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Guarda, Tutela e Curatela   
1 – INTRODUÇÃO
No texto constitucional, a família, como base da sociedade, tem proteção especial do Estado, nesse mesmo texto o Estado imputa não somente a si próprio, como também a família e a sociedade a obrigação legal de proteger a criança, o adolescente e o jovem, conforme determina o Art. 227, CF/88. Para isso, como forma de regular tal proteção, alguns institutos estão inseridos na Carta Magna, servindo de direcionamento e princípios para orientação do ordenamento jurídico infraconstitucional.
O presente trabalho tem a pretensão de, em forma sucinta, conceituar importantes institutos no Direito das Famílias, a saber: a guarda, a tutela, a curatela e a adoção, situando-os no ordenamento jurídico, em especial na Lei 10.406/02 (Código Civil), na Lei 8.069/90 (ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente), bem como uma breve análise da Lei 12.010/09 – A Nova Lei Nacional da Adoção.
Cumpre pontuar ainda acerca das importantes alterações sobre os temas supramencionados trazidas pelo advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/15) e do Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/15).
2 – O INSTITUTO DA GUARDA
A guarda consiste na atribuição de um dos pais separados ou a ambos dos encargos de cuidado, proteção, zelo e custódia do filho. Quando é exercida por um dos pais, diz-se unilateral ou exclusiva; quando por ambos, compartilhada. Nessas circunstâncias a guarda integra o poder familiar, dele destacando-se para especificação do exercício (por Paulo Lobo). Este instituto não é regulamentado, limitando-se a identificá-lo como atributo do poder dos pais, e está inserido no CC/2002, no Título I, Subtítulo I, do Livro IV, Capítulo IX, que teve os Art. 1.583 e 1.584 alterados pela Lei 11.698/08 (Lei da Guarda Compartilhada), tendo também atenção especial no ECA (Lei 8.069/90) nos artigos 33 a 35.
A separação dos cônjuges (seja qual modalidade for: divórcio, separação de corpos, separação de fato), não enseja a separação de pais e filhos. O princípio do melhor interesse da criança o trouxe para o centro da tutela jurídica, prevalecendo, de todas as formas, sobre os interesses dos pais em conflito. Na perspectiva psicológica, diz que a criança não tem que escolher entre o pai e a mãe; é direito dela usufruir das duas linhagens de origem, cultura, posição social, religião. Seria desumano e injusto imputar-lhe este encargo de escolha. A proteção dos filhos é mais ampla que a regulação de guarda e a fixação da obrigação alimentar ao pai não guardião.
No ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) este conceito de guarda tem um alcance distinto do apresentado, haja vista que nesta lei está inserida a modalidade de família substituta, ao lado da tutela e da adoção, pressupondo a perda do poder familiar dos pais (conforme Art. 33 dessa lei), razão porque é atribuída a terceiro.
Este instituto disciplinará a proteção dos filhos, na ocasião da separação ou divórcio de seus pais, deixando clara a possibilidade de controle, tratando-se de um instituto jurídico pelo qual os pais recebem do Estado e da coletividade a missão superior de cuidar dos seus filhos, protegendo-os e estabelecendo limites de atuação, tendo, seus genitores, o direito, que também é obrigação, manter os filhos menores sobre sua companhia. Em se tratando de guarda compartilhada, a mesma será conferida a um deles, mediante acordo que entabularem ou segundo a decisão judicial proferida em demanda própria, podendo ainda ser conferida a um terceiro, se o juiz entender que a convivência com os genitores não vem em proveito dos filhos (previsão dada pelo ECA).
O guardião (aquele que detém o poder de guarda) tem o dever de assistência material, moral e educacional, podendo opor-se a terceiros, inclusive aos pais. A guarda gera condições de dependência para todos os efeitos de direito, inclusive previdenciários, mas não gera efeitos sucessórios, isto é, não concorrendo o guardado a sucessão hereditária do guardião. A guarda pode ser extinta ou modificada, se ficar comprovado que o guardião ou pessoas de sua convivência familiar não tratam convenientemente a criança ou adolescente.
