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1 Títulos de crédito O crédito Por Fauez Shafir A palavra crédito deriva do latim creditum, que por sua vez advém de credere, que significa confiar, ter fé. Assim sendo, o crédito representaria a confiança que alguém desperta em outrem. Daí, dizer-se que determinada pessoa tem crédito, no sentido de que esta pessoa desperta a confiança. Nas relações obrigacionais em geral, pelo menos um dos envolvidos tem direito a uma prestação e esse seu direito é entendido como um direito de crédito. Assim, no contrato de compra e venda, o vendedor que entregou a mercadoria tem um crédito, consistente no direito de receber o preço estipulado. Portanto, juridicamente, quando se fala do crédito, se fala de um direito do credor de uma relação obrigacional. Conceito de título de crédito O conceito mais clássico é o de Cesare Vivante, pelo qual o “título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado”. Tal conceito é praticamente reproduzido pelo artigo 887 do CC/02, nos seguintes termos: “O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei”. Neste conceito estão presentes os três elementos essenciais de um título de crédito (a autonomia das obrigações, a literalidade e a cartularidade ou incorporação), que devem ser preenchidos para que um documento seja considerado um título de crédito. Obs.: Direito Cambial (cambiais) = Título de crédito. Por que Dir. Cambial? Porque o primeiro título de crédito foi a “letra de câmbio”, que surgiu na idade média e foi o único que predominou por longo tempo. Função dos títulos de crédito A função primordial dos títulos de crédito é a de facilitar e agilizar a circulação de riquezas, permitindo o melhor desempenho das atividades econômicas. Os títulos de crédito se destinam “a tornar mais simples, rápida e segura a movimentação de bens e direitos”. Tem o objetivo de fundamentar as várias relações jurídicas, permitindo a circulação do crédito entre várias pessoas, de forma juridicamente segura e ágil. 2 Atributos Essenciais: Cartularidade: Aparece duas vezes no conceito do art. 887 do CC/02: “O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei”. 1º. “Documento necessário ao exercício do direito...”: Precisa oferecer o original. É necessário para transferir o crédito, não basta passar oralmente. Para o credor cobrar, precisa do original, cópia autenticada ou testemunhas não servem. Como decorrência dessa exigência do original, a posse do título pelo credor gera a presunção do crédito. E a posse do título pelo devedor gera a presunção de que a dívida foi paga. 2º. “Somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei...”: necessário conter no documento as formas exigidas pela lei para que seja considerado válido como título de crédito. Literalidade: art. 887 do CC/02: “...direito literal...” Significa que somente pode ser demandado aquilo que estiver literalmente lançado no título. Ou seja, só vale o que estiver literalmente no título. Qualquer outra combinação, por exemplo, fora da relação ou em outro documento do título cambial, não vale para esse título. Qualquer alteração, modificação tem que ser inserido diretamente no título para que possa valer. Autonomia: O título de crédito uma vez em circulação, ganha autonomia frente a relação jurídica de base. Ricardo e Luana estabelece um contrato que gera um título de crédito. Todavia, rompe-se o contrato e não se cumpre o estabelecido, porém a credora não devolve o título. Nesse caso, se ela tentar cobrar o título, certamente não conseguirá, pois o título não circulou. Entretanto, se a credora passar o título para frente, ele ganhará, o título, autonomia, e terá força própria, podendo ser exigido. Ressalte-se que, se o terceiro que recebeu o título cambial sabia da extinção do contrato, esse terceiro não poderá cobrá-lo, pois quebra o vínculo. Nessa situação, terá que se provar que o terceiro sabia que o contrato já tinha se rompido, o que é difícil. Depreende-se então que o título ganha autonomia quando é posto em movimento. Quando é repassada para outra pessoa diferente a relação negocial. Atributos Não-essenciais: Independência: Os títulos de créditos independentes, não dependem, de outro documento para surtir seus efeitos. Cheque. Não precisa provar um contrato ou a entrega do produto, é um título independente. Exceção: Duplicata. Ela não é independente, depende da fatura. 3 Abstração: Os títulos de crédito podem ser emitidos por qualquer razão lícita. Exceção: Títulos causais (duplicata). Características: Disciplina pelo Direito Empresarial: Instituto jurídico que segue a principiologia do Dir. Empresarial e não do Dir. Civil, é incorreto tentar aplicar a regra do Dir. Civil aos títulos de crédito. Ambos os institutos (empresarial e civil) compartilham alguns conceitos, mas não se confundem. Bem móvel: viabiliza que circula mais facilmente, a transferência do título ocorre sem burocracias, pode se feita por mera tradição. Natureza “pro solvendo”: o título é emitido como pagamento, mas só será considerado como pago efetivamente quando solver a dívida, o título não tem caráter de dívida já paga. A completa satisfação do débito requer o pagamento do título (a mera emissão ou transmissão não é suficiente). Obs.: “Pro soluto”: significa que a mera emissão ou transmissão deduz o pagamento, cumpre o pagamento apenas emitindo o titulo. Nesse caso tem que estar EXPRESSO. Títulos de representação: Decorrência do atributo Cartularidade. Significa que os títulos de crédito devem ser apresentados no original, para o exercícios dos direitos dele decorrentes. Obrigação quesível: como regra. O credor vai até o devedor para receber. Exceção: Duplicata. Títulos de resgate: também é decorrência da Cartularidade. “resgatar o título”: ao efetuar o pagamento, o devedor tem que “pegar” (resgatar) o título de volta. Recibo não resolve, tem que ser o título original, pois assim o tira de circulação. O devedor tem o direito de não pagar caso o credor não queira entregar o título original ou assentar no próprio título a quitação. Executividade: são os títulos de crédito executivos. Se as obrigações não forem cumpridas voluntariamente, poderá ser ajuizada uma ação de execução. Formalismo: decorrência também da Cartularidade. Somente gera efeitos se atender a todos os requisitos da lei. Solidariedade cambiária: A solidariedade cambiária é específica, não se confundindo com a solidariedade civil, embora ambas representem a obrigação de cada um dos codevedores de honrar a integralidade da dívida. No Dir. Cambiário, a locomoção do título (emissão, endosso e aval), gera a responsabilidade para aqueles por quem o título passou. 4 1º. Causa do débito: Na solidariedade civil há uma causa comum, na cambiária a obrigação de cada devedor decorre de uma causa distinta, para cada devedor (cada declaração de vontade autônoma). Além disso, na solidariedade civil há uma unidade de prestação, ao passo que na cambial existe uma pluralidade de prestações, tantas quantos forem os devedores do título. No Dir. Civil se a causa geradora do título findar, os devedores são liberados. Antônio Bruna Carla Marcos Yarley Uma únicarelação jurídica (ex.: aluguel). No Dir. cambiário, se se invalida uma relação autônoma, só o devedor solidário que o negócio foi invalidado é que se libera da obrigação, não se vincula aos outros. Relações autônomas José Maria Joaquim Joana Negócio invalidado, só o Joaquim que se libera da obrigação. 2º. Direito de regresso: Na solidariedade civil passiva, qualquer codevedor que paga a dívida terá direito de regresso contra os outros codevedores. Na solidariedade cambiária, nem todos os devedores terão direito de regresso, vale dizer, alguns devedores, ao pagarem o título, nada podem exigir dos outros coobrigados. Portanto, nos títulos de crédito nem sempre nasce o direito de regresso em razão do pagamento da obrigação por um dos codevedores solidários. Na solidariedade cambial, quando nascer o direito de regresso, ele só poderá ser exercido em face dos devedores anteriores, isto é, o pagamento feito por determinado devedor extingue a obrigação de todos os devedores posteriores a ele, não havendo mais como se cogitar desses codevedores posteriores. Imagina a situação abaixo: José Maria Joaquim Joana Joana é a credora nessa relação, sendo José, Maria e Joaquin codevedores. Se Joana cobra de Maria e ela paga, nasce para Maria o direito de regresso, que só poderá ser exercido em face de José, porquanto o direito de regresso só poderá ser manejado contra os devedores anteriores. 5 Ademais, na solidariedade civil, aquele que paga pode exigir a quota-parte dos demais, já nos títulos de crédito, todos são obrigados pela dívida inteira, mas, caso um deles pague, o direito de regresso contra os demais coobrigados é exercido por todo o valor do título e não pela quota-parte de cada um. O devedor principal não tem direito de regresso. É aquele que recebeu a vantagem, mas não desembolsou. 3º. Início da solidariedade: No Dir. civil a solidariedade se dá no início da vigência do contrato (ficando a cobrança pendente do vencimento). Já no Dir. cambial a solidariedade dos codevedores só inicia quando o título for protestado (aqui são codevedores). O devedor original já é obrigado a partir do vencimento. Logo, só poderá cobrar dos codevedores se o título for protestado no prazo, pois este é o fator de validade para a solidariedade (tanto o protesto, quanto o prazo). Obs.: Em 2002 entrou em vigor o novo Código Civil que criou um capítulo sobre Títulos de Crédito, sendo que já havia leis especiais sobre certos títulos específicos (cheque, duplicata, etc.). Então, para quê a previsão dos títulos de crédito no Código Civil de 2002? Há no CC/02 o art. 903 o ditame de que o presente código só regula os títulos de crédito que não tem lei especial, havendo lei especial, este prevalece. Assim, leis especiais anteriores ao código continuam em vigor e sobrevindo nova lei especial tratando sobre algum título de crédito em específico, esta também prevalecerá. Então qual a finalidade do CC/02 tratar os títulos de crédito? Serviria para dois propósitos: 1º. Criar uma teoria geral dos títulos de crédito. Assim permite-se criar um título de crédito atípico às leis especiais, mas que será regido pelo CC/02. 2º. Suprir eventuais lacunas da lei especial. Letra de Câmbio Característica: é um título de crédito no qual uma pessoa (chamada sacador) declara que outra pessoa (chamada sacado) pagará a outrem (chamado tomador) uma quantia certa, podendo estipular local e data para o pagamento. Letra de cambio Sacador Tomador (garantidor) (beneficiário, credor) Ordem de pagamento Sacado (devedor, uma vez aceito) 6 O sacador ou emitente é aquele que emite a letra, aquele que dá a ordem de pagamento para o sacado e responde pelo não cumprimento por parte deste. O sacado, por sua vez, é aquele a quem é dirigida a ordem de pagamento, mas só se torna obrigado a cumprir essa ordem se assumir a obrigação assinando o título. Por derradeiro, temos o tomador ou beneficiário que é o credor originário do título, isto é, que vai receber o valor constante do título. Em síntese: o sacador dá uma ordem ao sacado para que ele pague determinada quantia ao beneficiário. Regra Legal: Considerando a importância das letras de câmbio para o comércio internacional, percebeu-se a necessidade