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em bolas com o auxílio da colher de pau). OMOLUCU, comida de Oxum, corresponde ao prosaico feijão-de-azeite: feijão-fradinho, camarão seco, sal e azeite de dendê. ADOBRÓ, palavra que, comumente, significa um mungunzá de cortar feito sem açúcar, em candomblé tem outro sentido. Diz-se do ato de alguém colocar várias iguarias de vez no prato que vai comer. FARÓFIA DE AZEITE tem vários aproveitamentos e é preparada com um pouco de sal, ficando na frigideira até torrar a farinha. O ADO é feito do fubá de milho torrado sem abrir pipoca misturado ao azeite de dendê ou mel de abelha. É comida de Oxum. Na zona interiorana, fora da influência do candomblé, usa-se misturado ao mel de abelha como merenda. Além destas comidas, vamos encontrar outras de candomblé que não têm repercussão exterior. ERAM PATÉRE, comida de Oxum, feita com a chamada carne de gamela (cabeça de vaca – faceira e bochechinha), bofe, coração, fígado, tudo cortado miúdo, cozido em pouca água com cebola, sal e camarão. Depois de tudo cozido é frito no azeite de dendê. Um outro ERAM PATÉRE feito com a carne de boi passada no sal e frita no azeite de dendê é contestado por algumas cozinheiras de candomblé. BADOFE é uma comida que muitos negam ser de candomblé, embora apareça em alguns. Com a carne da cabeça de boi aferventada, depois de ter ficado em vinha-d’alhos, faz-se um recheado (refogado) em que a carne pisada doura em azeite de dendê, camarão seco, cebola, gengibre, bejerecum e lelecum (as duas últimas são favas de origem africana). Depois ajunta-se “língua-de-vaca” escaldada e escorrida. Em meio cozimento põe-se quiabos cortados como para caruru e deixa-se engrossar. Come-se com arroz de haussá ou Angu de farinha de guerra ou de milho. As velhas cozinheiras são de opinião que este badofe talvez tenha dado origem ao Angu da Baiana, numa variação muito difundida no sul do país e completamente desconhecida na Bahia pelos baianos. EBÓ ou EBÔ (a pronúncia varia) é feito com feijão-fradinho, torrado ou não, posto a cozinhar com milho. Depois de cozido põe-se sal e azeite de dendê. Há também o Ebô de Oxalá de milho branco sem sal e o Ebô de Iemanjá de milho branco temperado com cebola, camarão e azeite de dendê. O BOBÓ DE CHEIRO, que no candomblé se dá a Cosme e Damião, nem mesmo nos chamados “Carurus de Cosme” é comido. É um recheado (refogado) de feijão-fradinho ou mulatinho e milho vermelho bem cozidos e temperados com sal, camarão seco e azeite de dendê. ECURU, dedicado a Loko, é preparado com a massa de acarajé enrolada em pequenas porções na folha de bananeira e cozida em vapor de água. Depois de cozido, deixa-se esfriar, amassa-se até ficar como farófia, temperando-se então com cebola, sal e azeite de dendê. MUMUM é dedicado a Iemanjá – milho branco cozido com feijão- fradinho, cebola, sal e azeite de dendê como num recheado (refogado). Oxum tem uma FRIGIDEIRA feita com camarões secos ou frescos, temperada com camarão seco triturado, cebola e sal, recobertos com ovos inteiros que cozinham, ou melhor, que frigem no azeite de dendê. OLUBÓ é o nome que se dá a um pirão feito com a raiz de inhame seca ao sol, pisada e misturada à água fervente. Alguns usam a raiz da mandioca. DOBORÓ é feito com milho pilado (chamado mungunzá), cebola, camarão seco, azeite de dendê e sal. Comida de Omolu. Bebidas A bebida de candomblé mais conhecida é o ARUÁ ou ALUÁ, resultante da fermentação da rapadura com um punhado de milho de galinha em água fria. Depois de bem fermentada, coa-se e mistura-se com gengibre ralado. FURÁ é feito de arroz cozido sem sal até ficar com o ponto apertado. Leva gengibre ralado e é apresentado em bolas. Depois de frio é desmanchado na água e adoçado segundo o gosto de cada qual. Em alguns candomblés o açúcar é pisado junto com o gengibre. DENGUÉ nada mais é que o popularíssimo mingau de milho. Em algumas casas dão o nome de dengué ao milho branco cozido sem sal misturado ao açúcar. Em linhas gerais é o que se pode informar da COZINHA BAIANA, profana e sagrada, que atravessa uma fase de transição acentuada, reflexo da evolução cultural do ambiente em que se desenvolve.6 6 Nota: Texto especialmente escrito para Antologia da alimentação no Brasil, na cidade do Salvador, fevereiro de 1963. Hildegardes Vianna, de tradicional família baiana, emérita pesquisadora da cultura popular de sua terra, é autora de excelente documentário sobre a culinária local, e este seu ensaio é uma informação digna do maior merecimento. 