Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A APLICABILIDADE DA PENHORA ON-LINE COMO FORMA DE SATISFAÇÃO DO CRÉDITO NAS EXECUÇÕES POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE DÉBORA KÜHL Itajaí, outubro de 2007 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A APLICABILIDADE DA PENHORA ON-LINE COMO FORMA DE SATISFAÇÃO DO CRÉDITO NAS EXECUÇÕES POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE DÉBORA KÜHL Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Doutor Diego Richard Ronconi Itajaí, outubro de 2007 AGRADECIMENTO Agradeço à instituição Univali – Universidade do Vale do Itajaí, em especial ao meu orientador, Professor Doutor Diego Richard Ronconi, por me honrar sua competência e atenção, aos professores que me acompanharam no decorrer desta caminhada, aos meus pais, que me proporcionaram o alcance desta conquista, bem como aos amigos da Justiça Federal de Joinville- SC, por me inspirarem na escolha do tema desta monografia, e me apoiarem, auxiliando na pesquisa. DEDICATÓRIA Dedico a presente principalmente aos meus amados pais, que me possibilitaram este aprendizado, sempre orientando e torcendo pelo meu sucesso; à turma de Direito 2007-II, especialmente às minhas amigas 4x4, Gê, Ké e Suzy, pelos ótimos momentos juntas, os quais jamais serão esquecidos. TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí, 16 de outubro de 2007 Débora Kühl Graduanda PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Débora Kühl, sob o título A Aplicabilidade da Penhora On-line Como Forma de Satisfação Do Crédito Nas Execuções Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente, foi submetida em 12 de novembro de 2007 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Professora Fernanda Goulart, Professor Eduardo Campos e Professor Doutor Diego Richard Ronconi, e aprovada com a nota 10 (dez). Itajaí, 16 de outubro de 2007 Professor Doutor Diego Richard Ronconi Orientador e Presidente da Banca Professor Mestre Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS ART. Artigo ARTS. Artigos BACEN Banco Central CF Constituição Federal CPC Código de Processo Civil ED. Edição P. Página REG. Regimento REV. Revisada V. Volume ROL DE CATEGORIAS Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais. Bacen-Jud O Bacen-Jud é um sistema de consultas on-line, que atende às solicitações do Poder Judiciário ao Banco Central do Brasil. Esta requisição de informações é feita em relação às contas do devedor e tem disposição legal nos artigos 655, I e 655-A, do Código de Processo Civil. O Código Tributário Nacional, em seu artigo 185-A, autoriza a penhora eletrônica através do uso deste sistema, bem como o Provimento n.º 05/2006, da Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça de Santa Catarina dispõe sobre o a utilização do procedimento. Crédito “O crédito tem seu fundamento na fidúcia, na idéia da confiança aplicada aos negócios; nasce da qualidade da pessoa que promete e a ele se obriga. A própria palavra crédito, do latim creditum, que decorre da expressão credere, significa "confiar", "ter fé". Segundo Ciccone, há maior confiança em um homem honesto do que no rico _ se não o faz com relação ao pobre é porque este não poderia, provavelmente, pagar seus débitos. A garantia do poder se traduz na capacidade e na riqueza: a capacidade, como dote pessoal, assegura a boa direção do negócio, e a riqueza, como fundo real, pode suprir a perda1”. Devedor Solvente “Devedor Solvente é aquele cujo patrimônio apresenta ativo maior do que o passivo2”. 1 Inoponibilidade das exceções ao terceiro de boa-fé nos títulos cambiais. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=747&p=3>. Acesso em 14 out.2007. 2 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Processo Cautelar : Humberto Theodoro Júnior, 2 v. Rio de Janeiro : Forense, 2006. p. 266. Execução “É freqüente, na doutrina clássica, ouvir falar de execução como a transferência de valor jurídico do patrimônio do réu para o do autor. Isto está correto quando se pensa na execução que objetiva o pagamento de dinheiro ou de qualquer prestação que envolva transferência de patrimônio, bem como a coisa imóvel ou móvel, seja em virtude de direito real ou obrigacional. Há casos, porém, que, para a efetivação da tutela jurisdicional do direito, não se retira qualquer patrimônio do demandado. Assim ocorre quando se efetiva a tutela que impede a prática de ato contrário ao direito e, especialmente, quando é efetivada a tutela que remove os efeitos concretos derivados de ato contrário ao direito. (...).Portanto, a execução, no Estado constitucional, não pode ser reduzida a um ato de transferência de riquezas de um patrimônio a outro, devendo ser vista como a forma ou ato que, praticado sob a luz da jurisdição, é imprescindível para a realização concreta da tutela jurisdicional do direito, e assim para a própria tutela prometida pela Constituição e pelo direito material3”. Execução por Quantia Certa “Consiste a execução por Quantia Certa em expropriar bens do devedor para apurar judicialmente recursos necessários ao pagamento do credor. Seu objetivo no texto do Código, “expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor (art. 646)4”. Penhora “A Penhora (...) pode ser conceituada como o ato executivo que afeta determinado bem à Execução, permitindo sua ulterior expropriação, e torna os atos de disposição do seu proprietário ineficazes em face do processo. (...). É ato público e estatal, praticado pelo oficial de justiça como longa manus do juiz. Não é ato privado do credor, ainda que se diga que a penhora é feita no seu interesse. O credor recorre ao Estado, através da ação executiva, e este penhora o bem. 3 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil, volume 3: execução / Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 69-70. 4 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Processo Cautelar : Humberto Theodoro Júnior, 2 v. Rio de Janeiro : Forense, 2006. p. 262. Também não é ato de disposição do devedor: a este apenas se dá a faculdade limitada de indicação de bem para sofrer a constrição; não se lhe outorga, porém, a possibilidade de não a aceitar5”. Penhora On-line “A penhora, on-line trata de um sistema inovador utilizado pelo Poder Judiciário, o qual permite que os magistrados através de uma solicitação eletrônica bloqueiem instantaneamente as contas-correntes do executado para que seja garantida a execução, buscando dessa forma, um feito executivomais célere6”. Penhor “O penhor possui natureza jurídica de direito real de garantia sobre coisa alheia. Tem caráter acessório e, como tal, sua existência subordina-se à sorte da obrigação principal. Assim é que, em perecendo aquela, por qualquer forma, não subsiste o penhor. Para que haja o penhor, necessário se faz seja instituído contratualmente. Regra geral, não basta a manifestação volitiva para que se aperfeiçoe. Exige instrumento escrito (escritura pública ou instrumento particular) e a entrega física da coisa, a tradição, além, é claro, da inscrição no registro correspondente, para valer contra terceiros7”. 5 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil, v. 2: processo de execução. 8. ed. Ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. p. 169. 6 PEGINI, Adriana Regina Barcellos. O Princípio da Proporcionalidade e a Penhora On-line. Disponível em: <http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/penhoraonline.htm>. Acesso em: 05 out.2007. 7 DAL COL, Helder Martinez. Penhor agrícola: a natureza jurídica dos bens empenhados e as conseqüências do desvio. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1677>. Acessado em 04.10.2007. SUMÁRIO RESUMO.......................................................................................... XII INTRODUÇÃO ................................................................................... 1 CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 4 CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DO PROCESSO DE EXECUÇÃO ....................................................................................... 4 1.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE O PROCESSO DE EXECUÇÃO .......................4 1.2 CONCEITO E OBJETIVOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO........................8 1.3 ESPÉCIES DE PROCESSO DE EXECUÇÃO................................................11 1.3.1 EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA CERTA ....................................................11 1.3.2 EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA INCERTA..................................................12 1.3.3 EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E DE NÃO FAZER ..................................14 1.3.4 EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE ........................16 1.3.5 EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR INSOLVENTE ......................18 1.3.6 EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA ........................................................20 1.3.7 EXECUÇÃO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA ...............................................................23 1.4 OS EMBARGOS DO DEVEDOR....................................................................25 1.5 A SUSPENSÃO E A EXTINÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO.............27 CAPÍTULO 2 .................................................................................... 