de uma uniformização no tratamento dos títulos, especialmente na letra de câmbio. Tal uniformização era necessária para facilitar as trocas econômicas realizadas entre vários países. Havia um conflito, quanto a essas relações internacionais, de qual lei deveria prevalecer se, por exemplo, do Japão, Brasil ou EUA. Japão Brasil (sacador) (tomador) EUA (sacado) Em 1930 houve uma convenção realizada em Genebra, com a participação de vários países para unificar o tratado sobre a Letra de Câmbio. Foi então feito a Lei Uniforme sobre Letras de Câmbio, que ficou conhecido como Lei Uniforme de Genebra (LUG), representando a tentativa de uma legislação comum entre vários atores do comercio internacional. Dada a dificuldade natural de um consenso sobre todos os pontos da legislação, se houve por bem distinguir dois tipos de normas na LUG, quais sejam: as necessárias e imprescindíveis à uniformização, isto é, de aceitação obrigatória pelos signatários, e as não necessárias, em relação às quais poderiam ser feitas reservas. Em suma, nem todo o texto da LUG precisa ser seguido pelos países signatários. Todavia, a LUG não foi ratificada de imediato pelo Brasil e o que vigorava, nesse ínterim, era o Decreto 2.044/1908(Define a letra de câmbio e a nota promissória e regula as Operações Cambiais). Porém, na década de sessenta, com fortes pressões da comunidade internacional, a Lei Uniforme sobre Letras de Câmbio foi ratificada em 1966. Na ditadura, o ditador Castello Branco, então presidente, ratificou o tratado através do Decreto- Lei 57.663/66 (Promulga as Convenções para adoção de uma lei uniforme em matéria de letras de câmbio e notas promissórias), tendo o anexo I trazido o texto da LUG e o anexo II trazido as reservas que poderiam ser feitas a esse texto. É bom ressaltar que o texto adotado no Brasil é uma cópia, com pequenas diferenças, da tradução portuguesa, a qual é objeto de grandes críticas também em Portugal, pela imprecisão da terminologia adotada. Logo, tem que se estudar o anexo I do Decreto-Lei 57.663 e não a sua redação diretamente. 7 Requisitos: os títulos de créditos são documentos de legitimação que possuem toda uma proteção especial em razão disso, nem todo documento pode ser considerado um título de crédito. Nesta matéria, vige o formalismo, pelo qual um documento só será considerado título de crédito se atender os requisitos impostos pela lei. Desse modo, um documento só será considerado uma letra de câmbio se possuir os requisitos determinados pela legislação. Dentre esses requisitos impostos por lei, podemos diferenciar os requisitos essenciais, que não podem estar ausentes de forma alguma, e os requisitos não essenciais, ou, a nosso ver, melhor chamados como supríveis, em relação aos quais há uma opção, isto é, o requisito pode estar ausente desde que seja suprido por outra indicação. Requisitos Essenciais: são os requisitos que não podem faltar em nenhuma hipótese, sob pena de não estarmos diante de uma letra de cambio. A falta dos requisitos essenciais torna o título um mero documento probatório e não uma letra de câmbio. 1º. Cláusula Cambial: conforme artigo 1º da LUG, o documento deve conter menção ao termo “letra” na declaração de vontade. Diante da variedadede títulos de crédito, é fundamental identificar qual é o título que está representado naquele documento e nada mais lógico do que identifica-lo pelo próprio nome, não se admitindo o uso de expressões equivalentes. Exemplo: “Senhor José das Couves, pague por essa única via de letra ao senhor...”. O documento tem que deixar claro de que se trata de uma letra de câmbio, tem que estar descrito na declaração de vontade. 2º. “Mandato” puro e simples de pagamento certo (ordem de pagamento): o correto é “mandado”, foi redigido erroneamente na LUG. Direcionado ao sacado. O termo “pura e simples” aduz que deverá ser livre de condições. Caso tenha colocado condições no documento, este será considerado não escrito. As condições, caso inseridas, não invalidam o documento, apenas serão ignorados. O termo “pagamento certo” tem que delimitar claramente o quanto deverá ser pago. A quantia a ser paga deverá ser especificada em algarismo e por extenso. Se houver 8 contradição entre o número em algarismo e o por extenso, prevalecerá a que estiver por extenso. R$ 1.000,00 (dois mil reais) Este, o valor extenso, prevalecerá. Erros de ortografia não invalidam o documento e o seu valor, enquanto não retirar a certeza. 3º. Tomador (nome do beneficiário): é um título “à ordem”, pois tem o beneficiário identificado. As letras de cambio não podem ser títulos ao portador e, por isso, é fundamental indicar o nome da pessoa que deve ser paga (tomador ou beneficiário). 4º. Sacado: deve indicar a quem a ordem é dirigida, isto é, o título deve identificar o sacado. Essa indicação do sacado não lhe traz qualquer responsabilidade, a qual decorrerá do eventual aceite firmado no título. 5º. Data de emissão: também deve constar de uma letra de câmbio a data na qual ela foi sacada. Tal marco temporal é importante para aferir, por exemplo, a capacidade de o sacador se obrigar no momento em que emitiu o título. 