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OS SALMOS DA SUBIDA Marcia Regina Correa mestranda em Teologia pela PUCPR RESUMO: Os salmos foram colecionados ao longo da história de Israel. Os 150 salmos são chamados de saltério. A uma variedade de grupos no saltério, salmos, hinos, e outros. E uma dessas coleções chama-se salmos da subida. Eles estão dentro de um contexto de peregrinação aos lugares de oração como o templo de Jerusalém. Narrando o que os peregrinos passavam no decorrer do caminho. Os salmos da subida são degraus do caminho espiritual, para levar a um encontro com Deus. Palavras chaves: salmos da subida; Jerusalém; peregrinação; Templo. JOINTH - 2014 15 INTRODUÇÃO Este artigo está dividido em 5 partes. As cinco partes estão divididas da seguintes maneira, a divisão dos salmos em grupos, a formação do saltério, a coleção dos salmos da subida, a teologia dos salmos da subida e a cidade de Jerusalém sua constituição. Os salmos da subida são como degraus de uma escada em sentido ascendente, uma subida espiritual. Eles levam a oração, e a questionar nossa vida e nossa oração, vivemos o que rezamos. São salmos que falam de Deus, reclamam as injustiças e querem justiça, mas a justiça que vem de Deus. OS SALMOS O nome salmo vem do grego psalmós, indicando o nome do instrumento de cordas que acompanhava os cânticos, os salmos, chamado de psaltérion semelhante a lira. (Bíblia CNBB – Introdução dos Salmos). Em hebraico, o saltério chama-se Tehillim, “Hinos”, mas o nome só se aplica adequadamente a certo número de salmos. O título mais frequente é mízmor, que supõe um acompanhamento musical e que se traduz muito bem com nossa palavra “salmo”. Alguns destes salmos também são chamados “cânticos”. (Bíblia Jerusalém – Introdução dos salmos). O livro dos salmos é formado por 150 salmos classificados em: A. Súplicas individuais (cf. Sl 3-7; 11; 13; 16; 17; 22; 23; 26; 27; 28; 31; 35; 36; 38; 40; 41; 42/43; 51; 54-57; 59; 61; 62; 64; 69; 70; 71; 86; 88; 92; 102; 109; 120; 130; 140-143). Agradecimentos do salvo (cf. Sl 30; 32; 63; 116; 118; 138). B. Súplicas coletivas. No nível de comunidade há também preces (cf. Sl 12; 20; 21; 44; 60; 74; 79; 80; 83; 89; 94; 106; 108; 123; 125; 131; 137) e agradecimentos (cf. Sl 66; 67; 124; 126; 129). JOINTH - 2014 16 C. Hinos festivos de diversas festas públicas (cf. Sl 2; 8; 15; 18; 19A; 24; 29; 45-48; 65; 68; 72; 76; 82; 84; 87; 93; 95-100; 101; 103; 104; 105; 110; 113; 114; 115; 117; 121; 122; 132-136; 144-149). D. Poemas espirituais, de ensinamento, meditação (cf. Sl 1; 9/10; 14; 19B; 25; 33; 34; 37; 39; 49; 50; 52; 53; 58; 73; 75; 77; 78; 81; 85; 90; 91; 107; 111; 112; 119; 127; 128; 139; 150). Segundo a classificação de Gerstenberger, embora nem todas as atribuições e classificações possam estar corretas segundo o autor. Mas a coleção dos 150 salmos só ficou pronta depois de longo trabalho de compilação dos textos sagrados. Mais provavelmente depois do exílio da Babilônia, e o que veremos a seguir. A FORMAÇÃO DO SALTÉRIO Então com a atuação de Esdras no século V.a.C. chegou-se a codificação dos livros da Lei Mosaica (Genesis a Deuteronômio) conforme o livro de Neemias capítulo 8. Os israelitas, derrotados pelos babilônicos em 587 A. C. foram libertados pelos persas em 539 A.C. permanecendo sob tutela estrangeira. Perdendo a autonomia Nacional, ficando somente o sonho de um dia restabelecer a dinastia e o império de Davi (Gestenberger, p.6, 1982). Enquanto isso a comunidade Judaica ia se organizando na Palestina como nos lugares de dispersão, em torno do novo templo reconstruído dos escombros do edifício salomônico e inaugurado em 515 A.C. Ela