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Rio, 29 de fevereiro de 2012 Títulos de Crédito São exemplos de títulos de créditos: os cheques, as notas promissórias, as debêntures, as cédulas de crédito bancário, entre outros. A função dos títulos de crédito é a proteção do credor, bem como a possibilidade da circulação de riquezas (uma vez que a maior segurança nos empréstimos já feitos incentiva a celebração de novos empréstimos, por exemplo). Após o processo de conhecimento de uma ação de cobrança derivada de um empréstimo, geralmente surge um título executivo judicial. O título executivo dá ao seu portador o direito de invadir o patrimônio da pessoa. Uma vez portando um título de executivo, a ação de execução é bem simples – o réu será citado unicamente para pagar ou nomear bens para penhora. No momento em que um bem é penhorado, ele perde sua livre disponibilidade – uma vez que está garantindo um crédito em juízo. Porém, caso nesse empréstimo tivesse sido assinada uma nota promissória, por exemplo, que promete pagar determinada quantia em determinado tempo, o procedimento de conhecimento do processo teria sido desnecessário, sendo necessário somente entrar com um rápido processo de execução. Esse é o primeira vantagem dos títulos de crédito – a garantia da vida. A segunda vantagem dos títulos de créditos é a capacidade de circulação. O detentor de uma nota promissória, por exemplo, não precisa esperar o prazo de vencimento para rever o seu crédito – ele pode simplesmente vender o título a outro e obter o seu crédito agora. Assim, o título irá circular. Em conclusão, temos que os títulos de crédito trazem facilidades para o credor – e, em consequência, também para o devedor, uma vez que quanto mais fácil for reaver o crédito, mais fácil é conceder o crédito. Origem histórica Quanto à origem histórica, há uma discussão sobre se os títulos de crédito surgiram entre navegadores do mediterrâneo (principalmente na Itália) ou entre navegadores dos Balcãs. Os títulos de crédito surgiram na Itália em paralelo ao surgimento das instituições financeiras. Como a Itália não era unificada, muitas eram as moedas e o risco de saque no transporte de riquezas era muito grande. Assim, o câmbio e a ausência de segurança eram grandes problemas para os comerciantes da época. Com o tempo, as instituições financeiras surgiram para resolver esses problemas. Dessa forma, surgiu a letra de câmbio, que permitia que um dinheiro depositado em uma cidade, em uma moeda, poderia ser sacado em outra cidade, em outra moeda. É um título de crédito que permitia a troca de moedas. Nesse primeiro momento, o título de crédito tinha três requisitos: provisão de fundos (para ser titular de uma letra câmbio, o individuo deve deter fundos junto à instituição financeira), a distância entre o local de emissão e o local de pagamento e um contrato de câmbio. Durante o período francês, há uma evolução: passa a ser necessário apenas o contrato de câmbio, sendo desnecessária a provisão de fundos e a distância. No período alemão, posterior, o título se abstrai de qualquer causa – que toma as feições que atualmente a maior parte dos títulos adquiriu. Conceito de título de crédito É a partir dessa evolução que surge o conceito de títulos de crédito, expresso no artigo 887 do Código Civil. Esse mesmo artigo também trás os princípios relativos ao título de crédito. O título de crédito é um documento necessário para o exercício de um direito. É isso que indica o princípio da cartularidade – você necessita do documento original para exercer o direito. Atualmente, esse princípio está um pouco mitigado em razão dos títulos de crédito virtuais ou eletrônicos – conforme artigo 889 parágrafo 3º. Existe, porém, uma divergência quanto a se essa disposição do Código Civil prejudica o princípio da cartularidade – alguns indicam que a cartularidade permanece existindo, apenas toda as feições do seu tempo. A literalidade é o segundo princípio. Segundo esse princípio, vale o que está escrito. Os direitos e deveres relativos ao título de crédito estão inseridos no título – o que não está no título não vincula o título. O aval é a garantia típica que vincula os títulos de crédito – e ele pode ser total ou parcial. Rio, 7 de março de 2012 Títulos de Créditos O artigo 887 do Código Civil trás os princípios aplicáveis aos títulos de crédito, conforme estudamos na aula passada. Os princípios da cartularidade (necessariedade de apresentar o título para exercer o direito), da literalidade (todos os direitos e deveres relativos ao título de crédito devem estar expressos no título – qualquer pacto ou contrato que não está no título não tem força cambial, não vincula o título) e da autonomia são os principais princípios aplicáveis aos títulos de crédito. O princípio da autonomia indica que o título de crédito tem uma vida autônoma em relação à obrigação que deu causa à sua emissão. Ele não se confunde com a obrigação em si. O princípio da autonomia tem um prisma objetivo e um prisma subjetivo. O seu prisma objetivo se chama abstração, enquanto o seu prisma subjetivo se chama inoponibilidade das exceções pessoais. A abstração indica que no momento em que o título de crédito é posto em circulação, ele se desprende do negócio jurídico que deu causa a sua emissão – ele se torna uma obrigação em si mesmo. Assim, por exemplo, um contrato de mútuo e uma nota promissória são autônomos entre si, ainda que um tenha surgido em decorrência do outro – no momento em que a nota promissória circula, ela se torna completamente desvinculada do contrato de mútuo. Se o negócio jurídico que deu causa ao titulo de credito é desfeito, o titulo permanece existindo por estar desprendido de tal negócio jurídico. Sendo assim, a emissão de títulos de créditos gera uma vinculação muito grande e que independe do negócio jurídico em si. Por vezes, se dispõe no próprio título que ele se vincula ao contrato – assim, evita-se a má fé do credor. Ainda assim, o título poderá ser executado – mas a questão poderá ser discutida no poder judiciário posteriormente. A autonomia do ponto de vista subjetivo está ligada às pessoas que integram a cadeia cambial. Quem assume um título de crédito se vincula independentemente das obrigações que os outros assumiram. Por exemplo, se uma pessoa interditada emite uma nota promissória, esse ato não irá vinculá-la (a não ser que um curador estivesse envolvido). Se outra pessoa dá o aval para essa obrigação, ela possui uma obrigação autônoma – ele não pode opor a exceção pessoal do emitente da nota promissória para se livrar de sua obrigação. Cada pessoa que emite um título de crédito está vinculada a uma obrigação nova, independentemente das outras obrigações. A coação para com o outro também não pode ser oposta pelo avalista. Quem emite um título de crédito obtém uma obrigação totalmente distinta da dos outros anteriores à sua emissão – cada um que recebe um título de crédito e o endossa adquire uma obrigação distinta e autônoma das outras. Eles se tornam co-devedores, e existirá entre eles solidariedade cambial. Na solidariedade cambial, aquele que paga poderá cobrar tudo daquele que veio antes dele na cadeia cambial, porém não poderá cobrar nada daquele que veio depois dele. Todos aqueles que endossam continuam obrigados mesmo após o endosso. O quarto requisito do título de crédito é o requisito do formalismo. O documento que serve como título de crédito deve preencher todos os requisitos que a lei impõe para os títulos de crédito. Como exemplo, as notas promissórias devem ter a expressão “nota promissória” nela escrita – caso contrário, não será de fato uma nota promissória. Sem a expressão “nota promissória”, só se podecobrar o valor se duas testemunhas tiverem assinado o documento. Existem diversas classificações dos títulos de crédito. A primeira classificação é quanto à estrutura. Nessa classificação, podem ser ordens de pagamento, promessas de pagamento e títulos representativos de mercadoria. As ordens de pagamento podem ser representadas como um triângulo, enquanto as promessas de pagamento possuem estrutura linear. Na ordem de pagamento, temos o sacador. Ele cria o título, o saque. No alto do triângulo, temos o sacado – contra quem é dada a ordem (quem deve pagar). A terceira ponta do triângulo é o beneficiário ou o credor. Um exemplo de ordem de pagamento é o cheque. No cheque, por exemplo, a pessoa que escreve é o sacador, que manda o sacado, o banco (no caso), dar o dinheiro ao beneficiário. São exemplos de ordens de pagamento o cheque, a letra de câmbio e a duplicata. Já nos títulos lineares, tem-se apenas as figuras do emitente e do tomador. Na promessa de pagamento, o emitente se obriga a pagar, não dá ordem à ninguém como ocorre na ordem de pagamento. Os títulos representativos de mercadoria também são títulos lineares. Os títulos de crédito também podem ser classificados quanto à circulação. Uma categoria são os títulos ao portador – quem estiver portando o título se presume seu credor. A posse faz presumir a propriedade nesse caso. O crédito é transferido com a mera transferência do título, que poderá circular pela simples tradição. Outra categoria quanto à circulação são os títulos nominais à ordem. Esses são os títulos que identificam a pessoa do credor. Os títulos nominais à ordem podem ser endossados. O endosso é o ato pelo qual o credor transfere seu crédito a um terceiro. O endosso pode ser em branco (não identifica o endossatário) ou em preto (identifica). Outra categoria são os títulos nominais não à ordem. São títulos que