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Rosana Ricalde e Felipe Barbosa Foto de Jens Hausherr: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fe/Panorama_from_Rio_de_Janeiro.jpg Intervenções Urbanas Realização do data show: Célia Ribeiro FELIPE BARBOSA & ROSANA RICALDE O casal de artistas fluminenses tem uma longa trajetória de ações e trabalhos de arte pública feitos em colaboração. Entre eles "Muro de sabão" (2000), que venceu o 1o. Prêmio Interferências Urbanas do Rio de Janeiro, "Exatidão" (2003), partida de damas disputada em um cruzamento nas ruas de Madri;), em que criavam um fluxo de doações de garrafas d´água a partir de uma estação de trem em Rotterdam, na Holanda; e "Trocas de cartões" (2006), realizada numa praça de Fortaleza, em que produziam e imprimiam cartões para pessoas à procura de emprego; "Jardines móviles", montada em 2007 nos jardins da Casa del Lago, na Universidad Autonoma de México, na Cidade do México. Apartir de texto de Daniela Name http://www.novoscuradores.com.br/artigo-blog/felipe-barbosa- rosana-ricalde/5/2011 Nosso trabalho no espaço urbano vem se desenvolvendo desde 2000. Iniciou com "muro de sabão", uma experiência feliz que nos deu respaldo para estabelecer essa parceria. Sempre paira a pergunta de quem foi a idéia. Para que nem em nós mesmos exista essa suspeita, procuramos desenvolver cada passo do trabalho juntos. Desde a eleição do local, onde caminhamos pela cidade levantando as possibilidades dos diversos sítios, onde discutimos as idéias sem abolir a princípio nenhuma possibilidade. Num segundo momento começamos a aparar as idéias vendo o que é realmente viável e qual o conceito das mesmas. O próximo passo é formatar a idéia com projetos, textos, cartas para pedidos de patrocínio. A partir de texto de Rosana Ricalde e Felipe Barbosa http://www.muvi.advant.com.br/artistas/f/felipe_barbosa/visibilidade.htm Muro de Sabão, 2000 Prêmio de Interferências Urbanas – Rio de Janeiro - 2000 O MURO DE SABÃO No vazio deixado por um desabamento foi construído um muro com barras do sabão Rio, onde estão calcadas a imagem do Cristo Redentor e a palavra "Rio". Ele estabeleceu um jogo de tensões e substituições entre a paisagem, o lugar e a memória: onde havia um lugar, uma casa, abriu-se uma paisagem. Onde havia uma paisagem, com um muro. Onde havia um muro, a imagem e a palavra demarcadas no sabão devolvem a paisagem da cidade como signo. Onde havia um monumento como signo - e supondo sua lógica vinculada à memória e ao lugar - , o muro interdita o acesso, e a efemeridade do sabão devolve o esquecimento. A partir de textode Marisa Flórido 2003 http://www.muvi.advant.com.br/artistas/r/rosana_ricalde/muro_de_sabao.htm Muro construído com 3500 barras de sabão Rio. A obra contou com a colaboração da artista Andréia Bernardi e o apoio da fábrica UFE Rapunzel, 2001 corda pintada e tecido em fita - CEAT - Rua Alm. Alexandrino 4098 Fotos: Andres Olero e Felipe Barbosa http://www.rosanaricalde.com Erguido no morro de Santa Teresa em 1942 por iniciativa do banqueiro Oscar Sant'Anna, que se apaixonou pelo Palazzo Vecchio em Florença. Sant'Anna fotografou todos os ângulos do Castelo italiano e quando voltou ao Brasil encomendou algo inspirado no original ao arquiteto Faro Filho. A obra durou quatro anos. Tempos depois, o Castelo foi vendido ao governo do Vaticano, que o transformou em sua Nunciatura Apostólica, espécie de Embaixada no Brasil. Tombado pelo Patrimônio Cultural da cidade do Rio de Janeiro, o prédio está preservado como área de proteção ambiental. Atualmente abriga o Centro Educacional Anísio Teixeira – CEAT. Texto a partir de: http://ceat.org.br/casteloflorentino/2pagina.htm e http://www.faperj.br/interna.phtml?obj_id=2055 Castelo da rua Almirante Alexandrino Pisando em nuvens – 2001 Prêmio de Interferências Urbanas Rio de Janeiro – 2001 Largo das Neves s/n- fotografia de Faixa de pedestre feita com rolos de algodão. 