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Monografia Investigação Criminal Realizada pelo Ministério Público no âmbito do Crime Organizado (2)

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UNC 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
AGDA ZORZAN 
 
 
 
 
 
 
 
 
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
ÂMBITO DO CRIME ORGANIZADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CANOINHAS 
2013 
1 
 
AGDA ZORZAN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
ÂMBITO DO CRIME ORGANIZADO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como exigência para obtenção do título de 
Bacharel, do Curso de Direito, ministrado pela 
Universidade do Contestado – UnC, sob a 
orientação do professor Rafael Theodoro Kuyavski 
Rangni. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CANOINHAS 
2013 
2 
 
 
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
ÂMBITO DO CRIME ORGANIZADO 
 
 
 
 
AGDA ZORZAN 
 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso, Monografia foi submetido ao processo 
de avaliação para a obtenção do Título de: 
 
Bacharel em: Direito 
 
 
E aprovado na sua versão final em ___________________ (data), atendendo 
às normas de legislação vigentes da Universidade do Contestado e Coordenação do 
Curso de Direito. 
 
 
_____________________________________ 
Terezinha Elisabete Padilha 
 
Avaliadores: 
 
Rafael Theodoro Kuyavski Rangni 
 
Simara Sá de Souza Ern 
 
Tércio Pangratz de Paula e Silva 
3 
 
 
 
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
 
 
Através deste instrumento, isento meu Orientador e a Banca Examinadora de 
qualquer responsabilidade sobre o aporte ideológico conferido ao presente trabalho. 
 
 
 
 
____________________________ 
AGDA ZORZAN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
DECLARAÇÃO DE REVISÃO 
 
 
 Declaro, para os devidos fins, que a monografia da graduanda: AGDA 
ZORZAN, do Curso de Direito da Universidade do Contestado – UnC, Campus 
Canoinhas (SC), intitulada: INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO 
MINISTÉRIO PÚBLICO NO ÂMBITO DO CRIME ORGANIZADO, recebeu a 
correção de Língua Portuguesa, em 06 /11/2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 E, por ser a expressão da verdade, firmo a presente declaração. 
 
 
São Mateus do Sul (PR), 06 de novembro de 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta conquista aos meus pais, Lourdes e Ineldo e a 
meu irmão Agnes. 
6 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço primeiramente a Deus, pois ele é o governador da vida, que sempre guiou 
e iluminou meus passos. Agradeço aos meus pais Lourdes e Ineldo e a meu irmão 
Agnes pelo auxílio e exemplo de vida, por construírem a base sólida, fortaleza 
inviolável munida dos mais puros sentimentos vertentes da natureza humana. 
Sempre estiveram ao meu lado nas horas boas ou ruins, mostrando que a pessoa 
que acredita nos seus objetivos sempre os alcança. MUITO OBRIGADA. A uma 
pessoa especial que não poderia deixar de agradecer: Edilson você foi um dos 
pilares em minha vida, muito obrigada. A todos os professores do curso que foram 
tão importantes no desenvolvimento da vida acadêmica e em especial um 
agradecimento ao meu orientador Rafael Theodoro K. Rangni. A minha segunda 
família, 2ª Promotoria de São Mateus do Sul, meus sinceros agradecimentos pelo 
apoio. Aos amigos e colegas, exemplos de dedicação, pela colaboração ininterrupta 
durante a realização deste trabalho e, em especial aos meus grandes amigos Ana 
Júlia Bertolin e Telmo Roberto Ossowski, que, com toda a certeza se não 
estivessem ao meu lado o caminho seria muito mais árduo. 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
―As raízes do estudo são amargas, mas seus frutos são doces.‖ 
(Aristóteles) 
8 
 
 
RESUMO 
O Ministério Público, instituição essencial à justiça, ganhou maior respeito no 
ordenamento jurídico brasileiro a partir da Constituição Federal de 1988, órgão 
autônomo e indivisível, que possui autonomia funcional e não está atrelado a 
nenhum dos outros poderes. Tema que gera polêmica no meio jurídico é quanto aos 
atos investigatórios do Ministério Público, sua legalidade e constitucionalidade para 
realizá-los e a precariedade que norteia o inquérito policial, que na maioria das 
vezes chega ao titular da ação penal incompleto, necessitando maiores diligências, o 
que acaba por deixar o procedimento moroso e prejudica, a futura ação penal. 
Verificar-se-á as normas de proteção do Ministério Público, entre elas, a Lei 
Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei nº. 8.625/93, Resolução 13/2006, bem 
como o atual Projeto de Emenda Constitucional nº. 37/2011. Abordar-se-á os 
primórdios do crime organizado, bem como os problemas enfrentados com as 
organizações criminosas brasileiras, trazendo as características das duas principais 
organizações criminosas brasileiras. Ainda será abordada a possibilidade de 
investigação direta pelo Ministério Público, principalmente no que se refere ao 
combate das organizações criminosas, que acarretam prejuízos enormes a máquina 
estatal, bem como a corrupção que norteia o sistema estatal envolvendo agentes 
que deveriam coibir a prática criminosa mas que integram as organizações 
criminosas, fortalecendo de forma relevante estas organizações. 
Palavras-chaves: Ministério Público; Investigação criminal pelo Ministério Público; 
Crime organizado; Organizações Criminosas; Ministério Público no combate ao 
Crime Organizado. 
9 
 
 
ABSTRACT 
The prosecution institution essential to justice, which gained more respect from the 
The prosecutor, essential institution to justice, gained greater respect in the Brazilian 
legal system from the Constitution of 1988, an autonomous body and indivisible, that 
has functional autonomy and is not linked to any of the other powers. Issue that 
generates controversy is in the legal acts regarding investigative prosecutor, its 
legality and constitutionality to realize them and insecurity that drives the police 
investigation, that most often comes to the holder of the criminal incomplete, 
requiring more steps, the which ultimately let the lengthy procedure and affect the 
future prosecution. Check will be the protection standards of the Public Ministry, 
among them, the Organic Law of the National Public Prosecutor, Law nº. 8.625/93, 
Resolution 13/2006, as well as the current draft Constitutional Amendment. 37/2011. 
Address will be the beginnings of organized crime, as well as the problems faced 
with criminal organizations in Brazil, bringing the characteristics of the two major 
criminal organizations in Brazil. Still be addressed the possibility of direct 
investigation by prosecutors, especially when it comes to combating criminal 
organizations that cause huge losses to the state machine, as well as the corruption 
that guides the state system involving agents that should curb criminal activity but 
part of criminal organizations, strengthening of these organizations significantly. 
 
Key-words: Prosecutor; criminal investigation by prosecutors; Organized Crime; 
Criminal Organizations; prosecutors in combating organized crime. 
10 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade 
ADEPOL – Associação dos Delegados de Polícia do Brasil 
Art. – Artigo 
CF – Constituição Federal de 1988 
CNMP – Conselho Nacional do Ministério Público 
CP – Código Penal 
CPC – Código de Processo Civil 
CPI – Comissões Parlamentaresde Inquérito 
CPP – Código de Processo Penal 
LC – Lei Complementar 
LOMPU – Lei Orgânica do Ministério Público da União 
OAB – Ordem dos Advogados do Brasil 
MP – Ministério Público 
PEC – Projeto de Emenda a Constituição 
STF – Supremo Tribunal Federal 
STJ – Superior Tribunal de Justiça 
IPM – Inquérito Policial Militar 
UnC – Universidade do Contestado 
11 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 
2 O MINISTÉRIO PÚBLICO ...................................................................................... 16 
2.1.1 HISTÓRICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ......................................................... 17 
2.1.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA ESTRUTURA DO ESTADO ............................. 21 
2.1.3 FUNÇÕES E PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
PREVISTOS CONSTITUCIONALMENTE ................................................................. 23 
2.1.4 DEFINIÇÃO DE MINISTÉRIO PÚBLICO ......................................................... 32 
3 O CRIME ORGANIZADO ....................................................................................... 35 
3.1 CONCEITO ......................................................................................................... 36 
3.2 OS PRIMÓRDIOS DO CRIME ORGANIZADO ................................................... 40 
3.3 O CRIME ORGANIZADO NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA E 
DA EUROPA ............................................................................................................. 43 
3.3.1 Argentina .......................................................................................................... 44 
3.3.2 Chile ................................................................................................................. 46 
3.3.3 Cuba ................................................................................................................. 49 
3.3.4 Espanha ........................................................................................................... 50 
3.3.5 Alemanha ......................................................................................................... 52 
3.3.6 França .............................................................................................................. 56 
3.3.7 Itália .................................................................................................................. 58 
3.3.8 Brasil ................................................................................................................ 62 
4 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
COMBATE AO CRIME ORGANIZADO E A CRISE DO INQUÉRITO POLICIAL .... 69 
4.1 PERSECUÇÃO PENAL....................................................................................... 70 
4.2 POLÍCIA JUDICIÁRIA ......................................................................................... 72 
4.3 CONCEITO DE INQUÉRITO POLICIAL, SUA FINALIDADE E SUA 
DISPENSABILIDADE ................................................................................................ 74 
4.3.1 A CRISE DO INQUÉRITO POLICIAL ............................................................... 80 
12 
 