A nossa legislação dispõe-se de três espécies de guarda, a saber: uniparental, guarda compartilhada ou conjunta e guarda alternada. Este instituto também pode ter um caráter provisório, em que coloca o menor em família substituta, sempre quando os pais biológicos não apresentarem condições, mesmo que temporária, de exercer com plenitude o poder familiar, podendo ainda a guarda anteceder ao procedimento de adoção e tutela.
2.1 – Guarda Uniparental
Na guarda uniparental ou exclusiva, o filho fica sob responsabilidade de um dos pais, cabendo ao outro o direito de visita (mas este sem perder seu pátrio poder), e é atribuída pelo juiz a um dos pais quando não chegarem ao acordo e se tornar inviável a guarda compartilhada, dado a que esta é a preferencial. Pode também ser atribuída a terceiros, quando o juiz se convencer que nenhum dos pais preenche as condições necessárias para tal. Ao juiz deve prevalecer, em sua decisão, sempre a que resultar no melhor interesse dos filhos (princípio do melhor interesse da criança). Portanto, o filho ficará sob a guarda de quem revelar melhores condições para exercê-la, afastando-se a odiosa e ultrapassada regra da culpa do pai ou da mãe que deu causa na separação.
2.2 – Guarda Compartilhada
Na guarda compartilhada ou conjunta é aquela que os pais dividem a responsabilidade na condução da vida do filho, de forma conjunta, sem haver a prevalência de um sobre o outro. A Lei 11.698/08 promoveu alteração radical no modelo de guarda dos filhos, instituindo a guarda compartilhada, que passa a ter prioridade para o juiz quando não existe acordo entre os pais, podendo ser fixada também por consenso entre os genitores. Essa guarda compartilhada de filhos aplica-se para casais divorciados, de uniões estáveis ou de relações individuais.
Com a guarda compartilhada, o pai e mãe passam a dividir direitos e deveres em relação aos filhos, e as decisões referentes a educação, saúde e ao bem estar do menor também serão tomadas em conjunto. Antes da aprovação desta lei, que alterou os Art. 1.583 e 1.584 do CC/02 possibilitando este compartilhamento, a guarda era sempre unilateral, ou seja, o filho ficava apenas com um dos pais, recebendo a visita periódica do outro. O novo sistema de guarda visa o bem estar da criança, que continuará tendo a presença ativa dos pais em sua vida, sendo uma forma de amenizar os estragos que a separação pode ocasionar nos filhos. A opção pela guarda compartilhada deve resultar da maturidade dos pais, que deverão ter capacidade em conviver civilizadamente e de se respeitarem, deixando de lado os problemas que resultaram na separação do casal, visando apenas o bem estar do filho. Se for evidente que não existe a possibilidade de os pais terem essa convivência é melhor que o juiz opte pela guarda unilateral.
2.2 – Guarda Alternada
Na guarda alternada, há a possibilidade de cada um dos pais deter a guarda do filho alternadamente. Nesse período, que pode ser de um ano, um mês, uma semana ou qualquer outro período acordado, o responsável detém de forma exclusiva os direitos e deveres em relação ao menor.
Segundo Waldir Grisard Filho, diretor nacional do IDBFAM, essa alternatividade não oferece segurança e estabilidade à criança, provocando conflitos e perturbações psíquicas irremediáveis, e nem garante segurança jurídica, pois alternando-se a guarda de um genitor para o outro, periodicamente, o usufruto e a administração dos bens da criança e a responsabilidade civil por atos por ela praticados mudariam, sucessiva e periodicamente, de titular e que, por isso e outras circunstâncias, os trabalhadores jurídicos e sociais condenam e desaconselham a prática da guarda alternada.
