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Escravidão: Qual foi a época em que a Igreja disse que negro não tinha alma?
5 de julho de 2015, 10:00 horas
Quando o jornalismo vira humorismo, o humorismo vira jornalismo; e as versões ganham mais destaque que os fatos.
Há duas semanas o comediante Gregório Duvivier, do portal humorístico “Porta dos Fundos”, escreveu um artigo na Folha de São Paulo sobre a questão da transexual que se “crucificou” (representativamente) na última Parada Gay em São Paulo. O comediante, em um texto sério, imagina Cristo voltando em várias situações da história e sendo perseguido. Chegando na escravidão, Cristo diria, segundo Duvivier: “– Depois voltei negro e fui escravizado. Os mesmos cristãos afirmavam que eu não tinha alma. Claro, todo mundo sabe disso. Durante a escravidão a Igreja Católica decidiu que os índios tinham alma, mas os negros não. Com isso ela apoiou o tráfico dos escravos africanos para o Brasil. Houve permissão do próprio papa.”
Tudo certo? Tudo errado. Nunca existiu qualquer manifestação da Igreja de que os negros não teriam alma. Os escravos eram batizados. Não se batizaria quem não tivesse alma. Casavam-se perante a Igreja. Não há um só documento da Igreja Católica, em toda a sua história, que diga que o negro não tinha alma. Muito menos que os negros devessem ser escravizados.
Estranho? Mas é a História.
A luta contra a escravidão
Na verdade, o que ocorreu foi o inverso do que se anda dizendo e escrevendo há muito tempo. Na verdade a Igreja sempre atacou a escravidão negra, índia e de todas as raças. Parece mentira, um contrassenso em relação ao que ouvimos desde a infância até as universidades. Não gosto muito de citar a Wikipedia, dada suas imprecisões, mas neste caso vou abrir uma exceção, para evitar discorrer sobre detalhes das inúmeras decisões dos papas sobre o tema. Vamos à Wikipedia: “A Igreja Católica desde o século XV, pronunciou sua posição através de vários papas, condenando a escravidão. O primeiro documento que trata explicitamente da questão é do Papa Eugénio IV, que mandou restituir à liberdade os escravos das Ilhas Canárias. Em 1462, o Papa Pio II (1458-1464) deu instruções aos bispos contra o tráfico negreiro que se iniciava, proveniente da Etiópia; o Papa Leão X (1513-1521) despachou documentos no mesmo sentido para os reinos de Portugal e da Espanha.
Nos séculos seguintes, contra a escravidão e o tráfico se pronunciam também os papas Gregório XIV (1590-1591), por meio da bula Cum Sicuti (1591), Urbano VIII (1623-1644), na bula Commissum Nobis(1639) e Bento XIV (1740-1758) na bula Immensa Pastorum (1741). No século XIX, no mesmo sentido se pronunciou o papa Gregório XVI (1831-1846) ao publicar a bula In Supremo Apostolatus (1839). Em 1888, o Papa Leão XIII, na encíclica In Plurimis, dirigida aos bispos do Brasil, pediu-lhes apoio ao Imperador (Dom Pedro II) e a sua filha (Princesa Isabel), na luta que estavam a travar pela abolição definitiva da escravidão”.
Como se vê, não foi bem o que disseram em algumas aulas e em muitos livros.
Guerra entre cristãos e muçulmanos
As posições da Igreja Católica eram, na verdade, muito avançadas para uma época em que a escravidão era considerada uma normalidade pela maioria das pessoas, instituições e religiões. O Islã, por exemplo, aprovava na época a escravidão de qualquer um que não fosse muçulmano. Fizeram cativas pessoas de todas as raças – dos negros africanos às valorizadas escravas brancas do Leste Europeu, as eslavas (o termo escravo vem de “eslavo”).
Tanto praticantes de culto afro-brasileiros na África quanto cristãos na África e na Europa eram feitos escravos pelos muçulmanos à época. E traficados a bom preço. Milhões deles. Foi quando saiu a única bula papal defendendo a escravidão, em um caso específico: o papa Nicolau V, em 1452, autorizava que fossem escravizados os sarracenos (muçulmanos) e pagãos e que lhes fossem tomados os bens. A bula é considerada uma reação da Igreja justamente à escravidão e pilhagem dos cristãos pelos sarracenos. Isto ocorreu antes do descobrimento do Brasil.
Após esta excepcionalidade, as bulas papais passaram a condenar a escravidão, antes mesmo de iniciado o intenso tráfico negreiro para as terras brasileiras. E nenhuma destas bulas autorizou o tráfico e, muito menos, sequer cogitou que os negros não tivessem alma.
A feijoada e outros folclores
Há, na verdade, mais desinformação e folclore do que estudos sérios sobre a escravidão no Brasil. Até há algum tempo era claro para todo mundo que a feijoada foi criada pelos escravos. Pegavam as entranhas dos porcos que eram descartadas pelos fazendeiros, misturavam ao feijão e – pimba! – foi criado um novo prato nas senzalas. O angu à baiana idem: restos de entranhas de boi e porco recusados pela casa-grande foram colocados pelos escravos baianos sobre o angu. Os donos de fazenda não eram tão bonzinhos assim.
Em primeiro lugar as entranhas, na época, eram consideradas uma parte nobre do porco. Não eram dadas aos escravos. A alimentação dos escravos era basicamente vegetariana. Não, eles não eram hinduístas e nem conheciam Fernando Gabeira. É que a turma da casa-grande não disponibilizava a rara proteína para os escravos. Dava-lhes um angu ralo de farinha de milho ou mandioca (neste caso, o pirão), um feijão também ralo, às vezes com toucinho, e frutas nativas, basicamente. Raramente um pedaço de carne fresca ou salgada era misturada ao feijão – quase dissolvida. Às vezes os próprios escravos mantinham pequenas criações e hortas. Mas a feijoada, na verdade, provavelmente veio por influência europeia, eis que pratos muito parecidos são encontrados em Portugal e na França (cassoulet), entre outros países daquele continente.