 
4.4 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
COMBATE AO CRIME ORGANIZADO ..................................................................... 81 
4.4.1 ENTENDIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DOS TRIBUNAIS 
REGIONAIS .............................................................................................................. 92 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 104 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 109 
13 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
O crime organizado é tema de destaque na área de investigação criminal 
presidida pelo Ministério Público, haja vista a preocupação da sociedade com a 
existência de grupos criminosos voltados a prática de crimes de alto potencial 
ofensivo, os quais agem de forma direta em todo o meio social, seja nos prejuízos 
causados com a lavagem de dinheiro, seja angariando seguidores ou destruindo o 
bem jurídico tutelado. 
O crescimento do crime organizado se dá devido aos problemas 
socioeconômicos e a inconstância de valores e princípios, aliados a ineficácia dos 
direitos fundamentais, os quais passam a ofender bens jurídicos fundamentais. 
Com o crescimento e fortificação do crime organizado, os agentes estatais 
passam a ser membros dessas organizações, sendo corrompidos com os altos 
montantes que norteiam as organizações e assim acarretando uma precariedade no 
sistema investigatório estatal. 
Essa precariedade nos dias atuais é evidente, posto que os inquéritos 
policiais são instruídos de forma duvidosa e sem o mínimo de elementos possíveis a 
formar a opinio delicti do titular da ação penal, acarretando assim que um número 
imenso de inquéritos acabe por ser arquivado ainda em sua fase preliminar, haja 
vista a falta de elementos para propositura da ação penal. 
A presente monografia tem por escopo principal debater a legalidade dos atos 
investigatórios do Ministério Público, sua constitucionalidade e sua 
indispensabilidade no âmbito dos crimes organizados. 
Mostrar-se-á os debates entre o Superior Tribunal Federal, os Tribunais 
Regionais, os projetos de Emenda Constitucional e a atual condição que norteia o 
ordenamento brasileiro trazendo a possibilidade de investigação criminal pelo 
Ministério Público. 
No primeiro capítulo abordar-se-á as modificações do Ministério Público no 
decorrer dos tempos, sua indispensabilidade à justiça e a ênfase que a referida 
instituição passou a ter após a vigência da Constituição Federal de 1988, trazendo 
um histórico da instituição e seu desenvolvimento entre as Constituições que 
estiveram em vigência em nosso ordenamento, até sua atual conjuntura no sistema. 
14 
 
 
Trará alguns apontamentos sobre tão importante instituição, conceituação e 
seus pontos fundamentais, a função jurisdicional do Estado e sua autonomia 
funcional não sendo integrante de nenhum órgão do governo como Executivo, 
Legislativo e Judiciário. 
Buscar-se-á, no presente capítulo, traçar um panorama sobre suas funções e 
princípios previstos constitucionalmente, sua definição constitucional e seu destaque 
no ordenamento jurídico como ferramenta essencial na organização do Estado e no 
combate aos crimes. 
No segundo capítulo tratar-se-á do crime organizado, trazendo sua 
conceituação e o panorama histórico do crime organizado dentro do ordenamento 
jurídico, bem como seus primórdios, abordando o surgimento das organizações 
criminosas. 
Com relação ao crime organizado, será tratado das organizações criminosas 
na América Latina e na Europa, trazendo um comparativo de como tais 
organizações são tratadas nos demais Países e como as investigações criminais 
são presididas nos referidos Países. 
Será abordado as organizações criminosas dentro dos ordenamentos 
jurídicos penais dos Países: Argentina, Chile, Cuba, Espanha, Alemanha, França, 
Itália, bem como, de que maneira os ordenamentos jurídicos disciplinam a matéria 
de investigação criminal. 
Terá enfoque especial o crime organizado no Brasil, sua atuação nas favelas 
e morros e trará a forma como as duas das principais organizações criminosas agem 
contra o sistema jurídico penal brasileiro, bem como seu surgimento no Brasil e o 
modelo que foi seguido pelos criminosos para chegar na proporção que se 
encontram. 
Já no terceiro capítulo tratar-se-á do inquérito policial, bem como a 
precariedadeque norteia as investigações criminais realizadas pela polícia judiciária. 
Conceituação de Persecução Penal, sua aplicação no ordenamento jurídico, polícia 
judiciária. Conceituação de inquérito policial, sua finalidade e sua dispensabilidade, 
haja vista os inúmeros problemas que norteiam a fase da investigação criminal 
realizada pela polícia, o índice de corrupção no meio policial e demais fatores que 
acarretam a precariedade desta peça de informação dispensável. 
15 
 
 
E por fim, será tratada a investigação criminal realizada pelo Ministério 
Público, sua constitucionalidade e os entendimentos jurisprudenciais, bem como sua 
função primordial no combate as organizações criminosas, e a recente votação do 
Projeto de Emenda a Constituição nº. 37 de 2011, que trouxe um grande avanço ao 
sistema processual penal brasileiro. 
O objetivo principal é a realização de estudo acerca da investigação criminal 
realizada pelo Ministério Público no âmbito do crime organizado, sua 
constitucionalidade e sua eficácia. 
O presente trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica, sendo 
utilizado o método indutivo que, segundo a lição de Cesar Luiz Pasold, consiste em 
―pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter 
uma percepção ou conclusão geral‖.1 
 
1
 PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica e Metodologia da Pesquisa Jurídica. 10ª. 
Ed. Florianópolis: OAB/SC, 2007. Pág. 104. 
16 
 
 
2 O MINISTÉRIO PÚBLICO 
Verifica-se que no decorrer dos tempos a instituição do Ministério Público foi a 
que mais se fortaleceu e ganhou ênfase no ordenamento jurídico brasileiro, se 
tornando, assim, indispensável à justiça. 
O Ministério Público passou por um longo processo de modificações no 
decorrer do seu desenvolvimento, seja jurídico ou social. Órgão autônomo do 
Estado, indispensável para assegurar a prestação jurisdicional. O qual ao longo dos 
anos passou a ganhar espaço e se tornar a instituição fundamental que é 
atualmente. 
Nas palavras de Hugo Nigro Mazzili2, ―embora não seja um poder de Estado, 
o Ministério Público alcançou na Constituição Federal de 1988 as mesmas garantias 
de Poder.‖ 
Buscar-se-á, no presente capítulo, traçar alguns apontamentos sobre esta tão 
importante instituição, a fim de trazer conceitos e abordar os pontos mais 
interessantes a serem salientados a cerca da instituição do Ministério Público. 
Nesse sentido, tratar-se-á da instituição como ferramenta essencial a função 
jurisdicional do Estado, suas regulamentações no texto Constitucional e em Leis 
esparsas que observam as necessidades sociais e traz a instituição do Ministério 
Público como órgão indispensável na luta pelos direitos individuais e coletivos. 
Ademais, necessário se faz abordar a instituição do Ministério Público na 
estrutura do Estado, os basilares princípios que a Constituição Federal de 1988 
estabeleceu para a instituição e que a norteiam, tratar das garantias e das vedações 
que constituem tal instituição, abordando os pontos mais relevantes que acarretaram 
no desenvolvimento e formação da instituição do Ministério Público. 
Abordar-se-á o plano infraconstitucional e as principais normas 
regulamentadoras que estabelecem as competências da instituição, seja no âmbito 
estadual ou no âmbito federal, suas principais Leis Complementares e Orgânicas 
que definem as competências, funções e repartições das competências, que se 
encontram definidas pela Constituição Federal. 
Buscar-se-á no presente capítulo, estabelecer um alicerce para o 
desenvolvimento do tema no decorrer dos capítulos. 
 