40 x 60cm. http://www.rosanaricalde.com/menuport.html e http://www.muvi.advant.com.br/artistas/r/rosana_ricalde/pisando_em_nuvens.htm Uma cama de casal semeada é inusitado e, (in)seguramente, pode significar idéias mil para além da desassociação entre forma, função e objeto. Mas também pode somente querer ser uma cama semeada e ponto, algo para o que não há razão de conceituar. Qual questão se desenha, portanto? A "cama viva" acaba incorrendo no velho enclave arte/vida, sem renunciar ao caráter de coisa detido/retido no objeto. Mudando o foco, vale dizer que o caráter mutável, "crescente", "evolutivo" permite a reinvenção permanente da obra, guardando consigo seu calor próprio e o sopro vital do projeto como algo quase indicial, seu "código genético". A partir do texto de Guilherme Bueno ttp://www.muvi.advant.com.br/textos/r/rosanaricalde/ninho.htm Vento Contentamento – Galeria do Centro de Artes UFF, Niterói - 2001 Rosana Ricalde e Felipe Barbosa Vento Contentamento - 2001 Rosana Ricalde e Felipe Barbosa Um ovo repousa sobre um monte de pedras. Como não reportar à fragilidade de sua situação aos percalços da escalada da vida? A própria diferença entre a natureza transitória e insegura contraposta à dureza final e peremptória das pedras, somada aos seus simbolismos (o ovo simbolizando a vida, a pedra, como os fósseis, o lugar da morte) enunciam o aspecto tênue e breve da existência. A sensação de vitória fugaz do ovo sobre as pedras confere monumentalidade ao trabalho, A partir de texto de Guilherme Bueno Texto: http://www.muvi.advant.com.br/textos/r/rosanaricalde/ninho.htm foto: http://www.muvi.advant.com.br/artistas/r/rosana_ricalde/ninho/b.jpgNINHO -100 x 150cm O mar, a escada e o homem, 2002 IV prêmio de Interferências Urbanas, Rio de Janeiro - 2002 Impressão em cimento com molde de madeira do poema de mesmo nome de Augusto dos Anjos, na escadaria de 180 degraus que liga a rua Oriente à rua Cardeal Sebastião Leme. Foto: http://www.muvi.advant.com.br/artistas/f/felipe_barbosa/o_mar_a_escada.htm O MAR, A ESCADA E O HOMEM Augusto dos Anjos Olha agora, mamífero inferior, À luz da epicurista ataraxia, O fracasso de tua geografia E do teu escafandro esmiuçador! Ah! Jamais saberás ser superior, Homem, a mim, conquanto ainda hoje em dia, Com a ampla hélice auxiliar com que outrora ia Voando ao vento o vastíssimo vapor. “Rasgue a água hórrida a nau árdega e singre-me!” E a verticalidade da Escada íngreme: “Homem, já transpuseste os meus degraus?!” E Augusto, o Hércules, o Homem, aos soluços, Ouvindo a Escada e o Mar, caiu de bruços No pandemônio aterrador do Caos! Fonte: ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. Anjos, Augusto dos (1884 - 1914) Biografia Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Cruz do Espírito Santo PB 1884 - Leopoldina MG 1914). Poeta e professor. Nascido no engenho Pau d'Arco, propriedade de seus pais, o advogado Alexandre Rodrigues dos Anjos e Córdula Carvalho Rodrigues dos Anjos (Sinhá Mocinha), Augusto dos Anjos é alfabetizado em casa e acompanha de perto a lenta e agônica decadência da família. Matricula-se, em 1903, na Faculdade de Direito do Recife, onde toma contato com as doutrinas do cientista alemão Ernest Haeckel (1834 - 1919), um dos expoentes do cientificismo positivista, que influenciaria profundamente sua poesia. Formado, em 1907, volta para a Cidade da Paraíba (atual João Pessoa), onde passa a dar aulas de português no Liceu Paraibano. Nessa época, publica poemas em jornais locais. Em 1910, casa-se com Esther Fialho, e, após