Buscar

TGI 8A. PARTE APLICAÇAO TEORIA CONDITIO SINE QUA NOM

Prévia do material em texto

‘TEORIA GERAL DO DIREITO PENAL I
Guilene Ladvocat
8ª. APOSTILA - APLICAÇÃO DA TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS CONDIÇÕES
LIMITAÇÕES AO ALCANCE DA TEORIA 
03/11/15
Vimos que o nosso código adotou, em seu artigo 13, a Teoria da Equivalência das Condições ou CONDITIO SINE QUA NOM
A importância de compreendermos a sua aplicação prática é exatamente para que possamos evitar o regresso das ações ao infinito.
	
Na hipótese de um crime de homicídio, para que possamos saber quais os atos que devem ser considerados causa do resultado, devemos proceder ao seguinte processo de eliminação mental:
A quer matar B. Para tanto, se dirige à loja X, onde compra uma pistola. Em seguida, vai até a casa de sua Tia entregar uma encomenda que sua mãe pedira e, dirige-se ao local em que B se encontra, disparando a arma e matando-o.
O resultado morte ocorreria:
Se A não tivesse comprado a arma? – Não.
E se ele não tivesse ido a casa da tia? – Sim
E se não tivesse se dirigido ao local onde estava B ? Não
E se não tivesse disparado contra B? Não
Então, só na 2ª hipótese indagada é que a conduta de A não é causa do resultado.
A CRÍTICA que os autores fazem a esta teoria é exatamente essa. Na situação acima, apenas a parada na casa de sua Tia não seria responsável pela ocorrência do crime. Nesta esteira de raciocínio, questionaríamos: 
Todos os agentes daS condições anteriores responderiam pelo crime? 
Vimos que se fizermos uma retrospectiva infinita, todo aquele que tivesse uma ínfima participação poderia ser responsabilizado, desde que sua atitude fosse considerada causa. No exemplo resta claro que a conduta de A foi indispensável à produção do evento ATIRAR; logo é causa. Mas, o comerciante que lhe vendeu a arma também foi indispensável na ocorrência da morte; então, também é causa. Se remontarmos ainda mais, teríamos que considerar causa a fabricação da arma e até os pais de A, que o geraram, sendo causadores.
Temos, então, que o art. 13 do CP em seu § 1º. Primeira parte dispõe:
Art. 13: “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.
	§ 1º: “A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado... os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.”
Interpretando essa parte primeira do § 1º. Do art. 13 podemos observar que todo evento, de uma maneira ou de outra, que contribua para o resultado é considerado CAUSA. 
Todavia, o § 1º limita a extensão da regra da equivalência (o termo equivalência vem de equivale – corresponde) dos antecedentes causais, enunciada no caput, retirando dela a CONCAUSA (que significa causa concomitante, conjunta) RELATIVAMENTE INDEPENDENTE.
Para que possamos LIMITAR A POSSIBILIDADE do alcance dessa teoria, DEVEMOS UTILIZAR OUTROS INSTITUTOS, como por exemplo: a localização do dolo e da culpa no tipo penal.
as concausas absolutamente independentes
a superveniência de causas relativamente independentes. 
Da Localização do Dolo e da Culpa no Tipo Penal
Se a conduta do agente não ocorre por dolo, que é a vontade de produzir o resultado ou por culpa, que é a produção do resultado por falta de cuidado estaremos diante de um CASO FORTUITO ou DE FORÇA MAIOR, QUE NÃO CONFIGURAM CRIME.
Silvio Salvo Venosa dispõe: “CASO FORTUITO é o evento proveniente de ato humano, imprevisível e inevitável, que impede o cumprimento de uma obrigação, tais como: a greve, a guerra etc. Não se confunde com FORÇA MAIOR, que é um evento previsível ou imprevisível, porém inevitável, decorrente das forças da natureza, como o raio, a tempestade etc. 
CONCAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES 
São aquelas que excluem a relação de causalidade, conforme disposto no art. 13 caput.
