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Notas de aula - Geotecnia 1 GEOTECNIA Geotecnia é a ciência que lida com todos os fenômenos que influenciam o comportamento dos solos e rochas para fins de Engenharia. Num sentido amplo, solo são todos os materiais terrosos, inorgânicos e orgânicos que ocorrem sobre a crosta rochosa da terra. O conhecimento básico da Geotecnia está inserido nos conteúdos da Mecânica dos Solos, da Mecânica das Rochas, e da Geologia de Engenharia. MECÂNICA DOS SOLOS GEOTECNIA MECÂNICA DAS ROCHAS GEOLOGIA DE ENGENHARIA GEOTECNIA = GEO + TECNIA CROSTA TERRESTRE TECNICA Crosta ou Litosfera (35 a 50km) Manto Núcleo Curiosidade: Se a terra fosse reduzida ao tamanho de uma laranja, a crosta seria mais fina que 1mm. Notas de aula - Geotecnia 2 A Mecânica dos Solos procura prever o comportamento de maciços terrosos quando sujeitos a solicitações provocadas por obras de engenharia (fundação, escavação, aterros, túneis etc) ou efeitos da natureza (escoamento de água). A Mecânica das Rochas lida com a aplicação do comportamento mecânico das rochas e maciços rochosos frente aos campos de forças, pelos quais estão sujeitos ou pressionados. A Geologia de engenharia estabelece uma relação íntima entre a engenharia e a geologia na solução de projetos uma vez que os solos são dotados de uma fantástica memória, registram tudo que já aconteceu no passado e isso afeta fortemente seu comportamento no presente. DESENVOLVIMENTO DA MECÂNICA DOS SOLOS Trabalhos marcantes sobre o comportamento dos solos já foram desenvolvidos em séculos passados como: Coulomb,1773 – determinou um modelo matemático referente à estabilidade de uma massa de terra, admitindo os solos como massa ideais e atribuindo propriedades de material homogêneo; Darcy,1856 – estabeleceu sua lei para escoamento da água através das areias; Rankine, 1856 – desenvolveu um método para estimar a pressão contra um muro de arrimo. Entretanto, um acúmulo de insucessos em obras de engenharia no início do século XX mostrou a necessidade de revisão dos procedimentos de cálculos uma vez que não se podia aplicar aos solos leis teóricas de uso corrente em projetos que envolviam materiais mais bem definidos, como o aço e o concreto. Em 1925 Karl Terzaghi publicou o livro “Erdbaumechanik” que se tornou um marco decisivo na nova orientação a ser seguida no estudo do comportamento dos solos, como um sistema constituído por uma fase sólida granular e uma fase fluida. Reconhecido internacionalmente como fundador da Mecânica dos Solos, seus trabalhos identificando o papel das pressões na água no estudo das tensões no solo e a apresentação da solução matemática para a evolução dos recalques em argilas com o tempo após o carregamento, são reconhecidos como o marco inicial desta nova ciência de Engenharia. Em 1950 é fundada a Associação Brasileira de Mecânica dos solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), afiliada à Associação Internacional de Notas de aula - Geotecnia 3 Mecânica dos solos e Engenharia de Fundações (IASSMEF) e realiza a cada quatro anos um Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos. Costa Nunes apresentou importante contribuição com sua criação, pioneira no mundo, de estruturas de contenção ancoradas em solos. Graças e este tipo de obra foi possível a recuperação das encostas do Rio de Janeiro, quando em 1966, após um período de chuvas intensas, ocorreram grandes deslizamentos. NATUREZA SINGULAR DOS SOLOS E ROCHAS Os solos são altamente heterogêneos, isto é, suas características e propriedades podem variar amplamente, de ponto para ponto, dentro de uma mesma camada. O comportamento dos solos e materiais rochosos in-situ é muitas vezes governado e controlado por juntas, fraturas, camadas fracas etc. Nem sempre os ensaios de laboratório e os métodos de análise podem reproduzir e considerar essas singularidades. Muitas das teorias disponíveis para análise do comportamento mecânico dos materiais admitem que os materiais são homogêneos, isótropos e obedecem a leis lineares de tensão-deformação. O aço é dito ser um material elástico linear, as relações tensão-deformação são dadas pela lei de Hooke. A aplicação desse modelo a solos apresenta várias limitações e só pode ser feita para níveis muito baixo de tensão, isto é, no início da curva de