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Seu trabalho será avaliado pelo CopySpider no decorrer do desenvolvimento do Jundiaí 2017 ÉRICA MARIA APARECIDA DOS SANTOS CRIME PASSIONAL PAIXÃO, AMOR, CIÚMES, EMOÇÃO E VIOLÊNCIA Jundiaí 2017 CRIME PASSIONAL PAIXÃO, AMOR, CIÚMES, EMOÇÃO E VIOLÊNCIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à (Anhanguera), como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em( Direito). Orientador: Paula Barduco ÉRICA MARIA APARECIDA DOS SANTOS ÉRICA MARIA APARECIDA DOS SANTOS CRIME PASSIONAL PAIXÃO, AMOR, CIÚMES, EMOÇÃO E VIOLÊNCIA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à (Anhanguera), como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em (Direito). BANCA EXAMINADORA Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) Jundiaí, de de 2017 Dedico este trabalho a Deus, que sempre me fortaleceu nos momentos mais difíceis dessa jornada e ao meu companheiro Mauricio, que sempre me incentivou a lutar e nunca desistir dos meus sonhos. AGRADECIMENTOS A vida sempre foi feita de escolhas, boas ou ruins, e a minha não foi diferente, escolhi me graduar em direito e isso mudou a minha vida. Para melhor é claro! Foi a melhor escolha que fiz até agora, pois é essa quem vai me proporcionar um extenso leque de oportunidades ao longo da minha vida a partir de agora. Hoje posso dizer que vivo uma realidade que há tão pouco tempo atrás era somente um sonho, que se tornou possível devido a muito esforço, paciência determinação, perseverança ousadia e amor, mais é claro que eu não conseguiria nada disso sozinha. Gostaria de agradecer a todos que colaboraram de alguma forma para que eu pudesse chegar até aqui. Agradeço em especial á Deus, pela força, paciência, determinação, sabedoria e o mais importante o amor que ele me concedeu, sempre iluminando a minha mente e o meu coração durante toda essa caminhada. Sou grata a todos os meus professores, pela paciência, incentivo, e principalmente pela dedicação que foi essencial para minha formação. Agradeço por me ensinarem a ter disciplina e comprometimento tanto na vida acadêmica quanto na pessoal, e isso me tornou uma pessoa melhor. Agradeço a todos da minha família que sempre orou e torceu por mim, em especial a minha filha Milena que amo incondicionalmente, e ao meu companheiro Mauricio, que com muito amor e carinho sempre esteve do meu lado apoiando e incentivando a nunca desistir do meu sonho. Amo você amor da minha vida, e espero poder compartilhar contigo muitas outras vitórias como essa. E não posso deixar de agradecer aos colegas de classe, principalmente aos amigos que conquistei em especial Carine e Amanda que sempre estiveram do meu lado nos piores e nos melhores momentos, quantas brigas, quantas lagrimas, quantos sorrisos compartilhamos durante essa longa e tão esperada vitória desejo tudo de melhor a cada um de vocês, e espero poder revê-los para que juntos possamos compartilhar nossas conquistas. SANTOS, Érica Maria. Crime Passional: Paixão, Amor, Ciúmes, Emoção e Violência. 2017. 47 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) – Anhanguera, Jundiaí, 2017. RESUMO O presente artigo elabora um breve estudo sobre o crime passional e sua evolução, em meio á sociedade através dos tempos. O crime que antes era aceito e julgado pelos tribunais do júri como, legitima defesa da honra, hoje é tipificado como homicídio privilegiado em seu artigo 121 e seus incisos qualificadores do Código Penal brasileiro. O estudo irá relatar os principais sentimentos que colaboram para prática delitiva, são eles, posse, ódio, vingança e o principal deles a rejeição. O trabalho Visa compreender a lógica interna do homicida em obter uma satisfação pessoal: matar e logo após o crime, alegar os motivos da paixão. Palavras-chave: Crime passional; Paixão; Posse; rejeição; Violência. SANTOS, Érica Maria. Passional Crime: Passion, Love, Jealousy, Emotion and Violence. 2017.47 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) – Anhanguera, Jundiaí, 2017. ABSTRACT The present and article a brief study of the crime of passion and its evolution, in the midst of society through time. The crime that was previously accepted and judged by the courts of the jury as, identification defence of honor, today is typed as privileged homicide in his article 121 and his incisors of the Brazilian Penal Code. The study will report the main sentiments that collaborate for the practice of deli, are they, possession, hatred, vengeance and the main one of them rejection. The work aims to understand the logic intern of the act in obtaining a personal satisfaction: killing and shortly after the crime, alleging the motives of passion. Key-words: Passion; Love; Jealousy; Emotion and Violence. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9 2. O CRIME PASIONAL ........................................................................................ 10 2.1 A HISTÓRIA DO CRIME PASSIONAL. ........................................................... 10 2.1.2 Elementos subjetivos do homicídio no crime passional ........................... 12 2.1.3 Ciúme ...................................................................................................... 13 2.1.4 Paixão ..................................................................................................... 15 2.1.5 Amor ........................................................................................................ 15 2.1.6 Rejeição .................................................................................................. 16 2.1.7 Sentimento de posse ............................................................................... 17 2.1.8 Honra ....................................................................................................... 17 2.1.9 Punibilidade do crime .............................................................................. 18 3. DO JULGAMENTO ............................................................................................ 21 3.1 AS TESES APRESENTADAS PELA ACUSAÇÃO – MINISTÉRIO PÚBLICO. 21 3.1.3 Motivo torpe. ............................................................................................ 23 3.1.4 Motivo fútil ............................................................................................... 24 3.1.5 Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura, ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum............................... 25 3.1.6 À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima. ................................................ 27 3.1.7 As teses mais apresentadas pela defesa. ............................................... 28 3.1.8 Legítima defesa da honra ........................................................................ 30 3.1.9 Homicídio privilegiado............................................................................. 32 4. OS HOMICIDAS PASSIONAIS ......................................................................... 35 4.1. PERFIL DOS HOMICIDAS PASSIONAIS. ...................................................... 35 4.1.2 Casos reais ............................................................................................. 36 4.1.3 Crime da fera da Penha .......................................................................... 36 4.1.4 O crime de Lindomar Castilho ................................................................. 37 4.1.5 O crime Margot Proença Gallo. ............................................................... 38 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 40 6. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 42 9 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho de conclusão de curso tem como objeto de estudo os homicídios passionais e suas peculiaridades. O crime passional é um delito que sempre causou impacto na história da humanidade, mas nem sempre foi tipificado na legislação penal, sendo enquadrado tão somente no delito de homicídio e suas tendências. Existem diversos motivos que induzem o crime passional; os mais comuns são os sentimentos de posse, de ódio, de vingança, e principalmente de rejeição, pois geralmente o crime ocorre pelo simples fato do outro não aceitar o termino do relacionamento o que resulta em condutas em que as vítimas afrontam o autor do crime, de forma desequilibrada levando a pessoa a cometer o delito do homicídio em "nome do amor". O Código Penal foi promulgado em 1940 trazendo a punibilidade ao crime passional que, até então, era considerado como excludente de ilicitude. A punição ao delito passou a ser homicídio privilegiado pela violenta emoção, porém, por questões sociais e culturais, essa norma era apenas teórica, pois, na prática, os defensores desses homicidas alegavam a tese da "legitima defesa da honra", aceita pelos Tribunais do Júri. A partir da década de 70, devido às várias manifestações feministas contra a indulgência com a qual era tratado o crime passional, a sociedade e os Tribunais deixaram de aceitar essa tese, tornando a punição mais rígida aos autores dos crimes passionais. Todavia, a maior mudança, ocorreu com a Constituição Federal de 1988, que determinou a igualdade entre homens e mulheres e, hoje, é inaceitável que um defensor alegue a tese da legítima defesa da honra, pois não é mais possível deixar que a honra do homem sobreponha-se ao direito à vida garantido as pessoas. 10 2. O CRIME PASIONAL 2.1 A HISTÓRIA DO CRIME PASSIONAL. Durante décadas o homicídio passional ganhou destaque em razão da benevolência para com os criminosos, em virtude de uma sociedade machista que atestou a mulher como um ser inferior, considerando-a uma propriedade do homem. Para que haja um entendimento melhor do assunto, é necessário definir o que vem a ser “crime passional”, sob o ponto de vista etimológico e doutrinário. .“Crime”, segundo o minidicionário Aurélio, é “a violação da lei penal; delito” – Conceito formal. O conceito substancial seria a “ofensa de um bem jurídico tutelado pela lei penal”. E no conceito analítico é o “fato típico, antijurídico e culpável”. (Aurélio 2001,p.194). Conforme o entendimento jurídico, de Plácido e Silva (1990, p.586), “Crime deriva do latim crimen (acusação, queixa, agravo, injúria). Ou seja, é toda a ação cometida com dolo, ou infração contrária aos costumes, à moral e à lei, que é legalmente punida, ou que é reprovada pela consciência.” Segundo o minidicionário Aurélio. “Passional é relativo à paixão, suscetível de paixão; causado por paixão.” ( Aurélio,2001,p.518). De acordo com Plácido e Silva, “É o vocábulo empregado na terminologia jurídica, especialmente do Direito Penal, para designar o que se faz por paixão, isto é, por uma exaltação ou irreflexão, consequência de um amor desmedido”.( Palácio e Silva 2001, p.518). O crime passional é aquele cometido por paixão. É necessário ressaltar a existência de uma ligação afetiva e/ou sexual entre a vítima e o acusado. Não é qualquer situação delitiva entre cônjuges que caracteriza o crime passional. Se por 11 exemplo, o marido contrata alguém para matar sua esposa para ficar com o seguro de vida ou herança, não fica caracterizado o crime passional. Luiza Nagib Eluf afirma que: “A paixão não basta para produzir o crime”. Esse sentimento é comum aos seres humanos, que, em variáveis medidas, já o sentiram ou sentirão em suas vidas. Nem por isso praticaram a violência ou suprimiram a existência de outra pessoa. (ELUF,2009.p.134). O sentimento da paixão nunca deve ser utilizado para perdoar o crime, podendo ser usada apenas para entendê-lo. Na grande maioria das vezes, quem comete um crime tomado por emoções violentas e contraditórias, acaba destruindo não só a vida da vítima, mas também a sua própria vida. Todavia, essa conduta não perde a característica criminosa e desprezível, não recebe aceitação social. Ivair Nogueira Itagiba afirma ser o verdadeiro amor: Resignação e autos sacrifício, ternura e perdão. Transpira animalidade o amor que assassina, gerado do egoísmo paroxístico, da sensualidade bestial, da ameaça da exclusividade da posse, do despique do amante preterido, do ciúme da mulher ofendida na vaidade, da prepotência da concupiscência e do ódio, a que chama sentimento de honra. Nada colhe o argumento de que o crime, na vida dos passionais, é meramente episódico. Esses delinquentes, à verdade, não reincidem. Mas a ameaça de pena exerce intimidação sobre todos. A impunidade açularia, ao revés, o incremento do passionalismo.( ITAGIBA,1958,p. 334). O amor verdadeiro não mata, não aprisiona, pelo contrario quem ama de verdade deseja o bem para a pessoa amada acima de tudo. Já o homicida passional vê a outra parte como um objeto, não se trata de um amor e sim de um sentimento doente de possessividade, de domínio normalmente esse criminoso não mostra e não sente nenhum arrependimento, ele é dominado pelo ódio, pela vingança, pelo egoísmo, por uma imagem social (muitas vezes falsa) e por uma necessidade de estar no poder. Os homicidas passionais antigamente recebiam uma punição mais branda, pois por ser o crime cometido por paixão existia uma associação equivocada com o 12 sentimento de nobreza, com a defesa da honra. E que até então, era classificado como excludente de ilicitude. Nos dias atuais, desde a promulgação do Código Penal de 1890, o que vigora é que a emoção ou a paixão não excluem a culpabilidade de quem mata ou fere outra pessoa, trazendo punibilidade ao crime passional. Tal punição passou a ser aplicada ao delito classificado como homicídio privilegiado pela violenta emoção. É correto que a legislação penal beneficie aqueles que cometem homicídio por violenta emoção, pois realmente o indivíduo age subitamente, por motivo relevante, porém, é uma ofensa aos direitos humanos defender que motivos passionais sejam considerados relevantes a ponto de justificar a prática de um homicídio. Os defensores dos homicidas passionais criaram como tese a da “legítima defesa da honra”, não prevista na legislação, mas aceita pelos Tribunais do Júri, na sua grande maioria, formado por homens que achavam “natural” esse comportamento. Porém, quando a Constituição Federal de 1988 determinou a igualdadeentre homens e mulheres, passou então a ser inadmissível um defensor alegar essa tese. A sociedade deixou de tolerar esse delito, não podendo ser considerado homicídio por relevância social. Para exemplificar a violenta emoção, utiliza-se como exemplo, o caso de um pai que, ao ver sua filha ser estuprada, tomado de violenta emoção, mata o estuprador. Esse delito não se restringe apenas ao homicídio, podendo ser também a lesão corporal e moral. É cometido geralmente por homens, são raras às vezes em que uma mulher mata. É um crime machista, pois o homem não consegue aceitar que uma mulher deixou de amá-lo, e usa dessa paixão como razão para matar. 2.1.2 Elementos subjetivos do homicídio no crime passional 13 São vários os elementos que compõe o homicídio passional. Mesmo o ser humano sendo declarado um ser racional, é indiscutível o poder dos sentimentos sobre ele. Trata-se de um crime premeditado, calculado na maioria das vezes. Não é um crime impulsivo, muito pelo contrário, é planejado nos mínimos detalhes. Na conduta desse criminoso existe uma grande influência social, a existência de um domínio sobre a outra pessoa e uma exagerada preocupação com a reputação. É estimulado, inúmeras vezes, por uma suspeita de traição. O homicida passional muitas vezes usa a força bruta, para ter o reconhecimento do seu “direito” e a recuperação da sua autoestima, que entende o mesmo a ter perdida em decorrência do abandono ou do adultério. Rabinowicz , ressalta. Curioso sentimento o que nos leva a destruir o objeto de nossa paixão! Mas não devemos extasiar-se perante o fato; é, antes, preferível deplorá-lo. Porque o instinto de destruição é apenas o instinto de posse exasperado. Principalmente quando a volúpia intervém na sua formação. Porque a propriedade completa compreende, também o jus abutendi e o supremo ato de posse de uma mulher é a posse na morte. ( RABINOWICZ, 2007 p. 54). O homicídio passional é um crime premeditado que não tem nada haver com o amor, é uma conduta criminosa, praticada por sentimentos como o ciúme, a raiva, a vingança, o egoísmo, a maldade, a rejeição, o sentimento de perda, portanto, quem comete esse crime não merece indulgência, não merece clemência pelo que fez. Para falar sobre os principais componentes desse crime é importante dissertar sobre os elementos subjetivos que o permeiam, sendo eles: o ciúme, a paixão, o amor, a rejeição, o sentimento de posse e a honra. 