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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Professor Me. Paulo Pardo GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; PARDO, Paulo. Planejamento Estratégico. Paulo Pardo. (Reimpressão revista e atualizada) Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 186 p. “Graduação - EaD”. 1. Planejamento. 2. Estratégico. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0415-1 CDD - 22 ed. 658.4 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Coordenador de Conteúdo Paulo Pardo Qualidade Editorial e Textual Daniel F. Hey, Hellyery Agda Design Educacional Deborha Caroline Batista Rodrigues Iconografia Amanda Peçanha dos Santos Ana Carolina Martins Prado Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa André Morais de Freitas Editoração Victor Augusto Thomazini Revisão Textual Ana Caroline de Abreu Talita Dias Tomé Yara Martins Dias Ilustração Marta Sayuri Kakitani Marcelo Goto Luis Ricardo Prado Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis- so, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R Professor Me. Paulo Pardo Doutorando em Engenharia da Produção pela Universidade Metodista de Piracicaba. Mestrado em Administração pela Universidade Estadual de Londrina. Atualmente, é coordenador dos cursos de Gestão Pública, Negócios Imobiliários e Gestão Hospitalar do Núcleo de Educação a Distância da Unicesumar. Trabalhou na coordenação geral de polos de Educação a Distância da Unicesumar, celebrando convênios de parceria entre polos e a IES, bem como na gestão de relacionamento com os polos próprios e parceiros. Trabalhou na coordenação do projeto de novos cursos de pós- graduação na Unicesumar. Foi professor no CHSA - Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da Unicesumar - Centro Universitário Cesumar. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração de Empresas, atuando principalmente nos seguintes temas: sistema financeiro nacional, bolsa de valores, mercado de ações, logística. É professor de pós- graduação na área de Administração da Unicesumar, na cidade de Maringá, PR. É autor de livros didáticos para Educação a Distância nas áreas de Logística, Mercado Financeiro e de Capitais, Marketing e Gestão Ambiental, Teoria Geral da Administração. SEJA BEM-VINDO(A)! Nos últimos anos, temos nos deparado com algumas frases que já se tornaram jargões, do tipo: “vivemos em um mundo altamente competitivo”. Bem, isso não é exatamente uma novidade para você, não é mesmo? Assim como também não é novidade termos como globalização, terceirização (ou outsourcing), inovação, empreendedorismo, estra- tégia. Quantas vezes você já ouviu ou leu a respeito disso nos últimos tempos? Torna-se claro que são termos que ganharam força por algum motivo. E esse motivo talvez possa ser resumido em uma palavra: sobrevivência. É isso mesmo! Sobrevivência de uma empresa ou de um negócio tornou-se algo tão difícil, que é preciso pensar formas de se conseguir vencer esse desafio. Para comprovar como conservar um negócio realmente é complexo, dê atenção, na pró- xima vez que caminhar pela rua, na quantidade de pontos comerciais fechados com pla- cas de “aluga-se”. Exatamente nesses pontos comerciais havia um sonho, que se tornou realidade e talvez tenha prosperado porum tempo, mas que agora não existe mais. O sonho transformou-se em um pesadelo. Muitas famílias podem ter sido afetadas pelo fechamento daquela empresa. Agora multiplique essa situação por uma cidade intei- ra, um estado, um país. Quando pensamos que a sociedade depende das organizações para atender suas necessidades, ver uma empresa – que é um dos exemplos mais evi- dentes de organização – fechar suas portas é uma notícia ruim para todos. Por outro lado, vemos também que muitas empresas abrem suas portas, talvez com uma pequena instalação no início, mas, em um período curto de tempo, conseguem prosperar, crescer e estão atuantes no mercado já há muitos anos, demonstrando soli- dez e sendo a primeira escolha de um contingente importante de clientes. Dessa forma, surge naturalmente a pergunta: por que algumas empresas prosperam e mantêm-se no mercado enquanto outras fecham suas portas, talvez sendo do mesmo segmento econômico? A resposta está ligada a um dos termos mencionados no início: estratégia. Na verdade, nenhum empreendimento humano deveria ser realizado sem uma estratégia claramen- te definida. Desde empreendimentos pessoais (como casar, cursar uma universidade, mudar de país etc.), até empreendimentos corporativos, deveriam ser amparados por uma estratégia que direcione as ações a serem desenvolvidas. Mas, afinal, o que é estratégia? Como está relacionada ao planejamento empresarial? O que um gestor deve levar em consideração ao formular a estratégia de sua organização? Esses são pontos importantes que consideraremos em nosso livro. Ao longo de nossas unidades, trataremos dos seguintes assuntos: Na unidade I, veremos a origem e os conceitos fundamentais da estratégia e planeja- mento estratégico. Abordaremos como as organizações, desde cedo, incorporaram os conceitos de estratégia para se manterem e prosperarem no mercado. APRESENTAÇÃO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Na unidade II, trataremos de como se dá o planejamento estratégico nas organi- zações nos seus diversos níveis, partindo do nível da alta administração (também chamado de nível estratégico), passando pelo nível tático, até atingir o nível ope- racional. Veremos, também, os impactos do ambiente no planejamento estratégico das organizações. A unidade III apresentará os diversos públicos interessados (stakeholders) de uma organização. Nessa unidade, você verá a importância da definição de uma visão e missão empresarial, traçando objetivos de longo prazo, respeitando-se os valores organizacionais. A unidade IV focará a natureza da vantagem competitiva e como as organizações podem construir essa vantagem. Abordaremos como se processam as estratégias no nível da Unidade de Negócio, fundamental para que a organização atinja os re- sultados almejados. Fechando nossas considerações, a unidade V tratará das ferramentas da gestão es- tratégica, com recorte para as ferramentas mais populares e utilizadas. Apresentare- mos, também, a abordagem da Visão Baseada em Recursos e o Balanced Scorecard (BSC), uma das principais ferramentas da elaboração das estratégias pelas organi- zações. Aproveite esse conteúdo, não só para sua formação, mas também para aplicar os fundamentos tratados em uma organização, fazendo diferença, contribuindo para que essa organização se perpetue em suas atividades, beneficiando o público a que se destina suas operações. Não deixe de acessar os materiais complementares apresentados a você em cada uma das unidades. O tema Planejamento Estratégico possui uma literatura extensa e não é objetivo desta obra esgotar o assunto, mas, sim, apresentá-lo a conceitos essenciais e des- pertar em você o desejo de aprender mais. Bons estudos! APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS 15 Introdução 16 Estratégia – Origem do Conceito 22 Estratégia Segundo Uma Visão Não Convencional 26 Um Breve Histórico Sobre Estratégia nas Organizações 34 Considerações Finais 39 Referências 40 Gabarito UNIDADE II IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE AS ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS 43 Introdução 44 O Planejamento nas Organizações 51 Os Princípios de Planejamento de Ansoff 55 A Questão Ambiental no Planejamento Organizacional 62 Os Diversos Níveis do Planejamento Organizacional 71 Considerações Finais 76 Referências 77 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE III ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL - DIAGNÓSTICO E PROPOSIÇÕES 81 Introdução 82 Os Públicos Interessados nas Organizações 85 Definindo a Missão Estratégica da Organização 90 Definindo a Visão Estratégica e os Valores da Organização 96 Propondo Objetivos Organizacionais 103 Considerações Finais 108 Referências 109 Gabarito UNIDADE IV PLANEJANDO AS ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS 113 Introdução 114 Natureza da Vantagem Competitiva 127 Construindo a Vantagem Competitiva nas Organizações 140 Estratégias de Unidades de Negócio 144 Considerações Finais 148 Referências 149 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE V FERRAMENTAS PARA O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 153 Introdução 154 Ferramentas Para Análise do Ambiente 169 A Cadeia de Valor e a Visão Baseada em Recursos (VBR) 175 O Balanced Scorecard (BSC) 180 Considerações Finais 184 Referências 185 Gabarito 186 CONCLUSÃO U N ID A D E I Professor Me. Paulo Pardo ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar as origens do conceito de estratégia. ■ Discutir uma visão alternativa de estratégia nas organizações. ■ Conhecer o histórico de estratégias nas organizações. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Estratégia - origem do conceito ■ Estratégia segundo uma visão não convencional ■ Um breve histórico sobre estratégia nas organizações INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), os gestores estão cada vez mais preocupados e envolvidos em formulações estratégicas em suas empresas, com o propósito de fazer com que elas se mantenham, cresçam e se perpetuem no mercado. Seria mais um modismo dos livros de pop management? A expressão pop management se aplica a uma literatura cada vez mais abundante de autores que oferecem soluções pron- tas para todos os possíveis problemas empresariais. Geralmente, está envolvida uma nova e revolucionária ferramenta que se aplicará ao caso da empresa e que será a solução definitiva para todos os problemas. Embora considere interessante algumas dessas obras, exageros acontecem. Em sua formação, é preciso não só conhecer as ferramentas principais, que são utilizadas hoje em gestão estratégica, mas também serem apresentados os fun- damentos conceituais e teóricos dessa importante disciplina. É verdade que toda decisão, todo plano formulado envolve o futuro. Ninguém toma uma decisão pensando em resultados no passado, nem ao menos no pre- sente. Pensamos no futuro, em longo prazo, talvez vários anos à frente ou daqui a apenas alguns meses ou dias. Para ter um certo grau de previsão do que se pre- tende atingir, é preciso direcionar os esforços pessoais ou empresariais mirando no objetivo a ser alcançado. É como tentar chegar com um grande navio a um determinado porto. O navio não chegará ao destino se não for direcionado ao rumo correto. Direcionar um grande navio em uma direção é bastante complexo, não é como estacionar um carro. Assim, também, fazer uma organização chegar a um objetivo requer que seus gestores envidem grandes esforços em pensar o rumo e as estratégias que serão executadas para isso. Por conta disso, nesta unidade, vamos conhecer os fundamentos da estraté- gia. É um tema importantíssimo para esse início de consideração sobre a gestão estratégica nas organizações. Bons estudos! Introdução Repr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 ESTRATÉGIA – ORIGEM DO CONCEITO O ser humano é um ser social, ou seja, vive em grupo, em comunidade, pois entende que é na comunidade que ele terá suas necessidades satisfeitas. Ao mesmo tempo em que é um ser social, é também um ser beligerante. É só você analisar os livros de história, que perceberá como a guerra parece estar em nosso DNA. Guerras foram travadas por território, por poder, por riquezas e até por amor! Vencer uma guerra é um objetivo que os comandantes militares precisam conquistar. Há cerca de 2500 anos, por volta de 500 a.e.c., um filósofo chinês (alguns livros de história também afirmam que ele era ao mesmo tempo general) escre- veu um livro que se tornou muito famoso através das eras: “A Arte da Guerra”. Esse livro é interessante para nós, pois ensina, pelo ponto de vista do general, que é o principal responsável pelo resultado da batalha, como enfrentar inimi- gos, lutando ou não. Isso mesmo! Por vezes, é possível vencer o inimigo sem luta! Ribeiro (2012, p. 10) destaca uma das frases de Sun Tzu, que dizia “se você se conhece e ao inimigo, não precisa temer o resultado de uma centena de bata- lhas”. Diz-se que o livro “A Arte da Guerra” era um livro de cabeceira de Napoleão Bonaparte, considerado um dos maiores gênios militares de todos os tempos. Napoleão, segundo alguns livros de história sugerem, utilizava as estratégias aprendidas nesse livro para suas batalhas. Entre elas, estava a estratégia de cortar as linhas de fornecimento de alimentos e armas de seus inimigos, que acabavam se rendendo por não ter como manter a luta. Atribui-se a Napoleão uma frase interessante: “os soldados caminham sobre seus estômagos”, ou seja, soldados famintos têm seu moral abalado para travar batalhas. Esse livro tornou-se referência para executivos modernos, pois esses enxer- gam nos ensinamentos de Sun Tzu lições aplicáveis ao mundo empresarial, especialmente quando trata de estratégia. A palavra “estratégia”, de acordo com Ribeiro (2012), deriva do grego “strategos”, que tem o significado de general no comando de suas tropas. Oliveira afirma que o significado literal seria “a arte do general”, pois strategos significaria, estritamente, general. Oliveira (2013, p. 188) destaca que Estratégia – Origem do Conceito Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 Estratégia, na Grécia antiga, significava aquilo que o general fez. Antes de Napoleão, estratégia significava a arte e a ciência de conduzir forças militares para derrotar o inimigo ou abrandar os resultados da derrota. Na época de Napoleão, a palavra estratégia estendeu-se aos movimen- tos políticos e econômicos visando a melhores mudanças para a vitória militar. [...] de forma genérica, estratégia é a ciência dos movimentos guerreiros fora do campo de visão do general; e a tática, a ciência dos movimentos guerreiros dentro do referido campo. Nas guerras do mundo real, os inimigos são conhecidos: é um país A lutando contra o país B, ou um país A lutando contra um grupo terrorista B. No mundo empresarial, quando aplicamos os conceitos de estratégia, as coisas são um pouco mais complexas, mas os conceitos oriundos do mundo militar nos interessam, pois há, no mundo organizacional, especialmente no segmento empresarial, uma disputa, que pode ser bastante acirrada. A disputa pode ser para a conquista de novos mercados, novos clientes, manter os clientes atuais, ser a preferência na mente das pessoas. Podemos até não aceitar o sentido de estratégia bélica, isto é, estratégia de guerra. Afinal, não vemos armas, canhões ou bombas disparadas de uma empresa em direção à outra. Mas a ideia de conhecer o “inimigo”, ou seja, o concorrente, além de conhecer a si mesmo, está, sim, bastante presente no campo empresarial. Por conta disso, vamos oferecer algumas definições de estratégia que podem ser aplicáveis ao mundo organizacional, que carregam vários aprendizados das guerras militares. Uma primeira definição poderia ser: Estratégia é a arte de planejar e colocar o plano em ação, com o obje- tivo de alcançar ou manter posições relativas e potenciais favoráveis a futuras ações táticas sobre um objetivo e procurar condições favoráveis para alcançar objetivos específicos, ou seja, é o programa geral para a consecução dos objetivos de uma organização e, portanto, para o de- sempenho de sua missão. (RIBEIRO, 2012, p. 11). Outra definição bastante interessante é a de Oliveira (2013, p. 188), afirmando que Numa empresa, a estratégia está correlacionada à arte de utilizar, ade- quadamente, os recursos físicos, tecnológicos, financeiros e humanos, tendo em vista a minimização dos problemas internos e a maximização das oportunidades que estão no ambiente empresarial, o qual não é controlável. ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Mintzberg e Quinn (2001 apud SERTEK; GUINDANI; MARTINS, 2012, p. 104) colocam duas definições que, para nós, são bastante relevantes: Estratégia - Padrão ou plano que integra as principais metas, políticas e sequência de ações em uma organização em um todo coerente. Uma estratégia bem formulada ajuda a ordenar e a alocar os recursos de uma organização para uma postura singular e viável, com base em suas competências e deficiências internas relativas, mudanças no ambiente antecipadas e providências contingentes realizadas por oponentes in- teligentes. Estratégia empresarial - O padrão de decisões em uma empresa que determina e revela seus objetivos, propósitos ou metas, produz as prin- cipais políticas e planos para a obtenção dessas metas e define a escala de negócios em que a empresa deve se desenvolver, o tipo de organiza- ção econômica e humana que pretende ser e a natureza da contribuição econômica e não econômica que pretende proporcionar a seus acionis- tas, funcionários e comunidades. Outros autores, Hill e Jones (2012, p. 4), colocam esse conceito de uma forma direta para o mundo organizacional, por afirmarem que estratégia é “[...] um conjunto de ações que os gestores adotam para melhorar o desempenho de uma empresa em relação a suas concorrentes”. Assim, para Hill e Jones (2012), quando uma empresa consegue ter uma estratégia que lhe proporcione um desempenho superior em relação aos seus con- correntes, pode-se afirmar que essa empresa possui uma vantagem competitiva. Um trabalho que gostaria especialmente de