Vale ressaltar que, de acordo com o artigo 6º do Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei 13.146/15, o deficiente não é plenamente incapaz, podendo normalmente exercer o direito à guarda.
Desse modo, é garantidoao deficiente exercer o poder de guarda, seja qual for a sua modalidade.
3 – O INSTITUTO DA TUTELA
A tutela é um encargo a que se submete determinada pessoa, a quem se atribui a incumbência de administrar os bens e reger a vida de indivíduo menor de idade que não se encontra sob o poder familiar do pai e nem da mãe. O fundamento comum da tutela é o dever de solidariedade que se atribui ao Estado, à sociedade e aos parentes. Ao Estado, para que regule as respectivas garantias e assegure a prestação jurisdicional. À sociedade, pois qualquer pessoa que preencha os requisitos legais poderá ser investida pelo Judiciário desse múnus. Aos parentes, porque são os primeiros a serem convocados, salvo se legalmente dispensados. Trata-se, então, de um serviço público prestado por particular em caráter compulsório.
A tutela está regida no Título IV do Livro IV, Capítulo I, sendo também regulara pelo ECA, nos Art. 36 a 38. Então, na tutela, teremos o tutor e o tutelado (pupilo – que se trata de menor, que não se encontra sob o poder familiar dos pais, por falecimento ou interdição dos mesmos). A única diferenciação da tutela na regulamentação pelo Código Civil e pelo ECA é justamente no que concerne ao procedimento. Assim, visando facilitar o acesso ao instituto, exige o ECA apenas a perda ou suspensão anterior do pátrio poder dos genitores (Art. 36), chegando mesmo a dispensar a especialização da hipoteca legal sempre que o tutelado não possuir bens (ARt. 37), ou por qualquer motivo relevante. Ve-se, pois, o intuito do legislador menoril em facilitar ao máximo o deferimento da tutela, dispensando em casos específicos a oneração do patrimônio do tutor, evitando que crianças e adolescentes fiquem sem tutor em virtude de formalismos legais. Para os fins do ECA, a tutela, segundo os critérios gerais da legislação civil, é a segunda etapa da inserção da criança na família substituta, sendo a primeira etapa a guarda, de modo a permitir a consecução da terceira e última etapa, que é a adoção. No âmbito do CC, é mais ampla, com finalidade própria de proteção do menor, independentemente de sua inserção em família substituta.
A nomeação do tutor é negócio jurídico unilateral e deve obedecer a forma especial, sob pena de nulidade (Art. 107 e 166, IV, CC/02). A depender do modo de sua instituição, a tutela pode ser:
3.1 – Documental
O direito de nomear o tutor compete aos pais, em conjunto, bastando que estejam aptos a fazê-lo (Art. 1.729 CC/02). A tutela deve ser instituída através de documento autêntico, firmado por um ou ambos os pais, em conjunto ou separadamente. Vale qualquer escrito (carta, escritura pública, escrito particular, desde que deixe claro a nomeação e a identidade do signatário).
3.2 – Testamentária
O pai ou a mãe, através de testamento ou documento autêntico indicam a pessoa que será o tutor para os filhos menores, que deixam ao morrer (Art. 1729 CC/02). Por ser vedado testamento em conjunto, cada um deve indicar o tutor em instrumento distinto. Mesmo que um testamento seja considerado nulo ou anulável, a nomeação do tutor, se não tiver maculada a vontade do nomeador, terá validade. Caberá ao tutor, no prazo de 30 dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedido de controle judicial do ato (ECA 37), sendo concedida se comprovado que a medida é vantajosa para o tutelado e que não existe outra pessoa em condições melhores para assumi-la.
3.3 – Legítima
Na falta de tutela testamentária, serão convocados os parentes consangüíneos (ascendentes e os colaterais, conforme ordem disposta no Art. 1731 do CC). Porém, em benefício do tutelado, o juiz poderá escolher quem entender mais apto a exercer esta função. É imperioso atender ao melhor interesse do infante, devendo o encargo ser atribuído a quem já tiver com ele alguma afinidade, ainda que se afaste o juiz do rol legal.