se reunia em torno das tradições sagradas do passado. A fé então se voltava as Sagradas Escrituras e não mais aos cultos vivos e a atuação imediata de Deus na história (Gestenberger, p.6, 1982). Para a grande maioria das comunidades judaicas o templo de Jerusalém ficava distante alvo então das romarias (sl 122). Então não podendo alimentar a vida cotidiana do povo, os judeus começaram a reunirem-se em assembleias locais para lerem as Escrituras e fazer preces ao Senhor (Gestenberger, p.7, 1982). JOINTH - 2014 17 Nos séculos pós-exílios, a coleção e compilação da sagrada tradição estava em andamento em dois lugares: no centro, nas dependências do templo em Jerusalém e nas assembleias locais, mais tarde chamadas de sinagogas. Temos raízes múltiplas para o surgimento do saltério. Pois ambos os lugares precisavam de hinos e orações para seus ofícios bem distintos. Embora os tipos diferentes de adoração vieram ainda de mais longe. Israel desde os primórdios, possuía cânticos para as suas festas nacionais conforme Ex 15,1- 18; Sl 68; Jz 5; Dt 32. Estes tinham o seu lugar no santuário central, nas liturgias celebradas em Jerusalém após a construção do templo por Salomão. Estas festas estimulavam a poesia em torno do reinado e de Sião, conforme, Sl 46; 132. Também sempre existiam celebrações e ofícios de comunidades locais, cerimônias de várias precedências e finalidades como em 1Sm 20,27ss. Foram estas últimas que colaboraram para formar o grupo das orações individuais no saltério (Gestenberger, p.7, 1982). Na fase final de compilação do saltério predominava o aspecto nacional a consciência israelita, mesmo nas províncias. Embora, não se pode desprezar as comunidades locais na origem da criação dos salmos. Dos grupos pequenos e familiais a sinagoga herdou ritos e orações especiais, pois era ali que se cantavam hinos e lamentações pela pessoa que sofria ou celebrava (Gestenberger, p.8, 1982). Na época pós-exílica os grupos que ficaram responsáveis de colecionar e preservar os escritos sagrados, eram homens letrados. Eles se chamavam de escribas, uma velha profissão, respeitada pelo rei e o povo simples. Mas tarde estes escribas se tornaram os líderes espirituais das comunidades judaicas. Eles organizavam e preservavam as comunidades, na Palestina e na diáspora (Gestenberger, p.8, 1982). Então o próprio saltério revela também vestígios do trabalho escribal no âmbito da sinagoga e do templo. Podemos ver isto pela divisão do livro em cinco partes, através de louvores comunitários (cf. Sl 41,14; 72,18; 89,53; 106,48) provavelmente facilitava a leitura dos salmos, nas assembleias semanais na comunidade local (Gestenberger, p.9, 1982). A adaptação de orações da província ao culto central provocou uma certa orientação espiritual para Jerusalém, seu monte Sião e, assim, para a JOINTH - 2014 18 unidade nacional (cf. Sl 30,1; 51,20s). Por outro lado, a insistência na autonomia da prece (cf. Sl 40,7-11; 50,7-15; 51,17-19) parece refletir a adoração sinagogal privada, em detrimento do sacrifício sangrento. Alguns títulos de salmos sugerem o uso das orações em círculos mais íntimos do que o culto grande do templo (cf. Sl 92,1; Sl 102,1) e a controvertida alusão aos “lugares santos” em Sl 74,8 pode referir-se justamente às primeiras sinagogas. As menções do culto de Jerusalém, no entanto, são inúmeras (cf. Sl 87; 122; 125 etc), e o cronista incorpora, com naturalidade, os hinos do saltério nas liturgias festivas da cidade santa (cf. 1Cr 16,7ss; 2Cr 4,12s) (Schwantes, p. 9, 1982) Concluímos então o saltério sai pronto das mãos dos escribas acrescentando poesias próprias como Sl 1; 19;119, durante o século