identificam o credor, mas não podem ser endossados – ele só circulará pela via da cessão de crédito. Outra categoria são os títulos nominativos, que são aqueles em que o credor é identificado, mas essa identificação consta da escrituração do devedor. As ações, caso encarados como título de crédito, seriam títulos nominativos. O protesto é o ato jurídico que documenta o inadimplemento de uma obrigação – é por meio do protesto que o inadimplemento que configura formalmente. Veremos isso com mais detalhes mais adiante no curso. Rio, 14 de março de 2012 Títulos de Crédito Classificação dos títulos de crédito (continuação) A última classificação que vimos foi quanto à circulação. Quanto ao vencimento: são quatro as modalidades de classificação dos títulos de crédito quanto ao vencimento. A primeira modalidade é o vencimento à vista. A lei geral indica que quando o título não traz previsão de data de vencimento, o vencimento será à vista. Vencimento à vista significa que o vencimento é colocado à vista para o vendedor – no momento em que o título é colocado para o vendedor (na apresentação do título para o vendedor – quando ele vê o título) ele deve ser pago. Sendo assim, o título com vencimento à vista deve ser pago no momento de seu recebimento. O cheque é uma modalidade de título de crédito que só aceita vencimento à vista. A lei 7357/85, que regula os cheques, em seu artigo 32, indica que se é estipulada outra data para o pagamento, essa data não é considerada. Mas e o cheque pré ou pós-datado? Essa será uma discussão que teremos depois. A questão do cheque pré-datado é uma questão contratual entre o emitente e o tomador – em nada altera o fato do vencimento ser à vista. Assim, por força do contrato uma parte assume uma obrigação de não-fazer perante a outra (de não apresentar o cheque antes de determinada data). No caso de inadimplência do contrato, incide responsabilidade civil contratual – assim, os danos ocasionados pela apresentação prematura do cheque serão indenizados pelo tomador. O sacador é quem faz o cheque, o sacado é aquele que executa a transferência (geralmente o banco) e o tomador é aquele para quem o cheque é direcionado. O artigo 171 inciso VI do Código Penal fala do cheque sem provisão de fundos. Porém, para constituir de fato crime deve existir dolo específico. Assim, se alguém indica que o cheque não tinha fundos no momento da apresentação, mas ele foi apresentado antes da hora combinada, não será caso de estelionato. Sendo assim, para reforçar a questão da prova nesses casos, devemos atentar para que o contrato feito entre o sacado e o tomador fique claro no próprio título (escrever no próprio cheque a data que foi combinada para a apresentação do cheque). Outra modalidade de vencimento é o vencimento à termo (ou com data certa). Nesse caso, escreve-se no título a data do vencimento, e aquela será a data válida. A terceira modalidade de vencimento é o vencimento a certo termo de vista. O termo é um evento futuro e certo, enquanto a condição é um evento futuro e incerto. Certo termo de vista é um determinado espaço de tempo contado à partir da vista (do momento da apresentação do título). Assim, a apresentação será o momento inicial para a fluência do prazo de vencimento. Por exemplo: estipular que o vencimento será quinze dias a contar da apresentação do título. A quarta modalidade é o vencimento a certo termo de data. Essa modalidade é como a anterior – porém, em lugar de contar a partir da vista, o prazo será contado a partir de uma data certa. Por exemplo, estipula-se o vencimento em 15 dias contados a partir de 14 de março. Acaba sendo parecida com o vencimento com data certa – porém, como o prazo é contado diferentemente de acordo com finais de semana e feriados, acaba não sendo idêntico. O título de crédito não pode, em hipótese alguma, conviver com uma condição. Isso porque trata-se de um título executivo – o que exige que seja um título líquido, certo e exigível. Logo, o título de crédito não pode conviver com qualquer tipo de segurança. Se for prevista uma condição, será como não prever vencimento – sendo assim, o vencimento será à vista. Quanto à sua natureza: títulos de crédito próprios e títulos de crédito impróprios (títulos cambiariformes – de direito cambial). Os títulos impróprios não possuem natureza de título de crédito propriamente dito. Um título de crédito próprio representa uma típica operação de crédito. A noção de crédito se relaciona com a noção de confiança - porém, cada vez mais a noção de crédito é objetiva (não importa quem você é – mas sim unicamente se o seu CPF está negativado). A definição de crédito é a troca de uma prestação presente por uma contraprestação futura. A partir disso, podemos extrair dois elementos que compõem o crédito: a confiança e o tempo. Os títulos de crédito próprios são aqueles que unem esses dois elementos. Uma nota promissória ou uma letra de câmbio são exemplos, já que não é necessária a provisão de fundos (há confiança) e o vencimento pode ser estipulado no futuro (há tempo). Já os títulos de crédito impróprios não contemplam uma efetiva operação de crédito. Um exemplo é o cheque – isso porque o cheque faz com que seja necessária a provisão de fundos (não há confiança empregada na emissão do título) e porque o cheque só pode ser emitido com vencimento à vista (sendo assim, o elemento tempo também não se consolida no caso do cheque). O artigo 4º da lei 7357/85 fala da provisão necessária de fundos. Mas o cheque é um título de crédito por ter todas as características dos títulos de credito – circula por endosso, garantido por aval, força executiva, princípios, etc. Os ingressos (de cinema, por exemplo) são títulos de legitimação – documento que legitima o exercício de determinado direito.Não são títulos de crédito. Classificação quanto aos efeitos em relação à obrigação originária: via de regra, embora o título de crédito seja considerado um ato jurídico strictu sensu, uma manifestação unilateral de vontade, eles se relacionam com outras obrigações. Os títulos podem ser pro-soluto ou títulos pro-solvendo. No caso do título pró-soluto, o título significa que sua emissão representa uma novação. A novação é a extinção de uma obrigação pelo surgimento de uma nova. Via de regra, em razão do princípio da autonomia, a emissão de um título de crédito não gera novação – faz apenas com que duas obrigações coexistam. Já no caso do título pró-solvendo, a obrigação originária só estará extinta quando for adimplida a obrigação assumida no título de crédito. O cheque e os títulos de crédito em geral são pró-solvendo. Por exemplo, a entrega do cheque não indica que parcelas devidas em decorrência de locação já foram pagas – apenas quando o cheque for executado é que a obrigação estará pago o aluguel (exceto caso se dê quitação – nesse caso, ocorre novação e o título será executado como se fosse pró-soluto). Porém, também pode-se estabelecer inicialmente que o cheque terá natureza pró-soluto – assim, a obrigação decorrente do contrato de locação seria substituída pela obrigação de pagar o título de crédito no seu vencimento (no caso do cheque, à vista). Logo, a natureza pró-soluto pode ser estabelecida no contrato da obrigação originária ou em um contrato apartado (o que é gerado no caso da quitação da obrigação anterior no momento da apresentação do título). Para que o título de crédito tenha natureza pró-soluto, isso deve constar do título ou do contrato? Deve constar do título devido ao princípio da literalidade? Não, não será hipótese do princípio da literalidade, porque estamos falando dos efeitos do título sobre a obrigação originária. Sendo assim, é primordial que esteja claro no título da obrigação originária (por exemplo, no contrato de locação) – não é necessário que esteja disposto no título. Ao ser conferida a natureza pró-soluto, a obrigação anterior se extingue – assim, caso o título de crédito sofra a prescrição, a pessoa não terá como perseguir a dívida. O artigo 62 da lei 7357/85 indica que cheque possui, em geral, natureza pró-solvendo (exceto caso seja comprovada a novação). Trabalho para a próxima aula: pegar um acórdão cuja decisão esteja fundamentada em um desses três princípios: autonomia, abstração ou inoponibilidade das exceções pessoais. Em dupla com o Savigny. Devemos fazer uma análise de uma a três laudas sobre o acórdão. (savigny_puc2010.1@hotmail.com) Legislação Cambial Trabalharemos com as seguintes leis: Código Civil de 2002 (arts. 887 e seguintes) (equivalente às normas gerais), decreto 57663/66 e decreto 2.044/1908 (Lei Uniforme de Genebra – aplicável às letras de câmbio e notas promissórias), lei 7357/85 (cheque), lei 5474/68 (duplicata) e lei 10.931/2004 (cédula de crédito bancário). O artigo 903 do Código Civil indica que, salvo os casos citados em lei especial, aplica-se aos títulos de crédito o disposto no Código Civil. O artigo 914 trás uma disposição sobre o artigo 15 do decreto 57.663/66 trás uma disposição contrária. Nesse caso, portanto, se aplicará o disposto na LUG – e será assim em todos os casos de conflito. Assim, o Código Civil, no que diz respeito aos títulos de crédito, é apenas uma norma supletiva – só devemos recorrer ao Código Civil se a lei especial não decidir a questão. Os títulos de crédito atípicos ou inominados também são regulados pelo Código Civil. Rio, 21 de março de 2012 Títulos de Crédito Legislação cambial (continuação) As normas gerais dos títulos de crédito estão no Código Civil a partir do artigo 887. O artigo 903 é essencial para a compreensão de como