2.1.3 Ciúme O ciúme é um sentimento que desde sempre esteve presente na humanidade, porém, manifesta-se de forma diferente em cada um, pois as personalidades não se repetem. O ciúme anda lado a lado do amor, nasce no mesmo instante 14 que ele, porém nem sempre desaparece com ele. É um sentimento natural aos seres humanos como a raiva e a paixão. Porém, como tantos outros sentimentos possuem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é aquele ciúme moderado, natural, protetor, o amor presente faz com que o casal se lembre sempre que o outro não foi definitivamente conquistado. Encoraja o esforço mútuo e consciente para a melhoria da relação. Já o lado ruim é aquele ciúme que pode se tornar um incomodo para uma das partes, prejudicando o amor, e tornando o ser amado em sua propriedade. Conforme Rabinowcz, “o ciúme é o medo de perder o objeto para o qual se dirigem os nossos desejos. O ciúme destrói, instantaneamente, a tranquilidade da alma”. (Rabinowcz (2007, p.67). O ciúme é o sentimento que mais causa insegurança nas pessoas pois, o medo da perda causa a dependência, e a síndrome de inferioridade e é capaz de destruir a vida dessa pessoa. O homicida ciumento na grande maioria das vezes comete o crime passional por não aceitar a perda da posse da pessoa amada. É perceber que não é mais “dono” do outro, é sentir-se menosprezado, excluído da vida do parceiro. Isso ocorre quando ele deixa de enxergar o outro como uma pessoa, e passa a vê-lo como um objeto. Quando o ciúme passa a dominar uma pessoa, ela se torna incapaz de controlar suas atitudes, o que acontece com frequência, o ciumento, passa a acreditar apenas naquilo que ele imagina que aconteceu. O ciúme corrói, destrói toda a base do amor, trazendo consigo a dor do fim e saudade do que se foi e jamais voltará a ser. 15 2.1.4 Paixão De acordo com o dicionário Michaelis (1998, p.1529) “a paixão é um sentimento tão forte, quanto o amor e o ódio; movimento impetuoso da alma para o bem ou para o mal; desgosto, mágoa, sofrimento prolongado” No primeiro momento esse sentimento pode ser comparado com o amor, porém, pode alcançar proporções catastróficas, quando envolta ao ciúme. Renata Bonavides afirma: Nós seres humanos imputáveis, as paixões, como as emoções intensas, se tornam muitas vezes elementos perturbadores da inteligência e da vontade, reduzindo em muitas oportunidades a racionalidade, podendo levar o indivíduo ao cometimento de um crime.(BONAVIDES, 2009, p.77) Esse sentimento tem o poder de atormentar o lado racional de uma pessoa, fazendo com que ela perca a noção de moral e da ética, não permitindo que enxergue o mundo exterior, deixando que enxergue somente suas inseguranças, seus medos. Somente a paixão não é capaz de matar, o que ocorre em relação a esses crimes é a obsessão pelo ser amado, é a paixão doentia crônica. É ter em mente que se a pessoa amada não pode ser sua não será de mais ninguém. 2.1.5 Amor De acordo com o Minidicionário Aurélio “o amor é um sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem; a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição; devoção extrema”( Aurélio,2006,p.118). Segundo Rabinowcz. Existe três formas de amor, o platônico, o afetivo e o sexual. O amor platônico é um amor não correspondido é um sentimento que em nada se relaciona com o desejo do corpo, e pode ter vários gêneros diferentes como 16 em um caso de amizade pura entre duas pessoas. É na maioria das vezes é produto de uma timidez exagerada. A pessoa que tem um amor platônico e nunca tenta sair dessa fase é porque tem medo de se machucar ou medo de verificar que as suas fantasias e expectativas não correspondem à realidade. O que a torna incapaz de praticar um crime passional. O amor afetivo é a melhor forma de amar, é o mais saudável e tranquilo para ambos. Nele o desejo está ligado à ternura, ao empenho em fazer com que a outra pessoa se sinta amada, são raríssimos os casos em que esse amor dá origem a um crime passional. Como dizia Jules Lemaître, o amor sexual é o que faz dos homens, idiotas. É um amor egoísta, trata o objeto de desejo como propriedade. É a forma de amor característica dos crimes passionais, porque é cercado pelo ódio, pela vingança. O amor e um sentimento que não pode ser atribuído ao homicida passional, pois o mesmo mata por questões opostas a esse sentimento. Mata por não acertar o fim do relacionamento, por medo do ridículo e mata para mostrar a sociedade que lavou sua honra. 2.1.6 Rejeição A rejeição é um dos sentimentos mais terrível já vivido pelo homem. Consiste em sentir-se menosprezado, discriminado, humilhado. Oque causa uma sensação de abandono e solidão. E ela pode ser real ou imaginária. A imaginária pode ser tão destrutiva quanto a real. A rejeição sentida em um relacionamento amoroso pode desencadear sérias consequências. O medo de ser rejeitado faz com que a pessoa desperte o monstro que existe dentro de si, monstro esse sedento de vingança, de raiva, de vergonha, humilhado pelo comportamento do ser amado, capaz de fazer as piores atrocidadespara recuperar o controle da situação, recuperar sua reputação que considera ter perdido. Monstro que não segue as regras estabelecidas pela sociedade. 17 Esse sentimento está diretamente associado à insegurança, ao medo de ser abandonado, e engana-se quem pensa que a melhor solução para a rejeição é encontrar um novo amor, caso isso aconteça, a pessoa continuará cometendo o mesmo erro continuará se sentindo inferiorizado, rejeitado. O que deve ser feito nesse caso é encontrar a si mesma, é buscar elevar a autoestima, porque somente se amando será capaz de amar, de respeitar, de compreender outra pessoa. A pessoa rejeitada poderá, na maioria dos casos, não se conformar com o desprezo, passando a se sentir humilhada, desvalorizada, deprimida, sendo fundamental para o seu equilíbrio emocional tão somente o reconhecimento e o amor da pessoa querida. 2.1.7 Sentimento de posse O sentimento de posse é conhecido por trazer uma necessidade de controlar e dispor das coisas e das pessoas. É a necessidade de ser dono do outro, de dominar o que ele pensa. Quando o desejo de dominar os sentimentos do outro foge do controle, surge uma inclinação para a posse. Hoje em dia, é muito mais importante o ter do que o ser. Para ser alguém você precisa ter alguma coisa ou outro alguém. Quando esse sentimento de posse acaba, quando você percebe que o outro já não mais te pertence, é como se você não existisse mais, a sua existência passa a depender da existência do outro. 2.1.8 Honra A honra é a imagem social da dignidade, está ligada ao caráter de uma pessoa. Pode ser objetiva e subjetiva, sendo esta a opinião pessoal e aquela, o que a sociedade pensa sobre determinada pessoa. Essa tese foi bastante utilizada como 18 defesa dos homicidas passionais. Durante anos os advogados alegaram que seus clientes matavam para defender a honra perante a sociedade. Ligavam a honra ao comportamento sexual das mulheres. Uma vez traído, o marido precisaria “lavar sua honra”, matando-a, pois somente assim seria respeitado novamente. Não haveria motivos para o homicida passional matar para defender sua honra se a sociedade não tomasse conhecimento do crime. Nesse tipo de delito, há a presença do egoísmo, pois aqueles que praticam o crime passional, o fazem por conveniências pessoais, por terem convicção de que, de algum modo, devem satisfazer a opinião alheia. Atualmente a Constituição Federal não admite nenhum tipo de discriminação entre homens e mulheres, o que tornou a tese de legítima defesa da honra inconstitucional. A honra é um bem pessoal e intransferível. A mulher não carrega a honra do marido ou vice-versa. Um comportamento reprovável por parte de um dos cônjuges não afeta o outro. As pessoas só devem ser chamadas a responder por aquilo que fizeram, e não pelo que o outro fez. 2.1.9 Punibilidade do crime Para compreendermos a punibilidade de tal delito, faz-se necessário entender a definição de culpabilidade. Definição essa feita pela doutrina. Conforme Régis Prado, “A culpabilidade é a reprovabilidade pessoal pela realização de uma ação ou omissão típica e ilícita. Assim, não há culpabilidade sem tipicidade e ilicitude, embora possa existir ação típica e ilícita inculpável.”