32 BREVES NOÇÕES SOBRE O PROCESSO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE...................... 32 2.1 OBJETIVO DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA ...................................32 2.2 A CITAÇÃO DO DEVEDOR E A INDICAÇÃO DE BENS ..............................33 2.3 A PENHORA E O DEPÓSITO A PENHORA DE CRÉDITOS E OUTROS DIREITOS PATRIMONIAIS ..................................................................................38 2.4 A AVALIAÇÃO ...............................................................................................42 2.5 A ADJUDICAÇÃO, A ALIENAÇÃO POR INICIATIVA PARTICULAR E A ALIENAÇÃO POR HASTA PÚBLICA..................................................................44 2.6 O PAGAMENTO AO CREDOR ......................................................................48 CAPÍTULO 3 .................................................................................... 52 A PENHORA ON-LINE E SUA APLICAÇÃO NO PROCESSO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE ...................................................................................... 52 3.1 CONCEITOS E OBJETIVOS DA PENHORA ON-LINE .................................52 3.2 ESPÉCIES DE PENHORA ON-LINE..............................................................56 3.2.1 PENHORA ON-LINE DE DINHEIRO (ART. 655-A E ART. 659, §6º, CPC) .................56 3.2.2 PENHORA ON-LINE DE BENS IMÓVEIS (ART. 659, § 6º, CPC) ..............................58 3.2.3 PENHORA ON-LINE DE BENS MÓVEIS (ART. 659, § 6º, CPC) ...............................61 3.3 REGRAS DO BACEN-JUD 2.0 PARA REALIZAÇÃO DA PENHORA ON- LINE ......................................................................................................................63 3.4 AS VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA PENHORA ON-LINE PELO PODER JUDICIÁRIO .........................................................................................................67 3.5 A JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA E A PENHORA ON-LINE ...............................................................................................................69 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 77 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 80 RESUMO A presente monografia tem como objeto de estudo A Aplicabilidade da Penhora On-line Como Forma de Satisfação do Crédito Nas Execuções Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente, sendo composta de três capítulos. No primeiro, inicia-se o estudo do processo de Execução em geral, fazendo um breve histórico, conceituando e apresentando seus objetivos, relacionando as espécies de processo de Execução, com suas respectivas características, abordando os embargos à Execução e como se dá a suspensão e a extinção do processo de Execução. No segundo capítulo mostram-se os objetivos da Execução Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente, como ocorre a citação do devedor e a indicação de bens à Penhora, discorrendo sobre a Penhora e o depósito de créditos e outros direitos patrimoniais, sobre a avaliação, a adjudicação, a alienação por iniciativa particular e por iniciativa pública, e, por fim, a respeito do pagamento feito ao credor. No terceiro e último capítulo, trata-se da Penhora On-line, como esta é aplicada dentro do processo de Execução Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente, seus conceitos e objetivos, suas espécies, as regras do sistema Bacen-Jud, as vantagens na utilização desta inovação e a visão da jurisprudência brasileira contemporânea acerca deste procedimento. Observa-se a relevância do estudo deste tema, por ser atual e possuir diversos posicionamentos a respeito de sua aplicação, sendo, por alguns, considerado um avanço tecnológico, enquanto, para outros, uma insegurança descabida. INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto o estudo da Aplicabilidade da Penhora On-line Como Forma De Satisfação Do Crédito Nas Execuções Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente. O seu objetivo, no campo institucional, é produzir monografia para obtenção do Título de Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Quanto aos objetivos investigatórios, na parte geral é identificar as características da Penhora On-line no ordenamento jurídico brasileiro, e na parte específica é verificar as características da Penhora, analisar a privacidade on-line, verificar as vantagens deste procedimento e, por fim, analisar as críticas a respeito do tema. Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do processo de Execução em geral, fazendo um breve histórico a respeito, conceituando e expondo seus objetivos, relacionando as diversas espécies de processo de Execução com suas respectivas características, bem como abordando os embargos à Execução e como se dá a suspensão e a extinção do processo de Execução. No Capítulo 2, tratando dos objetivos da Execução Por Quantia Certa ContraDevedor Solvente, como ocorre a citação do devedor e a indicação de bens à Penhora, discorrendo sobre a Penhora e o depósito de créditos e outros direitos patrimoniais, sobre a avaliação, a adjudicação, a alienação por iniciativa particular e por iniciativa pública, e, por fim, a respeito do pagamento feito ao credor. No Capítulo 3, tratando da Penhora On-line, como esta é aplicada dentro do processo de Execução Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente, seus conceitos e objetivos, suas espécies, quais sejam, Penhora On- line de dinheiro, de bens imóveis e de bens móveis, as regras do sistema Bacen- Jud, através do qual é realizada a Penhora On-line, as vantagens na utilização 2 desta inovação do Poder Judiciário e a visão da jurisprudência brasileira contemporânea acerca deste procedimento. A presente monografia foi desenvolvida tendo como base os seguintes problemas: Primeiro problema: O que é Penhora On-line? Qual o seu objetivo dentro do processo de Execução? Hipótese: Penhora On-line é uma constrição, mas com um diferencial, que é a forma eletrônica, objetivando celeridade ao processo executivo. Segundo problema: Qual o procedimento para efetuar a Penhora por meio eletrônico? Hipótese: O procedimento adotado é realizado através do sistema Bacen-Jud, de criação do Banco Central em convênio com o Poder Judiciário. Terceiro problema: Qual a vantagem trazida pela Penhora On-line para o mundo jurídico? Hipótese: A Penhora On-line proporcionou celeridade e efetividade aos processos, o que permite a parte credora satisfazer seu direito de forma mais rápida. A área da concentração restringe-se ao “Direito Público”. A linha de pesquisa é “Direito Civil”, “Direito Processual Civil” e “Direito Tributário”. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, demonstrando se as hipóteses básicas da pesquisa foram ou não confirmadas, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a Aplicabilidade da Penhora On-line Como Forma de Satisfação do Crédito Nas Execuções Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente. 3 Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados o Método Indutivo, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica. CAPÍTULO 1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DO PROCESSO DE EXECUÇÃO 1.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE O PROCESSO DE EXECUÇÃO O Processo de Execução tem sua base histórica fundamentada no direito romano. Desta forma, Moacyr Amaral Santos8 ensina: No direito romano, à execução sempre e necessariamente devia preceder sentença condenatória do devedor. a) No período das legis actionis, decorridos trinta dias da prolação do julgado (tempus iudicati), sem que o devedor satisfizesse a condenação, podia o credor conduzir o devedor, mesmo à força, até o magistrado, que o autorizava lançar-lhe a mão (manus iniectio) e encarcerá-lo. Cabia, então, ao credor mandar apregoar o prisioneiro em três feiras, de nove em nove dias, visando a obter seu resgate, pelo pagamento do valor correspondente à condenação, e, quando a isso ninguém a dispusesse, vendê-lo fora da cidade (trans Tiberim) ou mesmo matá-lo. Misael Montenegro Filho9 aduz que: Historicamente falando, com os olhos voltados para a Lei das XII Tábuas, anote-se que o não-cumprimento espontâneo da obrigação conferia ao credor o direito de encarcerar o devedor pelo prazo de 60 dias, dentro do qual comparecia com o devedor por três dias ao mercado na presença do pretor, na tentativa de que alguém se apresentasse para solver a dívida, o que liberaria o devedor. Isto não ocorrendo, e com a fluência dos 60 dias, passava o credor a ser o proprietário do devedor, podendo vendê- 8 SANTOS, Moacyr Amaral, 1902-1983. Primeiras linhas de direito processual civil / Moacyr Amaral Santos. – São Paulo: Saraiva, 2003. Vol. 3: 21. ed. atual.; v. 1:22. ed. rev. E atual.; v. 2: 20. ed. rev. / por Aricê Moacyr Amaral Santos. p. 214. 