III. A comprovação vem pelo autor do livro do Eclesiástico, Jesus Bem Siraque, encontrada do prólogo a Eclesiástico e Eclo 39,1-11. Viveupelo ano 200 A.C. na Palestina e parece já ter conhecido as três partes do cânon hebraico, a Lei, os Profetas e outros escritos. Também pelo autor do livro das Crônicas escrevendo mais ou menos em 300 a.C. já parece conhecer um coleção de hinos, dos quais ele usa para uma liturgia festiva ICr 16,7ss (Gestenberger, p.9-10, 1982). Na época pré-exílica os salmos não eram poemas privados mas cânticos de cunho comunitário. Nos títulos dos salmos temos pistas para encontrar os seus compositores originais. Aparecem entre os salmos atribuídos a Davi, coleções menores dos filhos de Coré, Asafe, em ambos os casos famílias de cantores bem conhecidos da literatura pós-exílica (Gestenberger, p.10, 1982). Antes do exílio e antes da centralização do culto em Jerusalém temos famílias sacerdotais em todas as partes de Israel. Esses sacerdotes cuidavam dos sacrifícios, cerimônias de todo tipo e especialistas em vários ofícios. A hipótese é reforçada porque no Oriente Médio era comum também ter esses sacerdotes que guardavam certa tradição religiosa. Em escavações na Mesopotâmia encontraram tábuas de uso litúrgico e sapiencial que revelam o nome do seu autor (Gestenberger, p.11, 1982). JOINTH - 2014 19 Então os sacerdotes pré-exílicos ministravam orações e liturgias ao povo eram funções a serem cumpridas em um santuário israelita. Como também ritos sacrificiais, consultar Javé uma espécie de ensino religioso. Na história bíblica quando olhamos Samuel, Elias, Eliseu eles eram meio profetas, sacerdotes com traços de videntes, milagreiro e curandeiro (cf. 1Rs 17,17-24; 2Rs 4,8-37; 8,7-10). Isto pode significar que ao lado dos sacerdotes tinham também outras pessoas que auxiliavam no templo. Estes homens de Deus por certo também oravam em prol de seus pacientes (cf. IRs 17,20; Nm 12,13; Is 38). Juntando estes fenômenos de cura com os cantores e sacerdotes do tipo dos “filhos de Coré” que parte dos salmos Veterotestamentário surgiram nas províncias, em santuários locais como Siquém, Betel, Nobe, Dan e Hebron. Comparando com o Antigo Oriente podemos dizer que funções como estas era matéria reservada a especialistas. Até mesmo os salmos que estão inseridos fora do saltério tem uma linguagem litúrgica, teológica e comunitária (Gestenberger, p.12, 1982). Então os sacerdotes locais ou os homens de Deus, profetas, carismáticos foram os encarregados de cuidarem do tesouro litúrgico do povo. “Eles se tornaram proprietários de ritos e orações. Assumindo também a responsabilidade de compor, transmitir e guardar os textos e ritos”. (Gestenberger, p.13, 1982) Embora os salmos tivessem sua redação final dos escribas, intelectuais da época, estes escribas podem ter sido pessoas que foram empobrecidos pelas circunstâncias da história por isso tanto proximidade com o sofrimento do povo, muitas vezes feito escravo. E também estes escribas eram tanto na parte central como também das assembleias locais. A COLEÇÃO DOS SALMOS DA SUBIDA Segundo Schwantes, p. 15 (2012), os salmos da subida foram usados no pós- exílio tardio, em peregrinações para as festas em Jerusalém. Estes salmos foram entoados por muitas gerações de peregrinos e judaítas devotos, pessoas simples do povo. Embora não podemos fixar uma data para os salmos da subida o que se pode deduzir é que várias gerações fizeram parte da JOINTH - 2014 20 formulação deste grupo de salmos. Tem se indicação para o exílio, mas pode também ser uma memória. Passando para tempos pós-exílicos, porque a diáspora é uma realidade marcante e as relações