6º. Assinatura do sacador: Nos títulos de crédito, como a letra de câmbio, a fonte da obrigação cambiária é uma declaração unilateral de vontade, a qual, deve constar do documento. Assim, é requisito essencial da letra de câmbio a assinatura do sacador, vale dizer, a declaração unilateral de vontade apta a fazer nascer o título. Requisitos não-essenciais (requisitos supríveis): a LUG indica outros três cuja ausência não afasta necessariamente a validade do documento como letra de câmbio. Nesses casos, sua ausência pode ser suprida por outros elementos da letra ou pela própria lei. 1º. Época de pagamento (data de vencimento): se a letra de cambio for emitida sem essa informação, quando o pagamento deverá ser feito, a letra será considerada vencível à vista. Presume que o título vence contra apresentação ao sacado. Obs.: nessa situação a letra deve ser apresentada em até 1 (um) ano da data de emissão. A data de pagamento não precisa ser detalhada, mas precisa ser inequívoca. Não pode trazer dúvidas. Natal de 2018 – é determinável. Carnaval de 2019 – é determinável. Meados de dezembro – é determinável, pois pela LUG é no dia 15 para a Letra de câmbio. Início de setembro – é determinável, é o primeiro dia. Final de setembro – é determinável, é o último dia. Obs.: Vencimento em feriado: é prorrogado para o primeiro dia útil. Dia útil, pela LUG, é o dia de expediente bancário normal (frise-se: normal). 25 de dezembro = 26 de dezembro se não for sábado ou domingo. 9 2º. Do lugar do pagamento: há uma liberdade entre os negociantes para definir o local do pagamento. Do Brasil, define que na Rússia será o local do pagamento. Todavia, caso não se indique o lugar de pagamento, a letra deve ser paga no local ao lado do nome do sacado e que também será considerado o seu domicílio. Não havendo nenhuma das duas indicações, o documento não vale como letra de câmbio. 3º. Lugar de emissão: o local de emissão, que serve especialmente para identificar a legislação aplicável àquele título. A cobrança será regulada pelas normas do lugar do pagamento. Com relação ao funcionamento, será regulado pelo lugar da emissão da letra. Caso essa informação não conste do título, considera-se como tal o local indicado na qualificação do sacador (normalmente o seu próprio endereço). Obs.: Campos em branco: podem ser preenchidos pelo portador do título (art. 10 da LUG). Declarações cambiárias: Uma letra de câmbio representa, em última análise, uma declaração de vontade do sacador (saque), no sentido de ordenar ao sacado o pagamento de determinada quantia em proveito do beneficiário. A par dessa declaração, que sempre existirá, podem surgir outras declarações de vontade na letra de câmbio, com a intenção de assumir a obrigação pelo pagamento do título (aceite), de transferir o título (endosso), ou de garantir o pagamento desse título (aval). Todas essas declarações de vontade que se fazem no título são chamadas de declarações cambiais. O saque é declaração originária e necessária porque o título surge graças a ele. O aceite, o endosso e o aval são declarações cambiárias eventuais ou sucessivas, na medida em que não precisam existir em um título. Aceite: 1º. Conceito: é o ato unilateral do sacado por meio do qual ele manifesta concordância com a ordem de pagamento que lhe é atribuída e se torna o devedor direto (devedor principal não tem direito a reembolso) de um título de crédito. O aceite é sempre facultativo e representa o “ato formal segundo o qual o sacado se obriga a efetuar, no vencimento, o pagamento da ordem que lhe é dada”. Em suma, o aceite é a manifestação de vontade do sacado no sentido de que irá pagar a letra, ou seja, é o ato pelo qual ele assume o compromisso de cumprir a ordem que lhe foi dada. Sem o aceite o sacado é um mero nome constante do título. Com o aceite ele se torna obrigado a pagar o título. De qualquer forma, trata-se de uma declaração cambiária sucessiva e acessória, vale dizer, não essencial, pois a letra existe mesmo que não haja o aceite. 2º. Efeitos: com o aceite ocorrem dois efeitos: I. O sacado passa a ser chamado de “aceitante”; II. O sacado se obriga ao pagamento no vencimento, como devedor principal. 10 Obs.: O aceite não exonera o sacador, mas o torna devedor indireto (ou coobrigado). 3º. Local e forma do aceite: Para simplificar e agilizar a atuação do sacado, a legislação presume como aceite a simples assinatura do sacado na frente do título, no anverso da letra de câmbio, mesmo sem qualquer indicação. Gera presunção absoluta, não podendo ser contestado no Dir. Cambial. Caso o sacado assine o título no verso, tal assinatura só será considerada um aceite se for complementada por uma declaração (não há fórmula solene) que indique que aquela assinatura é um aceite, como expressões do tipo aceitação, aceitante ou de acordo. I. Apresentação do título ao sacado, que deverá ser feito até a data de vencimento do título: é obrigação do credor procurar o sacado e confirmar o aceite. Se ele não buscar o aceite e vencer o dia de pagamento, o credor perde o direito de crédito contra todos (perde o crédito cambial, sua validade enquanto letra de câmbio). Se o título não tiver data, é vencível à vista. No ato da apresentação em até um ano de sua emissão ao sacado. II. O sacado pode exigir a representação no dia útil seguinte: Apresentado o título ao sacado para o aceite, ele pode ter a intenção de confirmar a autenticidade e o dever de assumir tal obrigação. Assim sendo, o sacado tem o direito de pedir a reapresentação do título no primeiro dia subsequente, garantindo-se assim a oportunidade de o sacado confirmar o que foi combinado com o sacador. Trata- se de um direito dosacado, logo, não há possibilidade de negativa a tal pedido. Se o credor procura o sacado no dia do vencimento do título e o sacado pede para ele voltar no outro dia, onde o título já terá vencido, o beneficiário, ante o pedido de reapresentação, terá que colher prova no próprio título (documentos avulsos e provas outras não valem, princípio da literalidade). 4º. Data do aceite: não é requisito obrigatório. Uma vez proferido o aceite, presume-se que foi antes do vencimento. Presunção absoluta. Caso o sacado receba após a data de vencimento, ele tem que informar a data no título. Caso não coloque, ainda que afirme ter recebido, prevalece a lei que diz que foi antes, mesmo que com testemunhas. 