O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
As causas ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES podem ser: preexistentes, concomitantes ou supervenientes
Preexistente - aquela que ocorre antes da existência da conduta;
Ex: A, pretendendo suicidar-se, ingere uma substância venenosa, e, quando já se encontra em estado agonizante, recebe um ferimento, que não apressa sua morte, não a determina e nem a teria causado, Essa 2ª conduta (do ferimento), portanto, não é causa do resultado morte, porque se a eliminássemos, hipoteticamente, o resultado morte teria ocorrido da mesma forma e nas mesmas circunstâncias, e por uma condição estranha e independente dessa 2ª condição.
 
Concomitante - quando ocorre simultaneamente com a conduta;
Ex.: A”, com intenção de matar, disparou contra “B”, causando-lhe leve ferimento no braço, todavia, a vítima nesse exato momento estava sofrendo colapso cardíaco, que a levou à morte. Solução penal: o agente só responde pelo que fez (tentativa de homicídio). Não responde pelo resultado morte porque não há nexo de causalidade entre o disparo e a morte decorrente do colapso cardíaco.
Superveniente – quando se manifesta depois da conduta. 
Ex: A ministra veneno na comida de B. Quando este vai dar início à ingestão do alimento é fulminado por um raio, tendo morte imediata. - Se excluíssemos a 1ª conduta a morte teria ocorrido. Logo, a conduta de A não foi causa da morte de B. Na hipótese, verificou-se uma causa absolutamente independente (caso fortuito) que por si só, produziu a morte de B.
CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES (§ 1º DO ART. 13)
Também dividem-se RELATIVAMENTE independentes preexistentes, concomitantes ou supervenientes. 
Quando mencionamos RELATIVAMENTE INDENPENDENTE significa dizer que não foram a única causa do resultado, mas auxiliaram ou reforçaram a conduta do agente.
Condições Preexistentes – Não excluem o nexo causal, respondendo o agente pelo resultado.
Ex: A, vítima de um determinado ferimento não mortal, é portador de hemofilia. Socorrido ao hospital, falece em conseqüência de hemorragia.
Pergunta-se: Na hipótese, o ferimento foi condição indispensável à ocorrência do resultado? 
R- SIM. É óbvio que, esse resultado foi facilitado, naturalmente, pela deficiência da vítima. A condição preexistente (hemofilia) se alia à conduta do sujeito e, ambas, juntas, vão determinar o evento. Responde pelo homicídio.
Solução penal dada pela doutrina: o agente responde pelo resultado morte, visto que o § 1º do art. 13 só o isenta de responsabilidade quando a concausa for superveniente. 
Ex.: 2 - Zelão, com dolo de homicídio, golpeia Ataliba, diabético. O ferimento, em si, não era mortal, mas, agravado pela moléstia de Ataliba, acaba provocando-lhe a morte. Zelão responde por homicídio consumado. A diabete da vítima, causa preexistente que se aliou à conduta de Zelão para produção do resultado, é relativamente independente, e, portanto, não exclui a sua responsabilidade
Condições Concomitantes: Não excluem o nexo causal. O agente responde pelo resultado.
Ex: A e B, um ignorando a conduta do outro, com a intenção de matar, ministram, separadamente, quantidade de veneno insuficiente para produzir a morte de C. Todavia, em razão do efeito produzido pela soma das doses ministradas C vem a morrer.
No exemplo acima ambos responderiam por homicídio doloso consumado, pois se A ou B não tivesse ministrado a sua dose de veneno, a morte não teria ocorrido como ocorreu, já que uma dose isoladamente não era suficiente para produzir o resultado morte. Cada dose foi condição indispensável à ocorrência do resultado, ainda que, isoladamente, não pudessem produzi-lo. As duas doses de veneno auxiliaram-se na formação do “processo causal”, produtor do resultado, unilateralmente pretendido e, conjuntamente, produzido.
Configuram-se causas (concausas) relativamente independentes, e A e B devem responder por homicídio doloso consumado.
Supervenientes: prevista no § 1º do art. 13 do CP, o qual exclui, desde logo, as causas preexistentese concomitantes.