Quanto ao angu à baiana? Bem, ele não é da Bahia. É do Rio de Janeiro. Uma iguaria que frequentava as mesas da nobreza, como narrou Debret, e era vendido nas ruas cariocas por escravas geralmente baianas, vestidas a caráter. Daí o nome.
Entre o sério e o engraçado
A contribuição dos negros para a culinária brasileira foi algo excepcional.  Assim como para a cultura em geral. Mas devemos tirar da cabeça aquela imagem dos escravos toda noite fazendo batuque, jogando capoeira e as escravas fazendo feijoada. A vida deles era bem mais dura que isso. Festas ocorriam nos dias de descanso e dias santos, elas não eram parte do seu dia-a-dia, marcado por muito trabalho e por castigos. Da mesma forma, é preciso desmistificar a questão da Igreja e a escravidão no Brasil. A Igreja Católica já tem um grande peso sobre suas costas, que foi a Inquisição. Não faz sentido atribuir-lhe erros que não cometeu.
Uma piada dos primórdios do jornalismo dizia: se a versão é mais interessante que os fatos, publique a versão.
Era uma piada, pois obviamente os jornalistas publicavam o factual. Nos dias de hoje a piada está sendo levada a sério: publica-se a versão – por má intenção ou ignorância – e danem-se os fatos. Talvez isto tenha como origem a constatação de que jornalismo e entretenimento se misturaram. Programas de humor colocam jornalistas para fazer graça, debochar das pessoas nas ruas e escrachar personalidades.
Como que em represália, agora os jornais passaram a colocar humoristas para escreverem sobre coisas sérias. Resultado:  o humor vai perdendo a graça e o sério vai ficando ridículo.
“Dirigimos este ofício paterno à Vossa Majestade, cuja boa vontade nos é plenamente conhecida, e de coração a exortamos e solicitamos no Senhor, para que, conforme o conselho de sua prudência, não poupe esforços para que (…) o vergonhoso comércio de negros seja extirpado para o bem da religião e do gênero humano”. Carta de Pio VII a Dom João VI
“Pelo teor das presentes determinamos e declaramos que os ditos índios e todas as mais gentes (…), ainda que estejam fora da fé cristã, não estão privados, nem devem sê-lo, de sua liberdade, nem do domínio de seus bens, e não devem ser reduzidos a servidão”. Bula Veritas Ipsa de Paulo III, 1537
“Proibimos a todo eclesiástico ou leigo apoiar como legítimo, sob qualquer pretexto, este comércio de negrosou pregar ou ensinar em público ou em particular, de qualquer forma, algo contrário a esta Carta Apostólica”. Carta de Pio VII a Napoleão Bonaparte
AURÉLIO PAIVA | aurelio@diariodovale.com.br
QUINTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2015
De onde veio a crença de que "negro não tem alma"?
Com certa frequência, ressurge a questão das origens da crença de que “o negro não tinha alma”. Alguns afirmam sem titubear, mas sem indicar a fonte, que a Igreja Católica seria a responsável pela disseminação desta crença. Será?
Na obra “Antropologia: uma reflexão sobre o homem”, 1ª ed. Bauru: Edusc, 2011, encontramos a afirmação de que, entre os séculos XVIII e XIX, havia preconceito em nossa sociedade baseado “na crença de que negros eram desprovidos de inteligência e até de alma”, porém em nenhum momento os autores afirmam que a Igreja seria a responsável por essa esquisita ideia.
De certo modo, tal afirmação chega a ser até contraditória com certos fatos históricos que traremos a seguir. Comecemos citando três papas africanos (Victor, Gelasius e Melquiades ou Miltiades) advindos do norte da África (onde os povos eram predominantemente negros). Embora não tenhamos nenhum retrato autêntico, há desenhos e referências na Enciclopédia Católica, a respeito de serem africanos.
Por outro lado, é possível encontrar documentos papais autorizando a escravização de pagãos e muçulmanos, por reis cujo objetivo fosse espalhar a fé cristã. Neste sentido, veja-se a bula Dum Diversas, onde o Papa Nicolau V expressamente reconhece o direito dos reis da Espanha e Portugal, de conquistar quaisquer “pagãos” e mantê-los sob “servidão perpétua”. Tal posicionamento teria sido confirmado também por papas posteriores (Calisto III, em 1456, Sixto VI, em 1481, e Leão X, em 1514). O mesmo Nicolau V, em 1455, emitiria a bula Romanus Pontifex, estendendo esse direito a outras nações católicas do continente. Se considerarmos a moral vigente à época, notar-se-á que poucos questionariam o direito de, numa guerra entre cristãos e não cristãos, os primeiros escravizarem quaisquer inimigos capturados (seria uma opção melhor ao simples assassínio dos referidos prisioneiros).
Corroborando a tese de que o assunto não tinha tratamento uniforme por parte da Igreja, veremos em janeiro de 1435, a bula Sicut Dudum, do papa Eugénio IV mandar “restituir à liberdade” os que eram mantidos presos nas ilhas Canárias.  Em setembro de 1462, foi a vez do papa Pio II também dar instruções aos bispos a respeito dos negros provenientes da Etiópia, condenando o comércio de escravos como “grande crime”.
O 'apresamento' de indígenas versus escravidão de negros
Por questões morais, políticas e econômicas, a questão do “apresamento” de indígenas para trabalhos forçados sempre contou com a repreensão da Igreja. No início do século XVI o dominicano Domingos de Minaja que atuava na América Espanhola, foi a Roma e relatou ao Papa Paulo III, os abusos que eram cometidos contra os índios. Em consequência, o Pontífice escreve, em maio de 1537, a bula Sublimus Dei e posteriormente a encíclica Veritas ipsa (do mês de junho), onde manifesta a posição oficial eclesiástica, a respeito deste tema:
“O inimigo da raça humana, que se opõe a todas as boas ações para levar os homens à destruição (…) inventou um modo nunca visto antes de evitar a pregação da palavra de Deus para a salvação dos povos: ele inspirou seus servos, os quais, para agradá-lo, não hesitaram em propagar a ideia de que os Índios do Ocidente e do Sul, e outros povos sobre os quais tomamos conhecimento recentemente, deveriam ser tratados como brutos incapazes de razão, criados para nosso serviço, supostamente incapazes de receber a fé católica.
