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Empreendedorismo um Projeto para Gerar Emprego Fernando Celso Dolabela – Consultor do IEL Nacional Publicado em 150 Maiores Empresas – Edição 98 Data: 1998 FERNANDO CELSO DOLABELA Consultor do IEL Nacional Vamos contar uma história simples e curta, mas cujo enredo trata de algo tão explosivo como a mudança de padrões no ensino universitário. Talvez seja interessante narrar esta história a partir do último capitulo, que começa assim: o IEL Nacional e o Sebrae Nacional (e seus respectivos órgãos estaduais) estão preparando uma grande revolução no ensino universitário de empreendedorismo, inspirados no trabalho pioneiro que a Sociedade Softex vem desenvolvendo desde 1993 na área de ensino universitário (e de segundo grau) de informática. O importante desta história é que, mesmo falando de ensino, não trata só de conhecimentos, mas, sobretudo de valores. O tema é ensino, o personagem central é o ser humano capaz de introduzir o novo, de criar algo diferente, de definir a partir do indefinido, de ser dono do próprio nariz, preparado para aprender a aprender sempre - e não somente nos bancos da escola. E com essas desempenhar o papel de motor da economia, de que nos fala Schumpeter e provocar o desenvolvimento econômico. Mas esta é uma forte mudança de direção no nosso ensino: ao invés de formarmos somente empregados, começamos a formar empreendedores. Nada contra o emprego, se bem que nas nossas pesquisas, junto a estudantes, jamais encontramos alguém que tivesse como sonho de vida ser empregado. Parece que existe nesta questão do desemprego um caso recíproco de desamor: se os nossos estudantes não sonham mais com um emprego, também as grandes empresas não os querem mais em seus quadros como antes. Pior do que o desemprego estrutural é a síndrome do empregado, em nome da qual formamos pessoas com exclusiva ênfase na tecnologia, mas sem a real percepção de sua aplicação. Normalmente, em nossos cursos universitários, não procuramos desenvolver e estimular a habilidade do estudante de ler o mercado e identificar oportunidades, de extrair do ambiente econômico um significado que permita a sua inserção profissional. Não que devemos descuidar do conhecimento tecnológico, ele é fundamental. Mas nesta virada de milênio, não é suficiente. No começo do século a Ford oferecia carros de qualquer cor, desde que ela fosse preta. E vendia quantos quisesse. Hoje, em alguns setores, quase nunca a melhor solução tecnológica representa o maior sucesso de vendas. Isto parece ser o padrão no setor de informática. Mas vamos à história. Ela trata do ensino de empreendedorismo e tem, segundo a nossa opinião, motivos para ser classificada como a narrativa de um estopim revolucionário. Vamos dizer por quê; talvez alguns de vocês concordem conosco. Voltando ao ano de 1992: o professor Eduardo Moreira da Costa, criador do Programa Softex 2000, formulou-nos a sua visão, que veio a se transformar na ementa da disciplina Empreendedor em Informática: "precisamos inocular o vírus do empreendedor nos alunos de Ciência da Computação de todo o Brasil". Naquele momento não tínhamos a menor noção do que estava por vir. Mas foi ali, sem que soubéssemos, que o estopim fora aceso. No ano seguinte, 1993, desenvolvemos para a Fumsoft e o Softex um conteúdo metodológico de ensino de empreendedorismo. Dois pressupostos foram essenciais: atender a área de informática e ser aplicável em um país com dimensões de continente. Ou seja, tinha que ser algo brasileiro, já que não existia metodologia no mundo que satisfizesse tais condições. Mas as inovações não pararam aí. Uma nova forma de concepção foi adorada, em se tratando da criação de uma disciplina universitária: a incorporação de sugestões de empresários de núcleos Softex, de várias partes do Brasil, para a construção do programa da disciplina. Vendo de trás para diante percebe- se que, talvez, naquele momento, quebrava-se um paradigma sem precedentes, já que não é toda hora que se vê empresários (vários sem diploma universitário) contribuindo na construção de um conteúdo de ensino universitário. Mas, aquele momento testemunhou um caso excepcional de integração universidade- empresa, em que a academia abria suas portas à contribuição do meio empresarial. A participação de empreendedores de software na construção de um programa disciplinar, por si só, já demonstrava que o caminho dessa proposta teria que ser como é o caminho do empreendedor diferente e inovador. Começamos ainda em 93, apaixonados pelo tema, a lecionar a nova disciplina no Departamento de Ciência da Computação da UFMG que, com ousadia e profundo espírito de inovação, abraçou a causa prontificando-se a ser o laboratório de teste e desenvolvimento da nova disciplina. Teste este inteiramente bem sucedido: 25 empresas criadas em 5 semestres de oferta da disciplina. Mas, todos queríamos uma inoculação do vírus empreendedor em larga escala. Estávamos planejando uma epidemia e não nos satisfazia contaminar alunos de um único curso de computação. Assim, concebemos algo que podemos classificar como um veiculo de propagação Pirética, o Projeto Softstart, criado em 1996 pelo Softex. Naquela época foi proposta a meta de implantar este ensino, ao final de 3 anos, em 30 cursos de informática em universidades espalhados pelo Brasil. Era um misto de ousadia e sonho. E por que ousadia? Simplesmente porque a forma de introduzir disciplinas nas grades curriculares de cursos de graduação não é esta: de fora para dentro das universidades, com um conteúdo ainda sem bases científicas (em termos de ciência o empreendedorismo está em fase préparadigmática) e cuja essência tratado mudança de valores. Era outro paradigma a ser quebrado. Mas fomos em frente e hoje percebemos que só foi possível obter os resultados colhidos porque estávamos dentro de um sistema que nos apoiava, tínhamos na retaguarda um dos mais brilhantes projetos de política industrial de exportação criado neste País: o sistema Softex. E os resultados foram e são surpreendentes. Ao final de três anos temos mais de 100 cursos de nível superior (e alguns de ensino médio) na área de informática, comprometidos com o ensino de empreendedorismo. Estamos em 23 estados e no Distrito Federal. Cerca de 240 professores dominam a metodologia do ensino de empreendedorismo que atinge cerca de 3000 alunos por ano. Algo como 120 empresas são criadas anualmente em conseqüência do Programa Softex. Mas não paramos ai. Em 1997, um consórcio formado pelo Sebrae-MG, IEL-MG, Fumsoft, Secretaria do Estado de Ciência e Tecnologia e Fundação João Pinheiro criou o Programa REUNE-MG, com o objetivo de disseminar o ensino de empreendedorismo no estado de Minas Gerais, em qualquer curso de graduação. O sucesso do REUNE-MG, que já tem 32 instituições de ensino superior associadas, foi crescendo o ensino de empreendedorismo em cursos tão diversos como Física, Estatística, Economia, Engenharias, Geologia, Administração, inspirou as direções nacionais do IEL e Sebrae a lançarem em 1998 o PROGRAMA, REUNE-BRASIL - Rede Universitária Nacional de Ensino de Empreendedorismo. Um projeto piloto, envolvendo estrategicamente os estados do Rio Grande do Norte, Amazonas e Paraná preparam a expansão do Programa para todo o Brasil, a partir de 1999. Podemos estimar que em 2 anos, na virada do século, tenhamos anualmente cerca de 10.000 estudantes em todo o Brasil, preparados para empreender, gerando empregos. Esta é a revolução que todos estamos iniciando. O seu processo não é imediato nem simples. A matéria prima da consolidação do espírito empreendedor é a mudança cultural. Neste campo o papel das instituições de ensino é vital. Começamos nas universidades mas vamos, no tempo próprio, atingir os níveis primário e secundário,até que se forme uma "incubadora social". Estudos demonstram que o processo de desenvolvimento econômico está intimamente relacionado com os valores da comunidade. Não é somente uma questão de nível de conhecimento, é preciso que haja espírito empreendedor, expressão cuja acepção aglutina liderança, criatividade, cidadania e capacidade de inovar. Estamos começando a formar empregadores e não somente empregados.
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