destacar é o de Alfred DuPont Chandler, autor do livro “Strategy and structure”, publicado em 1962, que apregoa que a estrutura da organização depende da estratégia e não o con- trário, como se pensava até então. Por toda sua contribuição aos estudos de estratégia como uma disciplina, Chandler é considerado o “pai da estra- tégia”. Fonte: adaptado de Sertek, Guindani e Martins (2012). Estratégia – Origem do Conceito Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Ter uma vantagem sobre concorrentes é algo fácil de nós abstrairmos, não é verdade? Pense em uma corrida de 100 metros rasos nos jogos olímpicos. Um atleta, como Usain Bolt, consegue uma vantagem sobre seus concorrentes por estar àfrente deles na linha de chegada. No caso de empresas, uma empresa tem uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes quando consegue resultados superiores e um desses resultados, sem dúvida, é a lucratividade. Por lucratividade, entendemos o retorno financeiro que a empresa obtém sobre o capital investido na sua atividade. Todo empresário espera que isso aconteça. Afinal, ninguém coloca seu capital em risco para sofrer perdas, não é verdade? Um empreendedor, um investidor, espera que o retorno que obtenha com uma atividade seja positivo e mais, que ele seja superior a uma alternativa de menor risco. Conforme Hill e Jones (2012, p. 5) bem destacam, [...] uma empresa que usa seus recursos de maneira eficiente tem um retorno positivo sobre o capital investido. Quanto mais eficiente for a empresa, mais alta é a lucratividade e maior é o retorno sobre o capi- tal investido. A lucratividade de uma empresa – o seu retorno sobre o capital investido – é determinado pelas estratégias que seus gestores adotam. Perceba como a estratégia está envolvida no sucesso organizacional. E ela, con- forme bem destacado, é responsabilidade de seus gestores. Ou, em uma analogia com o que vimos de “A Arte da Guerra”, os gestores são como os generais de uma empresa. A responsabilidade é imensa. Atribui-se a Abraham Lincoln uma frase célebre: “quando o estrategista erra, o soldado morre” (OLIVEIRA, 2013, p. 185). Poderíamos aplicar ao mundo organizacional por dizer que, quando o gerente erra, a empresa morre. Estudar, entender e aplicar estratégias é vital para a sobrevivência da organização. É interessante pontuarmos que, como todo conhecimento, a forma como entendemos atualmente estratégia organizacional foi construída ao longo do tempo e recebeu a contribuição de diversos estudiosos. De acordo com Souza (2011), na administração, os estudos sobre estraté- gias contam com trabalhos importantes, como os de Alfred Chandler (1962), Kenneth R. Andrews (1971), H. Igor Ansoff (1965) e Rumelt, Schendel e Teece (1994). Além disso, outros pesquisadores e instituições contribuíram com fer- ramentas estratégicas, destacando-se: ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 ■ Michael Porter – com seu trabalho sobre o Modelo de 5 forças. ■ Consultoria Boston Consulting Group (BCG) – com a matriz Growth- share, que ficou conhecida simplesmente como matriz BCG. ■ Strategic Management Society (SMS) – organização sem fins lucrativos, fundada em 1981, que busca reunir acadêmicos, profissionais de empresa e consultores, com o objetivo de promover a pesquisa na área de gestão estratégica, reunindo mais de 1200 instituições em cerca de 80 países. Os conceitos e estudos desenvolvidos sobre estratégia foram classificados de acordo com suas abordagens, conforme demonstrado no quadro 1, a seguir. Quadro 1 – Perspectivas da estratégia organizacional PERSPECTIVA ABORDAGEM REPRESENTANTES Do conteúdo Compreender o que é necessário sa- ber para traçar a estratégia correta de determinada organização, feito pela criação de tipologias analíticas. Ansoff (1965); Rumelt (1974); Porter (1980). Visão baseada em recursos (Resource Based View – RBV) Discute fatores internos e externos da organização, bem como a posse de recursos por parte da organização, recursos construídos ao longo dos anos e que se tornam a vantagem competitiva dessa organização. Birger Wernerfelt (1984); Jay Barney (1986); Andrews (1971); Edith Penrose (1959); Philip Selznick (1966). Abordagem processual Foca a análise do cotidiano da forma- ção estratégica. Busca compreender como a estratégia é criada e realizada na organização. Johnson (1987); Petti- grew (1985); Mintzberg e Waters (1985); Mintz- berg e McHugh (1985); Mintzberg (1994). Estratégia como prática Busca compreender a estratégia como algo definido pela interação das práticas de estratégia com profis- sionais envolvidos em execução dos planos no cotidiano. Propicia a obser- vação da relação entre a perspectiva micro do cotidiano do estrategista e a perspectiva macro das práticas de- finidas para elaboração da estratégia, o que possibilita explorar como essa relação opera. Richard Whittington (1996); Weick (1979); Jarzabkowski, Balogun, & Seidl (2007); Whittington (1996); Jarzabkowski (2008). Fonte: adaptado de Souza (2011). Estratégia – Origem do Conceito Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 As pesquisas mais recentes, como ficou demonstrado no Quadro 01, estão vol- tadas para a estratégia como prática. A tabela 1 apresenta sinteticamente as abordagens demonstradas no Quadro 1. Tabela 01 - Síntese das abordagens sobre estratégias ABORDAGEM CONTEÚDO DE ESTRATÉGIA PROCESSO DE ESTRATÉGIA ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA Foco de Análise Qual é a estratégia correta para uma organização? Como a estratégia é criada e realiza- da? Como a estraté- gia é (re)definida durante sua execução pelos profissionais e ferramentas en- volvidas? Principal benefício Fornece tipologias analíticas úteis. Captura a dinâ- mica interna das organizações ao definir a estraté- gia. Observa a in- ter-relação de gerentes, práticas e prática cotidiana na construção da estratégia. Principal crítica Ignora a complexi- dade da aplicação da estratégia. Foco em macro- processos, margi- naliza as ferra- mentas, atividades práticas e o poder de agência dos profissionais. Problemas na defi- nição de conceitos fundamentais para a estrutura- ção dos estudos. Fonte: Souza (2011, p. 5). É importante salientar que, como qualquer outro estudo científico aplicado na prática organizacional, as definições, conceitos e aplicabilidade da estratégia nas organizações não são um produto acabado, ou seja, sempre haverá campo para mais pesquisas, mais teorias e mais práticas relacionadas a esse tema tão relevante. ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 ESTRATÉGIA SEGUNDO UMA VISÃO NÃO CONVENCIONAL Quando tratamos de qualquer teoria ou pensamento científico, é muito produ- tivo que também procuremos verificar a existência de pensamentos discordantes da corrente dita “tradicional”. É o caso de quando estudamos estratégia. De fato, a imensa maioria dos estudos sobre estratégia apresenta teorias mais ou menos próximas quanto aos conceitos, aplicações e ferramentas. Por conta disso, aprenderemos, a partir de agora, algumas reflexões de um dos autores mais respeitados na área de gestão da atualidade, Henry Mintzberg. Mintzberg é, originalmente, do MIT (Massachusetts Institute of Technology) dos EUA, uma das universidades mais importantes do mundo. É interessante o trabalho de Mintzberg pela abordagem prática que ele procura dar aos seus estudos, ou seja, ele busca o que de fato acontece no agir organiza- cional. É o que acontece quando esse autor trata de estratégia. Mintzberg (2004, p. 33) destaca o trabalho de outra pesquisadora, a professora Mariann Jelinek, que estudou a forma como Taylor contribuiu para pensar as tarefas das organi- zações de forma rotinizada. [...] a contribuição de Taylor em suas famosas experiências no estudo formal e rotinizado do trabalho manual não foi somente para melhorar em muito os procedimentos, mas para iniciar uma verdadeira revo- lução na maneira de organizar o trabalho - “a codificação das tarefas rotineiras”. Taylor “tornou possível, pela primeira vez, a coordenação de detalhes em largaescala - com uma política de planejamento e pen- samento, acima e além dos detalhes da tarefa em si”. Isso levou a uma divisão fundamental de trabalho - entre o desempenho da tarefa e sua coordenação. E isso, por sua vez, capacitou a administração a ser “abs- trata”, distante das operações do dia-a-dia, para que “pudesse se con- centrar nas exceções.” Conforme Mintzberg (2004) destaca, Jelinek concluiu que Taylor iniciou na fábrica o que seria, mais tarde, repetido em níveis mais altos da hierarquia, che- gando aos níveis gerenciais. Com a codificação de tarefas, com o planejamento estratégico e controle, os gerentes agora poderiam administrar as exceções e