5º. Aceite deve ser puro e simples: ou aceita ou não. Não pode haver condições e nem ressalvas. Mas há três exceções: I. Aceite parcial: onde o sacado assina e detalha qual valor ele aceita se responsabilizar, até qual montante. II. Indicação de outro lugar de câmbio: o sacado pode indicar outro lugar. III. Indicação de outra pessoa para efetivar o pagamento: não está transferindo a responsabilidade do pagamento, ainda é responsável, apenas indicando outro que efetuará o pagamento. Não é uma transferência de responsabilidade, mas apenas quem vai pagar. Ex. Preposto. Qualquer outra condição ou ressalva considera-se não escrita. Ou seja, caso haja condição ou ressalva, o título não será anulado, apenas será afastado a condição e tal título será considerado puro e simples com as informações dele constante. 6º. Recusa do aceite: é uma prerrogativa do sacado. Nas letras de câmbio, o aceite não é obrigatório, isto é, o sacado tem a faculdade de aceitar ou não a ordem que lhe foi dada. Sua simples indicação como sacado não lhe imputa qualquer responsabilidade, cabendo a ele assumir ou não responsabilidade pelo pagamento do título. 11 Mesmo que o sacador seja credor dele, ou tenha remetido dinheiro para ele, é o sacado que escolhe se irá ou não responder pelo pagamento do título. Caso o sacado dê o aceite, ele se torna devedor principal e direto do título. Caso não dê o aceite, não surge qualquer obrigação da sua parte, isto é, ele não integra a relação cambiária. Para o sacado, a recusa do aceite não gera qualquer efeito. Efeitos da recusa: I. Exoneração total do sacado como devedor cambial. II. O sacador se torna o devedor principal. III. Vencimento antecipado da letra de câmbio. Todos os que assinaram o título e se tornaram devedores da letra (sacador, endossantes e avalistas) serão chamados a pagar o título imediatamente, mesmo antes da data prevista, pois garantiram que o sacado iria aceitar e efetuar o pagamento. Todavia, para exercer esse direito da cobrança antecipada do título, exige-se que o beneficiário prove essa recusa do aceite. Tal prova, contudo, deve ser feita de forma solene, isto é, a lei exige como prova da recusa do aceite o protesto lavrado pelo competente cartório (LUG – art. 44). Não basta a declaração de recusa do sacado, a prova da falta de aceite será sempre feita pelo competente cartório de forma solene, atestando de forma indiscutível essa ausência do aceite. Obs.: se há apenas o aceite parcial, o valor remanescente que não foi aceito, tem que ser protestado. 7º. Retenção do título pelo sacado: A apresentação para aceite envolve a colocação material do título à disposição do sacado, não sendo suficiente a mera notificação do sacado para que dê o aceite. Nesse caso, a legislação não estabelece o prazo no qual deverá haver a devolução do título, sendo razoável entender-se que o prazo é de 24 horas, caso não haja nenhum prazo combinado entre as partes. Passado esse prazo, a retenção do título se mostra indevida, autorizando o beneficiário a lançar mão de medidas para reaver o título. Com a revogação do procedimento especial para reaver o título, as medidas tomadas nesse sentido se inserem dentro das medidas gerais da tutela de urgência, no sentido da busca e apreensão do título. Endosso: 1º. Conceito: meio de transferência cambial do crédito mencionado a letra de câmbio. A cessão de crédito não se confunde com o endosso. São institutos diferentes. Sacador Tomador endossatário Endossante endosso Sacado Aceitante 12 2º. Forma e local: Basta a assinatura do detentor no verso do título + entrega do original do título ao endossatário (princípio da cartularidade). Para simplificar e agilizar o endosso, entende-se que a simples assinatura do beneficiário no verso (dorso) do título é suficiente para representar a manifestação de vontade apta a transferir o título. Embora esse seja o padrão formal para o endosso, é certo que nossa legislação admite uma segunda forma para tal declaração de vontade. Também vale como endosso a assinatura do beneficiário na face (anverso) do título, desde que acompanhada de alguma expressão que demonstre que a intenção ali era transferir o título (Pague-se a, Transfiro para...). Caso o espaço no documento não seja suficiente para realizar o endosso, deve-se colar uma folha de papel (anexo, alongue ou alongamento) ao título e realizar o endosso nessa folha, que, para todos os efeitos, é o próprio título de crédito. Obs.: o aceitante não tem que conferir a autenticidade da assinatura, apenas se há o endosso no verso do original do título. O aceitante, portanto, precisa do original + endosso (endosso, assinatura). 3º. Endosso modal: endosso com termo, encargo ou condição. I. Termo: É o momento em que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico, podendo ter como unidade de medida a hora, o dia, o mês ou o ano. II. Encargo: subordina a um ônus, uma obrigação. III. Condição: condicionado a evento futuro e incerto. Juridicamente, não é possível no Direito Cambial. Se tiver esses “elementos acidentais”, estes serão considerados não escritos, será subsumido como título puro e simples. 