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Notas Eletromagnetismo – Parte I R. Bufalo ∗ Departamento de Fı´sica, Universidade Federal de Lavras, Caixa Postal 3037, 37200-000 Lavras, MG, Brazil 2 de maio de 2017 Resumo Nesta nota de aula encontra-se um resumo dos to´picos discutidos na aula do curso de Fı´sica C, referente a` primeira avaliac¸a˜o. ∗E-mail: rodrigo.bufalo@dfi.ufla.br 1 Suma´rio I Campo ele´trico 3 1 Campo ele´trico I 3 1.1 Contexto Histo´rico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.2 Propriedades das cargas ele´tricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.2.1 Fatos experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.3 Condutores e isolantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.3.1 Me´todos de carregamento/eletrizac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.4 Lei de Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.4.1 Forc¸a exercida por um sistema de cargas . . . . . . . . . . . . . . 13 1.5 O campo ele´trico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 1.6 Linhas de campo ele´trico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 1.6.1 Dipolos ele´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 1.7 O movimento de cargas sob ac¸a˜o de um campo ele´trico . . . . . . . . . . 27 1.7.1 Dipolos em campos ele´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 2 Campo ele´trico II 31 2.1 Calculando o campo ele´trico a partir da lei de Coulomb . . . . . . . . . . 31 2.2 Lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 2.3 Ca´lculo do campo ele´trico atrave´s da lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . 48 2.4 Descontinuidade do campo ele´trico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 2.5 Carga e campo em superfı´cies condutoras . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 2 Parte I Campo ele´trico 1 Campo ele´trico I 1.1 Contexto Histo´rico • app 2000 aC – Os chineses observaram fenoˆmenos magne´ticos; • app 700 aC – Os gregos observaram fenoˆmenos ele´tricos: fricc¸a˜o do aˆmbar de tal forma a atrair fragmentos de palha e penas; • Se´culo XVII – GILBERT: estabelece que a eletrificac¸a˜o e´ um fenoˆmeno geral, presente nos materiais; • Se´culo XVIII – COULOMB: estabelece EXPERIMENTALMENTE a lei do in- verso do quadrado para a forc¸a eletrosta´tica atrativa/repulsiva; • Se´culo XIX – OERSTED: relaciona a corrente ele´trica com o campo magne´tico atrave´s da observac¸a˜o da agulha de uma bu´ssula (deflexa˜o) – o campo magne´tico existente ao redor de um fio condutor; • Se´culo XIX – HENRY E FARADAY: obte´m a mesma conclusa˜o anterior, todavia, agora a partir da ana´lise do movimento de um fio condutor na vizinhanc¸a de um ima˜ e vice-e-versa (repulsa˜o ou atrac¸a˜o dependendo do polo do ima˜ e sentido da corrente ligada a uma bateria; no caso de um fio condutor desligado na˜o ha´ nenhuma interac¸a˜o)– i.e. a variac¸a˜o de um campo ele´trico induz uma corrente ele´trica num condutor; • Se´culo XIX – BIOT E SAVART: realizaram a ana´lise do fenoˆmeno magne´tico,e formularam a lei que descreve o campo magne´tico produzido por distribuic¸o˜es de correntes (equivalente magne´tico da lei de forc¸a de Coulomb); • Se´culo XIX – MAXWELL: utilizando-se da pesquisa de Faraday, ele constro´i uma teoria unificada do fenoˆmeno eletromagne´tico (campos ele´trico e magne´tico depen- dentes do tempo); 3 • Se´culo XIX – THOMSON, HEAVISIDE, LORENTZ: a forc¸a experimentada por uma carga em movimento uniforme e´ a forc¸a de Lorentz e na˜o mais a forc¸a de Coulomb; • Se´culo XIX – HERTZ: verificac¸a˜o experimental das ondas eletromagne´ticas suge- ridas por Maxwell; • Se´culo XX – CONSEQUEˆNCIAS DA TEORIA ELETROMAGNE´TICA DE MAXWELL: I) a teoria da relatividade especial de Einstein; II) o modelo padra˜o das partı´culas elementares; aperfeic¸oamento e desenvolvimento das tecnologias en- volvendo a eletricidade/magnetismo, melhorando o desempenho e eficieˆncia de dis- positivos, exemplo: eficieˆncia de paine´is solares: Neste capı´tulo, iniciaremos nosso estudo sobre eletricidade com a eletrosta´tica, que consiste no estudo das cargas em repouso. 1.2 Propriedades das cargas ele´tricas Suponhamos que esfreguemos um basta˜o de borracha com um pedac¸o de pele, e em seguida suspendamos-o por uma corda. Aproximamos enta˜o um segundo basta˜o de bor- racha que tambe´m foi friccionado com pele. Nesta situac¸a˜o, os basto˜es se repelem mutu- amente. Por um outro lado, dois basto˜es de vidro que tenham sido friccionados com tecido de seda tambe´m se repelem mutuamente. Todavia, se aproximarmos o basta˜o de borracha 4 friccionado com pele do basta˜o de vidro friccionado com tecido de seda, eles se atraem mutuamente. Mas de fato, o que esta´ fisicamente acontecendo nos processos acima? O ATO DE FRICCIONAR O BASTA˜O FAZ COM QUE ELE SE TORNE ELETRICAMENTE CARREGADO. Se o experimento acima e´ repetido com diversos materiais, constataremos que todos os objetos carregados pertencem a apenas uma das duas seguintes classes: aqueles como o basta˜o de borracha friccionado com a pele, e aqueles como o basta˜o de vidro friccionado com a seda. Uma conclusa˜o segue imediatamente: objetos de um mesmo grupo repelem- se mutuamente, enquanto objetos de grupos diferentes atraem-se mutuamente. Fora Benjamin Franklin quem propoˆs um modelo para explicar as observac¸o˜es acima, de acordo com o qual cada objeto possui uma quantidade normal de eletricidade que pode ser transferida de um objeto para outro quando sa˜o friccionados. Um dos objetos teria enta˜o um excesso de cargas, e o outro teria uma deficieˆncia de cargas. Franklin denotou a carga resultante/lı´quida como positiva (sinal mais) ou negativa (sinal menos). Ademais, ele convencionou como positiva a carga adquirida pelo basta˜o de vidro, enquanto o basta˜o de borracha tem carga negativa. Ainda, nesta situac¸a˜o, a seda ganharia carga negativa, e a pele adquire carga positiva. Por fim, um objeto e´ considerado eletricamente neutro se ele na˜o e´ positivamente ou negativamente carregado, i.e. possui uma carga lı´quida nula. De acordo com o conhecimento atual sabemos que, quando o vidro e´ atritado com o tecido de seda, ele´trons (portadores de carga) sa˜o transferidos do vidro para a seda. 5 1.2.1 Fatos experimentais I) Existem dois tipos de cargas ele´trica na natureza: as cargas positiva e negativa, e.g. pro´tons e ele´trons, respectivamente. Ademais, essas quantidades tambe´m sa˜o conhecidas como portadores de carga. De fato, os objetos em nosso tangı´vel mundo conte´m uma enorme quantidade de carga, mas este fato na˜o se revela porque ele e´ eletricamente neutro (uma quantidade igual de cargas positiva e negativa). E´ necessa´rio uma carga lı´quida para um objeto interagir com outro, i.e. que ele esteha carregado ou que tenha carga em desequilı´brio. Resumimos enta˜o que cargas com o mesmo sinal se repelem, e cargas com sinais opostos se atraem II) Todas as cargas observa´veis ocorrem em quantidades que sa˜o mu´ltiplos inteiros da unidade fundamental de carga ele´trica e, ou seja, a carga ele´trica e´ quantizada e pode ser escrita como Q = ±Ne. Para objetos comuns, N e´ geralmente muito grande e carga parece ser contı´nua, da mesma forma que o ar parece ser contı´nuo – mesmo sabendo que ele e´ constituı´do por partı´culas discretas (mole´culas, a´tomos e ı´ons). III) Quando objetos sa˜o atritados entre si, um objeto fica com um excesso de ele´trons e torna-se carregado negativamente; enquanto o outro objeto fica deficiente de ele´trons, e torna-se carregado positivamente. A carga resultante dos dois objetos permanece constante, i.e. a carga ele´trica e´ conservada. A lei da conservac¸a˜o da carga ele´trica e´ uma das leis fundamentais da natureza, e e´ verificada experimentalmente. Nos processos de interac¸a˜o de partı´culas elementarescarregadas, podem ocorrer criac¸a˜o ou aniquilac¸a˜o de partı´culas; todavia, quantidades iguais de cargas positivas e negativas sa˜o produzidas ou destruı´das, preservando constante a carga resultante do universo. A unidade de carga ele´trica no SI e´ o coulomb (C), o qual e´ definido em termos da unidade de corrente ele´trica, o ampe`re (A). O coulomb e´ definido como a quantidade de 6 carga que flui atrave´s da sec¸a˜o transversal de um fio em um segundo quando a corrente no fio e´ um ampe`re. A unidade fundamental de carga ele´trica e e´ e = 1,602177×10−19C ≈ 1,6×10−19C (1.1) 1.3 Condutores e isolantes A estrutura e natureza ele´trica dos a´tomos sa˜o responsa´veis pelas propriedades dos condutores e isolantes. Num modelo atoˆmico simples, os pro´tons e neˆutrons esta˜o forte- mente ligados no nu´cleo, enquanto os ele´trons circulam em torno do nu´cleo. Dentro desta caracterizac¸a˜o, podemos dividir os materiais nas seguintes classes con- forme a sua estrutura eletroˆnica: • CONDUTORES – materiais em que as cargas podem mover-se livremente. Quando carregados, as cargas se espalham pela sua superfı´cie. Exemplo: Metais – cobre, alumı´nio, ferro,etc. • ISOLANTES – materiais que impedem a movimentac¸a˜o livre das cargas, todos os ele´trons esta˜o ligados aos a´tomos da vizinhanc¸a. Eles podem ser carregados, mas as cargas na˜o se movem. Exemplo: vidro, pla´sticos, papel, madeira, borracha, etc. • SEMICONDUTORES – possuem propriedades ele´tricas intermedia´rias entre iso- lantes e condutores, e.g. silı´cio e germaˆnio. • SUPERCONDUTORES – na˜o oferecem nenhuma resisteˆncia ao movimento de cargas atrave´s deles (resisteˆncia nula!!). 