3.4 – Dativa
Na falta ou exclusão do tutor legítimo ou testamentário, bem como ausência de parentes em condições de exercer a tutela, o juiz nomeará, através de sentença judicial, pessoa estranha, mas idônea e que resida no domicílio do menor para que assuma este encargo da tutela. Trata-se de uma tutela subsidiária, e tem como regra, em caso de irmãos menores, apenas um tutor para todos. Em se tratando de pais desconhecidos, falecidos, ou suspensos ou destituídos do poder familiar, serão incluídos no programa de colocação familiar (Art. 1.734 do CC).
O Código Civil inovou ainda, criando a figura do Protutor (Art. 1742) que tem como função fiscalizar os atos do tutor, sendo nomeado pelo doador e não pelo juiz.
Impedimentos
A tutela, por se tratar, não somente de patrimônio como também da guarda do menor, a lei elenca aqueles que não podem ser nomeados como tutor (incapazes ou não legitimados):
a) Quem não estiver na livre administração de seus bens;
b) Quem tem alguma obrigação ou direito para com o menor;
c) Inimigos do menor, de seus pais ou pessoas expressamente excluídas da tutela;
d) Condenados por crime contra o patrimônio, a família e os costumes;
e) Pessoas de maus procedimentos ou culpadas em abuso de tutorias anteriores;
f) Quem tem função pública incompatível com a tutoria;
Direito de recusa
Por causa da natureza do múnus público, a priori não pode ser recusado notadamente por quem seja parente consangüíneo do menor, todavia, tal compreensão é flexibilizada em determinados casos onde pode surgir dificuldades para melhor regular a administração dos bens do tutelado, havendo até confusão de interesses. No art. 1736 do CC prevê quais são aqueles que pode escusar da tutela. Porém, mesmo que a pessoa se encaixe na previsão legal de exclusão, nada impede que ele, querendo exercê-la e se enquadrando nos requisitos necessários, poderá exercê-la normalmente. O procedimento para manifestar à escusa far-se-á por meio de petição dirigida ao juiz nos mesmos autos que houve a designação da tutela, devendo ser apresentado no prazo de 10 dias subseqüentes à designação, sob pena de entender-se por renunciado o direito de alegá-la.
Manifestação do tutelado, encargos, prestação de contas e cessação
Apesar do CPC não prever a necessidade de manifestação de vontade do tutelado, apenas ocorrendo após a nomeação (no caso de pupilo adolescente), o ECA prevê de forma expressa e sempre que possível que a criança ou adolescente seja ouvido por equipe interprofissional, devendo sua opinião ser considerada. Sendo esse maior de 12 anos, sua opinião deverá ser respeitada (assegurado o direito à liberdade, opinião e expressão).
Além da responsabilidade da preservação do patrimônio do tutelado (o tutor passa a administrá-los, sem adquirir a condição de usufrutuário), o tutor também tem a responsabilidade pela educação e pelo aperfeiçoamento do tutelado, portanto, somente pessoa física pode exercer a tutela, mas o protutor pode ser pessoa jurídica. Ao tutor é exigido que não somente seja prestado, como também saldado suas contas, na cessação da tutela.
Pelo dúbio dever assumido (patrimonial e sucedânio do poder familiar) o tutor deve apresentar balanço ao juiz, anualmente e prestar contas a cada dois anos ou sempre que o juiz solicitar, sempre na forma contábil. Por se tratar do envolvimento de menores, o MP tem a legitimidade para solicitar, de ofício ou através de requisição de interessados, a prestação de contas. Finda a tutela por maioridade ou emancipação não desobriga o tutor de prestar as contas, em caso do tutelado dar quitação.