9 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil, volume 2: teoria geral dos recursos em espécie e processo de execução / Misael Montenegro Filho. – 2. ed. – São Paulo: Atlas, 2006. p. 265. 5 lo ou fazê-lo escravo. Alguns autores afirmam que o credor poderia matar o devedor e retalhar o seu corpo, oferecendo a cada um dos credores pedaço correspondente à extensão da dívida não adimplida. A pessoa do devedor continuou sendo por muito tempo a garantia do direito do credor, mesmo na época clássica, perdurando a manus iniectio como processo de execução, mas já então, em virtude da Lei Poetelia, quando o devedor não fosse resgatado, era ele adjudicado ao credor para pagar- lhe com o produto do seu trabalho10. Ainda nesse período, no ano de 636 de Roma, substituiu-se a prisão do devedor pela pignoris capio: todos os bens do devedor eram vendidos em praça (bonorum venditio) e o preço obtido entregue ao credor ou repartido entre os credores concorrentes11. Já na época do Império, conquanto todos os bens do devedor fossem penhorados, podiam eles, a pedido do devedor, ser vendidos parceladamente (distractio bonorum), de modo a se não vender senão o bastante para o pagamento da dívida12. Sobre a sentença que condenava o devedor, Moacyr Amaral Santos13 descreve que: Proferida a sentença condenatória, contavam-se trinta dias (tempus iudicati), durante os quais o vencido poderia voluntariamente satisfazer o julgado. Esgotado esse prazo, o credor devia propor a actio iudicati, pela qual pedia, com fundamento na condenação, lhe fosse entregue a pessoa do devedor, ou o seu patrimônio. Ao pedido, que era formulado ao pretor, presentes o credor e o devedor, podiam suceder duas atitudes do devedor: a) reconhecia a validade da condenação e a falta de pagamento; ou b) contestava a 10 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 215. 11 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 215. 12 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 215. 13 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 215. 6 ação, argüindo nulidade da sentença ou alguma exceção (pagamento, novação etc.). Quando o devedor admitia sua dívida, era considerado condenado e colocava-se fim ao processo da actio iudicati, ordenando-se ao pretor que procedesse à execução através da manus iniectio ou pela pignoris capio. A respeito da contestação do devedor, Moacyr Amaral Santos14 ensina que: (...), contestada a ação, redigia-se a fórmula, que era entregue às partes (litiscontestatio), dando lugar a novo procedimento in iudicium. Entretanto, o objeto da nova ação, em tudo idêntica às demais ações do processo formulário, era o dobro da condenação anterior. Proferida nova sentença condenatória e decorrido o tempus iudicati sem que o vendido houvesse satisfeito a condenação, cabia ao credor, novamente, promover-lhe outra actio iudicati, na qual o devedor podia assumir as mesmas atitudes já referidas, e, assim, no caso de contestar a ação, o objeto seria o dobro da condenação anterior. Nessa terceira sentença condenatória se fundamentaria uma terceira actio iudicati e assim sucessivamente, sempre duplicando-se o seu objeto em relação à condenação anterior. A série de actiones iudicati tinha paradeiro quando: a) o própriodevedor, temendo a duplicação da dívida, se conformava com o julgamento, pagando ou confessando a dívida; b) o pretor, usando dos poderes discricionários de que dispunha in iure, atendendo a que a contestação era desprovida de razões e, pois, que o réu agia de má-fé, a repelia liminarmente e autorizava o credor a dar início à execução. Quanto ao processo germano-barbárico, posteriormente à queda de Roma, em muito se distinguia do processo romano. Ao passo que no processo romano somente se executava o devedor quando não restassem 14 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 215-216. 7 dúvidas a respeito de sua obrigação e ainda com base em uma sentença condenatória, no processo germano-barbárico o descumprimento de uma obrigação era considerado uma ofensa em relação ao credor, podendo este, independente de qualquer autorização, procurar o devedor e penhorar seus bens, ou, então, submetê-lo ao pagamento da obrigação. Com o passar do tempo, limitou-se essa liberdade do credor, que não mais podia penhorar sem autorização da autoridade competente. Ao devedor foi concedido o direito de fazer uma oposição à Penhora, instaurando-se, desta forma, um processo, cujo julgamento determinava a manutenção da Penhora, ou o seu levantamento, aplicando-se ocasionalmente multas ao credor. A partir do renascimento do direito romano, no século XI, houve um confronto entre os dois sistemas, o romano, e o germânico, os quais foram ajustados por juristas da Idade Média, criando-se um terceiro sistema procedimental chamado: executio per officium iudicis. Os juristas concordaram em a Execução preceder a condenação, conforme o direito romano, porém uma vez proferida a sentença condenatória, entenderam dispensável a actio iudicati, de acordo com à presteza do sistema germânico15. Diante do veloz desenvolvimento do comércio, quando certos créditos fossem representados por instrumentos de dívida, lavrados perante tabelião, na ocorrência de escritura contendo o reconhecimento da dívida por parte do devedor, este produzia os efeitos equiparados à sentença. Estes instrumentos, uma vez considerados sentenças, permitiam ao credor proceder com a Execução, chamada de ação executiva16. Com exceção da actio iudicati, que no princípio do Império já não cabia mais, os demais sistemas procedimentais perduraram no direito brasileiro, no regime das Ordenações, do Reg. Nº 737, do ano de 1850, e dos códigos estaduais17. 15 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 216-217. 16 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 217. 17 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 218. 8 O Código de Processo Civil do ano de 1939 manteve somente a execução de sentença e, inserida às ações especiais, a ação executiva. Atualmente, o Código de Processo Civil traz diversas mudanças, inclusive no que tange a unificação das vias executivas, o que significa que ação executiva e ação executória são unidas em uma ação só, a de Execução. 1.2 CONCEITO E OBJETIVOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO Para Misael Montenegro Filho18: A execução é o instrumento processual posto à disposição do credor para exigir o adimplemento forçado da obrigação através da retirada de bens do patrimônio do devedor ou do responsável, suficientes para a plena satisfação do exeqüente, o que se operará em seu benefício e independentemente da vontade do executado – e mesmo contra a sua vontade – conforme entendimento doutrinário unânime. Moacyr Amaral Santos19 entende que: O processo que se instaura com a ação de execução destina-se a realizar a sansão, e, assim, a assegurar a eficácia prática do título executivo. Desenvolve-se por meio de atos consistentes em medidas coativas, por via dos quais se transforma a situação de fato existente na situação ordenada pelo título executivo. Se este ordena a entrega do imóvel, imite-se o exeqüente na sua posse; se ordena demolir uma obra, faz-se sua demolição; se ordena construir um muro, procede-se à sua construção; se ordena pagar certa quantia, apreendem-se bens do devedor para sua transformação em dinheiro e pagamento do credor etc. A ação de Execução é qualificada como a ação judicial ou a fase de conhecimento direcionada em face do executado, e que se concretiza pela adoção de medidas coercitivas, que têm por finalidade o cumprimento da 18 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p.264. 19 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 221-222. 9 obrigação específica ou da obrigação genérica, ainda que contra, e normalmente contra a vontade do devedor, que se submete aos atos do processo de execução, tendo em vista o não cumprimento da obrigação de forma voluntária. Esta prática coercitiva é de função estatal, que vem substituir a manifestação voluntária que se esperava do devedor. O representante do Poder Judiciário é autorizado a tomar posturas desagradáveis, como efetuar a Penhora de bens do devedor, por exemplo, amparado pela premissa de que o título que dá suporte à pretensão do credor contém os requisitos de liquidez, exigibilidade e certeza. Para Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart20, a Execução não pode ser simplesmente denominada como a transferência de valor jurídico do patrimônio do réu para o do autor, muito embora seja esta a caracterização encontrada na doutrina clássica, conforme explicam: É freqüente, na doutrina clássica, ouvir falar de execução como a transferência de valor jurídico do patrimônio do réu para o do autor. Isto está correto quando se pensa na execução que objetiva o pagamento de dinheiro ou de qualquer prestação que envolva transferência de patrimônio, bem como a coisa imóvel ou móvel, seja em virtude de direito real ou obrigacional. Há casos, porém, que, para a efetivação da tutela jurisdicional do direito, não se retira qualquer patrimônio do demandado. Assim ocorre quando se efetiva a tutela que impede a prática de ato contrário ao direito e, especialmente, quando é efetivada a tutela que remove os efeitos concretos derivados de ato contrário ao direito. Por conseguinte, concluem que21: Portanto, a execução, no Estado constitucional, não pode ser reduzida a um ato de transferência de riquezas de um patrimônio a outro, devendo ser vista como a forma ou ato que, praticado sob a luz da jurisdição, é imprescindível para a realização concreta da 20 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 69. 