1.3.1 Me´todos de carregamento/eletrizac¸a˜o • ATRITO – Transfereˆncia de cargas pelo contato de superfı´cies. Bom para isolantes, mas na˜o para condutores. • CONDUC¸A˜O – Redistribuic¸a˜o de cargas entre um objeto carregado e outro neutro por contato. Funciona se o objeto inicialmente neutro estiver isolado. • INDUC¸A˜O – Separac¸a˜o de cargas opostas em um objeto pela aproximac¸a˜o de um outro objeto carregado (polarizac¸a˜o). Pode ocorrer tanto em isolantes como em condutores. 7 Carregamento por induc¸a˜o: (a) os condutores neutros em contato tornam-se car- regados com cargas opostas quando um basta˜o atrai ele´trons para a esfera da esquerda. (b) se as esferas sa˜o separadas enquanto o basta˜o ainda esta´ pro´ximo, elas manteˆm suas cargas iguais e de sinais opostos. (c) quando o basta˜o e´ finalmente removido e as esferas completamente afastadas, a distribuic¸a˜o de cargas em cada esfera tende a ficar uniforme. Induc¸a˜o atrave´s do aterramento: (a) a carga livre na esfera condutora neutra e´ pola- rizada pelo basta˜o carregado positivamente. (b) quando o condutor e´ aterrado atrave´s de uma conexa˜o com um fio a um condutor muito grande (Terra), os ele´trons deste condutor neutralizam a carga positiva da face da esfera distante do basta˜o. O condutor fica enta˜o carregado negativamente (c) A carga negativa permanece se o aterramento for rompido antes que o basta˜o seja removido. (d) Depois de o basta˜o ser removido, a esfera fica com uma carga negativa uniformemente distribuı´da. 8 Exemplos conceitos: 1. Duas esferas condutoras ideˆnticas, uma com carga inicial +Q e a outra neutra, sa˜o colocadas em contato. (a) Qual e´ a nova carga em cada esfera? (+Q/2 em cada esfera) (b) Enquanto as esferas esta˜o em contato, um basta˜o carregado positiva- mente e´ aproximado de uma das esferas, provocando uma redistribuic¸a˜o de cargas nas duas esferas de forma tal que a carga na esfera mais pro´xima ao basta˜o seja−Q. Qual e´ a carga na outra esfera? (+2Q devido a lei de conservac¸a˜o da carga ele´trica.) 2. Duas esferas condutoras ideˆnticas sa˜o carregadas por induc¸a˜o e, enta˜o, separadas por uma grande distaˆncia; a esfera 1 tem carga +Q e a esfera 2 tem carga−Q. Uma terceira esfera ideˆntica e neutra e´ enta˜o posta em contato com a esfera 1 e enta˜o e´ afastada, e em seguida ela toca a esfera 2 e e´ afastada. Qual e´ a carga de cada uma das esferas na situac¸a˜o final? (Primeiro, temos inicialmente q1 =+Q e q3 = 0, e apo´s o contato q1 = +Q/2 e q3 = +Q/2. No segundo caso, temos inicialmente q2 =−Q e q3 =+Q/2, e apo´s o contato q2 =−Q/4 e q3 =−Q/4.) 1.4 Lei de Coulomb A partir de um aparato experimental bastante similar a`quele utilizado por Cavendish, com as massas substituı´das por pequenas esferas carregadas na balanc¸a de torc¸a˜o, C. Coulomb investigou a forc¸a (ele´trica) exercida por uma carga em outra. Ademais, ele utilizou o me´todo de carga por induc¸a˜o a fim de produzir e controlar as cargas iguais nas esferas. Os resultados experimentais podem ser resumidos na forma da lei de Coulomb: A forc¸a entre duas cargas puntiformes e´ exercida ao longo da linha entre as cargas. Ela varia com o inverso do quadrado da distaˆncia de separac¸a˜o das cargas e e´ propor- cional ao produto das cargas. A forc¸a e´ repulsiva se as cargas tiverem o mesmo sinal, e atrativa se elas tiverem sinais opostos. A intensidade da forc¸a ele´trica exercida por uma carga q1 sobre outra carga q2 que se encontra a uma distaˆncia r e´ dada por F = k |q1| |q2| r2 (1.2) em que k e´ uma constante positiva determinada experimentalmente, denominada cons- 9 tante de Coulomb ou eletrosta´tica, k = 8,99×109N.m2/C2 De fato a forc¸a ele´trica entre cargas e´ um vetor, que em coordenadas cartesianas (x,y,z) pode ser escrita ~F12 = ( ~F12 ) x xˆ+ ( ~F12 ) y yˆ+ ( ~F12 ) z zˆ (1.3) E se consideramos que a carga q1 esta´ na posic¸a˜o~r1 e que a outra carga q2 em~r2, a forc¸a eletrosta´tica exercida por q1 sobre q2 e´ ~F12 = k q1q2 r212 rˆ12 (1.4) em que~r12 =~r2−~r1 e´ o vetor que aponta de q1 a q2, e rˆ12 =~r12/r12 e´ o vetor unita´rio na mesma direc¸a˜o e sentido. Veja que esta equac¸a˜o fornece o sentido correto para a forc¸a, sejam as duas cargas ambas com mesmo sinal ou com sinais opostos. Ademais, de acordo com a terceira lei de Newton, a forc¸a eletrosta´tica ~F21 exercida por q2 sobre q1atua num sentido oposto de ~F12 (mas na mesma direc¸a˜o), logo ~F21 =−~F12. Em geral, o vetor posic¸a˜o~r em coordenadas cartesianas pode ser escrito como ~r = xxˆ+ yyˆ+ zzˆ esta forma e´ va´lida para vetores a partir da origem, o que aconteceria se o inı´cio do vetor 10 agora fosse um ponto arbitra´rio (transladado da origem) (a,b,c), enta˜o ~r′ = (x,y,z)− (a,b,c) = (x−a) xˆ+(y−b) yˆ+(z− c) zˆ E´ ainda pertinente ressaltar a semelhanc¸a entre a lei de Coulomb para a eletricidade e a lei de Newton para a gravidade Fel = k |q1| |q2| r2 , Fgrav = G m1m2 r2 , (1.5) Ambas sa˜o leis do inverso do quadrado da distaˆncia. Mas a forc¸a gravitacional entre duas partı´culas e´ proporcional a`s massas das partı´culas e e´ sempre atrativa, enquanto a forc¸a ele´trica e´ proporcional a`s cargas das partı´culas e e´ repulsiva se as cargas teˆm o mesmo sinal, e atrativa se elas teˆm sinais opostos. Exemplo: Forc¸a ele´trica no Hidrogeˆnio, e a raza˜o entre a forc¸a ele´trica e gravitacio- nal • Em um a´tomo de hidrogeˆnio, que e´ constituido de um ele´tron e um pro´ton, a distaˆncia me´dia de separac¸a˜o entre o ele´tron e o pro´ton e´ aproximadamente 5,3× 10−11m. Qual e´ a intensidade da forc¸a eletrosta´tica exercida pelo pro´ton no ele´tron. Como a carga do pro´ton e´ q1 =+e e a do ele´tron e´ q2 =−e, a forc¸a entre eles e´ de atrac¸a˜o. Agora, a partir da lei de Coulomb temos ∣∣∣~F12∣∣∣= k |q1| |q2|r2 = ke2r2 = ( 8,99×109N.m2/C2)(1,6×10−19C)2 (5,3×10−11m)2 = 8,2×10−8N (1.6) 11 • Determine agora a raza˜o entre a forc¸a ele´trica e a forc¸a gravitacional exercida por um pro´ton sobre um ele´tron de um a´tomo de hidrogeˆnio. Primeiramente, como essas duas forc¸as sa˜o inversamente proporcionais ao quadrado da separac¸a˜o entre as partı´culas,a raza˜o entre estas forc¸as e´ independente da separac¸a˜o. De fato, temos as expresso˜es Fel = k |q1| |q2| r2 , Fgrav = G m1m2 r2 , (1.7) logo, a raza˜o e´ determinada como Fel Fgrav = ke2 Gm1m2 (1.8) Como a carga do pro´ton e´ q1 = +e e a do ele´tron e´ q2 = −e, e suas massas sa˜o m1 = 1,67×10−27kg e m2 = 9,11×10−31kg , respectivamente, temos que Fel Fgrav = ( 8,99×109N.m2/C2)(1,6×10−19C)2 (6,67×10−11N.m2/kg2)(1,67×10−27kg)(9,11×10−31kg) = 2,27×10 39 (1.9) → Fel� Fgrav (1.10) Este resultado mostra por que os efeitos gravitacionais na˜o sa˜o considerados na ana´lise das interac¸o˜es atoˆmicas ou moleculares. Todavia, a situac¸a˜o e´ inversa quando consideramos objetos astronoˆmicos tais como planetas e estrelas. Consideremos o sistema Terra-Lua, em que estima-se que suas cargas sejam qT =−qL =+10C, e suas massas sa˜o mT = 6,0×1024kg e mL = 7,4×1022kg , e a distaˆncia de separac¸a˜o e´ r ≈ 3,8×105km Fel Fgrav = ( 8,99×109N.m2/C2)(10C)2 (6,67×10−11N.m2/kg2)(6,0×1024kg)(7,4×1022kg) = 3,03×10 −26 (1.11) → Fgrav� Fel (1.12) Estes resultados nos permitem estabelecer o seguinte quadro comparativo 12 1.4.1 Forc¸a exercida por um sistema de cargas No caso de n partı´culas carregadas, elas interagem independentemente aos pares, e a forc¸a resultante, por exemplo, sobre a partı´cula 1 e´ dada pela soma vetorial das forc¸as individuais exercidas nela, ~F1 = ~F21 +~F31 +~F41 + ...