Nós, que, embora indignos, exercemos na Terra o poder de Nosso Senhor e buscamos com todas as nossas forças trazer para a nossa proteção as ovelhas do rebanho do Senhor que estão fora dele, consideramos, no entanto, que os índios são verdadeiramente homens e que, de acordo com o que fomos informados, não apenas são capazes de entender a fé católica como desejam muitíssimo recebê-la.
Definimos e declaramos (…) que os ditos índios e todas as demais pessoas que possam ser descobertas mais tarde por cristãos não devem de modo algum ser destituídas de sua liberdade ou da posse de sua propriedade, mesmo que estejam fora da fé de Jesus Cristo, e que eles podem e devem, livre e legitimamente, gozar de sua liberdade e da posse de sua propriedade, nem devem eles de maneira alguma ser escravizados; e, se acontecer o contrário, que a ação seja anulada e não tenha efeito.”
Quanto aos afrodescendentes, porém, o tratamento não foi tão uniforme. Apenas um ano depois da bula Sublimus Dei, o Pastorale Officium teria sido revogado e as penas cominadas anuladas. O Pastorale Officium era considerado um documento complementar à bula Sublimis Dei, estabelecendo penalidades específicas para cristãos que tivessem escravizado índios. Esse documento acabou anulado em Non Indecens videtur.
Em 1545, o mesmo papa Paulo III, porém, em outro contexto, teria permitido a escravidão em Roma. Em 1548, autoriza a compra e posse de escravos muçulmanos nos Estados Papais.
A posição da Igreja no Brasil
Em Pernambuco havia confrarias e igrejas dos "homens pretos" desde o século XVIII. A maior era a confraria e igreja de "Nossa Senhora do Rosário dos Pretos". Então, como se poderiam permitir confrarias e templos de negros se a Igreja os considerava destituídos de alma?
Padre Antônio Vieira condenava publicamente a exploração de escravos negros (sermão XXVII):
“Os senhores poucos, e os escravos muitos, os senhores rompendo galas, os escravos despidos e nus; os senhores banqueteando, os escravos perecendo à fome, os senhores nadando em ouro e prata, os escravos carregados de ferros, os senhores tratando-os como brutos, os escravos adorando-os e temendo-os como deuses. /…/ Estes homens não são filhos do mesmo Adão e da mesma Eva? Estas almas não foram resgatadas com o sangue do mesmo Cristo? Estes corpos não nascem e morrem como os nossos? Não respiram com o mesmo ar? Não os cobre o mesmo céu? Não os aguenta o mesmo sol? Que estrela é logo aquela que as domina, tão cruel?”. (Sermão XXVII sobre o Rosário, in Sermões, vol. 12, Porto, 1951, p.333-371)
“Saibam as pretos, e não duvidem, que a mesma Mãe de Deus é Mãe sua… porque num mesmo Espírito fomos batizados todos nós para sermos um mesmo corpo, ou sejamos judeus ou gentis, ou servos ou livres” (Sermão XIV).
“Nas outras terras, do que aram os homens e do que fiam e tecem mulheres se fazem os comércios: naquela (na África) o que geram os pais e o que criam a seus peitos as mães, é o que se vende e compra. Oh! trato desumano, em que a mercancia são homens! Oh! mercancia diabólica, em que os interesses se tiram das almas alheias e as riscos são das próprias! ” (Sermão XXVII).
O Papa Pio VII foi outro pontífice que condenou a escravidão e defendeu sua abolição no Congresso Internacional de Viena (1814-15). Ainda enviou uma Carta ao Imperador Napoleão Bonaparte da França, em protesto contra os maus tratos a homens vendidos como animais: “Proibimos a todo eclesiástico ou leigo apoiar como legítimo, sob qualquer pretexto, este comércio de negros ou pregar ou ensinar em público ou em particular, de qualquer forma, algo contrário a esta Carta Apostólica” (citado por L. Conti, “A Igreja Católica e o Tráfico Negreiro”, em ‘O Tráfico dos Escravos Negros nos séculos XV-XIX’. Lisboa 1979, p. 337).
O mesmo Sumo Pontífice se dirigiu a D. João VI de Portugal nos seguintes termos: “Dirigimos este ofício paterno à Vossa Majestade, cuja boa vontade nos é plenamente conhecida, e de coração a exortamos e solicitamos no Senhor, para que, conforme o conselho de sua prudência, não poupe esforços para que… o vergonhoso comércio de negros seja extirpado para o bem da religião e do gênero humano”.
Por fim, qual teria sido o papel da Igreja frente à escravatura no Brasil? Sabe-se que, após a assinatura da lei de abolição (13 de maio de 1888), a Regente Princesa Isabel foi homenageadapelo Papa Leão XIII, que lhe enviou a famosa distinção denominada Rosa de Ouro, em reconhecimento à relevância de seu feito.
Afinal, quem disseminou a crença de que o 'negro não tinha alma'?
Com base em documentos da própria Igreja, nota-se que, apesar da política do Vaticano ser dúbia em relação à escravidão há séculos atrás, ora condenando-a ora tolerando-a e até autorizando-a, inexiste comprovação de que a Igreja Católica tenha defendido, em alguma época, a crença de que “negros não têm alma”. Muito pelo contrário, a existência de santos e papas negros, além das frequentes tentativas de conversão e catequização de afrodescendentes, demonstra que a Igreja não comungava, nem propagava a citada crença. A dúvida sobre quem a teria disseminado persiste.
Referências bibliográficas:
Aquino, Felipe. “A Igreja não acreditava que o escravo tivesse alma?”, de 17/11/2010, disponível em: http://cleofas.com.br/a-igreja-nao-acreditava-que-o-escravo-tivesse-alma/
Balmes, Jaime, “A Igreja Católica em face da Escravidão”, São Paulo 1988.
Carvalho, José Geraldo Vidigal, “A Escravidão. Convergências e Divergências”. Ed. Folha de Viçosa, 1988.
Carvalho, José Geraldo Vidigal, “A Igreja e a Escravidão. As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos”. Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, Rio de Janeiro, 1988.
