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AS FONTES SOMÁTICAS DOS SONHOS FREUD, Sigmund. As fontes somáticas dos sonhos. In: _____ . Obras completas. Trad. José Etcheverry. 2 ed. Buenos Aires: Amorrortu, 1986. p. 223-239. Freud introduz à sua teoria dos sonhos conceitos derivados de Strumpell e Wundt, os quais estavam preocupados com a influência de estímulos somáticos sobre o conteúdo do sonho. No entanto, esse pensamento sofreu inúmeras críticas que só foram superadas quando Freud demonstrou que o sonho também é a realização do desejo de dormir e não acordar, mesmo com excitações externas. O conteúdo do sonho é influenciado por diversos estímulos somáticos, internos e externos, assim como, por estímulos nervosos. São eles que fazem com que nossa mente produza representações, gerando interpretações ilusórias de realizações de desejos. A interpretação dos estímulos somáticos feita pela mente adormecida pode não estar correta em sua totalidade, e eles podem não gerar o sonho, assim, surgindo críticas à teoria das fontes somáticas. Porém, a má interpretação se dá pela falta de interesse nela, pois o sujeito nega o estímulo externo, acarretando em várias reações frente a ele: acordando, não demonstrando reação e produzindo um sonho. O sonho representa os estímulos através de símbolos e a interpretação também é feita pelo simbolismo. No entanto, o material onírico se constitui não só de estímulos externos e internos, mas de resquícios diurnos ativos. Além disso, os sonhos são realizações de desejos e possuem finalidades, sendo uma delas, a prolongação do sono, ou seja, a realização do desejo de dormir. Contudo, quando o estímulo é doloroso o sonho ainda é produzido, realizando um desejo que foi suprimido. Freud explicita seu pensamento de que os materiais somáticos e diurnos influenciam na formação dos sonhos dando como exemplo seu próprio sonho: Eu montava um cavalo cinzento, a princípio tímida e desajeitadamente, como se apenas me reclinasse sobre ele. Encontrei um de meus colegas, P., que montava ereto um cavalo, envergando um terno de tweed, e que chamou minha atenção para alguma coisa (provavelmente minha maneira incorreta de sentar). Comecei então a me sentir sentando com firmeza e conforto cada vez maiores em meu cavalo muito inteligente, e percebi que me sentia inteiramente à vontade lá. Minha sela era uma espécie de almofadão, que preenchia completamente o espaço entre o pescoço e a garupa do animal. Assim, passei cavalgando bem no meio de dois carros de transporte. Depois de cavalgar um pouco rua acima voltei-me e tentei desmontar, primeiro diante de uma capelinha aberta que ficava de frente para a rua. Depois, desmontei realmente diante de outra capela que ficava perto da primeira. Meu hotel ficava na mesma rua; eu poderia ter deixado o cavalo ir até lá sozinho, mas preferi guia-lo até aquele ponto. Era como se eu fosse ficar envergonhado por chegar lá a cavalo. Um engraxate estava em pé diante do hotel; mostrou-me um bilhete meu que fora encontrado e riu de mim por causa dele. No bilhete estava escrito, duplamente sublinhado: “Sem comida”, e depois outra observação (indistinta) como “Sem trabalho”, juntamente com uma ideia vaga de que eu estava numa cidade estranha e não estava trabalhando. Assim, ele observou que o conteúdo somático, uma doença (furúnculo) pela qual ele estava passando, fez com que sonhasse que cavalgava, sendo que, isso seria impossível, demostrando então, a negação de sua doença, pois ele não queria tê-la, e a realização de um desejo. Também houve a manifestação de conteúdos ativos, pois o cavalo era cinzento, representando a mesma cor da roupa de P. na última vez em que se encontraram.
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