+~Fn1 = n ∑ i=2 ~Fi1 (1.13) Este resultado e´ consequeˆncia do princı´pio de superposic¸a˜o de forc¸as. Exemplo 1: • Treˆs partı´culas carregadas encontram-se ao longo do eixo x. A partı´cula com carga q1 = +25nC esta´ na posic¸a˜o x = 2,00m, enquanto a partı´cula com carga q2 = +20nC esta´ na origem. Onde deve ser colocada no eixo x uma partı´cula com carga negativa q3 de maneira que a forc¸a resultante sobre ela seja nula? Primeiramente dizemos que a carga negativa q3 esta´ na posic¸a˜o x0. Logo as forc¸as atuando sobre ela sa˜o dadas por ~F13 = k q1q3 r213 rˆ13 = k q1q3 (2− x0)2 xˆ (1.14) ~F23 = k q2q3 r223 rˆ23 =−kq2q3x20 xˆ (1.15) A fim de determinar o ponto x0 fazemos uso do resultado acima do princı´pio de 13 superposic¸a˜o. Logo, igualando a somato´ria das forc¸as a zero temos ~F3 = ~F13 +~F23 = k q1q3 (2− x0)2 xˆ− kq2q3 x20 xˆ = 0 (1.16) assim q1 (2− x0)2 = q2 x20 → q1x20 = q2 (2− x0)2→ 25x20 = 20(2− x0)2 (1.17) e √ 5x0 = √ 4(2− x0)→ √ 5x0 =±2(2− x0)→ x0 = { 0,94m −16,94m (1.18) Exemplo 2: • Treˆs partı´culas carregadas encontram-se distribuı´das no plano x,y. A partı´cula com carga q1 =+25nC esta´ na origem, enquanto a partı´cula com carga q2 =−15nC esta´ na posic¸a˜o x = 2,0m, e a carga q0 =+20nC esta´ na posic¸a˜o~x = (2m,2m). Qual e´ a intensidade, a direc¸a˜o e sentido da forc¸a eletrosta´tica resultante em q0? Primeiramente desenhamos o diagrama de forc¸as atuando sobre a carga q0 segundo princı´pio de superposic¸a˜o, a forc¸a resultante atuando sobre a carga q0 e´ ~F0 = ~F10 +~F20 = ( ~F0 ) x = F10,x +F20,x( ~F0 ) y = F10,y +F20,y (1.19) sendo que escrevemos as componentes retangulares das forc¸as atuando sobre q0. Ademais, e´ fa´cil ver uma vez que os lados do triaˆngulo teˆm comprimento 2m, logo a hipotenusa (separac¸a˜o) e´ r10 = 2 √ 2m. Uma vez que as cargas q0 e q1 teˆm o mesmo 14 sinal, a forc¸a entre elas e´ repulsiva. Ainda, podemos ver que a forc¸a ~F10 faz um aˆngulo de 45ocom os eixos x e y, logo F10,x = F10 cos45o = 1√ 2 F10, F10,y = F10 sin45o = 1√ 2 F10, (1.20) Precisamos enta˜o calcular a intensidade F10 F10 = k q1q0 r210 = ( 8,99×109N.m2/C2)(25nC)(20nC)( 2 √ 2m )2 = 5,62×10−7N (1.21) Desta forma F10,x = F10,y = 1√ 2 F10 = 3,97×10−7N (1.22) Ademais, as cargas q0 e q2 teˆm sinais opostos, logo a forc¸a entre elas e´ atrativa, e e´ dada por ~F20 = k |q2| |q0| r220 rˆ20 =− ( 8,99×109N.m2/C2)(15nC)(20nC) (2m)2 yˆ =− ( 6,74×10−7N ) yˆ (1.23) 15 Por fim, podemos calcular as componentes da forc¸a resultante ( ~F0 ) x = F10,x +F20,x = 3,97×10−7N +0 = 3,97×10−7N( ~F0 ) y = F10,y +F20,y = 3,97×10−7N−6,74×10−7N =−2,77×10−7N (1.24) O diagrama da forc¸a resultante no plano x,y e´ A intensidade da forc¸a resultante e´ determinada por ∣∣∣~F0∣∣∣=√(~F0)2 x + ( ~F0 )2 y = √ (3,97×10−7N)2 +(−2,77×10−7N)2 = 4,8×10−7N (1.25) em que, pela regra do paralelograma, a forc¸a resultante aponta para a direita e para baixo, perfazendo um aˆngulo θ com o eixo x, tanθ = ( ~F0 ) y( ~F0 ) x =−2,77 3,97 =−0,698→ θ = arctan(−0,698) =−34,9o Exemplo 3: • Duas esferas ideˆnticas carregadas (mesma carga), cada uma tendo massa 3,0× 10−2kg, suspensas por fio na˜o-condutores ao teto sa˜o mantidas em equilı´bio como na figura abaixo. O comprimento de cada linha e´ de 0,15m, e o aˆngulo e´ de . Determine a magnitude da carga de cada esfera. 16 A fim de calcularmos a carga das esferas, consideramos as forc¸as atuando em uma das esferas, por exemplo a do lado esquerdo. Como a esfera esta´ em equilı´brio, as forc¸as nas direc¸o˜es horizonal e vertical devem separadamente somar a zero: (mas que forc¸as atuam? Tensa˜o, ele´trica e peso) ∑Fx = T sinθ −Fe = 0∑Fy = T cosθ −mg = 0 (1.26) ao dividirmos as equac¸o˜es podemos determinar a magnitude da forc¸a ele´trica Fe = mg tanθ = ( 3,0×10−2kg )( 9,8m/s2 ) tan50 = (0,294)(0,0875)N = 2,6×10−2N (1.27) Agora, a partir da lei de Coulomb, temos que a magnitude da forc¸a ele´trica e´ Fe = k q2 r2 Para calcular a separac¸a˜o entre as esferas fazemos uso da relac¸a˜o de triaˆngulos, pois sinθ = a/L, logo a = Lsinθ = (0,15m)sin50 = (0,15m)(0,087) = 0,013m 17 assim a separac¸a˜o entre as esferas e´ 2a = 0,026m. Por fim, temos q2 = Fer2 k = ( 2,6×10−2N)(0,026m)2 (8,99×109N.m2/C2) = 19,6×10 −16C2 (1.28) → |q|= 4,4×10−8C (1.29) 1.5 O campo ele´trico A forc¸a ele´trica exercida por uma carga sobre outra e´ um exemplo de uma forc¸a de ac¸a˜o a` distaˆncia, similar a forc¸a gravitacional exercida por uma massa sobre outra. Dada duas cargas q e q0, e´ possı´vel determinar a forc¸a eletrosta´tica de q0 sobre q. Todavia, desde que as partı´culas na˜o se tocam, i.e. ha´ um espac¸o vazio entre elas, como pode q0 exercer forc¸a sobre q? A fim de responder essa questa˜o sobre ac¸a˜o a` distaˆncia introduzimos o conceito de campo ele´trico: de tal forma que uma carga q produz um campo ele´trico ~E em todos os pontos do espac¸o ao seu redor, que e´ experimentado por q0. Portanto, neste contexto, e´ o campo ele´trico ~E que exerce a forc¸a sobre a carga q0. Podemos esquematizar a situac¸a˜o da seguinte forma • Inicialmente pensava-se que a forc¸a era atrave´s de uma interac¸a˜o direta e ins- tantaˆnea: carga↔ carga • Enquanto, atualmente, consideramos o campo ele´trico como um intermedia´rio entre as cargas: carga↔ campo ele´trico↔carga; Para ilustrar esta ideia, consideremos um conjunto de cargas puntiformes q1, q2 e q3 arbitrariamente dispostas no espac¸o. De acordo com o conceito introduzido acima estas cargas produzem um campo ele´trico ~E em todos os pontos do espac¸o. Agora, a fim de medirmos esse campo ele´trico, colocamos uma carga teste (positiva) q0 em algum ponto pro´ximo a`s treˆs cargas, havera´ uma forc¸a exercida em q0 devida a`s outras cargas. Assim, segundo o princı´pio de superposic¸a˜o, a forc¸a resultante em q0 e´ a soma vetorial das forc¸as individuais exercidas em q0, i.e. ~F0 = ~F10 +~F20 +~F30 (1.30) 18 que ainda pode ser escrita ~F0 = k |q1| |q0| r210 rˆ10 + k |q2| |q0| r220 rˆ20 + k |q3| |q0| r230 rˆ30 = q0 ( k |q1| r210 rˆ10 + k |q2| r220 rˆ20 + k |q3| r230 rˆ30 ) (1.31) Desta expressa˜o definimos o campoele´trico em um ponto como sendo esta forc¸a di- vidida por q0 ~E = ~F0 q0 (1.32) A unidade (SI) e´ newton por coulomb N/C.Esta definic¸a˜o e´ similar a`quela do campo gravitacional da Terra, apresentada como a forc¸a por unidade de massa exercida pela Terra em um objeto. Devemos ressaltar todavia que a carga teste q0 exercera´ uma forc¸a em cada uma das outras cargas. Como estas forc¸as podem provocar algum deslocamento das cargas, assu- mimos que a carga testeq0 e´ ta˜o pequena que estas forc¸as que ela exerce sobre as outras sejam desprezı´veis. Ou seja, escolhemos a carga teste q0 de tal forma que ela na˜o influ- encie o comportamento das demais cargas. Ademais, vemos que ao deslocarmos a carga teste q0 de um ponto a outro no espac¸o, podemos determinar o campo ele´trico ~E para todos os pontos do espac¸o (exceto os pontos ocupados pelas cargas). Concluı´mos enta˜o que o campo ele´trico ~E e´ uma func¸a˜o vetorial da posic¸a˜o, ou ainda chamamos-o de um campo vetorial ~E ≡ ~E (x,y,z) = ~E (~r). Todavia, deve ficar claro que embora usemos uma carga teste positiva para definir o campo ele´trico de um objeto carregado, esse campo existe independentemente da carga 19 teste. Da discussa˜o acima, podemos ainda determinar o campo ele´trico devido a uma u´nica carga puntiforme (ou partı´cula carregada), colocamos uma carga teste positiva q0 em qual- quer ponto distante P a uma distaˆncia r de uma carga puntiforme q, logo pela lei de Cou- lomb ~E = ~F0 q0 = k q r2 rˆ (1.33) aqui rˆ e´ o vetor unita´rio que aponta da posic¸a˜o da carga q para o ponto de interesse P. Por fim, tambe´m concluı´mos da discussa˜o acima que campos ele´tricos obedecem ao princı´po de superposic¸a˜o, uma vez que para uma distribuic¸a˜o de cargas puntiformes temos ~E = ~F0 q0 = 1 q0 n ∑ i=1 ~Fi0 = 1 q0 ( ~F10 +~F20 +~F30 + ... ) = ~E1 +~E2 +~E3 + ...