A cessação da tutela se dá com a maioridade ou emancipação do pupilo. Se dá também em caso do tutelado seja adotado ou tenha filiação reconhecida. Pode ser dispensado ainda, se cumprido os dois anos obrigatórios, sobrevier escusa legítima ou ainda se for removido, negligente, prevaricador ou por ter se tornado incapaz. Poderá ainda ser destituído, caso não cumpra fielmente ao papel o qual foi incumbido.
Conforme é sabido, a tutela, assim como a curatela, são medidas que visam ao campo patrimonial, e, como não poderia ser diferente, é plenamente possível que o deficiente exerça o direito à tutela,conforme prevê o inciso VI do artigo 6º da Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Salienta-se que, uma das principais alterações trazidas pelo referido Estatuto, trata-se da curatela. Passemos à sua análise.
4 – O INSTITUTO DA CURATELA
A curatela é um instituto protetivo (caráter protetivo e assistencial) dos maiores de idade, mas incapazes, ou seja, sem condições de zelar por seus próprios interesses, reger sua vida e administrar seu patrimônio. O processo de interdição é o meio próprio para incapacitar aqueles desprovidos de discernimento, sujeitando-se também à curatela os nascituros, ausentes, enfermos e os deficientes físicos. Também trata-se de múnus público. A curatela está diposta no CC/02, em seu Título IV do Livro IV, Capítulo II, art. 1767 a 1783, bem como no ECA (Lei 8069/90) como também na Lei de Registros Publicos (Lei 6.015/73.
A curatela não se confunde com a tutela, apesar de suas semelhanças e ainda, o legislador mandar aplicar à curatela as regras da tutela, respeitada as peculiaridades individuais, conforme prevê o Art. 1.774, CC, como também o ECA. Na curatela há uma tendência de maior liberdade ao curatelado, podendo este praticar os atos não patrimoniais de forma individual, sendo que a proteção deve ocorrer na medida exata da ausência do discernimento. É um acompanhamento ao curatelado para que suas decisões possam ser tomadas, de forma a não lhe prejudicar. A escolha do curador deve seguir os requisitos da lei, embora ela confere legitimidade ao pai ou à mãe para o exercício da curatela, bem como avós ou parentes que seja casados ou vivam em união estável, quer seja hétero ou homoafetiva (necessitando o reconhecimento de ambos exercerem de forma compartilhada tal tarefa).
A lei indica quem está sujeito à curatela, conforme o art. 1767 do CC, mas é questionável esta enumeração legal, haja vista que ao ser constatado qualquer incapacidade de todo dispensável rotular sua causa, basta para decretar a interdição, cabendo a perícia médica definir o grau de incapacidade, e conseqüentemente o decreto judicial da interdição. Mas vale ressaltar que o deficiente visual, o deficiente auditivo, o analfabeto, idade avançada ou mero enfraquecimento psíquico não configuram motivos bastantes para a interdição.
No que concerne ao instituto da curatela, esta admite graduações, levando em consideração os diversos graus de discernimentos e inaptidões mentais, criando espécies que se amoldam a cada situação singular. Comumente, a doutrina as classifica como:
a) Curatela dos adultos incapazes (que compreende um sucedâneo de hipóteses distintas): curatela dos psicopatas, curatela dos toxicômanos; curatela dos ébrios habituais; curatela dos pródigos; curatela dos que por outra causa duradoura não podem exprimir sua vontade.
b) Curatela do nascituro: que tem função de resguardar os direitos do nascituro, se a mulher grávida enviuvar, sem condições de exercer o poder familiar;
c) Curatela do ausente: tem como fito primordial resguardar os bens da pessoa que desaparece de seu domicílio, sem deixar notícias;
d) Curadorias especiais: as curadorias especiais ou oficiais se diferem das demais em razão da sua finalidade específica, que é a administração de bens e interesses e não a regência de pessoas.
