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A Escassez de Educação Introdução a Economia Módulo III – Unidade VII- Aula 21 Rafael Terra (UnB) 1 Referências • Texto “A Escassez de Educação” de Sérgio Guimarães Ferreira e Fernando A. Veloso. • Dados mais atualizados de outras fontes. 2 Aula de hoje • 1) Indicadores educacionais no Brasil: comparação com a evidência internacional • 2)Desigualdade de renda • 3)Educação e desigualdade de renda • 4) Desigualdade educacional e o elevado prêmio à escolaridade 3 Aula de hoje • 5)Mobilidade educacional e desigualdade de oportunidades • 6)Educação e crescimento econômico • 7) Política educacional: justificativas para intervenção e implementação 4 Indicadores educacionais no Brasil • Há uma infinidade de indicadores educacionais importantes. – Taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 ou mais anos de idade. – Percentual de pessoas que cursaram cada etapa de ensino. 5 Indicadores educacionais no Brasil – Média de anos de escolaridade. – Taxa de atendimento. – Taxa de conclusão. – Atraso Escolar – Qualidade da Educação medida por exames padronizados. 6 A escolaridade no Brasil e outros países 7 País Sem Escolaridade Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Anos de Escolaridade Argentina 2,4 40,4 45,0 12,2 9,3 Brazil 10,1 37,9 44,4 7,4 7,5 Chile 3,2 22,0 47,9 26,9 10,2 Colombia 5,0 42,0 44,4 8,5 7,7 France 1,3 14,7 63,7 20,3 10,5 Italy 5,5 18,3 65,9 10,2 9,5 Japan 0,1 16,8 45,7 37,3 11,6 Mexico 6,0 25,6 51,7 16,7 9,1 Portugal 10,1 44,5 34,5 10,8 8,0 Republic of Korea 3,6 9,4 46,8 40,1 11,8 South Africa 9,3 18,9 65,2 6,5 8,6 Spain 1,5 23,3 51,1 24,1 10,4 Uruguay 0,9 42,0 48,8 8,3 8,6 Fonte: Barro e Lee (2010) A escolaridade no Brasil e outros países • Em 2007, a taxa de analfabetismo em alguns países latinos: – 2,1% no Uruguai, – 4,8% na Venezuela – 7,2% no México – Em 2008, a taxa era 1,4% no Chile. – Em 2010 essa taxa era de 2,2% na Argentina. 8 A escolaridade no Brasil e outros países • A maior parte da força de trabalho no Brasil tem apenas o Ensino Fundamental completo (37,9% em 2010). • Aqueles que têm Ensino Médio somam 44,4%. • Apenas 7,5% têm Ensino superior. • Chile, Colômbia, México, África do Sul e Uruguai têm média de anos de escolaridade maior entre pessoas com mais de 15 anos. 9 Evolução da taxa de analfabetismo 10 Evolução da escolaridade no Brasil e em outros países 11 Evolução da escolaridade no Brasil 12 ano Sem Escolarid ade Ensino Fundame ntal Ensino Médio Ensino Superior Anos de Escolarid ade 1960 51,80 39,10 7,90 1,20 2,05 1970 37,80 47,10 13,30 1,70 2,81 1980 27,40 59,00 9,30 4,30 2,77 1990 22,30 57,20 15,30 5,20 4,46 2000 16,00 44,00 33,50 6,40 6,41 2010 10,10 37,90 44,40 7,40 7,54 Fonte: Barro e Lee (2010) Brasil Evolução da escolaridade no Brasil • Na década de 50 a escolaridade média no Brasil era inferior a 2 anos. • Entre 1960 e 1980, a escolaridade se manteve relativamente inalterada. • A partir da década de 80 a escolaridade média cresce em ritmo mais acelerado. • A diferença entre Chile e Brasil ainda é de quase 3 anos de escolaridade. 13 Evolução da escolaridade no Brasil • O percentual de pessoas com mais de 15 anos sem escolaridade caiu fortemente entre 1960 e 2010. • O percentual de pessoas com algum ano cursado no Ensino Fundamental cresceu até 1990 e depois começou a cair, pois as pessoas passaram a buscar níveis maiores de escolarização. 14 Evolução da escolaridade no Brasil • O percentual de pessoas com alguma série cursada no Ensino Médio cresceu constantemente no período. • O percentual de pessoas com alguma série cursada no Ensino Superior apresentou crescimento contínuo, mas ainda é uma proporção pouco expressiva. 