= n ∑ i=1 ~Ei (1.34) 1.6 Linhas de campo ele´trico Como vimos, a direc¸a˜o do campo ele´trico (a mesma da forc¸a) esta´ ao longo de uma linha radial a partir da carga puntiforme, apontando para fora se q > 0 e para dentro se q < 0. Fora M. Faraday quem introduziu o conceito de campo ele´trico, e imaginava o espac¸o ao redor de um corpo carregado como preenchido por linhas de forc¸a/campo. Vemos no caso de uma carga puntiforme positiva o espac¸amento entre (densidade) as linhas esta´ relacionado com a intensidade do campo ele´trico; quando nos afastamos da carga, o campo torna-se menos intenso e as 20 linhas ficam mais afastadas entre si (a densidade de linhas de campo diminui com 1/r2). Para um sistema de duas cargas puntiformes positivas iguais, as linhas de campo sa˜o Na vizinhanc¸a de cada carga, o campo e´ aproximadamente igual ao da carga isolada; isto ocorre porque o mo´dulo do campo de uma carga isolada e´ extremamente intenso em pontos muitos pro´ximos a ela, e porque a segunda carga esta´ relativamente distante. Ademais, vemos que a densidade das linhas na regia˜o entre as duas cargas e´ menor quando comparada a` densidade linhas nas regio˜es a` esquerda e a` direita das cargas. Isto indica que o mo´dulo do campo ele´trico e´ menor na regia˜o entre as cargas do que nas outras duas regio˜es. 21 No caso de duas cargas com sinais opostos, temos o que e´ chamado de dipolo. Pro´ximo da carga positiva, as linhas de campo sa˜o radiais e apontam radialmente para fora da carga; enquando que as linhas apontam na direc¸a˜o da carga negativa. Como as cargas teˆm valo- res iguais, o nu´mero de linhas que comec¸am na carga positiva e´ igual ao nu´mero de linhas que terminam na carga negativa. Neste caso, o campo ele´trico e´ mais intenso na regia˜o entre as cargas, como indicado pela densidade de linhas, do que nas demais regio˜es. Podemos assim aplicar esses resultados para representar as linhas de campo ele´trico para qualquer sistema de cargas puntiformes. I) Na vizinhanc¸a de cada carga, as linhas de campo sa˜o igualmente espac¸adas e saem ou chegam a cada carga radialmente, dependendo do sinal da carga. II) A grandes distaˆncias de todas as cargas, a configurac¸a˜o detalhada do sistema de cargas na˜o e´ importante e as linhas de campo sa˜o como aquelas de uma u´nica carga puntiforme tendo o valor da carga lı´quida do sistema. e.g. o caso de duas partı´culas com carga q, a grandes distaˆncias e´ visto como uma carga 2q. Note que o nu´mero de linhas que saem de uma carga positiva (ou terminam em uma carga negativa) e´ proporcional a` intensidade da carga. Para isto consideremos um sistema composto de uma carga negativa −q a uma pequena distaˆncia de uma carga positiva +2q. O dobro de linhas saem da carga positiva do que terminam na carga negativa. Assim, me- tade das linhas que saem da carga positiva termina na carga negativa, e a outra metade das linham continuam indefinidamente. Muito distantes das cargas, as linhas esta˜o espac¸adas de forma aproximadamente sime´trica e apontam radialmente para fora de um u´nico ponto, exatamente como seria para o caso de uma u´nica carga puntiforme positiva +q. Exemplo 1: • Duas cargas puntiformes q1 =+q e q2 =−2q sa˜o posicionadas no eixo x nos pontos x = a e x =−a, respectivamente. Em qual regia˜o, ou regio˜es, ha´ um ponto no qual o campo ele´trico resultante e´ nulo? E determine qual e´ (sa˜o) este(s) ponto(s)? Sendo ~E1 o campo gerado pela carga q1 e ~E2 o campo gerado pela carga q2, enta˜o o(s) ponto(s) que procuramos satisfaz ~E = ~E1 +~E2 = 0→ ~E1 =−~E2→ ∣∣∣~E1∣∣∣= ∣∣∣~E2∣∣∣ (1.35) Temos treˆs regio˜es de interesse: regia˜o I a` esquerda da carga negativa, x < −a, regia˜o II entre as duas cargas, −a < x < a, e a regia˜o III a` direita da carga positiva x > a. 22 regia˜o I, os vetores teˆm sentidos opostos, todavia todos os pontos na regia˜o esta˜o mais pro´ximos de q2 do que de q1, logo E2 > E1; regia˜o II, os vetores teˆm o mesmo sentido em qualquer ponto no eixo x; regia˜o III, os vetores teˆm sentidos opostos, e e´ possı´vel encontrar um ponto r1 < r2 tal que E2 = E1; Por fim, denotamos o ponto P em que o campo resultante se anula a uma distaˆncia x0 da origem, logo∣∣∣~E1∣∣∣= ∣∣∣~E2∣∣∣→ k q (x0−a)2 = k 2q (x0 +a) 2 → 2(x0−a)2 = (x0 +a)2 e √ 2(x0−a) = (x0 +a)→ x0 = (√ 2+1 ) (√ 2−1 )a = (3+2√2)a' 5,83a (1.36) Exemplo 2: • Considere um sistema de cargas em que q1 = +8nC esta´ na origem (0,0) e q2 = 12nC esta´ na posic¸a˜o (4,0)m. Determine o campo ele´trico resultante no ponto (0,3)m. Temos que o campo ~E1 esta´ ao longo do eixo y, enquanto ~E2 esta´ no segundo qua- drante. Disto precisamos calcular as componentes do campo ~E = ~E1 +~E2. 23 O campo ele´trico devido a carga q1 e´ simplesmente ~E1 = k q1 r21 yˆ = ( 8,99×109N.m2/C2)(8nC) (3m)2 yˆ = (7,99N/C) yˆ (1.37) as componentes de ~E2 sa˜o( ~E2 ) x =− ∣∣∣~E2∣∣∣sinθ , (~E2) y = ∣∣∣~E2∣∣∣cosθ , (1.38) e como sabemos o comprimento dos lados do triaˆngulo, enta˜o sinθ = 4 5 = 0,8, cosθ = 3 5 = 0,6, ademais, a intensidade do campo ele´trico devido a carga q2∣∣∣~E2∣∣∣= kq2r22 = ( 8,99×109N.m2/C2)(12nC) (5m)2 = (4,32N/C) (1.39) Desta forma, temos que( ~E2 ) x =−(4,32N/C)(0,8) =−3,46N/C, ( ~E2 ) y = (4,32N/C)(0,6) = 2,59N/C, (1.40) 24 Portanto, temos que as componentes do campo resultante sa˜o ~Ex = ( ~E1 ) x + ( ~E2 ) x = 0−3,46N/C =−3,46N/C (1.41) ~Ey = ( ~E1 ) y + ( ~E2 ) y = 7,99N/C+2,59N/C = 10,6N/C (1.42) Pela regra do paralelograma, vemos que o campo resultante esta´ no segundo quadrante. Seu mo´dulo e´∣∣∣~E∣∣∣=√(~E2)2 x + ( ~E2 )2 y = √ (−3,46N/C)2 +(10,6N/C)2 = 11,2N/C (1.43) e o aˆngulo que este vetor faz com o eixo x e´ α = arctan ( ~Ey ~Ex ) = arctan ( −10,6 3,46 ) = 108o (1.44) 1.6.1 Dipolos ele´tricos Exemplo: • Um sistemade duas cargas iguais q de sinais opostos, separadas por uma pequena distaˆncia e´ denominado dipolo. Consideremos enta˜o que a carga +q esta´ no ponto x = a enquanto a carga−q esta´ no ponto x =−a. Qual e´ o campo ele´trico resultante no eixo x num ponto x > a? 25 O campo resultante devido a`s duas cargas para x > a e´ ~E = ~E++~E− = k q (x−a)2 xˆ+ k q (x+a)2 (−xˆ) = kq ( 1 (x−a)2 − 1 (x+a)2 ) xˆ = kq ( (x+a)2− (x−a)2 (x−a)2 (x+a)2 ) xˆ = kq 4ax (x2−a2)2 xˆ (1.45) Em particular, no limite x� a, temos que ~E = kq 4ax (x2−a2)2 xˆ = kq 4ax x4 ( 1− a2x2 )2 xˆ (1.46) se |x|< 1, podemos usar a expansa˜o segundo binoˆmio de Newton, enta˜o 1 (1− x)2 = 1+2x+3x 2 +4x3 + ...= ∑ k=0 ( 2+ k−1 2−1 ) xk enta˜o ~E = kq 4ax (x2−a2)2 xˆ≈ 4kqa x3 xˆ (1.47) A partir deste exemplo podemos introduzir uma quantidade chamada momento de dipolo ~p que descreve a magnitude e orientac¸a˜o do dipolo. Este vetor aponta da carga negativa −q para a carga positiva +q, e neste exemplo tem a seguinte expressa˜o ~p = 2aqxˆ (1.48) Ademais, podemos introduzir uma outra quantidade~L = 2axˆ que generaliza a posic¸a˜o da carga positiva em relac¸a˜o a` carga negativa. Desta forma encontramos enta˜o a expressa˜o geral ~p = q~L (1.49) Em termos do momento de dipolo ~p, o campo ele´trico ~E no eixo do dipolo em um 26 ponto a uma grande distaˆncia |x| esta´ na mesma direc¸a˜o e sentido de ~p e tem mo´dulo∣∣∣~E∣∣∣= 2kp|x|3 (1.50) Em um ponto distante do dipolo em qualquer direc¸a˜o, o mo´dulo do campo ele´trico e´ proporcional ao mo´dulo do momento de dipolo e diminiu com o cubo da distaˆncia. Se um sistema tem uma carga resultante na˜o-nula, o campo ele´trico diminui com 1/r2 a grandes distaˆncias, enquanto no caso de dipolo, o campo decai com 1/r3 em todas as direc¸o˜es. 1.7 O movimento de cargas sob ac¸a˜o de um campo ele´trico Um campo ele´trico uniforme pode exercer uma forc¸a em uma partı´cula carregada iso- lada, e pode exercer tanto um torque quanto uma forc¸a resultante em um dipolo ele´trico. Exemplo 1: • Um ele´tron e´ projetado em um campo ele´trico uniforme ~E = (1000N/C) xˆ com uma velocidade inicial ~v0 = ( 2×106m/s) xˆ na direc¸a˜o do campo. Qual e´ a distaˆncia percorrida pelo ele´tron antes que ele atinja momentaneamente o repouso. Como a forc¸a e´ constante, podemos utilizar as fo´rmulas para acelerac¸a˜o constante (vx = v0x +axt e∆x = v0x∆t + ax2 ∆t 2). O deslocamento ∆x esta´ relacionado com as veloci- dades inicial e final v2 = v20 +2ax∆x (1.51) A acelerac¸a˜o do ele´tron e´ obtida da segunda lei de Newton ax = Fx m =−eEx m (1.52) 27 assim, uma vez a velocidade final e´ nula v = 0 (repouso) ∆x = v2− v20 2ax = 0− v20 2 ( −eExm ) = mv20 2eEx = ( 9,11×10−31kg)(2×106m/s)2 2(1,6×10−19C)(1000N/C) (1.53) = 11,4×10−3m = 1,14cm (1.54) Exemplo 2: • Um ele´tron entra em um campo ele´trico uniforme ~E = (−2kN/C) yˆ com uma ve- locidade inicial ~v0 = ( 1×106m/s) xˆ perpendicular ao campo. Compare a forc¸a gravitacional exercida no ele´tron a` forc¸a ele´trica sobre ele. Determine a deflexa˜o do ele´tron depois de ele ter percorrido 1,0cm na direc¸a˜o x. Primeiramente calculamos a raza˜o entre a magnitude forc¸a ele´trica e da forc¸a gravita- cional Fe Fgrav = eE mg = ( 1,6×10−19C)(2000N/C) (9,11×10−31kg)(9,81N/kg) = 3,6×10 13 (1.55) este resultado mostra que a forc¸a ele´trica e´ imensa comparada a` forc¸a gravitacional, cor- roborando que em situac¸o˜es fı´sicas destes sistemas somente a forc¸a ele´trica e´ considerada. Como o movimento do ele´tron e´ na horizontal e a acelerac¸a˜o esta´ na vertical, as equac¸o˜es de movimento sa˜o { ∆x = v0t ∆y = ay2 t 2 (1.56) 28 Agora, expressando ∆y em termos de ∆x, temos ∆y = ay 2 t2 = eE 2m ( ∆x v0 )2 = ( 1,6×10−19C)(2000N/C) 2(9,11×10−31kg) ( 10−2m 106m/s )2 = 1,8cm (1.57) Estes sistemas em que o campo ele´trico e´ conhecido, a raza˜o carga/massa da partı´cula pode ser determinada atrave´s da medida de sua acelerac¸a˜o. J.J. Thomson usou a deflexa˜o de ele´trons em um campo ele´trico uniforme para demonstrar a existeˆncia dessas partı´culas e para medir a sua raza˜o carga/massa. e.g. monitores de tubos de raios cato´dicos. 