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1 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado ÍNDICE CAPÍTULO 1: Avaliação e cuidados iniciais. CAPÍTULO 2: Manuseio das vias aéreas e lesões por inalação. CAPÍTULO 3: Choque e ressuscitação com líquidos. CAPÍTULO 4: Manuseio da ferida. CAPÍTULO 5: Lesões por eletricidade. CAPÍTULO 6: Lesões por produtos químicos. CAPÍTULO 7: Queimaduras térmicas pediátricas. CAPÍTULO 8: Estabilização, encaminhamento e transporte. APÊNDICE 9 Emergências por radiação 9 Necrólise epidérmica tóxica. 9 Lesões por frio. 9 Hipertermia. 9 Abuso de crianças. 9 Paciente grávida queimada. 2 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ INTRODUÇÃO A resposta fisiológica de lesões por queimaduras é complexa. Os resultados estão influenciados pela rapidez e pela adequada estabilização e ressuscitação do paciente. O requerimento de líquidos nas primeiras 24 horas é importante com respeito ao volume. Na presença de uma lesão por inalação, deve-se fazer um diagnóstico precoce e modificar as medidas de ressuscitação. As queimaduras químicas e elétricas requerem medidas especiais por parte da equipe de saúde. Este curso está planejado para médicos, enfermeiras e auxiliares que devem assistir pacientes com queimaduras químicas, elétricas ou térmicas. Serão apresentados casos problemas. Serão efetuadas simulações clínicas baseadas em situações reais para demonstrar a aplicação prática dos princípios discutidos neste curso. O curso finaliza com uma avaliação dos participantes. 3 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ CAPÍTULO 1- AVALIAÇÃO E CUIDADOS INICIAIS OBJETIVOS Após completar este capítulo o aluno deve estar em condições de: 9 Identificar os componentes primários e secundários de atenção ao paciente queimado. 9 Distinguir entre uma queimadura de espessura parcial e total 9 Aplicar a regra dos nove 9 Entender os critérios de encaminhamento INTRODUÇÃO A queimadura é a lesão resultante da exposição a chamas, líquidos quentes, contato com objetos quentes, exposição a cáusticos, produtos químicos ou radiação, ou descarga de corrente elétrica. Os seguintes itens são importantes, para o manejo inicial dos pacientes queimados. 9 Estrutura e funções da pele 9 Definições relacionadas com profundidade e extensão da queimadura 9 Classificação das queimaduras 9 Avaliação e manobras de estabilização ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PELE A- Estrutura A pele está composta por 2 camadas; a epiderme e a derme. A epiderme é a camada mais superficial e a derme a mais profunda. A epiderme está composta somente por células; 98% de queratinócitos e os 2% restantes de melanócitos, células de Markel e de Langherans. A derme tem como principal célula representativa o fibroblasto e contêm os anexos (glândula sebácea, folículo piloso, glândula sudorípara) e terminais sensoriais para dor, tato, pressão e temperatura. Existem dois plexos arteriovenosos; um superficial em contato com a epiderme e um profundo em contato com o tecido celular subcutâneo. 4 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ B- Funções A pele possui quatro funções cruciais para a vida. 9 Proteção contra infecções. 9 Prevenção de perda de líquidos. 9 Regulação da temperatura corporal. 9 Contato sensorial com o meio ambiente. DETERMINAÇÃO DA GRAVIDADE DA QUEIMADURA As queimaduras de grande magnitude que afetam as funções precedentes podem chegar a comprometer a vida. A gravidade com respeito à vida depende da profundidade e da extensão. A gravidade com respeito à seqüela depende da profundidade e da localização. PROFUNDIDADE A profundidade da queimadura depende da temperatura e do tempo de exposição à fonte de calor. Também é importante considerar a espessura da pele afetada; deve-se levar em conta que nas crianças e em pessoas da terceira idade, a pele é mais fina. Geralmente nestas idades, as queimaduras apresentam-se de forma mais profundas de sua aparência inicial. Queimaduras de 1º grau: comprometem a epiderme, existe vermelhidão e hipersensibilidade. Queimaduras de 2º grau: comprometem a epiderme e parte da derme, aparece bolha e edema. Como afeta as terminações sensitivas podem ser muito dolorosas. Estas se dividem em 2º grau superficial e em 2º grau profundo. Queimaduras de 3º grau: destruição das 2 camadas de pele de forma completa. O aspecto é geralmente branco ou marrom e ressecado. Estão destruídas todas as terminações sensitivas, fato este que gera analgesia. A queimadura profunda da pele forma uma escara. (tecido necrosado que deverá ser eliminado, e coberto com um auto-enxerto). EXTENSÃO DA QUEIMADURA 5 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ É de grande utilidade a regra dos 9 e a regra da palma da mão. A palma da mão do paciente, incluindo as digitais, corresponde a 1% da superfície corporal. . Grupos de gravidade de Benaim Tendo em base a extensão e a profundidade da ferida, categorizaram-se os pacientes em 4 grupos: Leve, Moderado, Graves e Críticos; utilizando números romanos para sua identificação. (Ver tabela abaixo) PROFUNDIDADE GRUPO I GRUPO II GRUPO III GRUPO IV LEVE MODERADO GRAVE CRÍTICO Superficiais Até 10% 11 a 30% 31 a 60% Mais de 60% Intermediárias Até 5% 6 a 15% 16 a 45% Mais de 45% Profundas Até 1% 2 a 5% 6 a 30% Mais de 30% INTERNAÇÃO EM CENTROS DE QUEIMADOS Características do Centro de Queimados Deve ter infra-estrutura necessária para tratar pacientes queimados graves e críticos, assim como deve contar também com um grupo de profissionais interdisciplinar especialmente treinado. Critérios de internação Serão tratados em Centros de Queimados os seguintes pacientes: 1) Queimaduras de espessura parcial (AB) com mais de 10% da superfície corporal. 2) Queimaduras que comprometam rosto, mãos, pés, genitais, períneo e articulações. 3) Queimaduras “B” (3º grau) em qualquer idade. 4) Queimaduras por eletricidade. 6 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ 5) Queimaduras por produtos químicos. 6) Lesões por inalação. 7) Queimaduras em pacientes com patologias pré-existentes que podem complicar seu manuseio ou aumentar os riscos de morte. 8) Qualquer paciente com queimadura e trauma concomitante, no qual a queimadura possua maior risco de causa de morte. No caso de o trauma apresentar a principal causa de morte, deve-se estabilizá-lo na Unidade de Trauma, e logo encaminhá-lo à Unidade de Queimados. O julgamento do médico avaliador especialista em trauma de acordo com os protocolos de triagem será de grande utilidade. 9) Crianças em hospitais que não tenham pessoal qualificado para atendimento. 10) Queimaduras em pacientes que apresentem problemas especiais: sociais, emocionais ou um grande processo de reabilitação. 11) Queimadurasque circundam membros: tórax, abdômen e pescoço. AVALIAÇÃO INICIAL, MANUSEIO E ESTABILIZAÇÃO DE QUEIMADOS GRAVES E CRÍTICOS. Avaliação inicial É igual como em qualquer paciente traumatizado. Segundo o seguinte: 9 Via aérea com controle de coluna cervical. 9 Ventilação. 9 Circulação. 9 Déficit neurológico. 9 Exposição. 9 Ressuscitação. (utilização de líquidos). A- A via aérea com controle de coluna cervical. Deve-se avaliar imediatamente: 9 Expansão torácica. 9 Mobilidade da mandíbula. 9 Verificar que a via aérea superior esteja livre. 9 Auscultar os campos pulmonares e verificar os ruídos. 9 Verificar a freqüência respiratória. 9 Estabilizar a coluna cervical, antes de realizar qualquer movimento de flexão e/ou extensão. 7 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ B - Boa respiração Começar com oxigênio de alto fluxo, 15 litros a 100% utilizando máscara aberta. Caso a queimadura seja profunda, de forma a circundar o tórax, é necessária escarotomia imediata para melhorar a expansão torácica. C- Circulação Avaliar a cor da pele; sensibilidade; estado de consciência; pulsação e preenchimento capilar, tanto em membros superiores como em membros inferiores. No caso de queimaduras profundas que circundem membros a necessidade de escarotomias é imediata (antes das 3 primeiras horas). D- Déficit neurológico O paciente queimado está inicialmente alerta e orientado. Caso não esteja, deve-se pensar em uma lesão associada; presença de substâncias psicoativas, hipoxia ou mesmo alterações neurológicas pré-existentes. Determinar o grau de consciência com o seguinte teste: 9 Alerta. 9 Resposta a estímulo verbal. 9 Resposta somente a estímulo doloroso. 9 Sem resposta. E- Exposição Deve-se retirar do paciente todas as suas roupas e adereços. Não é necessário retirar as roupas aderidas à pele. F- Fluido terapia Ressuscitação Começar infusão intravenosa com Ringer-Lactato. 2) Avaliação secundária Desde a cabeça aos pés para determinar se existe lesão associada. A queimadura é a lesão mais facilmente visível. Não se deve esquecer de fraturas, luxações e grandes hematomas, que podem ser formados por ruptura arterial. Circunstâncias do acidente 9 Causa das queimaduras. 