(Prado 2006, p.408). Em relação aos crimes passionais esse juízo de reprovação merece uma atenção especial do operador de direito, porque possui vários elementos subjetivos, devendo ser feita uma análise mais minuciosa. 19 Em consonância Bonavides afirma que. O olhar do Direito Penal ao criminoso passional deve estar sempre atento às características de cada caso concreto. Todos os crimes dolosos contra a vida (homicídio, infanticídio, aborto e instigação ao suicídio) são julgados pelo Tribunal do Júri, tanto a forma tentada quanto a consumada. ( BONAVIDES, 2009, p. 92). O homicídio passional é uma ação penal pública, a acusação é feita por um membro do Ministério Público e o julgamento é feito por membros da sociedade e não por juízes togados. Normalmente o Ministério Público denuncia o agente pela prática de homicídio qualificado, art. 121, § 2° do Código Penal, que é considerado um crime hediondo, aonde a pena varia entre 12 (doze) a 30 (trinta) anos de reclusão. O crime hediondo diz respeito ao delito cuja lesividade é acentuadamente expressiva, ou seja, é o crime de extremo potencial ofensivo. Do ponto de vista semântico, hediondo significa ato profundamente repugnante, horrendo, sórdido, imundo, o que vai contra todos os padrões sociais vigentes. Parte da jurisprudência entende que quem mata o cônjuge por vingança, por ciúme ou por ódio, enquadra- se no motivo torpe, ou seja, é uma conduta qualificada. O Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul entende que: Caracteriza-se a qualificadora do motivo torpe quando o ciúme extravasa a normalidade a ponto de tornar repugnável à consciência média, por ser propulsionador de vingança ante a recusa da ex-mulher em reconciliar-se (apelação n. 2.546/97). Outra parte, como o Tribunal de Justiça do Mato Grosso, considera como qualificadora o motivo fútil (art. 121, § 2°, II, CP):argumento de ciúmes e por entender estar sendo traído, deixando transparecer uma posição machista, hoje inaceitável, por todas as correntes jurisprudenciais e doutrinárias do Direito Pátrio. 20 É incabível no nosso direito o reconhecimento de duas qualificadoras como motivo torpe e fútil, portanto, cabe ao Ministério Público fazer a denúncia utilizando uma ou outra. O que realmente importa é que o crime passional é considerado hediondo. Que esse criminoso não merece o perdão, não merece diminuição da pena por ter “matado por amor”, e sim uma punição mais severa. Conforme entendimento de Capez. O homicídio passional, na sistemática penal vigente, não merece por si só, qualquer contemplação, mas pode revestir-se das características de crime privilegiado desde que se apresentem concretamente todas as condições dispostas no § 1° do art. 121 do CP. Desse modo, se o agente flagra sua esposa com o amante e, dominado por violenta emoção, desfere logo em seguida vários tiros contra eles, poderá responder pelo homicídio privilegiado, desde que presentes condições muito especiais. Finalmente, se a emoção ou a paixão estiverem ligadas a alguma doença ou deficiência mental, poderão excluir a imputabilidade do agente. (CAPEZ, 2008,p.40). É por isso que quando se fala em homicídio entre cônjuges não é possível afirmar sem a análise do caso concreto que foi um crime passional. O crime passional possui características únicas. Somente após uma minuciosa apreciação dos fatos é que é possível afirmar com certeza que aconteceu um crime passional. 21 3. DO JULGAMENTO 3.1 AS TESES APRESENTADAS PELA ACUSAÇÃO – MINISTÉRIO PÚBLICO. O Ministério Público detém um importante papel na defesa dos interesses sociais, e seu trabalho só aumenta com a conscientização da sociedade sobre os direitos da cidadania. É fundamental à função jurisdicional que o Estado desempenha nesse e outros casos, cabe a ele a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Como afirma Luiza Nagib Eluf, “Quanto mais se torna conhecido, mais o Ministério Público recebe apoio da população, que descobriu nele um grande aliado na luta pela melhoria da qualidade de vida, tanto no campo quanto nas regiões urbanas.”(ELUF, 2009,p.155). Um dos papeis desempenhados pelo Ministério Público é dar inicioa ação penal pública, logo depois de analisar todas as informações colhidas no inquérito policial, após a prática de um delito. De acordo com entendimento de Agenor Teixeira de Magalhães, Procurador de Justiça do Rio de Janeiro: A importância do Ministério Público é tal que a segurança do nosso regime político nele repousa. Quanto mais perfeita for a sua organização; quanto maior apoio tiver das autoridades, tanto mais segura será sua atuação em defesa da ordem e do império da lei. Com muito acerto disse o Dr. Eduardo Cabral que o Promotor de Justiça é a indormida sentinela da sociedade, cuja atuação, em defesa da lei e do direito, representa a eterna luta da justiça contra as forças do mal. Com relação ao Poder Judiciário, esse tem a função de juntar provas suficientes para sustentar a acusação para haja a condenação do acusado, pedir o 22 arquivamento do inquérito ou ainda a absolvição do réu, caso não obtenha provas suficientes em relação à autoria do crime ou considere o acusado inocente. A classificação adotada pela doutrina para o crime de homicídio é simples, comum, instantâneo, material e de dano. É considerado simples, por, possui um único bem jurídico, a vida. É comum, porque pode ser praticado por qualquer pessoa. É material, pois se consuma com a morte da vítima ou sua tentativa. E é instantâneo com relação ao ato praticado e de dano, pois afeta um bem. No crime passional, o réu é denunciado, normalmente, pela prática de homicídio qualificado, que é considerado pela nossa legislação como crime hediondo, com pena prevista de 12 (doze) a 30 (trinta) anos de reclusão. O crime hediondo é aquele que o legislador entendeu merecer maior reprovação por parte do Estado. São qualificadoras do crime de homicídio motivo torpe; motivo fútil; emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura, ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima; cometer o crime mediante paga ou promessa de recompensa; cometer o crime para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime (o chamado homicídio por conexão, menos comum nos delitos passionais). No entendimento de Luiz Regis Prado. Considera-se qualificado o homicídio impulsionado por certos motivos, se praticados com o recurso a determinados meios que denotem crueldade, insídia ou perigo comum ou de forma a dificultar ou tornar impossível à defesa da vítima; ou, por fim, se perpetrado com o escopo de atingir fins especialmente reprováveis (execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime ) (PRADO, 2002,p.52). O parágrafo 2º do artigo 121 do código penal cuida das hipóteses do homicídio passional. Estudaremos a seguir as hipóteses que mais se enquadram nesse crime. 