escravagistas, por isso pode- se datar pelos anos 300 a.C. As caminhadas a Jerusalém eram longas, eram os cânticos que encorajavam e animavam o povo a continuar. Conforme Schwantes, p.15 (2012) esses peregrinos e peregrinas poderiam ser de vários locais, tem se algumas conclusões que seriam do Norte da Palestina, na diáspora do interior da Síria, pois é lá que se situam Mesec e Quedar (Sl 120,5), embora não podemos dizer que todos sejam desta região. Schwantes, p.15 (2012) diz que a formulação dos salmos recorre a um vocabulário simples e breve, podendo ler lembrado com facilidade. A única exceção é o salmo 132 que parece ser uma obra de artista, pois, recorre a toda história antiga de Israel. Nos salmos em geral encontramos uma marca diferente de outros textos bíblicos a marca do pobre como sujeito, não como algo que é visto e falado. Mas algo que é sentido, brota de um sentimento do coração é o povo simples que reza (Schwantes, p.21,2012). Para Chawantes p.23 (2012) na coleção dos salmos das subidas (120 - 134) o testemunho sobre Deus é claro e simples. Eles referem se principalmente a Javé de maneira simples e direta. No salmo 130 menciona “adonay/ Senhor” na Teologia deste “Javé”, está a ação de resgate e de redenção das mãos dos opressores e escravocratas. Javé liberta e resgata as pessoas oprimidas e escravizadas relacionando-se também a Javé como aquele que mantêm, preserva e que dá sua benção. Transparece o que eles pensavam de Deus e encontramos em vários salmos, parecendo as vezes a refrões litúrgicos repetidos pela comunidade a caminho. No salmo 120 encontramos dor e protesto, as pessoas encontram se encurraladas não lhe restando alternativas. Embora não se trata somente de fome ou falta de terra, mas a escravização formal e real das pessoas. Estão sendo sufocadas de tal forma e privadas dos seus direitos. A subida a Jerusalém funciona, como a ida a algo “como um quilombo para clarear as ideias, para marcar o próprio projeto” (Schwantes, p.24, 2012). JOINTH - 2014 21 Para Schwantes (p.24, 2012) subir a Jerusalém para os peregrinos não é oferecer sacrifícios e holocaustos, mas, a busca por um lugar que projeta a saída das escravidões da compra e venda de pessoas (Isaías 24-27; 24,1-2). Nestes salmos nos deparamos com pessoas que viram os revolucionários e antiescravagistas macabeus, concluindo pessoas que sabem aonde querem chegar não são marionetes. A TEOLOGIA DOS SALMOS DA SUBIDA Os salmos da subida eram cantados provavelmente utilizando a memória por serem breves, eram cantados pelo povo que subia a Jerusalém. No salmo 120 têm-se citado duas localidades que são do interior da Síria, Mesec e Quedar. A jornada envolvia a família toda, era feita a pé. Dormia-se no relento. Correndo riscos de assaltos e outros perigos nas escuridões da noite. As jornadas eram feitas em meio a ameaças e sob o sol escaldante. Os alimentos eram levados na bagagem para que pudessem permanecer um bom tempo em Jerusalém. A constituição do grupo provavelmente é feita pelo povo simples ameaçado à escravização (Schwantes, p.33-35, 2012) No salmo 122 festeja-se a chegada a Jerusalém, embora a própria religião tinha tornado uma forma de escravismo. Mas eles conseguiam olhar para uma Jerusalém teológica não a que os olhos humanos estavam contemplando. Também porque era o povo simples que não compreendia a religião formal. Pode se dizer também que os salmos da Subida são formados por duas partes: os salmos 120-129 e os salmos 130-134. A primeira parte apresenta situações sociais e a segunda parte é caracterizada pelo tema do perdão, seguido por confiança em Deus passando pela esperança messiânica culminando