9 Se fora em ambiente fechado. 9 Se há possibilidade de inalação de fumaça. 8 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ 9 Se houve agentes químicos presentes. 9 Se existe trauma associado. História clínica Enfermidades pré-existentes ou associadas (diabetes, hipertensão ou alterações renais). Medicação recebida, utilização de: bebidas alcoólicas, cigarros ou entorpecentes. Alergias. Imunização Antitetânica. Manuseio inicial Interromper o processo de produção da queimadura, dependendo do tipo, extensão da lesão e do tempo de transporte. As seguintes medidas serão tomadas no local do acidente ou na recepção na sala de choque: 9 Retirar as roupas das zonas afetadas; afastar todas as áreas comprometidas do contato com o produto químico ou afastá-las da fonte de calor ou do contato em caso de queimadura por eletricidade. 9 Retirar anéis relógios ou outros adereços dos membros afetados para evitar o efeito torniquete que produz o edema. Precauções universais Todos os membros da equipe avaliadora devem estar protegidos para que não haja contaminação com as secreções produzidas no paciente queimado. Manuseio das vias aéreas Administrar oxigênio. Estar preparado para aspirar e manter o suporte ventilatório manual. Dar oxigênio a 100% a todo paciente com queimaduras profundas de mais de 20% da superfície corporal. Estar preparado precocemente para uma entubação endotraqueal para evitar assim, uma traqueostomia. Quando indicado o procedimento devido à urgência de se manter as vias aéreas permeáveis, deve-se constatar a integridade da coluna cervical através de uma radiografia de perfil, antes da entubação. A lesão por inalação será tratada em capítulo à parte. Manuseio circulatório O choque da queimadura se deve a um aumento da permeabilidade capilar transitória, o que produz saída de plasma com suas proteínas para o espaço extra vascular. 9 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Administrar Ringer Lactato intravenoso, com cânula periférica grossa, se possível em zonas não queimadas. Em caso contrário, pode-se colocar em qualquer zona. Tanto antes quanto possível o paciente deve ser avaliado quanto seu peso e extensão da área queimada para se estabelecer uma fórmula. No lugar do acidente deve-se colocar a via venosa periférica caso o traslado dure mais de 30 minutos. (Não colocar nunca via central). Uma fórmula de hidratarão útil para as primeiras horas é de 2 a 4ml de Ringer Lactato por peso corporal por cada 1% da superfície corporal queimada. Nas primeiras 8 horas administrar a metade do calculado para as primeiras 24 horas. Os 25% restantes nas 8 horas seguintes e os outros 25% nas últimas 8 horas. “Não se deve administrar uma quantidade em litros maior que 10% do peso do paciente num período de 24 horas”. Monitorar os sinais vitais a cada hora, durante as primeiras 24 horas: 9 Diurese: de 50 a 100 ml/hora. 9 PVC: de 5 a 10 cm de água. 9 Freqüência respiratória. 9 Freqüência do pulso. Colocação de sonda nasogástrica: a todo paciente que possa haver suspeita de vômito. Colocação de sonda vesical: necessária para verificar a diurese horária. Diminuição da dor: a morfina por via intravenosa é o recomendável. Não administrar por via intramuscular nem subcutânea, já que não atua devido ao fato de o líquido extracelular estar aumentado. Verificar a circulação distal dos membros de forma regular. Em queimaduras profundas que circundem os membros, o edema de tecido sadio por debaixo da escara vai diminuindo gradualmente o retorno venoso. Caso este chegue ao ponto em que comece diminuir o fluxo arterial, a isquemia e a necrose aumentam. “Deve-se realizar escarotomia ou fasciotomia” Oferecer apoio emocional: um psicólogo é necessário junto à equipe desde a chegada do paciente; tanto para a vítima como para os familiares. Lidando com situações de suicídio: levar em conta as situações de auto- agressão. O paciente pode estar lúcido e muitas vezes ao ver que não obteve sucesso naquilo que desejava, nega a situação. Alguns pontos muito importantes a considerar sobre o manuseio do suicídio são: 9 Recentes problemas familiares, conjugais, econômicos ou de saúde. 9 Expressões de falta de esperança. 9 Antecedentes de alcoolismo ou uso de drogas. 9 Antecedentes de problemas emocionais. 9 Antecedentes psiquiátricos. É necessária a presença de um psicólogo ou de um psiquiatra. 10 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ PROCEDIMENTOS ESPECIAIS PARA QUEIMADURAS ESPECÍFICAS Queimaduras térmicas Cobrir as zonas afetadas com um lençol limpo. Desta maneira, protegem-se as queimaduras intermediárias de correntes de ar, que causam dor. O gelo não deve ser aplicado de forma direta sobre a lesão, pois pode tornar mais profunda a queimadura. A água fria só é aplicada em queimaduras de baixa extensão; se aplicada em superfícies com mais de 10% do corpo queimado corre-se o risco de produzir-se hipotermia. Queimaduras por eletricidadeAo percorrer o corpo, a corrente elétrica de alta voltagem produz danos internos. Tanto aquela de baixa como alta voltagem podem produzir alterações cardíacas (disritmias). Um monitoramento cardíaco contínuo deve ser efetuado por pelo menos 24 horas pós-descarga. Apesar de a lesão no ponto de entrada e de saída da corrente poder parecer pequena, a lesão interna pode ser maior. Queimaduras por produtos químicos O agente químico deve ser eliminado o quanto antes com grande quantidade de água; se este estiver em pó deve-se escovar e logo em seguida lavar a região com bastante água. Retirar todas as roupas que tenham o produto. As lesões nos olhos são tratadas com irrigação permanente com solução fisiológica estéril. ESTUDOS INICIAIS DE LABORATÓRIO Sempre é necessário ter os seguintes estudos à chegada do paciente: 9 Hematócrito. 9 Eletrólitos. 9 Uremia. 9 Urina completa. 9 Radiografia de tórax Análises especiais 9 Glicemia. 9 Gases arteriais. 9 Eletrocardiograma (Obrigatório em lesões por eletricidade) 9 Carboxihemoglobinograma. (Intoxicação por CO) RESUMO Qualquer queimadura pode ser uma lesão séria. 11 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ O plano terapêutico dependerá da extensão, profundidade, etiologia e idade do paciente. Todo médico deve levar em conta o local para onde encaminhar um paciente queimado que requeira internação. Deve contatar o médico especialista em queimados que receberá o paciente para adequar o tratamento e seu traslado. BIBLIOGRAFIA. Bell RM, Krantz, BE: Initial Assesment. In Mattox KL, Feliciano DV, Moore EE, eds. Trauma, McGraw-Hill, United States of America, 2000, 153-170. (Provee una reseña a la evaluación inicial de pacientes lastimados). Cancio LC, Mozingo DW, Pruitt BA Jr: Administrando cuidados efectivos de urgencia a lesiones termales severas, J crit Illnesss 12(2):85-95, 1997. (Provee una reseña de la evaluación inicial de pacientes con queimaduras). Mozingo DW, Barillo DJ, Pruitt BA Jr: Reanimación aguda y manejo de traslado de pacientes lesionados termalmente, Trauma Quarterly 11(2):94-113, 1994. (Provee una reseña de la estabilización y envío de pacientes queimados). Pruitt BA Jr, goodwin CW Jr, Pruitt SK: Burns. In: Sabiston DC Jr., Libro de Texto de Cirugía Sabiston. Philadelphia, Pennsylvania, W.B. Saunders Company, 1997: 221-252. (Provee un panorama del cuidado de queimaduras). Warden GD: Reanimación de Líquidos y Manejo Temprano. In: Herndon DN, ed. Cuidado Total de Queimaduras. WB Saunders Company Ltd, Philadelphia, Pennsylvania, 1996:53-60. (Provee un panorama de la reanimación de líquidos en queimaduras). 12 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ CAPÍTULO 2- MANUSEIO DE VIAS AÉREAS OBJETIVOS Após completar este capítulo o aluno deve estar em condições de: 9 Citar 3 tipos de lesão por inalação. 9 Discutir a fisiopatologia e o manuseio. 9 Discutir problemas específicos em crianças com lesão por inalação. INTRODUÇÃO A lesão por inalação se manifesta por patologia e disfunção das vias aéreas e do sistema respiratório, que pode ser verificada nos 5 primeiros dias após a inalação de fumaça ou produtos irritantes de combustão incompleta. 9 Envenenamento com monóxido de carbono. 9 Lesão por inalação sobre a glote. 9 Lesão por inalação abaixo da glote FISIOPATOLOGIA Intoxicação com monóxido de carbono A maioria das vítimas de um incêndio sofre asfixia ou intoxicação com monóxido de carbono. Valores de Carboxihemoglobina entre 50 a 70% ou mais são encontrados nas vítimas fatais. A hemoglobina tem 200 vezes mais afinidade pelo CO do que pelo oxigênio, produzindo hipoxia nos tecidos. A hipoxia pode causar dano ao parênquima pulmonar como também ao cérebro; esta situação apresenta maior urgência. Valores entre 40 e 60% causam obnubilação ou perda de consciência. Níveis entre 15 e 40% causam disfunção do SNC com diferentes sintomas. Os valores inferiores a 15% podem ser assintomáticos. Os pacientes com níveis altos de Carboxihemoglobina (> que 30%), apresentam em mucosas e pele cor avermelhada; estão hipóxicos, sem cianoses e sem taquipnéia. Dada a variedade de sintomas, é útil efetuar um Carboxihemoglobinograma ante a suspeita de intoxicação com CO. Lesão por inalação acima da glote (supraglótica) Exceto em raras ocasiões (aspiração de líquidos quentes ou explosões em câmera hiperbárica) as lesões são sempre nas vias aéreas superiores. A alta temperatura na região supraglótica pode produzir obstrução em qualquer momento da ressuscitação. 13 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Em pacientes hipovolêmicos o edema supra glótico pode aparecer somente após de haver começado a hidratação. Lesão por inalação abaixo da glote (infra-glótica) Normalmente é química. Inclui: 9 Diminuição da atividade ciliar. 9 Eritema. 9 Hipersecreção. 9 Edema. 9 Ulceração da mucosa. 9 Incremento do fluxo sangüíneo. 9 Espasmo de brônquios e bronquíolos. A resposta dos tecidos abaixo da glote tem relação com a quantidade e o tipo de substâncias voláteis inaladas e clinicamente não se pode pré-dizer como será a evolução. A insuficiência respiratória é usual. Os produtos que produzem esta lesão são: amônio, cloro, cloreto de hidrogênio, fosfato, aldeídos, óxido sulfúrico e óxido nítrico. Durante os primeiros minutos aparece traqueobronquites e espasmos. Enquanto que a lesão por inalação abaixo da glote sem queimadura tem um prognóstico relativamente bom; uma queimadura com mais de 20% da superfície corporal mascara esse prognóstico, especialmente se os sinais de insuficiência aparecem dentro das primeiras horas da lesão. Qualquer paciente em que se suspeite possível lesão por inalação subglótica requer pelo menos 24 horas de internação para observação. Apesar da profilaxia antibiótica não estar justificada em um paciente queimado, o diagnóstico precoce de uma lesão por inalação e o tratamento de uma bronquite bacteriana a indicam. Manuseio inicial Qualquer paciente com suspeita de intoxicação e/ou lesão por inalação deve receber de forma imediata oxigênio umidificado com máscara a 100%. No caso de estridor ou ruído ao respirar, significa obstrução da via aérea superior e requer a imediata entubação orotraqueal. Se possível, é conveniente que seja nasotraqueal. Depois de comprovado por auscultação e Rx que o tubo se encontra bem colocado, deve-se mantê-lo no lugar com um ponto de sutura ou cadarço. Deve-se recordar que uma extubação espontânea, obriga a uma traqueostomia, pois caso haja edema, é muito difícil uma reintrodução. 14 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Análises especiais Até que esteja restabelecido o bom funcionamento da via aérea, é necessário que sejam determinados os gases sangüíneos e a carboxihemoglobinemia. História do acidente 9 Houve perda de consciência? 9 Houve inalação de produtos químicos por combustão? 9 Foi em lugar fechado? Exame físico 9 Escarro carbonáceo. 9 Queimadura facial com destruição de vibrissas nasais. 9 Agitação. Ansiedade; estupor; taquipnéia; cianoses ou outro sintoma que faça pensar em hipoxemia. 9 Ronqueira; tosse; barulhos respiratórios guturais. 9 Roncosdurante a auscultação. 9 Eritema ou edema de naso-orofaringe. Tratamento de cada tipo de lesão por inalação Intoxicação por monóxido de carbono Deve-se administrar oxigênio umidificado com máscara a 100%, até que os calores caiam a 15%. A oxigenoterapia hiperbárica é de muita utilidade. Lesão por inalação supraglótica A obstrução da via aérea superior pode ocorrer muito rapidamente. O paciente com queimadura faríngea e estridor tem alta possibilidade de desenvolver obstrução da via aérea por edema; assim sendo, deve ser entubado precocemente, antes de ser direcionado a uma Unidade de Queimados. Uma entubação de emergência com edema durante o traslado é muito insegura e arriscada. Lesão por inalação infraglótica O paciente terá sintomas de lesão bronquial e bronquiolar, especialmente broncorréia. Antes do traslado, deve-se entubar e eliminar secreções. Em algumas ocasiões, a lesão só se apresenta em nível alveolocapilar, aparece tardiamente e é diagnosticada pela alteração dos gases no sangue e com Rx normal de pulmão. Estes pacientes devem ser assistidos mecanicamente com um respirador que permita o manuseio de volumes. 15 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Sempre o traslado deve ser coordenado com a Unidade de Queimados, para evitar acidentes com a mudança de respiradores. Nas queimaduras que circundam o tórax, deve-se realizar escarotomias. Não se deve administrar corticóides em pacientes com qualquer tipo de lesão por inalação. Lesão por inalação em crianças Como as crianças têm as vias aéreas de menor calibre, o aparecimento de edema faz com estas sejam obstruídas mais rapidamente que no adulto. Se necessária entubação há que se ter cuidado ao escolher a medida do tubo; se pequeno, é fácil que ocorra a extubação. Resumo Existem três tipos diferentes de lesão por inalação: a intoxicação por CO; a supraglótica e a infraglótica. A série de sintomas associados com os tipos de lesão por inalação são tão imprevisíveis que fazem com que o paciente deva ser observado muito cuidadosamente. Todo paciente com suspeita, deve receber oxigênio umidificado com mascar a 100%. Deve-se entubar precocemente; excepcionalmente traqueostomia. Todo paciente queimado com lesão por inalação deve ser encaminhado a uma Unidade de Queimados, com prévia coordenação com o médico que está encaminhando. BIBLIOGRAFIA. Herndon DN, Barrow RE, Linares HA, Rutan RL, Prien T, Traber LD, Traber DL. Lesão por Inhalación en pacientes queimados: efectos y tratamiento. Las queimaduras, 14: 249-56, 1988. (Provee una reseña del manejo clínico de una lesão por inhalación). Fitzpatrick JC, Cioffi WG Jr. Ayuda ventilatoria después de una lesão por inhalación y queimaduras. Respir Care //clin N Am 3 (1):21-49, 1997. (Provee una reseña del manejo clínico de una lesão por inhalación). Hanston P, Butera R, Clemessy JL, Michel A, Baud FJ. Complicaciones tempranas y valor de las observaciones clínicas iniciales en víctimas de inhalación de humo sin queimaduras. Pecho 111(3):671-5, 1997. (Provee una reseña del diagnóstico de una lesão por inhalación). 16 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ CAPÍTULO 3- CHOQUE E HIDRATAÇÃO Objetivos O aluno deve: 9 Discutir as mudanças hemodinâmicas pós-queimadura. 9 Poder estabelecer os requerimentos de líquidos. 9 Descrever o monitoramento da ressuscitação. 9 Enunciar as complicações comuns das queimaduras e da terapia hídrica. 9 Identificar os pacientes que requerem uma ressuscitação especial. Introdução A ressuscitação hídrica de qualquer paciente queimado, deve ter como objetivo a manutenção das funções vitais e evitar complicações, de uma insuficiente ou excessiva hidratação. Um adequado conhecimento dos efeitos locais e sistêmicos que ocasiona a queimadura facilita o manuseio do paciente no período inicial. Efeitos locais e sistêmicos Resposta sistêmica O notório incremento da resistência vascular periférica acompanhada por uma diminuição do gasto cardíaco é uma das primeiras manifestações dos efeitos sistêmicos em pacientes queimados graves e críticos. Estas mudanças iniciais parecem não estar relacionadas com a hipovolemia, e são atribuídas a efeitos humorais e neurogênicos. Ao formar-se o edema na área da lesão, o volume plasmático diminui e cai o gasto cardíaco. A pressão arterial baixa e o hematócrito sobe por hemoconcentração. A magnitude e duração da resposta sistêmica são proporcionais à extensão e profundidade da lesão. Resposta hemodinâmica à hidratação O efeito agregado a estas mudanças fisiopatológicas são uma diminuição e redistribuição do fluxo sangüíneo nos tecidos. A administração de adequadas quantidades de líquidos restitui o gasto cardíaco e a circulação adequada nos tecidos não queimados. Resposta celular A temperatura a que os tecidos estão expostos e a duração da exposição são os fatores que determinam a gravidade da lesão local. 