15 Evolução da escolaridade no Brasil • A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabeleceu a obrigatoriedade do Ensino Fundamental. • Até o final da década de 90, o atendimento de crianças entre 7 e 14 anos estava quase universalizado. • O Ensino Médio ainda não é obrigatório, mas já foi aprovado Projeto de Emenda Constitucional (PEC 96A/03) que dispõe que a partir de 2016 este deverá ser obrigatório. 16 Taxa de Atendimento no Brasil 17 Taxa de Atendimento no Brasil • Como se pode notar o percentual de jovens entre 4 e 17 anos frequentando a escola (taxa de atendimento) chegou a 91,5%. • No Brasil, recentemente, a organização não governamental “Todos Pela Educação”, estipulou metas educacionais até 2022. • Nenhuma das regiões atingiu suas metas. 18 Número de jovens fora da escola • O número de jovens entre 4 e 17 anos fora da escola ainda é muito alto, chegando a 3.583.317. • Esse número é inflado pelas crianças entre 4 e 5 anos sem acesso a Educação Infantil e pelos jovens entre 15 e 17 anos, faixas etárias em que os jovens não eram obrigados a serem matriculados na escola até recentemente. 19 Número de jovens fora da escola 20 Taxa de atendimento e número de jovens fora da escola por faixa etária 21 Atraso Escolar • O atraso escolar é um problema no Brasil. • Aos 16 anos, somente 63,4% concluíram o Ensino Fundamental (estavam atrasados ou largaram a escola). • Aos 19 anos, somente 50,2% concluíram o Ensino Médio (estavam atrasados ou largaram a escola). 22 Atraso Escolar: Taxa de conclusão do Ensino Fundamental aos 16 anos e do Ensino Médio aos 19 anos 23 Atraso Escolar: Taxa de distorção idade-série (anos iniciais do EF) 24 Qualidade da Educação • Apesar de termos visto avanços em termos de atendimento e aumento da escolaridade média, a qualidade da educação ainda é um grande problema no Brasil. • Ainda que a qualidade da educação tenha aumentado nos últimos anos, ainda há um grande caminho a percorrer. 25 26 Desempenho escolar dos alunos do 4º ano do Ensino Fundamental na Prova ABC Desempenho escolar do 5º ano do EF no SAEB (exame padronizado) 27 Desempenho escolar do 9º ano do EF no SAEB (exame padronizado) 28 Desempenho escolar do 11º ano do EM no SAEB (exame padronizado) 29 Desigualdade de Renda no Brasil e outros países • Uma medida popular para medir desigualdade é a razão entre o salário/hora entre trabalhadores localizados no 90º e no 10º percentis da distribuição de salários. 30 Desigualdade de Renda no Brasil e outros países 31 Ano/País Brasil USA UK Suécia França Alemanha Itália Japão 1970 10,5 3,2 2,5 2,1 3,4 - 2,3 2,6 1984 10,5 3,7 2,8 2,0 3,3 2,4 2,3 2,8 1989 13,3 3,7 2,8 2,0 3,3 2,4 2,3 2,8 1994 10 4,3 3,2 2,2 3,4 2,3 2,8 2,8 Razão entre o salário do 90o e do 10o. Percentis de renda Desigualdade de Renda no Brasil e outros países • No Brasil a diferença salarial entre os mais ricos (90º percentil) e os mais pobres (10º percentil) era de cerca de 10 vezes em 1994. • Nos países da OCDE selecionados a maior diferença observada foi nos EUA em 1994, ano em que a razão chegou a 4,3. 32 Desigualdade de Renda no Brasil e outros países • Essa desigualdade tem diminuído no Brasil desde meados da década de 90. • Tomando a razão entre a renda domiciliar média dos 10% mais ricos e dos 40% mais pobres podemos observar essa queda melhor. • A participação na renda do 1% mais rico, e o índice de Gini refletem também essa queda na desigualdade.33 Desigualdade de Renda no Brasil e outros países 34 Desigualdade de Renda no Brasil e outros países 35 A importância da Educação para a Desigualdade de Renda • A que se deve tamanha desigualdade de renda? – Principalmente fatores relacionados à Educação. 36 A importância da Educação para a Desigualdade de Renda • Estudos mostram que diferenças educacionais explicam entre 30% e 50% da desigualdade salarial no Brasil. • Para Lam e Levinson, os diferenciais educacionais explicam entre 34% e 48% da desigualdade salarial, enquanto nos EUA explicam entre 3% e 16%. 