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Título: "O Direito como instrumento de inclusão das Pessoas Portadoras de necessidades Especiais - PNE" Introdução Segundo dados da Organização Mundial de Saúde - OMS, aproximadamente 10% de qualquer população são portadoras de algum tipo de deficiência. O Brasil, conforme dados do ultimo censo do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, já ultrapassou a barreira dos 200 milhões de habitantes, resultando que aproximadamente 20 milhões de pessoas possuem alguma deficiência. Tais indivíduos, que doravante chamaremos de PNEs – Portadores de Necessidades Especiais, são pessoas que possuem dificuldades de interação com a sociedade, em função de diferenças em seu corpo físico, em seu desenvolvimento intelectual ou em seus sentidos. Todavia, são merecedores dos mesmos direitos e garantias de todos nós, como: respeito, educação, lazer, trabalhos, saúde, etc... Nem sempre essa foi a postura adotada. Um breve histórico acerca da visão da sociedade e da forma de tratamento dada aos portadores de algum tipo de deficiência nos mostra que: Na história da humanidade, o deficiente sempre foi vitima de segregação, pois a ênfase era na sua incapacidade física, e, em sua anormalidade. Até o século XV crianças deformadas eram jogadas nos esgotos da Roma Antiga. Na Idade Média, deficientes encontram abrigo nas igrejas, como o “Quasímodo” do livro o Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo, que vivia isolado na Torre da Catedral de Paris. Na mesma época os deficientes ganham uma função: Bobos da Corte. Martinho Lutero defendia que deficientes mentais eram seres diabólicos que mereciam castigos para ser purificados. Já, no século XVI a XIX, as pessoas com “Deficiência Físicas e Mentais” continuam isoladas do resto da sociedade, mas agora em asilos, conventos e albergues. Surge o primeiro hospital na Europa, mas todas as instituições dessa época não passam de prisões sem tratamento especializado e nem programas educacionais com currículos adaptados para esta clientela. À partir do século XX houve avanços no tratamento dado aos portadores de deficiência, até mesmo em função do aumento destas em função de mutilados em guerras havidas; e a criação e desenvolvimento de programas voltados à reabilitação de crianças com deficiência, culminando em um amadurecimento e avanço nas áreas de cidadania e direitos humanos, provocando uma nova visão das pessoas portadoras de necessidades especiais. A sociedade evoluiu partindo da execução sumária, ao exílio, à inserção social e, nos dias atuais, à inclusão dos portadores de deficiência, agora tratados como PNEs. O Direito, que tem como característica se desenvolver e evoluir com as mudanças da sociedade, através de preceitos normativos, acaba por influenciar e garantir, cada dia mais, a inclusão dos portadores de necessidades especiais, garantindo seus direitos e seu total desenvolvimento. Já não tratamos aqui mais de integração social, ou seja, a inserção da pessoa PNE preparada para conviver na sociedade, devendo esta se adaptar ao meio; hoje nos referimos à inclusão social, que nada mais é do que: a modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer a cidadania. A prática da inclusão social repousa em princípios até então considerados incomuns, tais como: a aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da diversidade humana, a aprendizagem através da cooperação. Portanto, a inclusão social é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade através de pequenas e grandes transformações, nos ambientes físicos (espaços internos e externos, equipamentos, aparelhos e utensílios, mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas, inclusive o PNE. Mas como tais mudanças se refletem em termos eficazes, especialmente em nosso país? Como a legislação e a jurisprudência pátrias têm criado mecanismos para que, os Portadores de Necessidades Especiais, tenham