17 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Em áreas de queimaduras profundas, a coagulação das proteínas causa morte celular com tromboses de pequenos vasos e necroses de terminais nervosos. Em áreas de menor profundidade existe uma “zona de estase”; as células são lesionadas e diminui a circulação. A reparação e a sobrevivência das células danificadas depende de uma pronta e adequada reidratação para corrigir a hipovolemia. Reposição de líquidos O edema que se forma no tecido danificado e morto, chega ao máximo nas segundas 24 horas pós-queimadura. Com adequada reposição hídrica, resolve- se por evaporação de água pela lesão e por eliminação de água por via renal. Um excesso de líquidos aumenta o edema. O choque e a falha orgânica (mais comum à falha renal) ocorrem como conseqüência da hipovolemia em pacientes com grande extensão, que recebem uma reposição de líquidos insuficiente. Nas primeiras 12 a 18 horas após a lesão, produz-se uma alteração da permeabilidade capilar, fazendo com que o plasma saia desde os pequenos casos ao interstício. Estimação das necessidades de líquidos para as primeiras 48 horas As necessidades de líquidos têm relações diretas com a extensão da queimadura, com o peso corporal do paciente e a etiologia. A idade influi na relação de requerimento de líquidos e o tamanho do corpo. As crianças têm maior superfície corporal por unidade de massa. Para o cálculo deve-se pesar o paciente ou mesmo obter uma estimativa através de entrevista com o mesmo ou dos familiares. Deve-se efetuar rapidamente o cálculo de extensão da lesão mediante exaustivo exame físico. Se possível, colocar uma cânula grande em uma via venosa periférica, em zona não queimada. Ao contrário, aplicar em uma zona queimada. Se não for possível, pode-se utilizar a via femoral. Cálculo de líquidos para as primeiras 24 horas ¾ Adultos: Ringer-Lactato de 2 a 4 ml x Kg de peso x % SCQT ¾ Crianças: Ringer-Lactato de 3 a 4 ml x Kg de peso x % SCQT A metade se administra nas primeiras 8 horas; esse é o tempo em que a permeabilidade capilar está mais aumentada. A metade restante se administra nas 16 horas seguintes do primeiro dia. Assim deve-se regular segundo os parâmetros horários do paciente. Utilizar 10% do peso do paicente em litros por 24 horas Composição do líquido a administrar Primeiras 24 horas18 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Devem-se administrar somente cristalóides, evitando qualquer colóide. Por estar alterada a permeabilidade capilar, os colóides passam ao interstício e atraem mais líquido para fora do sistema arteriovenoso. Segundas 24 horas A permeabilidade capilar começa a se normalizar a partir das 18 horas pós- queimadura. Pode-se começar a administrar colóides. A administração de grandes volumes de Ringer-Lactato produz depressão dos valores de sódio no plasma a níveis de 130uEq/l. Adultos e crianças: 0.3 a 0.5 ml de líquidos com colóides x Kg de peso x % SCQT. Monitoramento da ressuscitação Cada paciente responde de forma diferente à ressuscitação. Deve-se adequá- la segundo a pressão venosa central e a diurese. Diurese horária É imprescindível a colocação de uma sonda Foley. Deve-se monitorar a diurese em: Adultos e crianças com mais de 30 Kg.: de 30 a 50 ml x hora Crianças (pesando menos de 30 Kg): 1 ml x kilo x hora Manuseio da oligúria A oligúria associada com elevação da resistência vascular periférica e redução do gasto cardíaco é mais freqüente, como resultado de uma inadequada administração de líquidos. Nestas circunstâncias os diuréticos não estão indicados. Esta oligúria normalmente responde com aumento da administração de líquidos. Uso de diuréticos: em pacientes com grandes extensões queimadas que apresentam oligúria apesar do aporte de líquido, deve-se administrar diuréticos para prevenir falhas renais agudas; se estes receberam a fórmula pré- estabelecida e não há sinais de perdas de sangue agregadas. Manuseio da mioglobinúria e da hemoglobinúria Os pacientes com lesões por alta voltagem (mais de 1000 volts) e os pacientes com lesões severas dos tecidos moles por trauma mecânico, podem ter quantidades significativas de mioglobina e hemoglobina na urina. Em adulto, caso consiga com a fórmula instaurada a manutenção de uma diurese entre 75 e 100 ml/hora será suficiente para a eliminação dos pigmentos e não é necessário o uso de diuréticos. Caso não haja resposta com o aumento do aporte de líquidos, deve-se acrescentar 12,5g. de manitol por cada litro de fluido. 19 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Quando restabelecida a diurese aos valores normais, continua-se com a terapia hídrica, contudo sem diuréticos. Devemos recordar que os pigmentos hemáticos são mais solúveis em um meio alcalino, podendo assim acrescentar bicarbonato de sódio, para manter a urina alcalinizada. Condições gerais do paciente Estas são um reflexo de como progride a terapia de hidratação. A ansiedade e a palidez são sinais iniciais de hipovolemia e hipoxia. O aporte de líquidos e a assistência ventilatória podem ser necessários. ¾ Pressão arterial A verificação deve ser efetuada um membro não queimado; caso contrário a medição, que pode aumentar o edema é mais difícil e aparecem valores menores de P.A; não se deve interpretar e administrar mais líquidos, que produzirão uma sobrecarga cardíaca. Em pacientes do grupo IV (críticos) e com os 4 membros afetados, deve- se colocar uma via arterial. ¾ Ritmo cardíaco É relativo para o monitoramento da ressuscitação. Considera-se valores normais entre 100 e 120 x por minuto. O hematócrito e a hemoglobina durante as primeiras 24 horas, praticamente não são de utilidade. Se nas primeiras 24 horas existe uma caída brusca de hematócrito, pode-se pensar que exista uma lesão hemorrágica associada; neste caso deve-se administrar glóbulos vermelhos até que se consiga manter valores entre 30 e 35%. Química plasmática e sangue arterial Deve-se obter um basal em todo paciente com mais de 30% da superfície corporal e naqueles que exista suspeita de lesão por inalação. Nos pacientes que requeiram amostras de gases no sangue com repetição, deve-se canular a artéria para que não a lesione com múltiplas extrações. Radiografias Obter Rx de tórax diariamente durante a primeira semana em pacientes críticos (IV) ou com lesão por inalação. Eletrocardiograma Nos pacientes com queimaduras por alta voltagem, investigar a existência de disritmias. Todo paciente com antecedentes cardiológicos requer monitoramento permanente. 20 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Complicações da fluidoterapia Edema pulmonar agudo Não é freqüente nas primeiras 48 horas pós-queimaduras em pacientes com uma adequada fluidoterapia. Se o edema de pulmão aparece em pacientes com limitada reserva miocárdica, administrar drogas inotrópicas e diminuir o aporte de líquidos. Acidoses A causa mais comum é a inadequada perfusão dos tecidos por incremento dos valores de ácido lático. Esta situação em geral reverte com o aumento do aporte de líquidos. Geralmente não é necessário o uso de bicarbonato, apenas o faz quando a acidose não reverte com a hidratação. Hipercalemia Durante a ressuscitação deve-se administrar apenas Ringer-Lactato que contem pouco “K”. A liberação do potássio produzido pelos glóbulos vermelhos danificados pelo calor eleva os níveis na circulação. Em geral a eliminação pelos rins é suficiente em casos de valores elevados para que haja normalização. Em alguns casos com grande destruição de tecidos, a excreção urinária pode não ser suficiente e deve-se tratar com bicarbonato de sódio, glicose e insulina. Hiponatremia Com o uso de Ringer-Lactato geralmente produz-se uma caída dos valores de sódio a 130mEq/l ao final das primeiras 24 horas de tratamento. Isto não representa um déficit salino, assim sendo, não é necessária administração de sódio extra. Com um apropriado manuseio de líquidos, por evaporação e pela urina normaliza-se e balanceia-se os níveis de Na. Pacientes que requerem especial manuseio de líquidos As fórmulas são um guia, devem ser adequadas às necessidade de cada paciente e pode haver necessidade de maior quantidade nos seguintes casos: 9 Pacientes com lesão por eletricidade (alta voltagem). 9 Pacientes com lesão por inalação. 9 Pacientes em que a hidratação começou tardiamente. 9 Pacientes com desidratação prévia. 9 Pacientes com queimaduras químicas por ingestão. Deve-se ter especial cuidado com aqueles pacientes muito sensíveis à hiperidratação, já que podem sofrer sobrecarga cardíaca. 21 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ 9 Pacientes com patologias cardiopulmonares prévias. 9 Pacientes maiores de 50 anos de idade. 9 Crianças menores de 2 anos de idade. Considerações sobre a hidratação nas crianças A maior superfície por unidade de peso que caracteriza as crianças requer a administração de maiores volumes de líquidos. A hipoglicemia pode ocorrer; a reserva de glicose cai bruscamente nas crianças pelos altos níveis de esteróides e catecolaminas circulantes nas primeiras horas pós-queimadura. Caso isto ocorra, deve-se administrar solução glicosada com eletrólitos. A obnubilação progressiva, convulsões ou outros sinais de irritação do sistema nervoso central deve-nos fazer pensar em edema cerebral por excessivo aporte de líquido; nestes pacientes deve-se diminuir o aporte, administrar diurético e instalar hiperventilação para reduzir o Pa CO2 a níveis entre 25 a 30 Torr. BIBLIOGRAFIA. Engrav LH, Colescott PL, Kemalyan N, Heimback DM, Gibran NS, Solem LD, Dimick AR, Gamelli RL, Lentz CW. Una biopsia del uso del la Fórmula de Baxter para reanimarqueimaduras o ¿Lo hacemos como lo hizo Charlie? J Burn Care Rahbil 2000; 21(2):9-95. (Provee una reseña de la fórmula Baxter) Graves TA, Cioffi WG, McManus WF, Mason AD, Pruitt BA. Reanimación de líquidos de infantes y niños con quemadura termal masiva. J Trauma 28: 1656-9, 1988. (Provee guías en la reanimación de niños) Navar PD, Saffle JR, Warden GD. Efectos de la Lesión por Inhalación en los requisitos después de una lesão termal. Am J Surg 1985;150:716- 720. (Reseña de reanimación de aquellos con quemadura simultánea cutánea y lesão por inhalación) Warden GD. Reanimación de Líquidos y Manejo Temprano. In: Herndon DN, ed. Cuidado total de queimaduras. Third Ed. London: WB Saunders, 1997:53-60. (Reseña de prácticas en reanimación de queimaduras) 22 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ CAPÍTULO 4- MANUSEIO DA FERIDA (QUEIMADURA) Objetivos Após completar este capítulo o aluno deve estar em condições de: 9 Diferenciar uma queimadura de espessura parcial de uma de espessura total. 9 Descrever a técnica de escarotomia em membros superiores, inferiores e tórax. 9 Discutir o manuseio de pacientes com queimadura em áreas especiais. 9 Descrever o manuseio de pacientes com queimaduras por alcatrão. Introdução Em geral o tratamento da lesão local por queimadura, fica para depois que o paciente tenha sido ressuscitado; mas há que se levar em conta os resultados definitivos com relação às seqüelas; dependendo do efetivo tratamento local. Logo após a resposta multiparenquimatosa produzida pela queimadura, a aparição de complicações e a alta do paciente estão intimamente relacionadas ao bom manuseio da lesão local. Fisiopatologia da lesão local Dano celular A pele humana pode tolerar sem danos temperaturas até 44ºC. Acima deste valor diferentes lesões são produzidas. O grau da lesão tem direta relação com a temperatura e com o tempo de exposição. A área central da lesão, que teve maior contato coma fonte de calor, está coagulada com necrose celular; esta é chamada zona de coagulação. Perifericamente à zona necrosada, existe uma área com células lesionadas, que podem sobreviver em circunstâncias ideais, mas em geral esta zona sofre necrose após as primeiras 24 horas; é a chamada zona de estase. Até a periferia existe a zona de hiperemia que possui uma lesão mínima e se recupera em cerca de 7 a 10 dias. A profundidade da queimadura determina o tipo de tratamento a ser realizado, necessidade de enxertos e por último, os resultados funcionais e estéticos. Profundidade Queimadura epidérmica ou de primeiro grau: se caracteriza por e vermelhidão. Após 5 a 7 dias ocorre escamação das células lesionadas, que dão lugar às novas células, sem deixar cicatriz. 23 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Queimaduras dermoepidérmicas: podem ser dérmicas superficiais ou de 2º grau superficial; os queratinócitos dos apêndices (glândulas sudoríparas e sebáceas) ficam viáveis, o que permite epitelização em cerca de duas semanas. As dérmicas profundas, são as que habitualmente se convertem em profundas e se curam espontaneamente em 3 ou 4 semanas; sempre deixam cicatrizes. Queimaduras totais ou profundas, ou de 3° grau: nunca se curam espontaneamente, pois estão comprometidas todas as camadas da pele. Só podem ser curadas epitelizando-se desde as bordas ou com enxertos de pele obtidos de áreas saudáveis. Acumulação de líquidos Além de dano celular, a clássica reação inflamatória gerada pela queimadura se caracteriza pela acumulação de líquido, eletrólitos e proteínas na área lesionada. Manuseio inicial A avaliação e o tratamento inicial sempre são prioritários em relação à ferida, porque o objetivo primário é salvar a vida. Escarotomia do tórax A freqüência respiratória e a profundidade das inspirações devem ser controladas durante o período de ressuscitação. Quando há uma queimadura profunda que circunde o membro e impeça a expansão torácica, deve-se realizar uma escarotomia até a fáscia muscular, sem rompê-la, longitudinalmente desde a linha axilar anterior em forma bilateral; caso não seja suficiente, deve-se conectar com incisões entre as duas linhas, ficando em forma de tabuleiro. Escarotomia das extremidades A acumulação de líquidos abaixo de um tecido necrosado não extendível, origina uma compressão dos vasos sangüíneos e dos nervos. Todos os anéis, relógios e outros adereços devem ser retirados do membro afetado para evitar uma possível isquemia distal. A cor da pele dos dedos, parestesias e diminuição no preenchimento capilar assim como também a falta de pulsos periféricos nos sugere pensar na necessidade de uma escarotomia descompressiva. Qualquer dos seguintes sintomas indica a necessidade de uma escarotomia: 9 Cianoses. 9 Parestesias progressivas. 9 Diminuição ou ausência de pulsos. 9 Sensação de frio nas extremidades. 24 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ O uso de um medidor de fluxo ultrassônico é o método mais seguro para determinar alterações no fluxo sangüíneo e para comprovar se a escarotomia apresentou resultados efetivos. A escarotomia pode ser realizada na cama do paciente, mas com uma técnica cirúrgica adequada, pincelando com anti-séptico e com campos cirúrgicos estéreis. Não é necessário o uso de anestesia pelo fato de a escara não apresentar sensibilidade. Baixas doses de morfina por via intravenosa são úteis para controlar a ansiedade. Sempre é útil realizar duas escarotomias, uma em cada lado do membro afetado e deve-se chegar até a fáscia para que seja bem liberado o tecido necrosado, que produz a constrição. Deve-se evitar lesionar estruturas nobres como tendões, artérias e nervos, devendo assim ter especial cuidado nas seguintes regiões: ¾ Membro superior: passar à frente da epitróclea para evitar lesionar o nervo cubital. ¾ Membro inferior: passar à frente do maléolo tibial interno para evitar lesionar o pacote tibial posterior. Passar à frente do perônio para evitar lesionar o nervo ciático poplíteo externo. ¾ Nos dedos: fazer a incisão longitudinal e bilateral, na união do começo das pregas interfalângicas, para evitar assim a lesão do pacote vascular. Traslado ao centro de encaminhamento Não é necessário efetuar uma grande limpeza da ferida ou aplicar tópicos antimicrobianos se o traslado for realizado dentro das primeiras 24 horas. As feridas só devem ser cobertas com compressas estéreis. Para minimizar a perda de calor deve-se cobrir o paciente com mantas adequadas. Se por algum motivo o traslado demorar, deve haver comunicação direta entre o médico encaminhador e o médico receptor para adequação do traslado. Queimaduras em zonas especiais Têm um tratamento específico. Recomenda-se consulta com o médico receptor em caso de queimaduras no rosto, olhos, pescoço, axilas, cotovelos, mãos, períneo, joelhos e pés. Queimaduras faciais São consideradas lesões graves e sempre requerem internação, deve ser considerada a possibilidade de lesão por inalação. Devido à grande vascularização do rosto, acompanha-se sempre um importante edema. Para minimizá-lo, o paciente deve estar deitado com elevação da cabeça de 30º a 40º com respeito ao tronco, se não estiver em choque. O rosto sempre deve ser lavado com água destilada ou com solução fisiológica, para não irritar as mucosas (olhos, nariz ou boca) com agentes anti-sépticos.É recomendável o uso da máscara úmida renovada a cada 2 horas. 25 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Queimaduras oculares O exame ocular deve ser rápido, já que quando aparece o edema torna-se muito difícil. A fluorescência pode ser utilizada para identificar lesões na córnea. As queimaduras químicas são lavadas permanentemente com solução fisiológica. Pode-se colocar gotas ou cremes com antibióticos, se detectada úlcera de córnea. Não se deve utilizar colírios que contenham corticóides. A tarsorrafia nunca está indicada na etapa aguda. Queimaduras nas orelhas Requerem um exame para comprovar a permeabilidade do conduto auditivo externo. É importante determinar o aparecimento de otite externa e média, especialmente nas crianças. Deve-se evitar pressão sobre o pavilhão auricular; não utilizar bandagens compressivas nem apoiar sobre almofada. Queimaduras nas mãos As mãos mal tratadas podem ficar com importantes seqüelas funcionais, especialmente se comprometida a palma. O mais importante é determinar a vascularização, para realizar ou não a escarotomia. A presença de pulso radial não exclui a síndrome comportamental. O preenchimento capilar diminuído pode nos guiar a uma descompressão. Elevar as mãos acima do nível do coração diminui o edema. Também ajuda a mobilização ativa, durante 5 minutos a cada hora. Não é recomendável efetuar grandes coberturas durante as primeiras 24 horas se há suspeita de compromisso vascular, pois fica impedida a observação. Queimaduras nos pés Deve-se verificar a circulação, elevar os membros e evitar as grandes coberturas. Queimaduras de genitais e períneo As queimaduras no pênis requerem a imediata colocação de uma sonda de Foley, para manter a permeabilidade da uretra. O cateter deve ser fixado para minimizar os traumas mecânicos na parede da uretra. Nas queimaduras profundas que circundem o órgão, deve-se efetuar a escarotomia dorsal. No escroto podem-se formar muitos edemas e não se há necessidade de um tratamento específico. As queimaduras vulvares profundas também requerem a colocação de uma sonda de Foley. Apesar das queimaduras do períneo serem difíceis de manusear, é pouco provável que haja necessidade de uma colostomia. 26 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Queimaduras térmicas especiais Queimaduras por alcatrão (brasa) São sempre por contato; o composto betuminoso não é absorvido e não é tóxico. O tratamento de emergência consiste em esfriar o alcatrão com água fria. A remoção da brasa não é emergencial, a água fria está indicada para deter o processo de queimadura. O alcatrão aderido deve ser coberto com gaze vaselinada e gaze seca para promover a emulsificação. A adição de óleo de girassol ajuda neste processo. BIBLIOGRAFIA. Sheridan, RL. Evaluación y manejo de lesão de queimaduras. Dermatology Nursing 2000; 12(1): 21-8. (Una reseña de métodos de evaluación de la profundidad y tamaño de las queimaduras) Wiewbelhaus, PA, Hansen, SL. Lo que usted debe saber acerca del manejo de emergencias en queimaduras. Nursing 2001; 24(1): 45-51. (Una reseña de la evaluación de una lesão de quemadura). 27 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ CAPÍTULO 5- QUEIMADURAS POR ELETRICIDADE Objetivos Após completar este capítulo o aluno deve estar em condições de: 9 Descrever as mudanças fisiopatológicas que ocorrem nas queimaduras por eletricidade. 9 Discutir as técnicas especializadas para manusear o paciente 9 Destacar os princípios do manuseio inicial Introdução As queimaduras elétricas se dividem arbitrariamente em alta e baixa voltagem se estão acima ou abaixo dos 1000 volts respectivamente. As lesões por alta voltagem são em geral entre 7200 e 19000 volts, mas podem ocorrer em categorias superiores a 100.000 e 1.000.000 volts. As lesões domésticas na Argentina são de correntes de 220 e as industriais de 380 volts. Fisiopatologia A lesão produzida pela eletricidade é resultado da conversão da energia elétrica em calor. As mãos e pulsos são as portas de entrada mais comuns e os pés a fonte de saída. Os tecidos têm diferentes resistências ao percorrer da corrente. O nervo é o que apresenta menor e o osso a maior resistência, respectivamente. Por efeito Joule, o passar da corrente em um tecido de ata resistência como o ossos, eleva a temperatura do mesmo, produzindo queimaduras nas estruturas vizinhas. A passagem de corrente de alta voltagem por células produz o fenômeno de eletroporação (produção de poros na membrana celular) que leva em curto prazo a célula à morte. A passagem da corrente por um membro apresenta como resultado a necrose muscular abaixo do tecido são. Estas lesões são extremamente difíceis de avaliar clinicamente; pode haver um severo dano muscular e de tecidos ao redor do osso, contudo, a pele pode apresentar-se intacta. Tipo de lesão dos tecidos 1) Queimadura cutânea sem lesão de tecidos profundos. É produzida quando há fogo nas roupas e não há passagem de corrente elétrica através do paciente. 2) Queimadura cutânea mais lesão profunda dos tecidos como gordura, fáscia, músculo e osso. A lesão muscular está associada com a 28 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ 3) liberação de mioglobina, a qual deverá ser excretada pelo rim. Dependendo da quantidade de pigmentos liberados, a urina poderá ser rosada, vermelha ou marrom. É difícil e não é necessário diferenciar entre mioglobina e hemoglobina. Os dois são indicativos de lesão de tecidos e representam um risco para o rim. Lesões por raio Este tipo de lesão não é esporádica; mata cerce de 50 pessoas por ano na Argentina. É uma corrente direta de 100.000 volts ou mais e de 200.000 ampéres e pode atuar por 2 mecanismos diferentes. Ação direta A corrente gerada pelo raio, freqüentemente passa pela superfície do corpo e não através deste. As queimaduras cutâneas são superficiais, apresentando o que foi dado o nome de patrão arborescente. Explosão-Clarão O mecanismo de explosão-clarão é produzido quando a corrente não alcança o paciente, mas há formação de fogo no ambiente ou o calor produzido pela descarga afeta a vítima. Manuseio da queimadura elétrica Estabelecer o tipo de lesão Obter informações do acidente: Onde e como ocorreu? O paciente perdeu a consciência ou teve amnésia? Teve algum trauma agregado? Sofreu parada cardíaca ou disritmia? Exame físico Identificar os pontos de contato: entradas e saídas. 9 Retirar todas as roupas e acessórios. 9 Examinar os pés e as mãos. 9 Raspar a cabeça se houver pontos de contato com a mesma. 9 Estimar a extensão da queimadura. 9 Efetuar um exame neurológico central e periférico. 9 Verificar lesões medulares, fraturas de ossos largos e luxações. Manter a via aérea permeável 29 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Colocar um tubo endotraqueal, se indicado. Ressuscitação Deve-se colocar uma ou mais vias centrais. O líquido de escolha é Ringer- Lactato, administrado com as fórmulas já pré-estabelecidas, levando em conta queem geral, a necessidade é maior do que o valor estimado. Colocação de sonda de Foley Exame de urina Caso haja pigmentos, a diurese deve ser mantida entre 75 a 100 ml por hora, até que a cor da urina se clareie. Uma ampola de bicarbonato de sódio (50 mEq) por litro de Ringer-Lactato pode ser administrada em forma intravenosa para a manutenção do pH sangüíneo dentro de valores aceitáveis. O procedimento deve ser mantido até a eliminação dos pigmentos na urina. Se a diurese não responder ao tratamento, bem como não houver clareamento da urina, deve-se realizar uma infusão de manitol. Monitoramento com eletrocardiograma Deve-se efetuar um ECG logo após a chegada do paciente. O monitoramento deve ser mantido contínuo durante as primeiras 24 horas. Manutenção da circulação periférica Em qualquer membro comprometido deve-se controlar a cada hora a pulsação periférica; o preenchimento capilar, a sensibilidade e a cor da pele. Se algum destes sinais apresentar compromisso vascular, deve-se realizar uma descompressão imediata. Fasciotomia Em queimaduras por alta voltagem, apesar de não haver queimaduras profundas que circundem o órgão/membro, pode-se desenvolver uma síndrome comportamental, devido ao fato de o músculo afetado se edemaciar abaixo da fáscia. Clinicamente se manifesta como um músculo sem função e encontra-se muito túrgido à palpação. 1) Membro superior A musculatura do antebraço é muito suscetível à isquemia. Se necessária uma fasciotomia, deve-se cuidar para não lesionar o nervo cubital; pode-se utilizar anestesia local. É realizada com bisturi elétrico, incidindo a pele; celular subcutâneo e fáscia. Deve haver especial atenção ao local onde estivera o relógio, pulseiras e anéis. 30 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Pode ser necessário efetuar uma liberação do túnel do carpo, caso a fasciotomia não melhore a vascularização. 2) Membro inferior Os quatro compartimentos são suscetíveis à isquemia por edema subfascial. A fasciotomia deve ser efetuada com 2 incisões. A externa deve começar pela frente da cabeça do perônio e seguir cerca de 25cm sobre a diáfise do mesmo distalmente. Abrir a fáscia tendo cuidado para não lesionar o nervo ciático poplíteo externo. A interna começa sobre a inserção do gêmeo interno e segue distalmente, até a borda interna do tendão de Aquiles. Deve ter cuidado para não lesionar a veia safena interna. A perda de sangue pode ser considerável e é controlada com um bisturi elétrico. Caso a fasciotomia seja feita precocemente, é possível que não sangre devido à hipovolemia e à vasoconstrição periférica; contudo, deve-se estar preparado para o sangramento que pode aparecer quando o paciente sair do choque. Queimaduras elétricas em pacientes pediátricos Nas crianças são comuns as lesões de baixa voltagem produzidas no lar. O habitual é que se coloque um cabo na boca ou a introdução de objetos metálicos em tomadas elétricas. Em geral produz-se pequenas lesões cutâneas, mas podem ser profundas. As lesões, tanto de comissuras labiais como de língua não devem ser tratadas cirurgicamente nas primeiras 72 horas. Antes da tomada de intervenção cirúrgica, deve-se esperar que desapareça o edema. BIBLIOGRAFIA. Hunt JL, Mason AD, Jr., Masterson TS, Pruitt BA, Jr. La fisiopatología de las lesiones de quemadura elétrica aguda. J. Trauma. 