Tratando-se de Causas Supervenientes, temos as duas alternativas acima referidas e a que vem disciplinada no § 1º que estabelece:
1ª. Alternativa - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; 
2ª. Alternativa - os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou”.
Duas são as hipóteses:
DE EXCLUIR O NEXO CAUSAL E DE NÃO EXCLUIR O NEXO CAUSAL
Exclui o nexo causal
Ex: A foi ferida por B e levada ao hospital em uma ambulância. No percurso, a ambulância se envolve em um acidente de trânsito, projetando A para fora do veículo, que bate com a cabeça no meio-fio e morre de traumatismo craniano.
PERGUNTAS:
1) Excluindo-se o ferimento teria ocorrido a morte? – NÃO
2) Se A não tivesse sido ferida, teria morrido naquele local e daquela maneira? – NÃO
3) Essa Última causa aliou-se ao ferimento, somando energias na produção do resultado morte ou a vítima morreu exclusivamente em virtude da 2ª causa? -Nesse caso não houve soma de energias entre as causas, anterior e posterior. A 2ª causa- superveniente e relativamente independente- produziu, por si só o resultado.
SOLUÇÃO: B responde pelos atos praticados. Lesão corporal
Não exclui o nexo causal 
Ex: A esfaqueada por B na perna, é levada ao hospital, onde morre em virtude de complicações cirúrgicas.
P- Suprimindo-se o ferimento a morte de A teria ocorrido? NÃO, pois sem os ferimentos não haveria o que complicar.
Ex.: 2 Num ônibus de excursão a Foz de Iguaçu, José Sacoleiro desfere uma punhalada em Tonico Muamba, com dolo de homicídio. Tonico é levado ao hospital, mas morre por infecção hospitalar. José responde pelo crime de homicídio consumado.
Dispõe o art. 13 § 1º. 1ª. Alternativa - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; 
Nos dois exemplos, a causa superveniente não foi a ÚNICA a acarretar o resultado, devendo o agente responder por esse.
DA CAUSALIDADE NA OMISSÃO
Já observamos que as leis penais não são compostas somente de Normas proibitivas posto que existem àquelas que possuem um caráter imperativo, que nos impõe uma obrigação de fazer.
Nestes, a OMISSÃO PRÓPRIA é descrita pelo próprio tipo – art. 135 - abandono de incapaz.
Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
A OMISSÃO assume um caráter relevante sempre que a pessoa podia e devia agir e não o faz.
Pressupostos:
     1º.- dever jurídico que impõe uma obrigação de agir ou uma obrigação de evitar um resultado proibido;
     2º.- possibilidade física, ou material, de agir.
Vimos que o dever de agir, o dever imposto, se dá no próprio tipo penal. O tipo penal descreve a conduta.
Entretanto, em determinadas situações, o dever jurídico pode ser imposto a pessoa. E é no § 2º. Do art. 13 que observamos sua ocorrência:
 
DA OMISSÃO IMPRÓPRIA
Dispõe o § 2º. do art 13 do CP
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
Enquanto na omissão própria qualquer pessoa pode cometer o delito, na omissão imprópria, apenas comete o ilícito o garantidor.
Assim, é a própria lei que dispõe quando devemos ou não devemos agir. 
Além das situações em que o agente PODIA e DEVIA agir e não o faz (omissão própria) existirão casos em que ele ASSUME o dever de agir e não o faz. E são esses resultados que deverão ser atribuídos ao agente.
Os agentes que assumem esses resultados são denominados de GARANTIDORES.
04/11/15
GARAN​TIDOR - é a pessoa que, pela sua peculiar posição diante do bem jurídico, recebem ou assumem a obrigação de assegurar sua con​servação
Segundo Zafaroni: “Nos delitos impróprios de omissão o autor encontra-se em po​sição jurídica de cuidador, vigilante, conservador, evitador de perigos para o bem jurídico, quer dizer, garante este bem jurídico em sua integridade.”
