controlado, simultaneamente, pelo piloro e pela zona inicial do duodeno. • As glândulas digestivas. O conjunto do bolo digerido transita, então, para o intestino delgado onde é submetido à seqüência da digestão química por intermédio das secreções pancreáticas e hepáticas libertadas no duodeno pelos canais secretores. • O pâncreas. E um órgão bastante alongado, em forma de "V", nos carnívoros. Esta glândula é constituída por um conjunto de células denominadas ácinos, que produzem e libertam as enzimas digestivas no canal pancreático: o suco pancreático. Esta secreção ocorre apenas durante as refeições. As enzimassão libertadas sob uma forma inativa (caso contrário destruiriam os órgãos que atravessassem!) sendo ativadas posteriormente através de processos químicos que ocorrem no intestino. Estas enzimas são, assim, as precursoras das proteases, lipases e amilases. O suco pancreático é, também, constituído por bicarbonatos que permitem neutralizar o conteúdo do intestino acidificado pelo estômago. • O fígado é um órgão com múltiplas funções, entre as quais a digestiva. Situa-se por trás do diafragma, do lado direito. As células do fígado estão organizadas em lobos hepáticos. A bílis segregada é expelida através dos canais biliares, conducentes à vesícula biliar, onde a bílis se encontra armazenada fora das refeições. Assim, a segregação da bílis é contínua ao longo do dia. Quando o quimo atinge o duodeno, a vesícula contrai-se e provoca a descarga biliar. A bílis entra, assim, em contacto com os alimentos pré-digeridos no duodeno. A bílis é constituída por água, sais minerais, pigmentos biliares e sais biliares. Os pigmentos biliares não possuem qualquer função na digestão (são produtos de degradação da hemoglobina) e são, efetivamente, FORMAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE AUXILIAR VETERINÁRIO 47 excretados pelo tubo digestivo. Pelo contrário, os sais biliares possuem um papel fundamental na digestão dos lipídios. • A flora digestiva. O intestino do cão, tal como o de qualquer espécie animal, possui uma microflora importante constituída por microorganismos essencialmente bacterianos que participam ativamente nos fenômenos da digestão. Esta flora intestinal é extremamente sensível a variações em termos da qualidade alimentar (o cão é um carnívoro) o que explica que, contrariamente ao homem (que é onívoro), a alimentação do cão não deva ser alterada a cada refeição sob pena de provocar a destruição da flora intestinal e a ocorrência de diarréias. Este fenômeno justifica: - a necessidade imperiosa de se respeitar uma fase de transição alimentar de 8 dias, sempre que se proceda à alteração da alimentação, - o fato de determinadas bactérias lácteas incorporadas na alimentação evidenciarem propriedades digestivas muito positivas para o animal (referimo-nos aos "probióticos"). A digestão dos nutrientes • A digestão dos glucídios. Os glicídios estão presentes na alimentação sob diversas formas caracterizadas por um grau de maior ou menor complexidade. A molécula de base tem a designação ose: glicose, frutose, por exemplo. As outras moléculas constituem um encadeamento destas oses. O amido é, por conseguinte, uma enorme molécula constituída por uma grande quantidade de moléculas de glicose. A digestão dos glicídios simplifica as grandes moléculas para assim facilitar a sua absorção. Algumas enzimas participam nesta reação química: são amilases produzidas pelas glândulas salivares (em pequena quantidade) e pelo pâncreas. A simplificação dos glicídios processa-se majoritariamente no intestino delgado. • A digestão dos lipídios. Os produtos
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