1976;16:335-40. Hunt JL, McManus WF, Haney WP, Pruitt BA, Jr., Lesiones vasculares en queimaduras eléctricas agudas. J Trauma. 1974;14:461-73. 31 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ CAPÍTULO 6- QUEIMADURAS QUÍMICAS Objetivos Após completar este capítulo o aluno deve estar em condições de: 9 Citar 3 classes de lesões por produtos químicos 9 Discutir o manuseio inicial. 9 Descrever o tratamento de queimaduras oculares, por petróleo e ácido. Introdução Em qualquer momento da vida cotidiana de uma pessoa pode haver exposição a produtos químicos tanto no lar, no trabalho como em locais de distração. Os produtos químicos são classificados em: bases, ácidos ou componentes orgânicos. Classificação As bases: incluem os hidróxidos, carbonatos ou sodas cáusticas como as de sódio, potássio, amônio, lítio, boro e cálcio. A maioria é encontrada em líquidos limpadores e cimentos. Os ácidos: o ácido clorídrico forma parte de quase todos os elementos de limpeza para o banho. O ácido oxálico é utilizado como removedor. O ácido muriático é utilizado como redutor de pH de piscinas. O ácido sulfúrico é utilizado como purificador nas indústrias. Os compostos orgânicos: incluem os fenóis, cresóis e derivados de petróleo; produzem lesões por contato e têm efeitos sistêmicos. Os fenóis são utilizados como desinfetantes, os cresóis e derivados de petróleo são utilizados nas residências e indústria. Fatores que determinam a gravidade 9 Agente. 9 Concentração. 9 Volume. 9 Duração do contato. Tratamento Todas as pessoas que tiverem contato com um paciente com queimaduras por produtos químicos devem estar protegidas, utilizando roupas impermeáveis e luvas. O tratamento inicial consiste em remover as roupas saturadas com o agente, incluindo roupa íntima, meias e calçados. Escovar a seco a pele do paciente, 32 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ caso o agente seja sólido e logo irrigar com grande quantidade de água (banho de ducha); nunca por imersão. Não existe outro agente superior à água. Não se deve neutralizar o produto químico, pois será gerada uma reação exotérmica com aumento da temperatura local que contribui para tornar a lesão mais profunda. A irrigação deve continuar até que o paciente tenha sensação de alívio. Queimaduras químicas específicas Lesões oculares por bases As bases se juntam às proteínas dos tecidos e necessitam de uma irrigação prolongada para serem diluídas e para que a progressão da lesão seja detida. Pode-se efetuar com água ou solução fisiológica. O paciente pode apresentar edema e espasmos nas pálpebras. Se necessário, forçar a abertura para que seja feita uma efetiva irrigação. Deve-se deixar uma tubulação em ângulo externo do olho em gotejamento de solução fisiológica contínuo até encaminhamento do mesmo a uma Unidade de Queimados. (Dispositivo ocular de Morgan para irrigação contínua) Lesões por petróleo e seus derivados A gasolina e o diesel são produtos derivados do petróleo que causam lesões nos tecidos. O contato prolongado com estes produtos, pelo processo conhecido como “lipidação”, podem produzir uma queimadura química de diferentes graus de profundidade. Se absorvidos de forma exagerada, estes hidrocarbonetos podem produzir problemas respiratórios, hepáticos e renais. As enzimas hepáticas serão elevadas após 24 horas. Pode-se produzir também uma intoxicação por chumbo caso o composto contenha chumbo tetra etílico. Ácido fluorídrico É o ácido inorgânico mais reativo nos tecidos e causa as lesões mais sérias e profundas. Esta destruição de tecidos é produzida quando o íon flúor se combina com proteínas. Caso o íon se combine com cálcio ou magnésio, obtem-se fluoreto de Ca ou Mg, os quais não são agressivos. O tratamento imediato consiste em abundante lavagem com água ou água com gluconato de cálcio a 10%, injeção subcutânea e intralesional. Este procedimento acalma a dor de forma imediata. As lesões com este ácido,frequentemente ocorrem nas mãos e nos dedos. Deve-se ter em conta que uma lesão de 2% da superfície corporal não tratada antes das 3 horas consecutivas, pode ser “letal”. 33 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ BIBLIOGRAFIA. Kirkpatrick JJ, Enion DS, and Burd DA, Hydrofluoric acid burns: a review. Burns 21:483-493, 1995. (Una reseña de la fisiología de quemadura de ácido hidrofluórico y manejo). Wagoner MD, Chemical injuries of the eye: current concepts in pathophysiology and therapy. Surv Ophthalmol 41:275-313, 1997. (Una reseña del manejo de una quemadura química ocular) Smith KJ, The prevention and treatment of cutaneous injury secondary to chemical warefare agents. Dermatologin Clinics 17:41-60, 1999. (Una reseña del manejo de una quemadura química secundaria relacionada a agentes usados en la guerra) Mazingo DW, Smith AA, McManus WF, Pruitt BA, Mason AD. Chemical Burns. J. Trauma 1988; 28:642-47. (Una reseña extensa de queimaduras químicas) 34 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ CAPÍTULO 7- QUEIMADURAS PEDIÁTRICAS Objetivos O aluno deve estar em condições de diferenciar entre um adulto e uma criança o seguinte: 9 Superfície corporal com relação ao peso. 9 Regulação da temperatura. 9 Espessura da pele. 9 Discutir o manuseio inicial das queimaduras térmicas, elétricas e químicas em crianças. Introdução A cada ano mais de 300 crianças morrem na Argentina por queimaduras e cerca de 1200 ficam com importantes seqüelas estéticas. As queimaduras por líquidos quentes são as mais comuns em crianças menores de 3 anos e por fogo direto naquelas em maior faixa etária. Fisiopatologia Superfície corporal As crianças têm maior superfície corporal por kilo de peso que os adultos. Uma criança de 7kilos é só um décimo de um adulto com 70 kilos, mas tem um terço da superfície corporal desse adulto. Como conseqüência deste fato, a criança requer maior aporte de líquidos na etapa de ressuscitação. As crianças abaixo dos 2 anos têm a pele mais fina, o que resulta no fato de que a uma mesma temperatura e tempo de exposição, a queimadura é mais profunda. As queimaduras que ao início aparecem como intermediárias, geralmente terminam sendo profundas. Regulação da temperatura Também tem relação com a maior superfície corporal; a criança perde mais temperatura e, além disso, por apresentar menos massa muscular tem menor produção de calor. Em crianças menores de 6 meses, deve-se manter uma temperatura ambiente adequada de 36º a 37ºC para que não percam calor. Nos adultos, exposições por 30 segundos a 54ºC produzem queimaduras. Em uma criança, à mesma temperatura, é necessária apenas uma exposição de 10 segundos. A 60ºC, temperatura habitual de líquidos quentes no lar, a lesão em uma criança é formada em apenas 5 segundos. 35 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ Avaliação inicial Os antecedentes são importantes; não devemos deixar de recordar a possibilidade de abuso infantil em crianças menores de 4 anos. Extensão Levar em conta a diferença cefalopodálica com respeito ao adulto; a regra dos 9 modificada ou a regra de Pulansky e Tenninson podem ser de grande utilidade. Via aérea As crianças podem apresentar sinais de lesão por inalação mais precocemente que os adultos. A entubação endotraqueal está indicada quando há suspeita de comprometimento da via aérea supra-glótica. A entubação deve ser efetuada por alguém bem treinado (anestesista pediátrico). A laringe da criança está localizada de modo mais proximal que no adulto; o que requere maior angulação da cânula. Devido a esta diferença anatômica necessita-se um especialista em crianças. O diâmetro das narinas pode ser utilizado para a escolha do tubo a ser colocado. Tentativas frustradas de repetidas entubações produzem mais edema nas via aéreas superiores. A traqueostomia nunca está indicada; é preferível colocar uma agulha grossa percutânea transitória. Toda criança com suspeita de lesão por inalação deve ser transladada tão rápido quanto possível a uma Unidade de Queimados Pediátrica. Circulação Toda criança com queimaduras em mais de 10% da superfície corporal, de qualquer tipo de profundidade, deve ser internada, pois necessita de colocação de via venosa. Em crianças sempre se deve colocar uma sonda nasogástrica, já que com o choro tragam muito ar. A fórmula para as primeiras 24 horas é: 3 a 4 ml x Kg x SCQ de Ringer-Lactato; a metade do calculado utiliza-se nas primeiras 8 horas e a metade restante nas 16 horas seguintes. Deve-se recordar a possível hipoglicemia; ao 2° dia, é recomendável adicionar 5% de glicose. As necessidades de manutenção são: 100 ml x Kg x os primeiros 10 kilos de peso corporal + 50 ml x Kg x os 11 a 20 kilos + 20 ml x Kg desde os 20 kilos para cima. Exemplo de uma criança de 23 kilos 1000 ml + 500 ml + 60 ml = 1.560 ml para 24 horas de manutenção. Lembrar que as fórmulas são apenas estimativas. 