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Prévia do material em texto

História do Direito 
Brasileiro
Estácio Natal
Profa. Dra. Margarida Maria Knobbe
2018
Reprodução autorizada apenas para estudo dos alunos da disciplina. 
É vedado o uso para outros fins, publicação em sites da internet, etc. sem 
prévia autorização por escrito da autora.
Aplicação: articulação teoria e prática
aula 3
 Frequentemente o apoio à pena de morte é destaque na mídia brasileira. 
Recentemente, mais especificamente o mês de janeiro de 2018, pesquisa 
realizada pelo Instituto Datafolha apontou que 57% da população 
brasileira são favoráveis à pena de morte. Na verdade tal número 
representou um aumento de 10 pontos percentuais em relação à última 
pesquisa, realizada no ano de 2008, quando a quantidade de pessoas 
que apoiavam este tipo de punição era de 47%. Ao menos em relação ao 
tema pena de morte, parece que a visão da população brasileira parece 
estar indo de encontro com as ideias preconizadas por Cesare Beccaria, 
um grande iluminista italiano, contemporâneo de Tiradentes.
 Agora que você leu o texto acima, faça uma pesquisa e responda as 
seguintes perguntas:
 a) Com base em que legislação Tiradentes foi, no Século XVIII, condenado 
à pena de morte?
 b) A condenação e a pena aplicadas a Tiradentes foram influenciadas 
pelas ideias de Cesare Beccaria? Justifique.
ANTES DESTA AULA
 Acessar o ambiente virtual da disciplina no SAVA (no SIA, entrar em 
Sala de Aulas Virtuais e Minhas disciplinas presenciais), assistir à 
videoaula 4 e observar outras indicações de materiais para 
aprofundamento deste conteúdo. 
 Ler o livro texto - Livro didático de História do Direito Brasileiro, da 
Estácio, até a página 68.
Aula 4
O Brasil independente
Antecedentes
 Em 1815, com a chegada da Corte ao país, a 
importância do Brasil é reforçada com sua elevação à 
condição de Reino Unido de Portugal e Algarves. 
 Esse ato tornava clara a intenção da monarquia 
portuguesa, por razões econômicas e políticas, de dar 
continuidade ao projeto de permanência da Corte no 
Brasil, apesar de superada a crise em Portugal, com a 
expulsão dos franceses dos domínios territoriais 
metropolitanos.
Revolução liberal do Porto
 Pessoas simpáticas aos preceitos ideológicos liberais, membros da burguesia, 
clérigos católicos e militares promoveram a organização de um movimento 
revolucionário. Em 24 de agosto de 1820, aproveitando-se da ausência do 
Lorde Protetor britânico, os portugueses iniciaram um movimento 
revolucionário que tomou a cidade do Porto e, em poucas semanas, atingiu 
Lisboa, capital do país. A partir desse levante, uma nova junta governativa 
tomou o controle de Portugal.
 A mais importante medida tomada por esse governo provisório foi a 
convocação das Cortes, uma espécie de assembleia constituinte formada por 
representantes do povo, do clero e da nobreza. A missão fundamental das 
Cortes era promover o estabelecimento de uma nova carta constitucional que 
limitasse o poder de atuação da autoridade monárquica e atendesse os 
demais anseios da população portuguesa. Para que isso fosse possível, era 
necessário que o rei Dom João VI estivesse presente no país.
 No dia 26 de abril de 1821, a família real voltou para Lisboa. Contudo, temendo 
que fosse destituído de seu cargo, D. João VI teve a astúcia de deixar seu filho 
D. Pedro I no Brasil, sob a condição de príncipe regente.
 Em linhas gerais, as Cortes desejavam que o Brasil retornasse à condição de 
colônia.
Contexto
 Independência norte-americana– 1776 – CONSTITUIÇÃO AMERICANA - 1787
 Revolução Francesa – 1789. Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão (a Constituição francesa é posterior, 1849).
 LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE, DIREITO DE PROPRIEDADE
 Iluminismo – John Locke- direitos naturais do homem: VIDA – LIBERDADE –
PROPRIEDADE 
 Montesquieu – O espírito das leis – defende pontos fundamentais como o 
constitucionalismo, a preservação das liberdades civis, o Estado de Direito e a separação dos 
Poderes, entre outros.
Três formas de governo: monarquia, república, despotismo (o governo 
republicano é aquele no qual todo o povo, ou pelo menos uma parte dele, 
detêm o poder supremo; o monárquico é aquele em que governa uma só 
pessoa, de acordo com leis fixas e estabelecidas; no governo despótico, um 
só arrasta tudo e a todos com sua vontade e caprichos, sem leis ou freios).
 1820 – Revolução Liberal do Porto e retorno da corte para Portugal em 1821.
 D. Pedro é deixado no Brasil.
Projetos das elites
 Aristocratas (José Bonifácio): executivo forte, 
centralização do poder, projeto imperial (expansão 
para o interior).
 Democratas (Gonçalves Ledo): legislativo forte, 
descentralização do poder.
