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de "eu" (Nous n'estpas lepluriel de Je).9 Haveria um caminho suave levando de muitos "eus" ao coletivo "nós" somente se se pudesse colocar todos os "eus" como de modo geral idênticos, pelo menos com respeito a um atributo que atribui as unidades como membros de um só conjunto (como "nós, os de ca- belo louro", ou "nós, os graduados da Universidade X", "nós, os que apoiamos tal partido") — e por isso, de novo quanto a isso, inter- cambiáveis; "nós" torna-se um plural de "eu^somente às aastas_de\l encobrir a multí3imeniiõnSlí3£Sle dos "eus". "Nós" constitui então)] umaTsoma, um resultado de contar, um agregado de cifnisTFrrãõTrm todó^õfgânicõTEssê^não é, porém, o caso dpj"pjjrtido moral". Se_ajdéia. de totalidade supra-individual pode-se afinal aplicar ao mundo da moralidade, elãsó~se pode referiria um todo ligado junto, e conti- nuamente tíg£EÜü^Tmtõ7"fÕrãrdãi ordens que são dadas e recebidas e seguiõTas péTõsTèüs qu^lào"sujeitbs-morais precisamente porque ca- da um deles é insubstituível, e porque suas relações sâò cas. Atitude antes das relações; unilateralidade, não'reciprocidade; uma reTaçáo que_não_jjode ser revertida: essgsjsão ps traços in- dispensáveis e definidorej3J£im2gj3gjj.ç^ Face, 10 que é aíirmado^ãlíssimetria; no começo não importâ^qüêm sejãTõ l Outro ènTrelação a mim — este é negócioJlele".1";,Pode-se ler essa sentença de Lévinas como definição da Face: a Face é encontrada se, e somente se, minha relação para com o Outro é programaticamente nãó"-simefrica; isto é_,, ngg^dependente da reciprocidade passada, pre- sente, antecipada ou esperada do Outrp. E a moralidade é o encon-f tro com o Outro comoJFace._Aposição morarproduz relacíonamentõt essencialmente desigual; essa^es^uMdatleT^lã^equiclãxie,i essa~re-; 9 'The ego and the totality" (Lê mói et Ia totalité), em Emmanuel Lévinas, Collected philosophical papers, Martinus Nijhoff, 1987, p. 43. (Entre nous: Essais sur lê penser-à-l'autre, Grasset, Paris, p. 49). 10 Emmanuel Lévinas, "Philosophie, justice et amour", em Entre nous, pp. 122-123. 59 O 'ciprocidade não pedida, esse-desinteresse em mutualidade^ssa in- diferençã^pelo "equilíbrio"jie^ganhos ou recompensasj-_em breve, esse caráterjião-bjJanceadLQ_e por isso nãõ-reversíverdp relacio-j versus o Outro" é^o-que torna o encontro^ evento! 1 Lévinas^tira uma_conclusão^ muito radical da sòlugãn_dp JCgnt para osjnistél^d^l<^oral dentro de mim", mas só tal radicalis- mo^põde^fazeTjüstip^à concepção de"KãntTalnõrãIiaade como pos- tura só guiada pelo interesse pelo Outro por causa do Outro, e o respeito pelo Outro como sujeito livre e "fim em si mesmo". Outras versões mais brandas da teoria ética pós-kantianas dificilmente po- dem ir de encontro à enormidade da exigência moral que a concep- ção de Kant requer. Para Martin Buber, por exemplo, o que coloca o relacionamento Eu-Tu_à,Rarle do Eu-"coisa \ _ que o Outro nã^aB§recê^Qmjo..sujeito moral) é desde o ínícioocará- terjiialógico do encontro, ou a an^e^a^ojd^^dtótogõ^u^Tu tem =±!ÍrHÍHa de^ajocuçã^e^esposta",11' estrutura de contínua conversação, em cujo decorrer os participantes mudam incessante- men€gJls PaPéis. dirigindo-se cada um ao outro e respondendo um ao out ^£^L?OI^sia- É ^ Lsimetfiade atitudes e responsabilidades quê dá as relações seu caráter início^como^ostulado ou expectação categórica; sejuJetratoçoniQ_ tu antes que çomcicoisa,_é precisamente_porciuaeu estipulei (espero, trabalho para) ser também tratado por ti como teu Tu/12 QMitsein de e O u ^ ^ Eu estou ' - eue o Uma vez que é somente ajiomunalidade do predicamento ontológico que nos "une", não é de, admirar que crífícõlTacusassem Heidegger " e j^-substan^iajidjid^jdj^ualqu^rética que possa derivar-se des- se estar-juntosempobrecido e sem conteúdo, um estar-junto£HrêÉ^ da ^£^jajgi-estar'Juntos 9HgJájiãQ-enyolye engajamento e com- prometimento morais^e conTuma irreparável neutralidade ética (e lULdejindife-^ , - rençã) quejnevitayelmente segue. a fundamentaçãodo estar-juntos normtsein. "Miteinanderséin", comenta causticamene Lévinas, Comp. Emmanuel Lévinas, "Philosophie, justice et amour", p. 122. 