garantidos seus direitos, fomentando uma maior inclusão destes à sociedade brasileira? PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS NO MERCADO DE TRABALHO Previsão legal dos direitos e garantias dos Portadores de Necessidades Especiais: A Constituição Federal em seu art. 7º, inciso XXXI veda a discriminação dos portadores de deficiência no que tange à salário e critérios de admissão. Demonstra-se aqui o “Princípio da Igualdade”, : Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência. Não apenas no tocante aos salários e critérios de admissão existe, em nossa Carta Magna, referência aos portadores de necessidades especiais. Está previsto no artigo 37, inciso VII, CF/88, a reserva, para estes, de 20% das vagas, em cargos ou empregos públicos. Art. 37. (...) VIII – a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão. (Constituição Federal, 2009). A nº. 8.213/1991 (Lei da Previdência Social) em seu artigo 93, estabelece que as empresas privadas com mais de 100 funcionários, devem preencher entre 2 à 5% de suas vagas com trabalhadores que possuem alguma necessidade especial, garantindo que, em caso de dispensa imotivada, outro trabalhador, nas mesmas condições deverá ser contratado: Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: I - até 200 empregados..............................................2%; II - de 201 a 500........................................................3%; III - de 501 a 1.000....................................................4%; IV - de 1.001 em diante. ...........................................5%. § 1º A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante. O fato é que apenas a legislação não tem sido suficiente para garantir os direitos inerentes aos PNE’s, uma vez que, em uma sociedade capitalista, a busca constante das empresas por maior produtividade e consequentemente maiores lucros, ainda faz com que os portadores de necessidades especiais, sejam ainda vistos com preconceito. Sob alegações de baixa escolaridade e ante a necessidade de adaptações das empresas para recebe-los, e apesar de todos os programas capacitadores desenvolvidos, não há a garantia que a inclusão realmente esteja ocorrendo, embora grandes avanços podem ser percebidos, ainda existem etapas a serem cumpridas. Jurisprudência TST - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA AIRR 1694820115090091 169- 48.2011.5.09.0091 (TST) Data de publicação: 16/08/2013 Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO MORAL COLETIVO. CONTRATAÇÃO DE PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS. OBRIGAÇÃO DE FAZER . 1. Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho da 9ª Região julgada procedente para - I - determinar que a Reclamada contrate portadores de necessidades especiais, na proporção de 5% do total de trabalhadores das empresas e somente proceda a dispensa de empregado PNE após contratação de respectivo substituto, também PNE; II - concede-se o prazo de 120 dias para cumprimento da referida obrigação de fazer, sob penade multa diária de R$ 50,00 para cada PNE não contratado, a qual reverterá ao FAT; e IV - condena-se, por consequência, a Reclamada ao pagamento de indenização por dano moral coletivo no importe de R$ 50.000,00 reversível ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) -. 2. Na hipótese, a empresa não logra o trânsito do recurso de revista, por falta do correto aparelhamento. Com efeito, os dois únicos arestos apresentados são inservíveis para demonstração de divergência jurisprudencial, na medida em que oriundos do mesmo e. TRT prolator do v. acórdão recorrido não estando tal possibilidade elencada no permissivo do art. 896 da CLT. Nesse sentido a OJ-SBDI-1-TST-111. 