1.7.1 Dipolos em campos ele´tricos Baseado nas discusso˜es anteriores de dipolo e do movimento de cargas sob a ac¸a˜o de um campo ele´trico externo, vamos enta˜o considerar o comportante de um dipolo em um campo ele´trico externo. De fato, um campo ele´trico externo na˜o exerce forc¸a resultante em um dipolo, mas exerce um torque que tende a girar o dipolo para alinha´-lo com a direc¸a˜o do campo ex- terno. Vemos que o torque~τ = ~d×~F = dF sinθ calculado em relac¸a˜o a` posic¸a˜o de qualquer uma das cargas tem mo´dulo |~τ|= LF sinθ = qELsinθ = pE sinθ →~τ = ~p×~E (1.58) 29 A direc¸a˜o e sentido do torque e´ para dentro da pa´gina, tendendo a girar o vetor momento de dipolo ~p para alinha´-lo com a direc¸a˜o de ~E. Se o dipolo gira de um aˆngulo dθ , o campo ele´trico realiza trabalho dW =−τdθ =−pE sinθdθ (1.59) o sinal de menos surge pois o torque se opo˜e a qualquer aumento de θ . O trabalho realizado e´ armazenado, sob a forma de energia potencial U , no sistema constituı´do pelo dipolo e o dispositivo que cria o campo externo. Podemos igualar o negativo do trabalho com a variac¸a˜o na energia potencial dU =−dW = pE sinθdθ (1.60) Integrando, obtemos U =U0− pE cosθ (1.61) e ao escolhermos o zero da energia potencial quando θ = pi/2, enta˜o U0 = 0, e encontra- mos a energia potencial de um dipolo em um campo ele´trico U =−~p.~E (1.62) Um exemplo bastante conhecido de aplicac¸a˜o deste sistema e´ o do forno de microondas. Uma mole´cula de a´gua e´ um dipolo ele´trico, em que existem um lado oxigeˆnio (mais ele´trons – em torno de 10– o que deixa este lado ligeiramente mais negativo) e um lado hidrogeˆnio bem definidos. 30 Quando o forno e´ ligado, as microondas geram um campo ele´trico que oscila rapida- mente de um lado para outro. Havendo a´gua no forno, o campo oscilante exerc torques oscilantes sobre as mole´culas de a´gua, girando-as continuamente de um lado para outro, de modo a alinhar seus momentos de dipolo com a direc¸a˜o do campo. E conforme as ligac¸o˜es das mole´culas sa˜o quebradas, elas podem fazer novas ligac¸o˜es, e neste momento elas transferem a energia (potencial) absorvidas em energia te´rmica. Assim, e´ acrescen- tada energia te´rmica a` a´gua quando essas novas ligac¸o˜es sa˜o formadas, e a temperatura da a´gua aumenta. 2 Campo ele´trico II Ate´ aqui, consideramos o campo ele´trico produzido por uma carga puntiforme ou, no ma´ximo, um pequeno conjunto de cargas.Vamos agora estender e considerar distribuic¸o˜es de carga que consistem em um grande nu´mero de cargas puntiformes estreitamente espac¸adas que esta˜o uniformemente distribuı´das ao longo de uma linha, sobre uma superfı´cie ou dentro de um volume. Tais distribuic¸o˜es sa˜o classificadas como contı´nuas, em vez de discretas. Neste capı´tulo, mostraremos como a lei de Coulomb e´ usada para o ca´lculo de campo ele´trico produzido por tais distribuic¸o˜es contı´nuas de carga. 2.1 Calculando o campo ele´trico a partir da lei de Coulomb Para calcular o campo ele´trico de uma distribuic¸a˜o contı´nua de carga, dividimos a carga da distribuic¸a˜o em pequenos elementos, cada qual ∆qi, podemos enta˜o determinar o campo ele´trico ∆Ei devido a esses elementos de carga no ponto P, ∆~Ei = k ∆qi r2i rˆi (2.1) em que rˆi e´ um vetor unita´rio que aponta do elemento de carga ∆qi para o ponto P. Ade- mais, o campo ele´trico total e´ escrito como ~E =∑ i ∆~Ei = k∑ i ∆qi r2i rˆi (2.2) 31 Agora, se dividimos essa distribuic¸a˜otal que i→ ∞ enta˜o ∆q→ 0, logo ~E = k lim ∆q→0∑i ∆qi r2i rˆi→ ~E = k ∫ dq r2 rˆ (2.3) Como dito anteriormente, temos treˆs possibilidades de distribuic¸a˜o homogeˆnea de cargas densidade volume´trica de carga ρ = Q/V → dq = ρdV densidade superficial de carga σ = Q/A→ dq = σdA densidade linear de carga λ = Q/L→ dq = λdL (2.4) Ademais, e´ comum escrever a constante de Coulomb k em termos de outra constante, ε0, denominada permissividade do va´cuo k = 1 4piε0 (2.5) o valor desta constante no SI e´ ε0 = 1 4pik = 8,85×10−12C2/Nm2 (2.6) 32 A devida importaˆncia desta definic¸a˜o ficara´ evidente a` frente. Exemplo 1: • Uma carga Q esta´ distribuı´da uniformemente ao longo de uma haste de compri- mento L, desde z = −L/2 ate´ z = L/2. Determine o campo ele´trico num ponto P = z0 (distaˆncia ate´ a origem) e mostre que para grandes valores de z0, a expressa˜o para o campo ele´trico se aproxima da expressa˜o para o campo ele´trico de uma carga puntiforme Q localizada na origem. O campo ele´trico e´ determinado por dE = k dq r2 = kλ dz z2 enta˜o, a integrac¸a˜o linear tem os seguintes limites z1 = z0−L/2 e z2 = z0 +L/2 E = ∫ dE = kλ ∫ z0+L/2 z0−L/2 dz z2 = kλ ( −1 z ) z0+L/2 z0−L/2 = kλ ( 1 z0−L/2− 1 z0 +L/2 ) (2.7) = k λL z20− L 2 4 = k Q z20− L 2 4 (2.8) Agora, no limite em que z0� L, enta˜o E = k Q z20 ( 1− L24z20 ) = k Q z20 ( 1− L 2 4z20 )−1 ' k Q z20 ( 1+ L2 4z20 + ... ) ' k Q z20 (2.9) Esta expressa˜o aproximada decai inversamente proporcional ao quadrado de z0. Esta 33 expressa˜o e´ a mesma que a do campo ele´trico de uma carga puntiforme Q localizada na origem. Exemplo 2: • Uma carga Q esta´ distribuı´da uniformemente ao longo de uma haste de compri- mento L, desde z =−L/2 ate´ z = L/2. (a) Determine o campo ele´trico num ponto P = (0,R) (b) Mostre que, para R� L, a expressa˜o encontra no item (a) se apro- xima da de uma carga puntiforme Q na origem. (c) Mostre que, para R� L, a expressa˜o encontrada na parte (a) se aproxima da de uma linha infinitamente longa de cargas no eixo x com uma densidade linear uniforme de carga λ = Q/L. (a) Por questa˜o de simetria, dividimos a haste em duas partes e calculamos a contribuic¸a˜o resultante delas. Sendo ~E1 o campo produzido pela carga em−L/2< x< 0 e ~E2 o campo 34 produzido em 0 < x < L/2, temos que dE1x = dE1 cosθdE1y = dE1 sinθ (2.10) dE2x =−dE2 cosθdE2y = dE2 sinθ (2.11) em que θ e´ o aˆngulo que o vetor posic¸a˜o faz com o eixo x. Agora, como as cargas sa˜o iguais, os mo´dulos E1 e E2 tambe´m sa˜o iguais. Logo, vemos que as componentes do campo resultante sa˜o dEx = dE1x +dE2x = 0dEy = dE1y +dE2y = 2dE1 sinθ (2.12) Vemos que o campo resultante na˜o tem componente no eixo x, pois as contribuic¸o˜es teˆm modulo igual, mas sentidos opostos. Portanto, a fim de calcular a componente y do campo utilizaremos a expressa˜o para uma distribuic¸a˜o contı´nua Ey = 2 ∫ dE1y sinθ = 2k ∫ dq r2 sinθ (2.13) temos que dq = λdx, e da geometria do problema encontramos sinθ = R r , r2 = R2 + x2 enta˜o Ey = 2 ∫ dE1y sinθ = 2k ∫ Rλdx r3 = 2k ∫ 0 −L2 Rλdx (R2 + x2) 3 2 (2.14) fazendo uma mudanc¸a de varia´veis x = R tanα em que dx = Rsec2αdα , enta˜o Ey = 2kRλ ∫ α2 α1 Rsec2αdα (R2 +R2 tan2α) 3 2 = 2kλ R ∫ α2 α1 sec2αdα (1+ tan2α) 3 2 = 2kλ R ∫ α2 α1 sec2αdα (sec2α) 3 2 = 2kλ R ∫ α2 α1 dα secα = 2kλ R ∫ α2 α1 cosαdα = 2kλ R (sinα)α2α1 (2.15) 35 todavia, desde que tanα = xR e´ fa´cil obter que sinα = x√ x2+R2 , logo Ey = 2kλ R ( x√ x2 +R2 ) 0 −L2 = 2kλ R 0− (−L2)√ L2 4 +R 2 = kλLR 1√L2 4 +R 2 = kQ R √ L2 4 +R 2 (2.16) Em particular, a direc¸a˜o y neste caso pode ainda ser identificada com a direc¸a˜o radial Rˆ. Assim ~E = kQ R √ L2 4 +R 2 Rˆ (2.17) (b) a expansa˜o R� L, resulta em ~E ' kQ R2 Rˆ (2.18) e reproduz a expressa˜o de uma carga puntiforme Q na origem. (c) Por outro lado, a expansa˜o L� R, resulta em ~E = kQ RL 2 √ 1+ 4R 2 L2 Rˆ' 2kλ R Rˆ (2.19) aqui o campo ele´trico decai com o inverso da distaˆncia radial a` linha de carga, assim reproduz a expressa˜o exata para uma linha infinita de carga. Exemplo 3: • Um anel fino (uma circunfereˆncia) de raio a esta´ uniformemente carregado com carga total Q. Determine o campo ele´trico devido a esta carga em todos os pontos no eixo perpendicular ao plano e que passa pelo centro do anel. Primeiramente devemos calcular as componentes axial e radial de ~E, em particular podemos mostrar que para elementos ideˆnticos de carga em lados opostos do anel ( 0 < θ1 < pi e pi < θ2 < 2pi) as componentes radiais se cancelam aos pares, como pode ser visto, o campo resultante e´ axial. Desta forma, o campo ele´trico