com a benção (Schwantes, p.35, 2012). O salmo 120, 121 e 122 esses primeiros abrem e marcam a coleção, identificando saída e chegada a Jerusalém. O salmo 120, é agitado e militante encabeça a coleção dos salmos 120- 134. Exige “paz”, no formato da justiça. O estilo dos versículos é forte, frases JOINTH - 2014 22 pela metade.Não chegam a serem bem concluídas, dificulta a compreensão de detalhes. Tem se opressões ameaçadoras, está em jogo a vida, desponta um “ai” equivalendo a desgraça, que provém do engano e da mentira. As menções de “lábios” e “língua” precisam ser entendidas como todo o corpo da gente opressora. Não basta Javé defender, mas é preciso arrancar, reagir com força e poder, “com flecha afiada”. O motivo de tanto aperto está no fato de que quem sofre são estrangeiros com direitos menores, os filhos de Israel foram estrangeiros no Egito. Provavelmente são trabalhadores e trabalhadoras hóspedes junto aos habitantes e poderosos destes locais, Mesec e Quedar, a nordeste da Palestina podem ser pastores, pois indica a palavra “tendas” o local é de pastores. Esses salmistas estrangeiros devem estar sendo roubados em seus salários e diárias, exemplo Gn 29,31. Contra eles é feita uma verdadeira guerra. Os adversários os odeiam, odeiam a paz. Por isso, está gana de defender-se, mesmo com flechas, no fundo deseja a “paz” (v.7). Paz aqui não é ausência de conflito, nem é calmaria aparente. Paz é sinônimo de justiça, leva o sentido de dignidade. A frase que encabeça o salmo é tomada dos símbolos do êxodo: “Para Javé gritei em meu aperto e me ouviu”. E ela se repete no salmo 130 o canto que encabeça a próxima parte. O salmo 120 está mergulhado no Êxodo, revive a vida de Moisés. É uma oração que dispõe para o conflito. Apelar a Javé é como se retornasse à sua casa, a seus espaços, a seu jeito. Libertar-nos é seu próprio nome, Nele o que não é libertação é mentira. Salmo 121 é diferente, nele não se elabora um conflito como no salmo 120. Mas em meio a conflitos e perigos anseia-se por andar e sobreviver, apesar de tudo. O assunto principal, o descanso a caminho de Jerusalém. Uma mudança de tom, do grito passou à maravilha da proteção, da consolação. Para chegar ao passo da peregrinação é preciso ir passo a passo enfrentar cada dia e cada noite. O centro do salmo 121 é o mesmo do salmo 120 encontrar irmãos e irmãs em Jerusalém. Estamos a caminho, a saída ficou para trás a chegada está a frente. JOINTH - 2014 23 O salmo fala da proteção de Deus na jornada e no descanso, Javé é celebrado como o Deus que guarda, cuida e protege. Javé protege em três âmbitos específicos: Protege o pé, refere-se ao caminho, às irregularidades do terreno e talvez as muitas pedras por toda parte do caminho. Protege do sol, as dificuldades do caminhar do sol escaldante nas terras ressequidas do verão. Protege da lua, aos problemas da noite, espaço de atenção do salmo. Dormir ao relento sob a lua pode resultar em noites mal dormidas. A promessa é que Javé protegerá de todo mal. Os dois salmos se diferem quanto ao conteúdo. Um dando mais ênfase ao conteúdo e outro os aspectos pessoais. E no Salmo 122, temos a celebração da chegada a Jerusalém. Neste próximo ponto apresentar-se-á a construção histórica de Jerusalém, desde a escolha por Jerusalém até a edificação do templo. CIDADE DE JERUSALÉM Conforme Mckenzie (1984, p.476) Jerusalém foi fundada em tempos pré-históricos. Nos textos de execração da 12ª e 13º dinastia do Egito, no início do II milênio a.C., ela é enumerada entre as cidades de Canaã. Nas cartas de Amarna (tabuinhas descobertas em 1887, mais de 350 cartas recebidas de chefes estrangeiros abrangendo as