2
 MAZZILI Hugo Nigro. Ministério Público. 2ª Edição – São Paulo: Damásio de Jesus, 2004, pág. 15. 
17 
 
 
2.1.1 HISTÓRICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
Mesmo antes do advento da Constituição Federal de 1988, haviam grandes 
disparidades no Ministério Público nacional, como cita Hugo Nigro Mazzilli3: 
Em alguns Ministérios Públicos, seus membros exerciam a advocacia 
privada e representavam a Fazenda Pública; a instituição não tinha sequer 
a mesma organização básica nos vários Estados; na União e em alguns 
Estados, havia Procuradores-Gerais escolhidos fora da instituição e sem 
mandato, enquanto outros Estados já tinham estatutos locais que garantiam 
que a chefia da instituição fosse necessariamente exercida por integrantes 
da carreira, com investidura por tempo certo. 
De acordo com Hugo Nigro Mazzili4, foi só a partir de 1980 que começou a 
surgir uma consciência nacional de Ministério Público, fruto, em grande parte, dos 
trabalhos da Confederação das Associações Nacionais de Ministério Público. Nesse 
quadro é que foi editada a primeira Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei 
Complementar nº 40/81), que estabeleceu o conceito da instituição, seus princípios, 
suas garantias, vedações e atribuições, bem como sua organização básica. 
Sem óbice aos trabalhos da Confederação das Associações Nacionais do 
Ministério Público para o desenvolvimento da instituição, a análise da história do 
Ministério Público denota que sua atual instituição é fruto do desenvolvimento do 
Estado Brasileiro e da democracia. Tal história é marcada por dois grandes 
processos que culminaram na formalização do Parquet5 como instituição e na 
ampliação de sua área de atuação. 
Antes de tratar de tais processos, entretanto, é necessário traçar a paulatina 
evolução da instituição no direito brasileiro. 
Segundo Hugo Nigro Mazzili6 a evolução do Ministério Público brasileiro 
esteve evidentemente ligada ao Direito Lusitano do Brasil Colônia. Em 1609 foi 
instituído o procurador da Coroa no Tribunal da Relação na Bahia. ―Nesse, período, 
a legislação só fazia referências esparsas ao procurador geral, subordinando-o 
expressamente ao governante.‖ 
 
3
 MAZZILI Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 27. 
4
 MAZZILI Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 27. 
5 Parquet: a palavra parquet, que é utilizada comumente em textos jurídicos e em processos judiciais, 
tem origem francesa e é sinônimo de Ministério Público. O termo remete aos antigos procuradores do 
rei da França, que ficavam em pé sobre o assoalho (parquet) da sala de audiência, e não se 
sentavam ao lado dos magistrados, como ocorre hoje. 
6
 MAZZILI Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 21. 
18 
 
 
Na Constituição de 1824, já sob o Brasil Império foi aludido ao procurador da 
Coroa e Soberania Nacional a acusação dos crimes. Com a implantação do Código 
de Processo Criminal em 1832 trouxe uma seção para os promotores, cuidando de 
sua nomeação e atribuições. 
Em 1841 houve a Reforma processual, passou-se a exigir a condição de 
―bacharel idôneo‖ para a nomeação dos promotores públicos, que eram nada mais 
que os substitutos do procurador geral. 
Somente em 1890 com Campos Salles, Ministro da Justiça no Governo 
Provisório da República, que o Ministério Público passou a ser tratado como uma 
instituição. Por essa razão, Campos Salles é considerado o patrono do Ministério 
Público brasileiro. 
A Constituição Federal de 1891 cuidou da escolha do Procurador Geral da 
República dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal e aludiu a uma única 
atribuição: a impetração de revisão criminal pro reo. 
Em 1934 institucionalizou-se efetivamente o Ministério Público. O Código de 
Processo Penal de 1941 trouxe poderes requisitórios ao Ministério Público, 
transformando em regra o princípio da titularidade ativa da ação penal pública. 
A Constituição Federal de 1946 inseriu o Ministério Público em título próprio, 
previu sua organização,forma de ingresso e conferiu garantias a seus membros. 
Foi com a primeira Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei 
Complementar Federal nº. 40 de 14 de dezembro de 1981, que a instituição passou 
a ter perfil nacional, com conceituação, princípios, funções, garantias, instrumentos e 
organização básica, conforme ensinamentos de Hugo Nigro Mazzili7. 
O primeiro processo inicia-se no período colonial, o Brasil foi orientado pelo 
direito lusitano. Não havia o Ministério Público como instituição, mas as Ordenações 
Manuelinas de 1521 e as Ordenações Filipinas de 1603 já faziam menção aos 
promotores de justiça, atribuindo a eles o papel de fiscalizar a lei e de promover a 
acusação criminal. Existia ainda o cargo de procurador dos feitos da Coroa 
(defensor da Coroa) e o de procurador da Fazenda (defensor do fisco). 
O segundo processo se deu só no Império em 1832, com o Código de 
Processo Penal do Império iniciou-se a sistematização das ações do Ministério 
Público. Contudo, apenas em janeiro de 1838, teve-se a notícia da função de fiscal 
 
7
 MAZZILI Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 27. 
19 
 
 
da lei do representado do Ministério Público, sendo este o marco inicial das 
modernas atribuições do Ministério Público. Para Sauwen Filho8: 
Foi somente em 16 de janeiro de 1838, que o Governo deu mostras da 
feição que reservava ao futuro Ministério Público, estabelecendo pelo Aviso 
Imperial daquela data que os Promotores de Justiça eram ―fiscais da lei‖, 
referindo-se aos curadores como ―verdadeiros advogados‖, destacando 
assim os papéis que estavam reservados àqueles membros do Ministério 
Público na futura lei que regularia a Instituição. 
Na República, o decreto nº 848 de 11/09/1890, ao criar e regulamentar a 
Justiça Federal, dispôs, em um capítulo, sobre a estrutura e atribuições do Ministério 
Público no âmbito federal. Neste decreto destacam-se dois pontos principais a 
saber: a indicação do procurador geral pelo Presidente da República e a função do 
procurador de "cumprir as ordens do Governo da República relativas ao exercício de 
suas funções" e de "promover o bem dos direitos e interesses da União." (artigo 24, 
alínea c). 
Mas foi o processo de codificação do Direito nacional que permitiu o 
crescimento institucional do Ministério Público, visto que os códigos (Civil de 1916, 
de Processo Civil de 1939 e de 1973, Penal de 1940 e de Processo Penal de 1941) 
atribuíram várias funções à instituição. 
Além dos códigos, algumas leis merecem destaque na evolução do Ministério 
Público. Dentre estas destacam-se, conforme nos ensina Alexandre de Moraes9, a 
lei federal nº 1.341 de 1951, que criou o Ministério Público da União, que se 
ramificava em Ministério Público Federal, Militar, Eleitoral e do Trabalho. O Ministério 
Público da União - MPU pertencia à época ao Poder Executivo. 
Em 1981, a Lei Complementar nº 40 dispôs sobre o Estatuto do Ministério 
Público, instituindo garantias, atribuições e vedações aos membros do órgão. 
Em 1985, a lei nº. 7.347 de Ação Civil Pública ampliou consideravelmente a 
área de atuação do Ministério Público, ao atribuir a função de defesa dos interesses 
difusos e coletivos. Antes da ação civil pública, o Ministério Público desempenhava 
basicamente funções na área criminal, possuindo na área cível, apenas uma 
atuação interveniente como fiscal da lei em ações individuais. Com o advento da 
 
8
 SAUWEN, Filho, J. F. O Ministério Público brasileiro: e o Estado Democrático de Direito. Rio de 
Janeiro: Renovar, 1999, pág. 120. 
9
 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2000, pág. 20. 
20 
 
 
ação civil pública, a instituição passa a ser agente tutelador dos interesses difusos e 
coletivos. 
Quanto aos textos constitucionais, deve-se lembrar que nem todas as Cartas 
Magnas trataram do Ministério Público, decorrendo tal inconstância das oscilações 
entre regimes democráticos e regimes autoritário-ditatoriais. Veja-se a evolução do 
Ministério Público frente às Constituições Brasileiras, segundo o Histórico do 
Ministério Público no Brasil, elaborado pelo Ministério Público da União10: 
Constituição de 1824: não faz referência expressa ao Ministério Público. 
Estabelece que "nos juízos dos crimes, cuja acusação não pertence à 
Câmara dos Deputados, acusará o procurador da Coroa e Soberania 
Nacional". 
Constituição de 1891: não faz referência expressa ao Ministério Público. 
Dispõe sobre a escolha do Procurador-Geral da República e a sua iniciativa 
na revisão criminal. 
Constituição de 1934: faz referência expressa ao Ministério Público no 
capítulo "Dos órgãos de cooperação". Institucionaliza o Ministério Público. 
Prevê lei federal sobre a organização do Ministério Público da União. 
Constituição de 1937: não faz referência expressa ao Ministério Público. 
Diz respeito ao Procurador-Geral da República e ao quinto constitucional. 
Constituição de 1946: faz referência expressa ao Ministério Público em 
título próprio (artigos 125 a 128) sem vinculação aos poderes. 
Constituição de 1967: faz referência expressa ao Ministério Público no 
capítulo destinado ao Poder Judiciário. 
Emenda constitucional de 1969: faz referência expressa ao Ministério 
Público no capítulo destinado ao Poder Executivo. 
Constituição de 1988: faz referência expressa ao Ministério Público no 
capítulo "Das funções essenciais à Justiça". Define as funções 
institucionais, as garantias e as vedações de seus membros. Foi na área 
cível que o Ministério Público adquiriu novas funções, destacando a sua 
atuação na tutela dos interesses difusos e coletivos (meio ambiente, 
consumidor, patrimônio histórico, turístico e paisagístico; pessoa portadora 
de deficiência; criança e adolescente, comunidades indígenas e minorias 
ético-sociais). Isso deu evidência à instituição, tornando-a uma espécie de 
Ouvidoria da sociedade brasileira. 
Com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o Ministério 
Público alcançou grande relevância no cenário nacional. Passou-se a dar mais 
importância a este órgão estatal, que vem ganhando força e justificando, cada vez 
mais, o fato de ser indispensável à justiça. Se tornou órgão autônomo e 
indispensável a prestação jurisdicional. 
Nesse sentido, destaca Edílson Gonçalves11: 
 
