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TGPub – texto 6
Capítulo VI – Uma introdução ao Direito Processual
O fenômeno processual no direito público
Ao operar, manejando o poder político, o Estado edita decisões, expressas em atos jurídicos: a lei, a sentença, o ato administrativo. Os indivíduos também produzem atos jurídicos, como os contratos.
A emanação de qualquer ato – seja pelo Estado, seja pelos indivíduos – é regulada pelo direito. As normas determinam seu conteúdo e efeitos.
No direito privado, o processo de formação da vontade dos indivíduos não é juridicamente regulado, inexistindo o dever de cumprir, como condição prática dos atos, um procedimento prévio: cada um, ao tomar suas resoluções, segue o percurso que julgar adequado. A lei raramente interfere nele. Só o faz para defender o sujeito, garantindo a livre formação de sua vontade.
O poder jurídico de o indivíduo produzir atos, decorrendo do direito à liberdade, é um valor em si mesmo; não se justifica por qualquer finalidade a atingir. Por isso, ninguém interfere na formação da vontade de outrem: seria imiscuir-se na intimidade alheia. Contudo, os particulares não criam obrigações uns para os outros, através de atos unilaterais.
O acordo entre vontades é o veículo da compatibilização das liberdades.
Com o direito público, ocorre o inverso. No Estado Democrático de Direito, o exercício das diferentes funções estatais – e, em consequência, a produção dos atos de direito público – exige a observância de processo perfeitamente regulado pelas normas jurídicas.
Processo é o modo normal de agir do Estado.
Função = poder outorgado a alguém para o obrigatório atingimento de bem jurídico disposto na norma.
	A lei, a sentença e o ato administrativo são unilaterais, sua produção não estando condicionada à concordância dos particulares atingidos.
Duas características das atividades públicas:
Constituírem função; e
Gerarem atos unilaterais invasivos da esfera jurídica dos indivíduos.
Exigem a regulação do processo formativo da vontade que expressam.
A vontade do Estado é funcional a atividade estatal é função, submetida a fins exteriores ao agente.
O direito público deixa de ser um direito subjetivo para tornar-se quase exclusivamente um direito objetivo: as declarações dos governantes têm valor social, com efeito, mas só na medida em que estejam de acordo com a regra social, com o direito objetivo.
Uma vontade submetida a fins – a do Estado – e a outra livre – a dos particulares – são instrumentadas diversamente. A livre tem seu canal de expressão: o indivíduo. A vontade funcional é canalizada no processo, do qual o agente é apenas um elemento. Não houvesse processo para a formação da vontade funcional, ela seria idêntica à da vontade livre: centrada no agente.
O processo infunde ao ato racionalidade, imparcialidade, equilíbrio; evita que o agente o transforme em expressão de sua personalidade. As várias etapas do processo – propiciando melhor conhecimento e comprovação dos fatos, maior discussão, mais ampla reflexão – fazem menos provável a violação da ordem jurídica.
O processo é, então – em perfeita coerência com a ideia central do direito público, de realizar o equilíbrio entre liberdade e autoridade –, a contrapartida assegurada aos particulares pelo fato de serem atingidos por atos estatais unilaterais. Sem que a decisão do Estado deixe de ser um ato de autoridade, protege-se o indivíduo a ser afetado: condicionando a produção do ato a um processo do qual ele possa participar. Sob este ângulo, o processo cumpre papel eminentemente ligado à tutela dos interesses e direitos dos particulares.
Noção de processo
Processo = encadeamento necessário e ordenado de atos e fatos destinados à formação ou execução de atos jurídicos cujos fins são juridicamente regulados. Não é um ato, mas a reunião, o complexo, de atos e fatos que se produzem ao tempo. 
O processo é um encadeamento: cada etapa cumpre sua própria função, mas há ligação entre elas – servem logicamente como antecedentes e consequentes umas das outras. Assim, o processo é o encadeamento necessário e ordenado de eventos.
O processo se compõe de atos e fatos:
Atos = ajuizamento da petição inicial, citação do réu, designação de audiência;
Fatos = transcurso do prazo para recurso, oitiva de testemunhas.
Processo é o encadeamento de eventos destinado à formação ou execução de atos jurídicos.
Processo = técnica para produção de um específico tipo de atos: aqueles cujos fins são determinados por normas jurídicas, que se busca aplicar.
Autos ≠ Processo
Autos = conjunto de documentos em que estão materializados os atos e fatos do processo. 
Processo = O processo é realidade abstrata que se corporifica numa série de documentos, os autos.
Relação jurídico-processual
	Processo judicial-civil
	Processo legislativo
	Procedimento administrativo
	Juiz decide disputa entre dois sujeitos em torno da aplicação da lei; diz o direito no caso concreto; define qual é a relação jurídica existente entre autor e réu.
	Parlamento põe a lei, que vai regular as futuras relações entre os indivíduos.
	Edita-se ato constituindo relação jurídica entre a Administração e o indivíduo.
	Os processos estatais têm por objeto certas relações que são por meio deles definidas, reguladas ou instauradas: as relações jurídicas materiais. Elas não se confundem com a relação jurídica processual, isto é, com o conjunto de direitos, deveres, poderes, ônus e faculdades atribuídos aos sujeitos que participam do processo. Os sujeitos e o conteúdo das relações jurídicas material e processual são diversos.
	Atos estatais
	Lei
	Sentença penal
	Sua validade depende de seu conteúdo de acordo com a norma jurídica superior + respeito ao processo realizado rigorosamente de acordo com o previsto.
	Para a constitucionalidade, seus preceitos devem ser coerentes com a Constituição e ter sido regularmente votada.
	Será nula, mesmo se materialmente correta, caso não tenha sido devidamente citado para o processo.
Esquema geral dos processos estatais
Característica comum: sua validade depende de haverem sido corretamente praticados os antecedentes. Assim também se passa no processo judicial e no procedimento administrativo.
Processo legislativo
Compreende três fases:
Introdutória: inicia o processo, é da propositura do projeto.
Constitutiva: ao fim da qual surge a lei, compreende a discussão e votação do projeto pelas duas Casas do Congresso, bem como a sanção ou veto pelo Presidente da República.
Complementar: são praticados os atos voltados a certificar a existência da lei e a dar-lhe conhecimento público.
Os atos e fatos dessas várias fases são regulados pela Constituição.
O objetivo desses diversos passos é permitir a interação, quando da produção das normas legais, entre os Poderes do Estado e entre o Legislativo e os grupos sociais organizados, bem como propiciar a participação dos grupos públicos minoritários no Parlamento.
Processo judicial
Há várias espécies de processos judiciais: processo civil, processo penal, processo trabalhista – destinados, respectivamente, à aplicação da lei civil, penal e trabalhista, com suas características próprias.
Processo civil de conhecimento:
	O objetivo dessa sequência de etapas é permitir que a decisão judicial seja, em primeiro lugar, imparcial, por ditada após a manifestação das partes envolvidas. De outro, que seja fruto de substanciosa coleta de dados. Por fim, que não resulte da vontade unipessoal do julgador, mas do concurso de juízos das várias instâncias judiciais.
Procedimento administrativo
Na administração pública, como reflexo da diversidade de suas atribuições, convivem múltiplas espécies de procedimentos, destinadas a dar esteio aos diferentes atos administrativos.
Variam os objetivos de cada procedimento. A licitação e o concurso público visam permitir que muitos particulares disputem, de modo limpo e igualitário o benefício oferecido pela Administração. O procedimento sancionatório pretende assegurar a ampla defesa do acusado antes de ser afetado pela sanção.

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