tensão- deformação, quando o fator de segurança é ainda muito alto. A grande vantagem do modelo é a simplicidade de cálculos em relação a qualquer outro, e ele é o único para o qual se dispõe de soluções fechadas. Fora Notas de aula - Geotecnia 4 do modelo elástico-linear, as análises de tensão e deformação são feitas por métodos numéricos, como dos elementos finitos, através de computadores. Por ser altamente empírica a Engenharia Geotécnica se aprimora pela experiência, pela observação e análise do comportamento da obra. Em conseqüência, o engenheiro geotécnico precisa desenvolver uma “sensibilidade” com relação ao comportamento dos solos e rochas, antes de projetar uma fundação econômica ou construir uma estrutura segura. ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS Todos os solos se originam da decomposição das rochas que constituíam inicialmente a crosta terrestre devido a agentes físicos, químicos e biológicos, chamados agentes de intemperismo. ROCHA INTEMPERISMO SOLO Na engenharia, é conveniente definir rocha como aquilo que é impossível escavar manualmente, que necessite de explosivo para seu desmonte. Chamamos de solo, a rocha já decomposta ao ponto granular e passível de ser escavada apenas com auxílio de pás, picaretas ou escavadeiras. As rochas são agregados naturais formados por um ou mais minerais que constituem a crosta da Terra. Mármore – Formado por apenas um mineral (Calcita) Notas de aula - Geotecnia 5 (a) (b) (c) (d) Granito – Formado por vários minerais como: Feldspato(a),Plagioclásio(b), Biotita(c) e quartzo(d). Mineral é um corpo natural sólido e cristalino formado em resultado da interacção de processos físico-químicos em ambientes geológicos. Cada mineral é classificado e denominado não apenas com base na sua composição química, mas também na estrutura cristalina dos materiais que o compõem. Em resultado dessa distinção, materiais com a mesma composição química podem constituir minerais totalmente distintos em resultado de meras diferenças estruturais na forma como os seus átomos ou moléculas se arranjam espacialmente (como por exemplo a grafita e o diamante). (a) (b) Estrutura molecular tetraédrica do Diamante (a) e laminar da Grafita (b). Notas de aula - Geotecnia 6 É a estrutura molecular dos diamantes que os torna tão duros. O diamante está organizado em uma estrutura cristalina tridimensional em que cada átomo liga- se a outros 4 formando uma unidade tetraédrica. O grafite, por outro lado, se conectam em forma de anéis, onde cada átomo é apenas ligado a um outro átomo, não há ligação entre uma camada e a outra, fazendo com que uma camada possa deslizar facilmente em relação às camadas adjacentes e isto os torna um dos minerais mais macios. Quanto a composição química dos principais minerais componentes do solo, grupamo-los em: Apenas 4 elementos constituem cerca de 90%da terra: ferro, oxigênio, silício e magnésio. Observe que o oxigênio, o silício e o alumínio, sozinhos, formam mais de 80%da Crosta. Silicatos Feldospato, mica, quartzo, serpentina, clorita, talco Compostos de oxigênio e silício Óxidos hematita, magmetita, limonita Compostos de oxigênio com elementos metálicos Carbonatos calcita , dolomita Compostos de íons de carbonato ligados a cálcio ou magnésio ou ambos Sulfatos gesso, anidrita Compostos de enxofre com elementos metálicos Minerais argílicos caulita, ilita e montmorilonita (expansiva) Possuem estrutura cristalina frágil que se torna esponjosa mediante a fácil absorção de água. Notas de aula - Geotecnia 7 Exemplos de minerais. Notas de aula - Geotecnia 8 As propriedades físicas de maior interesse de um grão mineral para o engenheiro são: Quanto à gênese as rochas são classificadas em três grandes grupos: Tipos de rocha quanto a sua formação. Coeficiente de atrito O coeficiente de atrito entre partículas de solo é a única fonte significativa da estabilidade de obras de terra. Sem o atrito os solos se comportam como um líquido pesado. Densidade Uma medida padrão da densidade é a gravidade específica, que é o peso do mineral no ar, dividido pelo peso de um volume igual de água pura a 40C. Fornece uma idéia sobre a mineralogia do material e possibilita cálculos que correlacionam vários parâmetros do solo. Dureza A dureza de um grão está ligada à sua resistência à abrasão (risco) e