Terra, João Evangelista Martins, “A Igreja e o Negro no Brasil”. Ed. Loyola 1983.
___, João Evangelista Martins, “Bíblia, Igreja e Escravidão". Ed. Loyola 1983.
Revista “Pergunte e Responderemos”, D. Estevão Bettencourt: N. 448/1999 – pg. 399-409; Nº 318 – Ano 1988 – Pág. 509; N. 267/1983, pp. 106-132; N. 274/1984, pp. 240-247.
VIANA, Marina. Documentos Oficiais da Igreja contra a escravidão. Disponível em:http://www.apologistascatolicos.com/index.php/magisterio/documentos-eclesiasticos/decretos-e-bulas/506-documentos-oficiais-da-igreja-contra-a-escravidao.
Silvio Mmax 
Sexta, 03 Agosto 2012 09:00
A Igreja e a escravidão dos negros - Cinco passos para detonar um professor mentiroso
Postado por A Catequista
Teremos agora o prazer de detonar as falácias de mais um professor de História vacilão e fanfarrão. A nossa leitora Lara nos enviou a seguinte mensagem:
“Gente, amo os posts de vcs! Gostaria que vcs me esclarecessem sobre a seguinte frase de um prof de História da escola onde estudo: ‘A Igreja permitia a escravidão de negros, pois eles não tinham, na visão deles, alma. Porém não podia escravizar indígenas. E até tem uma Bula Papal sobre isso.’ Tô até imaginando que seja a maior mentira, mas gostaria de saber mais sobre! Obg desde já!”
Lara, para deixar este professor de cara no chão na frente da turma inteira, há cinco passos, que detalhamos a seguir. Está pronta e animada? Será divertido e didático desmascará-lo e, acima de tudo, é uma grande caridade que você poderá fazer aos seus colegas. Afinal, só a verdade pode nos libertar.
PASSO 1 - PEÇA QUE SEU PROFESSOR APONTE O DOCUMENTO EM QUE A IGREJA AFIRMAVA QUE OS NEGROS NÃO TINHAM ALMA
Lara, peça que ele diga o nome da tal Bula Papal que diz que os negros não têm alma. É provável que o seu professor, muito levianamente, cite a bula Dum Diversas, publicada em 1452 pelo Papa Nicolau V.
Antes de falarmos sobre o que diz este documento, imaginemos a seguinte situação: estamos na Idade Média. Os cristãos estão sendo atacados por sarracenos (muçulmanos), que há tempos os matam, saqueiam seus bens e os escravizam. Durante as invasões, mulheres (inclusive crianças) são constantemente estupradas; muitas são capturadas e vendidas para servirem como escravas sexuais nos haréns. E a situação tende a piorar, pois Constantinopla está sob ameaça de ataque. Barra pesada, não?
Vale notar que este problema não era novo, nem pontual: há séculos os muçulmanos promoviam a caça e o tráfico de europeus. Tanto é que, 1198 (mais de 300 anos antes da citada bula), São João da Mata fundou a Ordem dos Trinitários para libertar os prisioneiros e escravos cristãos do domínio dos sarracenos; alguns anos depois, São Pedro Nolasco e São Raimundo de Penafort fundaram também a Ordem dos Mercedários, com o mesmo objetivo.
“O Islã pôs na escravidão mais de um milhão de europeus.
Como muçulmanos não podem ser escravizados,
era uma cristã branca que era a escrava sexual do sultão turco.”
- Bill Warner, diretor do Centro para o Estudo do Islã Político (CSPI)
Entrevista à FrontPage Magazine, 5/02/2007
Diante dessa situação infernal, o que o líder deste povo deve fazer? Aqui se encaixa perfeitamente o conceito de “guerra justa” e o “direito de legítima defesa”, citados no Catecismo da Igreja Católica. Por isso, o Papa autorizou o rei Afonso V de Portugal a prender os sarracenos, que constantemente atacavam e escravizavam os cristãos na Europa:
"(...) nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo (...) e reduzir suas pessoas à perpétua escravidão”.
Bula Dum Diversas
Então, os sarracenos e pagãos citados na bula não eram pessoas coitadinhas, que a Igreja “intolerante” mandou escravizar porque não aderiram à fé cristã. Sem o conhecimento do contexto histórico, uma pessoa que leia este trecho da bula logo conclui que a Igreja era a vilã da história, quando, na verdade, era uma vítima acuada tentando se defender.
Repare também, Lara, que esta bula se refere aos sarracenos (árabes), que não eram necessariamente negros. E não há nela qualquer vírgula que sugira, ainda que de leve, que qualquer indivíduo não tenha alma. Bem diferente disso, a bula deixava claro que era preciso promover a conversão dos sarracenos e pagãos escravizados. Acaso a Igreja poderia desejar a conversão de um ser que não tem alma?
O mais triste é saber que a interpretação deturpada da Bula Dum Diversas é divulgada não só por professores mal-intencionados e pelos programas da rede Record, mas também por gente católica. Fiquei muito surpresa ao me deparar com um artigo em um site de "Catequese Católica" defendendo essa calúnia: "Os mouros foram assim combatidos ao longo de toda a Idade Média. Eram chamados também de infiéis. Os africanos assumem essa conformação e são vistos como escravos, assim como Cam". Que tosqueira!
Ora, foram os mouros medievais que sempre perseguiram o povo católico! Toda vez que eles tomaram pau dos cristãos, na grande maioria das vezes, não receberam senão a justa resposta por sua violência. E a barbárie não terminou com o fim da Idade Média: somente entre 1500 e 1800, os árabes capturaram mais de 1 milhão de escravos brancos. Estes dados são frutos de uma pesquisa recente do historiador Robert Davis, professor de história da Ohio State University.
Uma das vítimas dos muçulmanos foi São Vicente de Paulo: aos 25 anos, em 1605, ele foi capturado por piratas turcos, durante uma viagem de navio. Foi vendido como escravo e trabalhou por dois anos na Tunísia. Por fim, teve a graça de ser libertado por seu senhor que, arrependido de ter abandonado um dia a fé católica, fugiu com ele para a França.