21 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 70. 10 tutela jurisdicional do direito, e assim para a própria tutela prometida pela Constituição e pelo direito material. Quanto ao objeto da Execução, este é sempre o seu pedido, o qual visa a concretização da disposição sentencial, ou então do que contém o título extrajudicial. Moacyr Amaral Santos22 define: No pedido está o objeto de todo o processo. No processo de conhecimento, o pedido consiste numa sentença de dado conteúdo (meramente declaratória, constitutiva, condenatória), decidindo o juiz sobre a procedência ou improcedência do mesmo. No processo de execução, o pedido não visa a uma decisão sobre uma pretensão daquela natureza, mas a realização prática da sansão formulada na sentença que, por disposição de lei, se contém no título executivo extrajudicial. Acrescenta Moacyr Amaral23 Santos: Como o título executivo extrajudicial,por presunção que a lei lhe confere, traz em si a certeza do direito do credor, a liquidez e a exigibilidade da obrigação do devedor, e contém a sansão para o caso do inadimplemento deste, também tem a eficácia de poder exigir do órgão jurisdicional “a realização das medidas práticas e coativas necessárias à efetivação da regra sancionadora” contida no título executivo (LIEBMAN). Esse é o objeto imediato da execução. Na hipótese de uma ação de Execução consistir em coisa certa, esta é retirada do patrimônio do devedor para satisfazer o credor; já no caso de a coisa ser incerta, ou se não é encontrada, retiram-se outros bens do patrimônio do devedor, para que sejam convertidos em dinheiro e pagos ao credor. Desta forma, o objeto mediato é caracterizado pelos bens do patrimônio do devedor. 22 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 230. 23 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 230. 11 1.3 ESPÉCIES DE PROCESSO DE EXECUÇÃO Para Misael Montenegro Filho24: A execução é gênero que se desdobra nas espécies de execução por quantia certa (contra devedor solvente e contra devedor insolvente), execução para entrega de coisa (certa e incerta), execução das obrigações de fazer e de não fazer. Na espécie da execução por quantia certa, temos as subespécies da execução de prestação alimentícia, da execução contra a Fazenda Pública e da execução fiscal. O que classifica cada espécie de Execução é o seu objeto, ou seja, o que o devedor deve cumprir, se deve pagar, entregar coisa, fazer ou não fazer. Quanto às subespécies, estas possuem normas particulares, uma vez que possuem particularidades. A Execução de prestação alimentícia possui a necessidade de ser realizada da maneira mais célere possível e a Execução contra a Fazenda Pública torna-se específica por serem impenhoráveis os bens da parte devedora. Nos próximos subtítulos, observar-se-á cada espécie de Execução, incluindo-se as subespécies: Execução contra a Fazenda Pública e a Execução de pensão alimentícia, exceto a subespécie denominada Execução fiscal. 1.3.1 Execução para entrega de coisa certa Entende Misael Montenegro Filho25: (...) a entrega de coisa certa determinada por sentença judicial não reclama o ajuizamento da ação de execução como processo autônomo, sendo a satisfação do credor garantida nos autos do próprio processo de conhecimento, em instante seguinte ao da 24 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 406. 25 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 409. 12 prolação da decisão judicial e desde que o devedor não tenha adimplido a obrigação de forma voluntária. A Execução para entrega de coisa certa, na forma de ação judicial, é resguardada somente para a exigibilidade dos títulos executivos extrajudiciais. No caso de exigibilidade de um título judicial (sentença), basta que sejam praticados alguns atos instrumentais, dentro do próprio processo de conhecimento, posteriormente à sentença. Conta-se, por vezes, com medidas de apoio para exigir do devedor o cumprimento da obrigação, tais como multa, imissão na posse, busca e apreensão, etc, a depender do que a execução tratar, em conformidade com o artigo 461, §4º e §5º, do Código de Processo Civil. O objetivo da ação de Execução para entrega de coisa certa é coagir o devedor a entregar a coisa, o que é possibilitado através da sentença que determinar a entrega da coisa em litígio, no prazo que esta dispuser. Quando a sentença for favorável ao autor, ou mesmo na hipótese de interposição de recurso pela parte devedora, mas apenas recebido pelo efeito devolutivo, o devedor não necessita mais ser citado. O cumprimento da obrigação disposta na sentença se dá através da intimação do réu para efetuar a entrega da coisa de forma voluntária, podendo o magistrado fixar multa, para o caso de descumprimento da ordem judicial, sendo esta previsão de multa objeto de discussão doutrinária e jurisprudencial. 1.3.2 Execução para entrega de coisa incerta O artigo 629 do CPC prevê: “Art. 629. Quando a execução recair sobre coisas determinadas pelo gênero e quantidade, o devedor será citado para entregá-las individualizadas se lhe couber a escolha; mas, se essa couber ao credor, este a indicará na petição inicial.” O que define a coisa incerta é o gênero e a quantidade, através de um procedimento simples, que depende da escolha feita pelo credor, ou pela pessoa do devedor, este último sendo regra geral, com base no artigo 224 do CPC. 13 Dispõe o artigo 224 do CPC: “Art. 224. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.” Em caso de um contrato estipular um prazo para a entrega da coisa incerta, e este se expirar, sem que o devedor a entregue, deve-se observar a quem cabia a escolha, ou se o contrato foi omisso quanto à isto. Em tendo sido previsto que a escolha cabia ao devedor, como em regra cabe ao devedor, procede-se a sua citação para que entregue a coisa devidamente individualizada, tendo para tanto o prazo de 10 (dez) dias, podendo o credor suscitar um incidente processual para fins de impugnar a escolha efetuada pelo devedor. Por outro lado, se a escolha cabia ao credor, este deverá proceder a individualização da coisa na petição inicial da Execução, e daí por diante, o procedimento é igual ao da execução para entrega de coisa certa, com disposição legal prevista no artigo 631, do Código de Processo Civil. Observa-se que a individualização da coisa pelo credor, é requisito específico da petição inicial, apesar de que a maioria da doutrina defende que a não individualização da coisa pelo credor neste momento, não extingue o processo, apenas transfere o direito de escolha para o devedor. Ainda, destaca-se que a individualização da coisa pelo credor na petição inicial, não importa na obrigação do devedor de aceitá-la, e conseqüentemente de ter que entregar a coisa ou fazer seu depósito, com o objetivo de apresentar embargos à Execução. Assim que receber o mandando de citação, o devedor pode suscitar um incidente processual, conforme previsto no artigo 630, do Código de Processo Civil, que corre dentro dos próprios autos da Execução, não necessitando entregar a coisa ou então depositá-la em juízo. Tal incidente processual suspende o prazo para entrega da coisa ou para o seu depósito. Por fim, salienta-se que, na hipótese de o devedor entregar a coisa individualizada pelo credor, ou efetuar seu depósito em juízo, para fins de 14 interpor embargos à Execução, estará aceitando tacitamente a individualização da coisa efetuada pelo credor. 1.3.3 Execução das obrigações de fazer e de não fazer Misael Montenegro Filho26 ensina que: As execuções das obrigações de fazer (positiva) e de não fazer (negativa) podem-se apoiar em título judicial ou extrajudicial. Contudo cabe-nos anotar que na hipótese de a obrigação constar de sentença judicial, o seu não-cumprimento não dá ensejo à formação de nova relação jurídico-processual, apenas reclamando sejam desencadeados atos instrumentais para plena satisfação do credor, independentemente de nova citação a ele dirigida, da apresentação de uma petição inicial e da prática dos demais atos vistos no panorama da execução como ação judicial autônoma. As execuções das obrigações de fazer e de não fazer, proveniente de processo de conhecimento anteriormente resolvido, exigido com base no título judicial gerado, possui duas fases:a primeira, a de conhecimento, voltada à certificação do direito, e a segunda, que provém da sentença da primeira, voltada apenas ao cumprimento do disposto no título judicial. Posteriormente à sentença, o devedor é intimado para adimplir a obrigação, o que não garante que este vá cumpri-la espontaneamente. Em caso de não-cumprimento da decisão proferida, o Código de Processo Civil dispõe de algumas medidas de apoio, que têm por finalidade constranger o devedor a efetuar a obrigação a ele imposta. São estas medidas, dependendo da situação: incidência de multa, busca e apreensão, remoção de pessoal e de coisas, desfazimento de obras, impedimento do exercício de atividades nocivas, se necessário com requisição de força policial, etc. Apesar da imposição dessas medidas, pode, ainda, o devedor se manter inerte, não restando outra alternativa ao credor, senão requerer que a obrigação específica (de dar coisa, de fazer ou de não fazer) seja 26 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 421. 