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UNIDADE VI – CONTRATO PRELIMINAR 1. Considerações iniciais. 2. Conceito e natureza jurídica. 3. Classificação. 4. Tutela específica. 5. Considerações sobre o contrato preliminar de doação. 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS O presente tema constitui uma novidade legislativa, pelo menos a nível de codificação, na medida em que, o CCB/1916 não tratou da matéria, apesar de algumas leis esparsas, como a lei de incorporações (Lei. 4.591-64) e a lei de loteamentos (Lei n. 6.766/79) fazerem menção à força vinculativa do pré-contrato. 2. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA Segundo STOLZE e PAMPLONA FILHO: trata-se de [...] avença através da qual as partes criam em favor de uma ou mais delas a faculdade de exigir o cumprimento de um contrato apenas projetado. Na lição de Carlos Roberto Gonçalves: [...] é aquele que tem por objeto a celebração de um contrato definitivo. Contrato que é, o contrato preliminar é espécie de negócio jurídico, sendo essa a sua natureza jurídica. Nesse sentido o art. 462 do CCB. Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. Perceba uma questão importante. O contrato preliminar não requer a mesma forma do contrato definitivo que constitui seu objeto. Portanto, ainda que o contrato definitivo requeira forma pública, o contrato preliminar poderá ser realizado por instrumento particular, ou mesmo verbal. 3. CLASSIFICAÇÃO: a) Unilateral: Se a faculdade de exigir o cumprimento do contrato definitivo for atribuída a uma das partes. Nesse caso aplica-se o disposto no art. 466 do CCB. Vejamos: Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifesta r-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor. Esse artigo foi concebido a partir da ideia de que o devedor não pode ficar vinculado eternamente à promessa realizada. Assim, se a decisão acerca da sorte do contrato definitivo couber ao credor, deverá manifestar-se no prazo estipulado no próprio contrato preliminar ou, caso este inexista, naquele que for assinalado pelo devedor, o que deverá ser feito com base na razoabilidade. b) Bilateral: Quando a qualquer dos contratantes for atribuído o direito de exigir do outro a celebração do contrato definitivo. O contrato preliminar bilateral pode ser, ainda: b.1 – Retratáveis e irretratáveis: Conforme contenham ou não a chamada cláusula de arrependimento. b.2 – Onerosos e gratuitos: Conforme haja ou não a pactuação de uma contraprestação devida em razão do simples exercício do direito de contratar. Ex. As partes pactuam no contrato preliminar que, em razão da celebração do contrato definitivo, o contratante receberá do contratado, algo a título de bônus. “Ao fechar a promessa de compra e venda de um apartamento, o contratante ganha um ipad”. 4. TUTELA ESPECÍFICA A visão tradicional do direito das obrigações, por conta de seu cunho eminentemente patrimonialista, sempre desaconselhou, por considerar uma afronta à liberdade humana, a prestação coercitiva de condutas, ainda que decorrentes de disposições legais e contratuais. A vontade humana seria, numa visão inicial, intangível, refletindo, portanto, os princípios liberais que influenciaram a formação do Direito Civil, em especial do século XIX, com o advento do Code Napoléon. Hoje, contudo, esse dogma não é mais visto como inafastável, desde que respeitados os direitos fundamentais. Portanto, o regramento jurídico da concessão da chamada tutela específica se aplica, igualmente, aos contratos preliminares. Esse entendimento está refletido nos seguintes dispositivos legais do CCB. Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente. Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação. Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos. 5. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONTRATO PRELIMINAR DE DOAÇÃO Esse tópico é destinado a responder às seguintes indagações: a) É possível a realização de uma promessa de doação pura? b) Em caso positivo. O promitente doador poderia ser obrigado a efetivar a doação, considerando que esta configura ato de mera liberalidade? A respeito do assunto STOLZE e PAMPLONA FILHO, após admitirem a possibilidade formal de alguém se obrigar a realizar uma doação pura, se posicionam da seguinte forma: [...] concluímos pela inadmissibilidade da execução coativa da promessa de doação, muito embora não neguemos a possibilidade de o promitente donatário, privado da legítima expectativa de concretização do contrato definitivo, e desde que demonstrado o prejuízo, poder responsabilizar o promitente doado pela via da ação ordinária de perdas e danos.
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