grandes potências até os pequenos reinos da Síria e de Canaâ), Jerusalém aparece como governada por um rei vassalo de nome Abdu-Heba (nome hitita). Para Liverani (2008, p.120), já no século XIV, também nas cartas de Amarna (arquivo de el- ‘Amarna), Jerusalém se caracterizava, como cidade-estado das planícies, dotadas de uma tendência de expansão. Jerusalém controlava um território extenso, mas enfrentava turbulências de habiru (Rebeldes hebreus) e grupos pastoris. Segundo McKenzie (1984, p. 478) depois da ocupação israelita, a cidade ficou em território neutro, no limite entre Judá e Benjamim, sendo ocupada pelos jebuseus (moradores de Jerusalém). O relato da conquista em Jz 1,8 deve ser uma antecipação da conquista da cidade por Davi; embora tenha havido uma conquista anterior, a cidade não havia ficado permanentemente nas mãos dos judeus. A conquista da cidade por parte de Davi (2 Sm 5,6-9) JOINTH - 2014 24 provavelmente não deve ser situada logo depois de sua ascensão ao trono. Parece que, além do desejo de aumentar o território, inúmeros outros motivos influíram nesta conquista. Davi era rei de todo Israel em sentido diferente de como fora Saul: sua identificação com Judá não o deixaria em boa situação diante das outras tribos. Assim, Davi preferiu como sede real uma comunidade que estivesse isenta de associações tribais anteriores. Além disso, Jerusalém poderia ser mais bem defendida do que todas as outras cidades que já eram israelitas. O nome cidade de Davi pode se identificar por ser a cidade sede do rei. Liverani (2008, p.130) coloca que Davi importou a Jerusalém, o culto a Yahweh, de Hebron, que se pôs ao lado das divindades cananéias. Dos dois sacerdotes de Davi, temos Sadoc que está ligado com o culto local por ser morador de Jerusalém e Ebiatar que é claramente um javista. Davi traz a Arca da Aliança que foi capturada da casa de Abinadab, que depois foi colocada no Templo de Jerusalém. Davi tinha objetivo em unir Israel que estava dividido, viu na Arca não só o símbolo do Deus de Israel, mas também da unidade. Ela conferiu um sentido sagrado à nova capital, Jerusalém. (MCKENZIE, 1984, p. 70). CONCLUSÃO As construções históricas de uma civilização nos deixam ganhos fascinantes. Podemos concluir isto como os 150 salmos ou o saltério. Esta vasta coleção de salmos, hinos, e outros. Deixaram-nos meios, formas de oração para que possamos ter um encontro com Deus. E nos salmos da subida, pudemos ver que as situações difíceis era o material da oração daquele povo com Deus. Rezavam a partir da vida. As dificuldades não devem nos afastar da oração, mas devemos rezar com elas, como faziam os peregrinos quando iam a Jerusalém. E como eles, compreender que só em Deus encontramos repouso pois ele é o guarda de Israel que vigia de dia e de noite. JOINTH - 2014 25 REFERÊNCIAS BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo, PAULUS, 2002. CUENOT, Michel. Jerusalém, Alegria por toda a terra. São Paulo, Loyola, 1995. GERSTENBERGER, Erhard. Salmos. Rio Grande do Sul, Série Exegese, volume 2, fascículo I. LIVERANI, Mario. Para além da Bíblia – História antiga de Israel. São Paulo, Loyola, 2008. MAcKENZE, John. Dicionário Bíblico. São Paulo, Paulus, 1984. SCHWANTES, Mílton. Salmos para o caminho: anotações hermenêuticas a partir dos salmos 120 e 121. Revista de Interpretação Bíblica Latino- Americana, Petrópolis Vozes, v.1, n.50 , p. 96-101, jan. 2005. AGOSTINHO, Santo. Comentário dos salmos 101-150, volume9/3. São Paulo, Paulus, 2004. BÍBLIA SAGRADA. Tradução Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo, Canção Nova, 2006.
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