Interdição
Essas pessoas são postas sob curatela. Só terão curadores mediante processo judicial com a sentença reconhecendo seu estado de incapacidade. A curatela sempre depende do processo de interdição. Os legitimados para requerer a interdição estão elencados no Art. 1768 do CC, sendo este processo regido pelos Art. 1177 a 1186 do CPC.
Cessada a incapacidade, a interdição pode ser levantada, sendo o pedido formulado pelo interdito ou pelo Ministério Público, sendo o curador citado, pois este sujeita aos efeitos sentença. Com a procedência da ação, cabe ao curador proceder a prestação de contas e saldá-las.
Ao analisar o Estatuto da Pessoa com Deficiência, percebemos que houve uma alteração importante com relação à curatela. Com as inovações oriundas da Lei 13.146/15, estabeleceu-se que:
Art. 6º: A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
[...]
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
Assim, de acordo com o artigo 84, § 1º do referido Estatuto, é possível a interdição de pessoa capaz. Conforme consta, “quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela”.
Na verdade, não se deve falar no termo “interdição”, tendo em vista que este se refere apenas aos incapazes. Por esse motivo, o Estatuto deu nova redação ao art. 1768 do Código Civil, tendo substituído “interdição” por “processo que define os termos da curatela”.
A curatela de pessoa capaz é a grande inovação trazida ao direito brasileiro, tendo em vista que, antes da Lei 13.146/15, o curador representava os absolutamente incapazes e assistia os relativamente incapazes. Agora com a alteração, a curatela não está mais ligada à incapacidade absoluta. Há possibilidade de ocorrer casos de deficiência sem curatela e deficiência qualificada pela curatela.
A lei também estabeleceu que a curatela engloba apenas os aspectos patrimoniais, ou seja, os aspectos existenciais referentes à vida, sexualidade, matrimônio, educação, saúde, voto, trabalho, dentre outros, não serão afetados pela curatela, conforme previsão em seu artigo 85 e seguintes.
Enfim, os deficientes não mais são considerados absolutamente incapazes, e sim relativamente incapazes. Caso haja impossibilidade real e duradoura da pessoa manifestar sua vontade, será necessária a curatela.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência também inovou ao trazer o instituto denominado “tomada de decisão apoiada”, que é um modelo jurídico distinto dos que já existiam. Trata-se de procedimento mediante o qual a pessoa deficiente elege duas pessoas em quem confie, para que estas lhe auxiliem, prestem apoio nas suas tomadas de decisão sobre atos variados da vida civil. O objetivo deste instituto é atender pessoas com deficiência física ou sensitiva, que não possuem impedimentos, apenas limitações em expressar sua vontade.
Em relação ao tema, o quadro abaixo demonstra de forma sucinta as principais alterações. Vejamos:
http://imgs.jusbrasil.com/publications/artigos/images/tabela1472132484.jpg
Por fim, cabe salientar que, a Lei 13.146/15 estabelece três possibilidades de intervenção na autonomia, quais sejam, i) pessoa sem deficiência terão capacidade plena; ii) pessoa com deficiência se valerão da tomada de decisão apoiada; iii) pessoa com deficiência qualificada pela curatela em razão da impossibilidade de autogoverno, serão submetidas a um regime especial que considerará as crenças e variações do curatelado.
Em outras palavras, pelo Código civil de 2002, a pessoa com deficiência era considerada absolutamente incapaz, e, agora com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência, tornaram-se relativamente incapazes. E, aquelas pessoas que eram relativamente incapazes, “com desenvolvimento mental reduzido”, são plenamente capazes e submetidos ao modelo da tomada de decisões apoiada. Tudo isso, para dar mais atenção e reconhecer quais são as reis vontades das pessoas com deficiência.