reflete a força das ligações químicas, quanto mais forte a ligação maior a dureza. Notas de aula - Geotecnia 9 Ígneas Formadas pelo resfriamento e endurecimento (solidificação) do magma. O magma é o material em estado de fusão no interior da terra podendo atingir a superfície por meio de fenômenos vulcânicos, sob a forma de lava (Extrusivas ou Vulcânicas – Basaltos). Quando não é possível romper as camadas superiores da crosta seu resfriamento ocorre internamente (Intrusivas - Granitos). As formas mais comuns das formações geológicas ígneas brasileiras tem as seguintes características: Sills – Camadas de rochas de forma tabular, em posição horizontal proveniente de um magma que penetrou nas camadas de rocha encaixante. Diques – Quando o magma penetra na crosta de maneira perpendicular ou oblíqua aos extratos. Batólitos – Grandes massas magmáticas consolidadas internamente, de constituição granítica. Derrame – Corpos magmáticos superficiais, de forma tabular. Basalto Granito Notas de aula - Geotecnia 10 Sedimentares Formadas pela deposição, em regiões de topografia baixa, de materiais transportados provenientes da erosão da crosta terrestre. Havendo acúmulo, as pressões que promovem a compactação e consolidação do material depositado, há a formação de uma rocha sedimentar. (Ex. folhelhos, arenito, calcários) Folhelhos Arenitos A maioria das rochas encontradas na superfície terrestre é sedimentar. Todavia, 95% do volume da crosta continental corresponde à rochas cristalinas, ou seja, ígneas e metamórficas. Notas de aula - Geotecnia 11 Metamórficas Formadas quando altas temperaturas e pressões das profundezas da terra atuam em qualquer tipo de rocha para mudar sua mineralogia, textura e composição química embora mantendo sua forma sólida. Pode ocorrer tanto a recristalização dos minerais preexistentes como a formação de novos minerais. Devido às condições dos esforços dirigidos numa determinada direção a textura resultante apresenta xistosidade caracterizada pelo paralelismo de todos ou alguns minerais. (Ex. ardósia, gnaisse) Gnaisse Ardósia Notas de aula - Geotecnia 12 Alguns cristais comuns em rochas ígneas, sedimentares e metamórficas: Rochas ígneas Rochas Sedimentares Rochas Metamórficas Quartzo* Quartzo* Quartzo* Feldospato* Feldospato* Feldospato* Mica* Argilominerais* Mica* Piroxênio* Calcita Piroxênio* Anfibólio* Dolomita Granada* Olivina* Gipsita Estaurolita* Halita Cianita* O asterisco indica que o mineral é um silicato. Notas de aula - Geotecnia 13 O CICLO DAS ROCHAS As rochas terrestres não constituem massas estáticas. Elas fazem parte de um planeta cheio de dinâmica (variações de temperatura e pressão, abalos sísmicos e movimentos tectônicos). Da mesma forma, as atividades de intemperismo causam constantes alterações sobre as rochas. As rochas ígneas superficiais da Terra (A) sofrem constante intemperismo, e lentamente reduzem-se em fragmentos (B), incluindo tanto os detritos sólidos da rocha original como os novos minerais formados durante o intemperismo. Os agentes de transporte redistribuem o material fragmentado sobre a superfície, depositando-o como sedimentos, que se transformam em rochas sedimentares (C). Estas, por aumento de pressão e temperatura geram as rochas metamórficas (D). Aumentando a pressão e a temperatura até determinado ponto, ocorrerá fusão parcial e novamente a possibilidade de formação de uma nova rocha ígnea (E), dando-se início a um novo ciclo. Notas de aula - Geotecnia 14 INTEMPERISMO E EROSÃO Intemperismo é o conjunto de processos devido à ação de agentes atmosféricos e biológicos que ocasionam a desintegração (fragmentação física) e a decomposição química dos minerais das rochas. Didaticamente os processos são divididos em duas categorias: intemperismo físico e intemperismo químico. Deve-se ressaltar, contudo que na natureza todos esses processos tendem a acontecer ao mesmo tempo, de modo que um tipo de intemperismo auxilia o outro no processo de transformação rocha-solo. A erosão é o conjunto de processos que desagregam e transportam os materiais e depositam-no em outro lugar. O intemperismo e a erosão são processos geológicos importantes uma vez que modelam a superfície terrestre e alteram os materiais rochosos em sedimentos formando os solos. INTEMPERISMO X EROSÃO A intemperização das