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SANTOS_FILHO__Julio._O_pensamento_de_Simmel_uma_introducao_a_sociologia_da_filosofia-libre

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O pensamento de Simmel: uma introdução à sociologia da filosofia
ou à filosofia da sociologia
Julio Cesar de Mendonça Santos Filho
(Programa de Pós-Graduação em Sociologia – IESP/UERJ)
Simmel, um dos clássicos da sociologia era, no entanto, um filósofo. Sim, um filósofo, 
clássico da sociologia. Apesar de defender a existência da sociologia como ciência autônoma, 
independente das outras ciências sociais, ele trabalha sempre na zona de indiferenciação entre 
ambas as áreas das ciências humanas. Sempre analisando filosoficamente objetos sociológicos, o 
autor tenta evidenciar o sentido global da vida. Para ele, todos os detalhes remetem-se ao sentido 
global da vida, encontrando-se, portanto, a vida no fundo das aparências, que são como símbolos 
que remontam à unidade do mundo. É por isso que na análise dos mais diversos objetos de 
pesquisa, como o dinheiro, os sentidos, a aventura e a música, por exemplo, ele estabelece conexões 
analógicas e metonímicas entre estes temas, entendidos por ele como fragmentos da totalidade, 
representantes da totalidade da vida. Kracauer entendeu bem a lógica por detrás do princípio 
epistemológico do relacionismo em toda a obra de Simmel:
“Todas as expressões da vida espiritual encontram-se em uma multiplicidade inumerável de 
relações, e nenhuma delas pode ser abstraída das relações em que se encontra com as 
demais (…) Cada ponto da totalidade remete a um outro ponto, um fenômeno carrega e 
sustenta um outro, não há nada de absoluto que não esteja ligad.o ao restante dos 
fenômenos e que possua uma validade em e para si” (KRACAUER, 1995)
É fundamental começar, no entanto, com a defesa de Simmel da existência da sociologia 
como ciência autônoma. Segundo ele tudo que o que acontece é social, por isto todas as ciências 
tendem à sociologia. Segundo Adorno, Simmel foi o filósofo responsável por levar a filosofia de 
volta à análise de objetos concretos: os objetos sociais. É, portanto, a sociologia simmeliana uma 
análise filosófica dos fragmentos do real. Para ele a ciência da sociologia estudaria somente o que é 
especificamente social, ou seja, tudo o que toma lugar entre os homens, na relação entre eles. A 
sociologia, assim sendo, segundo Simmel:
“De même que tout ce qui arrive arrive dans l'âme, de même, sous un autre point de vue, 
tout ce qui arrive arrive dans la société: or, bien que tout soit donné, en réalité, sous la 
condition d'une conscience, tout n'appartient pas, pour cela, à la psychologie, il ne serait 
pas plus légitime de supposer que, parce que tout est donné dans la société et sous la 
condition de son existence, tout appartient, du même coup, à la sociologie. La distinction 
entre ce qui est spécifiquement psychique et ce qui est matériel et objectif constitue une 
sience de la psychologie: de même une sociologie proprement dite étudiera seulement ce 
qui est spécifiquement social, la forme et les formes de l'association en tant que telle, 
abstraction faite des intérêts et des objets particuliers qui se réalisent dans et par 
l'association. Ces intérêts et ces objets sont le contenu des sciences spécifique matérielles 
ou historiques; c'est entre les cercles de ces sciences que la sociologie trace un cercle 
nouveau qui enferme les forces et les éléments sociaux en tant que tels, les formes de 
l'association. Il y a société, au sens large du mot, partout où il y a action réciproque des 
individus” (SIMMEL, 1894)
É, ainda segundo Simmel, possível afirmar que há uma ciência da sociologia 
“parce que certaines formes spécifiques, à l'interieur de la complexité de l'histoire, se 
laissent ramener à des états et à des actions psychiques qui sortent directement de l'action 
réciproque des individus et des groupes du contact social” (SIMMEL, 1894)
A associação é o objeto fundamental da sociologia. Ela não ocorre, todavia, sem causas e 
fins particulares, que são como o corpo do processo social, a matéria na qual ela se corporifica. 