15 transformada em perdas e danos, somando-se o valor da multa até o momento em que foi requerida a conversão em referência. Diante dessa hipótese, o credor requer a citação do devedor, objetivando que este pague o débito devido, dentro do prazo legal (valor correspondente à obrigação específica, juros, correção monetária, custas processuais, honorários advocatícios e o valor da multa), sob pena de ter seus bens penhorados de maneira suficiente ao cumprimento integral da obrigação. Sobre a Execução das obrigações de fazer e de não fazer, apoiada em título extrajudicial, acrescenta Misael Montenegro Filho27: Na execução das obrigações de fazer ou de não fazer apoiada em título extrajudicial, temos relação jurídica processual autônoma, observando-se o princípio da inércia (art. 2º do CPC), o que reclama a citação do réu, a observância dos requisitos gerais do art. 282 do CPC e de outros específicos, a juntada do título à inicial e a prática de todos os demais atos da ação de execução, com início, meio e fim, coincidindo este instante com a satisfação plena do credor. Observa-se, então, que a tutela nas execuções das obrigações de fazer ou de não fazer, embasadas em título extrajudicial, deve ser buscada mediante uma ação autônoma, necessitando de citação do devedor, bem como do efetivo cumprimento dos requisitos legais para formação de uma relação jurídica processual. Sobre os meios executivos empregados, quando necessário, ao cumprimento das obrigações de fazer e de não fazer, descreve Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart28: O não fazer e o fazer têm a sua disposição, além da multa, todo e qualquer meio de execução idôneo e necessário a determinado caso concreto. É o que está expresso nos § § 4.º e 5.º do art. 461 do CPC, o primeiro relativo ao uso da multa e o segundo 27 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 422. 28 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 65. 16 autorizando a utilização de qualquer meio executivo necessário e apenas exemplificando com a busca e apreensão e a remoção de pessoas e coisas. Ainda, Misael Montenegro Filho29 aponta alguns exemplos das obrigações de fazer e de não fazer, conforme segue adiante: a) imposição voltada ao réu para que realize intervenção cirúrgica objeto de contrato assinado entre credor e devedor; b) imposição voltada ao réu para que realize a construção prometida em contrato assinado entre as partes; c) imposição voltada ao réu para que se abstenha de criar animal em ambiente doméstico; (...). Conforme exemplos citados, fica claro que o cumprimento das obrigações de fazer e de não fazer são mais complicadas para serem efetuadas, já que, ausente a disposição de vontade do réu, acaba sendo difícil a obtenção do resultado pretendido pelo credor. 1.3.4 Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente Segundo Misael Montenegro Filho30: A execução por quantia certa contra devedor solvente é movida em atenção ao credor, partindo da premissa de que o patrimônio do devedor é maior ou igual ao valor do débito. Não se confirmando a equação, mostrando-se a impossibilidade de ser efetuada a penhora em bens do devedor em face da sua insolvência civil (que guarda traços que aproximam da falência comercial), estaremos diante da hipótese de execução por quantia certa contra devedor insolvente, instaurando-se a execução universal, (...). Observa-se, por vezes, que a Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente é substitutiva de outra que se caracterizava como específica (§1º do art. 461 do CPC), ou seja, a Execução pode ter iniciado através do procedimento da Execução de dar coisa, de fazer ou de não fazer, 29 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 422. 30 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 430. 17 transformando-se, posteriormente, em Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente, momento em que é procedida a Penhora de bens do devedor para garantia do pagamento do valor pretendido. Misael Montenegro Filho31 ensina: Encontramo-nos diante das situações que denotam ser impossível a observância da obrigação específica, ou que o credor prefere obter a sua satisfação através do cumprimento da obrigação em pecúnia, liberando o devedor da execução da obrigação de dar, de fazer ou de não fazer. Exemplo de uma situação em que o credor prefere reverter sua pretensão inicial em Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente é quando, em uma ação de Execução para entrega de coisa certa, ele se depara com um bem deteriorado, que não atinge mais os objetivos esperados. Acrescenta Misael Montenegro Filho30: A execução por quantia certa contra devedor solvente apresenta um início (petição inicial e citação do réu para pagar ou para nomear bens à penhora), um meio (oposição dos embargos e abreviada instrução probatória) e um fim (avaliação de bens penhorados, designação de dia e hora para a realização da hasta pública, alienação judicial etc.), o que nos faz concluir que o processo é orientado por atos instrumentais, e não por atos de cognição, reclamando-se a análise individualizada de todo o iter procedimental. Contudo, a Lei nº 11.232/05 modificou significantemente a Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente. Na hipótese da Execução com base em um título judicial, não é mais necessário que o credor se submeta a uma nova ação judicial (ação de Execução). O devedor não é mais citado, o que ocorre é a sua intimação, após a sentença, para cumpri-la, sob pena de ter seus bens penhorados e levados à hasta pública. O sistema do processo de conhecimento tornou-se bifásico, apresentando, portanto, duas fases: a primeira, 31 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 430. 30 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 431. 18 que certifica o direito do credor, e a segunda que exige o cumprimento da disposição sentencial. 1.3.5 Execução por Quantia Certa contra devedor insolvente Misael Montenegro Filho31 entende que: A insolvência civil, no plano processual, corresponde à constatação real e objetiva (na maioria das vezes) de que o patrimônio do devedor é insuficiente para garantir o pagamento de todos os seus débitos, com desequilíbrio patrimonial que prejudica não a um credor isoladamente, mas a uma universalidade de credores. Apesar de a Execução por quantia certa contra devedor insolvente em muito separecer com a falência, há distinções entre elas, pois a insolvência civil recai sobre a pessoa do devedor não-empresário, enquanto a falência atinge ao devedor empresário. Ainda, a decretação de falência do empresário pode acarretar o ingresso de ações criminais contra ele, o que não ocorre quando da decretação da insolvência civil. Para Misael Montenegro Filho32: No que se refere à insolvência civil, incidente sobre a figura do devedor não-comerciante, observamos que o estado de fato exige uma demonstração de que as dívidas excedem a importância dos bens do devedor, não se contentando a lei com o só fato de este não ter adimplido dívida líquida, certa e exigível na data do seu vencimento. Este é um requisito próprio da execução por quantia certa contra devedor insolvente, a demonstração de que o patrimônio do devedor não é suficiente para honrar o pagamento de todos os seus débitos, atacando-se aos requisitos de toda e qualquer execução, a saber: título executivo e inadimplemento do devedor, com a sujeição de todos os bens presentes e futuros. Na Execução por quantia certa contra devedor insolvente, observa-se que, sendo o patrimônio insuficiente para garantir o pagamento de 31 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 505. 32 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 506. 