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Titulos de Credito - Bruno Vaz.pdf

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Rio, 29 de fevereiro de 2012 
Títulos de Crédito 
São exemplos de títulos de créditos: os cheques, as notas promissórias, as debêntures, as 
cédulas de crédito bancário, entre outros. A função dos títulos de crédito é a proteção do credor, 
bem como a possibilidade da circulação de riquezas (uma vez que a maior segurança nos 
empréstimos já feitos incentiva a celebração de novos empréstimos, por exemplo). 
Após o processo de conhecimento de uma ação de cobrança derivada de um empréstimo, 
geralmente surge um título executivo judicial. O título executivo dá ao seu portador o direito de 
invadir o patrimônio da pessoa. Uma vez portando um título de executivo, a ação de execução 
é bem simples – o réu será citado unicamente para pagar ou nomear bens para penhora. No 
momento em que um bem é penhorado, ele perde sua livre disponibilidade – uma vez que está 
garantindo um crédito em juízo. 
Porém, caso nesse empréstimo tivesse sido assinada uma nota promissória, por exemplo, que 
promete pagar determinada quantia em determinado tempo, o procedimento de conhecimento 
do processo teria sido desnecessário, sendo necessário somente entrar com um rápido processo 
de execução. Esse é o primeira vantagem dos títulos de crédito – a garantia da vida. 
A segunda vantagem dos títulos de créditos é a capacidade de circulação. O detentor de uma 
nota promissória, por exemplo, não precisa esperar o prazo de vencimento para rever o seu 
crédito – ele pode simplesmente vender o título a outro e obter o seu crédito agora. Assim, o 
título irá circular. Em conclusão, temos que os títulos de crédito trazem facilidades para o credor 
– e, em consequência, também para o devedor, uma vez que quanto mais fácil for reaver o 
crédito, mais fácil é conceder o crédito. 
Origem histórica 
Quanto à origem histórica, há uma discussão sobre se os títulos de crédito surgiram entre 
navegadores do mediterrâneo (principalmente na Itália) ou entre navegadores dos Balcãs. Os 
títulos de crédito surgiram na Itália em paralelo ao surgimento das instituições financeiras. 
Como a Itália não era unificada, muitas eram as moedas e o risco de saque no transporte de 
riquezas era muito grande. Assim, o câmbio e a ausência de segurança eram grandes problemas 
para os comerciantes da época. Com o tempo, as instituições financeiras surgiram para resolver 
esses problemas. Dessa forma, surgiu a letra de câmbio, que permitia que um dinheiro 
depositado em uma cidade, em uma moeda, poderia ser sacado em outra cidade, em outra 
moeda. É um título de crédito que permitia a troca de moedas. 
Nesse primeiro momento, o título de crédito tinha três requisitos: provisão de fundos (para ser 
titular de uma letra câmbio, o individuo deve deter fundos junto à instituição financeira), a 
distância entre o local de emissão e o local de pagamento e um contrato de câmbio. 
Durante o período francês, há uma evolução: passa a ser necessário apenas o contrato de 
câmbio, sendo desnecessária a provisão de fundos e a distância. No período alemão, posterior, 
o título se abstrai de qualquer causa – que toma as feições que atualmente a maior parte dos 
títulos adquiriu. 
Conceito de título de crédito 
É a partir dessa evolução que surge o conceito de títulos de crédito, expresso no artigo 887 do 
Código Civil. Esse mesmo artigo também trás os princípios relativos ao título de crédito. 
O título de crédito é um documento necessário para o exercício de um direito. É isso que indica 
o princípio da cartularidade – você necessita do documento original para exercer o direito. 
Atualmente, esse princípio está um pouco mitigado em razão dos títulos de crédito virtuais ou 
eletrônicos – conforme artigo 889 parágrafo 3º. Existe, porém, uma divergência quanto a se essa 
disposição do Código Civil prejudica o princípio da cartularidade – alguns indicam que a 
cartularidade permanece existindo, apenas toda as feições do seu tempo. 
A literalidade é o segundo princípio. Segundo esse princípio, vale o que está escrito. Os direitos 
e deveres relativos ao título de crédito estão inseridos no título – o que não está no título não 
vincula o título. 
O aval é a garantia típica que vincula os títulos de crédito – e ele pode ser total ou parcial. 
 
Rio, 7 de março de 2012 
Títulos de Créditos 
O artigo 887 do Código Civil trás os princípios aplicáveis aos títulos de crédito, conforme 
estudamos na aula passada. Os princípios da cartularidade (necessariedade de apresentar o 
título para exercer o direito), da literalidade (todos os direitos e deveres relativos ao título de 
crédito devem estar expressos no título – qualquer pacto ou contrato que não está no título não 
tem força cambial, não vincula o título) e da autonomia são os principais princípios aplicáveis 
aos títulos de crédito. 
O princípio da autonomia indica que o título de crédito tem uma vida autônoma em relação à 
obrigação que deu causa à sua emissão. Ele não se confunde com a obrigação em si. O princípio 
da autonomia tem um prisma objetivo e um prisma subjetivo. O seu prisma objetivo se chama 
abstração, enquanto o seu prisma subjetivo se chama inoponibilidade das exceções pessoais. 
A abstração indica que no momento em que o título de crédito é posto em circulação, ele se 
desprende do negócio jurídico que deu causa a sua emissão – ele se torna uma obrigação em si 
mesmo. Assim, por exemplo, um contrato de mútuo e uma nota promissória são autônomos 
entre si, ainda que um tenha surgido em decorrência do outro – no momento em que a nota 
promissória circula, ela se torna completamente desvinculada do contrato de mútuo. Se o 
negócio jurídico que deu causa ao titulo de credito é desfeito, o titulo permanece existindo por 
estar desprendido de tal negócio jurídico. Sendo assim, a emissão de títulos de créditos gera 
uma vinculação muito grande e que independe do negócio jurídico em si. Por vezes, se dispõe 
no próprio título que ele se vincula ao contrato – assim, evita-se a má fé do credor. Ainda assim, 
o título poderá ser executado – mas a questão poderá ser discutida no poder judiciário 
posteriormente. 
A autonomia do ponto de vista subjetivo está ligada às pessoas que integram a cadeia cambial. 
Quem assume um título de crédito se vincula independentemente das obrigações que os outros 
assumiram. Por exemplo, se uma pessoa interditada emite uma nota promissória, esse ato não 
irá vinculá-la (a não ser que um curador estivesse envolvido). Se outra pessoa dá o aval para essa 
obrigação, ela possui uma obrigação autônoma – ele não pode opor a exceção pessoal do 
emitente da nota promissória para se livrar de sua obrigação. Cada pessoa que emite um título 
de crédito está vinculada a uma obrigação nova, independentemente das outras obrigações. A 
coação para com o outro também não pode ser oposta pelo avalista. Quem emite um título de 
crédito obtém uma obrigação totalmente distinta da dos outros anteriores à sua emissão – cada 
um que recebe um título de crédito e o endossa adquire uma obrigação distinta e autônoma das 
outras. Eles se tornam co-devedores, e existirá entre eles solidariedade cambial. Na 
solidariedade cambial, aquele que paga poderá cobrar tudo daquele que veio antes dele na 
cadeia cambial, porém não poderá cobrar nada daquele que veio depois dele. Todos aqueles 
que endossam continuam obrigados mesmo após o endosso. 
 O quarto requisito do título de crédito é o requisito do formalismo. O documento que serve 
como título de crédito deve preencher todos os requisitos que a lei impõe para os títulos de 
crédito. Como exemplo, as notas promissórias devem ter a expressão “nota promissória” nela 
escrita – caso contrário, não será de fato uma nota promissória. Sem a expressão “nota 
promissória”, só se podecobrar o valor se duas testemunhas tiverem assinado o documento. 
Existem diversas classificações dos títulos de crédito. A primeira classificação é quanto à 
estrutura. Nessa classificação, podem ser ordens de pagamento, promessas de pagamento e 
títulos representativos de mercadoria. As ordens de pagamento podem ser representadas como 
um triângulo, enquanto as promessas de pagamento possuem estrutura linear. 
Na ordem de pagamento, temos o sacador. Ele cria o título, o saque. No alto do triângulo, temos 
o sacado – contra quem é dada a ordem (quem deve pagar). A terceira ponta do triângulo é o 
beneficiário ou o credor. Um exemplo de ordem de pagamento é o cheque. No cheque, por 
exemplo, a pessoa que escreve é o sacador, que manda o sacado, o banco (no caso), dar o 
dinheiro ao beneficiário. São exemplos de ordens de pagamento o cheque, a letra de câmbio e 
a duplicata. 
Já nos títulos lineares, tem-se apenas as figuras do emitente e do tomador. Na promessa de 
pagamento, o emitente se obriga a pagar, não dá ordem à ninguém como ocorre na ordem de 
pagamento. Os títulos representativos de mercadoria também são títulos lineares. 
Os títulos de crédito também podem ser classificados quanto à circulação. Uma categoria são os 
títulos ao portador – quem estiver portando o título se presume seu credor. A posse faz presumir 
a propriedade nesse caso. O crédito é transferido com a mera transferência do título, que 
poderá circular pela simples tradição. 
Outra categoria quanto à circulação são os títulos nominais à ordem. Esses são os títulos que 
identificam a pessoa do credor. Os títulos nominais à ordem podem ser endossados. O endosso 
é o ato pelo qual o credor transfere seu crédito a um terceiro. O endosso pode ser em branco 
(não identifica o endossatário) ou em preto (identifica). 
Outra categoria são os títulos nominais não à ordem. São títulos que identificam o credor, mas 
não podem ser endossados – ele só circulará pela via da cessão de crédito. 
Outra categoria são os títulos nominativos, que são aqueles em que o credor é identificado, mas 
essa identificação consta da escrituração do devedor. As ações, caso encarados como título de 
crédito, seriam títulos nominativos. 
O protesto é o ato jurídico que documenta o inadimplemento de uma obrigação – é por meio 
do protesto que o inadimplemento que configura formalmente. Veremos isso com mais detalhes 
mais adiante no curso. 
 