Ele realiza o fato típico sem praticar uma conduta. Realiza o fato típico por meio de omissão. É o chamado crime comissivo por omissão
Enquanto a omissão própria é genérica, ou seja, pode ser realizada por qualquer pessoa, a omissão imprópria só pode ser realizada por aqueles a quem o ordenamento jurídico impôs o dever de evitar o resultado. E quem tem o dever de evitar o resultado?
É no § 2º. Do art. 13 que se encontra a resposta.
“ a omissão é juridicamente relevante nos casos em que o agente podia e devia agir, e tal dever incumbe a quem”:    
a- tenha por lei a obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; - DEVER LEGAL
Cezar Bitencourt, dispõe que: "é um dever legal, decorrente de lei. Dever esse que aparece numa série de situações, como, por exemplo, o dever de assistência que se devem mutuamente os cônjuges, que devem os pais aos filhos" .
Também se enquadram neste inciso as pessoas que exercem atividades que tenha por lei a obrigação de cuidado, proteção ou vigilância ao bem jurídico tutelado, tais como: policial, médico, bombeiro etc. 
Assim, profissionais que tenham por lei a obrigação de proteção, vigilância ou cuidado de bem jurídico tutelado, caso se abstenha estará inserido na posição de garante e consequentemente responderá pelo crime que deste resultar (ex. homicídio, lesão corporal etc) e não por omissão de socorro que somente se aplicará nos casos de crime de omissão própria.
Ex: Bombeiro Militar, que caso se omita a socorrer um banhista, e tenha condições físicas e materiais de realizar o salvamento, responderá pelo crime de homicídio. 
Ex2: a mãe que tem o dever de amamentar seu filho, não amamentando, e caso a criança venha a falecer devido a falta de alimentação, responderá pelo crime de homicídio. 
 b- de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; - ACEITAÇÃO VOLUNTÁRIA
Aqui a obrigação é assumida para com outrem, em que a pessoa que assumiu a obrigação está na situação de garante.
Pode ocorrer:
por meio de um negócio jurídico, no qual uma pessoa assume a obrigação de cuidado, garantia ou vigilância ao bem jurídico tutelado. 
Costumava-se falar na doutrina que essa situação de garante era originária de um contrato firmado pelas partes, o que não é fato.
Segundo Heleno Cláudio Fragoso:
(...) O dever de garantidor não se confunde com o dever contratual, sendo indiferente às limitações que surjam do contrato, inclusive à validade jurídica deste. É indispensável e suficiente que o agente tenha assumido a posição de fato de garantidor, mesmo que a isto não o obrigue o contrato (...)
De acordo com o entendimento acima, verifica-se que basta que o agente assuma a situação de garante, mesmo que temporariamente, que responderá pelo crime na sua forma material, não importando se o negócio jurídico se originou de um contrato.
Ex.: a babá que, após assumir a obrigação de cuidado, descuidando-se do seu dever, deixa que a criança que estava sob sua responsabilidade caia na piscina e morra afogado.
Ex.2 o vigia que foi contratado para fazer a segurança de uma casa, caso ocorra algum furto e o mesmo percebendo o ato nada faça, responderá pelo crime material do art. 155, ou seja, pelo crime de furto.
c- com seu comportamento anterior criou o risco da ocorrência do resultado. – INGERÊNCIA (significa influência)
Nessa hipótese,o próprio agente, com sua ação anterior causou um risco ou então agravou uma situação que já existia.
Segundo Cezar Roberto Bitencourt: "não importa se tenha realizado o ato voluntária ou involuntariamente, dolosa ou culposamente; importa é que com sua ação ou omissão originou uma situação de risco ou agravou uma situação que já existia.”
Pelo risco causado ou agravado surge para o agente o dever de impedir o resultado danoso, passando a situação de garante, devendo prevenir o dano ao bem jurídico tutelado, pois não realizando, responderá pelo crime o qual deu resultado, observando apenas se houve culpa ou dolo.
Ex: Um mergulhador profissional, chama seu amigo para realizar um mergulho sabendo que o mesmo não sabe nadar, prometendo caso ocorresse algo que o ajudaria. Em meio ao mergulho o amigo começa a afundar e o mergulhador profissional nada faz para impedir o resultado, ocorrendo a morte do amigo por afogamento.