devido ao elemento de 36 carga dq e´ dER = 0 (2.20) dEz = 2kdq r2 cosθ (2.21) e´ fa´cil ver pela geometria do problema que cosθ = z r , r2 = a2 + z2 enta˜o Ez = ∫ 2kzdq r3 = 2kλ ∫ pia 0 dL (a2 + z2) 3 2 = 2kzλ (a2 + z2) 3 2 ∫ pia 0 dL = kzλ (2pia) (a2 + z2) 3 2 = kzQ (a2 + z2) 3 2 (2.22) 37 Novamente, no limite z� a, este resultado reproduz a expressa˜o de uma carga puntiforme Q na origem. Note que no ponto z = 0 a expressa˜o do campo ele´trico e´ nula. Fisicamente, a situac¸a˜o e´ a seguinte: pro´ximo a` origem, os campos devidos a dois elementos de carga sa˜o gran- des, mas teˆm a mesma magnitude e esta˜o praticamente na mesma direc¸a˜o com sentidos opostos, logo eles quase se cancelam; o campo resultante e´ axial e pequeno. E conforme nos aproximamos da origem, a magnitude dos campos ele´tricos aumentam, mas como eles teˆm sentidos opostos, eles se cancelam. Exemplo 4: • Uma haste de pla´stico tem uma carga −Q uniformemente distribuı´da. A haste esta´ encurvada na forma de um arco de cı´rculo, de raio r, subtendendo um aˆngulo de 120o. Os eixos coordenados sa˜o colocados de modo que o eixo de simetria da haste coincide com o eixo x e a origem esta´ no centro de curvatura P da haste. Determine o campo ele´trico~E criado pela haste no ponto P? Vamos considerar dois elementos de carga equivalentes, sendo que q1 esta´ na metade superior e q2 na inferior. Sendo ~E1 o campo produzido pela carga em 0 < θ < pi/3 e ~E2 o 38 campo produzido em −pi/3 < θ < 0, temos que dE1x = dE1 cosθdE1y = dE1 sinθ (2.23) dE2x = dE2 cosθdE2y =−dE2 sinθ (2.24) Agora, como as cargas sa˜o iguais, os mo´dulos E1 e E2 tambe´m sa˜o iguais. Logo, vemos que as componentes do campo resultante sa˜o dEx = dE1x +dE2x = 2dE1 cosθdEy = dE1y +dE2y = 0 (2.25) Vemos que o campo resultante na˜o tem componente no eixo y, pois as contribuic¸o˜es teˆm modulo igual, mas sentidos opostos. Agora, a fim de calcular o campo resultante escrevemos dq = λdL e E = ∫ dEx = ∫ 2dE1 cosθ = 2k ∫ dq r2 cosθ = 2k ∫ λdL r2 cosθ (2.26) para efetuarmos a integrac¸a˜o, e´ necessa´rio lembrar que dL = rdθ , em que dθ e´ o aˆngulo subtendido pelo comprimento de arco dL. Com esta substituic¸a˜o temos E = ∫ dEx = ∫ 2dE1 cosθ = 2k ∫ dq r2 cosθ = 2kλ r ∫ pi/3 0 dθ cosθ = 2kλ r (sinθ)pi/30 = 2kλ r √ 3 2 = √ 3kλ r (2.27) Ademais, podemos ver que λ = Q 2pir 3 = 3Q 2pir logo ~E = √ 3kλ r xˆ = √ 3k r 3Q 2pir xˆ = 3 √ 3k 2pi Q r2 xˆ (2.28) 39 Exemplo 5: • Considere um disco fino uniformemente carregado de raio a e densidade superficial de carga σ . (a) Determine o campo ele´trico em todos os pontos no eixo do discos. (b) mostre que, para pontos no eixo e distantes dele,o campo ele´trico se aproxima do caso de uma carga puntiforme na origem. (c) Mostre que, para um disco uni- formemente carregado de raio infinito, o campo ele´trico e´ uniforme em ambos os lados do discos. (a) Podemos calcular o campo no eixo do disco tratando-o como um conjunto de ane´is conceˆntricos uniformemente carrregados. A figura mostra um desses ane´is, com raio r e largura radial dr. Seguindo os mesmos passos do que anteriormente para o anel, o campo ele´trico e´ dado por dEz = kdq R2 cosθ = kzdq (r2 + z2) 3 2 (2.29) neste caso o elemento de densidade de carga e´ dq = σdA = σ (2pir)dr, logo dEz = kzσ (2pir)dr (r2 + z2) 3 2 → Ez = ∫ dEz = kpizσ ∫ a 0 2rdr (r2 + z2) 3 2 = kpizσ ∫ a 0 2rdr (r2 + z2) 3 2 (2.30) 40 fazendo a mudanc¸a de varia´veis w = r2 + z2 e dw = 2rdr Ez = kpizσ ∫ a2+z2 z2 dw (w) 3 2 = kpizσ ( w− 1 2 −12 ) a2+z2 z2 =−2pikzσ ( 1√ a2 + z2 − 1√ z2 ) (2.31) = sign(z)2pikσ 1− 1√ 1+ a 2 z2 (2.32) em que definimos a func¸a˜o sinal como sign(z) = +1, z > 0 0, z = 0 −1, z < 0 este resultado mostra que o campo ele´trico tem sentido opostos nos lados do disco. (b) para a expansa˜o z� a, temos que Ez = sign(z)2pikσ ( 1− ( 1+ a2 z2 )−1/2) ≈ 2pikσ ( 1− ( 1− 1 2 a2 z2 + ... )) (2.33) = pik σa2 z2 = kQ z2 (2.34) que e´ a mesma expressa˜o para o campo ele´trico de uma carga puntiforme Q = σpia2 na origem. (c) para a expansa˜o a→ ∞, temos que Ez = lima→∞sign(z)2pikσ 1− 1√ 1+ a 2 z2 = sign(z)2pikσ(1− 1√ 1+∞ ) (2.35) = sign(z)2pikσ = sign(z) σ 2ε0 (2.36) Este resultado tambe´m e´ va´lido no caso de um plano uniforme de cargas em que a/z→∞, i.e. para pontos juntos a` superfı´cie do plano. No caso de um plano infinito vemos que ha´ uma descontinuidade no campo ele´trico em z = 0, ele salta de −2pikσ para +2pikσ quando cruza o plano z = 0. 41 Exemplo 6: • Considere um sistema de dois planos infinitos com densidade superficial de carga σ1 =+4,5nC/m2 e σ2 =−4,5nC/m2 posicionados em z = 0m e z = 2m, respecti- vamente. Determine o campo ele´trico em (a) no ponto z = 1,8 e (b) z = 5m. Cada plano produz um campo ele´trico uniforme de mo´dulo E = σ2ε0 . Usamos o princı´pio de superposic¸a˜o para determinar o campo resultante. (a) entre os planos, os campos de cada uma dos planos teˆm o mesmo sentido, logo eles se somam E = E1 +E2 = σ ε0 = ( 4,5nC/m2 ) 8,85×10−12C2/Nm2 = 508N/C observe que o campo resultante tem o mesmo valor em todos os pontos entre os planos. (b) todavia, para o ponto z = 5m os campos teˆm sentidos opostos E = E1−E2 = 0 A configurac¸a˜o de cargas descrita neste exemplo e´ a de um capacitor de placas paralelas, que sera˜o discutidos adiante no capı´tulo 24. 42 2.2 Lei de Gauss • A lei de Coulomb e´ a lei fundamental da eletrosta´tica, todavia sua forma na˜o e´ pertinente para situac¸o˜es com uma dada simetria. • Neste sentido, a lei de Gauss surge como uma nova formulac¸a˜o (equivalente) da lei de Coulomb para situac¸o˜es especiais (sime´tricas). • A quantidade principal da lei de Gauss e´ uma superfı´cie fechada hipote´tica, cha- mada de superfı´cie gaussiana. De maior utilidade, escolhemos esta superfı´cie (ar- bitra´ria) adequada a` simetria do problema em questa˜o; e.g. esfera, cilindro, etc. • A lei de Gauss relaciona os campos na superfı´cie gaussiana e as cargas (lı´quidas) no interior desta superfı´cie. Podemos calcular a carga englobada pela superfı´cie a partir da lei de Gauss, sem conhe- cimento nenhum da forma de sua distribuic¸a˜o, ao determinarmos quanto campo ele´trico e´ interceptado pela superfı´cie, quantidade que envolve o fluxo do campo ele´trico atrave´s da superfı´cie. Por exemplo, constatando um campo ele´trico ~E em cada ponto da superfı´cie (linhas de campo), todos de mesmo mo´dulo e apontando radialmente para fora, concluı´mos que ha´ uma carga lı´quida positiva no interior da superfı´cie. Vamos considerar inicialmente uma situac¸a˜o fı´sica ana´loga, o fluxo de uma corrente de ar: 43 • Seja um sistema com uma corrente de ar dirigida a uma malha quadrada de a´rea A. • Φ e´ a vaza˜o volume´trica, i.e. a taxa em que o ar escoa atrave´s da malha. • Quando ~v e´ paralela ao plano, a taxa e´ igual a zero. Quando ~v e´ perpendicular ao plano, a taxa e´ Φ= |~v|A. • Para aˆngulos intermedia´rios, a taxa depende da componente da velocidade~v que e´ normal ao plano. A taxa de escoamento atrave´s da malha e´ Φ= |~v|cosθA = (~v.nˆ)A = vnA (2.37) em que introduzimos vn =~v.nˆ como a componente da velocidade ~v normal a` su- perfı´cie. • Podemos atribuir um vetor velocidade a cada ponto na corrente de ar que atravessa a malha, i.e. ~v = ~v(x,y,z). A composic¸a˜o de todos estes vetores e´ um campo de velocidade. Podemos enta˜o interpretar Φ como o fluxo do campo velocidade atrave´s da malha. O que significa a quantidade de campo que uma a´rea intercepta. Esta interpretac¸a˜o sera´ estendida ao caso do campo ele´trico • Consideremos uma superfı´cie gaussiana (fechada) arbitra´ria imersa num campo ele´trico na˜o-uniforme. 44 • Ao dividirmos a superfı´cie em pequenos (infinitesimais) quadrados de a´rea ∆A, o campo ele´trico ~E pode ser considerado constante em todos os pontos. • A definic¸a˜o exata do fluxo do campo ele´trico de uma superfı´cie fechada e´ obtida ao tomarmos o limite ∆A→ 0 Φ= lim ∆A→0∑i ~Ei.nˆi∆A→Φ= ∮ ~E.nˆdA (2.38) e´ importante notarmos a contribuic¸a˜o do integrando para o fluxo resultante em treˆs casos distintos ~E.nˆdA = 0 < θ < 90o, Positivo, e aponta para fora da superfı´cie θ = 90o, Nulo, paralelo a` superfı´cie 90o < θ < 180o, Negativo, e aponta para dentro da superfı´cie 45 Exemplo: • Considere um campo ele´trico uniforme ~E = Exˆ. Determine o fluxo ele´trico resul- tante atrave´s das superfı´cies de um cubo de arestas L. Se posicionamos o centro do cubo na origem do sistema cartesiano (0,0,0), identifica- mos imediatamente que os vetores unita´rios normais a`s seis superfı´cies sa˜o (xˆ,−xˆ, yˆ,−yˆ, zˆ,−zˆ). Todavia, como o campo ele´trico tem direc¸a˜o ~E = Exˆ, apenas as superfı´cies com normal (xˆ,−xˆ) contribuira˜o, as demais (yˆ,−yˆ, zˆ,−zˆ) tera˜o uma contribuic¸a˜o nula para o fluxo. Desta forma temos Φ= ∮ ~E.nˆdA = ∫ 1 ~E.xˆdA+ ∫ 2 ~E.