aplicar a legislação cambial – esse artigo indica que o Código Civil será subsidiário no caso dos títulos de crédito e só será utilizado quando não existir disposição diversa em lei especial. Letras de câmbio e notas promissórias serão regidas pelo Decreto 57.663/66, que incorporou a LUG (Lei Uniforme de Genebra) no direito brasileiro. A LUG foi criada em 1930, ainda na época da Liga das Nações, para uniformizar internacionalmente o tratamento concedido a alguns títulos de crédito. O governo brasileiro aderiu à LUG em 1942. Apenas em 66, porém, por meio de um decreto, a LUG foi expressamente incorporada ao nosso ordenamento jurídico. A LUG possui o Anexo I, no qual está prevista a regulação às normas que regem a letra de câmbio e a nota promissória e o Anexo II, no qual estão listadas as reservas. As reservas são faculdades de não adesão – o próprio tratado criou tais faculdades. Assim, são permissões para que o país trate de forma diferente. Cada país, ao adotar o tratado deve informar quais reservas adotou. O anexo II viabilizava 26 reservas, das quais o Brasil fez treze. O artigo 9º do anexo II, por exemplo, diz respeito à disposição contida no artigo 44 alínea 3 e fala que essa alínea, caso não seja adotada, deverá ser adotado algum dos limites nele contidos. Pela LUG, a recusa de pagamento deve ser comprovada em um ato formal: o protesto de pagamento. A lei 9492 de 1997 fala sobre o protesto de pagamento (ato formal que comprova o inadimplemento, conforme artigo 1º dessa lei), que surge mediante registrado em cartório o título inadimplente. Assim, o devedor será intimado para depositar o valor devido em 3 dias – se isso não acontecer, surge o protesto, que oficializa o inadimplemento. Teremos em breve uma aula só de protesto – isso é apenas para efeitos de entender o mecanismo da reserva. O artigo 53 dessa lei indica que depois do prazo para mover o protesto, o credor (endossatário) perde seu direito de ação contra o endossante, sacador e outros coobrigados. Assim, expirado o prazo para protesto, o credor perde qualquer direito de ação e provavelmente não irá reaver o crédito. O artigo 44 alínea 3ª da LUG indica que, a partir do vencimento, existiria o prazo de dois dias úteis para fazer o protesto. O anexo II artigo 9º, ao permitir a reserva, indicou que essa alínea pode ser alterada – porém o prazo poderá apenas ser menor do que dois dias, nunca maior. Como o Brasil fez a reserva, aplicaremos a nossa lei interna (o decreto 2044 de 1908). O artigo 28 do decreto 2044 de 1908 fala que o prazo para isso, no ordenamento jurídico brasileiro, é de um dia útil. Esse prazo é tão curto porque o vinculo relacionado a um título de crédito é muito forte, então o prazo deve ser breve para evitar que as pessoas fiquem obrigadas durante muito tempo – assim, o credor deve ser ágil no exercício do seu direito. Assim, se a LUG regula, ela será aplicada. Se a LUG regula mas foi feita reserva, aplicamos a lei interna. Se a LUG não regula, aplicaremos a lei interna. Se a LUG e a lei interna não regulam, será aplicado o Código Civil. Se nem mesmo o Código Civil regular, será aplicada a lei de introdução ao direito brasileiro (são aplicados princípios e costumes). Por exemplo, determinadas questões sobre o aval serão regidas pelo Código Civil. O artigo 30 da anexo I da LUG fala sobre o aval, de modo a permitir o disposto no artigo 897 parágrafo único do Código Civil – sendo assim, esse artigo será aplicado. No artigo 900 do Código Civil está citado o aval póstumo, que não é regulado pela LUG nem por lei especial – sendo assim, é regulado pelo próprio Código Civil. A LUG tem 74 artigos regulando a letra de câmbio e 4 artigos que regulam a nota promissória – isso porque a nota promissória remete, na maior parte dos casos, ao tratamento conferido à letra de câmbio. É isso que indica o artigo 77 da LUG falade questões da letra de câmbio aplicáveis às notas promissórias. A lei 57.595 de 1966 é uma lei uniforme sobre o cheque – porém, não iremos recorrer a ela. Ela costumava ser como a LUG atual – coexistir com uma lei interna. Em 75, porém, o legislador fez uma lei nova que esclarece tudo que é aplicável, modificando as disposições relativas às reservas e indicando o que será aplicável esses casos. O tratado é incorporado como lei ordinária, então se uma norma interna posterior for promulgada, a lei posterior será aplicável. Sendo assim, a lei atual que regula os cheques é a lei 7357/85. A lei 5474 de 68, que regula a duplicata, indica no artigo 25 que algumas questões aplicáveis às letras de câmbio serão aplicáveis às duplicatas. Assim, se alguma disposição não estiver nessa lei específica, devemos verificar a LUG – e seguir, assim, o caminho feito na legislação cabível às letras de câmbio. Caso esse artigo 25 não existisse, seria aplicado o Código Civil. O endosso da duplicata, por exemplo, consta do Código Civil no seu artigo 914. Porém, esse artigo não será aplicado – porque a LUG também disciplina o endosso. Assim, a LUG será aplicável devido à lei 5474 de 68. No Brasil, são muitos os títulos de crédito porque todos os programas de financiamento utilizam títulos de crédito. O Código Civil, portanto, terá duas funções principais: (1) ser norma subsidiária aos títulos de crédito típicos e (2) conferir viabilidade a títulos de crédito atípicos. Pergunta para refletirmos: O boleto de cobrança condominial é um título de crédito? Rio, 28 de março de 2012 Títulos de Crédito Letra de Câmbio A letra de câmbio pode ser definida como um título de crédito que representa uma ordem de pagar quantia certa a um credor determinado, sendo uma ordem de pagamento à vista, com data certa, a certo termo de vista ou a certo termo de data. Por ser uma ordem de pagamento, ela necessariamente terá estrutura triangular (sacador, sacado e tomador). No artigo 1º da Lei Uniforme de Genebra cita os requisitos da letra de câmbio. Inicialmente, como primeiro requisito para que um documento seja reconhecido como letra de câmbio, a expressão “letra” deve estar presente no documento. Essa é a primeira crítica que se faz à tradução da LUG para o português. À época da LUG, a Liga das Nações estabeleceu que o primeiro país que fala determinada língua a traduzir a expressão vincularia os demais que falam a mesma língua. Assim, os portugueses traduziram como “letra”. Aqui no Brasil, porém, adotamos toda a expressão “letra de câmbio”. Isso diz respeito ao princípio do formalismo (ou legalidade) – se ele não preencher a forma que a lei prevê, ele não será considerado aquele título de crédito. Outro requisito é a ordem incondicional de pagamento. Mandato em francês significa ordem – assim, esse mandato ou ordem deve existir independentemente da realização de eventual condição (situação incerta e futura). Qualquer condição indicada no título será considerada como não escrita. O terceiro requisito é a assinatura de quem passa a letra. Trata-se do oitavo requisito previsto no artigo 1º da LUG – porém, como ele gera discussões, veremos ele primeiro. É o sacador que passa a letra: logo, a assinatura do sacador é necessária. Essa assinatura é considerada o ato de criação do título de crédito – é a partir da assinatura que o título começa a produzir efeitos jurídicos, e isso independe do fato do criador colocar ou não esse título em circulação. A discussão quanto a isso é a seguinte: pela teoria da emissão, seria necessária não apenas a assinatura, como também o ato de colocar o título em circulação. Já pela teoria da criação, quando o título preenche todos os seus requisitos, ele já seria apto a produzir efeitos jurídicos. O artigo 16 da LUG indica que se uma letra foi recebida de má fé pelo portador, o sacador não é obrigado a restituí-la. Já se o título é endossado para outra pessoa após ser pego de ma fé, essa nova pessoa terá recebido a letra de boa fé – logo, o sacador deverá pagar o preço. Esse terceiro de boa fé poderia, inclusive, indicar os princípios da autonomia e da inoponibilidade das exceções pessoais. Assim, no momento em que a letra é assinada ela produz efeitos: adotamos a teoria da criação. O saque é a assinatura do sacador na frente do título. Na letra de câmbio, portanto, o saque é o ato de criação do título. Mas, além de ser o ato de criação, o saque trás outra consequência jurídica fundamental: torna o sacador um co-obrigado ao pagamento do título. Sendo assim, o sacador dá a ordem de pagamento contra o sacado (que irá pagar) em favor do tomador. Porém, ao assinar, a prática do ato já induz ao fato de que o sacador era co-obrigado pelo pagamento. E detalhe: não pode existir nenhuma cláusula indicando que o sacador não será co-obrigado – uma cláusula como essa será considerada como não escrita. O artigo 9º da LUG indica que o sacador é responsável também pelo pagamento (ele só poderá se exonerar da garantia do aceite). O parágrafo único do mesmo artigo indica que disposições em contrário serão indicadas como não escritas. O co-obrigado também é chamado de obrigado indireto: assim, o sacador é um obrigado indireto. Para se cobrar o pagamento de um obrigado indireto/co-obrigado é necessário o protesto do título. O quarto requisito é a identificação da pessoa que deve pagar o título. Assim, o nome do sacado é mais um requisito da letra de câmbio. Devemos notar, porém, que o sacado da letra de câmbio não assume nenhuma obrigação até que venha ao título e indique que aceita (esse é o chamado aceite). Esse aceite é realizado a partir de uma simples assinatura na frente do título. Assim, o sacado assume responsabilidade distintas