Rio, 14 de março de 2012 
Títulos de Crédito 
Classificação dos títulos de crédito (continuação) 
A última classificação que vimos foi quanto à circulação. 
Quanto ao vencimento: são quatro as modalidades de classificação dos títulos de crédito quanto 
ao vencimento. 
A primeira modalidade é o vencimento à vista. A lei geral indica que quando o título não traz 
previsão de data de vencimento, o vencimento será à vista. Vencimento à vista significa que o 
vencimento é colocado à vista para o vendedor – no momento em que o título é colocado para 
o vendedor (na apresentação do título para o vendedor – quando ele vê o título) ele deve ser 
pago. Sendo assim, o título com vencimento à vista deve ser pago no momento de seu 
recebimento. 
O cheque é uma modalidade de título de crédito que só aceita vencimento à vista. A lei 7357/85, 
que regula os cheques, em seu artigo 32, indica que se é estipulada outra data para o 
pagamento, essa data não é considerada. 
Mas e o cheque pré ou pós-datado? Essa será uma discussão que teremos depois. A questão do 
cheque pré-datado é uma questão contratual entre o emitente e o tomador – em nada altera o 
fato do vencimento ser à vista. Assim, por força do contrato uma parte assume uma obrigação 
de não-fazer perante a outra (de não apresentar o cheque antes de determinada data). No caso 
de inadimplência do contrato, incide responsabilidade civil contratual – assim, os danos 
ocasionados pela apresentação prematura do cheque serão indenizados pelo tomador. 
O sacador é quem faz o cheque, o sacado é aquele que executa a transferência (geralmente o 
banco) e o tomador é aquele para quem o cheque é direcionado. 
O artigo 171 inciso VI do Código Penal fala do cheque sem provisão de fundos. Porém, para 
constituir de fato crime deve existir dolo específico. Assim, se alguém indica que o cheque não 
tinha fundos no momento da apresentação, mas ele foi apresentado antes da hora combinada, 
não será caso de estelionato. Sendo assim, para reforçar a questão da prova nesses casos, 
devemos atentar para que o contrato feito entre o sacado e o tomador fique claro no próprio 
título (escrever no próprio cheque a data que foi combinada para a apresentação do cheque). 
Outra modalidade de vencimento é o vencimento à termo (ou com data certa). Nesse caso, 
escreve-se no título a data do vencimento, e aquela será a data válida. 
A terceira modalidade de vencimento é o vencimento a certo termo de vista. O termo é um 
evento futuro e certo, enquanto a condição é um evento futuro e incerto. Certo termo de vista 
é um determinado espaço de tempo contado à partir da vista (do momento da apresentação do 
título). Assim, a apresentação será o momento inicial para a fluência do prazo de vencimento. 
Por exemplo: estipular que o vencimento será quinze dias a contar da apresentação do título. 
A quarta modalidade é o vencimento a certo termo de data. Essa modalidade é como a anterior 
– porém, em lugar de contar a partir da vista, o prazo será contado a partir de uma data certa. 
Por exemplo, estipula-se o vencimento em 15 dias contados a partir de 14 de março. Acaba 
sendo parecida com o vencimento com data certa – porém, como o prazo é contado 
diferentemente de acordo com finais de semana e feriados, acaba não sendo idêntico. 
O título de crédito não pode, em hipótese alguma, conviver com uma condição. Isso porque 
trata-se de um título executivo – o que exige que seja um título líquido, certo e exigível. Logo, o 
título de crédito não pode conviver com qualquer tipo de segurança. Se for prevista uma 
condição, será como não prever vencimento – sendo assim, o vencimento será à vista. 
Quanto à sua natureza: títulos de crédito próprios e títulos de crédito impróprios (títulos 
cambiariformes – de direito cambial). Os títulos impróprios não possuem natureza de título de 
crédito propriamente dito. 
Um título de crédito próprio representa uma típica operação de crédito. A noção de crédito se 
relaciona com a noção de confiança - porém, cada vez mais a noção de crédito é objetiva (não 
importa quem você é – mas sim unicamente se o seu CPF está negativado). A definição de crédito 
é a troca de uma prestação presente por uma contraprestação futura. A partir disso, podemos 
extrair dois elementos que compõem o crédito: a confiança e o tempo. Os títulos de crédito 
próprios são aqueles que unem esses dois elementos. Uma nota promissória ou uma letra de 
câmbio são exemplos, já que não é necessária a provisão de fundos (há confiança) e o 
vencimento pode ser estipulado no futuro (há tempo). 
Já os títulos de crédito impróprios não contemplam uma efetiva operação de crédito. Um 
exemplo é o cheque – isso porque o cheque faz com que seja necessária a provisão de fundos 
(não há confiança empregada na emissão do título) e porque o cheque só pode ser emitido com 
vencimento à vista (sendo assim, o elemento tempo também não se consolida no caso do 
cheque). O artigo 4º da lei 7357/85 fala da provisão necessária de fundos. Mas o cheque é um 
título de crédito por ter todas as características dos títulos de credito – circula por endosso, 
garantido por aval, força executiva, princípios, etc. 
Os ingressos (de cinema, por exemplo) são títulos de legitimação – documento que legitima o 
exercício de determinado direito.Não são títulos de crédito. 
Classificação quanto aos efeitos em relação à obrigação originária: via de regra, embora o título 
de crédito seja considerado um ato jurídico strictu sensu, uma manifestação unilateral de 
vontade, eles se relacionam com outras obrigações. Os títulos podem ser pro-soluto ou títulos 
pro-solvendo. 
No caso do título pró-soluto, o título significa que sua emissão representa uma novação. A 
novação é a extinção de uma obrigação pelo surgimento de uma nova. Via de regra, em razão 
do princípio da autonomia, a emissão de um título de crédito não gera novação – faz apenas 
com que duas obrigações coexistam. 
Já no caso do título pró-solvendo, a obrigação originária só estará extinta quando for adimplida 
a obrigação assumida no título de crédito. 
O cheque e os títulos de crédito em geral são pró-solvendo. Por exemplo, a entrega do cheque 
não indica que parcelas devidas em decorrência de locação já foram pagas – apenas quando o 
cheque for executado é que a obrigação estará pago o aluguel (exceto caso se dê quitação – 
nesse caso, ocorre novação e o título será executado como se fosse pró-soluto). Porém, também 
pode-se estabelecer inicialmente que o cheque terá natureza pró-soluto – assim, a obrigação 
decorrente do contrato de locação seria substituída pela obrigação de pagar o título de crédito 
no seu vencimento (no caso do cheque, à vista). Logo, a natureza pró-soluto pode ser 
estabelecida no contrato da obrigação originária ou em um contrato apartado (o que é gerado 
no caso da quitação da obrigação anterior no momento da apresentação do título). 
Para que o título de crédito tenha natureza pró-soluto, isso deve constar do título ou do 
contrato? Deve constar do título devido ao princípio da literalidade? Não, não será hipótese do 
princípio da literalidade, porque estamos falando dos efeitos do título sobre a obrigação 
originária. Sendo assim, é primordial que esteja claro no título da obrigação originária (por 
exemplo, no contrato de locação) – não é necessário que esteja disposto no título. Ao ser 
conferida a natureza pró-soluto, a obrigação anterior se extingue – assim, caso o título de crédito 
sofra a prescrição, a pessoa não terá como perseguir a dívida. 
O artigo 62 da lei 7357/85 indica que cheque possui, em geral, natureza pró-solvendo (exceto 
caso seja comprovada a novação). 
Trabalho para a próxima aula: pegar um acórdão cuja decisão esteja fundamentada em um 
desses três princípios: autonomia, abstração ou inoponibilidade das exceções pessoais. Em 
dupla com o Savigny. Devemos fazer uma análise de uma a três laudas sobre o acórdão. 
(savigny_puc2010.1@hotmail.com) 
Legislação Cambial 
Trabalharemos com as seguintes leis: Código Civil de 2002 (arts. 887 e seguintes) (equivalente 
às normas gerais), decreto 57663/66 e decreto 2.044/1908 (Lei Uniforme de Genebra – aplicável 
às letras de câmbio e notas promissórias), lei 7357/85 (cheque), lei 5474/68 (duplicata) e lei 
10.931/2004 (cédula de crédito bancário). 
O artigo 903 do Código Civil indica que, salvo os casos citados em lei especial, aplica-se aos títulos 
de crédito o disposto no Código Civil. O artigo 914 trás uma disposição sobre o artigo 15 do 
decreto 57.663/66 trás uma disposição contrária. Nesse caso, portanto, se aplicará o disposto 
na LUG – e será assim em todos os casos de conflito. Assim, o Código Civil, no que diz respeito 
aos títulos de crédito, é apenas uma norma supletiva – só devemos recorrer ao Código Civil se a 
lei especial não decidir a questão. 
Os títulos de crédito atípicos ou inominados também são regulados pelo Código Civil. 
 