4º. Espécies: O endosso pode identificar ou não a pessoa que vai receber o título. Ao endossar o título, o beneficiário deixa de ser o credor daquela obrigação, passando a assumir outra condição, a de endossante. A condição de credor pertencerá a quem recebe o título por meio do endosso, o endossatário. A indicação ou não do nome do endossatário permitirá qualificar o endosso, como em branco ou em preto. I. “Em preto”: No endosso em preto, o endossante indica a quem está sendo transferido o título, isto é, é mencionado o endossatário do título. Identifica o endossatário. II. “Em branco”: não identifica o endossatário. Não mencionando o nome do endossatário, estamos diante do endosso em branco, que só poderá ser lançado no verso do título (LUG – art. 13). Neste caso, o título pode passar a circular como se fosse ao portador, isto é, a simples tradição do documento pode ser suficiente 13 para transferi-lo. O título não se torna ao portador, uma vez que já houve a indicação de um beneficiário para o título, apenas sua circulação passa a seguir as regras dos títulos ao portador. O endosso em branco, libera o endossatário de eventual responsabilidade, vez que não aparecerá na cadeia cambial. Sacador tomador “em branco” Endossante endossatário Aceitante Endosso 5º. Verificações obrigatórias do devedor direto de um título endossado: I. Exigir a exibição do título original + II. Verificar a regularidade da cadeia dos endossos. Obs.: não á obrigação de conferência da autenticidade das assinaturas. Havendo irregularidade, o aceitante não é obrigado a pagar. José Ricardo Júlio Gomes João Silva Sacador tomador _ _ ? _ _ endossatário/endossante Endosso? Bruna Joaquim Barbosa Aceitanteendossatário/endossante Pedro Augusto endossatário Na cadeia acima, pode-se observar que falta o endosso do tomador Ricardo para o Júlio, logo é uma cadeia cambial irregular. Portanto, o aceitante não é obrigado a cumpri-lo. 6º. Responsabilidade do endossante: como regra, o endossante garante o pagamento do título se o devedor principal não pagar. Exceção: é possível o endosso “sem garantia” por decisão do endossante. Escreve na letra de câmbio: “...endosso sem garantia” ou “sem responsabilidade”. Aval: 1º. Conceito: Declaração cambial unilateral prestada por terceiro (chamado avalista), prometendo ao credor que saldará o débito caso o devedor principal não o faça no vencimento. Obs.: o aval pode ser total ou parcial. Letra de cambio (verso) Júlio Gomes João Barbosa Joaquim Augusto 14 2º. Aval X Fiança: Embora ambos sejam garantias pessoais, é certo que não há uma identidade entre os dois institutos, que se diferenciam em diversos aspectos. Aval Fiança Tipo de obrigação Títulos de Crédito Contrato Natureza Jurídica Declaração Cambial Declaração bilateral (contratual) Troca do garantidor insolvente ou incapaz Não pode ser exigida a troca Pode ser exigida a troca Solidariedade Regra (solidariedade cambial) Não é regra. A regra é subsidiária. Exceção: "opção" do fiador pela solidariedade. Benefício de ordem e benefício de divisão Não existe Haverá para o fiador se a obrigação for subsidiária. Possibilidade de cobrança pelo garantidor Não é possível Possível Limitação de tempo da garantia Impossível Possível Garantidor casado Polêmico Necessária a outorga conjugal Polêmica: Há duas posições do STJ para o mesmo assunto: 1. Posição de uma turma do STJ no sentido de que necessita da outorga conjugal, pois as leis especiais são omissas. 2. Há outra posição aduzindo que, títulos em espécies ou típicos (que tem lei especial), não é necessária a outorga conjugal. Entendo que se a Lei Especial nada regulou nesse sentido, é porque não é necessário. 3º. Avalista: Qualquer pessoa capaz, inclusive quem já é obrigado. 4º. Forma e local do aval: No próprio título. Se for no Anverso (face): Basta a assinatura do avalista. Verso: Assinatura do avalista + explicação da intenção. Ex.: “por aval”. “por garantia”. Como saber se a assinatura na frente do título é o aceite ou o aval? Se a assinatura na face do título for do sacado, será um aceite; se for de qualquer outra pessoa, presume-se que se trata de um aval. 5º. Avalizado: A pessoa por quem se dá o aval é chamada de avalizado, cuja identificação é fundamental para definir os contornos do direitos e dos deveres do avalista. O avalista se obriga nos mesmos termos de quem for o avalizado. Sacador Tomador Sacado João (avalizado) José Pedro (avalista) Maria 15 Se Pedro for avalista de José, nesse caso, a única pessoa que pode cobrar Pedro é a Maria. José não cobrar o avalista, pois o avalizado não pode cobrar o avalista. Todavia, suponha-se que Pedro seja o avalista do tomador, nesse caso, Pedro poderá ser cobrado por Maria, José e João. I. Quem deverá indicar o avalizado é o avalista. Lembrando que a obrigação do avalista não é subsidiária, ele “figura” como devedor solidário, logo, se ele pagar a dívida, ele poderá se voltar contra os outros. O avalista pode cobrar até mesmo o avalizado, bem com todos anterior a ele. II. Se o avalista não indicar o avalizado. Se o avalista não indicar quem será avalizado, a lei indicará. E nesta toada, define a lei que o avalizado será o aceitante. Caso o título não tenha aceitante, presume-se avalizado o sacador. 6º. Responsabilidade do avalista: o avalista é devedor solidário do título de crédito, no sentido de que ele será obrigado a pagar a integralidade da obrigação, mesmo que o avalizado possua bens. Além de ser um devedor solidário, ele poderá ser um devedor principal ou indireto, uma vez que ele responde da mesma forma que o avalizado. 7º. Unilateralidade do aval: Art. 32 da LUG. Ou seja, mesmo que o avalizado, por alguma razão, saia da cadeia cambial, o avalista continua coobrigado, a responsabilidade dele é o crédito e não o avalista. 8º. Aval parcial: O aval parcial é perfeitamente admitido, ou seja, o avalista pode garantir o pagamento de apenas uma parte da obrigação constante do título (LUG - art. 30). 