rochas é provocada por agentes essencialmente estáticos (variação da temperatura, congelamento da água, reações químicas) enquanto a erosão é a remoção e transporte de materiais por meio de agente dinâmicos (água dos rios, enxurradas, vento, etc.) TIPOS DE INTEMPERISMO: FÍSICO E QUÍMICO O intemperismo físico ocorre quando a rocha é reduzida a fragmentos menores sem alterar a sua composição mineralógica. Pode ser causado por qualquer um dos seguintes agentes atuando num período de tempo significativo. Variação da temperatura As rochas são formadas por minerais com diferentes coeficientes de dilatação térmica. As variações de temperatura fazem com que os minerais impossibilitados de se dilatarem e contraírem gerem tensões internas nas rochas. Devido ao aquecimento diurno e resfriamento noturno durante séculos e séculos ocorre então a fadiga desses minerais sendo facilmente desagregados e reduzidos a pequenos fragmentos. Congelamento da água A água pode penetrar em fraturas, fendas ou diáclases que são zonas de fraqueza das rochas. O congelamento da água no interior desses vazios Notas de aula - Geotecnia 15 provocará um aumento de seu volume em cerca de 10%, exercendo uma força expansível considerável nas paredes das fendas. A repetição contínua de congelar e descongelar alarga as fendas, a rocha afrouxa-se e desagrega-se., formando lascas ou blocos de tamanhosvariados. A atividade destrutiva é tanto maior quanto maior for o número de poros preenchidos pela água. Cristalização de sais As águas existentes na natureza contêm sais dissolvidos. Tais águas podem se infiltrar pelas descontinuidades das rochas e, ao evaporarem, deixar nestas fendas, sob forma de cristais, os sais que antes estavam dissolvidos. Ao cristalizarem-se dentro das fendas estas tendem a ser aumentadas, graças ao esforço de crescimento dos cristais. A repetição secular deste fenômeno faz com que as rochas se desagreguem lentamente. Ação física de vegetais A pressão de crescimento das raízes vegetais pode provocar a desagregação de uma rocha, desde que esta possua fendas por onde penetrem as raízes e a resistência oferecida pela rocha não seja muito grande. EXEMPLOS DE PROCESSOS DE INTEMPERISMO FÍSICO Notas de aula - Geotecnia 16 O intemperismo químico se caracteriza pela ação de agentes que atacam a rocha, modificando sua constituição mineralógica ou química. A água é o principal agente, pois as águas de infiltração contêm substâncias agressivas que atacam os minerais das rochas através de reações químicas. A água da chuva contém os gases do ar dos quais os mais importantes para o intemperismo são o oxigênio e gás carbônico. As raízes das plantas emitem dióxido de carbono e fabricam ácidos húmicos que torna os solos ácidos. A água das chuvas ao atravessar estes solos carrega o ácido húmico que reagirá com as rocas provocando sua decomposição. Os principais agentes da intemperização química podem ser classificados em função da natureza da reação predominante no processo de decomposição. Notas de aula - Geotecnia 17 Oxidação É um dos primeiros fenômenos a ocorrer na decomposição das camadas superficiais do subsolo, pela ação oxidante do oxigênio e gás carbônico dissolvidos na água. Os elementos mais suscetíveis de oxidação durante o intemperismo são carbono , nitrogênio, fósforo, ferro, manganês e os compostos de enxofre pela formação de ácido sulfúrico (H2SO4), agente poderoso na decomposição das rochas. Ex: (Pirita) FeS2 + O2 + H2O = FeO(OH) Goethita Hidrólise Dentre os processos de decomposição química a hidrólise é a que se reveste de maior importância, porque é o mecanismo que leva a destruição dos silicatos, que são os compostos químicos mais importantes da litosfera. Notas de aula - Geotecnia 18 Hidratação Pela hidratação a água é incorporada, passando a fazer parte da estrutura cristalina do mineral. Alguns minerais quando hidratados sofrem expansão, levando ao fraturamento da rocha. Ex: Anidrida + H2O = Gipsita Carbonatação O ácido carbônico é o responsável por este tipo de intemperismo. É mais acentuado em rochas calcáreas pela diferença de solubilidade entre o calcário (CaCo3) e o bicabornato de cálcio formado durante a reação. Decomposição químico-biológica Os primeiros atacantes de uma rocha exposta às intempéries são bactérias e fungos microscópios. Organismos