Rio, 21 de março de 2012 
Títulos de Crédito 
Legislação cambial (continuação) 
As normas gerais dos títulos de crédito estão no Código Civil a partir do artigo 887. O artigo 903 
é essencial para a compreensão de como aplicar a legislação cambial – esse artigo indica que o 
Código Civil será subsidiário no caso dos títulos de crédito e só será utilizado quando não existir 
disposição diversa em lei especial. 
Letras de câmbio e notas promissórias serão regidas pelo Decreto 57.663/66, que incorporou a 
LUG (Lei Uniforme de Genebra) no direito brasileiro. A LUG foi criada em 1930, ainda na época 
da Liga das Nações, para uniformizar internacionalmente o tratamento concedido a alguns 
títulos de crédito. O governo brasileiro aderiu à LUG em 1942. Apenas em 66, porém, por meio 
de um decreto, a LUG foi expressamente incorporada ao nosso ordenamento jurídico. 
A LUG possui o Anexo I, no qual está prevista a regulação às normas que regem a letra de câmbio 
e a nota promissória e o Anexo II, no qual estão listadas as reservas. As reservas são faculdades 
de não adesão – o próprio tratado criou tais faculdades. Assim, são permissões para que o país 
trate de forma diferente. Cada país, ao adotar o tratado deve informar quais reservas adotou. 
O anexo II viabilizava 26 reservas, das quais o Brasil fez treze. O artigo 9º do anexo II, por 
exemplo, diz respeito à disposição contida no artigo 44 alínea 3 e fala que essa alínea, caso não 
seja adotada, deverá ser adotado algum dos limites nele contidos. Pela LUG, a recusa de 
pagamento deve ser comprovada em um ato formal: o protesto de pagamento. A lei 9492 de 
1997 fala sobre o protesto de pagamento (ato formal que comprova o inadimplemento, 
conforme artigo 1º dessa lei), que surge mediante registrado em cartório o título inadimplente. 
Assim, o devedor será intimado para depositar o valor devido em 3 dias – se isso não acontecer, 
surge o protesto, que oficializa o inadimplemento. Teremos em breve uma aula só de protesto 
– isso é apenas para efeitos de entender o mecanismo da reserva. O artigo 53 dessa lei indica 
que depois do prazo para mover o protesto, o credor (endossatário) perde seu direito de ação 
contra o endossante, sacador e outros coobrigados. Assim, expirado o prazo para protesto, o 
credor perde qualquer direito de ação e provavelmente não irá reaver o crédito. O artigo 44 
alínea 3ª da LUG indica que, a partir do vencimento, existiria o prazo de dois dias úteis para fazer 
o protesto. O anexo II artigo 9º, ao permitir a reserva, indicou que essa alínea pode ser alterada 
– porém o prazo poderá apenas ser menor do que dois dias, nunca maior. Como o Brasil fez a 
reserva, aplicaremos a nossa lei interna (o decreto 2044 de 1908). O artigo 28 do decreto 2044 
de 1908 fala que o prazo para isso, no ordenamento jurídico brasileiro, é de um dia útil. Esse 
prazo é tão curto porque o vinculo relacionado a um título de crédito é muito forte, então o 
prazo deve ser breve para evitar que as pessoas fiquem obrigadas durante muito tempo – assim, 
o credor deve ser ágil no exercício do seu direito. 
Assim, se a LUG regula, ela será aplicada. Se a LUG regula mas foi feita reserva, aplicamos a lei 
interna. Se a LUG não regula, aplicaremos a lei interna. Se a LUG e a lei interna não regulam, 
será aplicado o Código Civil. Se nem mesmo o Código Civil regular, será aplicada a lei de 
introdução ao direito brasileiro (são aplicados princípios e costumes). 
Por exemplo, determinadas questões sobre o aval serão regidas pelo Código Civil. O artigo 30 
da anexo I da LUG fala sobre o aval, de modo a permitir o disposto no artigo 897 parágrafo único 
do Código Civil – sendo assim, esse artigo será aplicado. No artigo 900 do Código Civil está citado 
o aval póstumo, que não é regulado pela LUG nem por lei especial – sendo assim, é regulado 
pelo próprio Código Civil. 
A LUG tem 74 artigos regulando a letra de câmbio e 4 artigos que regulam a nota promissória – 
isso porque a nota promissória remete, na maior parte dos casos, ao tratamento conferido à 
letra de câmbio. É isso que indica o artigo 77 da LUG falade questões da letra de câmbio 
aplicáveis às notas promissórias. 
A lei 57.595 de 1966 é uma lei uniforme sobre o cheque – porém, não iremos recorrer a ela. Ela 
costumava ser como a LUG atual – coexistir com uma lei interna. Em 75, porém, o legislador fez 
uma lei nova que esclarece tudo que é aplicável, modificando as disposições relativas às reservas 
e indicando o que será aplicável esses casos. O tratado é incorporado como lei ordinária, então 
se uma norma interna posterior for promulgada, a lei posterior será aplicável. Sendo assim, a lei 
atual que regula os cheques é a lei 7357/85. 
A lei 5474 de 68, que regula a duplicata, indica no artigo 25 que algumas questões aplicáveis às 
letras de câmbio serão aplicáveis às duplicatas. Assim, se alguma disposição não estiver nessa 
lei específica, devemos verificar a LUG – e seguir, assim, o caminho feito na legislação cabível às 
letras de câmbio. Caso esse artigo 25 não existisse, seria aplicado o Código Civil. O endosso da 
duplicata, por exemplo, consta do Código Civil no seu artigo 914. Porém, esse artigo não será 
aplicado – porque a LUG também disciplina o endosso. Assim, a LUG será aplicável devido à lei 
5474 de 68. 
No Brasil, são muitos os títulos de crédito porque todos os programas de financiamento utilizam 
títulos de crédito. 
O Código Civil, portanto, terá duas funções principais: (1) ser norma subsidiária aos títulos de 
crédito típicos e (2) conferir viabilidade a títulos de crédito atípicos. 
Pergunta para refletirmos: O boleto de cobrança condominial é um título de crédito? 
 
Rio, 28 de março de 2012 
Títulos de Crédito 
Letra de Câmbio 
A letra de câmbio pode ser definida como um título de crédito que representa uma ordem de 
pagar quantia certa a um credor determinado, sendo uma ordem de pagamento à vista, com 
data certa, a certo termo de vista ou a certo termo de data. Por ser uma ordem de pagamento, 
ela necessariamente terá estrutura triangular (sacador, sacado e tomador). 
No artigo 1º da Lei Uniforme de Genebra cita os requisitos da letra de câmbio. Inicialmente, 
como primeiro requisito para que um documento seja reconhecido como letra de câmbio, a 
expressão “letra” deve estar presente no documento. Essa é a primeira crítica que se faz à 
tradução da LUG para o português. À época da LUG, a Liga das Nações estabeleceu que o 
primeiro país que fala determinada língua a traduzir a expressão vincularia os demais que falam 
a mesma língua. Assim, os portugueses traduziram como “letra”. Aqui no Brasil, porém, 
adotamos toda a expressão “letra de câmbio”. Isso diz respeito ao princípio do formalismo (ou 
legalidade) – se ele não preencher a forma que a lei prevê, ele não será considerado aquele 
título de crédito. 
Outro requisito é a ordem incondicional de pagamento. Mandato em francês significa ordem – 
assim, esse mandato ou ordem deve existir independentemente da realização de eventual 
condição (situação incerta e futura). Qualquer condição indicada no título será considerada 
como não escrita. 
O terceiro requisito é a assinatura de quem passa a letra. Trata-se do oitavo requisito previsto 
no artigo 1º da LUG – porém, como ele gera discussões, veremos ele primeiro. É o sacador que 
passa a letra: logo, a assinatura do sacador é necessária. Essa assinatura é considerada o ato de 
criação do título de crédito – é a partir da assinatura que o título começa a produzir efeitos 
jurídicos, e isso independe do fato do criador colocar ou não esse título em circulação. 
A discussão quanto a isso é a seguinte: pela teoria da emissão, seria necessária não apenas a 
assinatura, como também o ato de colocar o título em circulação. Já pela teoria da criação, 
quando o título preenche todos os seus requisitos, ele já seria apto a produzir efeitos jurídicos. 
O artigo 16 da LUG indica que se uma letra foi recebida de má fé pelo portador, o sacador não é 
obrigado a restituí-la. Já se o título é endossado para outra pessoa após ser pego de ma fé, essa 
nova pessoa terá recebido a letra de boa fé – logo, o sacador deverá pagar o preço. Esse terceiro 
de boa fé poderia, inclusive, indicar os princípios da autonomia e da inoponibilidade das 
exceções pessoais. Assim, no momento em que a letra é assinada ela produz efeitos: adotamos 
a teoria da criação. 
O saque é a assinatura do sacador na frente do título. Na letra de câmbio, portanto, o saque é o 
ato de criação do título. Mas, além de ser o ato de criação, o saque trás outra consequência 
jurídica fundamental: torna o sacador um co-obrigado ao pagamento do título. Sendo assim, o 
sacador dá a ordem de pagamento contra o sacado (que irá pagar) em favor do tomador. Porém, 
ao assinar, a prática do ato já induz ao fato de que o sacador era co-obrigado pelo pagamento. 
E detalhe: não pode existir nenhuma cláusula indicando que o sacador não será co-obrigado – 
uma cláusula como essa será considerada como não escrita. O artigo 9º da LUG indica que o 
sacador é responsável também pelo pagamento (ele só poderá se exonerar da garantia do 
aceite). O parágrafo único do mesmo artigo indica que disposições em contrário serão indicadas 
como não escritas. O co-obrigado também é chamado de obrigado indireto: assim, o sacador é 
um obrigado indireto. Para se cobrar o pagamento de um obrigado indireto/co-obrigado é 
necessário o protesto do título. 
O quarto requisito é a identificação da pessoa que deve pagar o título. Assim, o nome do sacado 
é mais um requisito da letra de câmbio. Devemos notar, porém, que o sacado da letra de câmbio 
não assume nenhuma obrigação até que venha ao título e indique que aceita (esse é o chamado 
aceite). Esse aceite é realizado a partir de uma simples assinatura na frente do título. Assim, o 
sacado assume responsabilidade distintas antes e depois do aceite – depois do aceite, portanto, 
chamaremos o sacado de aceitante. É por isso que o sacador não pode ressalvar sua obrigação 
pelo pagamento – porque caso o sacado não dê o aceite, ninguém seria responsável pelo 
pagamento. 
A lei 9492 de 97, em seu artigo 1º fala do protesto – é com o protesto que se comprova o 
inadimplemento de uma obrigação. Portanto, apenas após o protesto pode-se cobrar do 
sacador. O protesto pode ocorrer não apenas pelo não pagamento – também pode-se realizar 
o protesto devido à ausência de aceite contra o sacado. No caso da existência de títulos 
protestados, a Certidão do Cartório de Protesto de Títulos e Documentos irá indicar essa 
existência. Logo, o sacado terá seu nome “sujo” caso não dê aceite – o protesto por falta de 
aceite ainda aparece nas certidões negativas. Depois veremos as características desse protesto 
e os problemas que isso causa. 
A recusa do aceite antecipa o vencimento – o tomador passará a poder cobrar 
automaticamente. Porém, apesar do aceite antecipar a data do vencimento, o protesto poderá 
ocorrer normalmente, conforme o prazo do vencimento anterior. Após o que seria o vencimento 
do título, o tomador terá ainda mais um dia de prazo para apresentar o protesto. 
Os artigos 28 e 47 da LUG, em seus primeiros parágrafos, indicam que o sacado só se obriga pelo 
aceite – o sacado não é citado no artigo 47 porque ele não garante o pagamento (apenas o 
aceitante é obrigado). 
O quinto requisito da letra de câmbio é o nome da pessoa à quem ou a ordem de quem deve 
ser paga a letra. A letra de câmbio não pode ser emitida ao portador, deve ter nome, ser 
nominal. O artigo 1º da LUG cominado com o artigo 907 do Código Civil indica que só se pode 
emitir título ao portador mediante autorização. Isso nos remete à classificação do título de 
crédito como nominal à ordem (endosso) e nominal não a ordem (cessão). A letra de câmbio é 
um título nominal à ordem – sendo assim,ele circula por endosso. Essa qualidade não depende 
do que está escrito no título – decorre da natureza da letra de câmbio (artigo 11 da LUG). O 
sacador, e somente ele, poderá prever que a letra de câmbio seja não a ordem (mas isso deve 
estar expresso no título). Isso pode ser feito para dificultar a circulação do título. Para o 
endossante, ele não poderá colocar uma cláusula não a ordem. 
O endosso é o ato pelo qual aquele que é o credor do título transfere esse título para outra 
pessoa. O endosso pode ser endosso em preto (identifica o endossatário) e endosso em branco 
(não identifica o endossatário). Assim, o endosso em preto faz com que o título permaneça um 
título a ordem. Mas o endosso branco transforma o título em um título ao portador. Assim, a 
letra de câmbio pode vir a, um dia, circular como se fosse ao portador – mas não pode surgir 
como título ao portador. Quando é emitido, deve ser um título nominal – mas quando é 
endossado, pode tornar-se ao portador. 
 