Temos que o mergulhador expôs a pessoa a risco, pois sabia que o mesmo não sabia nadar, e se absteve de tentar salvar o amigo, respondendo pelo crime de homicídio, doloso ou culposo conforme o cas
PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS DO CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO
São três pressupostos:
1º. pressuposto - poder agir – Não se exige atitudes heróicas, ou seja, basta que o sujeito tenha reais condições de evitar o resultado. Condições estas físicas e materiais de agir para evitar o dano.
Segundo Heleno Cláudio Fragoso: “o dever de agir em sua natureza, não difere do que ocorre nos crimes omissivos próprios, nem do dever de abstenção que surge nos crimes comissivos. Esse é o dever jurídico que surge das normas”.
Se no caso concreto o agente não tem a possibilidade de agir, não há que se falar em crime comissivo por omissão, uma vez que faltou um pressuposto básico para ocorrência do delito.
Para Cezar Roberto Bitencourt "é necessário que, além do dever, haja também a possibilidade física de agir, ainda que com risco pessoal".
Esse não é o melhor entendimento, mas isso nos mostra que no direito as posturas podem ser totalmente diferentes.
De toda sorte, somente se imputará o crime omissivo impróprio, caso o agente tenha o dever de agir, não excluindo dessa forma a possibilidade física e material de agir, afinal, o dever de agir não pode excluir a integridade da vida humana do garantidor. 
Isso porque o garantidor também é um bem jurídico que merece ser preservado.
Caso o agente que tenha o dever de garante estiver, por exemplo, sob coação física irresistível não estaríamos diante de uma omissão.
2º pressuposto - Evitar o resultado – à partir do momento em que o agente pode agir ele deve evitar o resultado, razão pela qual 
- ele deve se questionar: se eu agir, posso evitar o resultado?
Isso porque se ele age e ainda assim o resultado ocorre, não se pode imputar o crime, pois ele não deu causa ao resultado e sim, tentou evitar mas não conseguiu.
3º. pressuposto - é o dever de impedir o resultado - quando ele mesmo causa o perigo – assim, se ele pode e tem condições de evitar o resultado, deverá fazê-lo e conseguir evitar, uma vez que, como ele foi o causador do perigo, responderá, independentemente de ter querido ou não criar o perigo (dolo ou culpa) pelo crime que ocorrer.
Temos que, criando o risco, ele assume o resultado. Culposo ou doloso.
DOS LIMITES DA IMPUTAÇÃO DO CRIME MATERIAL AO AGENTE GARANTIDOR
Concluímos que, para caracterizar um crime comissivo por omissão é preciso, primeiramente, que o omitente seja o GARANTIDOR, previsto no parágrafo 2º, do art. 13, do CP, seja advindo de lei, vontade, ou porque sua conduta criou a situação de risco.
Além disso, deve possuir os três pressupostos: o dever, o poder e o evitar o resultado.
O último pressuposto é muito subjetivo, pois não sabemos quando o garante tinha reais condições de evitar o resultado.
Questão difícil é saber, por exemplo, quando um agente que tem por lei a obrigação de evitar o dano, muitas vezes jurando defender o bem jurídico tutelado com sacrifício da própria vida.
Não tendo esse agente, as reais condições físicas e materiais de evitar o dano, como se aplicaria o crime em questão?
Ex.: policial armado de um revolver é chamado para uma ocorrência, quando na chegada ao local, se depara com bandidos fortemente armados. Ele precisa atuar para evitar o resultado. Caso não atue, comete crime omissivo impróprio?
Seria, no mínimo, uma hipótese de exclusão de ilicitude caso o agente, para agir, tivesse que colocar a própria vida em perigo.
Quais seriam então os limites do “poder agir”?
Entendo que não ocorrendo uma real condição do garante agir sem risco próprio, a ele não se deve imputar crime algum, uma vez que ele não atuou por falta de meios necessários para intervir.