como os liquens, as algas e musgos Notas de aula - Geotecnia 19 segregam gás carbônico, nitratos, ácidos orgânicos que incorporados às soluções aquosas que atravessam o solo, atingindo as rochas inferiores, em vias de sofrer um ataque químico. FATORES QUE REGEM O INTEMPERISMO Os agentes do intemperismo, sejam físicos ou químicos, trabalham simultaneamente e a ação predominante de um ou de outro depende de fatores que propiciam a maior ação de um ou de outro. Tais fatores são: Clima Conforme estudamos anteriormente, a água é um fator fundamental no desenvolvimento do intemperismo químico da rocha. Deste modo, regiões com alto índices pluviométricos e altos valores de umidade relativa do ar tendem a apresentar a predominância de intemperismo químico, o contrário ocorrendo em regiões de clima seco. Topografia Quanto maior for a declividade do terreno maior será a facilidade de remoção da camada de solo superficial, capa protetora das rochas, seja por gravidade ou escoamento superficial das águas pluviais. Tipo de rocha O tipo de rocha influi na ação da intemperização de acordo com as resistências que cada tipo de rocha pode oferecer tanto à intemperização física quanto à química. Essas resistências diferenciadas dependem não só da composição mineralógica como também da porosidade e grau de fraturamento. Ação da vegetação As vegetações, através de suas raízes, inibem a remoção da camada superficial dos solos fazendo com que estes atuem como uma capa protetora para as rochas que ainda não sofreram intemperização. CLASSIFICAÇÃO DO SOLO QUANTO A SUA FORMAÇÃO Os solos são divididos em dois grandes grupos, sedimentares e residuais, a depender da existência ou não de um agente de transporte na sua formação. Notas de aula - Geotecnia 20 SOLOS RESIDUAIS (“IN SITU”) São solos que permanecem no local de decomposição da rocha. Para que eles ocorram é necessário que a velocidade de decomposição da rocha seja maior do que a velocidade de remoção do solo por agentes externos. Como a ação das intempéries se dá, em geral, de cima para baixo, as camadas superiores são, via de regra mais trabalhadas dos que as inferiores. Desta forma os solos residuais podem ser subdivididos, conforme a zona de intensidade de intemperismo, em horizontes que se organizam da superfície para o fundo, com uma transição gradativa entre eles. As regiões de clima tropicais, como o Brasil, são favoráveis a degradações mais rápidas da rocha, razão pela qual há uma predominância de solos residuais nestas regiões. SOLOS TRANSPORTADOS (SEDIMENTARES) Os solos transportados ou sedimentares são aqueles que foram levados ao seu local atual por algum agente de transporte e lá depositado. Sua classificação é função do agente de transporte predominante. Suas principais classes são: coluviões, aluviões, eólicos, glaciais e orgânicos. Notas de aula - Geotecnia 21 Coluviões Os solos coluvionares são formados pela ação da gravidade produzidos por movimentos de massa lentos, do tipo rastejo, ou rápidos, como os escorregamentos, processos que restringem a ocorrência de colúvios à regiões de topografia acidentada ou, ao menos, colinosa. Além de serem homogêneos, os coluviões são sempre muito porosos, dando origem a solos bem drenados, facilmente colapsíveis com a saturação e o carregamento. Na região Sul, mais úmida, o colapso ocorre com o carregamento e, no Nordeste, com clima seco, somente a saturação é suficiente para provocar o colapso Os tálus são formados pelo mesmo processo de transporte por gravidade, em encostas, que produz os coluviões, diferenciando-se pela presença ou predominância de blocos de rocha. A presença desses blocos de rocha exige solos pouco espessos na fonte, o que restringe a ocorrência de tálus ao sopé de encostas de forte declividade ou, então, ao pé de escarpas rochosas. Os corpos de tálus, em muitos casos, apresentam-se saturados e submetidos a lentos deslocamentos. Esses deslocamentos podem ser acelerados, tornando muito difícil a contenção do movimento, quando se procede a uma intervenção, um corte, por exemplo, na parte inferior ou pé do corpo de tálus. Um tipo particular de tálus, que ocorre em regiões de topografia muito acidentada, é o tálus de recobrimento, constituído por blocos de rocha soltos que capeiam a superfície do terreno. Notas de aula - Geotecnia 22 Aluviões São solos resultantes do transporte pela água e sua textura dependeda velocidade da água no momento da deposição, sendo freqüente a ocorrência de camadas granulométricas distintas, devidas as diversas épocas de deposição. Quanto maior a velocidade, maior será o diâmetro da partícula que a água poderá transportar em suspensão. Os materiais transportados sedimentam-se em ordem decrescente de seus diâmetros, ou seja, inicialmente as camadas de pedregulho são depositadas seguidas das areias, siltes e argilas. Desta forma, nota-se que as partículas menores serão transportadas até locais onde a velocidade diminua, permitindo o processo de sedimentação. Os solo aluvionares podem ser classificados em: solos marinhos (águas dos oceanos e mares), solos fluviais (águas dos rios), solos pluviais (água das chuvas) e solos glaciais (geleiras). Eólicos O transporte pelo vento dá origem aos depósitos eólicos de solo. A força do vento seleciona muito mais do que a água os pesos dos grãos que podem ser transportados. Isso implica na uniformidade dos grãos dos depósitos eólicos. Como os grãos maiores e mais pesados não podem ser transportados, e as argilas têm seus grãos unidos pela coesão, formando torrões dificilmente levados pelo vento, a ação do transporte do vento se restringe ao caso das areias finas ou siltes. Em virtude do atrito constante entre as partículas, os grãos de solo transportados pelo vento geralmente possuem forma arredondada. As dunas são exemplos comuns de solos eólicos brasileiros. A formação de uma duna se dá inicialmente pela existência de um obstáculo ao caminho natural do vento, o que diminui sua velocidade e resulta na deposição de partículas de solo. Notas de aula - Geotecnia 23 Glaciais São formados pelas geleiras pela ação da gravidade. Sua formação ocorre pelo movimento de gelo das regiões superiores para as inferiores. Nesse movimento gravitacional, ocorre o transporte de partículas de solo e rocha. Quando ocorre o degelo, esses detritos acabam de depositando no terreno. Variados tamanhos de partículas são transportados. Assim, os solos formados são bastante heterogêneos com granulometrias que variam de grandes blocos de rocha até materiais com granulometria fina. Orgânicos Formados pela impregnação do solo por sedimentos orgânicos preexistentes, em geral misturados a restos de vegetais e animais. O produto final é um material escuro que impregna os grãos do solo, denominado húmus, relativamente estável e facilmente carregado pela água. Dessa forma, sua ocorrência se dá apenas em solos finos (argilas e siltes) e em menor escala nas areias finas. As turfas são solos fibrosos resultantes da concentração de folhas, caules e troncos de florestas. É um tipo de solo extremamente deformável com elevada permeabilidade que permite que os recalques devido às ações externas ocorram rapidamente. Sob o ponto de vista da engenharia, os solos orgânicos apresentam características indesejáveis, destacando-se sua elevada compressibilidade e alta capacidade de absorção de água. Notas de aula - Geotecnia 24 CONSTITUIÇÃO DOS SOLOS Os solos são constituídos por um conjunto de partículas sólidas que se tocam e vazios que se interconectam (poros) podendo estar parcialmente ou totalmente, preenchidos por água. Os poros não ocupados por líquido poderão conter ar ou gás. Como o volume total ocupado por uma massa de solo inclui, normalmente, materiais nos três estados da matéria – sólido, líquido e gasoso – diz-se que o solo é um sistema trifásico. E seu comportamento vai depender da quantidade relativa de cada uma das três fases. A fase gasosa (ar, vapor d’água) é importante em problemas de deformação de solos e é bem mais compressível que as fases sólidas e líquidas. A fase líquida (água) se apresenta de várias formas no solo, entretanto é difícil isolar os estados em que se apresenta no interior do solo. A água contida no solo pode ser classificada em: Notas de aula - Geotecnia 25 Água livre: Preenche todos os vazios do solo. Pode estar em equilíbrio hidrostático ou fluir sob ação da gravidade; Água Capilar: É a água que se sobe pelos interstícios capilares deixados pelas partículas sólidas, oriundas da superfície livre da água; Água Adsorvida (adesiva): É uma película de água que adere fortemente às partículas de solos