10
 BRASIL, Histórico do Ministério Público no. Disponível em: 
http://www.mpu.gov.br/navegacao/institucional/historico. 
11
 GONÇALVES, Edílson Santana. O Ministério Público no Estado Democrático de Direito. 
Curitiba: Jaruá, 2000, pág. 61. 
21 
 
 
É cediço afirmar que o Ministério Público traduz um ofício integrante da 
essência do Estado, exercendo parcela da soberania, imprescindível à 
própria sobrevivência da sociedade, dada a sua tamanha importância no 
atual momento histórico. 
O Ministério Público deixou de ser um apêndice do Poder Judiciário para se 
transformar num defensor da sociedade em todos os aspectos, com funções 
primordiais e indispensáveis, as quais buscam a aplicação do ordenamento 
constitucional, visando o bem social. Passa-se a ver o Ministério Público como 
instituição desvinculado a outro órgão, com independência funcional para lutar em 
prol da justiça social. 
2.1.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA ESTRUTURA DO ESTADO 
Muito se tem discutido em doutrina sobre qual o posicionamento ideal para o 
Ministério Público na Constituição Federal, como denota Hugo Nigro Mazzili12: 
a) Se dentro do Poder Legislativo (já que fiscaliza a aplicação da lei); 
Se dentro do Poder Judiciário (já que preponderantemente atua junto a ele 
quando da aplicação contenciosa da lei);Se dentro do Poder Executivo (pelo critério residual, já que o Ministério 
Público não faz a lei nem presta jurisdição); 
Se como um quarto Poder de Estado (como já foi sugerido em doutrina); 
Se em título ou capítulo à parte, com garantias de efetiva autonomia 
funcional. 
A posição que prevaleceu na Constituição Federal de 1988 foi a de ficar o 
Ministério Público inserido em capítulo à parte: ―Das funções essenciais à 
Justiça‖, solução semelhante às das Constituições de 1934 e 1946, ou seja, 
na Constituição Federal atual, o Ministério Público não foi erigido 
formalmente à condição de quarto Poder de Estado, mas alcançou 
efetivamente as garantias de Poder. 
A natureza jurídica do Ministério Público é a de órgão do Estado, não de 
Governo. No Brasil sua posição no Estado é muito clara, como visto acima: não faz 
parte do Poder Judiciário, nem tampouco do Poder Legislativo ou Executivo. 
É uma instituição permanente, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do 
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. 
A instituição do Ministério Público é considerada autônoma no meio jurídico, 
eis que não está inserido nem no poder judiciário, tampouco no poder executivo. O 
Ministério Público é uma instituição independente, essencial à função jurisdicional do 
 
12
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 29. 
22 
 
 
Estado, que ganhou maior força após a promulgação da Constituição de 1988, 
Constituição esta conhecida como Constituição Cidadã. 
Nas palavras de Hugo Nigro Mazzili13: 
A Constituição Federal de 1988, denominada de ―Constituição cidadã‖, e de 
nítido caráter democrático, eis que rompe com o regime político anterior, 
deu nova feição ao Ministério Público, estruturando-o com uma série de 
garantias e prerrogativas destinadas a propiciar desempenho satisfatório na 
defesa dos interesses da sociedade, inclusive contra os próprios órgãos do 
Estado. Há certo distanciamento dessa função, na medida em que o Texto 
Constitucional trata do Ministério Público em capítulo próprio, qual seja, 
―Das funções essenciais da justiça‖, com a advocacia defensoria pública e a 
advocacia pública. O Ministério Público passa a ser uma instituição 
permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, desfrutando 
deposição ímpar no sistema constitucional pátrio. 
Se a instituição do Ministério Público estivesse relacionada ao Poder 
Executivo, poderia acarretar alguns problemas no tocante a sua independência 
política e funcional. Saliente-se que essa independência constitui-se em um 
pressuposto da objetividade e da imparcialidade de sua atuação no mister de 
defensor da ordem jurídica. Aplica-se tanto à instituição como aos seus membros. 
Na hipótese de o Ministério Público estar relacionado ao Poder Legislativo 
tem-se que ele poderá ser concebido como um defensor do princípio da legalidade. 
Legalidade essa oriunda do próprio Poder Legislativo, ao qual se encontra vinculado. 
No entanto, aqui o perigo reside na defesa de uma legalidade socialista. 
Se o Ministério Público se encontra dentro da estrutura do Poder Judiciário, 
ele se torna sua dependente ou integrante, o que pode comprometer a sua atuação. 
Hugo Nigro Mazzili14 assevera que: 
Os Estados democráticos preferem relacionar o Ministério Público à 
estrutura constitucional do Poder Judiciário, por conceberem-no como 
função essencial ao desempenho da justiça. No sistema constitucional 
brasileiro o Ministério Público integra as funções essenciais à justiça e é 
erigido ao status de instituição permanente, desvinculada dos demais 
Poderes, constituindo-se em crime de responsabilidade do Presidente da 
República os atos que atentem contra o livre exercício do Ministério Público, 
conforme o disposto no art. 85, II, da Constituição Federal de 1988. De igual 
modo restam vedadas a edição de medida provisória e a delegação 
legislativa em matéria relativa à organização do Ministério Público. 
 
13
 MAZZILLI, Hugo Nigro. MARTINS, Ives Gandra; REZEK, Francisco. O Ministério Público depois 
da Constituição de 1988. Constituição Federal anotada. São Paulo: Revista dos Tribunais e 
Centro de Extensão Universitária, 2008, pág. 411. 
14
 MAZZILLI, Hugo Nigro. MARTINS, Ives Gandra; REZEK, Francisco. O Ministério Público depois 
da Constituição de 1988. Constituição Federal anotada. Pág. 411. 
23 
 
 
Com a Constituição Federal de 1988 o Ministério Público passou a ter 
autonomia e foi erigido como condição de instituição. A circunstância de elencar o 
Ministério Público no rol das funções essenciais à justiça, portanto não submetido ao 
Poder Executivo, lhe conferiu autonomia e independência para exercer o mister 
livremente e se legitimar como defensor da sociedade e dos valores democráticos. 
Ao ser conferido uma série de garantias à própria instituição do Ministério 
Público e aos seus membros, conferiu-se liberdade necessária à sua atuação, 
submetendo-o somente aos limites Constitucionais e às leis. Com a liberdade 
prevista pela Constituição Federal, foi conferida autonomia e os instrumentos e 
garantias necessários para cumprir a sua missão em prol da justiça. 
A instituição do Ministério Público possui autonomia na estrutura do estado e 
não pode ser extinto ou modificado, como já visto não pertence a nenhum dos outros 
poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário. 
A atuação do Ministério Público acabou por legitimá-lo perante a sociedade 
representando hoje a instituição um dos grandes esteios do próprio regime 
democrático. 
2.1.3 FUNÇÕES E PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
PREVISTOS CONSTITUCIONALMENTE 
A atual instituição do Ministério Público possui definição jurídica prevista no 
artigo 127 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, in verbis: 
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função 
jurisdicional do Estado, incumbindo‑lhe a defesa da ordem jurídica, do 
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. 
Como já referido anteriormente, o Ministério Público vem ocupando lugar 
cada vez mais destacado dentro da organização do Estado, dado o alargamento de 
suas funções de proteção de direitos (coletivos, difusos e individuais indisponíveis), 
que ganha realce na Constituição de 1988, tornando esta instituição um dos pilares 
do ordenamento jurídico pátrio. 
Os princípios constituem o alicerce do sistema jurídico ou de uma instituição, 
designam a estruturação de um sistema ou normas por um significado chave, o qual 
conduz o ordenamento e são subordinados. 
24 
 