Para Ronaldo Cezar Possato Venâncio, que é 1º. Tenente da polícia Militar de São Paulo, graduado em administração de segurança pública.:
No caso do agente Público este dever é expresso em lei, impostos pela administração e exigidos pela sociedade, “se para o particular o poder de agir é uma faculdade, para o administrador público é uma obrigação de atuar... Pouca ou nenhuma liberdade sobra ao administrador público para deixar de praticar atos de sua competência legal”. Segundo o art 13, § 2ª do Código Penal, “incumbe o dever de agir que tenha por lei o cuidado, proteção ou vigilância, ou de outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o resultado”. Dever este expresso, inclusive no juramento em que os policiais militares e bombeiros fazem perante o Pavilhão Nacional, jurando que farão de tudo para cumprir com esse dever, indo às últimas conseqüências: “... com o sacrifício da própria vida”. 
Segundo o autor, só deveria ter a obrigação de agir havendo a oportunidade e os meios adequados, que são os requisitos fundamentais para a ação dos garantes, caso contrário suas ações seriam suicidas, e o bem jurídico tutelado pela lei continuaria lesado da mesma forma, somando a este a vida dos garantes.
     Com efeito, ninguém está obrigado ao impossível.
Resumindo, com WESSELS: “os delitos omissivos próprios são fatos puníveis que se esgotam na infração a uma norma mandamental e na simples omissão de uma atividade exigida pela lei. São deli​tos omissivos impróprios, em contrapartida, os fatos puníveis nos quais o omitente está obrigado, como “garantidor”, a impedir o re​sultado, e nos quais o omitir-se corresponde valorativamente à re​alização de um tipo legal através de um fazer ativo.” (WESSELS, Johannes. Direito Penal - Parte Geral. Porto Alegre: Ed. Sérgio Antonio Fábris, 1976, p. 158).
ANÁLISE DE UM CASO EM CONCRETO 
E DA APLICAÇÃO DA TEORIA DA CAUSALIDADE
Um jovem de 18 anos foi preso pela Polícia Militar na madrugada de segunda-feira em Monte Alegre do Sul (130 km de São Paulo) sob a suspeita de matar com um chute o motorista da ambulância que o levava para um hospital de uma cidade vizinha.
De acordo com Polícia Civil, o rapaz se envolveu em uma briga na festa de Carnaval de Monte Alegre do Sul e precisava de socorro médico. Ele tinha sinais de embriaguez e passava mal quando era levado na ambulância para a Santa Casa da cidade de Amparo.
No caminho, o jovem quebrou um vidro do veículo com um chute e tentou fugir, ainda segundo a polícia. O motorista, Adécio Pompeu Carvalho, 51, estacionou a ambulância para ajudar o socorrista a conter o rapaz, mas acabou sendo atingido por um chute dele, caiu, bateu a cabeça e sofreu traumatismo craniano.
O motorista morreu enquanto era levado à Santa Casa de Amparo. Ele trabalhava havia sete anos na Prefeitura de Monte Alegre do Sul, era casado e tinha dois filhos.
O jovem acusado pelo crime foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio doloso (quando há intenção de matar), resistência à prisão e desobediência à autoridade policial”
A matéria diz que o suspeito foi indiciado por homicídio doloso. Mas vamos tentar entender o que a matéria disse que aconteceu e o crime pelo qual ele foi indiciado.
Já vimos aquique dolo ocorre quando alguém quer ou assume o risco de produzir um resultado. A matéria diz que ele chutou a vítima para conseguir fugir e que, segundo a polícia, porque esse chute fez com que a pessoa caísse, machucasse a cabeça e morresse, ele teria cometido assumido o risco de matar a vítima.
Existe algo em nosso Código Penal chamado de superveniência de causa independente, da qual já falamos aqui.
O caso acima pode muito bem ser encarado como essa causa independente. Não foi o chute que matou a vítima, foi o fato de, depois de ser chutada, a vítima ter perdido o equilíbrio, caído, batido a cabeça e morrido por conta do traumatismo craniano (ou seja, por conta de ter batido a cabeça).