antes e depois do aceite – depois do aceite, portanto, chamaremos o sacado de aceitante. É por isso que o sacador não pode ressalvar sua obrigação pelo pagamento – porque caso o sacado não dê o aceite, ninguém seria responsável pelo pagamento. A lei 9492 de 97, em seu artigo 1º fala do protesto – é com o protesto que se comprova o inadimplemento de uma obrigação. Portanto, apenas após o protesto pode-se cobrar do sacador. O protesto pode ocorrer não apenas pelo não pagamento – também pode-se realizar o protesto devido à ausência de aceite contra o sacado. No caso da existência de títulos protestados, a Certidão do Cartório de Protesto de Títulos e Documentos irá indicar essa existência. Logo, o sacado terá seu nome “sujo” caso não dê aceite – o protesto por falta de aceite ainda aparece nas certidões negativas. Depois veremos as características desse protesto e os problemas que isso causa. A recusa do aceite antecipa o vencimento – o tomador passará a poder cobrar automaticamente. Porém, apesar do aceite antecipar a data do vencimento, o protesto poderá ocorrer normalmente, conforme o prazo do vencimento anterior. Após o que seria o vencimento do título, o tomador terá ainda mais um dia de prazo para apresentar o protesto. Os artigos 28 e 47 da LUG, em seus primeiros parágrafos, indicam que o sacado só se obriga pelo aceite – o sacado não é citado no artigo 47 porque ele não garante o pagamento (apenas o aceitante é obrigado). O quinto requisito da letra de câmbio é o nome da pessoa à quem ou a ordem de quem deve ser paga a letra. A letra de câmbio não pode ser emitida ao portador, deve ter nome, ser nominal. O artigo 1º da LUG cominado com o artigo 907 do Código Civil indica que só se pode emitir título ao portador mediante autorização. Isso nos remete à classificação do título de crédito como nominal à ordem (endosso) e nominal não a ordem (cessão). A letra de câmbio é um título nominal à ordem – sendo assim,ele circula por endosso. Essa qualidade não depende do que está escrito no título – decorre da natureza da letra de câmbio (artigo 11 da LUG). O sacador, e somente ele, poderá prever que a letra de câmbio seja não a ordem (mas isso deve estar expresso no título). Isso pode ser feito para dificultar a circulação do título. Para o endossante, ele não poderá colocar uma cláusula não a ordem. O endosso é o ato pelo qual aquele que é o credor do título transfere esse título para outra pessoa. O endosso pode ser endosso em preto (identifica o endossatário) e endosso em branco (não identifica o endossatário). Assim, o endosso em preto faz com que o título permaneça um título a ordem. Mas o endosso branco transforma o título em um título ao portador. Assim, a letra de câmbio pode vir a, um dia, circular como se fosse ao portador – mas não pode surgir como título ao portador. Quando é emitido, deve ser um título nominal – mas quando é endossado, pode tornar-se ao portador. Rio, 4 de maio de 2012 Títulos de crédito Letra de câmbio (continuação) Já vimos os requisitos essenciais ou não supríveis das letras da câmbio (os requisitos que devem estar expressamente no título) Veremos agora os requisitos não essenciais ou supríveis, que, caso não estejam no título, a lei regulamentará a situação. O vencimento é o primeiro requisito não essencial ou suprível Conforme artigo 2º da LUG, se a letra de câmbio não indicar o vencimento, o vencimento será à vista. Outro requisito suprível é o local de pagamento da letra de câmbio. O próprio artigo 2º da LUG indica que se a letra não estabelecer o local de pagamento, esse local será o domicílio do sacado ou o local designado ao lado do nome do sacado. Se existir, na letra, um local designado ao lado do nome do sacado, esse será o local de pagamento – caso contrário, o domicílio do sacado será o local de pagamento. Isso faz com que a natureza da letra de câmbio seja de divida quesível (na qual o credor deve buscar o devedor para o pagamento – ao contrário da portável, na qual o devedor busca o credor para o pagamento). O último requisito é a data e o local de emissão. O local onde a letra é passada é indiferente no caso da letra de câmbio. Já no caso do cheque, fará diferença – o cheque vence sempre a vista (conforme artigo 32 da lei do cheque), sendo que o prazo para pagamento será de 30 dias caso o pagamento vá ser executado na mesma praça e de 60 dias caso o pagamento vá ser executado em outra praça (praça está aqui no sentido de município). Sendo assim, no caso do cheque o local de emissão é relevante para que se verifique se é a mesma praça. Embora a letra de câmbio tenha todos esses requisitos, o artigo 10 da LUG fala da letra que foi criada incompleta e depois foi completada em desacordo com o que foi acordado – nesse caso, não será oponível ao terceiro de boa fé. Trata-se de uma manifestação do princípio da literalidade e da inoponibilidade de exceções pessoais. Assim, permite-se que o credor preencha o título da forma que lhe convém, desde que de acordo com o que foi cumprido. Se for preenchido de forma diversa do que foi cumprido, pode-se discutir com o credor. Porém, se o título for endossado, não se poderá discutir o preenchimento com um terceiro. O contrato de mútuo é um contrato real (apenas se aperfeiçoa mediante a entrega da coisa – diferentemente do consensual, que se aperfeiçoa com a manifestação de vontade). A assinatura de toda e qualquer obrigação cambial pode ser feita pessoalmente ou por procurador que tenha poderes especiais para tanto. Se a pessoa não tinha poderes para assinar por quem assinou, ela assumirá pessoalmente a obrigação. Isso fica um pouco mais complexo na questão das pessoas jurídicas e seus representantes legais – é importante verificar a versão mais recente do contrato ou estatuto social da sociedade para verificar se aquele representante legal possuía poderes para celebrar aquela obrigação cambial. Em exceção a isso, em muitos casos os tribunais tem utilizado a teoria da aparência e o ato ultra-vires societatis (ato que ultrapassa a vontade da sociedade) para solucionar casos como esses – a teoria da aparência mitiga o ato ultra-vires societatis. Geralmente a teoria da aparência é aplicada em casos de hiposuficiência. O artigo 7º da LUG é muito importante! Ele fala de assinaturas falsas, fictícias ou assinadas por incapazes – nesses casos, não será possível opor essas exceções pessoais a terceiros depois do endosso válido por parte de outra pessoa. Quem assume uma obrigação não poderá indicar que não pagará porque a obrigação do outro, que veio antes dela, era nula. É por isso que o título de crédito é um instrumento de garantia tão eficaz – a validade das assinaturas anteriores não precisam ser averiguadas para que o título seja pago. Em caso de divergência entre o valor numérico e o valor por extenso, prevalecerá o valor por extenso. O aceite está regulado pelas leis de 21 a 29 da LUG. Existem três grandes ordens de pagamento no direito brasileiro: o cheque, a letra de câmbio e a duplicata. O que caracteriza a ordem de pagamento no ponto de vista estrutural é a forma triangular. O sacador dá uma ordem ao sacado para que ele pague o tomador (que é o credor). O sacado, como já vimos, também se obriga ao pagamento. O aceite é o ato pelo qual o sacado se obriga a pagar o título de crédito. No cheque, é vedado o aceite (conforme artigo 6º da lei do cheque) – o sacado não pode aceitar o título e, portanto, em hipótese alguma o sacado estará vinculado cambiariamente ao título. O banco, por exemplo, nunca será devedor de cheque. O banco somente poderá ser réu em uma ação relacionada a isso se for uma ação de responsabilidade civil por falhas na prestação de serviço de sacado. A única hipótese em que um banco poderá ser cobrado por um cheque é se ele for o sacador do cheque (como no caso do cheque administrativo). Na letra de câmbio, o aceite é facultativo (conforme artigos 28 e 47 da LUG) – o sacado pode ou não assumir a obrigação cambial, conforme a sua vontade. Se ele der o aceite, estará obrigado ao pagamento e o pagamento poderá ser exigido – caso contrário, não será obrigado ao pagamento. Na duplicata, o aceite é obrigatório ou presumível (conforme artigo 15 da lei da duplicata). A duplicata é um título de crédito causal, que só pode ser emitido em relações jurídicas específicas (hipóteses em que a lei permita que seja emitido). No caso da duplicata, deve ser uma compra e venda mercantil ou uma prestação de serviço – trata-se de um título de crédito voltado para o comércio. O sacado na duplicata é o comprador – ainda que o sacado não dê o aceite, se o vendedor tiver dois documentos: o comprovante da venda da mercadoria ou da prestação de serviços e a servidão de protesto, esses dois documentos substituirão o aceite e a duplicata poderá ser executada ainda que não tenha sido aceita. O vendedor, no caso da duplicata, é ao mesmo tempo o sacador e o tomador. Rio, 11 de abril de 2012 Títulos de Crédito Letra de câmbio (continuação) A simples assinatura do sacado na frente do título configura o aceite. A recusa do aceite na letra de câmbio terá uma consequência muito importante: ele antecipa a exigibilidade do valor expresso na letra. Na regra geral, o título pode ser apresentado para aceite até o vencimento, porque no momento do pagamento o título é apresentado para pagamento. O sacador pode, porém, colocar cláusula que o título só é apresentado para aceite a partir de determinada data – podendo, também, proibir a apresentação para o aceite (situação em que o título só será apresentado para o pagamento). Nesse ultimo