muito finos devido a ação de forças elétricas desbalanceadas nas superfícies dos argilos-minerais. Está submetida a grandes pressões, comportando-se como sólido na vizinhança da partícula de solo; Água de constituição: É a água presente na própria constituição química das partículas sólidas. Não é retirada utilizando-se os processos de secagem tradicionais; Água higroscópica: Água que o solo possui quando em equilíbrio com a umidade atmosférica e a temperatura ambiente. A fase sólida é caracterizada pelo seu tamanho, forma, distribuição e composição mineralógica dos grãos. Para identificar o estado do solo, empregam-se índices que correlacionam os pesos e os volumes das três fases. Se o vazios de um solo é reduzido através de um processo mecânico de compactação, por exemplo, a sua resistência aumenta. Outro exemplo: caso o solo esteja seco e lhe é adicionada uma quantidade adequada de água, sua coesão e consequentemente a sua resistência irão aumentar também. Para facilitar a dedução dos índices admiti-se que os componentes de cada fase possam ser representados isoladamente, associando-se a cada um, seus respectivos volumes, massas e peso conforme figura abaixo. Notas de aula - Geotecnia 26 Onde: Vg, Va, Vs, Vv e Vt representam os volumes de ar, água, sólidos, de vazios e total do solo. Ps, Pa e P são os pesos de sólidos, água e total e Ms, Ma e M são as respectivas massas de sólidos, água e total. V= Vg+Va+Vs = Vs+Vv M = Ms+Ma P=Ps+PA RELAÇAO ENTRE MASSAS OU PESOS Teor de Umidade natural do solo (h) Por definição o teor de umidade de um solo, é a relação entre a massa de água contida num determinado volume de solo e a massa das partículas sólidas presentes nesse mesmo volume. %100. Ms Ma h ou %100. Ps Pa h (i) Para sua determinação, pesa-se o solo no seu estado natural (P), seca-se em estufa e pesa-se novamente (Ps). Diminuindo-se P de Ps obtêm o peso da água (Pa) e a umidade pode ser calculada. Notas de aula - Geotecnia 27 RELAÇÕES ENTRE VOLUMES Índice de vazios (e) Relação entre o volume de vazios e o volume das partículas sólidas, expresso em termos absolutos, podendo ser maior do que a unidade. Sua variação é de 0 a . Vs VaVg Vs Vv e (ii) Porosidade (n) Relação entre volume de vazios e o volume total. O intervalo de variação da porosidade está compreendido entre 0 e 1. %100. V Vv n (iii) Grau de saturação (S) O grau de saturação indica que percentagem do volume total de vazios contém água. %100. Vv Va S (iv) Se o solo está completamente seco, S=0%, quando os poros estão completamente cheios de água, diz-se que o solo está saturado e S=100%. Um solo pode permanecer completamente saturado, mesmo variando a quantidade de água presente, desde que sofra uma compressão ou expansão, traduzidas numa variação do volume de vazios. RELAÇÕES ENTRE PESO E VOLUME OU MASSA E VOLUME O peso específico () de qualquer material vai representar uma medida da quantidade de material, referida ao espaço que ele ocupa. V gM materialdovolume materialdopeso (v) Notas de aula - Geotecnia 28 Onde g = aceleração da gravidade [m/s2] Todas as definições referentes ao peso específico terão as correspondentes massas específicascuja definição é dada por V M g V gM (vi) Na mecânica dos solos adota-se o sistema SI de unidades e portanto a massa específica é expressa em [kg/m3] e o peso específico em [kN.m3]. O valor da aceleração da gravidade poderá ser adotado g=10m/s2. Densidade Real dos Grãos ou densidade relativa () A densidade de qualquer material é a relação entre a massa de um dado volume desse material e a massa de igual volume de água. aVs Ms ga gs a s (vii) Onde: a é a massa específica da água admitida =1g/cm3=103kg/m3 a é o peso específico da água admitida = 9,81kN/m3 10 kN/m3 O valor de varia num intervalo muito curto, em função da constituição mineralógica dos grãos. Por exemplo, as areias, cujos grãos são comumente constituídos de quartzo, apresentam densidade real dos grãos =2,65 A maioria dos solos argilosos possui valores de variando entre 2,65 e 2,80, enquanto os solos, altamente orgânicos, têm os valores mais baixos da densidade dos grãos (2,45 ou 2,50). Conseqüentemente, quando precisa-se arbitrar um valor para ,a fim de resolver um problema prático, admitir 2,65 ou 2,70 é uma aproximação adequada. Correlações importantes Notas de aula - Geotecnia 