(−xˆ)dA+ ∫ 3 ~E.yˆdA+ ∫ 4 ~E.(−yˆ)dA+ ∫ 5 ~E.zˆdA+ ∫ 6 ~E.(−zˆ)dA = E ∫ 1 (xˆ.xˆ)dA−E ∫ 2 (xˆ.xˆ)dA+E ∫ 3 (xˆ.yˆ)dA−E ∫ 4 (xˆ.yˆ)dA+E ∫ 5 (xˆ.zˆ)dA−E ∫ 6 (xˆ.zˆ)dA = E ∫ 1 dA−E ∫ 2 dA = EA−EA = 0 (2.39) Este resultado na˜o e´ surpreendente, pois as linhas de campo que passam pela base do lado esquerdo saem pela base do lado direito. Portanto, o fluxo atrave´s da superfı´cie fechada e´ zero. 46 Uma situac¸a˜o alternativa, para termos um fluxo resultante na˜o-nulo no problema acima, seria considerar um campo ele´trico da seguinte forma ~E = sign(x)Exˆ = −E, x > 0+E, x > 0 A lei de Gauss pode ser enuncianda da seguinte forma: ao relacionarmos o fluxo (resultante) de um campo ele´trico atrave´s de uma superfı´cie (gaussiana) fechada com a carga lı´quida Q envolvida por esta superfı´cie, temos ε0Φ= Q→ ε0 ∮ ~E.nˆdA = Q (2.40) • A carga lı´quida Q e´ a soma alge´brica de todas as cargas positivas e negativas inter- nas a` superfı´cie, e ela pode ser Q > 0, Q < 0, Q = 0 (2.41) Neste caso e´ o sinal da carga lı´quida que diz se o fluxo esta´ saindo ou entrando atrave´s da superfı´cie: Q > 0, o fluxo lı´quido e´ para fora, e Q < 0, o fluxo lı´quido e´ para dentro. • As cargas fora da superfı´cie, na˜o importando qua˜o grandes ou qua˜o perto elas se encontrem, na˜o sa˜o incluı´das no termo da lei de Gauss (o nu´mero delinhas de campo que entra na superfı´cie e´ igual ao nu´mero que sai da mesma). • A maneira que a carga esta´ distribuı´da no interior tambe´m na˜o importa, de fato somente o mo´dulo e o sinal da carga lı´quida. Exemplo: • Vamos aplicar estas ideias no sistema de duas cargas iguais em mo´dulo, mas de sinais opostos, em quatro superfı´cies gaussianas. • Superfı´cie A: O campo ele´trico aponta para fora em todos os pontos desta su- perfı´cie. Assim, o fluxo do campo ele´trico atrave´s desta superfı´cie e´ positivo e, segundo a lei de Gauss, a carga lı´quida no interior da superfı´cie e´ positiva. 47 • Superfı´cie B: O campo ele´trico aponta para dentro em todos os pontos desta su- perfı´cie. Assim, o fluxo do campo ele´trico atrave´s desta superfı´cie e´ negativo e, segundo a lei de Gauss, a carga lı´quida no interior da superfı´cie e´ negativa. • Superfı´cie D: Esta superfı´cie na˜o conte´m nenhuma carga. Assim, e, segundo a lei de Gauss, o fluxo do campo ele´trico e´ zero para esta superfı´cie; pois toda linha de campo ele´trico que entra tambe´m sai. • Superfı´cie C: Esta superfı´cie encerra uma carga lı´quida nula, pois as cargas positiva e negativa no seu interior teˆm o mesmo mo´dulo. E a lei de Gauss que o fluxo do campo ele´trico seja nulo. 2.3 Ca´lculo do campo ele´trico atrave´s da lei de Gauss Para uma dada distribuic¸a˜o de cargas altamente sime´trica, geralmente e´ mais simples calcular o campo ele´trico utilizando a lei de Gauss do que a lei de Coulomb. Em geral, as classes de simetrias consideradas sa˜o: a simetria cilı´ndrica, simetria plana e simetria esfe´rica. 48 Exemplo 1 : • Ao considerarmos uma carga puntiforme positiva +q, envolta por uma superfı´cie gaussiana esfe´rica conceˆntrica de raio r, a lei de Gauss aplicada a esta distribuic¸a˜o resulta em ε0 ∮ ~E.nˆdA = ε0 ∮ EdA = Q Embora o campo ele´trico varie radialmente com a distaˆncia medida a partir da carga, ele tem o mesmo valor sobre toda a superfı´cie esfe´rica ε0E ∮ dA = ε0E ( 4pir2 ) = Q→ E = 1 4piε0 1 r2 (2.42) Este e´ exatamente a expressa˜o do campo ele´trico criado por uma carga puntiforme, tal como encontrada a partir da lei de Coulomb. Exemplo 2: • Vamos utilizar a lei de Gauss para determinar o campo ele´trico devido a uma linha infinitamente longa de cargas com densidade uniforme λ . A fim de calcular o campo ele´trico a partir da lei de Gauss para esta distribuic¸a˜o consideremos uma superfı´cie gaussiana cilı´ndrica coaxial, com comprimento L e raio R. Esta superfı´cie consiste de treˆs partes: as duas bases, e o comprimento. Devido a simetria sabemos que a direc¸a˜o do campo e´ radial, logo o vetor normal e o campo ele´trico sa˜o 49 perpendiculares nas duas bases, pontos 1 e 3, logo o fluxo nessas partes e´ nulo ~E.nˆ = 0→Φ1 =Φ3 = 0 (2.43) todavia, ao longo do lateral do cilindro, a normal e´ radial nˆ = Rˆ, logo na mesma direc¸a˜o do campo ele´trico ~E.nˆ = ER ( Rˆ.Rˆ ) = ER→Φ2 = ∫ ERdA = ER (2piRL) (2.44) Por fim, pela lei de Gauss, encontramos Φ=Φ1 +Φ2 +Φ3 = Q ε0 → ER (2piRL) = λLε0 → ER = 1 2piε0 λ R (2.45) Compare esta espressa˜o com o resultado obtido a partir da aplicac¸a˜o da lei de Coulomb. Exemplo 3: • Vamos utilizar a lei de Gauss para determinar o campo ele´trico em todos os pon- tos devido a uma placa muito grante (infinita), uniformemente carregada, feita de pla´stico, com largura 2a, ocupa a regia˜o entre os planos z = −a e z = a. A carga por unidade de volume do pla´stico e´ ρ > 0. Pela figura, vemos que o campo ele´trico e´ paralelo a` normal nas bases da superfı´cie cilı´ndrica, enquando eles sa˜o perpendiculares na lateral da superfı´cie. Logo ~E.nˆ = En→Φ1 =Φ3 = ∫ EndA = En ∫ dA = EnAbase (2.46) e na lateral ~E.nˆ = 0→Φ2 = 0 (2.47) Uma vez que a placa tem largura 2a, temos duas situac¸o˜es: z≥ a ou z≤ a, em que 2z e´ o comprimento da superfı´cie cilı´ndrica. Desta forma, vemos que a carga lı´quida engloblada pela superfı´cie satisfaz Q = ρ (2aAbase) , z≥ aρ (2zAbase) , z≤ a 50 Portanto, coletanto todas as informac¸o˜es, temos que para |z| ≥ a Φ=Φ1 +Φ2 +Φ3 = Q ε0 → 2EnAbase = 1ε0ρ (2aAbase)→ En = ρa ε0 (2.48) enquanto que para −a≤ z≤ a Φ=Φ1 +Φ2 +Φ3 = Q ε0 → 2EnAbase = 1ε0ρ (2 |z|Abase)→ En = ρ |z| ε0 (2.49) Por fim, podemos resumir estes resultados como ~E = Ezzˆ = −ρaε0 zˆ, z≤−a ρz ε0 , −a≤ z≤ a +ρaε0 zˆ, z≥ a (2.50) ou ainda ~E = sign(z) ρa ε0 zˆ, |z| ≥ a sign(z) ρ|z|ε0 zˆ, |z| ≤ a O que acontece fisicamente ao considerarmos o caso de uma largura nula para a placa? Veja que ao tomarmos o limite de a→ 0, i.e. nos aproximarmos de uma chapa de cargas 51 a partir de uma placa, temos que ρ2a→ σ . E o campo ele´trico, fora do plano, e´ o mesmo. Exemplo 4: • Vamos utilizar a lei de Gauss para determinar o campo ele´trico em todos os pontos devido a uma fina casca esfe´rica carregada de raio R e carga total Q > 0. Para esta distribuic¸a˜o de carga e´ pertinente escolhermos uma superfı´cie gaussiana esfe´rica com raio r > R; ainda vemos que o campo ele´trico e a normal teˆm direc¸a˜o radial, i.e. sa˜o paralelos em todos os pontos da superfı´cie.Logo ~E.nˆ = Er→Φ= ∫ ErdA = Er ∫ dA = Er ( 4pir2 ) (2.51) Portanto, a lei de Gauss nos da´ para r > R Φ= Q ε0 → Er ( 4pir2 ) = Q ε0 → Er = 14piε0 Q r2 (2.52) enquanto que para r < R, temos que Q = 0, enta˜o Er = 0. Podemos resumir os resultados 52 como ~E = 14piε0 Qr2 rˆ, r > R0, r < R Observe que o campo ele´trico e´ descontı´nuo em r = R, onde a densidade de carga na su- perfı´cie σ = Q/ ( 4piR2 ) . O campo pro´ximo a` superfı´cie interna da casca e´ zero, enquanto pro´ximo a` superfı´cie interna da casca ele e´ Er = Q/ ( 4piε0R2 ) = σ/ε0. Exemplo 5: • Uma casca esfe´rica de raio R = 3m tem seu centro na origem e tem uma densidade superficial de carga σ = 3nC/m2. Uma carga puntiforme q = 250nC esta´ no eixo y, no ponto (0,2)m. Determine o campo ele´trico no eixo x em (a) x = 2m e (b) x = 4m. Calcularemos, separadamente, os campos devidos a` carga puntiforme e a` casca esfe´rica, e somaremos os campos vetoriais de acordo com o princı´pio de superposic¸a˜o. (a) Como o ponto de interesse para calcular o campo esta´ dentro da casca, o campo resultante e´ devido somente a` carga puntiforme. Logo, temos que ~E1 = kq r21 rˆ1 (2.53) 53 pela geometria do problema, vemos que r21 =(2m) 2+(2m)2 = 8m2 e tambe´m que o campo faz um aˆngulo de α = 45o com o eixo x (tanα = 2/2 = 1). Assim, podemos calcular o mo´dulo do campo E1 = ( 8,99×109N.m2/C2)(250nC) 8m2 = 281N/C Por fim, a partir destes dados, podemos expressar o campo resultante em termos de suas componentes cartesianas ~E1 = E1xxˆ+E1yyˆ = E1 cos45oxˆ−E1 sin45oyˆ = E1√ 2 (xˆ− yˆ) = 281√ 2 (xˆ− yˆ)N/C = (199xˆ−199yˆ)N/C (2.54) (b) Fora de seu perı´metro, o campo da casca pode ser calculado como se ela fosse uma caga puntiforme localizada no centro da casca (neste caso a origem (0,0)). A carga total da casca e´ Q = σ ( 4piR2 ) = ( 3nC/m2 )( 4pi (3m)2 ) = 339nC (2.55) e a distaˆncia e´ x = 4m, portanto ~EQ = kQ x2 xˆ = ( 8,99×109N.m2/C2)(339nC) 16m2 xˆ = (190N/C) xˆ (2.56) Neste caso, a distaˆncia