desentender-se com o governador, muda-se para o Rio de Janeiro. Noano seguinte, seu primeiro filho morre prematuramente, o que abala ainda mais sua frágil saúde. Em 1912, financiado pelo irmão Odilon, é publicado seu único livro, Eu. É nomeado diretor de um grupo escolar em Leopoldina e, em julho de 1914, muda-se para Minas Gerais. Morre em novembro do mesmo ano, vítima de pneumonia. Em 1920, seu amigo e biógrafo Órris Soares (1884 - 1964) publica a segunda edição de Eu, com vários poemas inéditos. http://itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=5040&lst_palavras=&cd_item=35 Anjos, Augusto dos (1884 - 1914) Comentário crítico Com a publicação de Eu, em 1912, a poesia de Augusto dos Anjos tem consagração imediata. Estranho e novo: essa é a tônica da primeira recepção. Anatol Rosenfeld busca um paralelo entre sua poesia e a do expressionista alemã de Gottfried Benn, Georg Heym e Georg Trakl, Observa também o emprego do jargão clínico-científico (especialmente da biologia e da fisiologia) para traduzir, materialmente, uma visão de mundo pessimista em termos de doença e decomposição ou negra putrefação. Diz tratar-se de uma "poesia de necrotério na qual se disseca e desmonta 'a glória da criação' e lança o desafio do radicalmente feio à face do pacato burguês, desmascarando, pela deformação hedionda, a superfície harmônica e açucarada de um mundo intimamente podre. A poesia de Augusto dos Anjos não encontra paralelo no Parnasianismo nem no Simbolismo, que lhe são contemporâneos no Brasil. As matrizes filosóficas que sustentam sua visão de mundo pessimista são características do meio intelectual em que se forma: o Monismo da biologia evolucionista, o darwinismo de Herbert Spencer; a filosofia do inconsciente de Karl von Hartmann e a niilista da dor e da vontade cega e insatisfeita como fundamento da existência, de Arthur Schopenhauer , entre outros. Francisco Foot Hardman fala que da poesia de Augusto dos Anjos emana uma estética anti-tropicalista. A natureza tropical nunca inspirou seus versos. As paisagens lhe aparecem marcadas por signos da morte. A exuberância animal ou vegetal antecipa seus sinais de decrepitude e fim. Num livro cujo título enfatiza a primeira pessoa do singular que constitui a própria matéria do gênero lírico, nota Sérgio Alcides que, paradoxalmente, "o tema da poesia de Augusto dos Anjos é precisamente o fracasso do 'Eu' e a desagregação da subjetividade como valor fundamental da chamada 'civilização' ocidental". A partir de texto in http://itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=5040&cd_item=226 Largo das neves s/nº – 2002 trabalho realizado dentro do evento Arte de portas abertas, Santa Teresa, RJ A CASA ENTERRADA O caminhante distraído vê-se confrontado a algo que não está na ordem habitual de seu trânsito diário: uma casa enterrada em meio à praça pública. O estranhamento confunde as fronteiras entre casa e mundo. Situada na encruzilhada, a casa se impregna de quietudes e embaraços. Público e privado, indiscriminados, forçam um olhar tão desconexo quanto desorientado. A partir do texto de Marisa Flórido 2003 http://www.muvi.advant.com.br/artistas/f/felipe_barbosa/largo_das_neves.htm A casa domesticava o tempo e o espaço nos ciclos das estações e das famílias, nas colheitas e nos costumes que se repetiam, na memória que se reescrevia a cada geração, em cada lugar, em cada nome. Mas a casa está perdida nas desterritorializações contemporâneas: o ciclo doméstico foi substituído pelas rotinas mecânicas e pelos transtornos do tempo e do espaço das novas tecnologias. A casa enterrada não é assombrada por fantasmas do passado. Exibe-se a si mesma como a assombração de uma presença que não pode ser de outro modo que fantasmática. A partir de texto de Marisa Flórido 2003 http://www.muvi.advant.com.br/artistas/f/felipe_barbosa/largo_das_neves.htm Casa secionada à altura do telhado, construída no Largo das Neves. Propusemos um diálogo direto com a arquitetura local, onde grande parte das casas se encontram num nível abaixo da rua. Largo das neves - 2002 Largo das Neves s/nº Uma casa enterrada no meio da praça com alguns centímetros de parede e o telhado à mostra. Público e privado estão no mesmo espaço, disputando um lugar que não pode pertencer aos dois ao mesmo tempo. A função de ser “casa” muda de sentido: deixa de ser abrigo para ser invasora de espaço. Perde o seu entendimento como abrigo (porque é inabitável), lugar das práticas domésticas, para traduzir-se na impossibilidade de ser uma “terra para si”, o solo fundador e acolhedor do descanso e da privacidade. Não pertence ao morador/proprietário, nem muito menos ao coletivo, já que a sua “única” função está desprovida de uso: não possui entradas; é uma caixa intransponível que não oferece acolhimento. E pior: ocupa um dos poucos espaços de lazer do bairro. A questão moral impõe-se no trabalho de Barbosa e Ricalde: “nos despertou para a questão moral do trabalho, que é a noção do desperdício. Então, quando o material é muito caro, isto incomoda bastante as pessoas. O fato de um artista gastar, na época, pouco mais de R$1.000 para fazer um telhado e tendo várias pessoas desabrigadas na cidade é um fato que pode ser encarado como desperdício. Passa a ser algo questionado pelo público. Eles perguntam: „Qual é o objetivo disso?‟” O processo de produção da “casa” passa a ser tão vital para o seu conceito de experiência artística quanto o resultado final do trabalho: os fatores de desagregação, o conflito entre os artistas e os frequentadores da praça, torna-se um elemento que a obra passa a incorporar e por isso mesmo deve ser levado em conta quando nos referimos ao processo da “casa” como um todo. A partir de Entre a ironia e a falsa aparência de Felipe Scovin http://www.puro.uff.br/almanaque/entreIronia_falsaAparencia.pdf visibilidade (convite), 2002 A partir de texto de Rosana Ricalde e Felipe Barbosa A relação de questionamento por parte do público se a instalação constitui uma obra de arte também acontece em Visibilidade, talvez de uma maneira mais cruel, pois a barreira de pães não está próximo a nenhum "museu" o que de certa forma a descaracteriza como “obra de arte". É a sensação de alimento desperdiçado que provoca os passantes: porque seria arte algo feito de pães? Na realidade a obra invocará o que é invisível, a impossibilidade sócio- econômica, onde podemos ver mas não tocar/ter. http://www.muvi.advant.com.br/artistas/f/felipe_barbosa/visibilidade.htm Visibilidade, 2002 A partir de texto de Rosana Ricalde e Felipe Barbosa Obstrução de uma passagem com cerca de 6000 pães, impedimos o trânsito de um lado para o outro, mas não o olhar do transeunte. A barreira explicitava em sua beleza surpreende a miséria local, discutindo através de sua ambigüidade a necessidade da arte. Barreira construída com 6.000 pães medindo 1,5m x 9m - Interferência Urbana realizada em Belo Horizonte Projeto Rumos Visuais http://www.muvi.advant.com.br/artistas/f/felipe_barbosa/visibilidade.htm . Visibilidade, 2002 texto Rosana Ricalde e Felipe Barbosa Saindo do espaço da galeria, propusemos um enfrentamento arte/público, através de elementos cotidianos, básicos à existência. Instigando a curiosidade, ao produzir arte com pão e água. Provocando o público, já que a idéia de miséria e esbanjamento é explícita nesse choque que se dá ao ver tantos pães "inutilizados" enquanto tantos estão famintos. O desmanche é o destino das obras Leveza e Visibilidade, aliás sem este, elas