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Aula 1 Comentada Penal

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Aula 1 – Penal 1
Revisão
	O que vocês estudaram em Teoria Geral, pode-se aplicar a Penal 1, até o volume seguinte que é a Parte Especial – de homicídio até crimes contra a paz pública. Então geralmente vai pegar volume 1 e 2. A respeito dos livros, o que foi usado para a parte geral, vai continuar sendo usado para a parte especial.
Exemplo 1: Apelação tal não sei o que
	Fred pede para fazer uma grade onde coloca os marcos interruptivos, já que trabalha com os processos de outros. Quando percebe, já havia sido prescrito, mas o advogado não tinha dito nada, o cliente iria à cadeia, por três anos. Isto é, em Penal, um erro pode ser catastrófico.[1: A prescrição penal é a perda da pretensão punitiva ou executória do Estado pelo decurso do tempo sem o seu exercício. Art. 107. Extingue-se a punibilidade: IV – pela prescrição, decadência ou perempção.]
Exemplo 2: Falsificação de documentos
	Fulano falsificou documentos e utilizou-os, e estava sendo condenado pelos dois crimes, sendo condenado por falso, e o promotor diz ser necessário condenar também por uso, e o advogado não se pronunciou. Isto é bis en idem. O cara seria condenado duas vezes pelo mesmo fato, ou seja, concurso aparente de normas. A consequência prática é gravíssima: se o homem seria levado à cadeia por dois anos, agora passariam a ser quatro.[2: Princípio do “ne bis in idem”: ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato.][3: Concurso aparente de normas = unidade de fato + pluralidade de normas identificando o mesmo fato como delituoso.
Observação: concurso aparente de normas X concurso de crimes: o segundo se trata de um mesmo agente, em pluralidade de ações ou omissões, pratica dois ou mais delitos; quando há pluralidade de ações (e de crimes), não se fala em conflito aparente de normas penais.Sendo assim, no caso do exemplo, ao considerar os dois atos separadamente (a falsificação dos documentos; e a utilização destes), o cliente passa a ser enquadrado em concurso material de crimes, não em concurso aparente de normas, logo, as penas seriam cumuladas.]
Qual o sentido da parte especial?
Não é simplesmente você saber diferenciar um homicídio qualificado pela conexão teleológica de um latrocínio. O que tem de se saber a partir de agora é conjugar a parte geral com a especial; é isso que a vida cobra. Como conjugar uma desistência voluntária em um homicídio; como é possível haver crime impossível em um homicídio.[4: Art. 121, §2º, V, 1ª figura. “Se o homicídio é cometido: V – para assegurar a execução... de outro crime.”.][5: Art. 157. “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência.”. Por ser mais especial do que o homicídio qualificado pela conexão teleológica, aplica-se este artigo, segundo o princípio da especialidade.][6: Art. 15. “O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.”. A desistência voluntária consiste numa abstenção de atividade: o sujeito cessa seu comportamento delituoso. Exemplo de desistência voluntária conjugada com homicídio: Bentinho deposita veneno na xícara de café do menino Ezequiel e detém a criança de toma-lo.][7: Art. 17. “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.”. Dois casos de crime impossível: (1) delito impossível por ineficácia absoluta do meio – com a intenção de matar a vítima, o agente coloca açúcar no chá, supondo-o ser arsênico; (2) delito impossível por impropriedade absoluta do objeto – A atira em B, que já estava morto.]
Penal = Parte Geral + Parte Especial
	Há vários posicionamentos sobre vários temas; Fred vai usar o dele próprio. Normalmente, ele sempre opta pelo pior, quando se há possibilidade de aumentar, por exemplo, em vistas de formar um advogado preparado para as piores situações.
Recomendação: 
Livro do Paulo Queiroz
Ler Página Policial – os melhores manuais estão no Correio Brasiliense, no Jornal Dia, na parte policial. Aliás o Brasil hoje é basicamente só notícias de crime, então vocês começarão a entender um monte de assuntos.
Teoria Geral do Direito Penal
Conforme o que foi estudado em Teoria Geral, a entidade crime é dividida didaticamente, mas também com efeitos concretos em três elementos. Quais são?
Tipicidade[8: Tipicidade é a correspondência entre o fato praticado pelo agente e a descrição de cada espécie de infração contida na lei penal incriminadora. Tipo legal = conjunto dos elementos descritivos do delito contidos na norma incriminadora. Fato típico = fato que se adapta ao modelo legal nos elementos necessários para que se configure a infração penal.]
Antijuridicidade[9: Antijuridicidade é a contradição do fato, eventualmente adequado ao modelo legal, com a ordem jurídica, constituindo a lesão de um interesse protegido.]
Culpabilidade[10: Culpabilidade é o juízo de censura, de reprovabilidade que incide sobre a formação e exteriorização da vontade do responsável por um fato típico e ilícito, com o propósito de aferir a necessidade de imposição de pena.]
A divisão entre tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade, que forma a entidade jurídica crime, na verdade, é uma forma muito peculiar de o Direito Penal ver a ilicitude, mas isso não quer dizer que ela não exista nos outros ramos do Direito: existe. Ou seja, ao abrir o Código Civil, e se deparar com o dispositivo de quem causar lesão a outra pessoa está obrigada a indenizar, isto é uma grande fórmula típica referente à ilicitude. Ali dentro tem-se a antijuridicidade, a tipicidade e a culpabilidade. Em todo o Direito isso vai existir, não é específico do Direito Penal. Existe em todos os ramos do Direito. Alguns são até próximos do Direito Penal, como o Direito Tributário; por exemplo: pega-se a hipótese de incidência do ICMS, ou do IPTU, quando se configura obrigação principal do IPTU executar propriedade imobiliária, aí tem-se hipótese de incidência e o fato, uma vez adequado, constitui um fato gerador, tendo-se a seguir, a constituição do tributo. Enfim, hipótese de incidência e fato gerador. 
Hipótese de incidência = a própria tipicidade.
O Direito Penal é mais próximo do Direito Tributário porque os dois se sintetizaram no mesmo período, quando se limita a ação do Estado, se faz nos âmbitos Penal e Tributário. Mas essa questão se repete em todo o Direito, mas no Direito Penal, esses três aspectos são divididos didaticamente e a cada um deles vai ser produzido um efeito jurídico na medida em que acontece um juízo negativo em relação a cada um deles. Nos outros ramos do Direito isso não acontece. Quando o sujeito causa a destruição do patrimônio de outro, opera-se, simultaneamente, a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade, no Direito Penal isso ocorre, mas o legislador estabelece, em relação a cada um desses momentos, condições positivas e negativas para que esses elementos se configurem. Isto não se dá em Direito Civil ou Administrativo. Em suma, nos demais ramos do Direito, os três elementos se dão de maneira igual, enquanto que o Direito Penal os estratifica. Daí porque estuda-se o crime dividido nessas categorias, mesmo que estas estejam presentes também em todos os ramos do Direito.