37 A Desigualdade Educacional e o Elevado Prêmio à Escolaridade • Por que no Brasil a educação explica uma parte maior da desigualdade de renda? – Porque no Brasil a desigualdade educacional é mais elevada. – Por que o retorno a 1 ano adicional de educação é maior. • Para Bourguinon se o Brasil tivesse a mesma distribuição de educação e mesma taxa de retorno à escolarização, a diferença de desigualdade com os EUA cairia em 2/3. 38 A Desigualdade Educacional e o Elevado Prêmio à Escolaridade • No ranking preparado por Ram (1990), o Brasil tem a 3ª pior desigualdade educacional. • Além disso, a escolaridade média é muito baixa. • Portanto, qualificação formal por Educação no Brasil é um fator escasso. • Por isso o prêmio à um ano adicional de escolaridade é muito alto. 39 Mobilidade Educacional e Desigualdade de Oportunidades • A educação esperada para uma criança ao nascer, é determinada em grande medida, pela escolaridade de seus pais. • Pais mais escolarizados, valorizam mais a educação, conseguem auxiliar mais seus filhos durante a vida escolar, e portanto, produzem filhos com maior escolaridade. 40 Mobilidade Educacional e Desigualdade de Oportunidades • Ferreira e Veloso (2003) estimam que a probabilidade de um pai analfabeto criar um filho analfabeto é de 31,9%. • A probabilidade do filho de pai analfabeto ter até 2 anos de escolaridade é de 50%. 41 Mobilidade Educacional e Desigualdade de Oportunidades • A probabilidade do filho de pai analfabeto terminar o Ensino Superior é de 0,6%. • Já a probabilidade de um filho de pai com Ensino Superior concluir esse nível é de 60%. • Há portanto, um grau elevado de persistência intergeracional da Educação. Ou seja, há pouca “mobilidade social”. 42 Mobilidade Educacional e Desigualdade de Oportunidades • Crianças pobres já partem de uma situação desvantajosa. – Não podem contar com suas famílias para auxiliá-los nos estudos. – Muitas vezes têm que trabalhar. • Diz-se que há forte “desigualdade de oportunidades” entre crianças de famílias ricas e pobres. 43 Mobilidade Educacional e Desigualdade de Oportunidades • Conforme a escolaridade média aumenta, por meio de políticas públicas de incentivo à escolarização, essa persistência intergeracional tende a diminuir. 44 Mobilidade Educacional e Desigualdade de Oportunidades • No Brasil, com o aumento da escolaridade média, o retorno à Educação tem diminuído bastante, assim como a desigualdade educacional. • Por isso, verificamos uma queda na desigualdade de renda. 45 Educação e Crescimento Econômico • Pelo modelo de Robert Solow (prêmio Nobel) a educação (capital humano) eleva a produtividade no longo prazo. • A acumulação de capital humano estimula a acumulação de capital físico ao elevar sua rentabilidade (pessoas mais qualificadas utilizam o capital com maior destreza e aumentam o produto por unidade de capital). 46 Educação e Crescimento Econômico • Educação produz externalidades positivas. • A educação eleva a produtividade de um trabalhador e daqueles ao seu redor. • A educação facilita a absorção de novas tecnologias. • Com isso, a Educação pode afetar o crescimento de longo prazo da economia. 47 Educação e Crescimento Econômico • O aumento “quantitativo” (anos de estudo) da escolarização média da população pode não ser suficiente para aumentar a produtividade e o crescimento de longo prazo. • Essa expansão “quantitativa” deve ser acompanhada de uma expansão “qualitativa”, i.e. de aumento no desenvolvimento cognitivo (aprendizado) e não cognitivo (aquisição de competências). 48 Evidências para o Brasil • Estudo do Banco Mundial mostra que o crescimento do PIB per capita no Brasil podem ser explicados em grande parte pelo crescimento no capital humano. • Os efeitos do capital humano foram maiores do que aqueles atribuídos ao acúmulo de capital físico. 