não completariam seu ciclo, onde objeto de arte é consumido, onde água e pão alimentarão agora o corpo. http://www.muvi.advant.com.br/artistas/f/felipe_barbosa/visibilidade.htm Jogo daVelha – 1ª Bienal Ceará - América – 2002 Disputa de um jogo-da-velha em pleno cruzamento de duas ruas. Trabalho realizado na cidade de Fortaleza e apresentado em vídeo. Facebook da artista Em Jogo da velha, Barbosa e Ricalde apropriam-se da faixa sinalizadora de um cruzamento de trânsito, e transformam esse quadrilátero com feixes cruzados num tabuleiro de jogo. É um trabalho “entre-tempos”. No pequeno intervalo entre o fechamento de um dos sinais de trânsito e a abertura do outro, os artistas disputam uma partida do jogo da velha. Tudo gira em torno do tempo, desse momento de parada no tráfego. Operam, portanto, no vermelho, no débito, na falta... de tempo. Arriscando suas vidas e a dos motoristas, essa tática irônica não significa divertimento, mas recusa ao usufruto cotidiano e justificável daquele espaço, reconhecendo-o como terreno de vivência móvel, volátil, na cidade. A partir do texto Entre a ironia e a falsa aparência de Felipe Scovin http://www.puro.uff.br/almanaque/entreIronia_falsaAparencia.pdf Jogo da Velha– 1ª Bienal Ceará - América 2002 A cena dá lugar ao absurdo. Não se coloca mais a questão do olhar: ocorre uma dissolução da cidade como palco do espetáculo, impossibilitando percorrer os espaços e articulá-los pela visão. Felipe Barbosa e Rosana Ricalde interferem no tecido urbano, e mais do que nisso nas leis desse tecido. Aproveitando o próprio diagrama matemático que a cidade oferece ao cidadão (pedestre, motorista), constroem um organograma que se mantém re- atualizado a cada ação do jogo: os movimentos contínuos, horizontais e verticais, dinamizam toda a área, transferem potência para algo amorfo, modificam o sentido daquele “sinal” e instauram a “surpresa”. A dupla entende a cidade como um organismo, vivo, justamente porque mantém os seus fluxos ativos, evitando o seu repouso absoluto. In Entre a ironia e a falsa aparência de Felipe Scovin http://www.puro.uff.br/almanaque/entreIronia_falsaAparencia.pdf Foto TV:http://www.bojoga.com.br/blog/?paged=3 Foto rua: facebook de Rosana Ricalde Vídeo da ação: http://www.youtube.com/watch?v=UD52iDvqX8c texto Rosana Ricalde e Felipe Barbosa "É preciso ser leve como o pássaro, e não como a pluma.“ Paul Valery Evocamos uma das Seis Propostas para o Próximo Milênio (Ítalo Calvino). Pensando Leveza como movimento, possibilidade de deslocamento e suavidade, apresentamos sob esse título um espelho d'água coberto por 9.500 garrafas de água mineral rememorando a história contada pelo autor ao se referir a Leveza, onde relata os feitos do herói Perseu - que não abandona a horrível cabeça da medusa, mas que carrega seu fardo pessoal com a leveza de uma sensibilidade sábia de um herói. http://www.muvi.advant.com.br/artistas/f/felipe_barbosa/visibilidade.htm Leveza, Palácio das Artes – BH 2002 texto Rosana Ricalde e Felipe Barbosa O espelho d'água trata justamente de definir como esse espaço pode ser proveitoso ao mesmo tempo em que perigoso. Aproveitando dados da arquitetura, tomamos o espelho como lugar de atuação, pensando nele como reflexo dessa instituição/prédio. A água embalada, comercializada, asséptica, como alegoria da arte, e a pré-disposição da instituição, em emoldurá-la, filtrá-la antes de oferecê-la ao público. Outra questão que assume um papel importante, é a posição do público diante da obra, de como este vem determinar até onde aquilo que vêem é uma obra de arte, e até onde são garrafas que no caso poderiam ser tomadas de assalto e vendidas, gerando um lucro líquido de cerca de 9.000 mil reais. Substituição do espelho d'água do Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG, por garrafas de água mineral, visíveis apenas no momento em que se percorre a rampa de acesso ao edifício http://www.muvi.advant.com.br/artistas/f/felipe_barbosa/visibilidade.htm Leveza, Palácio das Artes – BH, 2002 VISIBILIDADE e LEVEZA A algumas quadras da intervenção Visibilidade, garrafas de água mineral cobriam toda a extensão do chafariz na fachada do Palácio das Artes. As garrafas, levadas na madrugada de sua instalação, foram vendidas nas esquinas anônimas da cidade: a proximidade da galeria não intimidou seu câmbio em mercadoria. Intocada, a barreira de pães permaneceu por alguns dias até ser ingerida. O descomedimento da arte alimenta corpos famintos. Se para alguns é arte, para outros, apenas pão. Como então conceber a arte como o domínio exclusivo de um olho desencarnado, do universo da límpida Visibilidade? Como aceitar a fruição estética como um juízo autônomo, purificado e ascético em sua Leveza, dissociado das necessidades da existência, desvinculado de um corpo que tem fome e sede? A partir de texto de Marisa Flórido 2003 Leveza, 2002. Espelho d'água - Interferência realizada com 10.000 garrafas de água mineral no espelho d'água do Palácio das Artes, Belo Horizonte. 100m x 3m Visibilidade, 2002 Leveza E pensando também nas propriedades dessa cabeça, que serve ao herói como arma contra seus mais terríveis inimigos, além de seu toque, que diferente de seu olhar, pode produzir feitos maravilhosos. Fizemos um paralelo com a instituição/institucionalização, pensando nesta como essa medusa, e como devemos tratá-la em proveito da arte. texto Rosana Ricalde e Felipe Barbosa Leveza, Palácio das Artes – BH, 2003 Perseus com a Cabeça da Medusa, de Benvenuto Cellini,, 1554 Italo Calvino Nasceu em 1923, em Cuba, por onde seus pais, cientistas italianos, estavam de passagem. Sua infância foi em San Remo, na Itália. Em 1941, matricula-se na Faculdade de Agronomia de Turim, que abandona ao engajar-se na Resistência Italiana contra o exército nazista. Ao final da guerra vai morar em Turim, onde se doutora em letras. Em 1947, lança seu primeiro livro, inspirado em sua participação na Resistência. Passa a trabalhar para o jornal comunista L‟Unità e a editora Einaudi. Em 1957 desliga-se do Partido Comunista. A partir dos anos 1950 Calvino começa a escrever as obras que o tornaram famoso internacionalmente: O Visconde Partido ao Meio (1952), O Barão nas Árvores (1957) O Cavaleiro Inexistente (1959), Cidades Invisíveis (1972), Se um Viajante numa Noite de Inverno (1979), e Palomar (1983), dentre outros. Morreu em 1985, consagrado como um dos mais importantes escritores italianos do século 20. Entre seus muitos outros livros incluem-se Seis Propostas para o Próximo Milênio, Amores Difíceis e O Castelo dos Destinos Cruzados. http://studioamora.com/blog/?p=67 Em 1984 Italo Calvino foi convidado para proferir um ciclo de conferências na Universidade de Harvard . Terminava de prepará-las quando faleceu. As "Seis propostas para o próximo milênio" contêm apenas cinco, a última se intitularia "Consistência". Consistência, Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade e Multiplicidade são, para Calvino, valores literários que devem ser preservados pela literatura, por ele considerada perene: "Minha confiança na literatura consiste em saber que há coisas que só a literatura com seus meios específicos pode nos dar", diz ele. Seis propostas para o próximo milênio é um livro fundamental para se entender o que é a literatura, porque é imprescindível e como pode atingir uma qualidade elevada. É um livro importante também para nosso autoconhecimento: “...quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis.” (p. 138). A partir do texto de Valdemir Pires http://www.letraselivros.