caso, se existiraceite, ele será válido – porém, no caso da falta de aceite, não existirá consequências para o sacador. Assim, a proibição para o aceite na realidade designa a ausência de garantia do aceite. Se o aceite não for dado pelo sacado, deve-se protestar o título para que se possa exigir o pagamento pelos coobrigados (como, no caso, o sacador). Assim, já vimos a primeira modalidade de protesto (por falta de pagamento) – agora, vamos a segunda modalidade (por falta de aceite). O artigo 1º da lei de protesto indica que o protesto indica não apenas o inadimplemento das obrigações de pagar, mas também o inadimplemento das obrigações de fazer. O artigo 43 da LUG também indica essas duas modalidades de protesto e fala da exigibilidade do pagamento por parte dos coobrigados. Sendo assim, a proibição de apresentação para aceite é uma garantia para o sacador de que não irá ocorrer a antecipação da exigibilidade do valor expresso na letra (também conhecido como “vencimento extraordinário”). O vencimento, por sua vez, pode ser definido como o fato jurídico que torna exigível uma obrigação. No título à vista, não ocorre apresentação para o aceite (o pagamento é devido imediatamente). Na letra à certo termo de vista, é vedada a cláusula impeditiva para o aceite: ela impediria o próprio vencimento da letra, uma vez que é com a apresentação que começa a fluir o “certo termo”. O artigo 43 da LUG cita, também, outras hipóteses de vencimento extraordinário: falência do sacado e/ou aceitante e a “falência branca”. A lei de falências (1.101/2005) estabelece que a falência torna exigíveis imediatamente todas as obrigações do falido. Na falência branca, se comprova que existem execuções infrutíferas do sacado – assim, ainda que ele não esteja falido, surge uma notável situação de inadimplência. Podemos dizer que são quatro as modalidades de vencimento ordinário (conforme o artigo 33 da LUG) e cinco modalidades de vencimento extraordinário. O vencimento ordinário pode estar expresso na letra ou decorre da lei, afinal, ele é um requisito suprível (no caso de não estar previsto, será a vista) Recusa do aceite, falência do sacado, execução frustrada do sacado, falência do aceitante e falência do sacador são as cinco modalidades de situações que geram o vencimento extraordinário (conforme artigo 43 da LUG). Existem duas modalidades de aceite: o aceite parcial (também chamado de aceite limitativo) e o aceite modificativo. No aceite parcial, o sacado aceita apenas uma parcela do valor expresso na letra. Caso seja modificada pelo aceite qualquer outra cláusula do título que não seja a do valor, tratar-se-á do aceite modificativo. Por exemplo: Se o vencimento vai até o dia 15, o título poderá ser apresentado para aceite até o dia 14, de forma que no dia 15 só se pode apresentar o título para pagamento. Porém, por meio do aceite modificativo, o aceitante pode aceitar o título, porém modificar o prazo de vencimento. Será o caso de um aceite modificativo. O artigo 26 da LUG indica que qualquer outra modificação feita no aceite que não aceitar apenas parte da importância equivalerá à recusa do aceite (como, por exemplo, no caso da mudança do vencimento). Porém, ainda que esse aceite se equivale à recusa do aceite, isso só irá gerar efeitos quanto ao vencimento extraordinário contra o sacador. Para o aceitante, persistirá a obrigação – ele se vincula nos termos do seu aceite. Assim, no nosso exemplo, ambos serão responsáveis pela dívida – o sacador imediatamente (o título torna-se exigível devido à equivalência à recusa do aceite) e o aceitante no prazo por ele descrito no aceite. Deve ser feita remissão do artigo 26 ao artigo 43 da LUG. A recusa parcial (que ocorre no aceite parcial) também antecipa o vencimento do valor devido. Porém, só será antecipado o vencimento do que não foi aceito – o valor restante, que foi aceito, continuará com o mesmo vencimento. O protesto por falta de aceite supre a necessidade do protesto por falta de pagamento. Porém, não há necessidade de fazer o protesto por falta de aceite – pode-se, por exemplo, esperar o vencimento. Porém, se está estabelecido na letra, conforme o artigo 53 da LUG, uma data determinada para a exigência do aceite, o portador perde o direito de exigir o valor caso não proteste a recusa do aceite. O artigo 53 da LUG indica que depois do prazo para protesto, perde-se o direito de ação contra os coobrigados – exceto pelo aceitante. Assim, temos que o aceitante é devedor direto, enquanto os demais coobrigados são devedores indiretos. Para que se possa cobrar do devedor indireto, deve-se comprovar que o sacado (que vira o aceitante) foi cobrado antes. Apenas após cobrar do aceitante pode-se cobrar do devedor indireto – nesse caso, deve-se comprovar o protesto. Apenas com a prescrição pode-se perder o direito de ação contra o aceitante (exceto, é claro, no caso de vícios formais). O prazo para protesto de falta do pagamento é de 1 dia útil após o vencimento. Já o prazo para protesto de recusa de aceite pode ocorrer até o dia do vencimento – a exceção é a prevista no artigo 53 da LUG, caso em que será exigível no mesmo prazo do endosso por falta de pagamento (1 dia útil). Já estudamos dois atos jurídicos cambiais: o saque e o aceite. Estudaremos, agora, outro ato: o endosso. O endosso é o ato jurídico que caracteriza uma manifestação unilateral de vontade em que o credor de um título de crédito transfere o seu direito de crédito a outra pessoa, denominada de endossatário. Assim, o credor deixa de ser credor ao transferir essa qualidade para outros. Quem pratica o endosso, portanto, é o tomador. Assim, assim como o sacado torna-se aceitante por meio do aceite (devemos lembrar que o “sacado” só existe antes do aceite para a prova), o tomador deixará de ser tomador por meio do endosso e passará a ser endossante. Além disso, surgirá a figura de um terceiro chamado de endossatário. O endosso é uma mera assinatura do tomador no verso do título. Caso a assinatura seja na frente, deve estar discriminado que trata-se de um endosso – caso contrário, poderá ser indicado como aval. O endosso é um ato incondicional (qualquer condição imposta é nula). Além disso, não existe endosso parcial – um endosso parcial será, por inteiro, nulo, e o suposto “endossatário” continuará como credor. O artigo 15 da LUG indica que, além do efeito de transferir o título, o endosso gera para o endossante o efeito dele se tornar um codevedor daquela letra. Ele será, porém, um coobrigado indireto – sendo assim, mais uma vez, será necessário o protesto relativo à falta de pagamento do sacado para exigir o pagamento pelo endossante. O artigo 914 do CC indica o contrário ao indicado pela LUG – porém, a LUG será aplicada (não apenas porque já seria nesse caso, mas também devido ao disposto no artigo 903 do CC). O endosso pode ser em preto ou em branco. O endosso em preto identifica a pessoa do endossatário. Já o endosso em branco é um endosso ao portador. O fato do endosso ser em preto ou em branco em nada altera as obrigações relativas ao título – altera, apenas, quem é o credor daquele título. Não se pode cobrar o valor daquele que passa para outro um título (sendo o seguinte na cadeia cambial após o endosso em branco) – pelo princípio da literalidade, ele não tem relação com aquele título. Embora o título circule por endosso, é possível que o sacador coloque uma cláusula chamada cláusula não à ordem. Essa cláusula faz com que o título não possa circular por endosso. Nesse caso, ele irá circular na forma da cessão de crédito. Somente o sacador pode colocar essa cláusula não à ordem no título – o endossante não pode. O endossante poderá, porém,colocar uma cláusula de proibição de novo endosso. Porém, a cláusula de proibição de novo endosso não proíbe o novo endosso – ela não altera a natureza do título como “à ordem” (que circula por endosso): ela simplesmente fará com que não se obriguem ao pagamento às pessoas que endossarem o título, incluindo aquele que recebe esse título com a cláusula pela primeira vez. Quem receber o título saberá que não poderá cobrar daqueles que receberam o título após a proibição de novo endosso. Se o endossante coloca uma cláusula de não pagamento, indicando que não garante o pagamento daquele título, o endossatário não poderá cobrar dele. Essa é a diferença da cláusula de proibição de novo endosso e a cláusula de não pagamento (a segunda desvincula o endossante que colocou a cláusula no título, enquanto a primeira desvincula os endossantes seguintes). Trabalho: Distinção do endosso para a cessão de crédito. 3 diferenças e fazer um comentário sobre a segurança do credor (se é mais seguro para o endossatário ou para o cessionário). Rio, 2 de maio de 2012 Títulos de Crédito Endosso (continuação) Quando ocorre o endosso, ocorre a transferência do crédito e aquele que era credor transfere a sua condição, passando a ser um coobrigado. No caso da cessão de crédito, exceto caso se disponha em contrário, o cedente não se torna coobrigado pela solvência do crédito (conforme artigo 296 do CC). Na cessão de crédito, a não ser que o devedor seja notificado, se ele paga ao cedente, ele paga bem. O pagamento só se tornará indevido se o devedor for notificado da cessão. No caso do endosso, se o devedor não for notificado do endosso e pagar ao endossante, o devedor terá pago mal. Como quem paga mal paga duas vezes, o endossatário ainda poderá cobrar do devedor. Para evitar pagar mal, deve-se requisitar a apresentação do título – conforme o princípio da cartularidade, aquele que detém o título físico irá deter o direito de crédito. Essa é a primeira diferença do endosso para a cessão de crédito. Além disso, o endossante, diferentemente do cedente, se obriga ao pagamento do título, tornando-se um coobrigado. O endosso admite, porém, cláusula em contrário. Sendo assim, são duas as principais diferenças entre o endosso e a cessão de crédito. Endosso impróprio é o endosso onde não há transferência da titularidade do crédito – o endossante permanece credor. Esse endosso poderá ser feito por duas modalidades: pelo endosso mandato (também chamado de endosso por procuração) ou pelo endosso caução (também chamado de endosso penhor). O penhor é uma garantia real que incide sobre bens móveis. No endosso penhor, o título é transferido não com a intenção de que o crédito vá para a outra parte, mas sim para garantir o crédito da outra parte (o título é utilizado como um penhor). Quando o título está dado em garantia a outra pessoa, a parte credora não poderá exercer o seu direito quanto ao título – ele não terá o título para exercer esse direito. Já aquele que detém o título em garantia poderá, por exemplo, executar ou protestar o título – ainda que o outro seja credor. Logo, temos que a qualidade de credor não se transfere – mas seus poderes se transferem. Sendo assim, é por isso que o título confere uma garantia. No endosso mandato, simplesmente se constitui um procurador. Em lugar de criar uma procuração, pode-se realizar um endosso mandato para que o endossatário possa agir em nome do endossante, de modo que o endossante permanece sendo credor. Nesse caso, portanto, o endossatário irá gerir o crédito do endossante. O banco oferece esse serviço sob o nome de desconto. Nesse caso, o endossatário adquirirá legitimidade para realizar a execução do título, protestá-lo, etc. Ele se diferencia do contrato de mandato porque o endosso mandato não se extingue com a morte do endossante. Já o contrato de mandato se extingue com a morte do mandante. O endosso impróprio deve ter sua característica de impróprio evidenciada no título. Deve constar que trata-se de endosso penhor ou endosso mandato. O tratamento do endosso impróprio será diferenciado porque o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais terá um tratamento diferenciado em cada uma das modalidades de endosso impróprio. No endosso mandato, o endossatário só poderá cobrar do aceitante e do sacador – ele não poderá cobrar do endossante, já que o endossante permanece sendo credor. Toda e qualquer exceção pessoal que o devedor tenha deve se referir unicamente com a relação ao endossante mandante – o devedor poderá aproveitar perante o endossatário mandatário as exceções relativas ao endossante mandante. Já no endosso caução, somente as exceções relativas ao endossatário que recebe a garantia poderão ser oponíveis pelo devedor. Aval O aval, assim como o saque, o aceite e o endosso, é uma manifestação unilateral de vontade. É uma garantia fidejussória (pessoal). A garantia pessoal se diferencia da garantia real porque ela se vincula a todo o patrimônio da pessoa. A garantia pessoal tem a desvantagem de que por vezes ela não consegue ser executada – em determinados casos, a pessoa não possui patrimônio. O aval será a garantia pessoal não do título por inteiro, mas sim de alguma das obrigações contraídas no título. Assim, a pessoa não será avalista da letra de câmbio ou da nota promissória, mas sim avalista do sacador, do endossante, do aceitante. A forma do aval é uma simples assinatura na frente do título – desde que não seja do sacador (que é o saque) nem do sacado (que é o aceite). O aval também pode ocorrer na frente – porém, isso deve estar claramente designado. O avalista assume obrigação de mesma natureza da obrigação do avalizado, conforme artigo 32 da LUG. Assim, em abstrato o avalista se encontra na mesma situação do avalizado – todos que podem cobrar do avalizado podem também cobrar do avalista. O avalista também pode exigir o pagamento de todas as pessoas das quais o avalizado pode cobrar mais o próprio avalizado. O avalista também será devedor direto (não precisa de protesto) ou indireto (precisa de protesto) de acordo com a natureza do seu avalizado. O emitente da nota promissória se equipara ao aceitante da letra de câmbio – é devedor direto. No aval não existe benefício de ordem. O benefício de ordem indica que o fiador deve exigir que o afiançado seja cobrado primeiro antes que cobrem do próprio fiador. Ele poderá até mesmo indicar um bem do afiançado para a execução. O benefício de ordem da fiança é um direito disponível – o fiador pode abrir mão do benefício de ordem. O próprio artigo 32 indica, ainda, que a obrigação do avalista se mantém mesmo caso a obrigação do garantido (o avalizado) seja nula. Sendo assim, em concreto o avalista e o avalizado não se confundem devido ao princípio da autonomia. Cada obrigação será autônoma com relação às obrigações que a precederam. Se o avalizado estiver interditado, estando plenamente incapaz, o avalista não poderá alegar a incapacidade do avalizado para se desobrigar do pagamento. Assim, avalista e avalizado se identificam para averiguar a natureza da obrigação e a posição na cadeia cambial – serão, porém, sempre obrigações autônomas. A nulidade da obrigação principal gera a nulidade da obrigação acessória, como no caso da fiança – porém, a nulidade da obrigação principal não gera a nulidade da obrigação autônoma. O Código Civil estabeleceu que o aval parcial é nulo – conforme artigo 897 parágrafo único. Já o artigo 30 da LUG consagra a existência do aval parcial. Assim, trata-se de mais um caso em que a LUG irá prevalecer. Se não é indicado quem é o avalizado, na letra de câmbio e no cheque o avalizado será o sacadore na nota promissória o avalizado será o emitente. Assim, essa omissão é suprida. Logo, é primordial que seja indicado no título quem é o avalizado. Quem visa endossar e assina na frente torna-se, assim, avalista do sacador ou do emitente. Nesse último caso de erro, essa exceção poderá ser oposta ao suposto endossante – porém, a exceção não poderá ser oposta a outros endossatários da cadeia cambial. Trabalho para quarta que vem: Pesquisar um acórdão que trate da necessidade de autorização (outorga) do cônjuge ou do companheiro para o aval da pessoa casada ou que viva em união estável. Fazer um breve comentário sobre a decisão do acórdão. Rio, 9 de maio de 2012 Títulos de Crédito Aval (continuação) O artigo 1.647 do Código Civil mudou as hipóteses em que é necessária a outorga conjugal, incluindo, em seu inciso III, o aval. No Código de 16, estava prevista apenas a fiança e não o aval na relação dos atos que necessitam de outorga conjugal para a validade. O artigo 903 do Código Civil indica que o Código Civil só será aplicável em caso de omissão da lei especial. Assim, toda e qualquer disposição do Código que trate de títulos de crédito deve ser interpretada em comparação da lei especial, predominando a lei especial em caso de conflito. O aval é uma garantia que ocorre apenas em títulos de crédito – e se for colocado algo indicado como aval fora de um título de crédito, considera-se que é um caso de fiança. Logo, a disciplina do aval é disciplina referente aos títulos de crédito. Surge, nesse caso, um conflito. O artigo 31 da LUG dispõe que o aval é resultante da assinatura do dador na face anterior da lei. A lei do cheque, em seu artigo 30, indica também indica o mesmo – basta a assinatura do dador para se consolidar a situação do aval. Nesse caso, parte da doutrina indica deveria prevalecer a lei especial, de modo que a regra da necessidade da outorga só irá se aplicar nos títulos que não citam os requisitos para o aval – ou seja, aos títulos que não tenham disciplina contrária. Esse argumento é reiterado pelo dinamismo das relações econômicas e do título de crédito – seria complicado exigir formalidades para se estabelecer o aval. E se o cônjuge, para autorizar, coloca também a sua assinatura no título? Assim, ele assinaria na frente do título – logo ele se tornaria coavalista também? São muitas as polêmicas. O STJ indica que existe uma presunção de que não há benefício para o casal quando um dos cônjuges contrai fiança ou aval – isso porque esse contrato é gratuito, ou seja, apenas uma das partes irá deter benefício dessa relação. Não existirá benefício para a família do avalista ou fiador. Assim, não se pode exigir que a família abrace a causa do fiador e do avalista, de modo que o patrimônio da família possa vir a, posteriormente, ser atingido por isso. O STJ entende que existe nulidade absoluta no caso da fiança e do aval sem outorga conjugal. O único caso em que essa outorga será dispensada é no caso da separação de bens consensual (que decorre de pacto antenupcial, não sendo obrigatória por lei). Isso decorre da súmula 377 do STF. É por meio dos embargos de terceiro ou pela ação anulatória que se pode exigir tal nulidade – o cônjuge que não integrou o aval ou fiança é o único que tem legitimidade para pleitear a nulidade. Rio, 16 de maio de 2012 Títulos de Crédito Aval (continuação) As obrigações do avalista são autônomas com relação às obrigações do avalizado. Já a fiança é uma garantia contratual e acessória, de modo que a fiança será nula se a obrigação principal for nula – o mesmo não ocorre no caso do aval. O avalista assume obrigação de mesma natureza do avalizado (ele ocupa posição que reproduz a do avalizado na cadeia cambial) – ocorre praticamente um mimetismo. Assim, a obrigação é de mesma natureza porque avaliamos o vínculo do avalizado para ter a dimensão do vínculo do avalista em abstrato (se o avalizado for devedor direto, o avalista também será devedor direto e o avalista poderá exigir o pagamento de todos aqueles que podem ser cobrados pelo avalizado). O avalista será devedor de todos a quem o avalizado deve e será credor de todos de quem o avalista pode cobrar. Em concreto, porém, o avalista continua sendo ele mesmo – por isso que ele não pode opor a nulidade das demais obrigações. A única forma na qual é possível opor as exceções pessoais é no caso de comprovação da má fé. O avalista também não tem benefício de ordem com relação ao avalizado. O avalista tem uma obrigação solidária com o do avalizado. O devedor direto é o sujeito que deve pagar o título em seu vencimento (no caso da letra de câmbio, é o aceitante). Logo, com o vencimento já se pode cobrar do devedor direto. Já no caso do devedor indireto, ele somente pode ser cobrado diante da apresentação do protesto do devedor direto, comprovando o seu inadimplemento. O protesto está previsto na lei 9492/97 e é o ato pelo qual se documenta o inadimplemento de uma obrigação. Devemos considerar que o último na cadeia cambial é o aceitante e não o sacador. Assim, o sacador pode cobrar do aceitante. O avalista poderá cobrar de seu avalizado e de todos os outros de quem o avalizado poderia cobrar. A natureza do pagamento do aceitante é de pagamento extintivo, uma vez que ele dá fim àquele título de crédito. O pagamento feito pelos demais membros da cadeia cambial não será extintivo, mas sim translativo ou recuperatório. Será translativo porque não põe fim ao título – apenas transfere de uma pessoa para outra a condição de credor daquele título. Alguns indicam que esse pagamento poderá ser considerado como parcial extintivo. Na solidariedade civil, aquele que paga absorve sua quota parte e cobra as demais dos outros devedores. Na solidariedade cambial, pode-se cobrar o todo dos demais membros da cadeia cambial. É possível que, garantindo a mesma obrigação, exista mais de um aval. O artigo 1647 inciso III do Código Civil indica que pessoas casadas, a não ser que o casamento seja no regime da separação total de bens, precisarão da autorização do cônjuge para prestar aval. Trata-se do fenômeno jurídico da outorga conjugal. A polêmica em torno disso é seguinte: o artigo 31 da LUG indica que só precisaria da simples assinatura para se ter o aval. Logo, chegamos a um conflito entre as duas normas. Bruno Vaz entende que deve prevalecer a LUG, já que a regra do artigo 1647 não é uma regra existencial, mas sim uma regra patrimonial. Ou seja, a ideia daquela norma é proteger patrimônio e não a família - podemos comprovar isso pelo fato de a regra mudar de acordo com o regime de bens selecionado pelo casal. O STJ indica que o aval se presume gratuito. A conclusão do pensamento do Bruno Vaz (distinto do entendimento do STJ) é que a eficácia do aval deverá ser relativa – ou seja, será eficaz somente para o cônjuge que prestar o aval. Assim, o aval será válido – apenas não atingirá o patrimônio comum do casal. O STJ, porém, diz que é causa de nulidade absoluta e nenhum patrimônio será atingido. Só quem terá legitimidade para a ação de nulidade será o cônjuge que deu o aval. Rio, 23 de maio de 2012 Títulos de Crédito Ainda sobre a letra de câmbio: a contar do vencimento do título, existe prazo prescricional de 3 anos para se cobrar do aceitante (obrigado direto). Já no caso dos coobrigados, o prazo é de 1 ano a partir do protesto - se a letra não exigir protesto, esse prazo de um ano será contado do vencimento. Nota promissória Ao contrário da letra de câmbio, a nota promissória é uma promessa de pagamento. Assim, a estrutura será linear, formada pelo emitente e o tomador. Os requisitos da nota promissória estão no artigo75 da LUG. O primeiro requisito é a cláusula cambial, ou seja, o nome “nota promissória” no título. Na nota promissória não existirá ordem de pagamento, mas sim a promessa de pagar em um dia determinado. O emitente da nota promissória equipara-se ao aceitante da letra de câmbio, uma vez que ambos são devedores diretos, podendo ser exigido o pagamento independentemente de protesto. O credor da nota promissória precisa promover somente a ação de execução. O protesto gera apenas a negativação do nome da pessoa, que passará a constar com restrição cadastral. Assim, o protesto poderia ser realizado pelo credor em qualquer caso? Existe uma diferença tênue nesse caso entre o exercício regular de um direito e o abuso de direito. O artigo 187 do Código Civil fala sobre o abuso de direito. Outro argumento indica que a lei 9492/97, lei do protesto, confere ao oficial do cartório, o tabelião, poderes para dar quitação diante do pagamento do devedor. Nesse caso, o cartório pode notificar o devedor indicando que foi apresentado um título para protesto e que esse será retirado em três dias. Assim, o devedor poderá pagar ou apresentar comprovante que indique que ele já pagou (recibo ou termo de quitação). Ou seja, a lei dá poderes ao oficial do cartório de dar quitação em nome do credor. Sendo assim, o protesto seria um meio de cobrança extrajudicial, não sendo apenas uma forma de documentar o inadimplemento. Trata-se de um meio de cobrança inclusive menos gravoso para o devedor. Se existem coobrigados, essa discussão sequer caberá, uma vez que ele será necessário para o exercício de um direito e jamais será abusivo. Além do emitente ser considerado um devedor direto equiparado ao aceitante, aplica-se à nota promissória a disciplina das letras de câmbio, conforme artigos 76 e 77, no que diz respeito a todas as matérias enumeradas nesse artigo. Com relação ao aval, existe uma particularidade – o avalista, se não indicar por quem dá o seu aval, será avalista do emitente. A obrigação do avalista será da mesma natureza do avalizado nesse caso também – nesse caso, não será necessário protesto e a prescrição da dívida é de 3 anos, uma vez que o emitente é obrigado direto. Ser avalista na nota promissória requer ainda mais cuidado do que ser avalista na letra de câmbio, uma vez que se o avalista não indicar de quem é avalista na letra de câmbio, ele será avalista do sacador, que é apenas um devedor indireto. Existe uma grande discussão quanto à nota promissória vinculada ao contrato. A nota promissória se submete aos princípios gerais dos títulos de crédito que já estudamos. É muito comum que notas promissórias sejam emitidas como forma de garantia na realização de contratos de modo geral. Via de regra, será aplicada a mesma lógica da inoponibilidade das exceções pessoais: ou seja, se aquele título de crédito circula, o devedor não pode opor ao novo credor situações da sua relação jurídica com o credor originário ou situações que digam respeito à capacidade ou legitimidade do credor originário. Devido a isso, adotou-se uma prática de vincular a nota promissória ao contrato do negócio jurídico relacionado ao seu pagamento. Parte da doutrina indicou que isso em nada alterava a natureza e os princípios da nota promissória. Outra parte da doutrina indicou que não altera a natureza da nota promissória, porém cria uma presunção de má fé daquele que circulou aquele título (assim, o emitente poderá discutir a relação jurídica contratual com quem quer que esteja com o título). É dessa última forma que tem decidido os tribunais. Nesse caso, poderia ser colocada uma cláusula não a ordem, de modo que o título teria que circular somente por cessão de crédito. O STJ editou as súmulas 233 e 258, que versam sobre questões relacionadas diretamente ao cheque especial. O cheque especial pode ser considerado como um contrato de mútuo com condição suspensiva. Geralmente na contração do cheque especial era assinada uma nota promissória em branco. A súmula 258 indica que essa nota promissória relacionada à contratação de crédito, emitida a partir de um contrato ilíquido, perde a sua autonomia com relação à liquidez. Atualmente, os bancos pedem, em lugar da nota promissória, a cédula de crédito bancário. Rio, 30 de maio de 2012 Títulos de Crédito Matéria da G2: A princípio será somente cheque e duplicata. Cheque O cheque é considerado um título de crédito impróprio. É também uma ordem de pagamento emitida contra instituição financeira, com fundamento em contrato celebrado entre o emitente e o sacado e com vencimento à vista. Trata-se de um título de crédito impróprio porque não corresponde a uma verdadeira operação de crédito. Crédito é a troca de uma prestação atual por uma contraprestação futura. O crédito lida com dois elementos: tempo e confiança. A confiança exige a garantia. No cheque, não temos nem o tempo nem a confiança. O tempo não existiria porque o cheque não permite outra modalidade de vencimento que não seja à vista. Além disso, não existirá confiança porque o cheque exige provisão de fundos para que ele seja emitido (conforme artigo 4º da lei de cheques). Assim, parte da doutrina indica que o cheque seria um meio de exação – ou seja, um meio de pagamento, de se liberar de obrigações. O artigo 13 da lei de cheque (7357/85) indica que as obrigações contraídas no cheque serão autônomas e independentes (conforme princípio da autonomia) e refere-se também ao princípio da inoponibilidade das exceções pessoais. O artigo 2º da lei do cheque reflete o princípio do formalismo. O artigo 17 indica que o cheque se transmite por endosso. O artigo 29 indica que o pagamento do cheque pode ser garantido por aval. O artigo 47 fala da força executiva do cheque. Assim, temos que o cheque tem muitas