Tipicidade
Quando se fala em tipicidade, pressupõe-se que existe uma norma que define o crime. Essa tipicidade é composta por elementos objetivos e subjetivos.[11: São os que se referem à materialidade da infração penal, no que concerne à forma de execução, tempo, lugar, conduta. Também chamados descritivos. A fórmula do tipo é composta de um verbo (núcleo) que expressa a conduta.][12: É preciso, além dos característicos externos do fato, que existam determinados momentos psíquicos estranhos ao dolo, denominados elementos subjetivos do injusto - dizem respeito aos estados anímicos que discriminam, subjetivamente, o justo do injusto, separando otípico do atípico. Não se referem à culpabilidade, incluindo-se no fato típico. Trata-se de estados e processos externos, suscetíveis de serem determinados espacial e temporalmente, perceptíveis pelos sentidos, objetivos, fixados na lei pelo legislador em forma descritiva e que devem ser apreciados pelo juiz mediante simples atividade de conhecimento: “se é intenção do agente”, “com o fim de”, “para ocultar desonra própria”, “em proveito próprio ou de outrem”, “com o fim de lucro”, “por motivo de”, “para fim libidinoso”, “recebido de boa-fé”.]
Primeiramente, quando se vai incriminar, a tendência da interpretação é sempre restringir ao máximo. Uma interpretação no Direito Penal tendente à incriminação vai ser sempre o mais restritiva possível e de preferência até gramatical: mudou a redação, tudo muda. Então, essa tipicidade é composta de elementos objetivos e subjetivos.
Do ponto de vista objetivo, o que compõe a tipicidade? Quais são os elementos objetivos do tipo?
Se refere à ação ou omissão, ou seja, à conduta.
Conduta – é expressa pelo núcleo, observa-se que, todas as vezes, em todos os tipos penais, o comportamento, conduta criminosa se inicia sempre pelo verbo. É uma sistemática interessante do Direito Penal brasileiro, na medida em que não se encontra em outros países. Exemplo: O tipo penal não é “alguém que mate uma pessoa”, mas sempre “matar alguém”. Inicia-se pelo núcleo. O núcleo vai expressar a conduta. Normalmente vai alcançar a ação, porque a própria situação fenomênica do dia a dia conhece ações, não conhece omissões.
Alguém pode matar por omissão?
Deixar de prestar socorro é um crime de deixar de prestar socorro, mas pode ser matar alguém? Sim. Como? Se o agente tem obrigação de impedir o resultado. A omissão dentro desses crimes de resultado é construída de maneira normativa. Por quê? Você tem como definir uma situação dessas em termos negativos? Impossível. O matar vai sempre envolver um componente positivo. Para colocar-se uma negação, é preciso construir uma ponte, aí vêm os crimes omissivos impróprios. Mas às vezes é possível construir-se uma omissão própria; exemplo: deixar de prestar socorro a pessoa morreu omissão própria agravada. Mas isso pode se tornar um homicídio, deixando de ser uma omissão de socorro? Sim, é só ter presente no caso a norma de garante para fazer a ponte dentro da tipicidade objetiva. Havendo essa ponte, já caímos sobre o artigo 121.[13: São aqueles em que o sujeito, mediante omissão, permite a produção de um resultado posterior, que os condiciona. Nesses crimes, em regra, a simples omissão não constitui crime. Exemplo: mãe que deixa de alimentar o filho, causando-lhe a morte.][14: Perfazem-se com a simples abstenção da realização de um ato, independentemente de um resultado posterior. O resultado é imputado ao sujeito pela simples omissão normativa. Exemplo: omissão de socorro, que se consuma com a abstenção de prestação de assistência ao necessitado, não se condicionando a forma simples a qualquer evento posterior.][15: Art. 121: “Matar alguém.”.]
Em segundo lugar, a pessoa queria que a pessoa morresse ou não? Se não, é omissão de socorro, ele simplesmente teve a consciência de que deveria socorrer e não o fez. Mas ele pode fazer isso para matar? Sim. Para adentrar no homicídio, tem de se ter dois elementos:
Do ponto de vista objetivo – o alicerce é a tipicidade objetiva, sempre começar a construir através dela. Quem é o agente? É o pai da criança, da pessoa? É um bombeiro? É um policial? Sendo, já há a adequação subjetiva.
Parte subjetiva – vem em seguida. Ele queria matar? Sim, então tem-se homicídio doloso em omissão imprópria.
Então, a tipicidade tem primeiro o aspecto objetivo, de onde se deve começar sempre, referentes à definição, tempo, modo, lugar, principalmente a conduta, que vai ser expressada pelo verbo. O matar alguém, por exemplo, é o mais simples dos tipos penais, porque, do ponto de vista objetivo, ele só tem o núcleo. Mas vai haver outros tipos penais como furto noturno, que tem já um componente referente ao tempo; lugar ermo, com referência a lugar, por exemplo. Então, existem outros tipos penais que agregam mais referências objetivas, que não se verificando, não tem tipicidade.Outro componente importante disso é o resultado. O que é o resultado? Pode ser visto de duas maneiras:[16: Resultado é a modificação do mundo exterior provocada pelo comportamento humano voluntário.]
Dentro de uma visão naturalística, que é a modificação ou não da situação externa, ou situação fenomênica, e aí coincide com evento, expressado pela palavra evento, que será um dolo ou um perigo; ou
Dentro de uma visão normativa, que vem a ser “todo o crime tem que produzir resultado”. Do ponto de vista normativo, esse resultado vai ser a efetiva lesão ao bem jurídico, ou a colocação em risco do bem jurídico. Se ele exige a efetiva lesão ao bem jurídico, é o crime material; se é contentado com a colocação em risco do bem jurídico, é o crime de perigo, ou formal. O formal, do ponto de vista do resultado, é igual ao crime de perigo. A consumação acontece com a colocação em risco ao bem jurídico. Então o bem jurídico deve ser sempre lesionado ou do ponto de vista efetivo ou do ponto de vista potencial. Adota-se a visão normativa, pois é mais fácil, por uma questão de coerência do sistema; estuda-se uma entidade jurídica, não sociologia; deve-se olhar o fenômeno pela ótica do direito; além de produzir consequências interpretativas mais facilmente assimiladas.
Elementos objetivos: conduta, tempo, lugar, modo de execução, resultado. Mas além da conduta e do resultado, é preciso ter um nexo de causalidade para haver tipicidade.[17: O terceiro elemento do fato típico é o nexo de causalidade entre o comportamento humano e a modificação do mundo exterior (resultado material). Cuida-se de estabelecer quando o resultado é imputável ao sujeito, sem atinência à ilicitude do fato ou à reprovação social que ele mereça (culpabilidade).]
Nexo de causalidade: conceito extremamente importante, presente no artigo 13, para crimes materiais e de perigo concreto, para os demais crimes, é uma questão de pouco importância, porque você vai operar essa ligação de conduta e resultado pela observação do tipo frente ao fato. Agora, para falar de crime material e de perigo concreto, o artigo 13 é extremamente importante. Ele se aplica a todo o Código Penal, mas na prática utiliza-se apenas para esses dois. Quando se está diante de um crime de perigo abstrato, aplica-se o artigo 13? Em tese sim, mas na prática, não é necessário. Agora, se o perigo for concreto – um perigo concreto é aquele que tem que ser demonstrado – aí ele será necessário. Se você está diante de um crime material – aconteceu um homicídio – será extremamente necessário o artigo 13. Você tem de mostrar a vinculação da conduta com o resultado. Começa aí a adequação típica.	Comment by Bianca Bianchi: Não entendi a diferença entre perigo concreto e abstrato.[18: No crime material, o tipo menciona a conduta e o evento, exigindo a sua produção para a consumação.][19: Perigo concreto é o que precisa ser provado. Exemplo: art. 134 – crime de exposição ou abandono de recém-nascido. O perigo, no caso, não é presumido, mas precisa ser investigado e comprovado.][20: Art. 13. “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.”][21: Perigo abstrato é o considerado pela lei em face de determinado comportamento positivo ou negativo. É a lei que o presume juris et de jure. Não precisa ser provado. Resulta da própria ação ou omissão. Exemplo: “Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo, sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida”, que se encontra ao desamparo, constitui crime de omissão de socorro. O perigo é presumido. Decorre da simples inércia do sujeito.]