23 3.1.3 Motivo torpe. O motivo torpe elencado no art. 121, § 2º, I, do Código Penal e é uma das circunstâncias que tornam a conduta de matar alguém mais reprovável. O criminoso passional é acima de tudo egocêntrico, ou seja, é um individuo que só pensa nele mesmo e as razões que o levam a prática do crime são sempre voltados para satisfazer seus próprios interesses. Para legislação esse motivo é considerado, repugnante. Segundo entendimento da jurisprudência não pode ser considerado torpe o crime cometido por ciúmes, ou seja, o marido ou o amante que mata a mulher por vingança, ódio ou ciúme age por motivo torpe, o que qualifica a conduta, o que torna sua punição mais severa. Alguns exemplos de jurisprudência: É certo que a vingança, por si só, não torna torpe o motivo do delito, já que não é qualquer vingança que o qualifica. Entretanto, ocorre a qualificadora em questão se o acusado, sentindo-se desprezado pela amásia, resolve vingar-se, matando-a (TJSP, AC, Rel. Jarbas Mazzoni, RT 598/310). O motivo, escreve Maggiore, é o antecedente psíquico da ação, a força que põe em movimento o querer e o transforma em ato: uma representação que impele à ação (in Euclydes da Silveira, Crime contra a vida, p. 43, 1973). No caso, a força que pôs em movimento o querer do agente ativo, o antecedente psíquico que o levou ao ato de matar sua ex-companheira, foi a vingança, o ódio reprimido, vingança contra quem não mais queria sujeitar-se a um companheiro incompreensivo, agressivo, mau, que a espancava sem motivo, que a deixava sem meios de subsistência. Justa e humana a vontade da ofendida de desejar e efetivar a separação. Lembra o jurista Baldassari Corurullo, referindo-se à torpeza do motivo, que „a baixeza do fim não está na natureza da necessidade, nem na do sentimento, está, precisamente, na antissocialidade que mostra o delinquente, em cujo ânimo o sentimento do altruísmo necessário à conservação da sociedade e, portanto, de si mesmo, não lograram vencer os impulsos próprios dos seres primitivos (TJSP, Rec., Rel. Weiss de Andrade, RJTJSP 73/312). 24 No homicídio passional o motivo torpe muita das vezes é caracterizado quando, o ciúme exagerado do homicida ultrapassa a normalidade a ponto de tornar-se repugnante aos olhos da sociedade. É quando estimula o sentimento de vingança ante a recusa da ex-mulher em reconciliar-se com o ex-marido. 3.1.4 Motivo fútil Muitas pessoas acreditam que o crime passional é cometido por motivo fútil e não torpe. Porque na maioria das vezes o crime acontece por motivo sem importância, insignificante aos olhos da sociedade, mas na mente do homicida esse pequeno motivo torna-se uma tortura constante. O motivo fútil está previsto no art. 121, § 2°, II, do CP. O tribunal de justiça de São Paulo, explicou através de um acordão a diferença entre futilidade e torpeza e se pronunciou da seguinte maneira. A futilidade deve ser apreciada segundo quod prelumque accidt. O motivo é fútil quando notadamente desproporcionado ou inadequado, do ponto de vista do homo medius e em relação ao crime de que se trata. Se o motivo torpe revela um grau de particular perversidade, o motivo fútil traduz o egoísmo intolerante, prepotente, mesquinho, que vai até a insensibilidade moral (JTSP, Rec., Rel. Onei Raphael, RJTJSP 73/310). O ciúme para alguns julgado sé considerado motivo fútil, porém, a jurisprudência não é nada pacífica, em suas decisões consideram o ciúmes um motivo relevante, ou seja, torpe. Segue exemplos de jurisprudência: “Nos casos em que o ciúme é mencionado como circunstância qualificadora, sempre é enquadrado como motivo fútil e não como motivo torpe” (TJSP, Rec., Rel. Luiz Betanho). 25 A separação de um casal induz, constantemente, uma série de traumas, todos previsíveis. Qualquer pessoa sabe disso. É cristalino, pois, que um homicídio tentado, em tais circunstâncias, há de ser erigido à categoria de fútil (TJSP, Rec., Rel. Onei Raphael, RT 577/352). Para legislação considera-se como motivo fútil, quando uma simples discussão familiar provoca a morte de um dos cônjuges. Tratando-se de um motivo extremamente insignificante para ceifar a vida de outra pessoa o que torna esse motivo uma qualificadora aumentando assim a pena do criminoso passional. Outro motivo também considerado como fútil é quando uma pessoa mata outra só por matar, ou seja, sem motivo algum, e de acordo com o entendimento dos nossos tribunais, esse tipo de crime precisa receber uma sanção mais severa. 3.1.5 Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura, ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. Essa qualificadora está prevista no art. 121, §2°,III, do Código Penal. Qualquer um desses meios quando utilizados, garantem maior punibilidade ao criminoso, por tratar-se de modo extremamente cruel. O emprego de veneno pode ser qualquer substância mineral vegetal e animal que introduzida no organismo, seja capaz causar perigo de vida, dano a saúde ou morte através de ação química, bioquímica e mecânica O fogo é outro meio extremamente cruel e que infelizmente, a mídia tem noticiado com frequência, a utilização de fogo em mortes de mendigos, índios além de ser um dos meios utilizados por traficantes que se valem desse meio cruel a fim de causar a morte de suas vítimas, prendendo-as dentro de pneus de caminhões, para logo em seguida, encharca-las em combustível, atear-lhes fogo no corpo. E deve ser lembrado que o meio utilizado de maneira cruel coloca em risco a vida da vítima como também coloca em risco a vida de outras pessoas. 26 Já o explosivo é qualquer substância que opera por meio de detonação utilizado pelo criminoso que traz perigo também, a um numero indeterminado de pessoas. Os mais conhecidos são: granada, dinamite, bombas dentre outras. Asfixiar alguém é impedir que essa pessoa respire, pode ser feita de várias formas e é tóxica ou mecânica. A tóxica é em razão de imperfeição do ar ambiental produzidas por gases deletérios como óxido de carbono, o cloro, o bromo etc. A mecânica pode ocorrer por estrangulamento, sufocação, enforcamento, esganadura, afogamento ou soterramento. A tortura pode ser física ou moral, e tem como objetivo principal causar à vítima um sofrimento intenso, porém desnecessário, antes mesmo da vítima vir a óbito. O meio só será insidioso quando desconhecido pela vítima. Só será de risco comum quando colocar em risco outras pessoas ou seus bens. Só será torturante ou cruel quando causar um sofrimento excessivo e desnecessário à vítima enquanto viva. Conforme a jurisprudência: O meio insidioso e cruel são coisas distintas. O meio pode ser insidioso, ser cruel ou ambos. A crueldade consiste na reiteração, em forma de agravar o sofrimento da vítima. Já a insídia existe no homicídio cometido por intermédio de estratagema, perfídia. (TJSP, Rec., Rel. Ary Belfort, RT 683/303). No caso das qualificadoras pode haver cumulação entre elas, ou seja, um homicídio pode ser cometido por motivo torpe e por um meio insidioso, cruel ou de perigo comum. Na maioria dos crimes o homicida passional se vê tomado de tanto ódio que, além do motivo que o levou ao crime poder ser considerado torpe ou fútil, ainda há a utilização de meio cruel, como na hipótese de a vítima ser morta com inúmeros golpes de faca ou ser estrangulada e esquartejada. 27 3.1.6 À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima. Em se tratando de crime passional é muito comum que o criminoso prepare uma emboscada para dificultar a defesa de sua vitima. Um exemplo bastante comum ocorre quando o marido de maneira ardilosa convida sua ex-mulher para conversar e decidir sobre a pensão dos filhos, e no momento em que encontra-se sozinho com ela, a mata subitamente, com vários tiros, vingando-se do fato de não ter sido atendido na tentativa de reconciliação ou fica de tocaia aguardando sua vitima passar e a ataca com vários golpes de faca. Tal homicídio é triplamente qualificado. É qualificado por motivo torpe, pelo meio cruel empregado e pela dissimulação. A traição segundo Guilherme de Souza Nucci, Trair significa enganar, ser infiel, de modo que no contexto do homicídio, é a ação do agente que colhe a vítima por trás, desprevenida, sem ter esta qualquer visualização do ataque. O ataque súbito, pela frente, pode se constituir surpresa, mas não traição. ( NUCCI, 2007) Ou seja, a traição ocorre quando existe a quebra da confiança, quando o agente usa a confiança que a vítima tinha nele para executar o crime. Exemplos de jurisprudência: Caracteriza a surpresa, qualificadora do homicídio, o fato do agente chegar sem prévio aviso ou imperceptivelmente ao local em que a vítima, sua ex- esposa, cantava profissionalmente, matando-a e ferindo com gravidade seu acompanhante. (TJSP, Rec., Rel. Prestes Barra, RT 577/346). 