características que geralmente se aplicam aos títulos de crédito em geral. Alguns autores indicam que trata-se de um título cambiariforme (que tem forma de um título cambial). Parte da doutrina indica que existe sim confiança e tempo. Tempo porque o vencimento à vista não é vencimento na data da emissão, mas sim na data da apresentação. A confiança existiria porque a ausência de provisão de fundos não retira do título a característica de ser um cheque – logo, aquele que recebe o cheque tem sim uma confiança, uma vez que o cheque pode se encontrar sem provisão de fundos. Essa discussão quanto a ser ou não um título de crédito não é muito relevante na prática porque a lei do cheque trás ampla regulação dessa matéria – mas, em geral, temos que ele será considerado um título de crédito impróprio. O cheque, conforme o artigo 1º da lei do cheque, tem sua forma vinculada aos requisitos citados na lei. Deve ser feito em um talonário com numeração, autorizado pelo banco central e que só pode ser emitido por instituições financeiras. A palavra cheque deve constar do instrumento – esse é um requisito formal. O cheque é uma ordem de pagamento, logo terá estrutura triangular. O sacado é a pessoa contra quem a ordem de pagamento é dada (quem deve pagar o título). No caso do cheque, existe uma limitação subjetiva da figura do sacado – somente instituição financeira poderá ser sacado de cheque (deve ser banco ou instituição autorizada pelo banco central). A lei 4595/64, em seus artigos 17 e 18, cita as espécies de instituições financeiras. Quanto ao sacado, também existe outra peculiaridade. Na letra de câmbio, o sacado só poderá ser cobrado por meio do aceite. No cheque, o sacado não pode ser exigido pela obrigação cambial – mas a lei do cheque é ainda mais rigorosa do que a letra de câmbio, uma vez que a lei do cheque proíbe o aceite em seu artigo 6º. Se for dado o aceite, ele será consideradocomo não escrito. O sacado não poderá, na qualidade de sacado, assumir obrigação cambial. Em caso de impossibilidade de alcançar os fundos por erro do banco, o tomador poderá entrar com uma ação de responsabilidade civil, porém ele nunca poderá cobrar o valor do banco (o banco nunca será devedor). A execução só ocorre contra aquele que assume obrigação no título. Para que se tenha fundos, nos moldes do artigo 4º, não basta ter dinheiro depositado – esse dinheiro também deve estar disponível. Assim, caso ocorra, por exemplo, penhora online sobre determinada conta, esse cheque será considerado como um cheque sem provisão de fundos. Com relação ao saque: o sacador de um cheque, assim como o emitente da nota promissória e o sacador da letra de câmbio, não pode se eximir de pagar (cláusula contrária será considerada como não escrita).O sacador de um cheque, assim como o emitente da nota promissória, será um devedor direto (e não indireto, como ocorre na letra de câmbio) e poderá ser executado independentemente de protesto. O banco só poderá se obrigar pelo pagamento do cheque se ele for o sacador do cheque – o nome do cheque no qual o banco é sacador é cheque administrativo. A vantagem do cheque administrativo é que ele não pode ser sustado e a grande solvência que os bancos costumam ter. No cheque administrativo, tanto o sacador quanto o sacado serão o banco – banco obriga ele mesmo a pagar. Aquele que oferece o cheque administrativo em garantia estará fora da cadeia cambial. Literalidade do cheque – o credor só tem ação contra o emitente do cheque, ainda que a conta seja conjunta com outra pessoa. Já o banco será ação contra os dois, já que eles assumiram solidariedade passiva perante o banco. Rio, 06 de junho de 2012 Títulos de Crédito Cheque (continuação) Veremos algumas modalidades de cheques. A primeira delas é o cheque visado. Como se sabe, o cheque não admite aceite, conforme artigo 6º da lei do cheque. O sacado não pode assumir obrigação cambial. No cheque visado, porém, contém uma assinatura do banco na frente do título, chamada de viso ou visto. Essa assinatura segrega o valor daquele cheque da conta do emitente. Na regra de pagamento de cheque, é a apresentação que gera a preferência no recebimento – mesmo se outro cheque tiver sido emitido antes, o que foi apresentado primeiro sempre terá preferência. A data da emissão só será relevante no caso de cheques que forem apresentados simultaneamente. No caso do cheque visado, a conta corrente terá uma segregação contábil no valor do cheque emitido. Assim, no caso visado se obriga contratualmente a separar o valor daquele cheque para garantir o pagamento. Sendo assim, não será seguida a regra geral de que o apresentado primeiro será pago primeiro. Dessa forma, existe maior segurança quanto ao fato de que realmente será pago o valor disposto naquele cheque. No Brasil, cheques visados são pouco utilizados – geralmente os cheques administrativos são utilizados nas situações em que se requer maior segurança. No caso da provisão de fundos, além do valor estar em contas ele também deve estar disponível – o valor separado para o cheque visado não estará disponível, sendo assim, se existir apenas esse valor em conta não existirá provisão de fundos. O prazo de apresentação do cheque poderá ser de 30 (caso apresentado na mesma praça) ou 60 (caso apresentado em praça diversa) dias. O viso do cheque só produz efeitos durante o prazo de apresentação. Ultrapassado o prazo, encerra-se a segregação do valor na conta, que voltará a ter um único estrato. Assim, após o prazo de apresentação perde-se o benefício. Quanto ao prazo de apresentação, conforme o artigo 35 da lei de cheques, enquanto não houver contraordem o cheque será pago pelo sacado até que ocorra prescrição. O prazo de prescrição do cheque está no artigo 59 da lei do cheque e é um dos prazos prescricionais mais curtos de nosso direito: a prescrição se dá em 6 meses contados da expiração do prazo de apresentação. Assim, depois de decorrido 30 ou 60 dias, dependendo do caso, começará a contar o prazo prescricional. Mas o que seria a contraordem? Ela também é conhecida como revogação. Trata-se de uma ordem dada pelo emitente do cheque ao sacado, por escrito, impedindo o pagamento do cheque após a expiração do prazo de apresentação. Assim, limita-se o pagamento do cheque, pelo sacado, ao prazo de apresentação. A contraordem é uma defesa econômica e não jurídica. A sustação ou oposição ao pagamento de cheque opera efeito imediato e faz com que o banco não pague o valor previsto no cheque. A diferença da sustação para a revogação é que a sua eficácia é imediata (enquanto a revogação deve respeitar ao menos o prazo de apresentação). O fundamento da sustação deve ser jurídico, já que a frustração indevida do pagamento do cheque também configura estelionato. Antes da sustação se operar, o banco sempre deve acatar a ordem de sustação. Enquanto na sustação se faz uma defesa do seu direito, na revogação se faz uma defesa da sua economia. Outra modalidade de cheque é o cheque cruzado. É representado por duas linhas paralelas cortando o cheque. Pode existir também o cruzamento especial, no qual se coloca o nome do banco entre as duas linhas paralelas. Tanto no cruzamento geral quanto no especial, o seu efeito é impedir que esse cheque seja pago em dinheiro – o cheque só será pago por meio de depósito em conta ou pagamento ao sacado. Assim, se evita que o cheque seja recebido por quem não tem conta, dando menor poder de circulação ao cheque. No cruzamento especial, o cheque só pode ser depositado na conta daquele banco indicado no cruzamento. Existe uma modalidade de cheque chamada de cheque para ser levado em conta. Essa modalidade é pouco utilizada no Brasil por ser praticamente idêntico ao cheque cruzado. Basta que se coloque o termo “para ser levado em conta” para que seja evitado o pagamento em dinheiro. No caso do endosso, o prazo de apresentação do cheque também será relevante. O endosso posterior ao fim do prazo de apresentação somente possui os efeitos da cessão de crédito, conforme artigo 27 da lei do cheque. Com o endosso existe o princípio da autonomia, o que não ocorre na cessão de crédito. Se o cheque é apresentado para pagamento após o prazo de apresentação, ele deve ser pago a não ser que exista contraordem. Se o cheque não for pago mediante a apresentação, existirá ação contra o emitente e os coobrigados. O emitente será devedor direto, que pode ser cobrado independentemente de protesto. Serão coobrigados, o endossante (salvo cláusula em contrário), conforme artigo 21 da lei do cheque e o avalista, conforme artigo 31 da mesma lei (devemos lembrar, porém, que o avalista segue a sorte do avalizado – se for avalista do emitente, será devedor direto). Além disso, para cobrar dos coobrigados o cheque deve ser apresentado dentro do prazo de apresentação, conforme artigo 47 inciso II. Rio, 13 de junho de 2012 Títulos de Crédito Cheque (continuação) Qualquer cláusula em sentido contrário ao vencimento à vista será considerada como não escrita no caso do cheque. A súmula 370 do STJ indica, porém, que caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado. Isso porque o cheque não muda a sua natureza por sua data escrita no título ser posterior à data e que ele foi emitido. O cheque pré-datado não existe no campo do direito cambial, mas apenas no campo do direito contratual. Trata-se de uma obrigação de não fazer por parte daquele que toma o cheque – é uma questão meramente contratual. A teoria do dano moral indica que nas ações de danos morais não é necessário provar
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