Rio, 4 de maio de 2012 
Títulos de crédito 
Letra de câmbio (continuação) 
Já vimos os requisitos essenciais ou não supríveis das letras da câmbio (os requisitos que devem 
estar expressamente no título) Veremos agora os requisitos não essenciais ou supríveis, que, 
caso não estejam no título, a lei regulamentará a situação. 
O vencimento é o primeiro requisito não essencial ou suprível Conforme artigo 2º da LUG, se a 
letra de câmbio não indicar o vencimento, o vencimento será à vista. 
Outro requisito suprível é o local de pagamento da letra de câmbio. O próprio artigo 2º da LUG 
indica que se a letra não estabelecer o local de pagamento, esse local será o domicílio do sacado 
ou o local designado ao lado do nome do sacado. Se existir, na letra, um local designado ao lado 
do nome do sacado, esse será o local de pagamento – caso contrário, o domicílio do sacado será 
o local de pagamento. Isso faz com que a natureza da letra de câmbio seja de divida quesível (na 
qual o credor deve buscar o devedor para o pagamento – ao contrário da portável, na qual o 
devedor busca o credor para o pagamento). 
O último requisito é a data e o local de emissão. O local onde a letra é passada é indiferente no 
caso da letra de câmbio. Já no caso do cheque, fará diferença – o cheque vence sempre a vista 
(conforme artigo 32 da lei do cheque), sendo que o prazo para pagamento será de 30 dias caso 
o pagamento vá ser executado na mesma praça e de 60 dias caso o pagamento vá ser executado 
em outra praça (praça está aqui no sentido de município). Sendo assim, no caso do cheque o 
local de emissão é relevante para que se verifique se é a mesma praça. 
Embora a letra de câmbio tenha todos esses requisitos, o artigo 10 da LUG fala da letra que foi 
criada incompleta e depois foi completada em desacordo com o que foi acordado – nesse caso, 
não será oponível ao terceiro de boa fé. Trata-se de uma manifestação do princípio da 
literalidade e da inoponibilidade de exceções pessoais. Assim, permite-se que o credor preencha 
o título da forma que lhe convém, desde que de acordo com o que foi cumprido. Se for 
preenchido de forma diversa do que foi cumprido, pode-se discutir com o credor. Porém, se o 
título for endossado, não se poderá discutir o preenchimento com um terceiro. 
O contrato de mútuo é um contrato real (apenas se aperfeiçoa mediante a entrega da coisa – 
diferentemente do consensual, que se aperfeiçoa com a manifestação de vontade). 
A assinatura de toda e qualquer obrigação cambial pode ser feita pessoalmente ou por 
procurador que tenha poderes especiais para tanto. Se a pessoa não tinha poderes para assinar 
por quem assinou, ela assumirá pessoalmente a obrigação. Isso fica um pouco mais complexo 
na questão das pessoas jurídicas e seus representantes legais – é importante verificar a versão 
mais recente do contrato ou estatuto social da sociedade para verificar se aquele representante 
legal possuía poderes para celebrar aquela obrigação cambial. Em exceção a isso, em muitos 
casos os tribunais tem utilizado a teoria da aparência e o ato ultra-vires societatis (ato que 
ultrapassa a vontade da sociedade) para solucionar casos como esses – a teoria da aparência 
mitiga o ato ultra-vires societatis. Geralmente a teoria da aparência é aplicada em casos de 
hiposuficiência. 
O artigo 7º da LUG é muito importante! Ele fala de assinaturas falsas, fictícias ou assinadas por 
incapazes – nesses casos, não será possível opor essas exceções pessoais a terceiros depois do 
endosso válido por parte de outra pessoa. Quem assume uma obrigação não poderá indicar que 
não pagará porque a obrigação do outro, que veio antes dela, era nula. É por isso que o título 
de crédito é um instrumento de garantia tão eficaz – a validade das assinaturas anteriores não 
precisam ser averiguadas para que o título seja pago. 
Em caso de divergência entre o valor numérico e o valor por extenso, prevalecerá o valor por 
extenso. 
O aceite está regulado pelas leis de 21 a 29 da LUG. Existem três grandes ordens de pagamento 
no direito brasileiro: o cheque, a letra de câmbio e a duplicata. O que caracteriza a ordem de 
pagamento no ponto de vista estrutural é a forma triangular. O sacador dá uma ordem ao sacado 
para que ele pague o tomador (que é o credor). O sacado, como já vimos, também se obriga ao 
pagamento. O aceite é o ato pelo qual o sacado se obriga a pagar o título de crédito. 
No cheque, é vedado o aceite (conforme artigo 6º da lei do cheque) – o sacado não pode aceitar 
o título e, portanto, em hipótese alguma o sacado estará vinculado cambiariamente ao título. O 
banco, por exemplo, nunca será devedor de cheque. O banco somente poderá ser réu em uma 
ação relacionada a isso se for uma ação de responsabilidade civil por falhas na prestação de 
serviço de sacado. A única hipótese em que um banco poderá ser cobrado por um cheque é se 
ele for o sacador do cheque (como no caso do cheque administrativo). 
Na letra de câmbio, o aceite é facultativo (conforme artigos 28 e 47 da LUG) – o sacado pode ou 
não assumir a obrigação cambial, conforme a sua vontade. Se ele der o aceite, estará obrigado 
ao pagamento e o pagamento poderá ser exigido – caso contrário, não será obrigado ao 
pagamento. 
Na duplicata, o aceite é obrigatório ou presumível (conforme artigo 15 da lei da duplicata). A 
duplicata é um título de crédito causal, que só pode ser emitido em relações jurídicas específicas 
(hipóteses em que a lei permita que seja emitido). No caso da duplicata, deve ser uma compra 
e venda mercantil ou uma prestação de serviço – trata-se de um título de crédito voltado para 
o comércio. O sacado na duplicata é o comprador – ainda que o sacado não dê o aceite, se o 
vendedor tiver dois documentos: o comprovante da venda da mercadoria ou da prestação de 
serviços e a servidão de protesto, esses dois documentos substituirão o aceite e a duplicata 
poderá ser executada ainda que não tenha sido aceita. O vendedor, no caso da duplicata, é ao 
mesmo tempo o sacador e o tomador. 
 