Cada interação gera, por fim, uma forma de associação entre indivíduos que reveste o conteúdo 
social. É, além da relação, outro elemento central no pensamento simmeliano, a dualidade entre 
forma e conteúdo. Para ele, ambos são indissociáveis, há o que ele chama de interpenetração 
absoluta entre eles, o que não impede a ciência, no entanto, de separá-los através da abstração. Não 
há evolução que seja puramente social, ela é, ao mesmo tempo, acompanhada de uma evolução no 
conteúdo das práticas. Este conteúdo pode ser tanto objetivo (como evoluções técnicas, 
desenvolvimento da linguagem, ascensão e queda de grupos políticos e etc) quanto subjetivo (como 
a moralidade e a imoralidade).
No entanto, antes de adentrarmos no modus operandi do pensamento de Simmel, nos cabe 
entender primeiramente qual é especificamente o objeto de pesquisa do autor e qual o lugar do 
Homem em suas pesquisas. Segundo Kracauer (1995):
“In fact, in countless cases the objects that engage the philosopher's reflections stem from 
the realm of experiences and encounters of the highly differentiated individual. It is always 
man – considered as bearer of culture and as a mature spiritual/intellectual being, acting and 
evaluating in full control of the powers of his soul and linked to his fellow man in collective 
action and feeling – who stands at the center of Simmel's field of vision. This world has an 
upper and lower limit. It is bounded above by the realm of cosmic, from which it has been 
cut away and which therefore surrounds it (…) It is bounded below by the realm of 
elementary, nonspiritual/nonintellectual activity, that of human drives: anything that is 
merely nature and not the emanation of a developed soul is exiled.” (KRACAUER, 1995)
Simmel, com esta visão nada ortodoxa do mundo social, também não seguia outros padrões 
que eram impostos a todos que queriam “produzir ciência”. Era um pensador extremamente anti-
sistemático, não se propondo a encontrar um conceito-chave que abra todas as manifestações do 
real e muito menos uma verdade universalmente válida. Apesar de ter um método mais ou menos 
uniforme, que parte, em geral, de análises extenuantes – e por vezes tidas como prolixas e pedantes 
– de fragmentos da realidade (instituições, comportamentos, tendências sociais...) buscando traçar o 
caminho de retorno à totalidade, algo que depois, ao que me parece, pode ter sido reapropriado na 
arqueologia do saber de Michel Foucault, já que, para ele, uma análise que buscasse compreender o 
poder (tema central de suas pesquisas, sejam elas sobre linguagem, sexualidade ou sistema penal) 
no seu aspecto mais intrínseco, não poderia ter a soberania (a aplicação do poder de forma material 
e última) como ponto de partida, mas, apenas como ponto de chegada de um longo e complexo 
processo de sujeição, cuja reflexão, deve começar por baixo e pelas bordas, e não de cima e do 
centro.
Destarte um pensador anti-sistemático, Simmel não se propõe a fazer análises de fenômenos 
bem circunscritos,como era esperado à época de um cientista social- até porque, segundo Kracauer 
(1995, 226), há no filósofo uma forte rejeição à fenomenologia. Por esta rejeição dos métodos 
sociológicos mainstream contemporâneos a ele, Simmel é o primeiro sociólogo que se utiliza do 
ensaio como peça científica, dando um valor muito maior ao ensaio do que a um tratado científico, 
por exemplo. Habermas (1996) expõe muito bem as influências que o autor teve na academia no 
que tange à rejeição da fenomenologia e à forma de escrita: “Simmel no sólo animó a abandonar 
las vías de la filosofía académica y a pensar <<concretamente>>; sus trabajos dieron el impulso 
que, desde Lukács hastaAdorno, condujeron a la rehabilitación del ensayo científico como forma”. 