Reparem quantas coisas aconteceram depois do chute até que ela morresse. Se ela não tivesse caído, ela não teria morrido. Se ela não tivesse batido a cabeça, ela não teria morrido. Tanto ‘cair’ quanto ‘bater a cabeça’ são causas supervenientes. Se o magistrado considerar que elas eram independentes do chute, ainda que apenas relativamente, ele não poderá sentenciar o suspeito pelo homicídio.
Parece estranho, mas imaginemos que alguém que levou um tiro e estava sendo levado de ambulância para o hospital acabou morrendo quando essa ambulância bateu em outro carro. É claro que a pessoa não estaria na ambulância se não houvesse levado o tiro, mas não foi o tiro – ou a consequência direta do tiro – que a matou: foi o acidente de trânsito.
O magistrado pode determinar que a mesma coisa aconteceu na matéria acima. A queda ocorreu porque o suspeito queria fugir e chutou a vítima, mas não foi o chute que a matou: foi o desequilíbrio e, depois, o bater a cabeça.
Nossa lei diz que a causa pode ser apenas relativamente independente e ainda a culpa não poderá ser imputada ao réu. Ou seja, embora a pessoa tenha caído por causa do chute ou tenha sido transportado pela ambulância por causa do tiro, tanto a queda quanto o chute, embora em última instância tenha levado aos eventos que causaram a morte, sua ligação com aqueles eventos é apenas relativa. E causas relativamente independentes excluem a possibilidade da morte ser imputada ao réu. 
Óbvio que quem vai decidir se a morte e o chute têm relação de dependência será o magistrado. O fato de a polícia ter indiciado alguém por um crime não quer dizer que o Ministério Público vai concordar com isso quando apresentar a acusação ao magistrado, ou que o magistrado vai concordar com a alegação do Ministério Público. A palavra final é sempre da justiça (magistrado).
Se ele julgar que o chute é uma causa independente (ainda que apenas relativamente independente) da morte, ele ainda assim poderá condenar o suspeito pelo que ele tiver feito. Por exemplo, chutar alguém é um crime de lesão corporal.
Por outro lado, se ele julgar que o chute levou à morte (ou seja, foi a causa da morte), ele ainda terá de decidir se quem chutou queria ou assumiu o risco de matar (o que significa que foi um homicídio doloso), ou se foi um outro crime: lesão corporal seguida de morte.
RESUMO PARA A FIXAÇÃO
Nosso Código Penal adotou como regra a Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais, também denominada Teoria da Conditio sine qua non, que determina que CAUSA é todo fato oriundo de comportamento humano sem o qual o resultado não teria ocorrido.
Assim, para que possamos verificar se algum comportamento insere-se neste conceito de causa devemos aplicar o processo hipotético de eliminação: 
Para tanto suprime-se mentalmente um determinado fato que está no desenvolvimento linear do crime. 
Se não ocorrer resultado naturalístico em razão dessa supressão, é porque esse fato era causa; 
De outro lado, se persistir, causa não será 
Ex: disparos fatais de arma de fogo contra a vítima – se forem suprimidos, não há crime de homicídio – logo, são causa).
Entretanto, apenas esse processo não é suficiente para a determinação da causa uma vez que ele nos permite o regressar ao infinito. 
Ex.: suponhamos que uma arma de fogo fabricada e posteriormente vendida foi utilizada em um homicídio. Com efeito, caso seja suprimida, o crime em tese não existiria.
Exatamente por isso a doutrina afasta essa possibilidade exigindo a ocorrência da figura da IMPUTATIO DELICTI  que significa: causalidade psíquica, ou seja, exige-se comprovação do dolo ou culpa do agente para a produção do resultado. 
Assim, temos que o fabricante da arma sequer age com culpa em um eventual homicídio, uma vez que a venda por ele realizada é lícita. De outro giro, o agente que dispara contra a vítima age dolosamente, devendo ser responsabilizado pelo homicídio.