Rio, 11 de abril de 2012 
Títulos de Crédito 
Letra de câmbio (continuação) 
A simples assinatura do sacado na frente do título configura o aceite. A recusa do aceite na letra 
de câmbio terá uma consequência muito importante: ele antecipa a exigibilidade do valor 
expresso na letra. 
Na regra geral, o título pode ser apresentado para aceite até o vencimento, porque no momento 
do pagamento o título é apresentado para pagamento. O sacador pode, porém, colocar cláusula 
que o título só é apresentado para aceite a partir de determinada data – podendo, também, 
proibir a apresentação para o aceite (situação em que o título só será apresentado para o 
pagamento). Nesse ultimo caso, se existiraceite, ele será válido – porém, no caso da falta de 
aceite, não existirá consequências para o sacador. Assim, a proibição para o aceite na realidade 
designa a ausência de garantia do aceite. 
Se o aceite não for dado pelo sacado, deve-se protestar o título para que se possa exigir o 
pagamento pelos coobrigados (como, no caso, o sacador). Assim, já vimos a primeira 
modalidade de protesto (por falta de pagamento) – agora, vamos a segunda modalidade (por 
falta de aceite). O artigo 1º da lei de protesto indica que o protesto indica não apenas o 
inadimplemento das obrigações de pagar, mas também o inadimplemento das obrigações de 
fazer. O artigo 43 da LUG também indica essas duas modalidades de protesto e fala da 
exigibilidade do pagamento por parte dos coobrigados. 
Sendo assim, a proibição de apresentação para aceite é uma garantia para o sacador de que não 
irá ocorrer a antecipação da exigibilidade do valor expresso na letra (também conhecido como 
“vencimento extraordinário”). O vencimento, por sua vez, pode ser definido como o fato jurídico 
que torna exigível uma obrigação. 
No título à vista, não ocorre apresentação para o aceite (o pagamento é devido imediatamente). 
Na letra à certo termo de vista, é vedada a cláusula impeditiva para o aceite: ela impediria o 
próprio vencimento da letra, uma vez que é com a apresentação que começa a fluir o “certo 
termo”. 
O artigo 43 da LUG cita, também, outras hipóteses de vencimento extraordinário: falência do 
sacado e/ou aceitante e a “falência branca”. A lei de falências (1.101/2005) estabelece que a 
falência torna exigíveis imediatamente todas as obrigações do falido. Na falência branca, se 
comprova que existem execuções infrutíferas do sacado – assim, ainda que ele não esteja falido, 
surge uma notável situação de inadimplência. 
Podemos dizer que são quatro as modalidades de vencimento ordinário (conforme o artigo 33 
da LUG) e cinco modalidades de vencimento extraordinário. O vencimento ordinário pode estar 
expresso na letra ou decorre da lei, afinal, ele é um requisito suprível (no caso de não estar 
previsto, será a vista) Recusa do aceite, falência do sacado, execução frustrada do sacado, 
falência do aceitante e falência do sacador são as cinco modalidades de situações que geram o 
vencimento extraordinário (conforme artigo 43 da LUG). 
Existem duas modalidades de aceite: o aceite parcial (também chamado de aceite limitativo) e 
o aceite modificativo. No aceite parcial, o sacado aceita apenas uma parcela do valor expresso 
na letra. Caso seja modificada pelo aceite qualquer outra cláusula do título que não seja a do 
valor, tratar-se-á do aceite modificativo. 
Por exemplo: Se o vencimento vai até o dia 15, o título poderá ser apresentado para aceite até 
o dia 14, de forma que no dia 15 só se pode apresentar o título para pagamento. Porém, por 
meio do aceite modificativo, o aceitante pode aceitar o título, porém modificar o prazo de 
vencimento. Será o caso de um aceite modificativo. 
O artigo 26 da LUG indica que qualquer outra modificação feita no aceite que não aceitar apenas 
parte da importância equivalerá à recusa do aceite (como, por exemplo, no caso da mudança do 
vencimento). Porém, ainda que esse aceite se equivale à recusa do aceite, isso só irá gerar 
efeitos quanto ao vencimento extraordinário contra o sacador. Para o aceitante, persistirá a 
obrigação – ele se vincula nos termos do seu aceite. Assim, no nosso exemplo, ambos serão 
responsáveis pela dívida – o sacador imediatamente (o título torna-se exigível devido à 
equivalência à recusa do aceite) e o aceitante no prazo por ele descrito no aceite. Deve ser feita 
remissão do artigo 26 ao artigo 43 da LUG. 
A recusa parcial (que ocorre no aceite parcial) também antecipa o vencimento do valor devido. 
Porém, só será antecipado o vencimento do que não foi aceito – o valor restante, que foi aceito, 
continuará com o mesmo vencimento. 
O protesto por falta de aceite supre a necessidade do protesto por falta de pagamento. Porém, 
não há necessidade de fazer o protesto por falta de aceite – pode-se, por exemplo, esperar o 
vencimento. Porém, se está estabelecido na letra, conforme o artigo 53 da LUG, uma data 
determinada para a exigência do aceite, o portador perde o direito de exigir o valor caso não 
proteste a recusa do aceite. 
O artigo 53 da LUG indica que depois do prazo para protesto, perde-se o direito de ação contra 
os coobrigados – exceto pelo aceitante. Assim, temos que o aceitante é devedor direto, 
enquanto os demais coobrigados são devedores indiretos. Para que se possa cobrar do devedor 
indireto, deve-se comprovar que o sacado (que vira o aceitante) foi cobrado antes. Apenas após 
cobrar do aceitante pode-se cobrar do devedor indireto – nesse caso, deve-se comprovar o 
protesto. Apenas com a prescrição pode-se perder o direito de ação contra o aceitante (exceto, 
é claro, no caso de vícios formais). 
O prazo para protesto de falta do pagamento é de 1 dia útil após o vencimento. Já o prazo para 
protesto de recusa de aceite pode ocorrer até o dia do vencimento – a exceção é a prevista no 
artigo 53 da LUG, caso em que será exigível no mesmo prazo do endosso por falta de pagamento 
(1 dia útil). 
Já estudamos dois atos jurídicos cambiais: o saque e o aceite. Estudaremos, agora, outro ato: o 
endosso. 
O endosso é o ato jurídico que caracteriza uma manifestação unilateral de vontade em que o 
credor de um título de crédito transfere o seu direito de crédito a outra pessoa, denominada de 
endossatário. Assim, o credor deixa de ser credor ao transferir essa qualidade para outros. Quem 
pratica o endosso, portanto, é o tomador. Assim, assim como o sacado torna-se aceitante por 
meio do aceite (devemos lembrar que o “sacado” só existe antes do aceite para a prova), o 
tomador deixará de ser tomador por meio do endosso e passará a ser endossante. Além disso, 
surgirá a figura de um terceiro chamado de endossatário. 
O endosso é uma mera assinatura do tomador no verso do título. Caso a assinatura seja na 
frente, deve estar discriminado que trata-se de um endosso – caso contrário, poderá ser 
indicado como aval. 
O endosso é um ato incondicional (qualquer condição imposta é nula). Além disso, não existe 
endosso parcial – um endosso parcial será, por inteiro, nulo, e o suposto “endossatário” 
continuará como credor. 
O artigo 15 da LUG indica que, além do efeito de transferir o título, o endosso gera para o 
endossante o efeito dele se tornar um codevedor daquela letra. Ele será, porém, um coobrigado 
indireto – sendo assim, mais uma vez, será necessário o protesto relativo à falta de pagamento 
do sacado para exigir o pagamento pelo endossante. O artigo 914 do CC indica o contrário ao 
indicado pela LUG – porém, a LUG será aplicada (não apenas porque já seria nesse caso, mas 
também devido ao disposto no artigo 903 do CC). 
O endosso pode ser em preto ou em branco. O endosso em preto identifica a pessoa do 
endossatário. Já o endosso em branco é um endosso ao portador. O fato do endosso ser em 
preto ou em branco em nada altera as obrigações relativas ao título – altera, apenas, quem é o 
credor daquele título. Não se pode cobrar o valor daquele que passa para outro um título (sendo 
o seguinte na cadeia cambial após o endosso em branco) – pelo princípio da literalidade, ele não 
tem relação com aquele título. 
Embora o título circule por endosso, é possível que o sacador coloque uma cláusula chamada 
cláusula não à ordem. Essa cláusula faz com que o título não possa circular por endosso. Nesse 
caso, ele irá circular na forma da cessão de crédito. Somente o sacador pode colocar essa 
cláusula não à ordem no título – o endossante não pode. O endossante poderá, porém,colocar 
uma cláusula de proibição de novo endosso. Porém, a cláusula de proibição de novo endosso 
não proíbe o novo endosso – ela não altera a natureza do título como “à ordem” (que circula 
por endosso): ela simplesmente fará com que não se obriguem ao pagamento às pessoas que 
endossarem o título, incluindo aquele que recebe esse título com a cláusula pela primeira vez. 
Quem receber o título saberá que não poderá cobrar daqueles que receberam o título após a 
proibição de novo endosso. 
Se o endossante coloca uma cláusula de não pagamento, indicando que não garante o 
pagamento daquele título, o endossatário não poderá cobrar dele. Essa é a diferença da cláusula 
de proibição de novo endosso e a cláusula de não pagamento (a segunda desvincula o 
endossante que colocou a cláusula no título, enquanto a primeira desvincula os endossantes 
seguintes). 
Trabalho: Distinção do endosso para a cessão de crédito. 3 diferenças e fazer um comentário 
sobre a segurança do credor (se é mais seguro para o endossatário ou para o cessionário). 
 