19 todos os credores, não quer dizer que não há como o devedor efetuar o pagamento a um credor, ou a alguns credores, isoladamente. Ao passo que a Execução por quantia certa contra devedor solvente é singular, a Execução por quantia certa contra devedor insolvente é universal, tendo por finalidade satisfazer a um maior número de credores que tenham direito ao pagamento dos créditos de que são titulares. Orienta Misael Montenegro Filho33: Por último, nas notas introdutórias, observe-se que a execução por quantia certa contra devedor insolvente reclama a instauração de uma fase prévia, que se qualifica como de conhecimento, para certificar se o devedor é (ou não) enquadrado como insolvente (se o seu patrimônio é insuficiente para o pagamento de todos os seus débitos). Esta fase é ultimada através da declaração judicial de insolvência, a partir desse instante autorizando-se o desencadeamento de atos, com o objetivo de que vários credores sejam satisfeitos, o que se dará através da arrecadação dos bens do falido, de sua alienação e rateio posterior. A insolvência, conforme foi visto, em regra decorre de uma constatação real e objetiva, porém, há casos em que a insolvência é presumida. Segundo Misael Montenegro Filho34, pode-se instaurar o processo de insolvência, sendo ela presumida: a) Mediante a demonstração de que as dívidas excedem a importância de bens do devedor. b) Mediante a demonstração de que o devedor não possui outros bens livres e desembaraçados para nomear a penhora, pelo fato de todos os bens já terem sido penhorados em outras execuções singulares ou por efetivamente não dispor de patrimônio. c) Mediante a demonstração de que foram arrestados bens do devedor, em face de não ter domicílio certo, intentando ausentar-se ou alienar os bens que possui ou deixando de pagar a obrigação no prazo estipulado. d) Mediante a demonstração de que, tendo domicílio certo, ausenta-se ou tenta se ausentar furtivamente ou quando, possuindo bens de raiz, 33 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 507. 34 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 508-509. 20 intenta aliená-los, hipotecá-los ou dá-los em anticrese, sem ficar com algum ou alguns, livres e desembargados, equivalentes às dívidas. Conforme visto, a insolvência presumida ocorre quando o devedor não possui bens livres e desembaraçados para nomear à Penhora, o que está previsto no artigo 750, inciso I, do Código de Processo Civil, valendo lembrar que um exemplo dessa hipótese é os bens do devedor já estarem penhorados, arrestados ou gravados com garantia real. Também há insolvência presumida na seguinte situação: quando o próprio credor a declara, ou quando qualquer outro efetua o arresto em bens do devedor para garantir a dívida líquida e certa. 1.3.6 Execução contra a Fazenda Pública A Fazenda Pública compreende a União, o Distrito Federal, os Estados, os Municípios, os Territórios, as autarquias e as fundações instituídas pelo Poder Público. Para as execuções contra a Fazenda Pública não se aplicam a maioria das regras procedimentos comuns, relacionadas à Execução contra particulares. Aplicam-se normas próprias, especiais35. O art. 100 da Constituição Federal dispõe que os bens da Fazenda Pública são impenhoráveis, portanto, não é expedido mandado de citação para que esta pague, em vinte e quatro horas, ou nomeie bens à Penhora. O procedimento que rege a Execução contra a Fazenda Pública está previsto na Constituição Federal e nos artigos 730 e 731 do Código de Processo Civil. Misael Montenegro Filho36 apresenta as características procedimentais desta espécie de Execução: a) recebida a petição inicial, exigida em face do princípio da inércia (art. 2º do CPC), e como não cabe a penhora de bem público afetado, será determinada a citação da Fazenda Pública para opor embargos à execução, no prazo de trinta dias, por força 35 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 491. 36 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 492-493. 21 da Lei nº 9.494/97, inclusive se a execução for movida contra o INSS, que tem prerrogativa para oposição dos embargos no mesmo prazo, por força de lei específica, não se podendo defender o argumento de que o prazo para a oposição dos embargos deveria ser contado em dobro ou em quádruplo, em face da regra que emana do art. 188 do CPC, posto que a manifestação da Fazenda Pública se qualifica como ação judicial autônoma, não assumindo o formato de defesa ou de recurso; b) não sendo apresentados os embargos, será requisitado o pagamento do crédito ao presidente do tribunal competente, através do magistrado, por meio de precatório judicial, respeitando-se a ordem de apresentação dando-se preferência ao pagamento de créditos alimentares, procedendo-se com a inclusão da verba em orçamento para satisfação até o último dia do ano subseqüente, exclusivamente para a hipótese de o crédito ter sido até o dia 1º de julho do ano anterior; c) considerando que o pagamento não é realizado na data da inscrição do crédito em precatório, mas meses depois, permite-se a inscrição de precatório complementar, para fins de cobrança de juros de correção monetária, sem excluir a possibilidade de ser sobrada a diferença pelo pagamento a menor, não se exigindo, neste caso, seja novamente providenciada a citação da pessoa jurídica de direito público, devendo ser tão-somente intimada para e pronunciar sobre os cálculos apresentados pelo exeqüente; d) em sendo descumprida a ordem cronológica de pagamento, poderá o credor requerer o seqüestro da quantia necessária para satisfazer o débito, após regular ouvida do representante do Ministério Público (art. 731 do CPC), que atuará na condição de custos legis. Destaca-se que a Lei nº 11.232/05 alterou o previsto no artigo 741, do Código de Processo Civil, passando a dispor o seguinte sobre os embargos: “Art. 741. Na execução contra a Fazenda Pública, os embargos só poderão versar sobre: I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; V – excesso de execução; VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição,desde que superveniente à sentença.” Em caso de oposição de embargos pela Fazenda Pública, suspende-se o processo de Execução, já que os bens desta são considerados 22 impenhoráveis. Ou seja, sendo a sentença desfavorável à Fazenda Pública e esta opondo embargos à Execução, submete-se o processo ao duplo grau de jurisdição. Em caso de não interposição de embargos pela Fazenda Pública, proceder-se-á com a inscrição do crédito em precatório. Sobre esta forma diferenciada que a Fazenda Pública possui de se proceder ao pagamento do débito, comentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart37: (...) todas as dívidas da Fazenda Pública originárias de condenação judicial somente serão pagas mediante precatório, expedido pelo Judiciário e dirigido à entidade condenada, que deverá incluir o débito em seu orçamento para pagamento em futuro exercício financeiro, conforme a possibilidade da pessoa de direito público. Os débitos da Fazenda Pública são todos limitados ao que consta no orçamento, ou seja, só poderão ser cumpridos se o montante devido estiver previamente incluído no orçamento do órgão em questão. No entanto, apresenta-se uma exceção à inscrição do crédito em precatório, qual seja, nas obrigações de pequeno valor, que são aquelas com valor até 60 (sessenta) salários mínimos. Sobre tal exceção, defendem Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart38 que: Nos termos do texto constitucional, apenas se esquivam do procedimento de precatórios os créditos de pequeno valor (art. 100, §3º, da CF), hoje fixados para a Fazenda Pública federal em sessenta salários mínimos (art. 17, §1º, c/c art. 3º, Lei 10.259/2001). Outrossim, embora pareça desnecessário dizer, o regime de precatórios apenas se aplica para a condenação de prestação pecuniária devida pela Fazenda Pública, não incluindo, portanto, imposições de fazer, não fazer ou de entregar coisa. 37 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 391. 38 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 392. 23 Ainda, importante destacar que, nas causa com valor inferior a sessenta salários mínimos, não há recurso de ofício, em conformidade com o artigo 475, II e §2º, do Código de Processo Civil. 1.3.7 Execução de Pensão Alimentícia A Execução para fins de prestar alimentos pode derivar-se, dentre outras situações, das seguintes: a) alimentos decorrentes de relação jus sanguinis; b) alimentos decorrentes de relação matrimonial desfeita; c) alimentos decorrentes de união estável desfeita; alimentos decorrentes da prática de ato ilícito; alimentos decorrentes do descumprimento de regra contratual. Na área da família, em caso de não-cumprimento da obrigação alimentar, do pai em favor do(s) filho(s), e de cônjuge ou companheiro em favor do outro (e vice-versa), é admissível a propositura de ação de alimentos, em conformidade com a Lei nº 5.474/68, que possui rito especial. Sobre a forma mais célere de se promover a tutela jurisdicional dos alimentos, argumentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart39: Por sua própria natureza, o crédito alimentar não é compatível com o procedimento amplo e garantístico da execução comum de prestação pecuniária. Se a função dos alimentos é prover necessidades básicas, é mais do que evidente que o beneficiário não pode esperar por todo o ciclo da execução tradicional, composta pela penhora, avaliação, alienação e pagamento. Exatamente por isso, oferece o direito processual amplo leque de instrumentos para efetivação dos créditos alimentares, tudo na intenção de que o valor seja prestado da forma mais exata e pronta possível. Pode o autor requerer junto a petição inicial, a concessão de alimentos provisórios, desde que deles necessitar. Os alimentos provisórios se distinguem dos alimentos provisionais, previstos no art. 852, do Código de 39 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 372. 