Exemplo 3: Caso do treinamento onde um cara morreu
	Morreu porque, segundo o laudo, teve uma infecção pulmonar, gripe violenta. Foi dito que houve um treinamento onde os caras tinham que se expor a esse risco. Aí colocaram o cara que comandou o treinamento como autor de homicídio culposo, que foi denunciado e condenado em primeiro grau. Aí apelou. Qual a conexão de um crime com o outro? Onde está a demonstração de que efetivamente foi essa situação que gerou o resultado? Falou-se em previsibilidade, mas esta não se aplica; pois de início já não é possível vincular conduta a resultado. Antes de qualquer tipo de indagação: efetivamente A é o causador de B? Então, nesse caso, deu-se um bye-pass para essa indagação que é fundamental, e o advogado não viu, o cliente foi condenado.
	No âmbito cível, esse tipo de erro ocorre dez vezes mais.
Dando nexo de causalidade, é suficiente para se ter adequação típica?
Não, há elementos objetivos, como por exemplo tempo, lugar, e modo de execução. Não havendo, a tipicidade não se finaliza com essa parte descritiva.
A imputação objetiva é elemento de interpretação que pode ser conjugado no momento do nexo de causalidade, vai restringir o nexo de causalidade. É uma ferramenta mais moderna e vai além do finalista, pois é construída a partir de uma visão normativa. É um pós-finalismo, uma complementação, uma nova visão dentro de um retorno ao normativo. O finalismo é construir o direito penal dentro de uma perspectiva fenomenológica, constrói a partir de dados ontológicos, retira da conduta onde diz “toda a conduta é referente a adequação de um fim”. Por que daí é construído o sistema legislativo? Porque toda a conduta é dirigida a um fim, o qual é expressão de vontade, logo essencialmente deve ser construído a partir do estado anímico. A visão normativa trabalha com outra ideia. Não se constrói a visão de crime a partir de dados ontológicos, mas a partir do próprio normativo. Crime é basicamente um atentado/violação ao bem jurídico, desvinculado da situação fenomênica. É muito semelhante a neokantismo, desconstruindo essa ideia de tipos de injusto. Dentro dessa visão normativa de construção do crime, com abandono do dado ontológico, quando se for realizar a adequação típica, fundamentalmente se observa vinculação normativa, mais do que fática, porém não se abandona a parte fática. Então, a imputação objetiva complementa o que é analisado em termos de nexo de causalidade, porque foca-se no âmbito normativo muito mais do que no fenomênico.[22: Imputação objetiva significa atribuir a alguém a realização de uma conduta criadora de um risco relevante e juridicamente proibido e a produção de um resultado jurídico.][23: Conceito material: crime é a ação ou omissão, imputável a uma pessoa, lesiva ou perigosa a interesse penalmente protegido, constituída de determinados elementos e eventualmente integrada por certas condições, ou acompanhada de determinadas circunstâncias previstas em lei.
Conceito formal: crime é um fato típico e antijurídico.]
Exemplo 3: 
	Hospital A com péssimo atendimento. Morreu uma pessoa. Como o hospital funciona mal, há violações ao Direito Administrativo (improbidade, violações de contrato Administrativo, etc). Pode-se afirmar que há violações do Direito Penal? Até então sim, o crime vai sempre pressupor que a ilicitude – que é ampla – nasceu de um outro ramo do Direito. Nunca há a construção de um fato típico sem antes o direito ter sido violado em outro ramo (caráter sancionador do Direito Penal). 
Mas, no ponto de vista do Direito Penal, o diretor é responsável pelo que ocorre, logo, entra em homicídio culposo. Do ponto de vista material, morreu alguém – morte não intencional. Dá para fazer esse tipo de alegação? Segundo o artigo 13 sim, porque o artigo 13 surgiu de uma visão positivista, criado de forma a alcançar o maior número possível de feixe de relações que se dirigissem àquele caso. Teoria da conditio sine qua non. Mas nexo de causalidade é suficiente para ter tipicidade? Não. Um autor tradicional sairia nesse caso através da afirmação de que “o limite da imputatio factis é o imputatio iuris”. Iria restringir do ponto de vista anímico. Quais são os requisitos anímicos do caso? Basicamente estão assentados na previsibilidade. 
Ao trabalhar com a imputação objetiva,o que se faz? Em primeiro lugar, se é imputação objetiva, não há nenhuma indagação subjetiva. Parte-se de dados meramente objetivos. Qual o dado meramente objetivo a seguir? Só pode haver imputação – que não é simplesmente relacionar uma causa a um resultado, é a atribuição desvaliosa – para uma conduta que cria um risco proibido; e mais, proibição de retorno: essa conduta tem que estar relacionada diretamente ao risco criado. Então, pela teoria da imputação objetiva, diz-se que não tem como levar até o diretor, apenas às pessoas diretamente relacionadas com o caso. É uma forma de restringir a interpretação. Ou seja, não precisa entrar no aspecto anímico. 
Porém, no ponto de vista de imputação objetiva, ela conduz a algumas soluções que são contra legem, por exemplo, as concausas preexistentes relativamente independentes, por essa teoria são afastadas. Mas pelo direito penal objetivo não.[24: As causas não excluem a linha de desdobramento físico desenvolvida pelas ações, de modo que os agentes respondem pelo resultado. Não se pode dizer que as causas, de forma exclusiva, produziram o resultado.]
Exemplo 4: 
Atirou em um hemofílico. Morreu, o sangue foi todo embora. Artigo 13. Como se faria em uma situação dessa? A conduta está vinculada ao resultado? Nexo de causalidade. Utiliza-se a imputação objetiva não para substituir o artigo 13, mas para restringi-lo. É uma ferramenta doutrinária que vai facilitar a interpretação do fato frente a norma. Assim, começa-se pelo artigo 13: o cara atirou, atingiu o hemofílico. Causa da morte: anemia aguda causada por ferimento feito por projetil de arma de fogo. Assim, há vinculação ao resultado. No ponto de vista da teoria sine qua non, o assunto é definido aí. Mas o Código fornece algumas exceções: parágrafo 1º - concausas. É o caso? É causa preexistente. É relativamente independente? Sim, tem relação com a condição anterior. Do ponto de vista do artigo 13, essa pessoa se vincula a esse evento morte? Sim. Então foi homicídio doloso? Agora parte-se para a imputatio iures, saindo da tipicidade objetiva. Ela responde por homicídio doloso?	Comment by Bianca Bianchi: Estudar mais[25: Teoria de relação de causalidade adotada pelo art. 13: constitui causa do resultado toda ação ou omissão sem a qual referido resultado não teria acontecido.][26: Art. 13, §1º Superveniência de causa independente. “A superveniência da causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.”. Causas absolutamente independentes excluem o nexo de causalidade. Em causas relativamente independentes supervenientes, o resultado não é imputável.][27: Nexo causal subjetivo entre conduta e resultado.]
Uma situação como essa poderia ser: homicídio doloso consumado; homicídio culposo; lesão corporal seguida de morte.
Onde entra a imputação objetiva? É possível usá-la nesse caso? Sim. Evitar a adequação típica, entraria no ponto objetivo. Não há uma relação direta entre o risco criado e o resultado. Esse resultado extrapola o risco criado; está dentro do âmbito da própria vítima – exclui a tipicidade, restringindo o nexo de causalidade. Você pode chegar ao mesmo resultado dentro de uma visão tradicional? Sim, mas é mais difícil: “embora haja o artigo 13, o atirador não conhecia a situação do ferido”. Porém, sistematicamente não faz sentido porque o artigo 13 não trabalha com o critério subjetivo. Ele é simplesmente uma norma para vincular conduta a resultado.
Quais são as causas que afastam? Cada elemento – tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade – tem um juízo negativo que o afasta. Quais seriam no caso da tipicidade os juízos negativos que a afastariam? Que normas, tratadas na parte geral, afastam a tipicidade?
Crime impossível[28: Vide nota 7.]
Desistência voluntária[29: Vide nota 6.]
Arrependimento eficaz[30: O arrependimento eficaz tem lugar quando o agente, tendo já ultimado o processo de execução do crime, desenvolve nova atividade impedindo a produção do resultado. Exemplo: após ministrar veneno na alimentação da vítima, o agente se arrepende, dando-lhe um antídoto que a salva. E só há arrependimento ativo quando o agente esgota os meios de execução (tentativa perfeita). Assim, o arrependimento ativo verifica-se quando o agente ultimou a fase executiva do delito e, desejando evitar a produção do evento, atua para impedi-lo. Em consequência, só é possível na tentativa perfeita ou crime falho e nos delitos materiais ou causais.]
Essas normas funcionam como juízo negativo da própria tipicidade.
(1:03:20) ______ afasta a tipicidade? Ele afasta a tipicidade na melhor doutrina, na mais moderna, se opera dentro dos crimes em que prevalece o desvalor do resultado. Mas porque modernamente se diz que afasta a tipicidade? Porque você coloca como condição da tipicidade a lesão do bem jurídico, efetiva ou potencial. Isso é uma construção muito evidente da visão funcionalista, de onde saiu a imputação objetiva. Não pode haver tipo sem que haja lesão ao bem jurídico.[31: Em cada delito deve haver um resultado ofensivo com relação ao bem jurídico, não somente nos crimes materiais, mas também nos de mera conduta.]
A autocolocação em risco também afasta?[32: Haverá autocolocação em risco sempre que a vítima, consciente ou inconscientemente, participe, com a sua própria conduta, na realização do resultado juridicamente protegido.]
Afasta. A autocolocação é uma consequência da imputação objetiva. Mas para aceitar-se isso em Direito Penal brasileiro não é fácil. Principalmente em crimes culposos. Aceita-se isso facilmente na Alemanha.
Exemplo 5: 
Alemanha. Meia noite. Todo mundo bêbado. Farol vermelho. Pedestre atravessa e é atropelado. A galera não para. Nessas situações, o Brasil, a jurisprudência rejeita. A tendência da jurisprudência brasileira é não partilhar a responsabilidade com o pedestre, colocar ênfase demais no motorista. Isso é colocado como um raciocínio aceito muito facilmente, quando na verdade está completamente errado, indo até contra o próprio Código de Trânsito. Todos são responsáveis pelo trânsito; principalmente o motorista, mas em grande parte o pedestre. A regra é usar “parcela mínima de culpa do motorista”. A visão de autocolocação em risco, numa situação dessa, afastaria; mas, no Brasil, não afasta na prática.
Expressão: “não se compensa a culpa em direito penal”. Isso é a antítese da possibilidade de você aplicar essa doutrina, essa consequência da imputação objetiva.
Exemplo 6: 
Treinamento de arma em que o cara não cumpre a instrução e se lesiona – autocolocação em risco. Descumpriu-se uma regra que você também deveria seguir – não só quem te passou – e acabou se lesionando. Na prática, o tribunal não segue isso. A desconsideração de regras de cuidado é a norma geral do dia a dia, então fica difícil aplicar a teoria. São raras as situações onde realmente se segue à risca as normas de cuidado.
Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz – afastam a tentativa. Afastar a tipicidade no plano da tentativa; se operam dentro da execução. Quando há um caso que já se consumou, não há que falar nestes dois.
Crime impossível – também afasta a tipicidade.[33: Vide nota 7.]
Exemplo 7:
	Crime de várias falsificações ideológicas. Advogado diz que a falsificação é grosseira, mas quando observar a maneira como foi executada, operou a consumação. Quando já está em fase de consumação, não há que falar em crime impossível; opera-se sempre no plano da execução.
Exemplo 8:
	Homicídio em que o cara vai atirar e não há como disparar. Ou disparou para matar e a pessoa já estava morta.
Por que em muitos exemplos de Teoria Geral usa-se homicídio?
É mais fácil, pois o tipo penal tem a parte objetiva restrita ao núcleo; ele não tem nem elemento normativo nem subjetivo.
E o que é elemento normativo?[34: Pressupostos do injusto típico que podem ser determinados tão-só mediante juízo de valor da situação de fato. Podem apresentar-se sob a forma de francareferência ao injusto (“indevidamente”, “sem justa causa”, “sem as formalidades legais”), sob a forma de termos jurídicos (“documento”, “função pública”, “funcionário”) ou extrajurídicos (“mulher honesta”, “dignidade”, “decoro”, “saúde”, “moléstia”).]
Também compõe a tipicidade, são os elementos valorativos contidos no tipo penal, que se referem ou a antijuridicidade, ou a algum conceito jurídico ou extrajurídico. Se não estiverem presentes, também vai afastar a tipicidade, pois não estará preenchido o preceito incriminador. Toda vez que observarmos no tipo penal as expressões: “indevidamente”; “sem justa causa”; “contrariando a lei”, há um elemento normativo referente à tipicidade.
Outras vezes o elemento normativo se refere a um conceito “documento”, “veículo”. Ele se refere ao conceito que pode ser jurídico ou antijurídico, “doença venérea”, por exemplo, é um conceito da medicina. É um elemento normativo do tipo conceito extrajurídico. Então, às vezes, haverá tipos penais que, além dos elementos objetivos, terão presente também os elementos normativos. 
E às vezes, há tipos penais em que estarão presentes elementos subjetivos. Elemento subjetivo não é dolo. A tipicidade tem um ângulo objetivo e um subjetivo. Do primeiro, há os elementos objetivos, referentes à conduta, resultado, nexo de causalidade, tempo, lugar, modo de execução. Você poderá ter elementos normativos dentro do viés objetivo. E você tem a tipicidade subjetiva, a qual compreende a culpa nos crimes culposos. Só que, às vezes, aparecem dentro da tipicidade subjetiva, os chamados elementos subjetivos, que não compõem o dolo, aparecem ao lado dele, é uma especial motivação: uma finalidade específica daquele comportamento. Caso isso apareça, a ausência dele compromete a tipicidade no ângulo subjetivo. Da mesma maneira que a ausência de dolo vai afastar a tipicidade, em um ângulo subjetivo.
Tanto é não matar alguém não ter nexo de causalidade, como também não ter dolo, no ponto de vista do homicídio doloso; pois a construção finalística traz o dolo com o tipo. O erro de tipo, por exemplo, afasta o dolo; e, ao afastar o dolo, afasta também a tipicidade.
Por que a teoria finalista traz o dolo com o tipo?
O tipo descreve uma conduta e toda conduta é ligada a uma finalidade; não existe conduta humana que não é ligada à uma finalidade (questionável sob o ponto de vista da psicologia). Assim, a finalidade é necessariamente acompanhada por uma vontade; que vem a ser a essência do dolo. Assim, o tipo penal tem de absorver o dolo existente na conduta.
A visão positivista – quando alguém atira para matar – diz que Fulano de tal realizou um disparo cuja lesão causada pela perfuração da bala matou a pessoa. Lá na frente, ele vai dizer que ele atuou dolosamente. Hoje, não se pode descrever uma ação penal com uma conduta sem afirmar o dolo. É preciso colocar na denúncia que ele atirou para matar, caso contrário, se não houver vontade consciente em dolo direto ou eventual, o juiz nem recebe a denúncia.
Na década de 1940, fazer uma pré-análise não era necessário. Isso vinha depois, com a previsibilidade, para se falar em homicídio culposo. Mesmo sendo invertido, o dolo continua importante, vindo a analisar o depois, quando se trata da aplicação da pena.
Então, em “matar alguém”, tem-se elemento objetivo “matar”, que é o núcleo. A tipicidade subjetiva está embutida nessa norma, que é o “matar alguém dolosamente”. Todo o crime que está pressupondo a vontade consciente, no dolo. Não existe tipo penal que não seja construído a partir do dolo. Ou seja, “matar alguém”, implica em “matar alguém” por vontade consciente, de forma direta ou eventual.
Todo tipo penal vai admitir dolo direto, ou eventual; mas o dolo sempre tem de estar presente.
	Quando aparecer crime culposo, vai aparecer por via de exceção, porque o tipo penal, excepcionalmente prevê um tipo culposo. Se tiver uma conduta culposa, mas que não tem previsão do crime, o comportamento é atípico. 
Exemplo 8:
	Art. 339. “Dar causa a instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente.”. Esse tipo penal admite dolo eventual? Não, pela expressão “de que o sabe inocente”. Se o agente está na dúvida se fulano é inocente, não entra nesse tipo penal, não há adequação típica, do ponto de vista da tipicidade subjetiva.[35: Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado, isto é, admite e aceita o risco de produzi-lo. Ele não quer o resultado, pois se assim fosse haveria dolo direito. Ele antevê o resultado e age. A vontade não se dirige ao resultado, mas à conduta, prevendo que esta pode produzir aquele. Exemplo: quero matar Temer, que está conversando com Dilma. Sei que se atirar posso acertá-la, mas atiro mesmo assim.]
	Nos tipos penais que não têm uma exigência de dolo direito, um dolo eventual serve, é suficiente para adequar a tipicidade subjetiva.
Dúvida é a legítima, mais clara expressão do dolo eventual.
Erro de tipo não é dúvida. No erro de tipo, o agente atua com certeza, só que o comportamento que ele está desencadeando chega a uma incriminação, mas ele jamais teve dúvida que ali chegaria.[36: Erro de tipo é o que incide sobre as elementares ou as circunstâncias da figura típica, sobre os pressupostos de fato de uma causa de justificação ou dados secundários da norma penal incriminadora. É o que faz o sujeito supor a ausência de elemento ou circunstância da figura típica incriminadora ou a presença de requisitos da norma permissiva. Art. 20. “O erro sobre elemento constitutivo do tipo penal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. §1º É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.]
Exemplo 9:
O cara vai atirar em uma moita, e ele está na dúvida se tem um amigo dele ou um bicho, ele está atuando com o dolo eventual de matar alguém, não em erro de tipo. 
Dúvida é a antítese do erro de tipo.
Voltando ao artigo 339...
Há elemento normativo nesse crime?
Sim. Conceitos jurídicos da ação de improbidade administrativa, processo judicial, etc. 
Exemplo 10:
Ao olharmos o artigo 319, “Retardar, ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.”.
Elementos objetivos – núcleos: retardar; deixar de praticar; praticá-lo. Referentes à conduta do agente. Todo o núcleo é expressão máxima do elemento objetivo.
Elementos normativos – “indevidamente” (violações normativas); “ato de ofício” (da atribuição funcional do agente); “disposição expressa de lei” (violações normativas).
Elementos subjetivos – “para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”; elemento subjetivo do injusto. Dolo é a vontade consciente de retardar ou deixar de praticar, tendo consciência do ato de ofício e de que está atuando fora da ordem jurídica, violando diretamente a lei. Isso é o dolo + elementos subjetivos (interesse/sentimento – relação de reciprocidade/objetivo entre sujeito e objeto). Estes últimos NÃO SÃO dolo, compõem a tipicidade subjetiva. Se não estiverem presentes, não há adequação típica por falta da parte subjetiva, mesmo que não falte dolo.
Exemplo 11: prevaricação[37: Art. 319.]
	Fulano praticou ato de ofício, consciente de que era contrário à ordem jurídica, para satisfazer interesse pessoal. Há tipicidade aí? Não, é preciso descrever qual é o sentimento ou interesse pessoal.
O dolo e a culpa compõem a tipicidade subjetiva, assim como o elemento subjetivo do injusto.
	O elemento subjetivo do injusto vai estar presente em crime doloso.
Exemplo 12:
	Cara fez um BO de um furto. Delegado não quer ler o BO. Então, ele deixou de praticar um ato de ofício, porque é funçãodo delegado instaurar um inquérito. 
Ato de ofício = ato diretamente relacionado à atribuição funcional.
	Esta história é prevaricação?
	Não.
Deixar de praticar ato de ofício – OK
Vontade consciente – OK; ele sabe que tinha que abrir o inquérito, logo há dolo.
Elemento subjetivo: satisfazer sentimento ou interesse pessoal – NÃO.
Logo, não há tipicidade, pois o sentimento ou interesse pessoal não foi demonstrado.
Em uma outra hipótese, o delegado não abre o inquérito porque é amigo do cara que furtou; aí sim configura-se prevaricação.
IMPORTANTE: Começar sempre pelo ângulo objetivo.
	Ao analisar esse comportamento, a primeira coisa a ser analisada é se havia de fato ato de ofício que não havia sido praticado. Sempre começar do ângulo objetivo.
Outro detalhe importante: como funciona o dolo em um crime qualquer?
Existe comportamento doloso na medida em que essa vontade consciente percorre todos esses elementos. Então, o agente tem total consciência da história, inclusive no aspecto normativo.
Pode haver erro de tipo em cima de elemento normativo?
Sim, a vontade consciente tem de percorrer tudo isso. No elemento subjetivo também. Quando se tem tipos penais com elemento subjetivo, fica difícil aceitar dolo eventual.
Regra: em tipos penais que tenham elemento subjetivo, em muitas situações, desconfia-se que há dolo eventual, mas é mais complicado.
Qual a diferença entre elementos subjetivos do tipo, para elementos subjetivos do injusto para dolo específico?
Elementos subjetivos do injusto – adota-se a visão de tipicidade somada à antijuridicidade.
Elementos subjetivos do tipo – separa tipicidade de antijuridicidade. Ou um tipo abstrato ou indiciário.
Dolo específico – visão muito tradicional do direito penal. Tipo abstrato, bem dos primórdios.
	Para efeitos práticos, não há diferença.
Art. 319. Dos elementos objetivos, qual deles não admitiria tentativa?
O “deixar de praticar”, pois seria uma omissão própria. Crimes omissivos próprios não admitem tentativa. Por quê? Porque são unissubsistentes (ou acontece ou não acontece). Ou o agente pratica o ato esperado e o comportamento é indiferente; ou ele não pratica e o ato está consumado.[38: Vide nota 14.]
E omissão imprópria admite tentativa? Sim. Porque é plurisubsistente. O que varia é o momento em que se considera possível enquadrar a tentativa: alguns falam que desde o primeiro momento em que ele deveria agir; outros que se estendem até o último ato. Mas é perfeitamente factível se considerar a tentativa, é equiparada a ação; e é fracionada tal qual a ação dentro de um crime material.
Exemplo 13: 
	Médico que não vai atender. Morre determinada pessoa. Tendo consciência de que o evento morte vai acontecer. Em que momento? Deu entrada no hospital/iniciar o agravamento do estado de saúde? 
O fato é que a cada momento desse, o médico passa e pergunta se fulano já morreu. A cada momento desse é a execução que está acontecendo. Alguém chega e pergunta: “Mas você não vai atende-lo?”. E o médico era inimigo do doente. Crime de homicídio doloso por omissão imprópria.
A execução está acontecendo. Como ele tem posição de garante, pode-se vincular conduta a resultado.
	Há alguns autores que defendem a possibilidade de tentativa em omissão própria, não ligue para isso não, que ninguém entende.
Na área militar... as coisas são muito mais difíceis de analisar que no âmbito civil (Direito Penal Comum), porque há dever total de sujeição na área militar. Então, é muito mais difícil. É mais fácil exculpar a conduta de alguém que impõe o dever, justamente porque o dever de disciplina, que inexiste na área comum. A própria noção de obediência hierárquica (não exclui a obediência hierárquica atos ilegais), no Direito Penal Militar, só não vai excluir o absolutamente criminoso. A obediência hierárquica é muito mais alta porque o dever é muito mais restrito, do que ocorre no âmbito civil. A perspectiva é mais complicada.
Exemplo 14
	Militar lidera um treinamento muito pesado; avisa e diz que vai quem quer. Alguém morre. Coloca-se em homicídio culposo? Não deveria, porque quem foi correr foi por vontade própria.
Há nexo de causalidade?
Pode-se dizer que sim. É dessa corrida que ele está liderando que vai surgir o evento morte. Você pode até dizer que tem. 
Mas considerando que esse comportamento não pode ingressar no Direito Penal, como se sairia dele? Dentro da visão tradicional, os advogados iriam falar em previsibilidade; dentro de uma visão mais moderna, como se sai?
Com a imputação objetiva; a autocolocação em risco. Se é usada a imputação objetiva, não se indaga em aspectos subjetivos.
Exemplo 15:
E o caso de heterocolocação em risco? Você sabe que o cara é cardíaco e o convida para a corrida da mesma forma, mesmo o cara aceitando?
É a mesma coisa. O sujeito está fora do âmbito de ação; é uma ação exclusiva do outro. É até possível fazer essa conexão se você chama a pessoa dentro de um quadro de obrigatoriedade, daí até se poderia pensar; mas fora disso não.
Risco: desde lesões até morte.
Tentativa[39: Tentativa é a execução iniciada de um crime, que não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Art. 14. “Diz-se o crime: II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.”.]
	A melhor teoria que explica a tentativa é a formal objetiva; mas existem outras, como a objetiva individual, por exemplo. Subjetiva nunca. A legislação penal sempre trabalha dentro de um critério objetivo nesse aspecto. 
O que é objetivo? 
Exige uma exteriorização do comportamento.
E por que formal?
Porque vai exigir que o agente atue dentro do núcleo do tipo. Analisar dentro do núcleo do tipo sempre em relação a cada núcleo, não dá para fazer uma fórmula geral. E dentro do núcleo, em relação a cada caso concreto.
Exemplo 16:
	Se é um homicídio, o cara adquiriu uma arma. Isso é tentativa? Não. O cara foi matar alguém em uma emboscada. Subiu em uma árvore. É tentativa? Não. A pessoa está passando, ele aciona o sistema da arma? É tentativa? Não é ato preparatório.	Comment by Bianca Bianchi: Ato preparatório não pode ser punido, mas pode constar como prova? Por exemplo: A acusado de matar B, posso dizer que o fato de A ter ido comprar veneno no dia tal constitui um ato preparatório para o crime, logo uma prova de que ele é o provável assassino?[40: Preparação é a prática dos atos imprescindíveis à execução do crime. Nesta fase ainda não se iniciou a agressão ao bem jurídico, o agente não começou a realizar o verbo constante da definição legal (núcleo do tipo), logo o crime ainda não pode ser punido. É a preparação da ação delituosa que constitui os chamados atos preparatórios, os quais são externos ao agente, que passa da cogitação à ação objetiva; arma-se dos instrumentos necessários à prática da infração penal, procura o local mais adequado ou a hora mais favorável para a realização do crime.]
Ato preparatório não configura tentativa.
	O cara efetua o disparo. É tentativa? Sim, pois já iniciou a execução. Errou o tiro. É tentativa? Sim. A arma falhou. É tentativa? Depende, pode ser crime impossível, se a ineficácia é absoluta, se ela jamais poderia disparar. Se a munição falhou, é tentativa? Sim. Se a arma não tem percursor? Crime impossível.[41: Atos de execução são aqueles que se dirigem diretamente à prática do crime, isto é, a realização concreta dos elementos constitutivos do tipo penal. Inicia-se a agressão ao bem jurídico, por meio da realização do núcleo do tipo penal.]
Um caso pode dar ensejo a várias possibilidades. Em cada caso tem de se analisar. Às vezes a falha não impede o resultado.
Exemplo 17:
	Revólver com sistema de engatilhamento quebrado, mas o sujeito disparou mesmo assim e matou a pessoa. O advogado alegou crime impossível, mas de cara já se tem resultado, logo está fora do âmbito de crime impossível.
Exemplo 18:
	Laudo: parada cardíaca e respiratória. Advogado argumentou que o sujeito morreu não do tiro, mas do susto do tiro, rompendo o nexode causalidade. Absurdo, mas às vezes o advogado tem que se expor ao ridículo, porque em júri pode colar. (Esse é pra rir.)
Exemplo 19:
	Fulano deu dois tiros em uma moça e advogado declarou como tentativa de homicídio. Fulano trocou de advogado, que declarou réu indefeso, por conta da alegação absurda do advogado anterior; orientação absurda, que o fazia praticamente confessar o próprio crime.
Consumação – está no âmbito da tipicidade objetiva. É raro, mas há tipo penal em que a consumação envolve investigação subjetiva. Normalmente consumação é uma análise estritamente objetiva, mas há situação em que é preciso indagar o estado anímico, num plano prático.[42: Crime consumado é o tipo penal integralmente realizado, ou seja, quando o tipo concreto amolda-se perfeitamente ao tipo abstrato. Art. 14. “Diz-se o crime: I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal.”.]
O que é um crime permanente?[43: Crimes permanentes são os que causam uma situação danosa ou perigosa que se prolonga no tempo. O momento consumativo se protrai no tempo.]
A consumação se prolonga no tempo. Exemplo: sequestro. Qualquer tipo penal que induza permanência. Qualquer situação em que se possa admitir que aquele estado de antijuridicidade se prolonga. Há variações: crime instantâneo de efeito permanente, que é aquele em que a consumação acontece em momento dado, mas o efeito se prolonga; grande parte dos crimes têm seu afeito antijurídico assim; e crime eventualmente permanente, que são crimes instantâneos, mas cuja antijuridicidade se prolonga por vontade do agente. Nessas situações, você pode aplicar regra de permanência.[44: São crimes em que a permanência dos efeitos não depende do agente. São crimes instantâneos que se caracterizam pela índole duradoura de suas consequências. Exemplo: homicídio, furto.][45: O crime, tipicamente instantâneo, prolonga a sua consumação, como no exercício abusivo de profissão.][46: A distinção entre crimes instantâneos e crimes de permanência tem relevância no terreno da prescrição; competência territorial e flagrante.]
Exemplo 20:
Maus tratos que acontece e é prolongado acaba induzindo permanência. Em algumas situações você pode aplicar regra de permanência. Prisão em flagrante em qualquer momento e contagem do prazo prescricional começa com a cessação da permanência.
- Violência doméstica: pode acontecer de gerar permanente; ou crime continuado. Depende da situação concreta.
Em algumas situações, quando é agressão física, está mais para continuação.
- Privação de cuidados: aí pode inclusive permanência, você está dentro de um quadro de uma conduta única que vai se repetindo. Quando se deixa de prestar o cuidado, já consumou, mas esse deixar de cuidar pode se estender por vários dias, por exemplo. 
Concurso de crimes[47: Quando um sujeito, mediante unidade ou pluralidade de ações ou omissões, pratica dois ou mais delitos.]
	E quando você tem concurso de crimes pode ser até o concurso formal, de uma única conduta gerando vários crimes; de uma continuação delitiva, sequência de atos criminosos do mesmo tipo penal.
	Um concurso material, que são vários crimes praticados com cisão de tempo e espaço.
Qual o oposto do concurso de crimes?
O concurso aparente de normas. Ele se assemelha ao concurso aparente de norma em face dos concursos de crime, concursos reais (concurso material, formal e crime continuado). Concurso aparente de norma (preferir termo concurso do que conflito aparente de normas), aparentemente faz normas incidirem no mesmo caso; mas por interpretação, chega-se a conclusão de que há apenas um único desvalor.
Apesar de ser colocado como assunto fácil, é muito complicado no Direito Penal. Só alcança a lógica se estiver dentro de um caso de especialidade e subsidiariedade – infanticídio afasta homicídio por subsidiariedade (uma norma está contida em outra como elementar ou norma agravadora). Uma ameaça está contida em um roubo, em um estupro. A exclusão se dá porque a própria norma – só aplica se nada ocorrer de mais grave, subsidiariedade expressa.[48: Há relação de primariedade e subsidiariedade entre normas quando descrevem graus de violação do mesmo bem jurídico, de forma que a infração definida pela subsidiária, de menor gravidade que a da principal, é absorvida por esta: Lex primaria derogat legi subsidiariae.]
Consunção – uma norma indica fases de execução e preparação de outra. Muito complicado, especialmente se houver cisão no tempo e espaço, caso em que se atua em um âmbito de interpretação, posição do intérprete.
Exemplo 21:
Falsificou uma escritura para dar golpe em outra pessoa, vendendo um bem qualquer. Falso + estelionato. Mas como o falso se voltou para aquele estelionato, você pode muito bem dizer, Súmula 17 do STJ, falso é absorvido pelo estelionato.
Em um caso como esse, poderíamos dizer que é concurso de crimes?
Facilmente: cisão no tempo e no espaço – uma hora falsificou; em outra obteve vantagem; segundo lugar, violou duas objetividades jurídicas, uma em relação à fé pública (falso), outro em relação ao patrimônio (estelionato). Agora, o cara que lesiona para matar a pessoa é mais fácil ou menos de deixar a lesão absolvida pela morte – muito mais fácil. Bis in idem.[49: É um fenômeno do direito que consiste na repetição de uma sanção sobre o mesmo fato.]
Não é lógica jurídica, é retórica mesmo.
Porte de arma e assassinato segue a mesma lógica? Mais facilmente diz-se que é concurso de crimes, porque no caso do falso + estelionato, é mais fácil de ver um único crime porque um dos componentes do estelionato é justamente a falsificação (fraude), enganar alguém. Mas se falar que uma pessoa que atirou a outra, estava na posse legal de arma e matou, é correto dizer que o homicídio doloso vai afastar a posse ilegal de normas? É correto? No ponto de vista de consunção? Sim: fase de execução para o crime de homicídio. É correto dizer que, embora condenado pelo homicídio, ele vai responder por posse ilegal de armas? Também é correto. Não tem lógica jurídica, é simples opção do intérprete. Caso de consunção, quando envolve cisão no tempo e espaço, a opção por dizer que é concurso aparente de normas não é lógica jurídica, mas opção do intérprete. Lógica jurídica é afastar o homicídio pelo infanticídio; lesão corporal por homicídio. Entrou em consunção, entrou em valoração.
Exemplo 22:
Dez documentos falsos, entregues todos de uma vez. O juiz condenou em concurso formal, por entender que cada situação daquela configurava um caso. Como advogado, diria que se tratavam de atos de uma mesma conduta, acontecidos ao mesmo tempo, dentro de um quadro só. Dá margem a vários tipos de situação a questão da cisão no tempo e espaço.
Antijuridicidade	
Outro componente do conceito de crime, que é a ilicitude, contrariedade da ordem jurídica, é geral, não existe só para o Direito Penal, mas no âmbito penal, há causas que a excluem. Vai afastar automaticamente a exclusão do âmbito penal do âmbito civil? Às vezes sim, às vezes não, depende do Código Civil.
Quais são as causas que afastam, levam à exclusão da antijuridicidade?
Tal qual a tipicidade, o juízo negativo afasta esse elemento, vai afastar o conceito formal de crime.
Homicídio legítima defesa[50: Art. 25. “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”. Requisitos (a) agressão injusta, atual ou iminente; (b) direitos do agredido ou de terceiro, atacado ou ameaçado de dano pela agressão; (c) repulsa com os meios necessários; (d) uso moderado de tais meios; (e) conhecimento da agressão e da necessidade da defesa (vontade de defender-se).]
	Modernamente, a legítima defesa, diferentemente do estado de necessidade não tem ponderação de bens.[51: É uma situação de perigo atual de interesses protegidos pelo Direito, em que o agente, para salvar um bem próprio ou de terceiro, não tem outro caminho senão o de lesar o interesse de outrem. Art. 24. “Considera-seem estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.]
É possível matar alguém para defender o patrimônio? 
Perfeitamente possível, será avaliado o caso concreto.
Legítima defesa não tem ponderação de bens; já o estado de necessidade, tem.
É da essência do estado de necessidade a ponderação. Já com a legítima defesa, é perfeitamente possível argumentar o patrimônio atacando a vida. O que você vai analisar é que isso na prática, toda a vez que você tiver uma distância valorativa muito grande entre os bens jurídicos em jogo na legítima defesa, mais facilmente, cai-se no excesso, que afasta a legítima defesa. Mas isso é uma questão fática, a ser analisada caso a caso.
Já no estado de necessidade, a distância já vai afastar; a não ser que se entre em causa de inexigibilidade: não é de se exigir do agente outro comportamento a não ser atacar o bem jurídico de maior valor. Mas também há de ser analisado o caso concreto.
Se você defender em estado de necessidade o patrimônio atacando a vida, já caímos de cara no estado de necessidade exculpante. Há doutrinadores que defendem que, nesse caso, aplica-se com exclusão de culpa. Mas de cara, pela lei, é uma coisa só.
Causas de exclusão da antijuridicidade – modernamente tratadas no âmbito da tipicidade.
Como se excluiria uma adequação típica em face do estrito cumprimento do dever legal e do exercício regular do direito?
Estando dentro do risco permitido; tipicidade conglobante – esse comportamento não é antinormativo.
Direito Alemão – normalmente não tratam como excludente da ilicitude, tratam direto como necessidade.
Exemplo 23:
	Médico ao realizar procedimentos em pacientes não seria lesão corporal. Oficial de justiça cumprindo ordem do juiz que determinou arrombamento.