28 O homicídio à traição (homicídio proditorium) é cometido mediante ataque súbito e sorrateiro, atingindo à vítima, descuidada ou confiante, antes de perceber o gesto criminoso. Nesse sentido é que o acometimento pelas costas é considerado traição, isto é, quando colha a vítima desprevenida, de surpresa. Idêntica é a opinião de Frederico Marques (Tratado de Direito Penal, vol. 4/106, Saraiva, 1961). A traição indica uma forma de execução do crime com que o agente procura evitar a defesa. A perfídia que esse procedimento revela é a causa da agravação da pena. (TJSP, Rec., Rel. Mendes Pereira). É muito fácil observar que nesses casos o que qualifica o homicídio não é o meio escolhido ou utilizado para a prática do delito, e sim a maneira insidiosa com que o agente o executa. As qualificadoras do homicídio relacionadas àqueles praticados para assegurar à execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime, previstas no art. 121, § 2°, V do Código Penal, não se aplicam diretamente aos crimes passionais. Já a qualificadora prevista no art. 121, § 2°, I do Código Penal, que trata do homicídio cometido mediante paga ou promessa de recompensa não é impossível de ser associada ao crime passional. Porém, os casos reais não tem demonstrado a ocorrência dessa qualificadora. 3.1.7 As teses mais apresentadas pela defesa. A Constituição Federal diz que todo acusado precisa de um defensor. O advogado desempenha um papel muito importante na defesa do acusado, pois sem este, o julgamento poderá ser declarado nulo, então se o réu não possuir condições financeiras para pagar um advogado caberá ao Estado fornecer-lhes um, gratuitamente. Porém o advogado nem sempre irá buscar a absolvição do réu, e sim a diminuição da pena do acusado, quando, por exemplo, não for possível provar a inocência deste. No momento do julgamento o juiz ouvirá primeiro a acusação e logo em seguida a defesa, e ambas terão o mesmo período de tempo para fazer a 29 sustentação oral. A defesa é sempre a última a falar, isso acontece para permitir ao acusado defender-se de todas as acusações que lhe forem imputadas. De acordo com o Prof. Manoel Pedro Pimentel: Um julgamento feito pelo Tribunal do Júri, ao contrário do que muitos pensam, não é uma loteria. Depende, é certo, de algumas peripécias, mas pode ser o seguro resultado de uma conduta bem planejada e executada com rigor, desde a fase do inquérito policial até o plenário do Júri.( PIMENTEL,1998, v.628.) Acrescenta o professor em outra passagem, a apresentação dos argumentos deve obedecer a um plano previamente traçado, em cuja elaboração o advogado observará tudo àquilo que recomendamos ao tratar da defesa escrita. A exposição deve ser fluente e clara, sem rodeios e tiradas literárias, ferindo os pontos em debate. As proposições devem seguir a forma silogística, e cada conclusão se ajustará às outras, formando um tecido único. O tom de voz, as modulações não devem seguir o superado critério de exaltação e passionalismo, a não ser que o momento do discurso ou a dramaticidade do tema o imponha. Não terá o advogado, também, a preocupação de formar frases pomposas, bombásticas, geralmente vazias de sentido, cujo único mérito é causar a admiração dos que se deixam impressionar pela beleza da forma. As demonstraçõesde cultura, quando desnecessárias, soam falso e traem a intenção do orador de se autovalorizar, o que, às vezes, é consagrado à custa do direito do constituinte. A defesa tem um papel muito importante, porém completamente diferente do papel da acusação. No caso da acusação esta defende os interesses da sociedade e quando tem convicção da improcedência da ação penal, pode pedir a absolvição do réu. No caso defensor este se vê obrigado a defender o interesse de seu cliente, independentemente das suas convicções pessoais. Não podendo em hipótese alguma, pedir a condenação do acusado. O papel do advogado é apresentar teses 30 contraditórias a da acusação, ou seja, deve pedir a absolvição do seu cliente, e caso não seja esse o entendimento do júri, que reconheçam pelo menos o homicídio privilegiado. É muito importante ressaltar que, não pode haver nenhuma duvida quanto a culpa do acusado ou este será declarado inocente, em razão do princípio do in dúbio pro reo. Roberto Lyra afirma que, o nosso sistema judiciário favorece o acusado na medida em que lhe dá o benefício da última palavra no debate, o proveito da dúvida e a liberdade de afirmação e de orientação perante o público. 3.1.8 Legítima defesa da honra Durante décadas a legitima defesa da honra foi á tese mais apresentada pelos advogados de defesa para assassinos que matavam suas esposas, companheiras, amantes e namoradas. Bastavam alegar que estavam lavando sua honra com sangue que sua absolvição era certa. Em 1940 houve algumas alterações no código Penal e atualmente essa tese não é mais aceita, pois, tratava- se de um acobertamento de vingança. A legítima defesa da honra na verdade era usada como uma maneira de perdoar a conduta do acusado. Por se tratar de uma sociedade machista, as pessoas precisavam de uma “desculpa” para aceitar a conduta do homicida passional. Evandro Lins e Silva diz que Nos casos passionais, a legítima defesa da honra foi uma criação dos próprios advogados para chegar a um resultado favorável que fosse além do privilégio. Com isso, tornou-se muito frequente, aconteceu em inúmeros casos – eu próprio defendi diversos – o júri aplicar uma pena que equivalia à pena do homicídio culposo. Isso era possível porque, no exercício da legítima defesa, a própria lei prevê um excesso culposo, (...) “Como o réu 31 era primário, o juiz normalmente aplicava uma pena de dois anos, que permitia a concessão do sursis”. Nesse caso, o acusado não ia para a cadeia e em dois anos, estava livre de qualquer dívida para com a justiça. (O salão dos passos perdidos, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1997). O criminoso passional sempre valorizou a sua honra, por isso o indivíduo é capaz de cometer o delito para lavar sua honra com sangue, julgando que desta forma, mostrará à sociedade que tinha domínio sobre o outro e que não poderia ter sido desprezado. Essa honra que os passionais tanto mencionam tem sentido deturpado, nada mais é do que uma conotação machista, arcaica e inadequada ao emprego correto do termo. A honra é na verdade um bem pessoal e intransferível. A mulher não porta a honra do marido ou vice-versa. Destarte Luiza Nagib Eluf. O homem que mata a companheira ou ex-companheira, alegando questões de “honra”, quer exercer, por meio da eliminação física, o ilimitado direito de posse que julga ter sobre a mostrar isso aos outros. Não é por acaso que a maioria dos homicidas passionais confessa o crime. Para eles, não faz sentido matar a esposa supostamente adúltera e a sociedade não ficar sabendo.. .( Eluf , 2009, p.197): A constituição federal em seu artigo 5º inciso I equipara homens e mulheres, em direitos e obrigações, proibindo qualquer tipo de discriminação, o que torna a tese da legitima defesa da honra inconstitucional. Exemplos de jurisprudências: Candente, como é de seu vezo, o ilustre e saudoso penalista Nélson Hungria, dizia: „o amor que mata, amor-Nemésis, o amor açougueiro, é uma contrafação monstruosa do amor. O passionalismo que vai até o assassínio, muito pouco tem a ver com o amor. Efetivamente, não é amor, não é honra ferido, esse complexo de concupiscência e ódio, de torvo ciúme e estúpida prepotência que os Otelos chamam sentimento de honra, mas que, na realidade, é o mesmo apetite que açula a unciatigris para a caça e a carnagem (TJSP, Rec., Rel. Camargo Sampaio, RJTJSP 53/312). 32 José Frederico Marques, depois de salientar que não há desonra para o marido na conduta da esposa, acrescenta judiciosamente que „tais atos traduzem, antes, desforço e vingança, por isso que a ofensa já estava consumada‟ (Curso de Direito Penal, vol. II/122). Na verdade, o sangue não lava, mancha. A honra, ensina Basileu Garcia, no sentido de pudicícia ou pudor – esta sim – pode ser objeto de legítima defesa. Suponha-se uma mulher assaltada por alguém que lhe quer macular a honra, atentando contra seu pudor. Ela tem o direito de matar, se necessário, o ofensor, em legítima defesa (Instituições de Direito Penal, vol. I, t. I/312)(TJSP, AC, Rel., Rocha Lima, RJTJSO 36/292). A tese da legítima defesa da honra deixou de ser aceita no Brasil quando causou a indignação em organizações internacionais de defesa dos direitos humanos como a Americas Watch, que publicou um relatório denominado Injustiça Criminal, falando não só da legítima defesa da honra como também de outras modalidades de violência praticadas contra as mulheres brasileiras. E foi a partir desse momento, que os tribunais brasileiros começaram a rever alguns conceitos e não mais aceitar essa tese. 3.1.9 Homicídio privilegiado. O homicídio privilegiado foi adotado pela legislação com uma tentativa de diminuição da pena. O assassino passional não fica impune, porém, tem a chance de redução da pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), o que refere ao homicídio simples. Está previsto no art. 121, § 1° do Código Penal, que diz “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço”. Para Nélson Hungria a emoção é um estado de ânimo ou consciência caracterizada por uma viva excitação do sentimento. Mirabete (2006, p. 218) afirma que a “emoção é um estado afetivo que, sob uma impressão atual, produz repentina e violenta perturbação do equilíbrio psíquico”. 33 Existe uma grande diferença entre emoção e paixão. A primeira resume-se a uma reação de perturbação afetiva, rápida, porém passageira, já a segunda é um estado crônico, e continuo de perturbação afetiva. A emoção e a paixão não excluem a imputabilidade do homicida passional e muito menos anulam sua consciência. Ou seja, mesmo que uma pessoa seja tomada por fortes sentimentos, ela ainda sim possui discernimento e compreensão das coisas e é responsável pelos atos que pratica. A lei só beneficia o agente que comete um crime sob violenta emoção quando parte de injusta provocação da vítima e a reação do agente ocorre logo em seguida. Luiza Nagib Eluf afirma que: A violenta emoção, somente poderá atenuar a pena imposta se a reação do agente ocorrer logo em seguida a injusta provocação da vítima. Tal situação é difícil de configurar nos casos de crime passional, pois a paixão não provoca reação imediata, momentânea, passageira, abrupta. A paixão que mata é crônica e obsessiva; no momento do crime, a ação é fria e se revela premeditada. O agente teve tempo para pensar e, mesmo assim, decidiu matar. Na grande maioria das vezes, não há nenhuma „provocação‟da vítima, mas apenas a vontade de romper o relacionamento, o que não pode ser considerado provocação. O desejo de separação ou eventuais críticas ao comportamento do companheiro ou namorado não podem ser considerados suficientes para causar a violenta emoção que ameniza a punição de condutas homicidas.( ELUF, 2009,p.191). No caso do crime passional é extremamente difícil que o criminoso cometa o crime logo após a provocação de sua vítima, na maioria dos casos esse tipo de crime é premeditado pelo assassino. Alguns exemplos de jurisprudência: “O impulso emocional e o ato que dele resulta devem seguir-se imediatamente à provocação da vítima para configurar o homicídio privilegiado (art. 121, § 1°, CP). O fato criminoso objeto da minorante não poderá ser produto de cólera que se recalca, transformada em ódio, para uma vingança intempestiva” (TJSP, AC, Rel. Marino Falcão, RT 622/268). 34 “Não se compadece com a legítima defesa, nem com a hipótese de violenta emoção, que autoriza a conclusão do homicídio privilegiado, a conduta de quem vai armar-se para dar continuidade a atrito inicial, pois ambas exigem que a reação seja incontinenti, sineintervallo. As agressões findas ou pretéritas não a podem configurar” (TJSP, AC, Rel. Dirceu de Mello, RT 585/296). Atualmente os advogados utilizam a tese de violenta emoção parar tentar provar que seu cliente encontrava-se fora de si e sem condições de controlar seus sentimentos no momento do crime. Porém, a legislação deixa bem claro que a única forma da violenta emoção atenuar a pena é se a reação do agente ocorrer logo em seguida á injusta provocação da vítima, o que não acontece na maioria dos casos, pois se tratando de crime passional, a paixão não provoca reação imediata, do agente pois o criminoso passional geralmente premedita todos os seus atos. 35 4. OS HOMICIDAS PASSIONAIS 4.1. PERFIL DOS HOMICIDAS PASSIONAIS. Os homicidas passionais possuem diversas características, são pessoas dependentes, possessivas, egocêntricas e bastantes cruéis quando se sentem rejeitadas. Porém as duas primeiras são as que mais se destacam. Na primeira, há traços que indicam um domínio sobre a vida do agente perante a vítima. Enquanto na segunda, há um exercício de domínio e autoridade do agente sobre a vítima, sendo esta um objeto de posse. O homicida passional raramente se arrepende do delito cometido, pelo contrário, glorificam sua conduta por julgarem ser correta aos olhos da sociedade. Para Luiza Nagib Eluf. O autor de crime passional possui uma ilimitada necessidade de dominar e uma preocupação exagerada com sua reputação. “O horror ao adultério se manifesta claramente, mas não pelo que este último significa para o relacionamento a dois e sim em face da repercussão social que fulmina o homem traído”.( ELUF, 2010,p.138). Geralmente os homicidas passionais valorizam muito que os outros pensam. E quando ocorre o fim do relacionamento esses sentem vergonha em assumi-lo para sociedade, porque temem o julgamento moral que vão receber. O crime passional, na maioria das vezes é cometido por homens. Isso porque sempre fizemos parte de uma sociedade machista, onde a mulher sempre foi vista como um objeto do homem. Mas a mulher vem ganhando destaque na mídia pelo fato de que quando cometem crimes passionais, costumam ser mais violentas e calculistas. 36 Os homicidas passionais possuem uma grande necessidade de autoafirmação. Não existe amor eles na verdade cruéis frios e bastante calculistas são capazes de fazer as maiores atrocidades para mostrar quem manda. Eles acham que só vão recuperar o prestígio social que possuíam antes da traição, com a violência, com a morte. O estudo realizado permitiu entender que um homicídio passional é a morte de uma pessoa causada por outra, onde havia uma relação afetiva sexual ou não e um vínculo muito forte, arrebatador, possessivo, denominado „paixão‟. Amor e ódio, nesse contexto, fazem parte da mesma moeda, mas o amor não causa malefícios, então seria contrário à paixão, que pode impulsionar a humanidade ou destruí-la, conforme a ceara de sentimentos que predominar (do estado platônico à ira). 4.1.2 Casos reais 4.1.3 Crime da fera da Penha Neide Maria Lopes ficou conhecida como a “fera da Penha” por ter sido autora de um dos crimes que chocou a população do Rio de janeiro na década de 60 por ter sido cometido com requintes de crueldade. Neide Maria Lopes teria conhecido Antônio Couto Araújo na estação Pedro II (atual Central do Brasil) em fins de 1959, tendo começado relacionamento amoroso por algum tempo. Após alguns meses de relacionamento Neide, descobre que Antônio é casado e pai de duas crianças, a mesma pede para Antônio abandonar sua família para ficar somente com ela e quando percebe que seu pedido não será atendido Neide vê seus sonhos ir por agua abaixo e decide se vingar da afronta de Antônio de uma forma que ele jamais esqueceria. Para se vingar de Antônio, Neide se aproximou de sua esposa Nilza e da filha do casal, Tânia, de 4 anos. Após ganhar a confiança de Nilza, Neide resolveu por em prática seu plano de sequestrar Tania. 37 Na tarde de 30 de junho de 1960, Neide liga para o Instituto Joemar, escola onde Tânia estudava e se passando pela mãe Nilza fala que Tânia terá que sair mais cedo e uma vizinha irá busca-la chegando no local se passou por Odete, conseguindo ludibriar funcionários retirou Tânia do local, tendo perambulado com a criança durante o final da tarde e início da noite pelo bairro da Penha. Ao chegar ao Instituto, por volta das 14h, para levar a merenda de Tânia, Nilza descobre que sua filha havia sido retirada por outra mulher, e desesperada liga para o marido e comunica o sequestro à polícia. Ao cair da noite, por volta das 20h, Neide leva Tânia a um galpão do Matadouro da Penha. Munida de um revólver calibre 32, Neide atira na cabeça da criança à queima roupa. Tentando ocultar o cadáver, Neide ateia fogo no corpo de Tânia, evadindo-se do local pouco tempo depois. Porém, foi vista por funcionários do matadouro que comunicaram o ocorrido à polícia. O corpo de Tânia estampou os jornais do dia seguinte, comovendo toda a população. A assassina comete um homicídio triplamente qualificado em concurso material com crime de sequestro. Neide Maria Lopes, tinha 22 anos de idade na época do crime seu estado civil, solteira, sua profissão, comerciária, e a motivação do crime: ciúme e vingança pois Neide teria um relacionamento amoroso com o pai da vítima. 4.1.4 O crime de Lindomar Castilho O cantor Lindomar Castilho,cujo nome verdadeiro é Lindomar Cabral, (nascido em 21 de janeiro de 1940, Rio Verde, GO)deixa as paradas de sucesso para se tornar protagonista de um dos crimes de maior repercussão do Brasil, teve sua vida mudada após matar sua ex-mulher Eliana Grammont, na data do dia 30 de março de 1981. O crime aconteceu em 1981 no bar Belle Époque, em São Paulo. Lindomar desferiu 5 tiros da plateia em direção ao palco, sendo que um deles matou Eliane. 38 Carlos Randall primo de Lindomar ficou ferido. Eliana e Lindomar se casaram dois anos antes do crime. O cantor, como é dito no livro, era agressivo, ciumento, bebia sem moderação. Quando Eliana foi morta, fazia 20 dias que o desquite havia sido formalizado. Lindomar descobriu que a ex-mulher tinha um caso com seu primo Carlos Randall e ainda o culpa. Lindomar foi condenado á 12 anos pelo assassinato de Eliane e permaneceu 7anos na prisão. 4.1.5 O crime Margot Proença Gallo. O crime ocorreu no dia 7 de Novembro de 1970 e chocou a população de Campinas. Augusto Carlos Eduardo da Rocha Monteiro Gallo era procurador de justiça, casado com Margot Proença Gallo, e pai de três filhos, sendo um deles de criação. Segundo o depoimento de Gallo, ele já desconfiava que sua mulher o estivesse traindo. Dias antes do crime ele, seguiu a esposa até o correio, e no momento em que ela ia postar uma carta ele conseguiu tomar a carta de sua mão e chegar em casa verificou que era uma declaração de amor para um professor francês que havia dado um curso em Campinas em que Margot fora sua aluna. Nesse dia os dois discutiram e Gallo apontou uma arma para Margot e a obrigou entrar no carro. Ele a agrediu e fez várias ameaças, tentando inclusive jogar o veículo contra alguma coisa para que ambos morressem. Margot conseguiu fugir, quando voltou para casa foi acompanhada por um Delegado Luiz Hernandes que tentou acalmar os ânimos. Não satisfeito com o que tinha descoberto Gallo, então, iniciou uma investigação particular para encontrar as provas de infidelidade de Margot, inquirindo várias pessoas que tinham de alguma forma, convivido com a família. Depois, levou as suas testemunhas para contar o que sabiam ao juiz de família da Comarca, já preparando um desquite por culpa da mulher. Com todas essas evidências, Gallo marcou um encontro decisivo com Margot para discutirmos desquite, que, dizia ele, 39 seria amigável. Exigiu que a sogra não estivesse presente no encontro, já que ela vinha acompanhando as discussões do casal e poderia querer ajudar a filha. Na data do encontro, que terminou em tragédia, ele chegou a casa e encontrou a mulher na porta. Entraram juntos. Gallo narra que, naquele momento, falava com dificuldade por estar deprimido, moralmente arrasado e sob o efeito de medicamentos. Começou dizendo que, no desquite, ele ficaria com os filhos, pois Margot não teria condições morais para guardá-los. Além disso, após a separação, ela de veria sair da cidade porque emporcalhara o se u bom nome, coisa que ele muito prezava, transformando-o em “corno”, maculando a casa dos filhos ao dormir nela com outro homem . Ao ouvir as imposições do marido, Margot ficou enraivecida e disse não concordar com nada do que ele queria. Afirmou que ele era um “burguesinho”, preso a nojentas convenções sociais, e admitiu que ela, Margot, havia realmente tido outros homens. Nesse momento, segundo a versão de Gallo, ele viu que havia uma faca sobre o armário e pegou-a, desferindo o primeiro golpe na mulher. Entraram em luta corporal e ele desferiu outras dez facadas na esposa, causando sua morte. Os casos reais apresentado acima, mostra que a violência do crime passional pode ser praticado por homens e mulheres os sentimentos de ciúmes, vingança e ira não escolhem suas vitimas, todos estamos sujeitos a senti-los, porém, a maneira de expressar é o que faz diferença. 40 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O crime sempre existiu na sociedade, até mesmo nos tempos mais remotos, porém, o homicídio passional vem aumentando de forma alarmante, visto que não há uma condenação considerável com relação a esse delito, a pena é sempre leve considerada a outra espécie de crime. Ninguém mata por amor, o criminoso passional prefere destruir totalmente a „coisa‟ amada, pois, (a pessoa deveria ter valor), a coisa não, na visão do homicida passional ele tem total poder sobre a vida e a morte da pessoa, sendo assim: diz matei por amor, o réu tem o falso conceito de que ele tem total controle sobre toda e qualquer situação e sobre a „coisa‟ de posse. Partindo desse pressuposto, é possível ter noção do perfil de um criminoso passional, podendo este ser enquadrado nas características de um narcisista, possui descontrole sobre seu estado emocional, adora ser bajulado, e não corresponde ao amor oferecido pelo cônjuge. O criminoso passional antes de executar o crime, sabe que a pena será considerável pequena e que a vítima não terá mais como causar ciúmes e intrigas. A literatura que foi pesquisada aponta que não existe como traçar o real perfil do criminoso passional, apenas assemelhar suas características ao narcisista, visto que nem mesmo o criminoso acredita na sua capacidade de realizar tal feitio. Os sentimentos que estão por trás dessa conduta (ciúme) geralmente desencadeiam outros sentimentos como ódio, raiva e paixão doentia. Não há nada que justifica um homicídio, mesmo que algumas teses garantam que o réu passional tenha a pena coerente, pois, as teses servem apenas para rezar o cometimento daquele crime, porém, não pode justificá-lo. A tese de defesa de honra é a mais conhecida na defesa de réus passionais, porém, não é uma tese prevista legalmente, ou seja, é apenas uma ficção doutrinária. A honra é única da pessoa e não há como transferi-la para terceiros, ou seja, não tem com o a mulher portar a honra do marido ou o marido portar a honra da esposa. Outra tese de grande conhecimento que é levantada ao Tribunal do Júri, é a tese de homicídio privilegiado, onde o criminoso passional sofre variação devido a emoção descontrolada seguida de provocações da vítima e executa o crime. Essa 41 tese é válida, porém, é difícil defender um criminoso passional, pois, o crime em sua maioria é premeditado. Quando o homicida passional é questionado sobre seu crime, este procura se promover, tentando afirmar ser um indivíduo de bom caráter, que não desejou ceifar a vida da vítima, e que nem mesmo ele acredita que teve capacidade de executar o crime. Como se há de verificar, foi a partir da década de 90 que o homicídio passional passou a ser considerado como crime hediondo, onde a pen a pode oscilar em doze a trinta anos de reclusão. A causa do crime é vista pelos doutrinadores como sendo de motivo torpe e é qualificado quando o agente mata por vingança. 42 6. REFERÊNCIAS ALVES, Roque de Brito. Ciúme e Crime. Rio de Janeiro: Forense, 1984. BONAVIDES, Renata. Crimes passionais ou amor patológico? Porto Alegre: Paixão, 2009. DELMANTO, Celso. Código penal comentado. 6ª ed. atualizada e ampliada. Rio de Janeiro: Renovar, 2002 DICIONÁRIO Online Michaelis. Disponível em:<http://www.michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 15 de setembro 2017. ELUF, Luiza Nagib. 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