dar a verdadeira direção política que as organizações exigem e não ficar imersos nos detalhes de suas tarefas. Estratégia Segundo Uma Visão Não Convencional Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 Quando trata mais especificamente sobre estratégia, Mintzberg (2004) menciona que, para a maior parte dos gestores, estratégia é um plano ou uma direção, um guia para ação futura, como um caminho a ser trilhado. Porém essas mesmas pessoas, ao descreverem a estratégia que adotaram nos últimos anos, teriam dificuldades para isso, pois o que aconteceu no passado deixa de ser uma estratégia, segundo a pró- pria definição de guia ou caminho a ser trilhado no futuro (MINTZBERG, 2004). Então, outra definição possível para o termo é que estratégia é também um padrão, entendida como um comportamento consistente ao longo do tempo, como quando uma empresa decide trabalhar com produtos destinados a classes mais abas- tadas, consolidando uma estratégia de segmentação superior. Dessa forma, teríamos como igualmente válidas duas conceituações para estratégia, aquela que informa se tratar de um plano e outra que diz se tratar de um padrão. Poderíamos classificar a que a trata como um plano, como Mintzberg (2004) sugere, de estratégia preten- dida, enquanto a que a coloca como um padrão seria corretamente chamada de estratégia realizada. O ponto crucial a ser tratado aqui é se as empresas têm como estratégia realizada sempre aquilo que um dia foi uma estratégia pretendida. A resposta – óbvia – é que nem sempre isso acontece. Como Mintzberg (2004) esclarece, se a pretensão fosse plenamente realizada, significaria previsão brilhante ou, visto de maneira pessimista, uma previsão inflexível. O outro lado, se nada do que fosse pretendido acontecesse, significaria negligência na elaboração, pois, no mundo real, pensa-se, de fato, à frente, mas também se faz correções durante o percurso. Na figura 1, a seguir, podemos ver uma ilustração dos argumentos de Mintzberg (2004). ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 Figura 1 - Tipos de estratégia Estratégia não-realizada Estratégia realizada Estratégiapretendida Estratégia deliberada Estra tégia eme rgen te Fonte: adaptada de Mintzberg (2004, p. 35). Você percebeu o que a figura 1 pretende demonstrar? A estratégia pretendida é uma estratégia deliberada, ou seja, foi previamente concebida para ser efetivada, tornando-se uma estratégia realizada. Porém nem toda estratégia pretendida se torna realmente uma estratégia realizada, percebeu? No entanto também é per- ceptível a entrada de outro tipo de estratégia, chamada de estratégia emergente. Essa estratégia emergente acontece ou se torna uma estratégia realizada, mesmo não tendo sido previamente pretendida. Como exemplo, Mintzberg (2004) cita o caso de uma empresa que não segue inicialmente uma estratégia (plano) de diversificação, porém, para teste de mercado, toma algumas decisões de diversificação, como comprar um hotel, depois um resort, logo em seguida um restaurante. Após, compra um hotel urbano com restaurante, depois mais um, mais à frente um terceiro e assim sucessivamente, até que surge uma estraté- gia (padrão) de diversificação para hotéis urbanos com restaurante. No exemplo, não houve um plano prévio, mas acabou se estabelecendo um padrão de atuação, uma estratégia realizada, que foi fruto de uma estratégia emergente. Estratégia Segundo Uma Visão Não Convencional Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 Essa talvez seja uma grande diferenciação das explicações de Mintzberg sobre o trabalho relacionado às estratégias que a maioria dos autores defende. Para esses autores, a maior parte das estratégias são processos deliberados, não se levando em conta as estratégias emergentes. Porém, para comprovar a existência e apli- cação de uma estratégia emergente, Mintzberg (2004) traz uma estatística da revista Fortune (uma das mais respeitadas revistas de negócio do mundo), que dá conta de que menos de 10% das estratégias são implementadas com sucesso. Esse fracasso muitas vezes é creditado aos níveis inferiores da hierarquia, porém somente revela a falha da formulação estratégica, pois se essa fosse bem pensada, levaria em conta a deficiência desses níveis hierárquicos subalternos. Então, para Mintzberg (2004, p. 36), “todo fracasso de implementação também é, por definição, um fracasso de formulação”. Interessante pensar isso, não é ver- dade? Se há uma separação entre formulação e implementação da estratégia, essa implementação deve ser levada em consideração na formulação. Disso advêm algumas considerações muito interessantes de Mintzberg. Uma delas é que não se pode forçar artificialmente uma separação entre formulação e implementação de estratégia. Há uma possibilidade muito maior de sucesso quando a implementação fica mais próxima à formulação, que é o que acon- tece quando os empresários estão envolvidos nessas duas fases da estratégia ou quando há um empoderamento maior dos colaboradores, como em processos de intraempreendedorismo (MINTZBERG, 2004). Outra consideração é a que sugere que a estratégia emergente não parte sempre do centro “pensante” da organização. Pode perfeitamente emanar da “periferia” da organização, como quando um colaborador implanta uma ação que dá resultado e é seguida por outros, tornando-se um padrão, uma estraté- gia. O padrão não foi planejado, mas foi assimilado em um processo coletivo (MINTZBERG, 2004). Mais uma consideração importante: a maioria dos livros de estratégia con- sidera como estratégia as coisas importantes e como táticas o que se refere aos detalhes. Pela abordagem da estratégia emergente, simples detalhes podem se tornar estratégicos. A estratégia de um é a tática de outros, enquanto o que antes foi um detalhe tático pode se tornar estratégico (MINTZBERG, 2004). ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE ESTRATÉGIA NAS ORGANIZAÇÕES Vimos no início desta unidade que as organizações lutam a batalha da sobrevivên- cia em um mercado competitivo ao extremo. Essa batalha pela sustentabilidade organizacional já seria um bom motivo para pensar em estratégias que pudes- sem dar conta de todos os desafios enfrentados atualmente. Porém precisamos entender alguns fundamentos históricos que levaram esse campo de batalha a ficar tão intensamente competitivo. Um resgate importante é o que ocorreu com a intensificação da produção em massa ocorrida no início do século XX. Como você talvez saiba, os métodos de produção mecanizados, possibilitados pela Revolução Industrial, proporcionaram um incremento da capacidadeprodutiva das fábricas, porém, com os trabalhos de Frederick W. Taylor, no início do século XX, com seus estudos de padrões de traba- lho e de tempos e movimentos, seguidos do resgate de Henry Ford dos conceitos da linha montagem, as fábricas passaram a produzir uma quantidade de produtos muito superior a qualquer outra época anterior. Estávamos agora em plena era industrial. A grande prosperidade proporcionada pelos novos sistemas industriais trouxe um período de transformação para as organizações, mas que se revelou de curta duração, pois, em 1929, houve a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, lançando os Estados Unidos (e vários outros países do mundo) em uma crise econômica sem precedentes. Os métodos de produção de Ford foram tão eficazes que ele chegou a do- minar mais de 50% da produção mundial de automóveis, capitaneado pelo seu famoso modelo “T”, um carrinho robusto e acessível. Afirma-se que Ford foi um dos grandes responsáveis pelo surgimento da chamada “classe mé- dia” americana. Fonte: o autor. Um Breve Histórico Sobre Estratégia nas Organizações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 O que se seguiu a esse período foi que as indústrias tiveram que “forçar” a aquisição de seus produtos, mesmo sem ter uma demanda consolidada. As empresas passaram a adotar uma estratégia de vendas. Esse período, de acordo com Sertek, Guindani e Martins (2012), abrange o período que vai da década de 1920 até os anos 1950. A próxima evolução nas estratégias das empresas envolveu despertar o desejo de consumo em seus clientes. Elas tinham produtos, uma força de vendas, mas não havia estratégias bem elaboradas de abordagem mercadológica. Entre os anos de 1950 a 1990, o foco, então, passa a ser o Marketing. A partir da década de 1990, o mundo mergulhou em uma nova fase de inter- nacionalização de negócios, possibilitada em grande parte pelo uso de novas tecnologias de informação e comunicação (TIC). Essa evolução tecnológica pos- sibilitou que os clientes passassem a ser conhecidos pelas empresas, por meio de técnicas de relacionamento incrementadas por sistemas de CRM (Customer Relationship Management) e pessoal especializado. Estávamos, então, em plena era da informação. Como Serket, Guindani e Martins (2012, p. 106) destacam, “a era da informação possibilitou aos gestores a administração de seus negócios com ênfase no perfil personalizado de cada cliente”. Não bastasse essa evolução tecnológica, que, por si só, já provocava novos modelos de negócio, a disponibilização cada vez maior de informações gerou novos desafios aos gestores: como lidar com essa avalanche de dados e informa- ções que trafegam na rede mundial de computadores e cobram atenção e tempo das organizações? Pois bem, nosso século XXI inaugura mais uma fase da evolu- ção nas relações sociais e de negócios: a era da gestão do conhecimento. Podemos visualizar essa evolução na figura 2, a seguir. Figura 2 - Evolução da definição do foco estratégico Foco estratégico Produção Até 1920 1920 a 1950 1950 a 1990 1990 a 2000 após 2000 Vendas Marketing ConhecimentoInformação Fonte: adaptada de Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 107). ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Evidentemente, esses cenários mutáveis, que acometeram o ambiente de negó- cios e relacionamento com clientes e os públicos interessados, tiveram profundo efeito sobre a forma de pensar o planejamento nas organizações. Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 107-108) comentam sobre isso, ao afirmarem: Nas décadas de 1950 e 1960, o planejamento se restringia ao PLANE- JAMENTO FINANCEIRO, no qual o controle era representado por meio de orçamentos anuais. Tais atitudes eram assim realizadas porque permitiam um controle em relação ao orçamento definido pela empre- sa. A prática era justificada porque representava o dinheiro de que a empresa dispunha em caixa, e o quanto ela poderia dispor para investir durante o ano. Era um modelo aceitável, em razão de que, até então, não havia diversificação de negócios. Essa realidade só veio a sofrer alteração na década de 1970, quando o mundo conheceu mais uma face das crises econômicas, dessa vez provocada pela crise do petróleo, em 1973. Essa crise pôs à prova a capacidade de as empresas fazerem previsões e de lidarem com mercados que se tornavam cada vez mais acirra- dos em termos de competição. O planejamento, nessa época, deixa de ser tão somente para controle financeiro e passa a exigir um PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO, com análise de tendências e de lacunas, ou seja, de segmen- tos que ainda não haviam sido explorados. As empresas que não se despertaram para essa necessidade de pensar no longo prazo tiveram dificuldades de sobre- vivência e a maioria realmente deixou de existir. O quadro 2, a seguir, demonstra essa evolução da gestão estratégica pela qual passaram as organizações de meados do século XX até o início do século XXI. Você tem ideia da capacidade de armazenamento de informações do Goo- gle? Só os processos de busca consomem cerca de 20 petabytes todos os dias! Um petabyte vale incríveis mil bilhões de bytes, ou 1015, ou ainda 1000 terabytes. Fantástico? Daqui a 10 anos, esses números parecerão ridículos para você! Um Breve Histórico Sobre Estratégia nas Organizações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 Quadro 2 - Evolução da gestão estratégica ANOS 1950 E 1960 ANOS 1970 ANOS 1980 ANOS 1990 APÓS 2000 Planejamento financeiro Planejamento a longo prazo Planejamento estratégico Gestão estratégica Gestão do conhecimento A br an gê nc ia Orçamento anual Projeção de tendências. Análise de lacunas. Pensamento estratégico. Análise das mudanças no ambiente. Análise das forças e das fraquezas da organização. Flexibilidade. Ênfase na informação. Conhecimento como recurso crítico. Integração de procssos, pessoas e recursos.. Globalização. Mercado mundial. Trabalhos gerais. Era digital. Habilidades e competências gerenciais. Ên fa se Cumprimento do orçamento Projetar o futuro. Definir a estratégia. Integrar estratégia e organização. Poder da informação. Pr ob le m át ic a Orientação pela disponibilidade financeira Não previsão de mudança. Dissociação entre planejamento e implementação. Amplitude de controle. Excesso de informação. Fonte: Sertek, Guindani e Martins (2012, p. 109). O acirramento da competição e a evolução dos mercados, a partir de 1980, obri- garam as empresas não só a pensarem no longo prazo, mas também a definirem estratégias para atuar nesse novo ambiente. O pensamento estratégico, somado à análise das mudanças no ambien- te, às forças e às fraquezas das organizações, permitiu às empresas de- finirem sua estratégia como o diferencial no mercado em que atuavam (SERTEK; GUINDANI; MARTINS, 2012, p. 110). Os autores apontam como uma grande dificuldade desse período não a formulação da estratégia em si, mas, sim, a operacionalização dessa estratégia, pois, geralmente, o planejamento se tornava complexo demais para ser traduzido em planos executáveis. ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 No final do século XX, especialmente a partir de 1990, torna-se evidente anecessidade de uma GESTÃO ESTRATÉGICA que convergisse o planejamento direcionado por objetivos e metas em um processo integrado, envolvendo recur- sos, pessoas e os próprios processos. A informação, agora disponível em larga escala, deveria se tornar acessível a todos, porém, com a compreensão de que os esforços de cada pessoa, cada componente da organização, deveriam ser direcio- nados para o benefício da própria empresa, dos colaboradores e da sociedade. Houve a necessidade de capacitar e desenvolver os envolvidos nesse grande desa- fio, para que o propósito maior das organizações fosse atingido. O novo desafio, colocado para as organizações, a partir do século XXI, é jus- tamente possuir em seus quadros as pessoas certas para realizar e fazer atingir os objetivos das organizações. A gestão do conhecimento passa necessariamente pelo alinhamento dos colaboradores à cultura organizacional, disseminada de forma ágil pelos sistemas corporativos. Essa seleção assertiva de pessoas com competências e habilidades compatíveis com as necessidades das organizações tem se mostrado o grande diferencial dessas mesmas organizações. A sistemati- zação dos processos corporativos por meio de softwares integradores e com cada vez mais inteligência artificial tem proporcionado a oportunidade de potencia- lizar o talento das pessoas que fazem a real diferença no mundo dos negócios. Os autores que buscavam, por meio de seus estudos, compreender o ambiente empresarial e negocial do final do século XX e início do século XXI fizeram alguns diagnósticos que demonstraram ser verídicos, com o passar do tempo. Vejamos: ■ A evolução na tecnologia das comunicações. ■ A integração econômica mundial. ■ A elevação dos preços de algumas matérias-primas. ■ A intensificação da competição, era da hipercompetição. ■ O encurtamento do ciclo de vida dos produtos. ■ A concentração das empresas no chamado core business. ■ A preocupação acentuada com as questões relativas ao meio am- biente, ética e justiça. Um Breve Histórico Sobre Estratégia nas Organizações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 ■ As alianças estratégicas, fusões e aquisições. ■ A globalização (GONÇALVES; GONÇALVES FILHO; REIS NETO, 2006, p. 38). Concorda que aquilo que eram tendências no final do século passado torna- ram-se realidades em nossa época? Entre as tendências, a internacionalização dos negócios pela globalização certamente é apontada como uma das mais sérias e severas modificações no ambiente de negócios. Planejar apenas focando o mercado local, o regional ou mesmo o nacional não dá mais conta de atender à necessidade de sobrevivência da empresa. Um produto pode entrar no mercado e destruir um planejamento cuidadosamente elaborado e esse produto pode ter sua origem em algum dis- tante país asiático, que não possua as amarras legais, trabalhistas e burocráticas vividas por um empresário brasileiro. Apesar de existirem muitos críticos da globalização – e eles têm razão em muitas de suas colocações –, o fato é que a globalização também traz muitos efeitos benéficos, como os apontados por Cardoso (1996 apud GONÇALVES; GONÇALVES FILHO; REIS NETO, 2006, p. 44): A globalização está multiplicando a riqueza e desencadeando forças produtivas numa escala sem precedentes. Tornou universais valores como democracia e a liberdade. Envolve diversos processos simultâne- os: a difusão internacional da notícia, a internet, o tratamento interna- cional de temas como meio ambiente e direitos humanos e a integração econômica global. Você concorda com essas colocações? A movimentação do capital e do trabalho é indiscutível, bem como a con- centração de renda e o aumento do poder das grandes corporações. Veja alguns dados interessantes que coletei recentemente em uma simples busca de dados na Internet. Nessa pesquisa, constatei um cenário já apontado por muitos autores, de que as organizações multinacionais podem tomar dimensões econômicas tão grandes que chegam a desestabilizar a economia de alguns países. Isso é demons- trado no quadro 3 a seguir, que representa o faturamento de algumas das maiores empresas do mundo em comparação com o PIB de várias nações. ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 Quadro 3 - Comparativo do faturamento de empresas mundiais com o PIB de países EMPRESA FATURAMENTO 2010 (EM BILHÕES US) PAÍS PIB 2010 (EM BILHÕES US) Wal Mart 422 Noruega 414 Exxon Mobil 355 Tailândia 319 Chevron 196 República Checa 192 Conoco Phillips 185 Paquistão 174 Fannie Mae 154 Peru 153 General Electric 152 Nova Zelândia 140 Berkshire Hathaway 136 Hungria 129 General Motors 135,5 Bangladesh 105 Bank of America 134,2 Vietnã 103,5 Ford 129 Marrocos 103,5 Fonte: o autor. Até mesmo empresas brasileiras podem ter um poder econômico maior que algumas nações, como o quadro 4 ilustra. Quadro 4 - Comparativo empresa brasileira com faturamento maior que país latino EMPRESA COM FATURAMENTO MAIOR QUE O PAÍS EMPRESA PAÍS BB Argentina Itaú Unibanco Colômbia Bradesco Venezuela Petrobrás Chile Santander Brasil Peru Vale Equador BTG Pactual Costa Rica Oi Panamá Telefônica Brasil Bolívia Gerdau Paraguai Fonte: adaptado de Economática ([2015], on-line)1. Um Breve Histórico Sobre Estratégia nas Organizações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Esses números são realmente impressionantes, não concorda? Agora, pense por um momento na forma como essas mega corporações pre- cisam pensar suas estratégias para continuar sendo líderes em seus segmentos. Para essas empresas, aplica-se o que Yip (1996 apud GONÇALVES; GONÇALVES FILHO; REIS NETO, p. 60) pontua: A estratégia global não deve ser equiparada a um único elemento - produtos padronizados, ou cobertura mundial de marketing, ou rede global de fabricação. A estratégia global, ao contrário, deve ser uma combinação flexível de muitos elementos. A formulação de uma estra- tégia competitiva global está centrada em: ■ desenvolver a estratégia essencial do negócio também chamada de core strategy; ■ internacionalizar a estratégia essencial; ■ globalizar a estratégia internacional. Você percebe como isso é bem evidente em estratégias de empresas globais, como McDonald’s, Subway, WalMart, Dell, Microsoft, Apple, entre tantas outras? Essas considerações preliminares que fizemos nesta unidade abrem o cami- nho para entendermos conceitos mais abrangentes de estratégia e planejamento estratégico, que veremos mais adiante. ESTRATÉGIA – APRESENTANDO OS FUNDAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), este estudo foi essencial para nos apresentar o conceito de estratégia. Como quase toda evolução social, também no caso de estratégia, seus fundamentos foram estabelecidos no calor das guerras, no meio militar. Desde a obra “A Arte da Guerra”, temos um conceito de estratégia como arte, a arte do general, que, aplicado às organizações, tem o sentido da arte de traçar os rumos, os objetivos a serem perseguidos pelos gestores. Evidentemente, somente essa apresentação seria uma simplificação demasiada do conceito. Conforme percebemos em nossos estudos, as estratégias podem ser formuladas, mas serão realinhadas ao longo do trajeto rumo aos seus objetivos. Uma estratégia emergentepode ocupar um espaço importante no direciona- mento de esforços da organização e essa estratégia emergente pode se originar de qualquer setor/local/pessoa dessa organização. Também percebemos que a estratégia pode ser considerada um padrão de atuação da organização, que, basicamente, se constitui em uma estratégia reali- zada. Uma estratégia formulada, pretendida, deve ter uma flexibilidade suficiente para atender às novas variáveis que se apresentarão ao longo do tempo. A falta de flexibilidade denota que os gestores dessa organização terão difi- culdades de realinhar as estratégias diante de algum acontecimento inesperado que, porventura, ocorra ao longo do caminho. Empresas inflexíveis tendem a sofrer impactos negativos quando, por exemplo, uma tecnologia inovadora afeta seus principais nichos de mercado. Deve-se tomar muito cuidado com relação à inflexibilidade das estratégias. Consideramos também a evolução da estratégia, especialmente o século XX e início do século XXI. Em cada época, tivemos certas condições que direciona- ram as estratégias das organizações ao longo do tempo, desde a era industrial até nossa época, classificada como era da gestão do conhecimento. Agora, certamente estamos mais preparados para compreender outras impli- cações da estratégia organizacional. Em frente! 35 1. O conceito de estratégia não é novo. Podemos encontrar na história aplicações práticas de estratégia, além de escritos antigos que tratam do tema, especial- mente relacionados à área militar. Sobre estratégia, é correto afirmar: I – Envolve planejar e colocar em ação os planos gerados, a fim de alcançar e manter posições favoráveis. II – Envolve a utilização adequada de recursos físicos, tecnológicos, financeiros e humanos para minimizar problemas e maximizar oportunidades. III – Envolve o padrão de decisões na organização que determina e revela seus objetivos, propósitos ou metas. IV – Envolve um conjunto de ações que os gestores adotam para melhorar o de- sempenho de uma empresa em relação a suas concorrentes. a. I, apenas. b. I e II, apenas. c. II e III, apenas. d. I, III e IV, apenas. e. I, II, III e IV. 2. Algumas abordagens não convencionais de estratégia a colocam em perspecti- vas mais amplas. Por exemplo, alguns autores situam a estratégia como um pla- no ou como um padrão. Explique a estratégia como um padrão. 3. No histórico da gestão estratégica, observamos vários momentos importantes, que tornaram-se marcos na evolução do pensamento estratégico. Um desses momentos é quando o planejamento focava tão somente aspectos financeiros. Relate quais eram as características dessa fase do planejamento estratégico. 36 UMA MUDANÇA ESTRATÉGICA NA MICROSOFT A internet existe desde os anos 1970, mas, antes dos anos 1990, era um ambiente te- dioso, sem a cor, o conteúdo e a riqueza que tem hoje. O que transformou a internet, levando-a de uma ferramenta científica a um ambiente de mídia voltado para o públi- co, foi a invenção da Hypertext Markup Language (HTML) e a subsequente invenção de um navegador que mostrou com riqueza gráfica páginas da web baseadas em HTML. A combinação do HTML e dos navegadores criou, de modo efetivo, a World Wide Web (www), ou apenas web, como viria a ser conhecida mais tarde. Esse foi um desenvolvi- mento que não havia sido previsto. Um jovem programador na Universidade de Illinois, Mark Andreesen, em 1993, tinha desenvolvido o primeiro navegador, conhecido como Mosaic. Em 1994, ele saiu de Illi- nois e se uniu a uma empresa que estava nascendo, a Netscape, a qual produziu um navegador melhorado, o Netscape Navigator, junto com um software que possibilitava a organizações criar páginas na web e as hospedar em servidores. Esses desenvolvi- mentos levaram a um dramático e inesperado crescimento no número de pessoas co- nectadas à internet. Em 1990, a internet tinha um milhão de usuários. No início de 1995, o número excedia 80 milhões e crescia exponencialmente. Antes do surgimento da web, a Microsoft tinha uma estratégia para explorar a internet, mas dava ênfase a set-top boxes, vídeos sob demanda, TV interativa e um serviço on- -line, o MSN, inspirado em um modelo da AOL e com base em padrões proprietários. No início de 1994, Gates recebeu e-mails de dois jovens funcionários, Jay Allard e Steve Sinofsky, que argumentaram que a estratégia da Microsoft da época estava errada e ig- norava o rápido crescimento da web. Em empresas com uma cultura mais hierárquica, uma ação desse tipo poderia ter sido ignorada. Mas na Microsoft, que opera com base na meritocracia, e na qual as boas ideias são mais importantes do que a posição hierár- quica, essa ação produziu uma resposta muito diferente. Gates convocou os executivos sêniores para uma reunião e escreveu-lhes um memorando em que defendia que a internet representava uma mudança na computação, e a Microsoft tinha de responder a ela. O que aconteceu, em última instância, foi uma virada de 180 graus na estratégia da Microsoft. A TV interativa foi deixada de lado e o MSN foi relançado como um serviço para web baseado em HTML. A Microsoft se comprometeu com o desenvolvimento da própria tecnologia de navegadores e, em alguns meses, tinha nas mãos o Internet Explorer para competir com o Netscape Navigator (a tecnologia de base foi obtida por meio de uma aquisição). A Microsoft licenciou o Java, uma linguagem desenhada para rodar programas na internet, de uma grande concorrente, a Sun Microsystems. 