Rio, 2 de maio de 2012 
Títulos de Crédito 
Endosso (continuação) 
Quando ocorre o endosso, ocorre a transferência do crédito e aquele que era credor transfere 
a sua condição, passando a ser um coobrigado. No caso da cessão de crédito, exceto caso se 
disponha em contrário, o cedente não se torna coobrigado pela solvência do crédito (conforme 
artigo 296 do CC). Na cessão de crédito, a não ser que o devedor seja notificado, se ele paga ao 
cedente, ele paga bem. O pagamento só se tornará indevido se o devedor for notificado da 
cessão. 
No caso do endosso, se o devedor não for notificado do endosso e pagar ao endossante, o 
devedor terá pago mal. Como quem paga mal paga duas vezes, o endossatário ainda poderá 
cobrar do devedor. Para evitar pagar mal, deve-se requisitar a apresentação do título – 
conforme o princípio da cartularidade, aquele que detém o título físico irá deter o direito de 
crédito. Essa é a primeira diferença do endosso para a cessão de crédito. 
Além disso, o endossante, diferentemente do cedente, se obriga ao pagamento do título, 
tornando-se um coobrigado. O endosso admite, porém, cláusula em contrário. Sendo assim, são 
duas as principais diferenças entre o endosso e a cessão de crédito. 
Endosso impróprio é o endosso onde não há transferência da titularidade do crédito – o 
endossante permanece credor. Esse endosso poderá ser feito por duas modalidades: pelo 
endosso mandato (também chamado de endosso por procuração) ou pelo endosso caução 
(também chamado de endosso penhor). 
O penhor é uma garantia real que incide sobre bens móveis. No endosso penhor, o título é 
transferido não com a intenção de que o crédito vá para a outra parte, mas sim para garantir o 
crédito da outra parte (o título é utilizado como um penhor). Quando o título está dado em 
garantia a outra pessoa, a parte credora não poderá exercer o seu direito quanto ao título – ele 
não terá o título para exercer esse direito. Já aquele que detém o título em garantia poderá, por 
exemplo, executar ou protestar o título – ainda que o outro seja credor. Logo, temos que a 
qualidade de credor não se transfere – mas seus poderes se transferem. Sendo assim, é por isso 
que o título confere uma garantia. 
No endosso mandato, simplesmente se constitui um procurador. Em lugar de criar uma 
procuração, pode-se realizar um endosso mandato para que o endossatário possa agir em nome 
do endossante, de modo que o endossante permanece sendo credor. Nesse caso, portanto, o 
endossatário irá gerir o crédito do endossante. O banco oferece esse serviço sob o nome de 
desconto. Nesse caso, o endossatário adquirirá legitimidade para realizar a execução do título, 
protestá-lo, etc. Ele se diferencia do contrato de mandato porque o endosso mandato não se 
extingue com a morte do endossante. Já o contrato de mandato se extingue com a morte do 
mandante. 
O endosso impróprio deve ter sua característica de impróprio evidenciada no título. Deve 
constar que trata-se de endosso penhor ou endosso mandato. 
O tratamento do endosso impróprio será diferenciado porque o princípio da inoponibilidade das 
exceções pessoais terá um tratamento diferenciado em cada uma das modalidades de endosso 
impróprio. 
No endosso mandato, o endossatário só poderá cobrar do aceitante e do sacador – ele não 
poderá cobrar do endossante, já que o endossante permanece sendo credor. Toda e qualquer 
exceção pessoal que o devedor tenha deve se referir unicamente com a relação ao endossante 
mandante – o devedor poderá aproveitar perante o endossatário mandatário as exceções 
relativas ao endossante mandante. 
Já no endosso caução, somente as exceções relativas ao endossatário que recebe a garantia 
poderão ser oponíveis pelo devedor. 
Aval 
O aval, assim como o saque, o aceite e o endosso, é uma manifestação unilateral de vontade. É 
uma garantia fidejussória (pessoal). A garantia pessoal se diferencia da garantia real porque ela 
se vincula a todo o patrimônio da pessoa. A garantia pessoal tem a desvantagem de que por 
vezes ela não consegue ser executada – em determinados casos, a pessoa não possui 
patrimônio. O aval será a garantia pessoal não do título por inteiro, mas sim de alguma das 
obrigações contraídas no título. Assim, a pessoa não será avalista da letra de câmbio ou da nota 
promissória, mas sim avalista do sacador, do endossante, do aceitante. 
A forma do aval é uma simples assinatura na frente do título – desde que não seja do sacador 
(que é o saque) nem do sacado (que é o aceite). O aval também pode ocorrer na frente – porém, 
isso deve estar claramente designado. O avalista assume obrigação de mesma natureza da 
obrigação do avalizado, conforme artigo 32 da LUG. Assim, em abstrato o avalista se encontra 
na mesma situação do avalizado – todos que podem cobrar do avalizado podem também cobrar 
do avalista. O avalista também pode exigir o pagamento de todas as pessoas das quais o 
avalizado pode cobrar mais o próprio avalizado. O avalista também será devedor direto (não 
precisa de protesto) ou indireto (precisa de protesto) de acordo com a natureza do seu 
avalizado. O emitente da nota promissória se equipara ao aceitante da letra de câmbio – é 
devedor direto. 
No aval não existe benefício de ordem. O benefício de ordem indica que o fiador deve exigir que 
o afiançado seja cobrado primeiro antes que cobrem do próprio fiador. Ele poderá até mesmo 
indicar um bem do afiançado para a execução. O benefício de ordem da fiança é um direito 
disponível – o fiador pode abrir mão do benefício de ordem. 
O próprio artigo 32 indica, ainda, que a obrigação do avalista se mantém mesmo caso a 
obrigação do garantido (o avalizado) seja nula. Sendo assim, em concreto o avalista e o avalizado 
não se confundem devido ao princípio da autonomia. Cada obrigação será autônoma com 
relação às obrigações que a precederam. Se o avalizado estiver interditado, estando plenamente 
incapaz, o avalista não poderá alegar a incapacidade do avalizado para se desobrigar do 
pagamento. Assim, avalista e avalizado se identificam para averiguar a natureza da obrigação e 
a posição na cadeia cambial – serão, porém, sempre obrigações autônomas. A nulidade da 
obrigação principal gera a nulidade da obrigação acessória, como no caso da fiança – porém, a 
nulidade da obrigação principal não gera a nulidade da obrigação autônoma. 
O Código Civil estabeleceu que o aval parcial é nulo – conforme artigo 897 parágrafo único. Já o 
artigo 30 da LUG consagra a existência do aval parcial. Assim, trata-se de mais um caso em que 
a LUG irá prevalecer. 
Se não é indicado quem é o avalizado, na letra de câmbio e no cheque o avalizado será o sacadore na nota promissória o avalizado será o emitente. Assim, essa omissão é suprida. Logo, é 
primordial que seja indicado no título quem é o avalizado. Quem visa endossar e assina na frente 
torna-se, assim, avalista do sacador ou do emitente. Nesse último caso de erro, essa exceção 
poderá ser oposta ao suposto endossante – porém, a exceção não poderá ser oposta a outros 
endossatários da cadeia cambial. 
Trabalho para quarta que vem: Pesquisar um acórdão que trate da necessidade de autorização 
(outorga) do cônjuge ou do companheiro para o aval da pessoa casada ou que viva em união 
estável. Fazer um breve comentário sobre a decisão do acórdão. 
 
Rio, 9 de maio de 2012 
Títulos de Crédito 
Aval (continuação) 
O artigo 1.647 do Código Civil mudou as hipóteses em que é necessária a outorga conjugal, 
incluindo, em seu inciso III, o aval. No Código de 16, estava prevista apenas a fiança e não o aval 
na relação dos atos que necessitam de outorga conjugal para a validade. O artigo 903 do Código 
Civil indica que o Código Civil só será aplicável em caso de omissão da lei especial. Assim, toda e 
qualquer disposição do Código que trate de títulos de crédito deve ser interpretada em 
comparação da lei especial, predominando a lei especial em caso de conflito. O aval é uma 
garantia que ocorre apenas em títulos de crédito – e se for colocado algo indicado como aval 
fora de um título de crédito, considera-se que é um caso de fiança. Logo, a disciplina do aval é 
disciplina referente aos títulos de crédito. 
Surge, nesse caso, um conflito. O artigo 31 da LUG dispõe que o aval é resultante da assinatura 
do dador na face anterior da lei. A lei do cheque, em seu artigo 30, indica também indica o 
mesmo – basta a assinatura do dador para se consolidar a situação do aval. 
Nesse caso, parte da doutrina indica deveria prevalecer a lei especial, de modo que a regra da 
necessidade da outorga só irá se aplicar nos títulos que não citam os requisitos para o aval – ou 
seja, aos títulos que não tenham disciplina contrária. Esse argumento é reiterado pelo 
dinamismo das relações econômicas e do título de crédito – seria complicado exigir formalidades 
para se estabelecer o aval. E se o cônjuge, para autorizar, coloca também a sua assinatura no 
título? Assim, ele assinaria na frente do título – logo ele se tornaria coavalista também? São 
muitas as polêmicas. 
O STJ indica que existe uma presunção de que não há benefício para o casal quando um dos 
cônjuges contrai fiança ou aval – isso porque esse contrato é gratuito, ou seja, apenas uma das 
partes irá deter benefício dessa relação. Não existirá benefício para a família do avalista ou 
fiador. Assim, não se pode exigir que a família abrace a causa do fiador e do avalista, de modo 
que o patrimônio da família possa vir a, posteriormente, ser atingido por isso. 
O STJ entende que existe nulidade absoluta no caso da fiança e do aval sem outorga conjugal. O 
único caso em que essa outorga será dispensada é no caso da separação de bens consensual 
(que decorre de pacto antenupcial, não sendo obrigatória por lei). Isso decorre da súmula 377 
do STF. É por meio dos embargos de terceiro ou pela ação anulatória que se pode exigir tal 
nulidade – o cônjuge que não integrou o aval ou fiança é o único que tem legitimidade para 
pleitear a nulidade. 
 
Rio, 16 de maio de 2012 
Títulos de Crédito 
Aval (continuação) 
As obrigações do avalista são autônomas com relação às obrigações do avalizado. Já a fiança é 
uma garantia contratual e acessória, de modo que a fiança será nula se a obrigação principal for 
nula – o mesmo não ocorre no caso do aval. O avalista assume obrigação de mesma natureza 
do avalizado (ele ocupa posição que reproduz a do avalizado na cadeia cambial) – ocorre 
praticamente um mimetismo. Assim, a obrigação é de mesma natureza porque avaliamos o 
vínculo do avalizado para ter a dimensão do vínculo do avalista em abstrato (se o avalizado for 
devedor direto, o avalista também será devedor direto e o avalista poderá exigir o pagamento 
de todos aqueles que podem ser cobrados pelo avalizado). O avalista será devedor de todos a 
quem o avalizado deve e será credor de todos de quem o avalista pode cobrar. Em concreto, 
porém, o avalista continua sendo ele mesmo – por isso que ele não pode opor a nulidade das 
demais obrigações. A única forma na qual é possível opor as exceções pessoais é no caso de 
comprovação da má fé. 
O avalista também não tem benefício de ordem com relação ao avalizado. O avalista tem uma 
obrigação solidária com o do avalizado. 
O devedor direto é o sujeito que deve pagar o título em seu vencimento (no caso da letra de 
câmbio, é o aceitante). Logo, com o vencimento já se pode cobrar do devedor direto. Já no caso 
do devedor indireto, ele somente pode ser cobrado diante da apresentação do protesto do 
devedor direto, comprovando o seu inadimplemento. O protesto está previsto na lei 9492/97 e 
é o ato pelo qual se documenta o inadimplemento de uma obrigação. 
Devemos considerar que o último na cadeia cambial é o aceitante e não o sacador. Assim, o 
sacador pode cobrar do aceitante. O avalista poderá cobrar de seu avalizado e de todos os outros 
de quem o avalizado poderia cobrar. A natureza do pagamento do aceitante é de pagamento 
extintivo, uma vez que ele dá fim àquele título de crédito. O pagamento feito pelos demais 
membros da cadeia cambial não será extintivo, mas sim translativo ou recuperatório. Será 
translativo porque não põe fim ao título – apenas transfere de uma pessoa para outra a condição 
de credor daquele título. Alguns indicam que esse pagamento poderá ser considerado como 
parcial extintivo. 
Na solidariedade civil, aquele que paga absorve sua quota parte e cobra as demais dos outros 
devedores. Na solidariedade cambial, pode-se cobrar o todo dos demais membros da cadeia 
cambial. 
É possível que, garantindo a mesma obrigação, exista mais de um aval. 
O artigo 1647 inciso III do Código Civil indica que pessoas casadas, a não ser que o casamento 
seja no regime da separação total de bens, precisarão da autorização do cônjuge para prestar 
aval. Trata-se do fenômeno jurídico da outorga conjugal. A polêmica em torno disso é seguinte: 
o artigo 31 da LUG indica que só precisaria da simples assinatura para se ter o aval. Logo, 
chegamos a um conflito entre as duas normas. Bruno Vaz entende que deve prevalecer a LUG, 
já que a regra do artigo 1647 não é uma regra existencial, mas sim uma regra patrimonial. Ou 
seja, a ideia daquela norma é proteger patrimônio e não a família - podemos comprovar isso 
pelo fato de a regra mudar de acordo com o regime de bens selecionado pelo casal. O STJ indica 
que o aval se presume gratuito. A conclusão do pensamento do Bruno Vaz (distinto do 
entendimento do STJ) é que a eficácia do aval deverá ser relativa – ou seja, será eficaz somente 
para o cônjuge que prestar o aval. Assim, o aval será válido – apenas não atingirá o patrimônio 
comum do casal. O STJ, porém, diz que é causa de nulidade absoluta e nenhum patrimônio será 
atingido. Só quem terá legitimidade para a ação de nulidade será o cônjuge que deu o aval. 
 
Rio, 23 de maio de 2012 
Títulos de Crédito 
Ainda sobre a letra de câmbio: a contar do vencimento do título, existe prazo prescricional de 3 
anos para se cobrar do aceitante (obrigado direto). Já no caso dos coobrigados, o prazo é de 1 
ano a partir do protesto - se a letra não exigir protesto, esse prazo de um ano será contado do 
vencimento. 
Nota promissória 
Ao contrário da letra de câmbio, a nota promissória é uma promessa de pagamento. Assim, a 
estrutura será linear, formada pelo emitente e o tomador. Os requisitos da nota promissória 
estão no artigo75 da LUG. O primeiro requisito é a cláusula cambial, ou seja, o nome “nota 
promissória” no título. Na nota promissória não existirá ordem de pagamento, mas sim a 
promessa de pagar em um dia determinado. 
O emitente da nota promissória equipara-se ao aceitante da letra de câmbio, uma vez que 
ambos são devedores diretos, podendo ser exigido o pagamento independentemente de 
protesto. O credor da nota promissória precisa promover somente a ação de execução. O 
protesto gera apenas a negativação do nome da pessoa, que passará a constar com restrição 
cadastral. Assim, o protesto poderia ser realizado pelo credor em qualquer caso? Existe uma 
diferença tênue nesse caso entre o exercício regular de um direito e o abuso de direito. O artigo 
187 do Código Civil fala sobre o abuso de direito. Outro argumento indica que a lei 9492/97, lei 
do protesto, confere ao oficial do cartório, o tabelião, poderes para dar quitação diante do 
pagamento do devedor. Nesse caso, o cartório pode notificar o devedor indicando que foi 
apresentado um título para protesto e que esse será retirado em três dias. Assim, o devedor 
poderá pagar ou apresentar comprovante que indique que ele já pagou (recibo ou termo de 
quitação). Ou seja, a lei dá poderes ao oficial do cartório de dar quitação em nome do credor. 
Sendo assim, o protesto seria um meio de cobrança extrajudicial, não sendo apenas uma forma 
de documentar o inadimplemento. Trata-se de um meio de cobrança inclusive menos gravoso 
para o devedor. Se existem coobrigados, essa discussão sequer caberá, uma vez que ele será 
necessário para o exercício de um direito e jamais será abusivo. 
Além do emitente ser considerado um devedor direto equiparado ao aceitante, aplica-se à nota 
promissória a disciplina das letras de câmbio, conforme artigos 76 e 77, no que diz respeito a 
todas as matérias enumeradas nesse artigo. 
Com relação ao aval, existe uma particularidade – o avalista, se não indicar por quem dá o seu 
aval, será avalista do emitente. A obrigação do avalista será da mesma natureza do avalizado 
nesse caso também – nesse caso, não será necessário protesto e a prescrição da dívida é de 3 
anos, uma vez que o emitente é obrigado direto. Ser avalista na nota promissória requer ainda 
mais cuidado do que ser avalista na letra de câmbio, uma vez que se o avalista não indicar de 
quem é avalista na letra de câmbio, ele será avalista do sacador, que é apenas um devedor 
indireto. 
Existe uma grande discussão quanto à nota promissória vinculada ao contrato. A nota 
promissória se submete aos princípios gerais dos títulos de crédito que já estudamos. É muito 
comum que notas promissórias sejam emitidas como forma de garantia na realização de 
contratos de modo geral. Via de regra, será aplicada a mesma lógica da inoponibilidade das 
exceções pessoais: ou seja, se aquele título de crédito circula, o devedor não pode opor ao novo 
credor situações da sua relação jurídica com o credor originário ou situações que digam respeito 
à capacidade ou legitimidade do credor originário. Devido a isso, adotou-se uma prática de 
vincular a nota promissória ao contrato do negócio jurídico relacionado ao seu pagamento. Parte 
da doutrina indicou que isso em nada alterava a natureza e os princípios da nota promissória. 
Outra parte da doutrina indicou que não altera a natureza da nota promissória, porém cria uma 
presunção de má fé daquele que circulou aquele título (assim, o emitente poderá discutir a 
relação jurídica contratual com quem quer que esteja com o título). É dessa última forma que 
tem decidido os tribunais. Nesse caso, poderia ser colocada uma cláusula não a ordem, de modo 
que o título teria que circular somente por cessão de crédito. 
O STJ editou as súmulas 233 e 258, que versam sobre questões relacionadas diretamente ao 
cheque especial. O cheque especial pode ser considerado como um contrato de mútuo com 
condição suspensiva. Geralmente na contração do cheque especial era assinada uma nota 
promissória em branco. A súmula 258 indica que essa nota promissória relacionada à 
contratação de crédito, emitida a partir de um contrato ilíquido, perde a sua autonomia com 
relação à liquidez. Atualmente, os bancos pedem, em lugar da nota promissória, a cédula de 
crédito bancário. 
Rio, 30 de maio de 2012 
Títulos de Crédito 
Matéria da G2: A princípio será somente cheque e duplicata. 
Cheque 
O cheque é considerado um título de crédito impróprio. É também uma ordem de pagamento 
emitida contra instituição financeira, com fundamento em contrato celebrado entre o emitente 
e o sacado e com vencimento à vista. 
Trata-se de um título de crédito impróprio porque não corresponde a uma verdadeira operação 
de crédito. Crédito é a troca de uma prestação atual por uma contraprestação futura. O crédito 
lida com dois elementos: tempo e confiança. A confiança exige a garantia. No cheque, não temos 
nem o tempo nem a confiança. O tempo não existiria porque o cheque não permite outra 
modalidade de vencimento que não seja à vista. Além disso, não existirá confiança porque o 
cheque exige provisão de fundos para que ele seja emitido (conforme artigo 4º da lei de 
cheques). Assim, parte da doutrina indica que o cheque seria um meio de exação – ou seja, um 
meio de pagamento, de se liberar de obrigações. 
O artigo 13 da lei de cheque (7357/85) indica que as obrigações contraídas no cheque serão 
autônomas e independentes (conforme princípio da autonomia) e refere-se também ao 
princípio da inoponibilidade das exceções pessoais. O artigo 2º da lei do cheque reflete o 
princípio do formalismo. O artigo 17 indica que o cheque se transmite por endosso. O artigo 29 
indica que o pagamento do cheque pode ser garantido por aval. O artigo 47 fala da força 
executiva do cheque. Assim, temos que o cheque tem muitas características que geralmente se 
aplicam aos títulos de crédito em geral. Alguns autores indicam que trata-se de um título 
cambiariforme (que tem forma de um título cambial). 
Parte da doutrina indica que existe sim confiança e tempo. Tempo porque o vencimento à vista 
não é vencimento na data da emissão, mas sim na data da apresentação. A confiança existiria 
porque a ausência de provisão de fundos não retira do título a característica de ser um cheque 
– logo, aquele que recebe o cheque tem sim uma confiança, uma vez que o cheque pode se 
encontrar sem provisão de fundos. Essa discussão quanto a ser ou não um título de crédito não 
é muito relevante na prática porque a lei do cheque trás ampla regulação dessa matéria – mas, 
em geral, temos que ele será considerado um título de crédito impróprio. 
O cheque, conforme o artigo 1º da lei do cheque, tem sua forma vinculada aos requisitos citados 
na lei. Deve ser feito em um talonário com numeração, autorizado pelo banco central e que só 
pode ser emitido por instituições financeiras. A palavra cheque deve constar do instrumento – 
esse é um requisito formal. 
O cheque é uma ordem de pagamento, logo terá estrutura triangular. O sacado é a pessoa 
contra quem a ordem de pagamento é dada (quem deve pagar o título). No caso do cheque, 
existe uma limitação subjetiva da figura do sacado – somente instituição financeira poderá ser 
sacado de cheque (deve ser banco ou instituição autorizada pelo banco central). A lei 4595/64, 
em seus artigos 17 e 18, cita as espécies de instituições financeiras. 
Quanto ao sacado, também existe outra peculiaridade. Na letra de câmbio, o sacado só poderá 
ser cobrado por meio do aceite. No cheque, o sacado não pode ser exigido pela obrigação 
cambial – mas a lei do cheque é ainda mais rigorosa do que a letra de câmbio, uma vez que a lei 
do cheque proíbe o aceite em seu artigo 6º. Se for dado o aceite, ele será consideradocomo não 
escrito. O sacado não poderá, na qualidade de sacado, assumir obrigação cambial. 
Em caso de impossibilidade de alcançar os fundos por erro do banco, o tomador poderá entrar 
com uma ação de responsabilidade civil, porém ele nunca poderá cobrar o valor do banco (o 
banco nunca será devedor). A execução só ocorre contra aquele que assume obrigação no título. 
Para que se tenha fundos, nos moldes do artigo 4º, não basta ter dinheiro depositado – esse 
dinheiro também deve estar disponível. Assim, caso ocorra, por exemplo, penhora online sobre 
determinada conta, esse cheque será considerado como um cheque sem provisão de fundos. 
Com relação ao saque: o sacador de um cheque, assim como o emitente da nota promissória e 
o sacador da letra de câmbio, não pode se eximir de pagar (cláusula contrária será considerada 
como não escrita).O sacador de um cheque, assim como o emitente da nota promissória, será 
um devedor direto (e não indireto, como ocorre na letra de câmbio) e poderá ser executado 
independentemente de protesto. 
O banco só poderá se obrigar pelo pagamento do cheque se ele for o sacador do cheque – o 
nome do cheque no qual o banco é sacador é cheque administrativo. A vantagem do cheque 
administrativo é que ele não pode ser sustado e a grande solvência que os bancos costumam 
ter. No cheque administrativo, tanto o sacador quanto o sacado serão o banco – banco obriga 
ele mesmo a pagar. Aquele que oferece o cheque administrativo em garantia estará fora da 
cadeia cambial. 
Literalidade do cheque – o credor só tem ação contra o emitente do cheque, ainda que a conta 
seja conjunta com outra pessoa. Já o banco será ação contra os dois, já que eles assumiram 
solidariedade passiva perante o banco. 
 
 
 
Rio, 06 de junho de 2012 
Títulos de Crédito 
Cheque (continuação) 
Veremos algumas modalidades de cheques. A primeira delas é o cheque visado. Como se sabe, 
o cheque não admite aceite, conforme artigo 6º da lei do cheque. O sacado não pode assumir 
obrigação cambial. 
No cheque visado, porém, contém uma assinatura do banco na frente do título, chamada de 
viso ou visto. Essa assinatura segrega o valor daquele cheque da conta do emitente. Na regra de 
pagamento de cheque, é a apresentação que gera a preferência no recebimento – mesmo se 
outro cheque tiver sido emitido antes, o que foi apresentado primeiro sempre terá preferência. 
A data da emissão só será relevante no caso de cheques que forem apresentados 
simultaneamente. 
No caso do cheque visado, a conta corrente terá uma segregação contábil no valor do cheque 
emitido. Assim, no caso visado se obriga contratualmente a separar o valor daquele cheque para 
garantir o pagamento. Sendo assim, não será seguida a regra geral de que o apresentado 
primeiro será pago primeiro. Dessa forma, existe maior segurança quanto ao fato de que 
realmente será pago o valor disposto naquele cheque. No Brasil, cheques visados são pouco 
utilizados – geralmente os cheques administrativos são utilizados nas situações em que se 
requer maior segurança. 
No caso da provisão de fundos, além do valor estar em contas ele também deve estar disponível 
– o valor separado para o cheque visado não estará disponível, sendo assim, se existir apenas 
esse valor em conta não existirá provisão de fundos. 
O prazo de apresentação do cheque poderá ser de 30 (caso apresentado na mesma praça) ou 
60 (caso apresentado em praça diversa) dias. O viso do cheque só produz efeitos durante o prazo 
de apresentação. Ultrapassado o prazo, encerra-se a segregação do valor na conta, que voltará 
a ter um único estrato. Assim, após o prazo de apresentação perde-se o benefício. 
Quanto ao prazo de apresentação, conforme o artigo 35 da lei de cheques, enquanto não houver 
contraordem o cheque será pago pelo sacado até que ocorra prescrição. O prazo de prescrição 
do cheque está no artigo 59 da lei do cheque e é um dos prazos prescricionais mais curtos de 
nosso direito: a prescrição se dá em 6 meses contados da expiração do prazo de apresentação. 
Assim, depois de decorrido 30 ou 60 dias, dependendo do caso, começará a contar o prazo 
prescricional. 
Mas o que seria a contraordem? Ela também é conhecida como revogação. Trata-se de uma 
ordem dada pelo emitente do cheque ao sacado, por escrito, impedindo o pagamento do 
cheque após a expiração do prazo de apresentação. Assim, limita-se o pagamento do cheque, 
pelo sacado, ao prazo de apresentação. A contraordem é uma defesa econômica e não jurídica. 
A sustação ou oposição ao pagamento de cheque opera efeito imediato e faz com que o banco 
não pague o valor previsto no cheque. A diferença da sustação para a revogação é que a sua 
eficácia é imediata (enquanto a revogação deve respeitar ao menos o prazo de apresentação). 
O fundamento da sustação deve ser jurídico, já que a frustração indevida do pagamento do 
cheque também configura estelionato. Antes da sustação se operar, o banco sempre deve acatar 
a ordem de sustação. Enquanto na sustação se faz uma defesa do seu direito, na revogação se 
faz uma defesa da sua economia. 
Outra modalidade de cheque é o cheque cruzado. É representado por duas linhas paralelas 
cortando o cheque. Pode existir também o cruzamento especial, no qual se coloca o nome do 
banco entre as duas linhas paralelas. Tanto no cruzamento geral quanto no especial, o seu efeito 
é impedir que esse cheque seja pago em dinheiro – o cheque só será pago por meio de depósito 
em conta ou pagamento ao sacado. Assim, se evita que o cheque seja recebido por quem não 
tem conta, dando menor poder de circulação ao cheque. No cruzamento especial, o cheque só 
pode ser depositado na conta daquele banco indicado no cruzamento. 
Existe uma modalidade de cheque chamada de cheque para ser levado em conta. Essa 
modalidade é pouco utilizada no Brasil por ser praticamente idêntico ao cheque cruzado. Basta 
que se coloque o termo “para ser levado em conta” para que seja evitado o pagamento em 
dinheiro. 
No caso do endosso, o prazo de apresentação do cheque também será relevante. O endosso 
posterior ao fim do prazo de apresentação somente possui os efeitos da cessão de crédito, 
conforme artigo 27 da lei do cheque. Com o endosso existe o princípio da autonomia, o que não 
ocorre na cessão de crédito. 
Se o cheque é apresentado para pagamento após o prazo de apresentação, ele deve ser pago a 
não ser que exista contraordem. Se o cheque não for pago mediante a apresentação, existirá 
ação contra o emitente e os coobrigados. O emitente será devedor direto, que pode ser cobrado 
independentemente de protesto. Serão coobrigados, o endossante (salvo cláusula em 
contrário), conforme artigo 21 da lei do cheque e o avalista, conforme artigo 31 da mesma lei 
(devemos lembrar, porém, que o avalista segue a sorte do avalizado – se for avalista do 
emitente, será devedor direto). Além disso, para cobrar dos coobrigados o cheque deve ser 
apresentado dentro do prazo de apresentação, conforme artigo 47 inciso II. 
 
Rio, 13 de junho de 2012 
Títulos de Crédito 
Cheque (continuação) 
Qualquer cláusula em sentido contrário ao vencimento à vista será considerada como não 
escrita no caso do cheque. A súmula 370 do STJ indica, porém, que caracteriza dano moral a 
apresentação antecipada do cheque pré-datado. Isso porque o cheque não muda a sua natureza 
por sua data escrita no título ser posterior à data e que ele foi emitido. O cheque pré-datado 
não existe no campo do direito cambial, mas apenas no campo do direito contratual. Trata-se 
de uma obrigação de não fazer por parte daquele que toma o cheque – é uma questão 
meramente contratual. 
A teoria do dano moral indica que nas ações de danos morais não é necessário provar

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