 
A Constituição Federal disciplinou, em seu artigo 127, §1º, os princípios nos 
quais se alicerça a Instituição do Ministério Público, quais sejam a unidade, a 
indivisibilidade e a independência funcional. 
Como se infere, o Ministério Público possui, entre os demais princípios, 
independência funcional, que significa dizer, de acordo com Hugo Nigro Mazzili15 
que o Ministério Público exerce suas funções de forma livre e sem ingerências de 
qualquer outro órgão Estatal. 
Ressalta, nesse sentido, José Afonso da Silva16 para quem: 
Independência funcional (artigo 127, § 1º) quer dizer que, no exercício de 
sua atividade-fim, o membro do Ministério Público, assim como seus órgãos 
colegiados, têm inteira liberdade de atuação, não ficam sujeitos a 
determinações superiores e devem observância à Constituição e as leis. 
Por sua vez, os princípios da unidade e indivisibilidade, se referem à 
―características‖ da instituição permitindo que os membros do Ministério Público se 
substituam dentro de uma mesma jurisdição ou que atuem de forma conjunta. 
Neste sentidoAcordão Habeas Corpus nº. 132544/PR17: 
HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA POR 
PROMOTOR ATUANTE EM VARA CRIMINAL QUE NÃO A DO TRIBUNAL 
DO JÚRI. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO PRINCÍPIO DO PROMOTOR 
NATURAL. NÃO OCORRÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE 
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA. 1. A instituição do 
Ministério Público é una e indivisível, ou seja, cada um de seus membros a 
representa como um todo, sendo, portanto, reciprocamente substituíveis em 
suas atribuições. Conforme se extrai da regra do art. 5º, LIII, da Carta 
Magna, é vedado pelo ordenamento pátrio apenas a designação de um 
"acusador de exceção", nomeado mediante manipulações casuísticas e em 
desacordo com os critérios legais pertinentes - isto é, considera-se violado o 
princípio se e quando violado o exercício pleno e independente das funções 
institucionais. Precedente da Sexta Turma. 2. A ocorrência de opiniões 
colidentes - manifestadas em momentos distintos por promotores de Justiça 
que atuam na área penal e após a realização de diligências - não traduz 
ofensa ao princípio do promotor natural. 3. No caso, quando encaminhado o 
feito para outro Juízo, não existiam elementos, sob a ótica do promotor de 
Justiça responsável pela Vara do Tribunal do Júri, da existência de crime 
doloso contra a vida, restando evidenciada, posteriormente, no curso das 
investigações, a prática de homicídio doloso, o que ensejou a denúncia 
oferecida pelo promotor atuante na vara criminal comum e a remessa dos 
autos ao Juízo competente. 4. Ordem denegada. Rel. Ministro SEBASTIÃO 
REIS JÚNIOR (1148). DJe 04/06/2012. T6 - SEXTA TURMA. 17/05/2012. 
 
15
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 35. 
16
 SILVA, José Afonso da. O Constitucionalismo brasileiro – evolução institucional. São Paulo, 
Malheiros, 2011, pág. 386. 
17
 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 132.544/PR, 6ª Turma. Rel. Ministro 
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, julgado em 17/05/2012, DJe 04/06/2012. 
25 
 
 
Ainda, com relação à indivisibilidade, Pedro Roberto Decomain18 traz que: 
A indivisibilidade resulta em verdadeiro corolário do princípio da unidade. O 
Ministério Público não se pode subdividir em vários outros Ministérios 
Públicos autônomos e desvinculados uns dos outros. Ao sentir mais uma 
vez de Manoel Gonçalves Ferreira Filho, indivisível quer dizer a ―instituição 
não pode ser duplicada, de modo a que suas funções sejam cometidas a 
estruturas diferentes e paralelas.‖ 
A concepção de promotor natural, assim como juiz natural, remete a uma 
ideia de isenção e imparcialidade inconciliável com a atividade do Ministério Público, 
que é de parte, embora haja sob o critério de legalidade. 
Por tudo isso, pode-se afirmar que o princípio do promotor natural não tem 
fundamento constitucional e os princípios da unidade e indivisibilidade foram 
inadequadamente importados pela Constituição, não correspondendo na prática ao 
contexto brasileiro. 
Aliás, no Superior Tribunal de Justiça - STJ a questão tem sido tratada nos 
seguintes termos, conforme traz Fernando da Costa Tourinho Filho19: 
Constitucional e Processual Penal. ―Habeas corpus‖. Peculato. Princípio do 
Promotor Natural. Garantia constitucional inexistente (art. 127, §1ª, a 
contrário sensu). I – A Constituição, diferentemente do que faz com os 
Juízes, tudo em prol dos jurisdicionados, não garante o ―Princípio do 
Promotor Natural‖. Ao contrário, consagra no §1º do art. 127 os princípios 
da ―Unidade‖ e da ―Indivisibilidade‖ do Ministério Público, dando maior 
mobilidade à instituição, permitindo avocação e substituição do órgão 
acusador, tudo, evidentemente, nos termos da Lei Orgânica. (STJ, RHC º. 
3.061). 
 
Recurso em Habeas Corpus. Violação ao princípio do Promotor Natural. 
Inexistência. 1. A possibilidade de designação de outros membros do 
Ministério Público para atuar em conjunto com o promotor titular é 
expressamente permitida pelo art. 24 da Lei 8.625/1993, não havendo que 
se falar em violação do princípio do promotor natural. (STJ, RHC nº. 
17.035). 
Tendo em vista os entendimentos acima explanados, tem-se que é garantido 
aos membros do Ministério Público a unidade e indivisibilidade, portanto o órgão do 
Ministério Público é uma única instituição, representada por seus Promotores de 
Justiça, os quais exercem suas funções pertinentes, não sendo assegurado o 
princípio do promotor natural, com ressalvas em casos específicos. Como bem 
 
18
 DECOMAIN, Pedro Roberto. Comentários à Lei orgânica nacional do Ministério Público: Lei 
8.625, de 12.02.1993. Florianópolis: Obra Jurídica, 1996, pág. 19. 
19
 FILHO, Fernando da Costa Tourinho. Processo Penal. 12ª Ed. 1990, Saraiva, pág. 308. 
26 
 
 
assevera Hugro Nigro Mazzili20, ―o princípio do promotor natural comporta diversas 
aplicações práticas‖. 
Pode-se dizer que, em tese, o princípio do promotor natural é equiparado ao 
do Juiz, posto que o membro do Ministério Público é quem oficia em um processo ou 
inquérito policial. Visa garantir tanto ao membro do Ministério Público quanto ao 
processado, que seja assegurado o exercício pleno e independente de seu ofício. 
Sobre os princípios institucionais o Constitucionalista Pedro Lenza21 definiu-os 
da seguinte forma: 
Unidade: sob a égide de um só Chefe, o Ministério Público deve ser visto 
como uma instituição única, sendo a divisão existente meramente funcional. 
Importante notar, porém, que a unidade se encontra dentro de cada órgão, 
não se falando em unidade entre o Ministério Público da União (qualquer 
deles) e o dos Estados, nem entre os ramos daquele. 
Indivisibilidade: corolário do princípio da unidade, em verdadeira relação 
de logicidade, é possível que um membro do Ministério Público substitua 
outro, dentro da mesma função, sem que, com isso, exista qualquer 
implicação prática. Isso porque quem exerce os atos, em essência, é a 
instituição ―Ministério Público‖, e não a pessoa do Promotor de Justiça ou 
Procurador. 
Independência funcional: trata-se de autonomia de convicção, na medida 
em que os membros do Ministério Público não se submetam a qualquer 
poder hierárquico no exercício de seu mister, podendo agir, no processo, da 
maneira que melhor entenderem. A hierarquia existente restringe-se às 
questões de caráter administrativo, materializada pelo Chefe da Instituição, 
mas nunca, como dito, de caráter funcional. Tanto é que o art. 85, II da 
CF/88 considera crime de responsabilidade qualquer ato do Presidente da 
República que atentar contra o livre exercício do Ministério Público. 
Responsabilidade: qualquer ato do Presidente da República que atentar 
contra livre-exercício do Ministério Público. 
Os princípios institucionais elencados acima tem a função estruturante da 
instituição, os quais devem ser observados e aplicados no ordenamento jurídico, sob 
pena de se considerar violação ao texto constitucional. Os princípios trazem 
garantias ao sistema jurídico e aos membros do Ministério Público, garantindo que o 
Ministério Público exerça de forma livre e sem pressões e influências a sua missão 
constitucional, de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses 
sociais e individuais indisponíveis. 
Essas garantias asseguradas ao Ministério Público visam afirmar ainda mais 
as funções desta tão importante instituição, coibindo de forma fundamental os 
crimes sem envolvimentos de outras instituições. 
 
20
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 37. 
21
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2010, 
pág.672. 
27 
 
 
Hugo Nigro Mazzili22 traz as garantias do Ministério Público:―Garantias são 
atributos que se destinam a assegurar o livre exercício das funções: a) do próprio 
Ministério Público, como instituição; b) de seus órgãos e membros, como agentes.‖ 
A Constituição Federal de 1988 estabelece três tipos de garantias para o 
Ministério Público, quais sejam em relação à instituição, aos seus órgãos e aos seus 
membros. 
Preliminarmente deve-se estabelecer a distinção entre impedimentos e 
vedações. 
Impedimentos, nos ensinamentos de Hugo Nigro Mazzili23, são 
impossibilidades materiais ou jurídicas para que um membro do Ministério Público 
exerça suas funções. As vedações do Ministério Público são semelhantes às da 
Magistratura, conforme estabelecido no artigo 128, §5º, inciso II da Constituição 
Federal de 1988. 
Ainda no código de processo penal no artigo 104 prevê a possibilidade da 
arguição de exceção de suspeição contra membros do ministério público e em seu 
artigo 258 do mesmo diploma legal prevê que a eles se estendem, no que lhes for 
aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes, 
sendo-lhes vedado atuar em processos que sejam partes, seu cônjuge, ou parente, 
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau. 
Nas palavras de Hugo Nigro Mazzili24: 
a) Vedações (de caráter absoluto), ou seja, são impedimentos éticos ou 
jurídicos que geram incompatibilidades (por exemplo: não atuar no processo 
em que ele próprio seja parte); 
b) Causas de suspeição (de caráter relativo), em cuja ocorrência o 
legislador presume haja parcialidade do membro do Ministério Público 
(amizade íntima ou inimizade capital com a parte). 
Ainda sobre vedações assevera o citado autor: 
a) Receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, 
percentagens ou custas processuais (se o Ministério Público for vitorioso na 
ação, seus membros não podem receber honorários; se sucumbir, os ônus 
da sucumbência ficarão a cargo do Estado); 
b) Exercer a advocacia (aos membros do Ministério Público veda-se 
qualquer forma de postulação ou consultoria jurídica fora das atividades 
próprias à instituição ministerial, quer essa postulação se dê perante o 
Poder Judiciário ou não; além de vedar-se a consultoria jurídica, veda-se 
 
22
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 49. 
23
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 49. 
24
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 57. 
28 
 
 
também a representação das entidades públicas pelos membros do 
Ministério Público); 
c) Participar de sociedade comercial, na forma da lei (entende-se que o 
membro do Ministério Público pode participar de sociedades de capital, 
como sociedades anônimas ou de responsabilidade limitada, mas não de 
sociedades de pessoas; com maior razão, os membros do Ministério 
Público não podem exercer o comércio individual); 
d) Exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, 
salvo uma de magistério; 
e) Exercer atividade político-partidária, salvo exceções previstas em lei. 
Tais fundamentos encontram respaldo para que se preserve sua função, 
visando garantir a independência, a isenção ou a dedicação dos membros do 
Ministério Público. Visa ainda evitar causas de nulidade no processo em que for 
arguida a suspeição do membro do Ministério Público, podendo causar interposição 
de recurso, sendo reconhecida a nulidade dos atos por ofensa ao princípio 
constitucional. 
Ainda no artigo 129 da Constituição da República Federativa do Brasil, estão 
elencadas as funções institucionais do Ministério Público: 
Art. 129. São funções institucionais do ministério Público: 
I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; 
II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de 
relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, 
promovendo as medidas necessárias a sua garantia; 
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do 
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos 
e coletivos; 
IV – promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins 
de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta 
Constituição; 
V – defender judicialmente os direitos e interesses das populações 
indígenas; 
VI – expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua 
competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na 
forma da lei complementar respectiva; 
VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei 
complementar mencionada no artigo anterior; 
VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito 
policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações 
processuais; 
IX – exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que 
compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial 
e a consultoria jurídica de entidades públicas. 
[...] 
Destaca-se que a Constituição Federal enumera de forma exemplificativa tais 
funções, neste sentido Pedro Lenza25 assevera que: 
 
25
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Pág. 677. 
29 
 
 
Trata-se de rol meramente exemplificativo, uma vez que seu inciso IX 
estabelece que compete, ainda, ao Ministério Público exercer outras 
funções que lhes forem conferidas, desde que compatíveis com sua 
finalidade. 
Da análise do texto constitucional se pode auferir que o legislador constituinte 
atribuiu ao Ministério Público a defesa da sociedade, tanto no campo penal quanto 
no campo cível, trazendo a instituição à titularidade da ação penal pública de forma 
exclusiva, bem como a titularidade do inquérito civil e da ação civil pública. 
De acordo com o entendimento de Hugo Nigro Mazzili26: 
Embora o art. 129 da CF diga estar referindo-se às funções institucionais do 
Ministério Público, na verdade, refere-se antes a seus instrumentos de 
atuação institucional (ação penal pública, ação civil pública, inquérito civil, 
requisições, notificações etc.). Funções institucionais do Ministério Público 
são aquelas previstas no art. 127, caput, ou seja, aqueles fins para os quais 
existe e para cujo adimplemento o Ministério Público emprega os 
instrumentos de atuação que a lei lhe conferiu; assim, estão entre suas 
funções institucionais a defesa do regime democrático, a defesa dos 
interesses sociais e dos individuais indisponíveis. 
Assim, o Ministério Público é instituição que visa garantir e defender os 
interesses coletivos ou individuais indisponíveis, dentre outras funções que lhe são 
asseguradas no texto constitucional, bem como em Leis Complementares. Para 
tanto, existem garantias que buscam criar condições para se efetuar tais objetivos, 
sem influência de conflitos internos ou externos à instituição ou mesmo 
subordinação. 
Segundo o mesmo autor, a melhor distinção já feita entre funções e 
instrumentos foi feita pela Lei Complementar nº. 75/93 (LOMPU), em seus artigos 5º 
e 6º, respectivamente. 
Com efeito, considera a Lei como função institucional do Ministério Público da 
União o seguinte: 
Art. 5º São funções institucionais do Ministério Público da União: 
 I - a defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses 
sociais e dos interesses individuais indisponíveis, considerados, dentre 
outros, os seguintes fundamentos e princípios: 
a) a soberania e a representatividade popular; 
b) os direitos políticos; 
c) os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil; 
d) a indissolubilidade da União; 
e) a independência e a harmonia dos Poderes da União; 
f) a autonomia dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;26
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 64. 
30 
 
 
g) as vedações impostas à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos 
Municípios; 
h) a legalidade, a impessoalidade, a moralidade e a publicidade, relativas à 
administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos 
Poderes da União; 
II - zelar pela observância dos princípios constitucionais relativos: 
a) ao sistema tributário, às limitações do poder de tributar, à repartição do 
poder impositivo e das receitas tributárias e aos direitos do contribuinte; 
b) às finanças públicas; 
c) à atividade econômica, à política urbana, agrícola, fundiária e de reforma 
agrária e ao sistema financeiro nacional; 
d) à seguridade social, à educação, à cultura e ao desporto, à ciência e à 
tecnologia, à comunicação social e ao meio ambiente; 
e) à segurança pública; 
III - a defesa dos seguintes bens e interesses: 
a) o patrimônio nacional; 
b) o patrimônio público e social; 
c) o patrimônio cultural brasileiro; 
d) o meio ambiente; 
e) os direitos e interesses coletivos, especialmente das comunidades 
indígenas, da família, da criança, do adolescente e do idoso; 
IV - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos da União, dos serviços 
de relevância pública e dos meios de comunicação social aos princípios, 
garantias, condições, direitos, deveres e vedações previstos na Constituição 
Federal e na lei, relativos à comunicação social; 
V - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos da União e dos serviços 
de relevância pública quanto: 
a) aos direitos assegurados na Constituição Federal relativos às ações e 
aos serviços de saúde e à educação; 
b) aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e da 
publicidade; 
VI - exercer outras funções previstas na Constituição Federal e na lei. 
Noutro aspecto, o artigo 6º traz uma série de instrumentos necessários para 
que o Ministério Público possa dar consecução nos seus objetivos institucionais, 
dentre as quais se destacam: 
Ação direta de inconstitucionalidade, respectivo pedido de medida cautelar, 
ação direita de inconstitucionalidade por omissão, arguição de descumprimento de 
preceito fundamental, representação para intervenção federal, ação penal pública, 
habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção, inquérito civil e ação 
civil pública, defender direitos e interesses das populações indígenas, ação civil 
coletiva para defesa de interesses individuais homogêneos, ações necessárias ao 
exercício de suas funções institucionais, ações cabíveis, representar, 
responsabilidade. 
Ademais, cabe o exercício de outras atribuições pelo Ministério Público que 
lhe forem respaldadas por lei, desde que compatíveis com sua finalidade, cm intuito 
de valorizar a instituição, além de assegurar o benefício da comunidade. 
31 
 
 
Destaca-se, também, a atuação do Ministério Público como custus legis o 
fiscal da lei, visando à aplicação da lei de forma correta, bem como a titularidade 
exclusiva da ação penal pública (dominis litis em tal matéria), sendo o titular 
exclusivo da referida ação. 
Hugo Nigro Mazzili27 nos ensina que o Ministério Público tem dois tipos de 
função, devendo atuar sempre com observância aos requisitos constitucionais, quais 
sejam: 
Típicas são as funções intrinsecamente próprias do Ministério Público, ou 
seja, aos do que apenas compatíveis, são funções às quais o Ministério 
Público está diretamente votado (o combate ao crime, a defesa do meio 
ambiente, a defesa de interesses difusos e coletivos etc.). Naturalmente, 
nem todas as funções típicas são privativas do Ministério Público. 
Atípicas são as funções que o Ministério Público ainda exerce, mas que 
estão fora de sua atual destinação geral (como a defesa cível da vítima 
pobre ou do reclamante trabalhista, na ação civil ex delicto ou na 
reclamação trabalhista, hipóteses estas de atuação transitória, enquanto 
não sejam criados e estejam em efetivo funcionamento os órgãos próprios 
de assistência judiciária). 
Cumpre destacar com a discussão existente quanto às atuações do Ministério 
Público em ações de usucapião e divórcio que tenham nos polos ativos e passivos 
pessoas maiores e capazes: embora atualmente a lei prevê tal atuação por parte do 
Ministério Público, mas está se formando uma tendência de se limitar referida 
atuação, encaixando dentro do próprio texto constitucional, artigo 127, caput, e 
artigo 129, IX da Constituição Federal, nos quais o interesse de agir do Ministério 
Público só se dá em casos específicos como, por exemplo, em ações que envolvam 
menores e incapazes ou em interesses sociais e interesses individuais indisponíveis. 
Pode-se concluir, de acordo com o até aqui exposto, que o Ministério Público, 
após a promulgação da Constituição Federal de 1988, ganhou grande relevância no 
ordenamento jurídico, se tornando instituição essencial à justiça, que busca defender 
os interesses coletivos e individuais, que possui atribuições, garantias e vedações 
previstas no texto constitucional e que ainda, possui um amplo leque de meios, 
previstos em Leis Complementares, que visam adicionar a instituição. Instituição de 
papel fundamental, que visa combater crimes organizados, hediondos, dentro outros 
que a própria policial judiciária não obtenha meios de fazer. 
A par de tais conceitos, é possível a busca de uma definição de Ministério 
Público, objeto do próximo item deste capítulo. 
 