37 Protocolos de internet foram inseridos no Windows 95 e no Windows NT, e Gates in- sistiu que, dali para frente, os aplicativos da Microsoft, tais como o universal Office, estivessem prontos para a www e pudessem converter documentos para o formato HTML. A nova estratégia recebeu a aprovação final em 7 de dezembro de 1995, dia da celebração de Pearl Harbor, quando Gates discursou, defendendo que a internet esta- va presente, desde então, em tudo o que a Microsoft estava fazendo. Naquela época, a empresa vinha seguindo a nova estratégia havia um ano. Em resumo, a Microsoft rapidamente passou de uma abordagem de padrões proprietários para outra, que adotava os padrões públicos da www. Fonte: Hill e Jones (2012, p. 22-23). MATERIAL COMPLEMENTAR O essencial da administração estratégica: casos reais e aplicação prática da teoria Charles Hill e Gareth Jones Editora: Saraiva Sinopse: estruturado para explicar, de modo claro e conciso, a importância da administração estratégica para as pessoas, empresas e sociedade, o livro discute os principais tópicos de gestão, fornecendo um panorama amplo do que é a administração estratégica e de como a construção de uma estratégia afeta o desempenho de uma empresa. Troia Sinopse: em 1193 a. C., Paris (Orlando Bloom) é um príncipe que provoca uma guerra da Messência contra Troia, ao afastar Helena (Diane Kruger) de seu marido, Menelaus (Brendan Gleeson). Tem início então uma sangrenta batalha, que dura por mais de uma década. A esperança do Priam (Peter O’Toole), rei de Troia, em vencer a guerra está nas mãos de Aquiles (Brad Pitt), o maior herói da Grécia, e seu fi lho Hector (Eric Bana). REFERÊNCIAS ECONOMATICA. Disponível em: <https://economatica.com/>. Acesso em: 14 jul. 2016. GONÇALVES, C. A.; GONÇALVES FILHO, C.; REIS NETO, M. T. Estratégia empresarial: o desafio das organizações. São Paulo: Saraiva, 2006. HILL, C.; JONES, G. O essencial da administração estratégica: casos reais e aplica- ção prática da teoria. São Paulo: Saraiva, 2012. MINTZBERG, H. Ascensão e queda do planejamento estratégico. São Paulo: Bookman, 2004. OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia, práticas. 31. ed. São Paulo: Atlas, 2013. RIBEIRO, R. V. Estratégia empresarial. 1. ed. rev. Curitiba, PR: IESDE BRASIL, 2012. SERTEK, P.; GUINDANI, R.A.; MARTINS, T. S. Administração e planejamento estraté- gico. Curitiba: Intersaberes, 2012. SOUZA, C. M. L. de. Entre o Planejamento Estratégico Formal e Informal: um Estudo de Caso Exploratório sobre a Prática de Estratégia nas Organizações. Revista de Ad- ministração Contemporânea, v. 15, n. 5, p. 855, 2011. 39 GABARITO 1. E. 2. É um padrão quando envolve um comportamento consistente ao longo do tem- po, como quando uma empresa decide trabalhar com produtos destinados a classes mais abastadas, consolidando uma estratégia de segmentação superior. 3. O controle era representado por meio de orçamentos anuais. Tais atitudes eram assim realizadas porque permitiam um controle em relação ao orçamento defi- nido pela empresa. A prática era justificada porque representava o dinheiro de que a empresa dispunha em caixa e o quanto ela poderia dispor para investir durante o ano. Era um modelo aceitável, em razão de que, até então, não havia diversificação de negócios. U N ID A D E II Professor Me. Paulo Pardo IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE AS ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar como se processa o planejamento nas organizações. ■ Discutir a questão ambiental no planejamento organizacional. ■ Compreender os diferentes níveis do planejamento organizacional. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O planejamento nas organizações ■ Os princípios de planejamento de Ansoff ■ A questão ambiental no planejamento organizacional ■ Os diversos níveis do planejamento organizacional INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), uma perspectiva bastante interessante quando consideramos as organizações é que elas são sistemas abertos. A ideia de sistemas não é estra- nha para nós, não é verdade? Temos dentro do nosso corpo diversos sistemas (digestivo, nervoso, circulatório etc.) que basicamente são conjuntos de partes que estão inter-relacionadas e que desempenham papéis importantes que, no caso do nosso organismo, possibilitam a manutenção da vida. Assim são também as organizações, que basicamente são entidades sociais, ou seja, são constituídas por pessoas para cumprir determinados objetivos que seriam inalcançáveis ou pelo menos muito difíceis de serem alcançados pelo esforço individual do ser humano. A Teoria dos Sistemas nasceu nas ciências naturais, especificamente na bio- logia, mediante os trabalhos de Von Bertalanffy. Pela perspectiva da teoria dos sistemas, as organizações como seres vivos interagem com seu ambiente, influen- ciam e são influenciadas por ele. Porém o caso é que as organizações têm na sua condução gestores que devem entender essas relações sistêmicas e agir de forma assertiva, para que essas interações sejam as mais produtivas possíveis. Pense então no desafio que os gestores estão inseridos. Algumas organiza- ções são bastante complexas, algumas chegando a ter em seus quadros centenas de milhares de colaboradores, comercializando produtos e vendendo seus servi- ços a milhões de clientes. Organizações transnacionais podem atuar no mundo todo, afetando até mesmo a economia de um país inteiro. Além disso, as orga- nizações são também afetadas por decisões externas, que estão fora do controle dos seus gestores. Dessa forma, você pode concluir que existem muitas variáveis ambientais que afetam as organizações e, assim, suas estratégias. Esse é o objetivo desta uni- dade, visto que consideraremos também alguns dos principais fundamentos do planejamento estratégico. Ótimo estudo! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 43 IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE AS ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E44 O PLANEJAMENTO NAS ORGANIZAÇÕES Quando se menciona a palavra planejamento, o que lhe vem à mente? Usualmente, as pessoas vinculam essa palavra a iniciativas como o casamento, comprar uma casa própria, cursar uma universidade, férias ou outros sonhos pessoais. De fato, alguns desses propósitos mencionados exigem uma preparação cuidadosa, afi- nal, quem imaginaria o dia do casamento cheio de problemas, desencontros e dores de cabeça, não é mesmo? Muitos objetivos desses mencionados exigem dedicação e tempo, além de recursos financeiros, alguns em grandes proporções, nem sempre possuídos pelas pessoas. No caso de empresas e organizações de forma geral, isso também é verdade. Não se esqueça de que organizações são instituições sociais, cujas pessoas que as compõem têm objetivos pessoais que são realizados por meio do seu trabalho nessas organizações. As organizações, quando atingem os objetivos institucio- nais, na forma de lucros e resultados, podem socializar essas conquistas na forma de remuneração do capital aos proprietários e pagamento de salários e outros benefícios para seus colaboradores. Dito dessa forma, significa que todos os envolvidos com a organização, a princípio, desejam que ela seja bem-sucedida. Para que esses resultados positivos aconteçam, o papel dos gestores é fun- damental. Eles possuem a responsabilidade de conduzir os recursos que estão disponíveis, utilizando as competências e habilidades dos trabalhadores que estão sob sua hierarquia. Além disso, esses resultados devem acontecer não só no curto prazo, mas também precisam ser sustentáveis no médio e no longo prazo. Portanto, você já pode imaginar o tamanho dessa responsabilidade atribu- ída aos gestores. Porém o nível dessa responsabilidade não é o mesmo em todos os níveis da organização, conforme veremos mais à frente. O Planejamento nas Organizações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 45 Neste início, precisamos entender plenamente como o planejamento pode afe- tar o atingimento do propósito das organizações. Para isso, vamos compreender um pouco mais dessa palavra que carrega uma carga de significados, bastante ampla. Se você tivesse que formular um conceito da palavra “planejamento”, como você a definiria? É bastante interessante um conceito oferecido por Barbosa e Brondani (2005, p. 3), que definem assim: Planejar significa a formulação sistemática de objetivos e ações alterna- tivas, que ao final, a escolha se dará sobre a melhor ação. Também diz respeito a implicações futuras de decisões presentes, pois é um proces- so de decisões recíprocas e independentes que visam alcançar objetivos anteriormente estabelecidos. Dessa forma, você pode concluir facilmente que planejamento pode, realmente, ser aplicado a muitas atividades humanas. Barbosa e Brondani (2005) destacam algumas considerações do trabalho de Hindle (2002), que mostram a ideia de planejamento desde a pré-história, com os agrupamentos humanos tendo que planejar caça, pesca e armazenar itens para sua sobrevivência. Até mesmo a primitiva “dona-de-casa” tinha que se programar no preparo das refeições, pois não havia sistemas de conservação como temos atualmente. Ainda, segundo Barbosa e Brondani (2005, p. 3), “assim eram desenvolvidos conceitos muito semelhantes ao que hoje se chama cientifica- mente de planejamento, controle de orçamento, estoque, produção, logística etc.”. Imagine o nível de complexidade do planejamento para as grandes constru- ções do passado, como as pirâmides do Egito, os suntuosos jardins suspensos da Babilônia, as estradas pavimentadas de Roma, enfim, são grandes feitos que envolveram formulação de objetivos, escolha entre alternativas, processos de decisões,que culminaram na conclusão dessas obras monumentais. Podemos também, nesse momento, resgatar alguns conceitos de Steiner (1969 apud OLIVEIRA, 2013, p. 3), que estabelece o que ele denomina como cinco dimensões do planejamento, resumidas no quadro 1, a seguir. IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE AS ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E46 Quadro 1 - As cinco dimensões do planejamento de Steiner DIMENSÃO EXPLANAÇÃO ASSUNTO ABORDADO Está relacionada às funções desempenhadas pela empresa e que tem a ver com produção, pesquisa, novos produtos, finanças, marketing, instalações, recursos humanos etc. ELEMENTOS DO PLANEJAMENTO São os propósitos, objetivos, estratégias, políticas, progra- mas, orçamentos, normas e procedimentos, entre outros. TEMPO DO PLANEJAMENTO Definição se o planejamento é para o curto, médio ou longo prazo. UNIDADES ORGANIZACIONAIS Está relacionada à definição de onde o planejamento é elaborado, ou seja, se é um planejamento corporativo, de unidades de negócio, de subsidiárias, de grupos funcio- nais, de divisões, de departamentos, de produtos etc. CARACTERÍSTICAS DO PLANEJAMENTO É a definição do planejamento por suas características, como complexidade ou simplicidade, qualidade ou quan- tidade, planejamento estratégico ou tático, confidencial ou público, formal ou informal, econômico ou caro etc. Fonte: adaptado de Oliveira (2013, p. 3). A maioria dos autores concorda que o planejamento é um processo, ou seja, envolve a utilização de recursos de modo eficiente, eficaz e efetivo para a pro- dução de um resultado desejado em um momento futuro. Aqui vale uma observação importante, trazida à tona por Oliveira (2013), que diferencia PLANEJAMENTO de outros conceitos muito utilizados em admi- nistração, que são PREVISÃO, PROJEÇÃO, PREDIÇÃO, RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS e PLANOS. Como podemos entender esses outros conceitos, de modo a ficar clara a dife- rença em relação a planejamento? Vamos apresentar o significado desses termos para marcar essa diferença. Dessa forma, temos o seguinte: Previsão: corresponde ao esforço para verificar quais serão os eventos que poderão ocorrer, com base no registro de uma série de probabilidades. Projeção: corresponde à situação em que o futuro tende a ser diferente do passado, em sua estrutura básica. Predição: corresponde à situação em que o futuro tende a ser diferente do passado, mas a empresa não tem nenhum controle sobre seu proces- so e desenvolvimento. O Planejamento nas Organizações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 Resolução de problemas: corresponde a aspectos imediatos que procu- ram tão somente a correção de certas descontinuidades e desajustes entre a empresa e as forças externas que lhe sejam potencialmente exclusivos. Plano: corresponde a um documento formal que se constitui na con- solidação das informações e atividades desenvolvidas no processo de planejamento; é o limite da formalização do planejamento, uma visão estática do planejamento, uma decisão em que a relação custos versus benefícios deve ser observada. (OLIVEIRA, 2013, p. 4). Mintzberg (2004) alerta contra a tendência de deixar o conceito de planejamento amplo demais a ponto de se perder o real significado ou implicações dessa ideia. Isso porque, segundo esse autor, pensar o futuro é amplo demais, bem como usar a palavra para assuntos que estão fora do controle do planejador. Nesse alerta, ele cita Wildavsky (1973 apud MINTZBERG, 2004, p. 23), que pontua: Como praticamente todas as ações com consequências futuras são ações planejadas, o planejamento é tudo, e mal se pode dizer que existe a falta de planejamento. A falta de planejamento só existe quando as pessoas não têm objetivos, quando suas ações são aleatórias e não diri- gidas para metas. Se todos planejam (bem, quase todos) não é possível distinguir ações planejadas de não planejadas. Por conta disso, Mintzberg (2004, p. 24) adverte para a necessidade de que “preci- samos de uma definição de planejamento que não nos diga que temos de pensar no futuro, nem mesmo que devemos tentar controlá-lo, mas como fazê-lo”. Sua linha de pensamento, então, vai para algo mais concreto, formal, por oferecer a seguinte definição: Planejamento é um procedimento formal para produzir um resulta- do articulado, na forma de um sistema integrado de decisões. Para nós, o que capta a ideia de planejamento acima de tudo - distinguindo sua literatura mais claramente e diferenciando sua prática dos outros processos - é sua ênfase na formalização, a sistematização do fenômeno ao qual se pretende aplicar o planejamento. (MINTZBERG, 2004, p. 26). Esse esforço que faz Mintzberg colocar o conceito de planejamento por seus aspectos formais é importante, pois, caso isso não seja feito, pode-se perder a força, a intensidade da ideia, por deixar o termo amplo demais, caindo em um limbo, sem objetividade. Por conta disso, Mintzberg (2004) fala de três elementos essenciais no que diz respeito ao planejamento: (1) decomposição; (2) articula- ção e (3) racionalização. IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE AS ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E48 Por racionalização, entende-se que o planejamento deve ser estruturado, objetivo, racionalizando-se, dessa forma, os processos nos quais as decisões são tomadas e posteriormente integradas na organização. Na decomposição, é produzida uma análise dos processos, ou seja, decom- põe-se o processo em partes para que possa ser compreendido em uma série de passos que serão, posteriormente, articulados. Na articulação, prevê-se que os processos, uma vez tendo sido decompos- tos em estratégias, subestratégias, programas, orçamentos e objetivos, devem ser, conforme Mintzberg (2004), rotulados de forma clara e explícita por palavras e até mesmo em números em uma folha de papel. Essa é uma clara referência ao termo em latim para planejamento, qual seja planum, que significa, literalmente, uma “superfície plana”. Sua adoção no idioma moderno tem a ver com o fato de que mapas ou plantas eram desenhados em superfícies planas, remetendo ao fato de que planejamento refere-se a documentos formais, conforme foi entendido nos idiomas modernos (MINTZBERG, 2004). A ideia de haver um formalismo em planejamento é mais ou menos contem- porânea ao início de uma produção mais robusta sobre a formação de estratégia nas organizações, por volta da década de 1960, quando, especialmente, a eco- nomia mundial estava crescendo e as empresas norte-americanas e europeias experimentavam uma expansão em seus mercados. Entre os modelos de formação de estratégia, está o que Mintzberg (2004) classifica como escola do design, que tem algumas premissas básicas, como o fato de que a organização deve se adaptar a fatores internos e externos. Assim, a estratégia irá nascer de uma avaliação das ameaças e oportunidades externas e de uma análise criteriosa das forças e fraquezas internas. “As oportunidades externas são exploradas pelas forças internas, ao passo que as ameaças são evi- tadas e as fraquezas, controladas” (MINTZBERG, 2004, p. 44). Uma forma de representar essa avaliação interna e externa pode ser vista na figura 1, a seguir. O Planejamento nas Organizações Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 49 Figura 1 - Modelo básico de formação de estratégia da escola
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