E no âmbito da culpabilidade? Qual o pressuposto fundamental?
A exigibilidade de outra conduta. Tem-se também elementos negativos em relação a esse pressuposto – situações que afastam a exigibilidade de outra conduta: coação moral irresistível e obediência hierárquica. Muitos autores colocam como pressuposto da reprovação, de tal maneira que não existindo uma situação normativa que a exclua, mas ainda assim no caso concreto concluir-se que não é razoável exigir do agente que atuasse de acordo com o direito, há exclusão de ilegalidade supralegal, pela inexigibilidade de outra conduta. Isso é um absurdo do Código Alemão, que não tinha diferenciação do estado de necessidade, em situações onde iria se enquadrar por ponderação como exclusão de ilicitude no Código Civil (aborto em caso de risco de vida para a mãe). Para suprir necessidades através de mecanismos de doutrina. Ao criarem o estado de necessidade, essa ideia foi abandonada, pois pode gerar absurdos.[52: Coação é o emprego de força física ou de grave ameaça contra alguém, no sentido de que faça alguma coisa ou não.][53: Ordem de superior hierárquico é a manifestação de vontade do titular de uma função pública a um funcionário que lhe é subordinado, no sentido de que realize uma conduta (positiva ou negativa).]
Toda a supralegalidade que te favorece a excluir do sistema tem o mesmo caminho para incluir, sendo assim muito perigoso. A mesma cláusula que exclui também inclui (ofensa ao princípio da legalidade).
Outra ideia importantíssima da culpabilidade é a imputabilidade. 
O que é imputabilidade?
É a capacidade de culpabilidade, ou seja, a capacidade geral de entendimento.
O que exclui a culpabilidade dentro da ótica da imputabilidade?
As causas que afastam a imputabilidade, ou seja, a inimputabilidade.
Qual o sistema que o Código Penal brasileiro adota em matéria de inimputabilidade?
Sistema biopsicológico: comprometimento da capacidade de entendimento no caso. Se você tiver uma compreensão diminuída, você terá uma semi imputabilidade, aí será condenado: ou diminuição de pena, ou medida de segurança.
Qual outro elemento que compõe a culpabilidade?
Consciência da ilicitude, que no caso do Código Penal, é trabalhada em potencial. Se não existe consciência potencial da ilicitude, não haverá culpabilidade. O juízo negativo da consciência da ilicitude se expressa no Código Penal como erro de proibição. Se o agente não tem consciência da ilicitude alguma e nem poderia alcança-la, entra em erro de proibição (não quer dizer ignorância da lei – conhecimento cruzado do fato com a ordem jurídica).
No caso do Direito Penal comum brasileiro, atua em nível potencial: se pode alcançar, alcançou. 
Erro de proibição evitável (diminui a pena) – podia alcançar. Incide diretamente sobre o fundamento do fato.[54: Há erro de proibição inescusável ou evitável quando o sujeito nele incide por leviandade, imprudência, descuido, etc. Art. 21, parágrafo único. “Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consequência.”.]
Erro de proibição indireto – discriminante putativa do ponto de vista jurídico, não fático, deste se trata como erro de tipo, mas ao contrário do erro de tipo, não exclui a tipicidade, mas exclui a reprovação. Por quê? 	Comment by Bianca Bianchi: Exemplo?[55: Suposição errônea da existência de causa de exclusão da ilicitude não reconhecida juridicamente.]
Exemplo 24:
O cara que atua em legítima defesa putativa. Cara está armado. Inimigo sempre anda armado. Sob ameaças, o inimigo puxa uma chave de fenda, o cara puxa uma arma e mata, acreditando estar em legítima defesa. Não era legítima defesa porque não era agressão injusta, apesar de ele acreditar que sim.
Descriminante putativa.[56: Modalidade resultante de erro de fato, de modo a dar ao agente a impressão falsa da realidade fática e fazê-lo supor a existência de situação de fato que tornaria a ação legítima. Exclui a culpabilidade e, por isso, a criminalidade.]
Por que não trata com erro de tipo?
Ele atirou com vontade consciente de matar? Sim. O erro de tipo te leva à exclusão do dolo. Sobretudo porque o dolo é dolo natural, não tem consciência da ilicitude.
	No erro de proibição indireto, você está errando contra a permissão por compreensão errada do cruzamento do fato com a ordem jurídica.[57: Vide nota 55.]
Pode acontecer de você errar por má compreensão do fato na ordem jurídica?
Sim.
Exemplo 25:
Oficial de justiça acredita que está no cumprimento do dever legal. Descriminante putativa. Erro de proibição indireta. Realizar a penhora, arromba o apartamento errado. 20, parágrafo 2º, por má apreciação da realidade. Não tem achismo, ele está na certeza de que está no apartamento correto (achar seria dolo eventual – oposto do erro). Afastamento da culpabilidade no âmbito da consciência da ilicitude.
O que é actio libere in causa?[58: A teoria da actio libera in causa desloca o momento de aferição da imputabilidade do momento da ação ou omissão para o momento em que o indivíduo colocou-se em estado de inimputabilidade, isto é, o da ingestão do álcool.]
Ação livre na causa. Art. 28. Não incluem a imputabilidade a emoção (raiva) e a paixão (crônica – ódio). Embriagues também não exclui (álcool ou entorpecente). Voluntária – beber para ficar doidão. Culposa – acidental (tomou a dose errada). Não excluem. A imputação em direito penal vai acontecer no momento em que o agente era livre na causa – era livre no momento em que se determinou a se indagar. Presunção fundamental no Brasil. Pode gerar exclusão de culpa – é isento de pena quem por embriagues completa. Ao tempo da ação ou omissão inteiramente incapaz de entender o fato – erro de proibição antecipado; capacidade geral de entendimento. Sabe que está errado, mas não consegue frear.
	Actio libere causa – adequada a abaixar a imputabilidade nessas hipóteses e inadequada para gerar imputação.
	Embriagues só nessa hipótese gera exclusão.
Embriagues preordenada – cara que se embriaga para cometero crime. A teoria foi criada para responder a esta situação. Não apenas não afasta a culpabilidade, como gera uma agravante genérica.
Penal 1 – crimes em espécie
Conceitos importantíssimos em Penal 1: 
Violência= Agressão física. Ação para vencer resistência. Vários tipos penais pressupõem a violência. Pode ser direta – sobre o sujeito passivo – ou indireta, se executada sobre uma coisa para atingir o sujeito passivo (ataca o cavalo para atingir quem está sobre ele).
Ameaça = intimidação. Vai aparecer como tipo penal independente e vai estar contida em vários outros crimes. Comportamento da vítima vai ser executado porque ela foi intimidada. Pode ser exercida de maneira indireta (ao filho do sujeito, por exemplo).
Arma= todos os instrumentos de ataque que possam vulnerar. CP brasileiro trabalha com o conceito de arma imprópria – qualquer instrumento apto a violar. A arma própria são aqueles instrumentos realmente específicos de ataque ou defesa (armas de fogo ou sendo armas brancas, punhais, lâminas, de ataque ou defesa, facas de combate).
Uma faca de pão tem diferença de uma faca de combate militar para o Direito Penal?
Não.
Arma branca – conceito dá a entender que são lâminas de combate mesmo. Coincide com arma imprópria.
Um pedaço de pau ou uma faca ambos são arma para o Direito Penal. Fred entende que em algumas hipóteses o legislador restringiu, mas a interpretação é dificilmente vista entre os doutrinadores.
Raramente o legislador vai ser claro ao restringir a arma própria (exemplo: arma de fogo).

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