60 I ser-com-o-outro. não passa de um momento de nossa presença no mundo. Nãoocupa lugar central. Mit significa estar ao lado de... é não se confrontar com aFace, é zusammensein, talvez zusammenmarschieren.13 "Ser com" é simétrico. O que é espalhafatosamente não-simé-» tricô, "ô que faz os participantes'náo-iguais," d quê privilegia miriHá posição por emancipá-la de'sua dependência dê qualquer posicio- namento que o Outro pode tomar, éj) ser para- "être pour 1'autre" -, o modo de ser que previne não só a solidão (que o Mitsein também eliminou j. mas tambejnlãmgil^ obser^, vá LévinasTjãõlormas dejigientes de ser para outro,_ej3L§sim elas obhquamente o confirmam, da mesma forma que indolência e desein-, preggrsendo formãi3eficie.nt.esjdejexistência baseada no trabalho, confirmam o significado dpJrabalho4^-Eu sou para o Outro, quejr^o Outro seja para mim ou não; o seu ser problema-dele; e se elámò ele^ íratâ""éste problema não afeta mini- mamente ~ò meu ser para Ele (da jnesma forma que p meu ser para o Outro inclui respeito pela autonomia do Outro, que por sua vez in- clui meu-consentimento de não chantagear o Outro, para ser-para- mimrneni interfere de qualquer, outra maneira com, a, liberdade do \ Outrp)T,O que quer que possa conter a mais o "eu para ti", não con- tém uma exigência de re-pagamento, espelhado ou "contrabalança- ' do" no "tü-para-mim". Minha relação ao Outrojião é reversível; se , , acontece ser respondida na reciprocidade nãp^passa.de acidente do ponto de visto do meu ser-para. O "nós" que está por um "partido moral" não é, portanto, plural termo que conota uma estrutura complexa que liga juntas unidades de posição nitidamente desjgujlêJ^lum relaciona-^ mefftõlnoral, eu e orputroliãõsão intercambiáveis, e assim não se podem "acrescentar" para formar um plural "nós". Num relaciona- 13 Emmanuel Lévinas, "Philosophie, justice et amour", p. 135. Note-se a afinidade surpre- endente entre a visão de Heidegger do Miteinanderséin e o tema freqüente em Kafka dos pares admiráveis se bem que misteriosamente coordenados, visíveis se bem que incompreensí- veis - um tema ao qual ele retorna obsessivamente em inúmeras formas: os dois assistentes de K., dois ajudantes de Blumfeld, duas meninas que dançam mas dormentes, e finalmente, como se fosse asumma da série, duas bolas de celulóide de movimentos firmemente coordena- dos ... O que esses pares têm em comum é que são vistos desde fora como aparentemente movendo em uníssono, mas não se explicam audivelmente seus movimentos; a correlação entre movimentos é tudo o que um observador desinteressado, um observador universal e um observador descomprometido pode descobrir neles. Os ajudantes de Blumfeld só falam entre si quando observados por Blumfeld do outro lado da vidraça da janela que abafa todo som ... 14 Emmanuel Lévinas, "Mourir pour ...", em Entre nous, p. 225. 61 mento moral, todos os_jdeveres" e "regras" jue se possam conceber são dirigidos só a mim, obriga só a ínim, constitui-me a mim e só a mTm corno uinJ^e^TjQuãHdo dirigídãTTrmim, a responsabilidadíTir mõrãir^Iã~ipode perder seü^ünteúito~moral^lTO^etlím~énTe no mõ- mento qjie^eu^tento. vira3â_párãIõBrigãr^õ^Outr.Oj. Como Alsdair Maclntyre o expressou incisivamente: "O homem pode recusar-se por motivos morais ajegjslar_para^ualquer puü-ertLquejiãq^ejajle próprio"?5 Um herói moral, como o Capitão Oates, é alguém que faz mais do que as exi- gências do dever. No universalizável sentido do "deve" não faz, portanto, sen- tido afirmar que o Capitão Oates fez o que devia ter feito. Dizer de um homem que fez o seu dever ao realizar obra superrogatória é contradizer-se a si mes- mo. Todavia, um homem pode impor-se a tarefa de realizar uma obra super- rogatória e entregar-se