da carga ate´ o ponto e´ r22 = (2m) 2+(4m)2 = 20m2, logo o mo´dulo do campo devido a` carga e´ Eq = ( 8,99×109N.m2/C2)(250nC) 20m2 = 112N/C (2.57) Facilmente vemos que o campo faz um aˆngulo α = arctan (2 4 ) = 26,6o com o eixo x. Portanto, podemos escrever as componentes cartesianas do campo resultante como Ex = Eq cosα+EQ = (112N/C)cos26,6o +(190N/C) = 290N/C (2.58) Ey =−Eq sinα+0 =−(112N/C)sin26,6o =−50N/C (2.59) 54 Finalmente, temos o vetor campo ele´trico resultante~E2 = (290xˆ−50yˆ)N/C (2.60) Exemplo 6: • Determine o campo ele´trico devido a uma esfera so´lida uniformemente carregada que tem raio R e uma carga total Q, distribuı´da uniformemente atrave´s do volume da esfera cuja densidade de carga e´ ρ = Q/4piR3/3. A configurac¸a˜o de cargas tem simetria esfe´rica, logo o campo ele´trico deve ser radial Er. Ademais, dada esta simetria escolhemos uma superfı´cie gaussiana esfe´rica de raio r. 55 Para uma superfı´cie esfe´rica tal que r > R, em cada ponto da superfı´cie, a normal e´ nˆ = rˆ, e o fluxo e´ Φ= ∮ Eˆ.nˆdA = Er ∮ dA = Er ( 4pir2 ) (2.61) logo, pela lei de Gauss, relacionamos Φ= Q ε0 → Er ( 4pir2 ) = Q ε0 → Er = 14piε0 Q r2 (2.62) Todavia, a situac¸a˜o e´ diferente para r < R, i.e. a superfı´cie dentro da esfera. Neste caso, a carga lı´quida englobada pela superfı´cie e´ Q′ = ρV ′ = ρ ( 4pir3/3 ) (2.63) todavia, podemos escrever a densidade ρ em termos da carga total da esfera Q, assim Q′ = ρ ( 4pir3/3 ) = ( Q/4piR3/3 )( 4pir3/3 ) = Qr3 R3 (2.64) Desta forma, o campo ele´trico para r < R, e´ Φ= Q′ ε0 → Er ( 4pir2 ) = Q′ ε0 → Er = 14piε0 Q′ r2 = 1 4piε0 1 r2 Qr3 R3 = 1 4piε0 Q R3 r (2.65) Podemos resumir os resultados como ~E = 14piε0 Qr2 rˆ, r ≥ R1 4piε0 Q R3 rrˆ, r ≤ R 2.4 Descontinuidade do campo ele´trico Vimos anteriormente que o campo ele´trico para um plano infinito de cargas e para uma fina casca esfe´rica de cargas e´ descontı´nuo na superfı´cie com densidade de carga igual a` σ . Todavia, podemos mostrar que este e´ um resultado geral para a componente normal do campo ele´trico que e´ va´lido para diveras situac¸o˜es. • Consideremos uma superfı´cie arbitra´ria com densidade superficial de carga igual a σ . 56 • A superfı´cie e´ arbitrariamente curva, apesar de na˜o apresentar na˜o apresentar ne- nhuma dobra agura onde a direc¸a˜o normal pudesse ser ambı´gua, e σ pode variar continuamente na superfı´cie de um ponto a outro. • A fim ilustrar o conceito, consideremos o campo ele´trico na vizinhanc¸a de um ponto P na superfı´cie como a superposic¸a˜o do campo ele´trico ~Edisco, devido apenas a` carga em um pequeno disco centro no ponto P, e o campo ele´trico ~E ′ devido a todas as outras cargas do sistema. Assim, ~E = ~Edisco +~E ′ (2.66) E´ importante enfatizar que o disco e´ pequeno o suficiente para que possa ser consi- derado plano e uniformemente carregado. • No eixo do disco, o campo ele´trico e´ Ez = sign(z)2pikσ 1− 1√ 1+ a 2 z2 (2.67) enquanto que para pontos pro´ximos ao disco, a magnitude do campo e´ Ez = |σ |/2ε0. • Embora a direc¸a˜o e sentido de ~Edisco sejam determinados por σ , na˜o temos ne- nhuma informac¸a˜o sobre a direc¸a˜o e sentido de ~E ′. Todavia, na vizinhanc¸a do ponto 57 P, o campo e´ contı´nuo. Portanto, em pontos no eixo do disco e muito pro´ximos a ele, o campo ~E ′ e´ essencialmente uniforme. • O eixo do disco e´ normal, a` superfı´cie e assim componentes vetoriais ao longo deste eixo podem ser referidas como componentes normais. Disto, segue que En = Ediscon +E ′ n (2.68) se nos referimos a um dos lador da superfı´cie como o lado +, e o outro lado comom o lado −, enta˜o En+ = σ 2ε0 +E ′n+, En− =− σ 2ε0 +E ′n+, (2.69) Portanto, a componente normal En varia descontinuamente de um lado ao outro da superfı´cie, i.e. ∆En = En+−En− = σ2ε0 +E ′ n+− ( − σ 2ε0 +E ′n+ ) = σ ε0 (2.70) descontiuidade de En de uma superfı´cie com densidade de carga. Fizemos uso de que pro´ximo ao disco E ′n+ = E ′n−, pois ~E ′ e´ contı´nuo e uniforme. • O campo ele´trico e´ descontı´nuo em qualquer posic¸a˜o onde haja uma densidade vo- lume´trica infinita de cargas. Em geral, em todas as posic¸o˜es com uma densidade superficial finita de cargas, e´ verdadeiro que a componente normal do campo ele´trico e´ descontinua. 2.5 Carga e campo em superfı´cies condutoras • Um condutor conte´m uma quantidade enorme de carga que pode se mover livre- mente no seu interior. Se houver um campo ele´trico no interior do condutor, havera´ uma forc¸a resultante nestas cargas livres que provocara´ uma corrente ele´trica mo- mentaˆnea (capı´tulo 25). • Entretanto, a menos que haja uma fonte de energia para manter esta corrente, as cargas livres no condutor meramente se redistribuira˜o de forma a criar um campo ele´trico que cancele o campo externo no interior do condutor. diremos enta˜o, que o 58 condutor estara´ em equilı´brio eletrosta´tico. Portanto, em equilı´brio eletrosta´tico, o campo ele´trico no interior de um condutor e´ zero em todos os pontos. • Ademais, podemos usar a lei de Gauss para mostrar que, para um condutor em equilı´brio eletrosta´tico, qualquer carga ele´trica resultante no condutor reside inteiramente em sua superfı´cie. • Consideremos uma superfı´cie gaussiana arbitra´ria completamente dentro do condu- tor em equilı´brio eletrosta´tico. E como o campo ele´trico e´ zero em qualquer ponto dessa superfı´cie gaussiana, segue que o flxo resultante do campo ele´trico deve ser zero; e segundo a lei de Gauss, a carga lı´quida no interior da superfı´cie gaussiana deve ser zero. • Assim, concluı´mos que na˜o pode haver nenhuma carga lı´quida no interior de qualquer superfı´cie dentro de um condutor; o que implica que se o condutor possui uma carga resultante, ela deve residir necessariamente na superfı´cie do condutor. Mas como fica o campo ~E fora do condutor? Como a componente do campo ele´trico Er e´ descontı´nuo em qualquer superfı´cie carre- gada, e como ~E e´ nulo no interior de um condutor, o campo pro´ximo a` superfı´cie exterior de um condutor, e´ dado por Er = σ ε0 campo ele´trico pro´ximo a` superfı´cie externa de um condutor. • Podemos entender este resultado como: a carga em condutor consiste de duas partes i) a carga pro´xima ao ponto P ii) todas as demais cargas do sistema. • A carga pro´xima de P (ponto muito pro´ximo do disco) se assemelha a um disco carregado uniformemente, centrado em P, que produz um campo pro´ximo de P com magnitude σ/2ε0, tanto no lado interior como no lado exterior da superfı´cie do condutor. • O restante das cargas do sisema deve produzir um campo de magnitude σ/2ε0 que cancele exatamente o campo na parte interna do condutor. • Este campo devido ao restante das cargas se soma ao campo devido ao disco na superfı´cie externa do condutor para produzir um campo total de σ/ε0. 59 Consideremos um sistema que consiste de uma cara puntiforme positiva q no centro de uma cavidade esfe´rica dentro de um condutor esfe´rico. • Como a carga lı´quida deve ser zero dentro de qualquer superfı´cie gaussiana consi- derada no interior de um condutor, deve haver uma carga negativa −q induzida na superfı´cie interior da cavidade. • Podemos ainda movimentar a carga positiva q do centro para qualquer outra posic¸a˜o. Neste caso, as linhas de campo na cavidade sa˜o alteradas e a densidade superficial da carga negativa induzida na superfı´cie interna deixa de ser uniforme. Entretanto, a densidade superfı´cial na parte externa na˜o e´ alterada, pois ela esta´ eletricamente blindada da cavidade pelo material condutor. • O campo ele´trico da carga puntiforme q e o da carga −q da superfı´cie interna da cavidade se superpo˜em para produzir um campo resultante que e´ exatamento zero em qualquer ponto no interior do condutor. Isto e´ verdadeiro para uma carga punti- 60 forme +q em qualquer posic¸a˜o dentro da cavidade. • Ademais, estas afirmac¸o˜es sa˜o va´lidas mesmo que as superfı´cies interna e externa do condutor na˜o forem esfe´ricas. 61 I Campo elétrico Campo elétrico I Contexto Histórico Propriedades das cargas elétricas Fatos experimentais Condutores e isolantesMétodos de carregamento/eletrização Lei de Coulomb Força exercida por um sistema de cargas O campo elétrico Linhas de campo elétrico Dipolos elétricos O movimento de cargas sob ação de um campo elétrico Dipolos em campos elétricos Campo elétrico II Calculando o campo elétrico a partir da lei de Coulomb Lei de Gauss Cálculo do campo elétrico através da lei de Gauss Descontinuidade do campo elétrico Carga e campo em superfícies condutoras
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