29 Por definição: a Ma Va Va Ma a Dividindo ambos os membros por Vs, obtem-se aVs Ma Vs Va Multiplicando-se o termo esquerdo por Vv Vv tem-se aVs Ma Vs Vv Vv Va . E como Ma=h.Ms aVv Ms heS . Portanto: heS . (viii) Peso específico aparente natural ou peso específico úmido () Relação entre o peso total da amostra e o volume total V gM V P (ix) Peso específico aparente do solo seco (s) Relação entre o peso da partícula sólida e o volume total. Caso particular obtido para S=0%. V gMs V Ps s S=0% (x) Peso específico das partículas sólidas ou dos grãos(g) Relação entre o peso da partícula sólida e o seu volume. É uma característica dos sólidos. Vs gMs Vs Ps g (xi) Admitindo que Ms=Vsa Notas de aula - Geotecnia 30 ag . (xii) Para sua determinação, coloca-se um peso seco conhecido do solo em um picnômetro e, completando-se com água, determina-se o peso total. O peso do picnômetro completado só com água, mais o peso do solo, menos o peso do solo+água, corresponde a massa de água equivalente ao volume dos grãos de solo colocados no picnômetro. Partindo das definições anteriores e representando o diagrama de fases, onde admiti-se o volume de sólidos V=1, pode-se estabelecer, facilmente, correlações entre diversos parâmetros. Com relação a massa específica: a e h . 1 )1( (xiii) ou a e Se . 1 (xiv) Com relação ao peso específico: a e h . 1 )1( (xv) ou a e Se . 1 (xvi) Notas de aula - Geotecnia 31 Nos solos secos h=0 e S=0 e portanto: a e s . 1 (xvii) Uma correlação entre os pesos específicos aparente úmido e aparente seco, muito usada na prática é dada por: a e s . 1 s e a . 1 (xvii) a e h . 1 )1( (xv) Substituindo (xvii) em (xv) : sh ).1( (xviii) Da mesma forma podemos relacionar o peso específico aparente úmido com o peso específico das partículas sólidas. a Vs Ps g ga (xii) a e s . 1 (xvii) Substituindo (xii) em (xvii) : gs e . 1 1 (xix) Peso específico aparente do solo saturado (sat) É o peso específico do solo quando todos os vazios estão preenchidos com água e isso ocorre sem variação de volume. Caso particular obtido para S=100%. V P s S=100%. (xx) Pelo diagrama de fases (volume unitário) referente aos solos saturados obtemos as seguintes correlações: Notas de aula - Geotecnia 32 Massa específica saturada: a e e sat . 1 (xxi) Peso específico Saturado: a e e sat . 1 (xxii) Umidade de saturação: e hsat (xxiii) Peso específico submerso (sub) Quando a camada de solo está abaixo do nível freático, define-se o peso específico submerso, o qual é utilizado para o cálculo de tensões efetivas. águasatubs (xxiv) Pelo princípio de Arquimedes: "Todo corpo mergulhado num fluido em repouso sofre, por parte do fluido, uma força vertical para cima, cuja intensidade é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo."' A resultante das forças verticais é nula Fv=0 P+E- sat = 0 P= sat - E E= a.Vd = a.(1) P=(sat - a)= sub Notas de aula - Geotecnia 33 CORRELAÇÀO ENTRE OS PARAMETROS DO SOLO Dados Incógnitas Notas de aula - Geotecnia 34 TEXTURA E ESTRUTURA DOS SOLOS A primeira característica que diferencia os solos é o tamanho das partículas que os compõem. Num solo, geralmente convivem partículas de tamanhos diversos. E pela dificuldade de identificação pelo simples manuseio do solo, denominações específicas são empregadas para as diversas faixas de tamanho de grãos. Dessa forma os solos podem ser classificados pela sua textura em Solos Grossos e Solos Finos. Os solos grossos possuem uma maior percentagem de partículas visíveis a olho nu como os matacões, pedregulhos e areias. Os siltes e as argilas têm seus grãos tão finos que quando molhados, se transformam numa pasta (barro), não podendo se visualizar as partículas individualmente. A associação brasileira de normas técnicas, ABNT, apresenta os seguintes limites das frações de solo pelo tamanho dos grãos: Fração Limites (ABNT) Matacão de 25cm a 1m Pedra de 7,6 a 25 cm Pedregulho de 4,8mm a 7,6 cm Areia Grossa de 2,0 a 4,8 mm Areia Média de 0,42 a 2,0 mm Areia Fina de 0,05 a 0,42 mm Silte de 0,005 a 0,05 mm Argila Inferior a 0,005 mm Diferentemente desta terminologia, a separação entre siltes e areias é freqüentemente tomada como 0,0075mm, correspondente à abertura da peneira nº 200, que é a mais fina peneira correntemente usada nos laboratórios.
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