5 – CONCLUSÃO
O Estado Brasileiro, em seu texto constitucional, determina ser dever da família, da sociedade e do próprio Estado assegurar à criança e ao adolescente todas as garantias para que possam ter uma vida digna, voltada à construção e desenvolvimento de um novo cidadão. Desta forma, o Estado estabelece o múnus à sociedade, donde todos são responsáveis em assegurar os direitos e a devida proteção, não somente às nossas crianças e adolescentes, como também aos maiores incapazes, como podemos ver o instituto da curatela, bem como às pessoas com deficiência.
A guarda e a tutela são institutos autônimos, mas também transitórios que preparam a implementação de outro instituto definitivo, que é a adoção. Não há como adotar alguém sem antes preencherdiversos requisitos estampados no ECA, sem que haja a transição entre uma guarda provisória, onde a família adotante irá preencher um período de adaptação com o adotado, tudo em função do menor a ser adotado. Como institutos autônomos, tem sua grande importância principalmente no desfazimento da sociedade conjugal.
O instituto da guarda, transfere-se do CC/02 para o ECA, atendendo a um novo paradigma constitucional de total proteção à criança e ao adolescente, principalmente nos casos de abandono e maus tratos no seio familiar, fato esse da proteção integral olvidado pelo Código Civil atual. Sabedor da carência protetiva daquele que se encontra sem a devida proteção familiar, o ECA apresenta bons mecanismos para que tal missão seja cumprida.
Quanto ao instituto da tutela, nosso legislador, ao encerrar o texto do “novo” ordenamento jurídico implantado em 2002 limitou-se a copiar a legislação anterior, do Código de 1916, sendo este voltado à criança rica, ou seja, visando a proteção patrimonial, a priori. Exemplo maior é a ordem de preferência estabelecida pelo CC/02, deixando de lado a subjetividade que melhor atenda aos interesses da criança, além de atribuir vários ônus ao tutor, de caráter patrimonial. Porém, o ECA direcionou-se ao melhor interesse da criança e do adolescente, colocando-os como sujeitos de direito e atentando mais para suas necessidades pessoais, sociais e familiares de forma a assegurar seu pleno desenvolvimento. Nessa legislação especial, vários ônus de caráter assistencial e protetivo são atribuídos aos tutores. Entende-se portanto, que o ECA preocupa-se muito mais com a formação psicossocial do tutelado ao patrimônio do mesmo, sem descuidar deste último.
Quanto ao instituto da curatela, por se tratar de aplicação aos maiores incapazes (seja permanente ou momentâneo) e do nascituro em especial, o ECA não tem muita influência. Por se tratar, também, de múnus público, a curatela é regulamentada pelo CC/02, onde traz suas regras e consequências.
Finalmente, em relação às pessoas com deficiência, podemos concluir, basicamente, que a incapacidade existe para proteger o incapaz. Assim, o Estatuto da Pessoa com deficiência trouxe várias mudanças significativas no intuito de colocar em pé de igualdade as pessoas com deficiência às demais, bem como para fazer valer as suas vontades. Portanto, cabe ao intérprete da Lei, garantir integral proteção aos que necessitam, como é o caso das pessoas com deficiência. Se, ao deparar, com um caso em que a pessoa com deficiência não consegue exprimir sua vontade, a curatela é o instituto a ser designado à ela. Outrossim, caso esta pessoa consiga manifestar seus desejos, a tomada de decisões apoiada é a melhor alternativa.
Nosso legislador, estruturou os meios de proteção, como podemos observar no CC/02 e principalmente no ECA, sendo este um instrumento jurídico bastante importante. Mas não basta ser importante, não basta legislar, tem que tirar do papel tais determinações, para que nossas crianças e jovens necessitados possam ter um futuro melhor. O que adianta termos um excelente estatuto, mas a realidade de nossas crianças é totalmente diferente? Somente a sociedade (nós) poderemos mudar este quadro atual, sendo fiscais de nós mesmos e fazendo mudar a realidade vivenciada por nós!

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