9º. Direito de regresso (reembolso): existe contra os coobrigados anteriores ao avalista na cadeia cambial. O avalista ocupa na letra, a mesma posição do avalizado e, por isso, ao pagar o título, terá direito de regresso contra o avalizado e contra as mesmas pessoas contra quem o avalizado teria o direito de regresso. 10º. Avalista casado: Depende da outorga conjugal? A LUG é silente. Todavia o CC/02 diz que é necessário (art. 903). O STJ entendia que sim, era necessário a outorga. Porém, mais recentemente uma turma do STJ entendeu que não precisa da outorga, pois se a LUG nada regulou é porque não precisava. Portanto, se é necessário ou não a outorga conjugal, dependerá da turma colegiada. Pagamento: 1º. Conceito: chegado o vencimento, a princípio, deve ocorrer pagamento da obrigação, isto é, deveria ser cumprida a ordem que foi dada na letra de câmbio, aqui entendida como a entrega do dinheiro. Tal ato representa a forma normal de extinção das obrigações assumidas em um título de crédito. 16 2º. Apresentação: Nos títulos à vista, a apresentação deverá ocorrer até um ano após a emissão do título. Nos demais tipos de vencimento, a apresentação deve ser feita no dia do vencimento ou em um dos 2 dias uteis seguintes. 3º. Vencimento antecipado (art. 43, LUG): Normalmente a letra de câmbio só vence na data nela designada. Todavia, determinados fatos podem provocar o seu vencimento antecipado. I. Recusa do aceite (formalizada pelo protesto1) II. Falência do sacado III. Insolvência do sacado IV. Liquidação extrajudicial do sacado 4º. Pagamento antecipado: O devedor pode ter o interesse de pagar o título antecipadamente, nesse caso, o credor não é obrigado a receber antes do vencimento da letra. 5º. Obrigações do devedor: Devido à alta rotatividade da letra, muitas vezes o devedor já não sabe mais quem é o credor. Por isso é necessário o devedor se assegurar ao fazer o pagamento, pois quem paga mal, paga duas vezes. Assim, a LUG criou um rol das “verificações” que o devedor deverá fazer ao efetuar o pagamento: I. Exigir o original do título. Após o pagamento, reter o original do título. Obs.: se o credor não puder entregar o título, deve então escrever na letra que recebeu o pagamento. II. Conferir a regularidade da cadeia de endosso (explicado na pág. 13). 6º. Pagamento parcial: o credor não é obrigado a receber o pagamento parcial. Ao contrário do Dir. Contratual onde, por uma ação de consignação de pagamento, pode força o credor a receber parcialmente a princípio. Se o credor concordar receber parcialmente, deve escrever no próprio título que recebeu aquele valor pago. 7º. Devedores: I. Devedor direto (principal): Aceitante: é aquele a quem a ordem é dada, contra quem a ordem é dirigida. Obs.: O sacador poderá ser devedor principal se a letra não for aceita. II. Devedor indireto (coobrigados): Sacador (se a letra for aceita): é aquele que dá a ordem, aquele que cria e emite a letra, dando a ordem de pagamento - é também denominado credor. Endossantes: a pessoa que endossa o título, chamada endossante, transfere a outrem chamado endossatário, a propriedade da letra. Avalistas: é alguém chamadopara tomar a pior posição do negócio, a de simplesmente prometer pagar. A rigor, o avalista garante a prestação da pessoa que indica, ou seja, promete adimplir a obrigação de pessoa cera. 1 Protesto: É a prova literal de que o título foi apresentado para aceite ou para pagamento e nenhumas dessas providências foram atendidas pelo sacado. 17 Ações judiciais Caso o título não seja pago no vencimento, poderá ser realizado o protesto, o qual, contudo, é apenas um meio de prova. Para receber a obrigação não paga, o caminho indicado é o Poder Judiciário. Dentre os caminhos oferecidos para a busca da satisfação do crédito, o meio normal de buscar a satisfação desse crédito é a chamada ação cambial. 1º. Ação cambial: ação de execução. 2º. Foro competente: o foro competente para processar a ação cambial é o do local do pagamento. 3º. Prazos prescricionais: a ação cambial terá prazos diversificados de acordo com o titulo exequendo e com a pessoa executada. Impende ressaltar que os prazos aqui narrados se referem apenas à execução, não abrangendo outras ações que podem ser usados pelo credor dos títulos de crédito. I. Devedor direto: Três anos contado do vencimento, contra o devedor principal (aceitante e seus avalistas). II. Devedores indiretos: Um ano contado do protesto, contra os devedores indiretos (sacador, endossantes e respectivos avalistas). No caso dos devedores indiretos, a obrigação solidária surge a partir do protesto, antes disso são só devedores em potenciais, tanto que, não sendo protestado o título, este perde os efeitos e não poderá cobrar os solidários. III. Direito de regresso: Seis meses contados do pagamento ou do ajuizamento da ação, para o exercício de direito de regresso por aquele que pagou contra os demais codevedores. Obs¹.: se for cobrar todo mundo da cadeia cambial, usa-se o menor prazo, no caso, a de um ano. Pois se considerar três anos, prescreverá o prazo de um ano contra os devedores indiretos. Obs².: se o credor perder esses prazos, não mais poderá mover a ação cambial, repise-se que é a ação cambial. Porém, não deixará de ser credor, podendo utilizar-se dos meios civis. A exemplo, poderá mover a Ação Fundamental (rito comum), todavia, somente em face daquele com quem manteve a relação jurídica que ensejou o título. Sacador Tomador Negócio que ensejou o pagamento pelo endosso do título. endossos Aceitante A B C C só poderá cobrar, na ação fundamental, de B, com quem teve uma relação jurídica. Nota promissória Conceito: Trata-se de uma promessa direta do devedor ao credor e, nisso, se apresenta sua principal diferença em relação à letra de câmbio. Na nota promissória, quem cria o título assume o compromisso de pagar diretamente a obrigação que está ali incorporada, não dando qualquer ordem à terceiro. 18 Nela intervêm necessariamente dois sujeitos: o emitente ou promitente e o beneficiário ou tomador. O primeiro é aquele que assume o compromisso de pagar certa quantia, é o devedor principal do título. Já o beneficiário é aquele quem se deve paga, isto é, o credor da promessa de pagamento. Emitente Beneficiário Endossos A B C Avalista Regulada pela LUG: Como em todo título, um documento só poderá ser considerado uma nota promissória se contiver os requisitos impostos pela legislação (LUG – art. 75). Requisitos: 1º. Clausula cambial: o primeiro requisito essencial, comum a todo título, é a identificação do nome do título, chamada de cláusula cambial. Assim, para a nota promissória é essencial que o documento possua a denominação “nota promissória”. 2º. Promessa pura e simples de pagar quantia certa: em toda nota promissória deve haver uma promessa de pagamento, o emitente deve prometer ao beneficiário pagar determinada quantia no vencimento. I. Deve se tratar de uma promessa pura e simples, isto é, sem condições ou encargos. Se tiver condições ou encargos no título, estes serão considerados não escritos. II. Quantia por extenso. Não é obrigatório colocar em algarismos. Caso se coloque também em algarismos e est entre em contradição com o número por extenso, prevalecerá a do por extenso. 3º. Época do vencimento: Ausência dessa data o vencimento será à vista. Obs.: o não pagamento é provado pelo protesto. 4º. Lugar do pagamento: o local onde o emitente deve honrara promessa que foi feita. Na falta de indicação desse lugar: I. Considera-se o lugar de emissão, onde o título foi passado; II. Na falta do anterior, o lugar será considerado o lugar do domicílio do emitente. 5º. Beneficiário: requisito essencial é o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga. Nossa legislação não admite a nota promissória ao portador e, nessa condição, é essencial identificar o credor originário que poderá receber a promessa, ou transferir o direito de receber a referida promessa. 19 Diferenças: Nota promissória e letra de câmbio 1º. Nota promissória não tem aceite. 2º. As referencias da LUG ao “aceitante” se aplicam ao emitente. 3º. Aval sem indicação do avalizado se considera como tal o emitente. Cheque Conceito: É uma ordem de pagamento dada por uma pessoa (emitente ou sacador) que mantém contrato com uma instituição financeira (sacado) para que essa pague, imediatamente, determinada quantia a beneficiário indicado ou a sua ordem. É ordem de pagamento à vista. 1º. Emitente: é aquele que dá a ordem para efetuar o pagamento, em razão dos fundos disponíves na conta de depósito mantida junto ao sacado. 2º. Sacado: é a instituição financeira a quem é dada a ordem de pagar, a vista dos fundos do emitente mantidos em conta de depósito. 3º. Beneficiário (tomador ou portador): é aquele que tem o direito de receber o valor constate do título. Emitente Sacado Beneficiário Regra legal: Há dois níveis de regulamentação: 1º. A Lei nº 7.357/85 (Lei do Cheque) – representa a atual disciplina do cheque, observadas a lei uniforme de Genebra sobre cheques. Mas no texto dessa lei de cheque, o art. 69 criou um 2º nível de legislação; 2º. Consta expressamente a atribuição de certos poderes para o Banco Central (Conselho Monetário Nacional - CMN), estipule regras complementares. Talonário de cheque: requisito obrigatório, o próprio banco fornece as folhas de cheques. Requisitos: 1º. A cláusula cambial: a denominação “cheque” no texto do título. 2º. Ordem incondicional: (não pode criar condições) de pagar quantia certa. A indicação do valor do cheque, deverá ser feita em algarismos e por extenso, prevalecendo esta última no caso de divergência. Se vincular o cheque a alguma condição, essa condição será considerada não escrita, principalmente se vinculam o pagamento a certa data, que é o caso do cheque pré-datado. O “bom para” é desconsiderado no título de crédito. 20 3º. Indicação do sacado: outro requisito do cheque é o nome do banco sacado, isto é, daquele a quem a ordem é dirigida. Como é o sacado que deverá efetuar o ato do pagamento, é essencial que ele seja conhecido, para que o credor do cheque possa apresenta-lo para pagamento. 4º. Lugar do pagamento: Cidade (serve para saber onde será ajuizada a ação). Se essa informação estiver ausente é considerado o endereço do sacado. 5º. Data de emissão: é fundamental que conste a data de emissão do cheque, para aferir a capacidade do emitente no momento da assinatura do cheque, bem como para aferir oprazo de apresentação do cheque e, consequentemente, o prazo prescricional. Passando o prazo de apresentação, começa a correr o de prescrição. Ao final do prazo de apresentação começa o de prescrição, que é de 6 meses. Se passar o prazo, perde o direito. Se a data for ilegível ou inexistente, não é valido o cheque. 6º. Lugar de emissão: tal indicação é fundamental para saber qual será o prazo de apresentação. I. Prazo de 30 dias: cheque na mesma cidade de pagamento. II. Prazo de 60 dias: cheque emitido em cidade diferente do pagamento. 7º. Assinatura do emitente: é requisito a assinatura do emitente de próprio punho ou por meio de procurador com poderes especiais. Tal assinatura poderá ser impressa por uma chancela mecânica (ex. carimbo, impressora), obedecidos os parâmetros das normas regulamentares. I. O banco sacado tem que conferir a autenticidade da assinatura do emitente. Somente o cheque é o único título de crédito que exige a conferência da assinatura pelo sacado.
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