 
Para saber mais sobre os estudos do professor Robert Davis, acesse:
"África escravizou 1 milhão de brancos", no site da Folha;
"New book reopens old arguments about slave raids on Europe", jornal The Guardian (artigo original em inglês)
PASSO 2 - CITE OS DOCUMENTOS QUE EVIDENCIAM A POSIÇÃO DA IGREJA CONTRA A ESCRAVIDÃO
Pra variar, a história real, documentada, é bem diversa dos mitos espalhados nas salas de aula. A verdade é que, desde os primeiros séculos, a Igreja condenou a escravidão de qualquer ser humano. Este ponto da doutrina não poderia jamais excluir os negros, já que existiam diversos homens negros de grande relevância desde as origens do cristianismo, a exemplo de Simão, “o Negro”: nos Atos dos Apóstolos é considerado como profeta e doutor (Atos 13, 1).
Em 1537, o Papa Paulo III publicou uma bula condenando a escravidão não somente dos indígenas, mas de “todas as mais gentes”,mesmo os não-cristãos, ou seja, dos negros também:
“(...) declaramos, que os ditos Índios, e todas as mais gentes que daqui em diante vierem à noticia dos Cristãos, ainda que estejam fora da Fé de Cristo, não estão privados, nem devem sê-lo, de sua liberdade, nem do domínio de seus bens, e que não devem ser reduzidos à servidão."
Bula Veritas Ipsa
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a doutrina da Igreja em relação à escravidão (inclusive dos negros), recomendo a leitura destes artigos:
"A Igreja, o tráfico e a escravidão", de Rafael Diehl
"A Igreja e a escravidão no Brasil", de D. Estêvão Bettencourt
"Documentos Oficiais da Igreja contra a escravidão", do blog Apologistas Católicos
PASSO 3 - APONTE A DELICADA SITUAÇÃO DOS PADRES NO BRASIL COLONIAL
É preciso esclarecer que, na época do Brasil-colônia, a Igreja estava sujeita ao poder da Coroa Portuguesa. Bem diferente do que muitos dizem os padres não tinham poder suficiente para fazer valer as determinações papais que pediam o fim do tráfico negreiro e da escravidão. Se saíssem por aí dando uma de "rebelados contra o sistema", metendo o dedo na cara dos senhores de escravos, certamente seriam expulsos da colônia.
Dentro desses limites, os sacerdotes ensinavam que os escravos não podiam ser maltratados, e insistiam especialmente para que viessem às missas e recebessem os Sacramentos. Alguns mais ousados, como o Padre Antônio Vieira, condenavam publicamente a exploração de escravos negros (sermão XXVII).
PASSO 4 - PERGUNTE COMO SERIA POSSÍVEL BATIZAR CRIATURAS SEM ALMA
Batismo de um homem negro. Pintura de F. J. Stober, 1878.
Lara, peça para o seu professor explicar como os padres poderiam batizar, casar e dar a Comunhão aos negros (o que foi feito maciçamente, desde o início da vinda dos escravos ao Brasil) e, ao mesmo tempo, afirmar que eles não tinham alma. Confuso, não?
É preciso que ele esclareça também como os negros, no período colonial, podem ter recebido a autorização da Igreja para fundar suas próprias irmandades e construir suas próprias igrejas e capelas.
PASSO 5 - DÊ UMA TROLLADA NO ILUMINISMO
Pra arrematar, Lara, dê uma alfinetada no Iluminismo que, certamente, é uma das bases intelectuais do seu professor. Pergunte se acaso ele não estaria confundindo a doutrina da Santa Igreja com um dos seus prováveis mestres queridinhos: Voltaire. Ele, que publicamente defendia os direitos humanos, tinha uma boa vida à custa de altos lucros com o tráfico de escravos negros, o qual financiava.
Ah! Dica final: lembre-se de levar uma máscara de gás, para não se intoxicar com a fumaça... o cérebro do seu professor corre o risco de fundir! Bem, pelo visto, não se perderá grande coisa.
Negras novas a caminho da igreja para o batismo. Litografia Jean Baptiste Debret, 1834-1839.
Casamento de negros de uma família rica. Desenho de Debret & Viscondessa de Portes e litografia de Thierry Frères, 1834-1839.
Última modificação: Quarta, 02 Agosto 2017 17:51
A IGREJA CATÓLICA APOIOU A ESCRAVIDÃO?
“Art. 1º - É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão no Brasil.” Com este artigo constante na Lei nº 3.353 de 13 de maio de 1888, conhecida como "LEI ÁUREA", sancionada pela Princesa Imperial Regente Isabel, a escravidão negra era abolida do Brasil Império. A escravidão, tanto no Brasil como em outros países, foi uma triste realidade. Presente na história humana desde a antiguidade. A Igreja Católica é constantemente acusada de ter apoiado a escravidão e tê-la justificado, bem como supostamente tendo ensinado que o negro “não tinha alma”. Será isso verdade? Vamos ver os fatos.
A submissão de um homem a outro mediante o vínculo da escravidão existe na humanidade desde os tempos bíblicos. Lembremos que o povo hebreu, povo eleito do Senhor Deus, foi escravo no Egito: “Lembra-te que foste escravo no Egito, de onde a mão forte e o braço poderoso do teu Senhor te tirou. (...).” (Dt 5,15) A escravidão ainda existia entre os judeus, inclusive no tempo de Jesus: “O escravo não permanece pra sempre na casa, o filho nela permanece para sempre.” (Jo 8,35) Sempre ganhou contornos diferentes ao longo da história: Nos impérios da antiguidade (Roma, Grécia etc.), havia a escravidão por dívida e a decorrente das batalhas (detalhe importante: os escravos não eram necessariamente negros). Durante a Idade Média, desaparece a escravidão e surge o trabalho servil nos feudos. Com as “Grandes Navegações” da idade moderna, encabeçadas por Portugal e Espanha, ressurgiu a escravidão, desta feita, de pessoas da raça negra embarcadas na África.
A Igreja Católica sempre venerou entre seus “heróis da fé”, diversos homens e mulheres da raça negra, desde os primeiros séculos. Por exemplo, Santa Efigênia da Núbia (século I), Santa Perpétua de Cartago (ano 203), São Frumêncio da Etiópia (ano 350), São Elesbão da Etiópia (380), São Moses da Etiópia (ano 400), São Benedito OFM da Sicília (1524), Santo Martinho de Porres (Peru, ano 1639) entre outros.
Desde os primeiros séculos, encontraremos papas combatendo a escravidão. O Papa João VIII no ano de 873 dirigiu a carta “Unum est” aos príncipes da Sardenha em que lhes dizia: “(...). Por isto vos exortamos e ordenamos, com paterno amor, que, se deles (gregos) tiverdes comprado prisioneiros, para a salvação das vossas almas lhes deis a liberdade.” Em 1435, o Papa Eugênio IV através da bula “Sicut Dudum” ordenava que os escravos das Ilhas Canárias fossem postos em liberdade. O Papa Paulo III (1534-1549) escreveu a bula “Sublimus Dei” e a encíclica “Veritas Ipsa” em que lembrava aos cristãos que os índios “das partes ocidentais e os do meio-dia e demais gentes (negros)” eram seres livres por natureza. O mesmo papa no breve “Pastorale Officium” saindo em defesa dos índios da América Espanhola que estavam sendo escravizados, assim se pronunciou: “Nós, portanto, atentos aos próprios índios, embora estando fora do seio da Igreja, não sejam privados nem ameaçados de privação de sua liberdade ou do domínio de sua propriedade, pois são homens e por isso capazes de fé e salvação, e não devem ser destruídos pela escravidão, mas antes, por pregação e exemplos, convidados para a vida.” Em 1839, o Papa Gregório XVI na constituição “In Supremo apostolatus fastígio” assim ordena aos cristãos: “(...) que ninguém mais ouse no futuro maltratar injustamente os índios, os negros ou outros homens semelhantes, ou despojá-los dos seus bens, ou reduzi-los à escravidão, (...) com o qual os negros como se não fossem homens, mas puros e simples animais, reduzidos de qualquer modo à escravidão, (...) contras os direitos da justiça e da humanidade, (...).” Por fim, o Papa Leão XIII dirigiu aos bispos brasileiros em 5 de maio de 1888 a encíclica “In Plurimis” em que os exortava a apoiar o Imperador Dom Pedro II e a sua filha Princesa Isabel na luta em abolir definitivamente a escravidão. Inclusive, este papa teria presenteado a Princesa Isabel com a “Rosa de Ouro” por causa da abolição da escravatura no Brasil.
E falando em Brasil, a participação do negro na vida religiosa foi intensa, tendo a Igreja especial atenção para com os escravos. Prova disso nos traz o professor de Etnologia da UFBA Carlos Ott ao dizer: “(...) os escravos, ao serem embarcados na África ou desembarcados na Bahia, eram batizados. (...)” Ora, o sacramento do Batismo só é dado a seres humanos, que possuem almas. Ok? Como então poderia a Igreja ensinar que eles não tinham alma? O citado professor ainda nos informa que em Salvador, os negros chegaram a formar grupos religiosos católicos dos quais se destacaram as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário (atuante desde o ano de 1604) e a de São Benedito. Inclusive, foi fundada no Pelourinho uma Igreja que até hoje lá existe sob o nome de Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída pelos próprios escravos negros. Sobre este trabalho de construção da igreja, fala-nos Carlos Ott: “(...) eles carregavam nas próprias cabeças as pedras brutas que arrancavam nas pedreiras de Taboão, (...). Em noites de luarsubiam e desciam fileiras de negros suados, cantando melodias cristãs e africanas. Seus ombros estavam cansados pelas fadigas do dia a serviço de seu patrão. Mas de dia faziam trabalho forçado, de noite trabalho livre; e este não cansava. (...).” Que descrição lindíssima de devoção. Igrejas com o mesmo nome podem ser encontradas em várias cidades do país, inclusive aqui em Natal.
Portanto, fica evidente e claro que a Igreja Católica não apoiou nem justificou a escravidão, tenha sido de índios, negros ou qualquer grupo de pessoas. Pelo contrário, valendo-se de seu múnus sacramental de indicar o caminho que leva para Cristo, denunciou tais situações e desencorajava aqueles que delas se beneficiavam, pois a Igreja sempre afirmou que os escravizados eram seres humanos passíveis de serem alcançados pelo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
FONTES CONSULTADAS:
Bíblia de Jerusalém. 2002. Editora Paulus.
Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral/ Heinrich Denzinger. São Paulo: Paulinas: Edições Loyola, 2007.
Carlos Ott. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos do Pelourinho'. Revista Afroasia n.6-7, 1968.
http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/magisterio/documentos-eclesiasticos/decretos-e-bulas/506-documentos-oficiais-da-igreja-contra-a-escravidao
http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_05051888_in-plurimis_en.html
http://www.documentacatholicaomnia.eu/04z/z_1435-01-13__SS_Eugenius_IV__Sicut_Dudum__EN.doc.html
ISLÃ - O INVENTOR DA ESCRAVIDÃO NEGRA
quarta-feira, setembro 23, 2015
Dividindo o mundo inteiro em dar al–Islam [casa da paz] e dar al-Harb [casa da guerra], o islã exige a Jihad incessante, até que o mundo todo se submeta a Alá. Ahmad Hasan az-Zayat, autoridade islâmica moderna, escreveu em Al-Azhar: “A Guerra Santa é obrigação divina. A religião do muçulmano é o Corão e a espada...”. 
Dessa forma, o “infiel” é apresentado, nas tradições e no livro sagrado do Islã, como um ente sub-humano, ao qual se recomenda fazer incessantemente a guerra santa, matando os homens, escravizando mulheres e crianças e tirando dos conquistados todas as riquezas: “Mas quanto os meses sagrados houverem transcorrido, matai os idólatras, onde quer que os acheis; capturai-os, acossai-os e espreitai-os; porém, caso se arrependam, observem a oração e paguem o zakat, abri-lhes o caminho. Sabei que Alá é Indulgente, Misericordiosíssimo.” (Alcorão 9:5).
A prática da escravidão é inerente ao islamismo de tal forma, que alguns historiadores analisam que sem esta a cultura islâmica não teria existido, com a abrangência político-cultural que conquistou na idade média. Mais do que isto, a contribuição do islamismo foi particularmente decisiva na fundamentação histórica da discriminação do negro e da justificação ideológica de sua escravização como raça sub-humana, débil de mente e carente de princípios morais.
Mas o Corão que autorizava escravizar, não justificava a discriminação particularizada a nenhuma etnia, pois uma vez convertidos ao Islã o kafir passaria a gozar da “proteção” de suas leis. Foi preciso uma contribuição adicional dos “filósofos” islamitas medievais para transformar o negro do continente africano em mão-de-obra barata nas minas de sal do Oriente Médio, e sacrificá-los nas linhas de frente dos exércitos islâmicos.
Em pouco tempo, durante o primeiro século de história do Islã, a escravidão negra seria insitucionalizada como direito natural dos muçulmanos, e transformada em tráfico, representando um fenômeno novo e único na história da humanidade.
Até então, a escravidão, que historicamente se exercera pela conquista bélica, pela cobrança jurídica de dívidas, ou pela herança genética, passou a se praticar pelo rapto covarde de seres humanos em suas próprias terras, pelos piratas dos mares Arábico, Mediterrâneo e Índico, sob a égide do Islã.
Muitos bons livros de História universal revelam o jogo tortuoso de conceitos ideológicos oriundos do Islamismo, que conseguiram tornar o negro africano num ente desprezível entre todos, para justificar os maus tratos e a utilização deste em serviços degradantes. Entre estes, três livros dos quais recomendamos a leitura: “A Manilha e o Libambo”, de Alberto da Costa e Silva; “Raça e Escravidão no Oriente Médio”, de Bernard Lewis; e “África - do século XVI ao XVIII”, de Bethwell Allan Ogot.
Dentre os três, escolhemos extrair alguns trechos do primeiro, por este fazer uma análise mais condensada do assunto, os quais transcrevemos abaixo. O livro foi escrito no começo do século XX, no contexto do pós Primeira Guerra, em que a escravidão negra já havia sido abolida em praticamente todo o Ocidente, e o Islã estava reduzido à insignificância no cenário político-cultural global, de forma que coloca o autor livre de qualquer suspeita de animosidade contra o Islamismo.
“A MANILHA E O LIBAMBO” - EXCERTOS:
“Só como escravo - e por isso o ato de escravizar era um ato pio, quase obrigação do homem de verdadeira fé – podia-se endereçar à salvação aquele que não se converteu ao primeiro chamado. O jihad ou guerra santa, destinada a ampliar os territórios sob a lei divina, era uma obrigação do crente. A regra era “fazer a guerra santa contra os infiéis, matar-lhes os homens, escravizar-lhes as mulheres e crianças e tirar-lhes todas as riquezas” (...)
“O jihad contribuía, assim, para purificar o mundo, eliminando fisicamente o infiel, ou lhe arrancando, pela escravização, a existência legal e moral. A essência humana do escravizado não lhe seria devolvida senão com a alforria, para o que era indispensável que antes se houvesse convertido (...)
Era como se a escravidão extinguisse a culpa do ímpio. Como se, por meio dela, se expiasse o sangue derramado no jihad pelos fiéis. Como se o dono fosse credor do escravo e este devesse àquele a própria vida, pois devia ter sido morto, uma vez que não se converteu no devido tempo (...)
“Em um século os árabes, unificados sob a bandeira do Islã abalaram Bizâncio e conquistaram o Iraque, A Síria, a Armênia, a Ásia Menor, o Egito, a Pérsia, a Palestina, o Afeganistão, a Índia e todo o Norte da África (...)
“O século VIII ainda não havia chegado ao meio e já os árabes tinham vinculado um enorme mercado no qual circulavam, de uma ponta á outra, a seda e as porcelanas chinesas, o estanho espanhol, os algodões da Índia, o incenso do Iêmen, os brocados da Pérsia, o trigo do Egito, os cavalos da Arábia, e o ouro, a prata, o marfim, a pele de avestruz e os escravos da África. De pastores nômades e comerciantes urbanos, Maomé fizera a aristocracia rica e poderosa de um grande império (...)
“Com a ocupação do Egito e do Norte da África, em pouco tempo os muçulmanos desenvolveram o comércio à distância de negros, dando-lhe uma dimensão que jamais tivera (...) Entretanto, só a partir da inserção do Islã na África subsaariana é que o comércio de escravos africanos alcançaria o nível de tráfico nesta região, sequestrados nas savanas sudanesas pelo engodo, ou capturados pelas armas, e levados para o Extremo Oriente pelas rotas transaarianas.
“Na volta dos séculos IX e X, um escravo custava entre 141 a 283 g de ouro. No Egito, uma rapariga negra valia uns 40 dinares e um eunuco, mais de 65. Ralph a. Austen calculou em um milhão e setecentos e quarenta mil os escravos negros que chegaram ao mundo islâmico, entre 650 a 1.100 d.C.. E estimou entre 3.000 a média anual, no século IX, e em 8.700, nos séculos X e XI. Só a corte do califa abássida, em Bagdá, tinha, no começo do século X, sete mil castrados negros, além de quatro mil brancos (...) “A escravaria permeava a vida urbana e a rural.
"Nas moradas dos poderosos e dos ricos, os escravos estavam em toda parte, desde o harém, com as concubinas, as serviçais, as amas de leite e os eunucos, até a entrada com o porteiro.
“O escravo e seus descendentes habitavam as bordas da sociedade, num processo de desalienação pessoal em que a aparência física do africano de pele escura e cabelo encarapinhado tornava-se a nódoaignominiosa visível dos estereótipos a ele aplicados – de feiúra, sujeira, preguiça, deslealdade, estupidez e covardia – empregados para inferiorizar o escravo.
"A essas características físicas passara-se a ligar a condição servil. Aqueles que as possuíam, além de escravizáveis, eram tidos como escravos por natureza – o conceito estava carregado do prestígio de Aristóteles – e só como escravizados podiam ingressar na esfera da civilização. Para essa gente, a melhor e mais vantajosa de todas as condições era, aliás, esta: a de escravo – como argumentava um filósofo árabe do século X, Al-Farabi.
“Pouco depois, o grande Avicana, ao declarar ser de boa ordem das coisas haver senhores e escravos, aduziria ter o Todo-Poderoso colocado nas regiões de grandes frios e de grande calor povos incapazes de altos feitos e destinados à escravidão, como os turcos e os negros.
“Pela mesma época, Al-Masudi recorria a Galeno, o mestre grego da medicina, para fortalecer a idéia de que o negro possuía um cérebro defeituoso, daí derivando a debilidade de sua inteligência. Um ratado persa, escrito e, 982. Ia mais longe: os negros não se afinavam com os padrões humanos, e os piores deles, os zanjis, possuíam a natureza dos animais selvagens.
“O processo de desumanização do negro já andavara um bom caminho. Tanto assim que, no século XI, Saidal Andalusi escreveria, em Toledo, que os pretos careciam de auto controle e de firmeza de mente, eram facilmente dominados pelos caprichos, pela tolice e pela ignorância, e se assemelhavam mais aos bichos do que aos homens.
“Duzentos anos mais tarde, o persa Nasir AL-Din dava mais um passo. Para ele, o zanje só se distinguia dos animais por não andar com as mãos no solo. E acrescentava, sem ênfase: muitos já observaram que os macacos aprendem com mais facilidade e são mais inteligentes do que os zanjes.
“No século XIV, AL-Dimashki descreveria os negros como curtos de inteligência por terem os cérebros ressequidos, acrescentando que as características morais da mentalidade deles se aproximavam das características instintivas encontradas naturalmente nos animais.
“Só nos falta arrematar o quadro com o maior dos historiadores muçulmanos, Ibn Kaldum. Ditou ele que as nações negras, como regra, aceitavam facilmente a escravidão, porque os negros de humano tinham pouco, sendo semelhantes às bestas irracionais.
“Esse processo ideológico de afastamento do negro da espécie humana – tão bem descrito por Bernard Lewis em seu livro sobre as relações entre raça e escravidão no Oriente Médio – acompanhou a multiplicação, a partir do século X, dos escravos provenientes da África subsaariana. Foram sendo eles encaminhados aos trabalhos menos qualificados, mais penosos e degradantes – nas minas de sal, nas plantações, nas pedreiras. Os senhores fizeram deles remadores de barco, jardineiros, porteiros, encarregados e serviçais domésticos. E as escravas negras continuaram a ser numerosas como amas-secas e serviçais dos serralhos, e na cozinha, e no lavadouro, e nos pátios de serviço, a carregar água, cortar lenha e cuidar da horta(...)
“Essa discriminação por raça fazia-se ao arrrepio dos ensinamentos do islamismo. Para este, os homens só se distinguiam entre fiéis ou infiéis, entre pertencentes à “umma” (comunidade dos crentes) ou estarem fora dela. O aumento da escravização do negro foi acompanhada, no entanto, por uma engenhosa construção ideológica, segundo a qual a justiça do cativeiro se fundava não só no fato de serem eles incréus, pagãos ou idólatras, mas também no anátema lançado por Noé contra os filhos de Cam. Embora o texto bíblico expresse claramente que a maldição deveria recair sobre Canaã e não sobre Cuxe, de quem descenderiam os negros, ganhou foros de verdade a versão de que a praga de Noé fizera dos filhos de Cam não apenas escravos mas também pretos.
“Foi em autores árabes que essa adulteração, que já figurava em alguns escritos judeus e cristãos e iria ter ampla voga na América escravista, tomou forma e se tornou o fundamento de um vínculo estreito entre a cor da pele e a escravidão. Teria sido no mundo islâmico – escreveu o historiador queniano Bethwell A. Ogor – que a pele negra se tornou símbolo de inferioridade, e a África, sinônimo de escravidão.
“Dentro de uma espécie de mercado único, que se estendia da Espanha à Índia muçulmana, os escravos eram adquiridos pelos navios árabes e persas nos portos da Etiópia e do norte da Somália e levados ao Extremo Oriente ou ao norte da Europa. Calcula-se que o Islã, em sua marcha pela conquista territorial, tenha escravizado mais de 180 milhões de africanos na alta Idade Média, dando à escravidão uma dimensão que ela jamais tivera antes, em toda a história da humanidade.”
******* REFERÊNCIAS:
SILVA, Alberto da Costa e. “A Manilha e o Libambo: a África e a escravidão de 1500 a 1700. 2. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1931, revista em 2011. Cap. 2: Na terra do Islame. < https://books.google.com.br/books… > Acesso em 29 dez. 2014.
“Raça e Escravidão no Oriente Médio”, de Bernard Lewis: http://finslab.com/…/letra-r/raca-e-escravidao-no-oriente-m… “África - do século XVI ao XVIII”, de Bethwell Allan Ogot : http://portaldoprofessor.mec.gov.br/…/materi…/0000015108.pdf
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LISTA DE SANTOS E BULAS PAPAIS
SANTOS IMPOSSÍVEIS SEGUNDO OS ESQUERDISTAS
São Calixto, 160 d. C. – era servo (escravo por dívida) negro.
Santa Felicidade, presa junto com sua senhora, Santa Perpétua em 101 d. C.
São Juan Diego, 1474, México – índio asteca eu viu Nsa. Sra. de Guadalupe.
Santa Catarina Tekakwitha, índia, mártir, +1680 – canonizada por Benedictus XVI.
Santo Agostinho de Hipona, africano, 354 – um dos maiores teólogos juntamente com o santo Tomás de Aquino. Autor do manual da vida de santidade.
BULAS PAPAIS SOBRE ESCRAVIDÃO (AMERICANA E) NO BRASIL
1537 – Veritas Ipsa: determina que, todo ser humano é livre, ninguém deve ser escravizado.
1639 – Comissum Nobis: excomunhão para quem tratasse índios como coisas (mercadoria).

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