Vimos também que § 1º do art. 13, CP, considera causa uma conduta adequada à produção do resultado. Assim, segundo essa regra, não basta que o comportamento do agente seja indispensável para a ocorrência do crime como determina a conditio sine qua non). É preciso, ainda, que esse comportamento seja adequado. 
DAS CONCAUSAS – podem ser definidas como um conjunto de fatores 
Preexistentes
concomitantes ou 
supervenientes
Esses são fatores externos à vontade do agente, mas que se unem a sua conduta, ou seja, convergem. Algumas concausas são dependentes e outras independentes. 
As concausas dependentes somam forças. Por sua vez, as concausas independentes isto é, aquelas cujo aparecimento não é desejado e nem previsto pelo agente e produzem por si só o resultado, são divididas em: 
ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES 
RELATIVAMENTE INDEPENDENTES
ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES – são as que não possuem vínculo com a conduta do agente. Ocorreriam ainda que o agente jamais tivesse agido
Podem ser:
Preexistente: existia antes da conduta do agente. 
Ex: A deseja matar a vítima B e para tanto a espanca. A vítima é socorrida, mas falece. Entretanto, o laudo necroscópico evidencia como  causa mortis o envenenamento anterior, causado por C;
Concomitante: surge no mesmo instante em que o agente realiza a conduta. 
Ex: A efetua disparos de arma de fogo contra B, que vem a falecer em razão de um súbito colapso cardíaco 
Obs.: cuidado, não se trata de doença cardíaca preexistente, mas sim de um colapso ocorrido no mesmo instante da conduta do agente!;
Superveniente: é a causa que atua após a conduta do agente. 
Ex.: A administra dose letal de veneno para B. Enquanto este último ainda está vivo, desprende-se um lustre da casa, que acaba por acertar qualquer região vital de B e vem a ser sua causa mortis.
Após analisarmos as hipóteses, percebemos que a ocorrência do resultado se de maneira totalmente independente da conduta do agente. As causas atuaram de forma independente e foram as únicas responsáveis diretas pela produção do resultado. 
Assim, não há que se falar em nexo causal entre resultado e conduta do agente, devendo o agente responder apenas pelos atos por ele praticados, isto é: por tentativa de homicídio caso esta tenha sido a vontade do agente.
CONCLUSÃO:
NAS CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES SEJA PREEXISTENTES, CONCOMITANTES OU SUPERVENIENTES - o agente responderá somente pelos atos já praticados E NÃO pelo resultado.
NAS CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES - São aquelas que dependem da atuação do agente para existir.:
PREEXISTENTE: a causa existe antes da conduta e dela dependente. 
Ex.: é o agente que dispara arma de fogo contra a vítima, causando-lhe ferimentos não fatais. Porém, ela vem a falecer em virtude do agravamento das lesões pela hemofilia. SOMA FORÇAS
 
CONCOMITANTE: ocorre simultaneamente à conduta do agente. 
Ex: O agente que dispara arma de fogo contra a vítima, que foge correndo em via pública e morre atropelada por algum veículo que ali trafegava.
Segundo determina o art. 13, caput, CP, aplica-se a teoria da equivalência dos antecedentes causais nas duas hipóteses vez que se suprimirmos a conduta do agente o crime não teria ocorrido. Responde por homicídio consumado.
SUPERVENIENTE: aquela que ocorre posteriormente à condutado agente. Neste específico caso, torna-se necessário fazer uma distinção, em virtude do comando expresso ao artigo 13, § 1º, CP: A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Da exegese deste artigo depreende-se que existem as causas relativamente independentes que, por si só, excluem o resultado e as que não excluem, sendo certo que apenas as que produzem por si só o resultado naturalístico terão tratamento diverso.
Em síntese, as causas ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES, sejam elas preexistentes, concomitantes ou supervenientes, excluem o nexo causal, dando ensejo a outro que não pode ser imputado ao agente.
Quando ocorrerem causas preexistentes ou concomitantes, só haverá as duas alternativas: ou são absolutamente independentes e excluem a relação causal ou são relativamente independentes e se aliam à conduta, não excluindo o nexo de causalidade

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes