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Componentes da Hidrosfera

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Hidrosfera 
 
 Maria Lucia A. Moura Campos 
 Daniela Gonçalves de Abreu 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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                                                                          Hidrosfera 
Hidrosfera 
 
 
Para refletir 1: 
- Só a água salgada tem sais? 
- Se toda água da Terra fosse equivalente a um galão de água de 20 L, qual seria o volume de água doce 
na forma disponível para ser tratada e destinada ao consumo humano? 
 
1. O compartimento Hidrosfera 
Assim como a ciência foi dividida nas áreas biológicas, humanas e de exatas - para facilitar seu estudo - 
o planeta foi divido em compartimentos, a saber: Hidrosfera (toda água presente na Terra), Atmosfera 
(ar), Litosfera (solos, rochas, sedimentos no fundo dos rios, lagos e oceanos) e Biosfera (o conjunto dos 
seres vivos) - Figura 1. Apesar da divisão, todos os compartimentos são interligados havendo um 
grande fluxo de energia e matéria entre eles, formando assim o ecossistema chamado “Terra”. 
 
 
Figura 1: Compartimentos que compõe o ecossistema Terra. 
 
 
 
 
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                                                                          Hidrosfera 
Dentro do compartimento Hidrosfera, a água pode estar na forma líquida, de vapor e de gelo. A água é 
considerada salgada quando tem mais de 30 g de sais por litro e é considerada doce quando tem 
menos de 0,5 g de sais por litro. O termo “água salobra” é utilizado no caso de a quantidade de sais 
estar no intervalo entre os dois casos. Assim, o termo “água doce” refere-se à água contendo pequenas 
quantidades de sais, pois na natureza, até a mais pura das águas tem sais dissolvidos naturalmente. Os 
íons mais comuns são: carbonato (CO32-), bicarbonato (HCO3-), cloreto (Cl-), sulfato (SO42-), nitrato (NO3-), 
fluoreto (Cl-), sódio (Na+), cálcio (Ca2+), potássio (K+), magnésio (Mg2+) e bário (Ba2+). As águas chamadas 
minerais têm cerca de 0,1 g (100 mg) de sais por litro. Esses sais têm origem na lenta dissolução das 
rochas que compõe a crosta terrestre (retomaremos este assunto mais adiante). 
 
Atividade: 
Você pode conferir as diferentes concentrações de sais nas diferentes marcas de água mineral. Note quais os 
íons que estão em maiores concentrações. 
 
Se toda água do planeta fosse equivalente àquela contida em 1 galão de 20 L, então teríamos 
aproximadamente 19,45 L de água salgada (mais de 97 %) e apenas uma jarra de 550 mL de água doce 
(menos de 3 % - Figura 2). Ainda assim, nessa jarra, teríamos 400 mL de água na forma de gelo e apenas 
150 mL (menos de 1 % do total) na forma de água disponível para o consumo humano. Veja na Tabela 1 
como é distribuída a água do planeta. Note que a água doce é distribuída em rios e lagos (águas de 
superfície), em aquíferos subterrâneos, na atmosfera (na forma de vapor), no solo e no corpo dos seres 
vivos (biota). Observe também como a água subterrânea é importante como reservatório de água doce 
(0,68 %). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 2: Ilustração comparando a distribuição de água no planeta com um galão de 20 L. 
 
Tabela 1: Distribuição da água na Terra em seus diferentes reservatórios 
 
Reservatório Volume (106 km3) Percentagem 
do total 
Oceanos 1370 97,25 
Geleiras e calotas polares 29 2,05 
Águas subterrâneas profundas (750 
–4000m) 
 5,3 0,38 
Águas subterrâneas 
(> 750 m) 
 4,2 0,30 
Lagos 0,125 0,01 
Umidade no solo 0,065 0,005 
Atmosfera 0,013 0,001 
Rios 0,0017 0,0001 
Biota 0,0006 0,00004 
 
Total 
 
 1408,7 
 
100 
 
 
 
 
 
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Para refletir 2: 
- Será que a água do planeta pode acabar? 
- Será que pode ocorrer alguma alteração no ciclo da água se a Amazônia for derrubada? 
 
2. O ciclo da água 
Vemos com frequência notícias nos meios de comunicação sobre secas avassaladoras em algumas 
regiões do Brasil e cheias em outras. No ano de 2005, Manaus teve uma de suas maiores secas, 
enquanto em 2009 sofreu inundações históricas. 
O sol, grande fonte de energia (equivalente ao motor da Terra), propicia a evaporação da água em toda 
superfície da Terra, levando à formação de nuvens, ao transporte e retorno da água para a superfície 
terrestre. A este contínuo movimento da água entre os diferentes reservatórios dá-se o nome de ciclo 
da água (Figura 3). 
Parte da chuva percola (infiltra) no solo atingindo os lençóis subterrâneos, que lentamente escoa até 
as chamadas áreas de descarga - rios, lagos ou oceanos. Note na Figura 3 a representação do fluxo de 
água do aquífero para o oceano. Se a descarga do aquífero for na superfície do solo, pode-se ter uma 
nascente. Outra parte da água da chuva fica retida nos solos e plantas, havendo também escoamento 
pela superfície, isto é, por rios e lagos. Observe pelo sentido da flecha que há um importante transporte 
de vapor d’água dos oceanos para o continente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 3: O ciclo da água. 
 
A água nunca vai acabar, pois seu volume no planeta não se altera, mas sua forma física (líquida, sólida 
ou vapor) e sua distribuição pode variar muito de acordo com as mudanças de temperaturas regionais e 
globais. É a distribuição de calor na Terra que determina onde haverá maior evaporação de água 
(lugares mais quentes) e onde haverá condensação e chuva. No ano de 2005, houve um aquecimento 
anormal das águas do Atlântico na região do Caribe, levando a uma importante alteração no ciclo da 
água. Esse fenômeno provocou a escassez de chuva na Amazônia e causou a formação de um grande 
furacão chamado Katrina, que devastou a cidade de Nova Orleans nos Estados Unidos. 
 Se a vegetação da Amazônia for destruída, a quantidade de chuva na região será menor (não haverá 
vegetação para reter a umidade). A Amazônia, então, ficará mais quente e poderá chegar ao ponto de 
apenas manter árvores de pequeno porte e dispersas, como ocorre no cerrado brasileiro (região do 
Pantanal). A este processo se dá o nome de savanização da Amazônia, isto é, a transformação de uma 
floresta tropical úmida em savana (ou cerrado). 
Se o clima global for drasticamente alterado - devido às emissões de gases do efeito estufa - o regime 
de chuva também mudará, ou seja, regiões úmidas podem ser desertificadas e desertos podem se 
 
 
 
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tornar mais úmidos. Além da alteração na distribuição da água, um fator muito preocupante é que a 
água de qualidade pode ser um bem escasso e de alto custo. 
 
Para refletir 3: 
- Qual é a atividade econômica que mais utiliza água no Brasil? 
- Você sabe de onde vem a água que chega na sua casa? 
 
3. Distribuição e uso da água no Brasil 
No Brasil, somos privilegiados pela abundância de água doce, pois temos 12% de toda água do planeta. 
Porém, 80% de toda água superficial do Brasil (lagos e rios) estão na regiãonorte do país, justamente 
onde temos apenas 5% da população. Isso significa que o restante da população tem de ser abastecida 
com os demais 20% de água. 
Cerca de 70% do consumo de água no Brasil se dá pelas práticas de irrigação na agricultura, cerca de 
22% pela indústria e 8% pelo consumo humano direto. Quando se fala no aumento da produção de 
alimentos para sustentar o aumento da população, muitas vezes olhamos apenas sob a perspectiva da 
disponibilidade de áreas agriculturáveis. Entretanto, é importante lembrar que a disponibilidade hídrica 
é decisiva para viabilizar o aumento de produção de alimento. 
O desperdício de água também é um grave problema a ser solucionado. Há desperdícios: na agricultura, 
que utiliza práticas de irrigação obsoletas; na indústria, que não reutiliza a água com eficiência; e na 
própria população. Além disso, há grande perda de água - devido a vazamentos - durante seu 
transporte da estação de tratamento até as residências. No Brasil há um grande número de cidades com 
50% de perda, isto é, a cada 100 L de água tratada que é distribuída, perde-se 50 L por vazamentos nos 
canos e por fraudes (falhas nos hidrômetros, ligações clandestinas etc). Apesar de ser difícil encontrar e 
consertar vazamentos, cabe aos dirigentes do município minimizar tais perdas. Porém, podemos fazer a 
nossa parte economizando água em casa. 
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cada indivíduo precisa de 150 L diários de 
água para viver bem. A quantidade mínima seria de 50 L. Em muitos países africanos, o volume de água 
disponível por habitante chega a ser bem menor. 
 
 
 
 
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Atividade: Procure saber se a água que abastece sua cidade é de rio ou subterrânea, ou de ambas as fontes. 
Procure também saber qual a percentagem de perda na sua cidade. Calcule quanto cada pessoa consome de 
água por dia na sua casa. É só pegar a conta de água e ver o volume total gasto naquele mês. Divida pelo 
número de dias e depois divida novamente pelo número de moradores. Compare com o volume 
recomendado pela OMS. 
 
Para refletir 4: 
- Toda água de poço é potável? 
- Como as águas de um aquífero poderiam ser contaminadas? 
- Já ouviu falar do Aquífero Guarani? 
 
4. O Aquífero Guarani 
A infiltração da água de chuva em direção ao subsolo ocorre muito lentamente passando pela 
zona insaturada. Note no círculo "A e B" da Figura 4 como há espaços vazios entre as partículas de 
solo na zona insaturada. Depois, a água atinge a zona saturada, onde os poros são totalmente 
preenchidos (círculo "C"), possibilitando a extração da água. Vemos também, na Figura 4, que a 
zona saturada não se trata de um rio subterrâneo livre e sim um solo arenoso com os poros 
repletos de água. Há também aquíferos formados pela fratura de rochas no subsolo ou pela dissolução 
de rochas calcárias como em cavernas. 
Para que a percolação (ou infiltração) seja eficiente é importante que haja vegetação, pois suas raízes 
abrem caminho para a penetração da água. Os rios e lagos também abastecem os reservatórios 
subterrâneos através dos seus leitos e margens, auxiliados pela chamada “mata ciliar” (vegetação 
próxima das margens dos corpos d’água). A retirada dessa vegetação, além de diminuir a infiltração de 
água no subsolo, leva a um maior arraste de partículas de solo para o interior do rio, diminuindo sua 
profundidade de forma relativamente rápida. Esse processo, que é chamado de assoriamento, pode 
até secar um rio de tanto solo que é carreado para seu leito. Assim, quando nos deparamos com notícias 
sobre desmoronamento de encostas de morros que foram desmatados, fica evidente a importância de 
manter a vegetação para “segurar” o solo. 
 
 
 
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Figura 4: Perfil do solo demonstrando a zona não saturada (ou insaturada) e a zona saturada, onde se tem o lençol 
freático. 
 
O Aquífero Guarani (Figura 5) é um importante reservatório de água subterrânea para o Brasil, 
abrangendo também parte de outros 3 países: Uruguai, Paraguai e Argentina. Ele contém 45 mil km3 de 
água em 1 200 000 km2, sendo que o Brasil conta com 70 % dessa área distribuída em 8 estados. A 
quantidade exata de água que pode ser explorada ainda não é conhecida, porém, estudos recentes 
mostram que pode ser de apenas 2%. Isso porque grande parte das águas está em profundidades muito 
grandes e de difícil acesso (confinadas sob rochas), ou devido à presença de grandes quantidades de 
sais naturais. 
A quantidade de sais nas águas subterrâneas depende da composição do solo e das rochas do seu 
entorno, assim como do tempo que a água permanece percorrendo o subsolo. É muito comum 
encontrar águas com excesso de fluoreto, bicarbonatos de sódio e de cálcio, ferro, entre outros, pois 
quanto maior a distância percorrida no subsolo, mais íons a água vai adquirindo devido à lenta 
dissolução das rochas (chamado de intemperismo). A dissolução de rochas seria um tipo de 
contaminação natural que impede a utilização da água para beber. 
 
 
 
 
 
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Figura 5: Mapa da América do Sul com destaque, em azul escuro, do Aquífero Guarani. 
 
Cerca de 70% dos municípios do estado de São Paulo são totalmente ou parcialmente abastecidos por 
águas subterrâneas, sendo que a maioria dessas cidades está localizada no nordeste do estado, onde a 
água se encontra mais próxima da superfície (áreas de recarga ou afloramento). A expansão mal 
planejada de áreas urbanas em regiões de recarga de aquíferos torna o solo impermeável devido às 
construções e ao asfaltamento, diminuindo assim a capacidade de reposição da água, o que leva a uma 
extração insustentável, isto é, a quantidade de água retirada é maior do que a reposição feita pela 
infiltração. 
A cidade de Ribeirão Preto no interior de São Paulo (~550 mil habitantes), que é totalmente abastecida 
pelo Aquífero, tem poços cujos níveis abaixaram em 60 m nos últimos 30 anos, devido à 
superexploração da água. Há evidências de que a cidade extrai hoje 2 vezes mais água do que a 
capacidade de reposição feita pela chuva. 
 
 
 
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Além da contaminação natural, existe também o problema da contaminação antrópica de aquíferos, ou 
seja, quando estes se encontram muito próximos à superfície. A presença de aterros sanitários mal 
instalados (ou depósitos - lixões) pode ser uma ameaça, pois - à medida que o lixo se decompõe - é 
produzido um líquido (chorume) que pode escoar para o interior dos lençóis de água subterrâneos, 
caso esse líquido não seja adequadamente coletado. O uso excessivo de pesticidas na agricultura 
também pode contaminar o aquífero, pois o pesticida se infiltra na camada de solo e atinge o aquífero. 
Ainda na agricultura, outra forma de contaminação a ser exemplificada é a do uso de fertilizantes 
nitrogenados (com nitrogênio), que levam à formação de grandes quantidades de íons nitrato, que por 
sua vez podem levar a graves enfermidades. Outro importante meio de contaminação é a perfuração 
inadequada de poços (ou quando eles são abandonados), permitindo a direta contaminação da água 
com fertilizantes que são carregados pela água de chuva para o interior do poço aberto. Além dessas 
contaminações, em áreas urbanas, as causas mais frequentes de contaminação dos aquíferos são os 
vazamentos de tanques em postosde gasolina e as atividades industriais. 
 
Para refletir 5: 
- O que pode alterar o equilíbrio natural de um corpo d'água? 
- Você sabe o que todo lago “quer ser quando crescer”? 
 
5. Eutrofização 
Vamos primeiramente nos recordar das reações de fotossíntese e respiração. De forma muito 
simplificada (sem mostrar as fórmulas dos nutrientes) podemos escrever a reação de fotossíntese como: 
 
CO2 + H2O + nutrientes + luz → {CH2O}n + O2 (equação 1) 
 
Onde {CH2O}n representa a matéria orgânica vegetal. A fórmula C106H263O110N16P muitas vezes é utilizada 
para representar o tecido orgânico vegetal de pequenas algas. 
 
Por meio da equação 1 vemos que o gás carbônico na atmosfera pode ser transformado (fixado) em 
tecido vegetal, havendo liberação de oxigênio. Por esse motivo dizemos que as árvores “limpam” a 
atmosfera, certo? 
 
 
 
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No caso da respiração ou da decomposição (degradação da matéria orgânica morta), temos o 
processo inverso (equação 2), isto é, há um consumo de oxigênio para se ter a oxidação do material 
orgânico para o gás carbônico, liberando energia: 
 
{CH2O}n + O2 → CO2 + H2O + nutrientes + energia (equação 2) 
 
No nosso caso, obtemos energia por meio dos alimentos que comemos, pois estes são digeridos e 
“queimados” durante nosso processo de respiração, produzindo o gás carbônico. Se pararmos de 
comer, morremos porque não repomos o carbono orgânico gasto na respiração. 
Em um lago, há entrada de nutrientes como nitrato (NO3-) e fosfato (PO43-) pelo processo de arraste de 
sais que estão presentes naturalmente no solo (processo chamado de lixiviação – reveja a Figura 4). As 
algas que estão nas águas superficiais (na zona que tem luz, ou zona fótica), fazem fotossíntese, 
crescem, reproduzem-se. Nesse processo de fotossíntese, grande parte do oxigênio produzido fica 
dissolvido na água. As algas servem de alimentos para pequenos animais, dando início a toda cadeia 
alimentar. 
As algas respiram, os animais respiram e os organismos mortos são decompostos. Esses processos 
consomem parte do oxigênio que se encontra dissolvido na água (equação 2). Num corpo d’água 
saudável, há um equilíbrio ideal entre a produção de oxigênio pela fotossíntese e seu consumo pela 
respiração e decomposição. 
Os corpos d’água denominados oligotróficos (oligo = mal; trófico = alimento) são pobres em 
nutrientes (alimento). Eles possuem águas límpidas devido à baixa quantidade de algas e, 
consequentemente, têm baixa taxa de fotossíntese. A concentração de matéria orgânica é baixa, o que 
leva a uma boa oxigenação de toda coluna d'água, pois há baixa decomposição. Esses tipos de 
ecossistemas são excelentes para extração de água usada no abastecimento, porém, estão se tornando 
cada vez mais raros. 
 
Muitos dos organismos mortos não são totalmente redissolvidos e pequenas partes desse material vai 
sendo depositado no fundo do lago, formando o sedimento (rico em material orgânico). A este 
processo dá-se o nome de eutrofização natural. Com o passar de milhares e milhões de anos, o lago 
vai ficando cada vez menos profundo devido ao depósito de material sólido no fundo, até se 
transformar num pântano e finalmente em terra firme (Figura 6). Agora dá para saber o que um lago 
“quer ser quando crescer”? 
 
 
 
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O homem pode acelerar o processo de eutrofização introduzindo um excesso de material orgânico e 
nutrientes num corpo d’água, levando à chamada eutrofização antrópica. O termo "eu" significa bem 
em grego. Sendo assim, os ecossistemas aquáticos denominados eutróficos são aqueles enriquecidos 
com nutrientes, isto é, "bem alimentados". 
 
Figura 6: Ilustração do processo de eutrofização de um lago até sua completa extinção. 
 
 
Você saberia dizer qual tipo de efluente tem muita matéria orgânica? Certamente, o esgoto doméstico 
tem grandes quantidades de matéria orgânica e nutrientes, como nitrato e fosfato, além de ter grandes 
quantidades de organismos patológicos que causam doenças. No Brasil, 58% das cidades não têm rede 
coletora de esgoto e apenas 14% tem o esgoto coletado e tratado (IBGE- senso do ano 2000; 
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/ 
condicaodevida/pnsb/esgotamento_sanitario/defaultesgotamento.shtm). 
 
A introdução de grandes quantidades de matéria orgânica e nutrientes pelo esgoto em um corpo 
d’água leva a uma rápida proliferação de algas (muita comida, muita alga!). Inicialmente, isso poderia 
parecer interessante devido à grande produção de oxigênio pela fotossíntese e à grande quantidade de 
alimento produzido para os animais. Porém, o excesso de algas em um corpo d’água só permite que a 
luz penetre na coluna d'água por poucos centímetros, levando à morte de toda população de algas que 
se encontra logo abaixo, na zona sem luz (afótica). Todo esse material morto será decomposto pelas 
bactérias aeróbias (que usam oxigênio), consumindo oxigênio. 
Os organismos mais sensíveis começam a morrer devido à baixa concentração de oxigênio, gerando 
ainda mais matéria orgânica morta, que será decomposta e consumirá mais oxigênio. Esse consumo de 
oxigênio supera muito a capacidade de reposição pela fotossíntese, podendo levar a água à anoxia, 
isto é, total ausência de oxigênio. Na ausência de oxigênio aparecem as bactérias anaeróbias, que 
além da sua toxicidade, levam à produção de espécies químicas reduzidas (de baixo número de 
 
 
 
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oxidação), como o metano (CH4 – um gás de efeito estufa) e o ácido sufídrico (H2S), que acidifica 
drasticamente a água. 
 
 
Atividade: Procure saber se na sua cidade o esgoto é tratado e coletado em rede. Se não é tratado (ou 
apenas parte é tratado), para onde vão os efluentes de esgoto sem tratamento? 
 
Para refletir 5: 
- Açúcar pode ser um poluente? 
- Aquilo que é biodegradável não prejudica o meio ambiente? 
 
6. Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) 
Já vimos que quanto maior a concentração de matéria orgânica biodegrável no ambiente aquático, 
maior será o consumo de oxigênio por organismos aeróbios (que utilizam oxigênio) para promover sua 
degradação. Pode-se definir demanda bioquímica de oxigênio (DBO) como a quantidade de oxigênio 
necessária para oxidar a matéria orgânica por decomposição microbiana, por litro de água. 
É comum ouvir a afirmação de que "uma substância não prejudica o meio ambiente porque é 
biodegradável". Vamos ver se isto é verdade? 
Na região de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), em setembro de 2003, houve o rompimento do 
reservatório de uma usina de açúcar e álcool contendo aproximadamente 8 milhões de litros de melaço. 
Rapidamente o melaço atingiu o rio, produzindo uma mancha com aproximadamente 150 km de 
extensão, levando à morte de mais de 200 toneladas de peixes em apenas alguns dias. 
Será que o açúcar fez mal aos peixes? Por que morreram tantos peixes em tão pouco tempo? Açúcares 
de forma geral são facilmente biodegradáveis, e por causa da sua elevada concentração na água houve 
um rápido consumo do oxigênio durante o processo de degradação, matando os peixes por asfixia 
(reveja a equação 2). 
 
 
 
 
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Atividade: Calcule a demanda (consumo) de oxigênio para oxidar completamente 1 g de açúcar 
(representada pela glicose) dissolvido em1 L de água. Veja a resposta. 
A oxidação completa da glicose (massa molar 180 g/mol) é dada por: 
 
C6H12O6 + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O 
A partir da reação vemos que 1 mol de glicose consome 6 mols de oxigênio para degradar-se 
completamente. Por essa proporcionalidade, podemos então calcular a massa de oxigênio (massa molar = 
32 g/mol) consumido: 
1 mol glicose _____ 6 mol O2 
1 x 180 g glicose _____ 6 x 32 g de O2 
 1g _____ m m = 1,07 g 
O resultado mostra que para 1 litro de água contendo 1 g de glicose haverá o consumo de 1,07 g de oxigênio 
pelas bactérias para promover a total oxidação da glicose. Porém, na água de rio, a concentração de 
oxigênio é de aproximadamente 0,009 g por litro de água. Dessa forma, a fácil degradabilidade do açúcar, 
somado a sua elevada concentração, leva ao rápido esgotamento do oxigênio dissolvido na água matando 
toda vida aquática, como ilustra a Figura 7. 
 
Para refletir 6: 
- Por que a água do mar é salgada? 
- Dê um exemplo que demonstra a importância dos oceanos para a humanidade. 
- Como seria o clima da Terra sem os oceanos? 
 
7. Os oceanos 
Já vimos anteriormente que intemperismo trata-se do processo de dissolução das rochas dos 
continentes pela água da chuva que carrega sais dissolvidos até os rios, que por sua vez deságuam no 
mar. Para lembrar esse processo, podemos recorrer à frase: “água mole em pedra dura tanto bate até 
 
 
 
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que fura”. Quando a água do mar evapora e retorna ao continente, ela está praticamente sem sais. 
Portanto, em uma escala de milhões de anos, os oceanos foram acumulando mais e mais sais. Hoje a 
quantidade de sais nos oceanos é em média 35 g por litro de água, sendo o cloreto de sódio (NaCl) o sal 
mais abundante. Apesar da abundância de íons cloreto (Cl-) na água do mar, sua origem não está nas 
rochas da superfície terrestre e sim no interior da Terra (no magma), que durante erupções vulcânicas 
expelia ácido clorídrico (HCl). O ácido foi sendo neutralizado por sais alcalinos presentes nas rochas. 
Os oceanos têm grande importância na nossa vida, pois são fontes de alimento, meios de transporte, 
fontes de água para os continentes (como vimos no ciclo da água), e até mesmo fontes de lazer e beleza 
paisagística. Entre tantas coisas importantes, os oceanos também são grandes reguladores do clima da 
Terra. 
A água tem a propriedade de armazenar enormes quantidades de calor proveniente do sol, liberando 
esse calor lentamente durante a noite e em dias mais frios. Essa propriedade de armazenamento de 
calor é chamada de capacidade calorífica, que na água é bastante elevada. No caso da areia, podemos 
deduzir que esta tem uma capacidade calorífica muito baixa, pois não armazena calor. O que ganha de 
calor, perde em pouco tempo. Os oceanos absorvem grande parte do calor da atmosfera, diminuindo a 
velocidade com que as temperaturas globais vêm subindo. Se não fosse pelos vastos oceanos, a Terra 
toda teria um clima de deserto, com dias muito quentes e noites muito frias, pois o calor armazenado na 
sua superfície durante o dia seria rapidamente perdido durante a noite. 
As correntes marinhas se movimentam da região do equador para o norte e para o sul (Figura 8). Na 
região dos trópicos, as águas são mais quentes. À medida que elas viajam em direção aos pólos, vão 
perdendo calor, minimizando o frio nas regiões temperadas e polares. Dessa forma, os oceanos 
transportam calor pela movimentação de suas águas (correntes). Graças a esse tipo de transporte de 
calor, o clima na Europa Ocidental (França, Inglaterra) é bem mais ameno do que na Europa Oriental 
(Polônia, Ucrânia), que está mais distante do Oceano Atlântico. 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 8: Principais correntes oceânicas na superfície dos oceanos. 
 
Reveja a equação de fotossíntese (equação 1) que mostra o gás carbônico sendo transformado em 
tecido vegetal. Como nos oceanos, a quantidade de algas é muito grande, isso significa que sua 
capacidade de retirar o gás carbônico da atmosfera pela fotossíntese também é grande. O consumo de 
gás carbônico pela fotossíntese é dividido praticamente em partes iguais entre os oceanos (50%) e os 
sistemas terrestres (50%). Os oceanos também permitem uma grande dissolução de gases da atmosfera 
nas suas águas pelo simples processo de difusão molecular. Dessa maneira, é capaz de retirar grandes 
quantidades de gás carbônico da atmosfera e assim diminuir o efeito estufa. 
Com o aquecimento global, as águas dos oceanos também estão se aquecendo, de forma que os gases 
naturalmente dissolvidos na água podem ser emitidos de volta para a atmosfera. Esse processo é similar 
ao que acontece quando deixamos um copo de refrigerante esquentar. Pouco a pouco o gás vai 
escapando, pois quanto mais quente, menor a quantidade de gases que se dissolve. A emissão de gás 
carbônico - dissolvido nos oceanos, para a atmosfera - aumentará a concentração desse gás de efeito 
estufa, elevando mais ainda a temperatura global. 
Graças aos oceanos, a temperatura global ainda não aumentou tanto, mas sua capacidade de “conter” o 
efeito estufa está se esgotando. 
 
 
 
 
 
.  17 . 
Sala de Leitura 
                                                                          Hidrosfera 
8. Considerações finais 
Reveja as Figuras 1 e 4. A partir delas talvez você entenda melhor que, apesar desse texto ter tratado 
principalmente da Hidrosfera, vimos como todos os compartimentos da Terra estão interligados. Note 
que uma pessoa que vive na porção mais interior de um continente é afetada pelo oceano, pelo menos 
por causa da sua atuação no clima global. A água evaporada do oceano cai sobre as rochas e solo, 
dissolve nutrientes que são carregados para os rios e aquíferos, e volta a abastecer os oceanos. Os 
nutrientes e gases dissolvidos na água são consumidos pelas algas (fotossíntese), servindo de alimento 
para pequenos animais e desencadeando toda teia alimentar até chegar ao homem. Um aquecimento 
anormal das águas de uma pequena porção do oceano pode levar à seca - em uma região, e à formação 
de furações - em outra. Vimos como o lançamento dos nossos esgotos sem tratamento ou de 
substâncias aparentemente inócuas podem alterar completamente um ecossistema aquático. A mata 
mal preservada pode diminuir a infiltração de água no subsolo, enquanto um poço mal construído 
pode levar à contaminação da água subterrânea, e um poço mal explorado pode secar. Cada um de nós 
é uma peça chave nas interações entre os compartimentos globais, tanto no sentido de danificar como 
no de preservar o meio ambiente. 
Veja se você concorda com o que disse Mikail Gorbachev, quando presidente da antiga União Soviética: 
"A natureza achará uma solução para a poluição causada pela civilização. A questão que 
permanece é se os seres humanos estão incluídos ou não".

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