36 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ A via intra óssea é uma alternativa válida para salvar a vida, quando não é encontrada uma via permeável e se realiza na tuberosidade anterior da tíbia com uma cânula grossa. A diurese em crianças com peso menor que 30 kilos deve se de 1 ml x Kg X hora. Para mais de 30 kilos deve ser entre 30 e 50 ml por hora. Cuidado com a ferida Lembrar que há um processo de queimadura; retirar as roupas; fazer um exame completo corporal, para determinar a extensão e profundidade, e cobrir com compressas estéreis. Não utilizar tópicos locais. Abrigar o paciente para que não entre em hipotermia. Escarotomia É igual ao adulto. Vale recordar que a criança se esgota facilmente do ponto de vista respiratório pelo fato de as queimaduras profundas que circundam o tórax requererem sempre uma escarotomia. Para determinar a circulação nos membros, é necessário dispor de um Doppler. BIBLIOGRAFIA Sheridan RL. The seriously burned child: resuscitaion through reintegration - part 1 (1998;28:105-27) y parte 2 (1998;28:139-67). Current Problems in Pediatrics. (Una comprensiva reseña del manejo de lesiones de quemadura en niños). 37 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ CAPÍTULO 8- ESTABILIZAÇÃO, ENCAMINHAMENTO E TRANSPORTE Objetivos O aluno deve: 9 Descrever a estabilização pré-transferência. 9 Descrever os procedimentos de transferência. Introdução Todo paciente com queimaduras térmicas, elétricas ou químicas requer uma avaliação imediata em um Centro Assistencial. Os profissionais da saúde devem avaliar o paciente para um possível encaminhamento caso não haja recursos suficientes para o tratamento do mesmo. O paciente deve ser sempre avaliado levando-se em conta a possibilidade da presença de lesões associadas. Todos os procedimentos realizados devem estar anotados para o momento da transferência á Unidade de Queimados; enviar a maior quantidade de informações possíveis sobre o caso. Critérios para encaminhar um paciente a umaUnidade de Queimados 1) Pacientes com queimaduras intermediárias (AB) com mais de 10% da superfície corporal 2) Queimaduras de qualquer tipo que envolvam rosto, pescoço, mãos, períneo, genitais, pés e articulações. 3) Queimaduras profundas de qualquer extensão. 4) Queimaduras por eletricidade. 5) Queimaduras por produtos químicos. 6) Pacientes com lesão por inalação. 7) Pacientes com patologia pré-existente. 8) Pacientes com queimaduras e trauma concomitante, no qual a queimadura represente maior risco à vida. 9) Crianças queimadas que estejam em um hospital que não tenha uma Unidade Pediátrica especializada em queimados. 10) Pacientes queimados que tenham alterações psiquiátricas; emocionais e problemas para sua reabilitação. Os pacientes que estejam em ambos extremos da vida têm maior risco ante uma lesão por queimadura. O Grupo Interdisciplinar treinado para o tratamento de pacientes queimados (cirurgiões, clínicos, enfermeiras, psicólogos, nutricionistas e kinesiólogos), têm maiores resultados no tratamento dos pacientes, obtendo um menor tempo de 38 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ internação, menores seqüelas estéticas e funcionais, com uma reinserção social mais rápida. Estabilização e preparação para a transferência Uma vez tomada a decisão de transferir o paciente, é essencial que o mesmo esteja clinicamente estabilizado. Os principais já foram descritos em outros capítulos, mas vale a pena recordar: 9 Estabilização respiratória: manter permeável as vias aéreas superiores. Avaliar a lesão por inalação. Administrar oxigênio umidificado a 100% caso haja suspeita de uma intoxicação por monóxido de carbono (CO). 9 Estabilização Hemodinâmica: colocar uma via venosa em uma zona não queimada. Aplicar a fórmula com Ringer-Lactato. Colocar uma sonda de Foley. Medir a diurese, fazendo com que sejam obtidos valores de 50 a 100 ml por hora. 9 Estabilização Gastrointestinal: não administrar alimentação antes nem durante a transferência. Caso a queimadura seja superior a 20% da superfície corporal, deve-se colocar uma sonda nasogástrica. 9 Estabilização da Queimadura: lavagem com água e sabão. Cobrir com compressas estéreis. Não colocar tópicos bactericidas. Cobrir o paciente para evitar a hipotermia. 9 Estabilização da Dor: a administração de morfina é realizada unicamente por via intravenosa. 9 Imunização Antitetânica: deve-se aplicar assim que se consiga a estabilização hemodinâmica. (Soro e vacina). 9 Documentação: recomenda-se enviar o paciente com o seguinte modelo de planilha, para simplificar a coleta de dados. (Ver página 38). Além disso, denúncia policial. O paciente deve ser acompanhado por um familiar adulto em seu traslado. Processo de transferência O contato médico-médico é essencial por via telefônica; o médico encaminhador informará sobre os antecedentes, estado atual e os resultados dos primeiros exames laboratoriais. Desta forma o médico receptor terá uma idéia do estado do paciente, para decidir sua internação segundo o grupo de gravidade. Segue um exemplo de planilha para transferência: 39 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ PLANILHA DE TRANSFERÊNCIA Data ___/___/___ Hora___ ___ Médico encaminhador: _____________________________________Telefone: ______________ Nome do paciente: _______________________________________________________________ Idade:_____ Sexo:_________ Altura:__________Peso:________ Data e hora do acidente:_____________ Etiologia:________________________________ Zonas comprometidas:___________________________________________________________ Lesões concomitantes:_________________________________________________________ Alergias:_____________________________ Medicação:_______________________________ Medicação prévia ao acidente: ___________________________________________________ Antecedentes patológicos: ________________________________________________________ Tétanos: _______________ Analgésicos: ____________________________ (Via/Dose/Horário) Lesão por inalação: SIM NÃO Entubação: SIM NÃO O2 _______________________ Lesão que circunde membro: SIM NÃO Onde:___________________Pulso distal: SIM NÃO Escarotomias: SIM NÃO Onde: ________________________Pulso post: SIM NÂO Via venosa N° 1: __________________________ Gotas x´ ____ Total desde a____________ Via venosa N° 2: __________________________ Gotas x´ ____ Queimadura___________ ml Diurese (Foley) desde a lesão: ______________________________ ml Rx Tórax: _______________________________________________________________________ Outros Rx: ______________________________________________________________________ Estado na saída: Pulso: _________________ x minuto F. Resp.: ______________ x minuto P. Arterial: _____________ Max. _______________ Min. Resultados de Laboratório: _______________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Modo de transporte: Ambulância: Avião: Helicóptero: Assinatura e rubrica do Médico encaminhador: _______________________________________ Este documento informa sobre o paciente à Unidade de Queimados 40 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ BIBLIOGRAFIA. Sheridan R, Weber J, Prelack K, Petras L, Lydon M, Tompkins R. Early burn center transfer shortens the length of hospitalization and reduces complications in children with serious burn injuries. J Burn Care Rehabil 1999 Sep–Oct. 2000;20:347–50. (Demonstrates that delay in transfer of seriously burned patients compromises outcome, increases length of hospitalization and increases costs.) Vestrup JA. Interinstitutional transfers to a trauma center. American Journal of Surgery. 1990;159:462–5. (Reviews protocols for transfer of seriously injured patients.) Young JS, Bassam D, Cephas GA, Brady WJ, Butler K, Pomphrey M. Interhospital versus direct scene transfer of major trauma patients in a rural trauma system. American Surgeon. 1998;64:88– 91. (Reviews indications for transfer of seriously injured patients directly to specialty centers.) 41 Curso Nacional de Normatização de Atendimento ao Queimado CNNAQ APÊNDICE I Lesões por radiação Os órgãos e tecidos submetidos à irradiação alteram seu DNA celular. As células podem ser: stem cells (células imaturas), células em diferenciação e células maduras. As células maduras são as que menos sofrem lesões; ao contrário, as células imaturas, que possuem grande atividade mitótica, são as mais vulneráveis ao desenvolvimento de uma lesão em seu aparelho de replicação celular. Biologicamente a incapacidade de reprodução faz com que uma célula ou tipo celular termine por extingüir-se. Logicamente aquelas células maduras em órgãos que requerem freqüentes mudanças, são aquelas que apresentam manifestações clínicas mais precoces. As células sangüíneas e aquelas
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