3. Insta registrar que, no tocante ao valor da indenização, melhor sorte não atrai à empresa ré, cujo apelo se mostra carente da necessária fundamentação jurídica a que aludem as alíneas -a- e -c- do artigo 896 da CLT. Agravo de instrumento conhecido e não provido. TJ-PI - Mandado de Segurança MS 201100010030853 PI (TJ-PI) Data de publicação: 09/02/2012 Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATO APROVADO FORA DO NÚMERO DE VAGAS. CRIAÇAO DE NOVAS VAGAS. EXONERAÇAO DE CANDIDATO NOMEADO GERA VACANCIA DO CARGO. CANDIDATO COLOCADO DENTRO DAS VAGAS ATUALMENTE EXISTENTES. PRETERIÇAO NA ORDEM DE CONVOCAÇAO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. INEXISTÊNCIA. 1. Os candidatos aprovados em concurso público têm direito subjetivo à nomeação para a posse que vier a ser dada nos cargos vagos existentes ou nos que vierem a vagar no prazo de validade do concurso, principalmente quando preterido por quebra da ordem classificatória. 2. A desistência dos candidatos convocados e a exoneração de candidatos nomeados, geram para os seguintes na ordem de classificação direito subjetivo à nomeação, observada a quantidade das novas vagas disponibilizadas. 3. De acordo com o Edital do concurso, de cada 10 (dez) candidatos convocados, uma vaga pertence a candidatos PNE, portanto, com a convocação de candidatos da concorrência ampla, acima da trigésima colocação, caracteriza preterição ao direito do candidato PNE colocado em 3º lugar, o que gera o direito líquido e certo do impetrante de ser convocado.3. Ordem denegada. Decisão unânime. INCLUSÃO DO PORTADOR DE NECESSIDADE ESPECIAL NAS ESCOLAS O atendimento aos PNE’s na área escolar evoluiu ao analisarmos a história. Passamos da fase em que os portadores de deficiências eram excluídos do sistema de ensino, sendo impedidos de frequentar as escolas, à uma fase em que, segregadas, recebiam atendimento em instituições voltadas unicamente para seu atendimento em regime de confinamento. Na década de 50 surgem as primeiras escolas especiais já buscando uma forma de inserção destes indivíduos. Mais tarde, começam a ser implantadas, nas escolas regulares, classes especiais, que passaram a promover a integração dos portadores de deficiência e outras crianças, colaborando para uma quebra de barreira que as distanciavam e permitindo acesso a uma educação mais adequada aos moldes tradicionais. As crianças cujas deficiências se adaptavam ao sistema escolar eram aceitas em classes comuns, a escola se mantinha da forma como era, não promovendo qualquer tipo de adaptação para acolhê-las. Somente após, já na década de 90, o sistema educacional passa a se adaptar a necessidade dos alunos e não mais o contrário. A inserção de alunos portadores de necessidades especiais, no ensino regular, é garantia constitucional de acesso a educação, um direito previsto em nossa Constituição. Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (Art. 6º, CF). Mais que um direito, um dever do Estado de atender os portadores de necessidades especiais, de forma integrada, respeitando-se e adaptando-se a eventuais necessidades, como forma de garantir lhes um tratamento igualitário. Assim reza a Constituição Federal que prega a igualdade em todas as áreas, inclusive a educação. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; “O princípio democrático da educação para todos só se evidencia nos sistemas educacionais que se especializam em todos os alunos, não apenas em alguns deles, os alunos com deficiência. A inclusão, como consequência de um ensino de qualidade para todos os alunos provoca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e é um motivo a mais para que o ensino se modernize e para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. É uma inovação que implica num esforço de atualização e reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas de nível básico. (Mantoan, 2007).” Para garantir o cumprimento da Constituição Federal, necessário se faz um maior investimento para qualificação dos professores, tornando-os preparados para enfrentar os desafios que podem advir do convívio em sala de aula. As escolas que não estão atendendo alunos com deficiência em suas turmas regulares se justificam, na maioria das vezes por falta de preparo dos professores para esse fim. Existem também aquelas escolas que não acreditam nos benefícios que esses alunos poderão tirar da nova situação, especialmente os casos mais graves, pois não teriam condições de acompanhar os avanços dos demais colegas e seriam ainda mais marginalizados e discriminados do que nas classes e escolas especiais. Diante dessa realidade, a solução mais viável seria redefinir e colocar em ação novas alternativas e práticas pedagógicas, que favoreçam a todos os alunos, de uma forma incondicional, o que, implica na atualização e desenvolvimento de conceitos e em aplicações educacionais compatíveis com esse grande desafio. Jurisprudência TRF-5 - AG Agravo de Instrumento AG 53417420134050000 (TRF-5) Data de publicação: 04/10/2013 Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. IFPB. PROCESSO SELETIVO. SISTEMA DE COTAS. PARTE DO ENSINO FUNDAMENTAL CURSADO EM ESCOLA DA REDE PRIVADA DE ENSINO. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS PARA INGRESSO NO CURSO DO IFPB COMO COTISTA. OBTENÇÃO DE NOTA SUFICIENTE À APROVAÇÃO, INDEPENDENTEMENTE DO REGIME DE COTAS. DIREITO À MATRÍCULA. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DO ACESSO À EDUCAÇÃO. 1. A agravante, independentemente de não ter preenchido os requisitos para ingresso no curso do IFPB como cotista, obteve nota suficiente para classificá-la, entre os aprovados na ampla concorrência, em terceiro lugar (64 pontos). 2. Nessa linha, tem-se que a mesma inteligência contida no subitem 5.3.7 do Edital nº 188/2012 (fls. 73), que possibilita que os candidatos com deficiência/Portadores de Necessidades Especiais - PNE, que não protocolaram pedido para disputarem as vagas disponibilizadas em cumprimento ao Decreto Federal nº 3.298/99, participem do processo seletivo, concorrendo para as vagas destinadas aos demais candidatos (ampla concorrência), e no subitem 3.5.3 do Edital de Retificação nº 230/2012 (fls. 100), que prevê que candidatos já inscritos que não alteraram sua inscrição para o novo Sistema de Cotas, mesmo sendo por ele contemplado,ao se omitirem, serão automaticamente inscritos nas vagas de ampla concorrência, deve ser aplicada ao caso concreto, em prestígio aos princípios da isonomia, da razoabilidade e do acesso à educação. 3. Precedentes desta Corte: APELREEX27365/PB; EIAC531920/01/PE; AGA114478/01/AL; AG114503/AL. 4. Agravo de instrumento provido. TJ-DF - Apelação Cí-vel APL 16575620108070001 DF 0001657-56.2010.807.0001 (TJ-DF) Data de publicação: 30/03/2012 Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. GRATIFICAÇÃO DE ENSINO ESPECIAL (GATE). PROFESSORA DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL. AULA MINISTRADA EM TURMA MISTA NO ANO DE 2005. INEXISTÊNCIA DE RESTRIÇÃO LEGAL. POSSIBILIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO. RAZOABILIDADE. RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS. SENTENÇA MANTIDA. 1 - A GRATIFICAÇÃO DE ENSINO ESPECIAL (GATE), NOS TERMOS EM QUE FOI INSTITUÍDA PELA LEI DISTRITAL Nº 540 /93 E A LEI ORGÂNICA DO DISTRITO FEDERAL É DESTINADA A PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO QUE ATENDAM A ALUNOS QUE INTEGREM A SITUAÇÃO PECULIAR DESCRITA NA LEI. 2 - DESDE A CRIAÇÃO DA GATE, POR MEIO DA LEI DISTRITAL Nº 540 /93, ATÉ A INTRODUÇÃO DA LEI DISTRITAL Nº 4.075 DE 28 DE DEZEMBRO DE 2007, É DEVIDO O PAGAMENTO DA REFERIDA GRATIFICAÇÃO AOS PROFESSORES QUE MINISTRAVAM AULA PARA ALUNOS PNE, INDEPENDENTEMENTE DE SER TURMA MISTA OU EXCLUSIVA. 3 - TENDO O PROFESSOR MINISTRADO AULA EM TURMA MISTA ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI DISTRITAL Nº 4.075 DE 28 DE DEZEMBRO DE 2007, É DEVIDA A GRATIFICAÇÃO. 4 - NÃO HÁ QUE SE FALAR EM MAJORAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, SE FOI FIXADO ATENDENDO AOS CRITÉRIOS DE RAZOABILIDADE, CONFORME ESTABELECE O ART. 20 , § 4º DO CPC . 5 - RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS. A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS NA SOCIEDADE; Por maiores que sejam os avanços que a sociedade tem alcançado, ainda há uma carga enorme de preconceito e rejeição que afetam os portadores de deficiências. Ao descobrir a necessidade especial de seus filhos, uma família deve rever todos os planos traçados visando dar, à criança, uma vida digna a qual se aproxime ao máximo de uma vida considerada normal. Mas como proceder, uma vez que seus filhos irão ter que conviver em uma sociedade nem sempre preparada para respeitar as diferenças e aceita-las? Mais uma vez, o direito surge como forma de estabelecer normas que façam garantir os direitos dessa classe de pessoas como cidadãos, visando preservar os direitos nem sempre respeitados pela sociedade. Assim surgem leis que garantem tratamento diferenciado aos portadores de necessidades especiais, visando permitir-lhes acesso a tudo que lhes é garantido por força do princípio da igualdade. Mais do que apenas criar leis que lhes atendam, é preciso que também o judiciário se mostre capaz de entender e atender as demandas que eventualmente surjam envolvendo os portadores de necessidades especiais. Exemplo desse atendimento é a decisão que garantiu os direitos de consumidor à portador de deficiência que adquiriu ingresso para evento em local premium e se viu obrigado a ficar em local reservado por falta de preparo dos organizadores para garantir-lhe desfrutar do evento na forma como pagou. Diante dessa triste realidade, foi necessário que essas pessoas aclamassem às autoridades judiciárias, para que fizessem alguma coisa para que lhe fossem garantido os seus direitos como cidadãos. Vejamos agora, em breve explanação, outros direitos que são previstos em lei aos PNE’s, e que por vezes não são respeitados pela sociedade. TJ-DF - Apelacao Civel do Juizado Especial ACJ 20130111106445 DF 0110644-84.2013.8.07.0001 (TJ-DF) Data de publicação: 12/03/2014 Ementa: JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. CONSUMIDOR. DANOS MORAIS. ESPETÁCULO PÚBLICO. ESPAÇO RESERVADO PARA PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS (PNE). CONSUMIDOR PORTADOR DE NECESSIDADE ESPECIAL QUE COMPROU INGRESSO NA PISTA PREMIUM E FOI POSICIONADO JUNTO A QUALQUER OUTRO PNE. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. VALOR QUE ATENDE OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA CONHECIDA E DESPROVIDA. 1. A RECORRENTE VENDEU INGRESSOS PARA ESPETÁCULO PÚBLICO, E PARTE DOS INGRESSOS FOI VENDIDA COM PREÇOS MAIS ALTOS, "PISTA PREMIUM", POR FICAR MAIS PERTO DO PALCO. 2. O RECORRIDO, PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS (PNE), ADQUIRIU INGRESSO DE (PNE) "PISTA PREMIUM", NO ENTANTO, NO DIA DO ESPETÁCULO NÃO HAVIA ESPAÇO PARA PNE NA "PISTA PREMIUM", SENDO OBRIGADO A SE POSICIONAR JUNTO A OUTROS PNE QUE NÃO PAGARAM VALORES DIFERENCIADOS. 3. TAL FATO CONFIGURA DEFEITO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, POR PROPAGANDA ENGANOSA E DESRESPEITO A CONSUMIDOR PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS, ATINGINDO DIREITO DE PERSONALIDADE DESTE, QUE NÃO APROVEITOU COMPLETAMENTE O SHOW, POR SE SENTIR ENGANADO E DESRESPEITADO PELO FORNECEDOR DO SERVIÇO, SENDO OBRIGADO A ASSISTIR A DISTÂNCIA O ESPETÁCULO QUANDO HAVIA PAGO VALOR MAIOR PARA FICAR JUNTO AO PALCO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. 4. QUANTIA FIXADA A TÍTULO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL (R$ 6.000,00) QUE SE MOSTRA RAZOÁVEL CONSIDERANDO O POTENCIAL ECONÔMICO E CARACTERÍSTICAS PESSOAIS DE CADA UMA DAS PARTES. VALOR INDENIZATÓRIO QUE EM SUA QUANTIFICAÇÃO ATENDE AO PRINCÍPIO DA LÓGICA DO RAZOÁVEL E NÃO SE MOSTRA EXCESSIVO. 5. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. SENTENÇA CONFIRMADA POR SEUS PRÓPRIOS E JURÍDICOS FUNDAMENTOS. CUSTAS PROCESSUAIS ADICIONAIS, SE HOUVER E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, ESTES ÚLTIMOS FIXADOS EM 10% (DEZ POR CENTO) SOBRE O VALOR DA CONDENAÇÃO, PELA RECORRENTE VENCIDA (ART. 55 DA LEI N.º 9.099 /95). Outras leis garantem direitos aos portadores de necessidades especiais: Vagas de Estacionamento para Deficientes Resolução nº. 304 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) publicada no dia 22 de dezembro de 2010, poderá dar um basta a esta situação. Quem se atrever a desrespeitar essa regra de conduta, poderá receber uma multa, além de ter o seu veículo removido por guincho e perder pontos na Carteira de Nacional de Habilitação. Embora tal multa só possa ser aplicada em casos de estacionamento em via pública, o que exclui locais privados como shoppings, supermercados, etc... (salvo convênio estabelecido), trata-se de grande avanço na medida que a sociedade passa a respeitar as limitações e possibilita entender as necessidades diferenciadas em relação aos PNE’s. Mas a aplicação da multas só poderão ser feitas em vias públicas. As autoridades poderão aplicar as multas em áreas particulares, como por exemplo em supermercados, desde que estas estabeleçam convênios. 3.2. Critérios de acessibilidade para pessoas portadoras de necessidades especiais em instituições públicas ou privadas Em 19 de dezembro de 2000, foi aprovada a Lei nº. 10.098, que prevê e assegura aos Portadores de necessidades especiais vários direitos tais como: direito à vagas reservadas em transporte coletivo; exige-se que os órgãos ou instituições promovam a acessibilidade de PNE’s mediante a supressão de barreiras e obstáculos em vias públicas, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios. Diante da elaboração dessa Lei, fica demonstrado novamente, a preocupação das autoridades superiores com relação à inclusão dos portadores de necessidades especiais no nosso meio social. No artigo 3º da mesma lei, menciona sobre a questão do planejamento que deve ser feito ao construir em vias públicas, tais como parques e demais espaços de uso público, de uma forma que torne acessível aos PNE’s. É interessante notar que o parágrafo único do artigo 4º da Lei, menciona a respeito dos parques de diversões. Pelo menos 5% dos brinquedos que estão nos parques, devem ser adaptados para o uso de pessoas deficientes ou portadoras de necessidades especiais. Fica demonstrado através desteartigo, que todos os estabelecimentos públicos e privados, tais como: empresas públicas (bancos) ou privadas; escolas; vias públicas; estacionamentos etc., devem ser elaborados dentro do padrão que é exigido pela ABNT, exigências essas, caso sejam descumpridas, deverão ser impostas advertências ou multas pelas autoridades fiscalizadoras. O artigo 11 da citada lei faz menção à acessibilidade dos deficientes ou portadores de necessidades especiais em edifícios públicos ou de uso coletivo. Já o artigo 13, fala da acessibilidade nos edifícios privados. São vários os artigos e mandamentos que esta Lei prevê, demonstrando assim a preocupação das autoridades com relação à inclusão dos portadores de necessidades especiais na nossa sociedade. Conclusão Vivemos em uma sociedade caracterizada por padrões, rejeitando e excluindo de seu convívio aqueles que não se adequem. Justamente para tentar dirimir os conflitos surgidos é que o direito surge como forma de incluir os portadores de necessidades especiais, promovendo uma adequação de espaços públicos, reservando espaços, e promulgando leis que lhes garantam uma vida digna, na qual possam sentir-se integrados e acolhidos na sociedade e no meio em que vivem. O direito, como forma de propiciar a inclusão dos PNE’s, apresentando-se como um modelo a ser seguido pela sociedade, uma vez que estabelece normas a serem respeitadas, colaborando para uma maior conscientização do todo e buscando uma sociedade cada vez mais justa, que respeita as diferenças e promove um princípio basilar – A dignidade da pessoa humana.
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