6 – Cozinha do extremo Norte – Pará-Amazonas BRUNO DE MENEZES (1893-1963) PRATOS DE CARNES (CAÇA E PESCA) E SEUS PREPAROS APEREMA – Espécie de cágado amazônico da família dos Testudíneos (Bras.) – (Geomyda punctularia, Spix). Processo para matá-lo: Imersão em água fervente até o casco ficar fendido nas ilhargas, por onde é aberto, após esfriar, retirando-se as carnes já cozidas, que são aproveitadas refogadas, antes passadas no sal e limão. O prato usual faz-se com farofa de farinha-d’água ou farinha seca torradas, com alguma gordura, manteiga ou azeite, com a qual serve-se o prato da carne, temperada com cebola picada, alho, cheiro-verde e pimenta. Os ovos também são utilizados, cozidos, misturados com sal, retirando-se a parte da clara. TEMPEROS: Para refogar, alho socado ou amassado, cebola e cominho, tomate, salsa, cheiro-verde, com fervura em azeite ou gordura. JABUTI – Espécie de quelônio, com diferentes nomes indígenas (Bras.) – (Testudo tabulata, Spix) (Fem.: jabota). Proc. para matá-lo: Idêntico ao do aperema, um tanto mais demorado na fervura; pode-se também cortar a cabeça, e, abrindo o casco pelo peito, seccionando as ilhargas, retirar as carnes juntamente com as vísceras; usam assá-lo, pondo-o vivo num braseiro, à moda indígena, até o casco se abrir; retiram-se as carnes, para juntar a um molho de sal, limão e pimenta, que são comidas com farofa. O prato mais simples é o guisado ou ensopado, adicionando-se leite de coco, ou da castanha-do-pará (Bertholletia excelsa H B K), que lhe dá um sabor altamente apreciado. Há o preparo do fígado, temperado à parte, ou assado de espeto, como excelente iguaria. TEMPEROS: Para refogar as carnes do jabuti, ou jaboti (aliás têm mais preferências as fêmeas), os mesmos usados para o aperema, incluindo-se farofa, quando não guisado nem ensopado, com molho de sal, pimenta e limão. MUÇUÃ – (Bras. Amazônia) – Pequeno quelônio (Cinosternon scorpioides), de carne saborosa. Proc. para matá-lo: Imersão em água fervente até o casco levantar as escamas, fendendo pelos lados, por onde é aberto, após esfriar, estando as carnes já cozidas, quando são separadas de algumas vísceras. As carnes aproveitam-se refogadas, acompanhadas de farofa, no próprio casco, depois de limpo, interna e externamente. É o que se chama, na culinária local (Pará), tradicionalmente, a comida “casquinho de muçuã”, apreciado nas festas familiares e mesmo populares, de arraial. TEMPEROS: Para refogados, os mesmos do aperema e a torração da farofa, em gordura, manteiga e cebola picada. TARTARUGA – (Bras. Amazônia) – Nome genérico de quelônios aquáticos, répteis anfíbios, marinhos (Chelonia mydas). Proc. de pescá-la: Arpoando-a ou empregando anzol resistente, iscado com carnes, que a tartaruga engole e assim é puxada para terra; quando nas praias, ao saírem da água, para a postura, virá-las de peito para cima e deixá- las nesta posição. Para matá-la, decepa-se a cabeça, introduzindo um arame ou tala fina, pela coluna vertebral, aproveitando-se todo o sangue em vasilha com vinagre. Em seguida, corta-se o casco pelos lados, no peito, para retirar os quartos dianteiros e traseiros e as carnes aderidas ao casco. Dos pratos feitos com a tartaruga, sobressaem o guisado com batatas, ou ensopado; o sarapatel e o sarrabulho, que são a reunião do sangue, das vísceras e das partes cartilaginosas. O filé inteiro, de carnes