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=648&Itemid=65CALVINO, Ítalo. Seis Propostas para o próximo milênio. São Paulo: 2ª Ed.Companhia das Letras, 1998. árvores ajudadas, 2002 / 2007 Série de fotografias de árvores ajudadas pela ação do homem, dimensões variadas Exatidão, 2003 MADO3 – 2º encontro de Arte Experimental de Madri Instalação de uma mesa de jogo de Damas em uma pequena área no meio do trânsito da cidade de Madri. “O ineditismo do jogo no local escapa à mentalidade executiva reguladora do deslocamento, do tráfego, da cidade.“ Poéticas compartilhadas / poéticas expandidas” de Guilherme Bueno. Fotos: facebook de Rosana Ricalde projeto InSite_05 hospitalidade / hospitality Tijuana, México, 2003 / 2005 Rosana Ricalde e Felipe Barbosa participaram em Tijuana, cidade mexicana que faz fronteira com os Estados Unidos, da quinta edição do InSite 05, um projeto com o objetivo de promover a investigação e intervenção artística no espaço urbano. Segundo Rosana foi a primeira experiência do casal em que o trabalho foi planejado com muita antecedência. http://www.youtube.com/watch?v=zQOnB6Gdvy4&feature=share hospitalidade / hospitality, 2003 / 2005 Foram dois anos entre pesquisas, observação e discussões entre si e com os curadores até a aprovação e execução do projeto. A situação de fronteira é o ponto de partida de Hospitalidad (Hospitalidade). "Em Tijuana fica muito claro que a fronteira só existe na direção do México para os Estados Unidos. Os americanos não enfrentam nenhum tipo de barreira para entrar no México", explica Felipe. "O que a gente estava querendo colocar era justamente que as fronteiras estão aí, no mundo, e inclusive no México. Porque o México impõe as mesmas barreiras à Guatemala", completa Rosana. Hospitalidad ocupa a Ponte México, ponte de pedestre utilizada por quem cruza a fronteira à pé. Letreiros profissionais pintaram no chão nomes próprios de homens e mulheres que passam pela ponte, utilizando cores características das cidades mexicanas, como o rosa, o verde e o roxo. "A gente trabalhou com a idéia de hospitalidade incondicional do Jacques Derrida, que é aquela que não pede o nome de família, que não pergunta de onde vem", aponta Rosana. A partir de texto de Fernanda Lopes - http://www.muvi.advant.com.br/artistas/f/felipe_barbosa/hospitalidade.htm Distribuição de garrafas de água mineral holandesa em uma estação de trens internacionais em Roterdam para que os viajantes levassem a água excedente da Holanda para fora do país. http://www.rosanaricalde.com/obrasport.html Changing the flow , 2005 troca de cartões, 2006 Instalados numa tenda em uma praça no centro de Fortaleza, Rosana Ricalde e Felipe Barbosa, munidos de computador e impressora, convidavam os passantes a deixarem seus dados profissionais para que o casal de artista imprimisse cartões de visita gratuitos, contendo em seu verso o serviço a fim de outro participante do projeto. Foto: facebook de Rosana Ricalde Proposta poética para a redistribuição das águas no mundo, irrigando áreas desérticas com a água de regiões que tem excesso através de grandes aquedutos. Foto: Marcelo De Focatii http://noktambularte.blogspot.com/2006/05/pintura-subyacente-en-el-cceba.html Cambiando el curso de las aguas, 2006 Centro Cultural da Espanha em Buenos Aires casa para pássaros, 2007 Casa para pássaros camuflados instaladas em árvores Jardines Móviles, 2007 Universidade Autônoma do México, Cidade do México Animais construídos com brinquedos infláveis nos jardins da Casa Del Lago no bosque Chapultepec na cidade do México. http://novoscuradores.com.br/artigo-blog/felipe-barbosa-rosana-ricalde
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