24 Processo Civil, como medida cautelar, ainda que em ambas as hipóteses o devedor seja obrigado a efetuar o pagamento imediato da obrigação. Misael Montenegro Filho40 descreve três situações em que a determinação judicial obriga o devedor a pagar a parcela de alimentos: a) como resultado do deferimento de liminar nos autos de medida cautelar de alimentos provisionais; b) como resultado do pronunciamento judicial que arbitra os alimentos provisórios no início da tramitação da ação de alimentos, de natureza antecipatória da pretensão de mérito; c) como resultado da sentença final proferida na ação em exame. Nas duas primeiras situações, encontramo-nos diante de pronunciamentos qualificados como decisões interlocutórias, enquanto na terceira hipótese concluímos que o pronunciamento judicial assume o status de sentença judicial. O não-atendimento a qualquer das três situações pode gerar a propositura da ação de execução, não nos autos da medida cautelar ou da ação de alimentos, ensejando a formação de autos em apenso, com a formação de nova relação jurídico-processual. Portanto, o não-pagamento da parcela alimentar enseja uma nova ação judicial, a Execução de alimentos, que depende do pagamento de custas processuais, da observância dos requisitos da petição inicial, não se caracterizando meramente como fase do processo que ocasiona a manifestação processual referida. Verifica-se que a Execução de alimentos possui duas espécies, a disposta no art. 732 e a prevista no art. 733, ambas do Código de Processo Civil. A primeira objetiva o pagamento de parcelas vencidas há longos meses, não se exigindo as três últimas parcelas vencidas, impossibilitando a imposição da prisão em caso de o executado não adimplir a obrigação. A segunda permite apenas a cobrança das três últimas parcelas não adimplidas que, por se presumirem de necessidade imediata, objetivam o pagamento da dívida sob pena de prisão do executado. 40 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 484. 25 A Lei 11.232/05 também alterou as disposições relativas à execução de alimentos, no que diz respeito ao cumprimento da sentença. Não há mais a necessidade de se proceder à citação do devedor, procede-se diretamente à expedição de mandado de penhora e avaliação, concedendo-se ao devedor o direito de opor-se à Execução através da apresentação de impugnação, restando os embargos à Execução previstos apenas para as execuções com base em títulos executivos extrajudiciais. 1.4 OS EMBARGOS DO DEVEDOR Sobre o assunto, argumentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart41: No regime anterior à Lei 11.232/2005, a defesa do executado era reservada a uma ação de conhecimento, autônoma e incidente sobre o processo de execução, chamada de embargos do executado. O executado que tivesse interesse em se opor à execução deveria ajuizar embargos do executado, tornando-se autor de ação de conhecimento em face do exeqüente. No entanto, Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart42 deixam claro que: (...) na Exposição de Motivos do Anteprojeto que deu origem à Lei 11.232/2005, restou pacífica esta idéia, afirmando-se que “não haverá embargos do executado na etapa de cumprimento da sentença, devendo qualquer objeção do réu ser veiculada mediante mero incidente de impugnação”. Ou seja, diante da alteração que a lei ocasionou, os embargos à Execução ficam restritos somente à impugnação de Execução com base em título executivo extrajudicial. 41MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 288. 42 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 290. 26 Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart43 comentam acerca das duas teses entendidas sobre a impugnação: No primeiro caso, o legislador teria apenas alterado o nome dos embargos do executado para impugnação, sem abrir mão da sua essência de ação. Sua substância e sua disciplina continuariam a ser idênticos aos conferidos aos embargos à execução, de modo que ainda haveria a constituição de relação jurídica distinta com a formação de processo novo. (...) A outra tese, no sentido de que a impugnação constitui ação incidental, argumenta que a decisão que define a impugnação, porque deve ser marcada pela coisa julgada material, é uma sentença. A admissão deste ato jurisdicional como sentença imporia a aceitação de que a impugnação constitui ação. Porém, esta posição incorre no erro de pretender qualificar a essência de algo olhando para a expectativa de sua conseqüência. Ou melhor, para pensar na estabilidade da decisão que julga a impugnação, evidentemente não é preciso transformá-la em ação. Vicente de Paula Ataíde Junior44, Juiz Federal Substituto do Paraná, faz sua crítica acerca da impugnação como novo meio de defesa utilizado pelo executado, descrevendo: A impugnação é o meio de defesa do executado, a qual não mais se faz por meio de ação de embargos à execução (salvo quando se tratar de execução contra a Fazenda Pública, art. 730, CPC). Mas persiste a necessidade de penhora como condição para apresentar impugnação, ou seja, não é admissível impugnação antes de seguro o juízo pela penhora. O conteúdo da impugnação é restrita às hipóteses taxativamente previstas no art. 475-L, CPC, pelo que a cognição judicial é parcial. Caso o impugnante não respeite essa limitação, pode o juiz rejeitar liminarmente a impugnação, por analogia com o art. 739, II, CPC, autorizada pelo art. 475-R, CPC. Também se imporá a rejeição liminar da impugnação nos demais casos do art. 739, CPC e na hipótese em que o executado alegue que o exeqüente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença e não 43 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 288-289. 44 JÚNIOR, Vicente de Paula Ataíde. Cumprindo a sentença de acordo com a Lei nº 11.232/2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8653>. Acesso em 01 abr.2007. 27 declara, de imediato, o valor que entende correto (art. 475-L, § 2º, CPC). Nesses casos, não é possível emendar a impugnação, pois a lei impõe a rejeição liminar. Ao expor as duas teses sobre a impugnação e ainda acrescentar o entendimento acima, importante deixar claro que o pensamento de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart acompanha o entendimento majoritário atual. No que tange aos embargos à Execução, entendem Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart: (...) o processo de execução foi pensado para não ter cognição sobre o crédito exigido em seu bojo, mas apenas para realizar direito já reconhecido. O título executivo faz presumir a existência do direito, não tendo o seu titular a necessidade de demonstrar ao juiz a existência do direito antes de requerer a sua realização ou a execução. Porém, a presunção resultante do título executivo é relativa, de forma que é possível que se venha a demonstrar a inexistência do direito. Entretanto, esta demonstração não se insere na função do processo de execução, devendo ser feita em outra sede. Assim sendo, mesmo sabendo que hoje são admitidas outras formas de defesa, dentro do próprio processo de Execução, estas se dão de maneira excepcional, sendo os embargos à Execução considerados a via de defesa verdadeira do executado, nas execuções de títulos extrajudiciais. 1.5 A SUSPENSÃO E A EXTINÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO Segundo Misael Montenegro Filho45: Durante o iter procedimental da execução, notamos que obstáculos podem surgir, determinando a paralisação momentânea da marcha processual, apenas sendo admitida a continuação da tramitação na hipótese de ser afastada a causa que impôs a paralisação em referência. Não obstante as colocações, temos de anotar que a paralisação não pode ser 45 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 518. 28 indefinida, sob pena de comprometer a função assumida pelo Estado, no sentido de pacificar os conflitos de interesses, razão pela qual a lei prevê prazos máximos de paralisação do processo em situações específicas. Enquanto durar a suspensão, é vetada a prática de qualquer ato processual, exceto os denominados de atos de urgência, em conformidade com o artigo 793, do Código de Processo Civil. A respeito da duração do prazo da suspensão no processo de Execução, dispõem Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart46: Como regra geral, a suspensão do processo por convenção das partes pode ocorrer por período máximo de seis meses (art. 265, §3º, CPC). Na execução, todavia, esta limitação não se opera, podendo as partes acordar o prazo de suspensão livremente (art. 792, CPC). A exceção justifica-se porque, comumente, a suspensão da execução é feita para permitir a satisfação extraprocessual da obrigação executada. É comum que, nestes casos, o acordo extrajudicial para cumprimento inclua moratória da prestação ou o parcelamento da dívida. Diante disso, seria inconveniente fixar-se prazo para a reativação do processo. No entanto, existem casos de suspensão próprios da Execução, os quais estão dispostos no art. 791 do CPC, nos incisos I e III. O inciso I trata da suspensão da Execução por motivo de interposição de embargos à Execução, aos quais se tenha deferido o efeito suspensivo; e o inciso III fala da hipótese de suspensão caso não sejam encontrados bens passíveis de Penhora. Neste último caso, disposto no inciso III, a suspensão só pode ocorrer até o prazo prescricional, ou seja, até a caracterização da prescrição intercorrente, o que importará na extinção da exigibilidade judicial da prestação. Quanto à suspensão do processo de Execução, em razão da interposição de embargos, Misael Montenegro Filho47 ensina: 46 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 337. 