27
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 64. 
32 
 
 
2.1.4 DEFINIÇÃO DE MINISTÉRIO PÚBLICO 
Verificou-se no capítulo anterior que de acordo com o texto constitucional, o 
Ministério Público é instituição permanente, una e indivisível, essencial à função 
jurisdicional do Estado, com a incumbência de defender os interesses da sociedade 
e os interesses sociais e individuais indisponíveis. Além disso, cumpre destacar que 
a instituição possui autonomia para organizar as suas funções administrativas e 
independência para gerir e executar o seu orçamento, estando sujeito unicamente à 
Constituição Federal e à legislação vigente. 
Com fundamento no até aqui exposto, oportuno o entendimento de Hugo 
Nigro Mazzili28 para quem o Ministério Público: 
Trata-se de um órgão autônomo do Estado, indispensável para assegurar a 
inércia do Poder Judiciário e para garantir efetivo acesso à jurisdição, 
quando da ocorrência de lesões a interesses públicos ou coletivos, tomados 
estes em seu sentido lato. 
A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público – Lei 8.625/1993, definiu a 
instituição com a mesma redação dada no artigo 127 da Constituição Federal, citado 
acima. 
De acordo com Pedro Lenza29 foram editados diplomas legais, visando a 
complementação da Constituição Federal de 1988, trazendo formas de organizações 
da instituição do Ministério Público e conceituando outros procedimentos utilizados 
por tal instituição, quais sejam: 
Lei nº. 8.625, de 12/02/1993: Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, 
dispondo sobre normas gerais para a organização do Ministério Público dos 
Estados; 
Lei Complementar nº. 75, de 20/05/1993: Lei Orgânica do Ministério Público 
da União (de caráter federal e não nacional, como a Lei Orgânica Nacional 
do Ministério Público), dispondo sobre a organização, atribuições e estatuto 
do Ministério Público da União (Ministério Público Federal – arts. 3-82; 
Ministério Público Militar – arts. 116-148; Ministério Público do Trabalho – 
arts. 83-115 e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – arts. 149-
181, todos independentes entre si). Leis complementares estaduais: cada 
Estado elabora a sua; para se ter um exemplo, a Lei Complementar nº. 74, 
de 26/11/1991, Lei Orgânica do Ministério Público do Estadode São Paulo. 
O Ministério Público exerce a atividade de controle, verificando e fiscalizando 
as notícias crime, instrumento de registro de ocorrências, as providências cabíveis, 
 
28
 MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. Pág. 17. 
29
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. Pág. 667. 
33 
 
 
andamento de investigação, tramitação de inquéritos policiais e procedimentos 
judiciais e extrajudiciais, o cumprimento de decisões judiciais, cumprimento de 
requisições do próprio Ministério Público, a detenção de presos e execução de pena 
de condenados. 
Também estão inseridas nas atividades de controle externo do Ministério 
Público as de prevenção e repressão que afetem o cidadão e a sociedade. Atua em 
prol da saúde pública, do meio ambiente, da criança e do adolescente, das famílias, 
do idoso, das pessoas portadoras de necessidades especiais, do patrimônio público, 
dos direitos do consumidor, enfim atua em todas as áreas do direito, os quais são 
previstos constitucionalmente, sempre visando a proteção dos cidadãos. 
Para Hugo Nigro Mazzili30, no caput do artigo 127 da Constituição Federal 
pode-se encontrar os seguintes conceitos: 
a) Instituição permanente: Diz a Constituição que o Ministério Público é 
instituição permanente. A assertiva, que já constava do art. 1° da Lei 
Complementar federal n. 40, de 14 de dezembro de 1981, e que agora foi 
consagrada na Constituição da República de 1988 (art. 127), parte do 
pressuposto de que o Ministério Público é um dos órgãos pelos quais o 
Estado atual manifesta sua soberania; ora, entre as instituições públicas, 
caracterizadas por um fim a realizar no meio social, o Ministério Público tem 
a destinação permanente de defender a ordem jurídica, o próprio regime 
democrático e ainda os interesses sociais e individuais indisponíveis, 
inclusive e principalmente perante o Poder Judiciário, junto ao qual tem a 
missão de promover a ação penal pública. 
b) Zelo das principais formas de interesse público: Destina-se o Ministério 
Público à defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses 
sociais e individuais indisponíveis: em última análise, trata-se do zelo do 
interesse público. Ainda que muito criticada a expressão ―interesse público‖, 
por sua imprecisão, parece-nos preferível à enumeração falha, porque 
casuística, de outros textos que, na busca de cobrir todo o campo de 
atuação ministerial, elencam interesses sociais, interesses indisponíveis do 
indivíduo e da coletividade, interesses coletivos, difusos, transindividuais 
etc. Num sentido lato, portanto, até o interesse individual, se indisponível, é 
interesse público, cujo zelo é cometido ao Ministério Público (CR, art. 127); 
a defesa do próprio interesse coletivo também pode coincidir com o zelo do 
interesse público empreendido pela instituição (CR, art. 129, III). 
c) O Ministério Público e a função jurisdicional: A referência a ser ―essencial 
à função jurisdicional do Estado‖, que já se achava presente no art. 1º da 
Lei Complementar n. 40/81, bem como constava do art. 308 do Anteprojeto 
Afonso Arinos, não deixa de ser incorreta: diz menos do que deveria (o 
Ministério Público tem inúmeras funções exercidas independentemente da 
prestação jurisdicional, como na fiscalização de fundações e prisões, nas 
habilitações de casamento, na homologação de acordos extrajudiciais, no 
atendimento ao público), como, paradoxalmente, diz mais do que deveria 
(pois o Ministério Público não oficia em todos os feitos submetidos à 
prestação jurisdicional, e sim, normalmente, naqueles em que haja algum 
interesse indisponível, difuso ou coletivo, ligado à qualidade de uma das 
partes ou à natureza da própria lide — cf. art. 82 do CPC). 
 
30
 MAZZILI, Hugo Nigro. Manual do Promotor de Justiça. 2010. Versão Eletrônica, pág. 42 
34 
 
 
Entretanto, lançando a própria Constituição a assertiva de que o Ministério 
Público é essencial à atividade jurisdicional do Estado, por certo agora abre 
caminho para maior ou quiçá integral participação do Ministério Público 
junto à tarefa da prestação jurisdicional, podendo-se cogitar, de lege 
ferenda, de sua intervenção em todos os feitos, ad instar do que ocorre com 
o procurador-geral da República perante o Supremo Tribunal Federal. 
d) A defesa da ordem jurídica: O novo texto constitucional menciona a 
defesa da ordem jurídica como objetivo da atuação ministerial (art. 127). Há 
muito consagrado o Ministério Público como instituição fiscal da lei, essa 
sua destinação constitucional deve ser compreendida à luz dos demais 
dispositivos da Lei Maior que disciplinam sua atividade, e, em especial, à luz 
de sua própria finalidade tuitiva de interesses sociais e individuais 
indisponíveis. Além disso, não se pode olvidar que o art. 129, IX, lhe veda 
exercer outras funções que não sejam compatíveis com sua finalidade, 
como, por exemplo, a representação judicial e a consultoria jurídica de 
entidades públicas. 
e) Ministério Público e democracia: Há estreita ligação entre democracia e 
um Ministério Público forte e independente. Já na Exposição de Motivos do 
primeiro texto legal que deu organicidade à instituição, na abertura da 
República, dizia Campos Salles: ―O Ministério Público é instituição 
necessária em toda organização democrática e imposta pelas boas normas 
da justiça, à qual compete: velar pela execução das leis, decretos e 
regulamentos que devem ser aplicados pela Justiça Federal e promover a 
ação pública onde ela convier‖ (Dec. n. 848, de 11-10-1890). 
O Ministério Público é instituição que só atinge sua destinação última em 
meio essencialmente democrático. Em parecer ofertado sob instâncias da 
Associação Paulista do Ministério Público, Eurico de Andrade Azevedo 
assegurou, com razão, que ―a manutenção da ordem democrática e o 
cumprimento das leis são condições indispensáveis à existência de respeito 
e ao estabelecimento da paz e da liberdade entre as pessoas. Há, pois, 
uma íntima relação, delimitada em lei, entre o equilíbrio da vida social e o 
fiel exercício das funções próprias do Ministério Público‖. Ao reconhecer-se 
o papel da instituição em defesa do regime democrático, retomou-se ideia 
que já vinha do Anteprojeto Afonso Arinos e da Carta de Curitiba, inspiração 
haurida da Constituição portuguesa de 1976, que atribui ao Ministério 
Público a defesa da ―legalidade democrática‖ (art. 224, 1). 
A atuação do Ministério Público pressupõe a indisponibilidade de um 
interesse ligado a uma pessoa (ex. incapaz), indisponibilidade de um interesse 
ligado a uma relação jurídica (ex. estado) e a presença de uma questão de 
abrangência social (ex. interesses transindividuais). Ainda a Constituição Federal de 
1988 trouxe ao Ministério Público o encargo de defesa do regime democrático, 
visando que o Ministério Público mantenha a ordem democrática e o cumprimento 
das leis que são condições para manter a liberdade das pessoas e a paz social.
35 
 
 
3 O CRIME ORGANIZADO 
No presente capítulo buscar-se conceituar e traçar o panorama histórico do 
crime organizado dentro do ordenamento jurídico, bem como a precariedade que 
acompanha as investigações criminais realizadas pela polícia judiciária. 
O crime organizado é tema de destaque nesta área, em razão da 
preocupação da sociedade mundial com a existência de grupos criminosos 
organizados voltados a uma gama de crimes de alto potencial ofensivo. 
Nas palavras de Luiz Roberto Ungaretti de Godoy31, os problemas 
socioeconômicos e a instabilidade de valores e princípios, aliados a ineficácia dos 
direitos fundamentais, acarretam um crescimento do crime organizado, ofendendo 
bens jurídicos fundamentais, tais como a vida, liberdade, paz pública,probidade 
administrativa, liberdade sexual, meio ambiente, dentre tantos outros bens que são 
afetados por estas organizações criminosas que vêm se formando com mais 
frequência e se aprimorando cada vez mais, como se tratará a seguir. 
Em razão deste constante aprimoramento, bem como das características 
inerentes a esse tipo de criminalidade, nem sempre o Inquérito Policial é ferramenta 
adequada para a persecução penal. 
Neste diapasão, pode-se entender-se que o inquérito policial, ferramenta de 
captação de provas para formar a opinio delicti, é dispensável para a propositura da 
ação penal. Em todo caso, abordar-se-á o tema sob o viés de sua inoportunidade 
para a persecução penal dos atos de organização criminosa. 
Será abordado a problemática do crime organizado no Brasil, suas 
características e forma de agir, bem como as duas das principais organizações 
criminais que atuam em nosso País. A corrupção dos agentes estatais em prol do 
crime organizado e a evolução que o crime organizado teve com o passar dos 
tempos. 
Abordar-se-á ainda o crime organizado em determinados Países da América 
Latina e Europa, trazendo suas formas de organização, bem como a forma de 
combate utilizado pelos ordenamentos jurídicos dos referidos países. 
 
31
 GODOY, Luiz Roberto Ungaretti. Crime organizado e seu tratamento jurídico penal. Rio de 
Janeiro: Elsevier, 2011. Pág. 16. 
36 
 
 
3.1 CONCEITO 
A doutrina e jurisprudência atualmente divergem sobre a conceituação de 
crime organizado. O artigo 2º do Projeto de Lei nº. 3.516, de 24 de agosto de 1989, 
de autoria do Deputado Federal Michel Temer, assim definia organização criminosa: 
Art. 2º. Para efeitos desta Lei, considera-se organizações criminosas 
aquelas que, por suas características, demonstrem a exigência de estrutura 
criminal, operando de forma sistematizada, com atuação regional, nacional 
e/ou internacional. 
Desde a definição proposta por Michel Temer, a sociedade se modificou e 
evoluiu, vindo a proclamar modificações, eis que a legislação encontrava-se 
obsoleta e superada, haja vista que primava não só as organizações criminosas, 
mas o direito de ir e vir do cidadão, os quais pleiteavam mudanças na forma de 
combate as organizações criminosas. 
Nos ensinamentos de Luiz Roberto Ungaretti de Godoy32, somente no dia 06 
de abril de 1995, após longos anos de tramitação no Congresso Nacional, foi 
apresentado o substitutivo do Senado Federal ao Projeto de Lei nº. 3.516 de 1989, 
que modificava o aludido artigo 2º do Projeto de Lei nº. 3.516, passando a ter a 
seguinte redação: 
Art. 2º. Considera-se crime organizado o conjunto de atos delituosos que 
decorrem ou resultem das atividades de quadrilha ou bando, definidos no 
§1º do art. 288 do Decreto Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – 
Código Penal. 
Após diversas alterações no texto legal, a fim de se encontrar uma 
conceituação adequada de crime organizado ou organização criminosa, só em 12 de 
março de 2004, após a promulgação da Convenção das Nações Unidas contra o 
Crime Organizado, também conhecida como Convenção de Palermo, é que no 
ordenamento jurídico brasileiro passou a dispor de conceituação de crime 
organizado. 
Através do artigo 2º do Decreto nº. 5.015, de 12/03/04, foi inserido no sistema 
penal brasileiro o conceito de organização criminosa, qual seja: 
"Grupo criminoso organizado" - grupo estruturado de três ou mais pessoas, 
existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de 
 
32
 GODOY, Luiz Roberto Ungaretti. Crime organizado e seu tratamento jurídico penal. Pág. 54. 
37 
 
 
cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente 
Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício 
econômico ou outro benefício material. 
Para Carlo Velho Masi33, recentemente a jurisprudência respaldada na 
Recomendação nº. 03 do CNJ, de 30 de maio de 2006, vinha adotando a definição 
de "grupo criminoso organizado" da Convenção de Palermo, nos moldes do artigo 1º 
da Lei 9.034/95 (redação dada pela Lei 10.217/01), com a tipificação do artigo 288 
Código Penal, in verbis: 
Para efeitos da presente Convenção, entende-se por: a) ‗Grupo Criminoso 
Organizado‘ - grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há 
algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma 
ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a 
intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro 
benefício material. 
A verdade é que, após sucessivas discussões, ainda não se encontrou a 
conceituação adequada de organização criminosa, havendo, como se disse no 
início, divergência entre doutrina e jurisprudência a respeito do tema. 
A conceituação mais utilizada recentemente era a prevista no artigo 2º do 
Decreto nº. 5.015, de 12/03/04 cumulada com o conceito de associação presente no 
artigo 288 do Código Penal Brasileiro: ―Associarem-se mais de três pessoas, em 
quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: pena – reclusão de 01 (um) a 03 
(três) anos‖. 
Houve ainda a promulgação da Lei nº. 12.694/2012 a qual conceituava 
organização criminosa dispondo que a associação de 03 (três) ou mais pessoas, 
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que 
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer 
natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 
(quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional. 
Atualmente entrou em vigor a Lei nº. 12.850, de 02 de agosto de 2013, com 
vacacio legis de 45 dias, trazendo a definição de organização criminosa, dispondo 
sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais 
 
33
 MASI, Carlo Velho. A inconsistência do conceito jurisprudencial de organização criminosa e 
sua influência no combate efetivo ao crime organizado. Disponível em: 
http://jus.com.br/artigos/19917/a-inconsistencia-do-conceito-jurisprudencial-de-organizacao-criminosa-
e-sua-influencia-no-combate-efetivo-ao-crime-organizado#ixzz2fXvNSxMe 
38 
 
 
correlatas e o procedimento criminal, bem como revogando a Lei nº. 9.034, de 3 de 
maio de 1995 (antigo diploma regulador de tais práticas). 
Nas palavras de Guilherme de Souza Nucci34, organização criminosa: 
É a associação de agentes, com caráter estável e duradouro, para o fim de 
praticar infrações penais, devidamente estruturada em organismo pré-
estabelecido, com divisão de tarefas, embora visando ao objetivo comum de 
alcançar qualquer vantagem ilícita, a ser partilhada entre os seus 
integrantes. O conceito adotado pela nova Lei 12.850/2013 não é muito 
diferente, prevendo-se, no art. 1º, § 1º, o seguinte: ―considera-se 
organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas 
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que 
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de 
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas 
máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter 
transnacional‖. 
Com o advento desta lei, percebe-se que esta nova definição de organização 
criminosa difere, ainda que sutilmente, da primeira (prevista na Lei nº. 12.694/2012) 
em três aspectos, conforme nos ensina Rômulo de Andrade Moreira35: considera-se 
organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas [...]; mediante a 
prática de infrações penais [...] e penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos 
[...]. 
Nesse sentido Rômulo de Andrade

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