Ainda segundo Habermas (1996), Adorno, um dos influenciados pela forma de escrever de Simmel, 
entendia toda esta forma literária como momentos de liberação, sendo o ensaio o instrumento mais 
flexível para expressar ideias:
“<<El ensayo no deja prescribirse el lugar a que ha de ajustarse, ni la sección en que ha de 
moverse. En lugar de producir algo científicamente o de crear algo artísticamente, su 
esfuerzo refleja todavía algo del ocio del niño que sin escrúpulo se entusiasma por aquello 
que otros han hecho. El ensayo refleja lo amado y lo odiado en lugar de representarse el 
espíritu como una creación de la nada conforme a una ilimitada moral del trabajo>> 
Ciertamente, Adorno menciona también el precio que hay que pagar por esta liberación 
respecto de toda coerción metodológica: << Pero el precio que el ensayo tiene que pagar 
por su afinidad con la experiencia mental abierta es esa falta de seguridad que la norma del 
pensamiento establecido teme como a la muerte>>.” (HABERMAS, 1996)
Simmel permanece antes de tudo um ensaísta. E é por esta liberdade ganha somente através 
dos ensaios que Simmel pode mudar constantemente tanto de objetos, quanto de pontos de vista 
sobre os objetos de escolha para a análise. Esta mudança constante não empreendida a toa, é feita 
por razões filosóficas, tendo relação com o modo de apreensão do real escolhido pelo filósofo em 
questão. Segundo Vandenberghe (2005):
“O real é inesgotável, não se pode descrevê-lo “como ele é na realidade” (Ranke) porque 
não se pode descrevê-lo em sua totalidade. O real só pode ser apreendido através de uma 
pluralidade de perspectivas que captam, cada uma, um aspecto da vida sem jamais esgotar 
sua significação. Nenhuma perspectiva é o reflexo exato da realidade de que trata. 
Reorganizando a realidade de maneira sintética a partir de um ponto de vista particular que 
dá unidade ao diverso da intuição, cada perspectiva oferece uma reconstrução parcial da 
realidade, mas ela jamais dá acesso à realidade como tal. Contra os realistas de todo tipo, 
Simmel insiste, com Kant, sobre o caráter construtivista do conhecimento: a verdade não é 
adequação, mas construção, e mesmo reconstrução, do real a partir de um ponto de vista 
particular que reorganiza e sintetiza os fragmentos do real em uma forma unitária e bem 
determinada (…) O erro consiste simplesmente nisso: em que uma verdade parcial seja 
generalizada em uma verdade absolutamente válida.” (VANDENBERGHE, 2005) 
Simmel dá vida a suas proposições com exemplos empíricos, mas reconhece que estes 
exemplos teriam o mesmo valor (e peso) do que elementos fictícios, já que em ambos os casos, as 
análises resultantes seriam construções ou reconstruções de uma pretensa realidade, não a 
reprodução, ou o reflexo dela. Elas oferecem ambas reorganizações do real e não um reflexo da 
“realidade como é”. O cientista é, portanto, tão livre quanto o artista, que, através de quadros, 
poesias, peças e etc também (re)constroem/reorganizam o real. “Em princípio obrigado a ser tão 
fiel aos dados quanto o retratista a seu modelo, o cientista é, logo, tão livre quanto o artista para 
modelar e dar forma à matéria” (VANDENBERGHE, 2005).
É por isto que a escolha do objeto de pesquisa é o menos importante para Simmel, desde que 
os objetos pertençam a reinos materiais acessíveis a ele: 
“Any individual phenomenom can serve as the target for his philosophical examination, 
since all phenomena afford equally good entry points from which to delve into the 
interconnections of the life totality that sorrounds them all. Whatever his object of 
contemplation is at the time, it becomes a focus of inquiry only to the extent that it consists 
of a more or less finite group of relationships that points beyond itself on all sides to the 
plenitude of relations in the universe that surrounds us” (KRACAUER, 1995). 
Simmel visa através desta infinidade de objetos e pontos de vista subtrair cada elemento de 
seu isolamento particular e inseri-los numa rede dispersiva de relações funcionais, já que o único 
motivo para a análise de quaisquer fenômenos é expor as interconexões, tornando-as visíveis. Estas 
conexões se estabelecem por caminhos bastante irregulares e arbitrários, sendo sistematicamente 
assistemáticos. Esta rede não é construída segundo um plano, como um sistema de pensamento 
firmemente estabelecido, pelo contrário, não há outro propósito, que não estar lá, ser, testemunhar 
através de sua própria existência a interconectividade de todas as coisas. Para essas mediações entre 
fenômenos e ideias, Simmel usa uma rede de relações de analogia para partir da superfície das 
coisas para seus subtratos espirituais/intelectuais. No processo ele demonstra que a superfície está 
plena de relações simbólicas e que ela – a superfície - é a manifestação e o resultado dos poderes e 
essencialidades espirituais e intelectuais. O evento mais trivial leva aos veios da alma, há sempre 
um significado valioso a ser obtido de toda ação.