47 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 519. 29 A suspensão da ação de execução na hipótese estudada vem merecendo repulsa da doutrina nacional, que clama pelo desfecho do processo no menor espaço de tempo possível, na consideração de que o credor já suportou todos os percalços do processo de conhecimento que formou o título (na hipótese de a execução ser apoiada em título executivo judicial). Apesar do acima descrito, verifica-se, em alguns casos, que a matéria tratada dentro dos embargos está diretamente relacionada com a própria existência da ação de Execução, tornando essencial a suspensão da Execução até que se tenha o desfecho dos embargos. Existem exceções, em que há o prosseguimento da Execução, sem que os embargos a suspendam. Contudo, a regra geral é a de que suspende-se completamente a Execução, no caso de os embargos versarem sobre a totalidade das matérias deduzidas pelo autor, dos pedidos formulados e das partes em litígio. A respeito da extinção do processo de Execução, Misael Montenegro Filho48 afirma: A extinção da ação de execução é tratada de forma acanhada no art. 794 do CPC, que sugere a sua materializaçãoquando: a) O devedor satisfaz a obrigação. b) O devedor obtém a remissão total da dívida por transação ou por qualquer outro meio. c) O credor renuncia ao crédito. A previsão da lei encontra-se de modo aberto, e não numerus clausus, anotando-se várias outras hipóteses nas quais a ação de execução é igualmente extinta, a saber: a) Quando for acolhida a exceção de pré-executividade oferecida pelo devedor, para o combate de execuções nulas, sendo o vício detectado sem a necessidade de ampla investigação probatória. b) Quando houver a procedência dos embargos à execução, opostos pelo devedor. c) Quando o juiz deparar com a prescrição, sendo argüida pela parte interessada. d) Quando houver o reconhecimento da ilegitimidade de uma das partes da execução. e) Quando se verificar a ausência de interesse de agir, em face de a obrigação não ser ainda exigível. f) Quando houver desistência da ação de execução etc. 48 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 523-524. 30 Sobre o tema, argúem Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart49: A extinção da execução se dá por ato judicial, caracterizado como sentença. (...). Tratando-se de sentença, contra este ato poderá o prejudicado, se houver interesse para tanto, insurgir-se mediante apelação. Eventualmente, neste recurso poderá apresentar defesas que não ofereceu anteriormente, ensejando a possível modificação da execução ou o desfazimento (total ou parcial) de seus atos. Os arts. 794 e 795 do CPC aludem às sentenças que põem fim à execução. Diz o art. 794 que se extingue a execução quando: “I – o devedor satisfaz a obrigação; II – o devedor obtém, por transação ou por qualquer outro meio, a remissão total da dívida; III – o credor renunciar ao crédito”. A par destes casos, pode-se obter a extinção da execução por qualquer outra razão hábil, o que, todavia, só surtirá efeitos depois de reconhecido por sentença (art. 795, CPC). Em todas as disposições verificadas, observa-se que a extinção só produz efeitos quando declarada por sentença (art. 795, do Código de Processo Civil). Discute-se se a sentença que põe fim ao processo de Execução, obriga, ou não, a extinção do processo com julgamento do mérito. No entendimento de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart50: Em princípio, a sentença de extinção da execução não constituirá sentença de mérito, especialmente no caso de títulos judiciais, até porque este mérito já foi julgado pela sentença prolatada na fase de conhecimento ou em outra sede (de onde se originou o título). Isto não significa dizer que não exista mérito na execução; ele existe e é representado pela pretensão executiva. Não há, porém, ao menos em princípio, sentença de mérito, já que não é objetivo da execução “julgar” a pretensão do credor, mas apenas realiza-la materialmente. Não havendo mérito a ser decidido, mas direito a 49 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 333. 50 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 334. 31 ser realizado, a sentença da execução é, normalmente, apenas extintiva do processo. Seu escopo é reconhecer o exaurimento da função executiva, dando, formalmente, fim ao processo. Contudo, há exceções ao que acima foi descrito e denominado como regra, conforme comentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart51: (...) esta regra comparta exceções, que hoje se espraiam em duas ordens: a) admite-se sentenças de mérito no julgamento da impugnação à execução, (...). b) também se pode cogitar da existência de sentenças de mérito nos casos em que o juiz é compelido a apreciar, a partir de exceção de pré-executividade, algum vício do título (por exemplo), capaz de tornar a obrigação inviável. Assim, por exemplo, quando o executado alega a prescrição (intercorrente) da dívida. (...). No capítulo a seguir será visto de forma mais detalhada os aspectos, características e objetivos próprios da Execução por Quantia Certa Contra Devedor Solvente, incluindo como se procede a citação do devedor, a indicação de bens, a Penhora e seu depósito, a avaliação, a adjudicação, a alienação e o pagamento ao credor. 51 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3: execução. p. 335. CAPÍTULO 2 BREVES NOÇÕES SOBRE O PROCESSO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE 2.1 OBJETIVO DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA Esta espécie de Execução é aplicada quando existir uma obrigação de pagar proveniente de sentença condenatória ou de título extrajudicial que verse sobre o mesmo objeto. Sobre o tema, argumenta Misael Montenegro Filho52: O pedido do credor não é o de que o devedor seja condenado a pagar soma em dinheiro (pretensão própria da ação de conhecimento), mas de que sejam praticados atos instrumentais que permitam a satisfação do credor através do procedimento expropriatório. Em outro dizer, o credor requer que o Estado sujeite o patrimônio do devedor à penhora judicial, para posterior alienação em hasta pública, com a entrega do correspondente produto ao credor, anotando-se que a satisfação também pode ocorrer por meio da adjudicação de bens ou pelo usufruto de imóvel ou de empresa, situação que se mostra inegavelmente menos gravosa para o devedor, por não ter de conviver com a perda de bens em caráter definitivo, respeitando-se o princípio da menor onerosidade excessiva para o devedor (art. 620 do CPC). Quanto ao objeto da Execução por Quantia Certa, aduz Moacyr Amaral Santos53: (...) nos bens que constituem o patrimônio do devedor está o objeto mediato da execução (...). A execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do patrimônio do devedor a fim de satisfazer o direito do credor, isto é, pagar o credor: “A execução 52 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p.429. 53 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 281. 33 por quantia certa tem por objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor” (Cód. Proc. Civil, art. 646). Cabe informar que o devedor poderá ser solvente ou insolvente, e tal característica determinará o procedimento a ser aplicado. É solvente o devedor que possui bens suficientes para o cumprimento de sua obrigação, ou seja, que possui um ativo maior que o passivo. Já o insolvente é aquele que tem dívidas que superam seu patrimônio, o que significa que possui um ativo inferior ao passivo. 2.2 A CITAÇÃO DO DEVEDOR E A INDICAÇÃO DE BENS A respeito do objetivo do ato de citação, Moacyr Amaral Santos54 descreve: A citação do devedor tem a finalidade de qualquer outra citação; é o ato pelo qual se lhe dá conhecimento da ação de execução que lhe é proposta. Por ela se completa a formação da relação processual de execução. Dando-se ao devedor conhecimento da execução, não só se lhe cria oportunidade para defender-se, como se lhe confere a faculdade de acompanhar o processo até final. Quanto aos requisitos que devem ser observados antes do ordenamento da citação do réu pelo magistrado, entende Misael Montenegro Filho55: Na realidade do processo civil brasileiro, observamos que a ação de execução é iniciada através da distribuição da petição inicial, seguida do encaminhamento dos autos a fim de que o magistrado ordene a citação do devedor. Embora esta seja a dinâmica mais vista na realidade das ações de execução, apenas se observando uma avaliação detida dos autos por parte
Compartilhar