49 Evidências para o Brasil • Como o capital humano tem retornos marginais decrescentes, e o Brasil tem pouco capital humano, é de se esperar que pequenos acréscimos ao capital humano produzam grandes efeitos em termos de crescimento do PIB per capita. 50 Política Educacional: Justificativas para intervenção e implementação pelo Governo • Uma justificativa para intervenção do Governo na provisão de Educação é que há “falhas de mercado”. • O mercado não é capaz de garantir uma provisão de educação socialmente desejável. 51 Política Educacional: Justificativas para intervenção e implementação pelo Governo • As pessoas que demandam educação e o mercado que a provê não consideram as “externalidades positivas da educação”. – Indivíduos educados cometem menos crimes. – Indivíduos educados têm maior participação política. – Indivíduos educados quando interagem com os demais trocam conhecimentos e aumentam a produtividade. 52 Política Educacional: Justificativas para intervenção e implementação pelo Governo • Por isso o nível de educação das pessoas tende a ser menor do que o socialmente ótimo quando o Governo não interfere. 53 Política Educacional: Justificativas para intervenção e implementação pelo Governo • O mercado de crédito educacional não funciona adequadamente por falta de “colateral” (garantia) em contrapartida a empréstimos tomados pelos alunos. • Por isso, mesmo que as pessoas queiram investir em educação, muitas não terão oportunidades para fazê-lo. 54 Política Educacional: Justificativas para intervenção e implementação pelo Governo • Para quebrar o círculo vicioso “pai pouco educado-filho pouco educado”, somente uma intervenção externa. • Todos esses fatores justificam a intervenção do Governo na provisão de Educação. • Diz-se que Educação é um “Bem Meritório”, pois tem valor social. 55 Política Educacional: Implementação e incentivos corretos • Qualquer política pública eficaz deve fornecer os incentivos corretos. Ou os resultados serão negativos. 56 Política Educacional: Implementação e incentivos corretos • Por exemplo, para estimular o aumento da escolaridade, deve-se diminuir os custos aos alunos mais pobres: – Provendo escolas públicas, – Provendo subsídios ao transporte, – Provendo bolsas de estudo. – Provendo crédito educacional subsidiado. – Fornecendo uma renda mínima, e.g.Bolsa Família, com condicionalidade de frequência à escola. 57 Política Educacional: Implementação e incentivos corretos • A qualidade da Educação aumenta o retorno à educação e incentiva a permanência do aluno na escola. • Para aumentar a qualidade, pode-se: – investir em capacitação de professores, – Pagar por performance do professor, – Garantir autonomia de escolas quanto a gestão do orçamento e definição curricular. 58 Política Educacional: Implementação e incentivos corretos– Implementar avaliações de desempenho. – Estimular a responsabilização dos gestores públicos pelos resultados educacionais (accountability). 59 Política Educacional: Implementação e incentivos corretos • No Brasil, programas sociais costumam estar mais preocupados com questões de focalização (elegibilidade aos programas, por exemplo, se é pobre, se tem deficiência física, se está grávida, etc) do que com a questão dos incentivos. 60 Política Educacional: Implementação e incentivos corretos • Mesmo assim, vemos grandes distorções em alguns casos, como na provisão de Educação Superior pública. • O gasto financia a educação de quem teria condições de arcar com uma educação privada. A focalização da Educação Superior como “programa social” é, portanto, péssima. • Os mais pobres nem sequer chegam a completar o Ensino Médio para tentar ingresso na Universidade. 61
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