Um dos objetivos mais fundamentais de Simmel em toda sua obra é libertar cada fenômeno 
espiritual ou intelectual de sua falsa auto-validade independente auto-suficiente, restrita somente a 
si mesma, e mostrar como os fenômenos estão inseridos em contextos mais amplos da vida. Neste 
ínterim, a maneira de pensar de Simmel trabalha tanto para conectar quanto para dissolver relações 
entre fenômenos, objetos e/ou indivíduos. 
Este modus operandi de pensar de Simmel, se interconecta com dois outros princípios 
marcantes de toda a obra do filósofo-sociólogo: o vitalismo e a dualidade. O vitalismo, de 
inspiração kantiana, é o princípio da interação; já a dualidade é entre forma e conteúdo. Um 
princípio relacionista da dialética sem síntese, é o dualismo trabalhando sob uma síntese heterodoxa 
do neokantismo. A maioria dos ensaios de Simmel começa com a lógica da dialética sem síntese, 
expondo sempre um dualismo seja numa oposição ou num paradoxo. Tudo só existe 
relacionalmente, cada princípio só pode exercer sua função em relação a outro princípio.
O princípio de estruturação dualista da realidade se exprime duplamente na obra 
simmeliana: na oposição neokantiana entre forma e conteúdo e o conceito vitalista de interação. A 
combinação dialética do neokantismo e do vitalismo, que oferecem unidade ao pensamento de 
Simmel, estão na base de sua epistemologia relacionista, de sua sociologia formal e de sua 
metafísica vitalista. Simmel propõe, portanto, uma sociologia interacionista das formas de 
associação, por meio de uma interpretação dialética das formas e dos conteúdos. Encontra-se por 
toda a parte na obra de Simmel o vitalismo interacionista interagindo com a vida que passa pelas 
formas para ser vivida, encontrando-se aqui a mais básica dualidade entre conteúdo/forma 
(vida/formas). Como diz Vandenberghe (2005), ele “vitaliza o kantismo e kantianiza o vitalismo”.
Para Simmel, o conceito nada mais é que uma representação parcial da realidade, “os 
conceitos são essenciais, pois eles funcionam, por assim dizer, como “faróis” (Popper) que, ao 
iluminarem aspectos da realidade, transformam-na em uma representação da realidade” 
(VANDENBERGHE, 2005) e o que acontece é que os objetos se moldam ao conhecimento e não o 
conhecimento que se molda ao objeto. O conhecimento pressupõe sempre a intervenção ativa da 
razão na realidade, tentando tornar a natureza – a totalidade, o real - concebível, então, é neste 
esforço intelectual ativo que se produz os objetos. O conhecimento não é um reflexo passivo,mas 
uma construção e mesmo uma tranformação ativa da realidade. Daí, de novo, um cientista ser tão 
livre quanto um artista. É só através da razão que “a natureza aparece para nós como um conjnuto 
previamente estruturado pelos conceitos e pelas categorias fundamentais do entendimento” 
(VANDENBERGHE, 2005). É através das formas que os conteúdos sensíveis são classificados ou 
em um sistema ou em um esquema conceitual, segundo Vandenberghe (2005) a forma desempenha 
“uma função epistemológica: ela define as condições de possibilidade da experiência e da 
representação do mundo, as condições transcedentais sob as quais o mundo pode se tornar objeto 
da experiência e do conhecimento”. É, portanto, através das formas, que são historicamente 
variáveis, que se produz conhecimento e, portanto, a realidade. Deixando claro que, para Simmel, a 
história é “imagem do passado [que] não é um reflexo da realidade, mas uma formalização 
seletiva, que, acentua certos traços e ignora outros, dependendo do ponto de vista do 
historiador”(VANDENBERGHE, 2005). O mundo, consequentemente, se deixa conceber a partir 
de um grande número de pontos de vista unilaterais, cada um projetando a unidade no infinito de 
um lugar imaginário.
Voltando, contudo, à importância da associação para Simmel, é necessário antes de qualquer 
coisa, definir o que se entende por associação: “Para construir uma associação, não basta 
interagir, é preciso ainda que os indivíduos em interação “uns com, para e contra os outros” 
formem, de alguma maneira, uma “unidade”, uma “sociedade” e estejam conscientes disso” 
(VANDENBERGHE, 2005). Como se vê, deve-se, conscientemente – logo, ativamente -, formar 
uma sociedade para que haja associação, sendo entendido por sociedade a unidade objetiva das 
consciências subjetivas, como a síntese de todos com todos. As interações são, assim, a condição 
necessária e suficiente da sociedade, locus onde o homem é determinado por viver em interação 
com seus pares. Para Simmel, o que interessa são exatamente estas interações, como matéria, como 
substrato vivo do social, sendo através destas interações que o indivíduo produz a sociedade e se 
torna produto dela, consequentemente. Simmel critica até mesmo os que afirmam ser a guerra mais 
uma forma de dissociação do que de associação; segundo ele, até mesmo o conflito é uma forma de 
interação e, portanto, de associação; e, vai além, diz que toda forma de associação tem em si um 
elemento de conflito, que, na verdade, eclode justamente nas superfícies de interação entre os 
elementos distintos que estão se relacionando.
A sociologia de Georg Simmel não é uma ciência empírica, mas uma ciência eidética, das 
essências de natureza fenomenológica. O método eidético consiste em “imaginar o objeto em um 
grande número de variações possíveis para extrair dele os predicados essenciais que permanecem 
constantes e que tornam as variações possíveis justamente como variações de uma mesma 
essência” (VANDENBERGHE, 2005).
É através deste método que ele analisa por exemplo, o dinheiro como fato social global, 
símbolo que exprime e condensa todas as relações sociais de maneira mais ou menos unitária, como 
uma metáfora da vida. Ele começa por analisar a emergência do dualismo entre sujeito e objeto, do 
eu e do não-eu, para deixar claro o processo de distinção entre o homem e o mundo exterior a ele. O 
sujeito é exatamente o produto de um processo de distanciamento entre o eu e o o objeto. Neste 
sentido, é devido a esta clivagem entre o eu e o objeto que surge a distância que o sujeito se apressa 
para suprimir, que é a base do fetichismo que temos pelos objetos. É este fetichismo, é esta 
distância, que, objetivamente, constitui o que chamamos de valor, proporcional sempre à distância 
entre o sujeito e o objeto em questão. “A objetivação do desejo, instaurando uma distância entre o 
sujeito desejante e o objeto desejado, é, portanto, o móvel da valorização” (VANDENBERGHE, 
2005). A economia está, consequentemente, englobada no social, emergindo dele e é, assim, uma 
forma de associação, ao menos no momento da troca. A troca é uma forma de associação de 
resignação, de sacrifício, já que para se obter o objeto desejado, é preciso necessariamente 
abandonar um outro objeto já possuído, sendo o sacrifício a condição absoluta do valor. Para 
Simmel, a troca é tão criadora de valores e tão produtiva quanto o que se chama especificamente de 
produção, assim como o trabalho não deixa de ser uma mercadoria como qualquer outra. O dinheiro 
é a expressão do acordo relacional de troca entre os sujeitos, que atinge sua autonomia enquanto 
forma social. O dinheiro é, em última instância, o valor imobilizado em substância. Ele 
desempenhou uma função ímpar na história da humanidade por conseguir igualar as coisas mais 
desiguais e por suprimir seu próprio valor, durante muito tempo, para se tornar puro símbolo da 
troca. Contudo, o dinheiro só pode funcionar como mediador simbólico e acelerador das trocas se 
os indivíduos confiarem na estabilidade do dinheiro, se estiverem dispostos a trocar valores 
substanciais, mercadorias, por valores nominais, valores-puros aprisionados simbolicamente nas 
notas de papel-moeda. A confiabilidade da população no dinheiro tende a aumentar quanto maior 
for a coesão social e a confiança no Estado. O dinheiro, porém, se autonomizou gradualmente até 
inverter-se em fim em si mesmo, virando ele mesmo mais uma das mercadorias que media. “O 
dinheiro, precisamente porque é meio absoluto, se torna o fim absoluto” (VANDENBERGHE, 
2005), torna-se objeto desejado não mais mercadorias específicas, mas a acumulação de capital em 
si, ter dinheiro acumulado significa potencial de troca. Passa-se a ser um dos maiores desejos do 
homem na modernidade então simplesmente a acumulação de dinheiro, dinheiro por dinheiro, sem 
vinculação imediata à troca de nenhuma mercadoria. O valor puro, a substância pura da unidade de 
troca, torna-se, portanto, em si mesmo objeto de fetiche: mercadoria. Esse desejo desenfreado pela 
acumulação de dinheiro se dá porque ele é o centro onde as coisas mais opostas, mais estranhas, 
mais distantes encontram seu ponto comum e entram em contato umas com as outras, como se 
ignorassem as distâncias subjetivas entre elas.
Apesar de ter citado aqui a análise do dinheiro de Simmel, por ser a mais conhecida dele, 
poderia ter citado qualquer outra, sendo possível encontrar nelas a mesma dinâmica de pensamento. 
Até mesmo em sua análise sobre a arte o objetivo dele é sempre afastar o véu que esconde o núcleo 
que subjaz a criatividade do artista ou até mesmo do período que ele está tratando, ele entra no 
espírito das criações artísticas com ingenuidade e então luta para estabelecer fórmulas capazes de 
dar conta dos conteúdos específicos dos fenômenos em questão. 
Tentando entender um pouco mais da análise do dinheiro, pode-se dizer que a 
autonomização dele que aconteceu na modernidade, é comum entre todos os produtos da vida que, 
ao se separarem do homem, passam a influenciá-los, impondo suas próprias formas de vida sobre os 
homens que os produziram, tornando-se cada vez mais distintos destes homens. Como Kracauer 
(1995) disse “Life is after all always more than life; It wrenches itself free of itself and encounters 
itself as a sharply defined form. It is simultaneously the stream and the firm shore” (KRACAUER, 
1995). A autonomização das formas e esferas sociais é um risco, como expõe Habermas (1996), até 
mesmo para a cultura: 
“Por cultura entiende el procesoque cuelga entre el <<alma>> y sus <<formas>>. Cultura 
significa ambas cosas: tanto las objetivaciones en las que se extraña una vida que brota de la 
subjetividad, es decir, el espíritu objetivo, como también, a la inversa, la formación de un 
alma que desde la naturaleza se eleva a la cultura es decir, la formación del espíritu 
subjetivo (…) este proceso cultural lleva inscrito en sí el riesgo de que la cultura objetiva se 
autonomice frente a los indivíduos que son, sin embargo, quienes la han producido. Pues el 
espíritu objetivo obedece a leyes distintas que el subjetivo. Simmel insiste con Rickert en la 
lógica específica de las distintas esferas culturales de valor.” (HABERMAS, 1996)
Apesar de toda esta lógica complexa do sociólogo filósofo poder ser entendida como 
conjunto, como explicitei aqui nesta resenha, há vários críticos da obra dele. Críticos reprovaram 
Simmel pela afetação de seu estilo, seu pendantismo e sua sutileza sofista ocasional, seu estilo 
chegou a ser até mesmo chamado de arbitrariedade barroca, de distrações e devaneios perspicazes 
e pretensamente inteligentes sem objetivos de investigação claramente atingíveis, sendo relegado, 
por vezes, à literatura, estigmatizado como se não fosse acadêmico, como se não fizesse ciência da 
sociologia. Outros o acusam de falta de rigor metodológico justamente pela escolha consciente pelo 
ensaio como forma preferencial de texto científico. Outro fator que atrapalhou e muito Simmel em 
sua vida acadêmica foi o antissemitismo da academia alemã, que o impediu de ser nomeado 
professor titular em universidades alemães, sendo condenado a uma carreira medíocre de 
Privatdozent até quase o fim da vida, quando finalmente conseguiu uma vaga numa universidade 
rural bem isolada do centro da comunidade intelectual alemã da época. Talvez por isto seu impacto 
tenha sido relativamente pequeno na Alemanha após suas publicações, só muito depois sendo 
reapropriada e veiculada por outros autores em seus trabalhos, como Kracauer, Habermas e 
Vandenberghe.
BIBLIOGRAFIA
HABERMAS, Jürgen. Georg Simmel sobre filosofía y cultura: epílogo a una colección de ensayos. 
In: HABERMAS, Jürgen. Textos y contextos. Barcelona: Editorial Ariel S.A. 1996.
KRACAUER, Siegfried. Georg Simmel. In: KRACAUER, Siegfried. The mass ornament. 
Cambridge, MA: Harvard University Press. 1995.
SIMMEL, Georg. Le problème de la sociologie. Revue de metaphysique et de Morale. Berlim, 
1894.
VANDENBERGHE, Frederick. As sociologias de Georg Simmel. Bauru: Edusc. 2005.

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