 Partido português: retorno do príncipe regente a 
Portugal, alinhado ao movimento da revolução do 
Porto, retorno do Brasil ao status de colônia.
Regência
 Do ponto de vista político e financeiro, o início da regência de D. Pedro foi 
bastante difícil: cofres públicos vazios, as províncias do Norte se recusaram 
a qualquer subordinação, tanto econômica, quanto política, ao Rio de 
Janeiro; as províncias do Sul, apesar de prestarem lealdade ao príncipe, se 
recusaram a prestar apoio financeiro – a posição de D. Pedro era de 
quase impotência e de dependência do Congresso de Lisboa. 
 Em junho de 1821, D. Pedro foi obrigado “pela tropa e pelo povo” a jurar a 
Constituição portuguesa chegada de Lisboa no final de maio, ao mesmo 
tempo que, ao longo de 1821, as diversas províncias brasileiras formaram 
governos provisórios ou juntas governativas eleitas e reconhecidas pelas 
Cortes de Lisboa, em oposição ao controle central do Rio de Janeiro.
 Diante de tais dificuldades, o príncipe regente teve que se aproximar dos 
setores mais conservadores da elite brasileira, os que haviam frequentado 
a Universidade de Coimbra e exercido funções na administração, 
compartilhando a ideia de um império luso-brasileiro. 
Diga ao povo que fico
 No início de dezembro de 1821, chegaram ao Rio os decretos de 29/09 
das Cortes que referendavam as juntas provinciais diretamente 
subordinadas a Lisboa e que exigiam o retorno imediato de D. Pedro a 
Portugal. 
 Entre voltar para Portugal e permanecer no Brasil para tentar erguer uma 
monarquia do tipo “ilustrado”, D. Pedro optou pela segunda via, opção 
que se confirmou com a proclamação do Fico, em 09/01/1822 – em 11/02, 
tropas portuguesas tentaram forçar o embarque de D. Pedro para Lisboa, 
sendo impedidos pela movimentação do povo e de soldados brasileiros. 
 Desse ponto em diante, as decisões tomadas em ambos os lados do 
Atlântico acabaram por aprofundar o crescente mal-entendido entre as 
partes, o que levaria à independência brasileira.
Independência do Brasil
 As Cortes passaram a fazer uma contundente pressão política exigindo 
que o príncipe regente voltasse imediatamente a Portugal.
 A tensão entre o projeto de recolonização das Cortes e os interesses 
econômicos das elites brasileiras teve importantes implicações históricas.
 Antes que Dom Pedro I voltasse a Portugal ou que uma revolta popular 
eclodisse no Brasil, os membros da nossa elite incitaram o regente a 
proclamar a independência. Dessa forma, o Estado português perdia seu 
mais rico território de exploração colonial e o Brasil conquistava sua 
autonomia política.
 Também contribuiu para a independência o desgastado modelo 
tradicional de colonialismo, baseado na agroexportação, no latifúndio, na 
mão de obra escrava e no fenômeno chamado de bacharelismo.
Independência do Brasil
 7 de setembro de 1822 –
Proclamada a Independência do 
Brasil.
 1824 – EUA reconhecem a 
Independência do Brasil.
 1825 – Inglaterra intermedia 
negociação para Portugal 
reconhecer a Independência doBrasil e empresta 2 milhões de 
libras esterlinas para o Brasil 
indenizar Portugal que, por sua 
vez, devia os mesmos 2 milhões 
para a Inglaterra.
Primeiro reinado (1822-1831)
 Foi marcado pela presença de um liberalismo iluminista (ou pelo menos de alguns de seus 
princípios), que convive com as práticas patrimoniais, corporativas e autoritárias das elites e pela 
presença marcante do trabalho escravo no cenário socioeconômico brasileiro.
 Se constituiu como uma etapa de consolidação da emancipação política brasileira, a qual não 
produziu grandes alterações na ordem social e econômica e na forma de governo.
 Ainda que a emancipação política, sob a forma de união em torno do Rio de Janeiro, não 
tenha produzido grandes mudanças na organização sócio-político-econômica brasileira, ela 
resultou de lutas e não de consenso.
 Nas lutas travadas pela consolidação da Independência, foram derrotados, nas províncias, os 
movimentos autonomistas e os que defendiam a permanência da união com Portugal. 
 A nova relação de dependência econômica que começou a se construir com as principais 
potências da época (especialmente com a Inglaterra), a partir da abertura dos portos 
brasileiros (1808) e que se consolidou com a emancipação política de 1822, não significou uma 
simples continuidade com o padrão colonial anterior, mas uma nova forma de inserção no 
sistema econômico internacional.
 Por outro lado, a Independência demandava a tarefa a construção de um Estado Nacional 
capaz de organizar o país e de garantir sua unidade, e para tal tarefa não havia um consenso 
das autoridades em torno das linhas básicas que deveriam marcar a organização do novo 
Estado.
Assembleia Constituinte de 1823
 Nos dois primeiros anos após a Independência, o debate político se configurou em torno 
da aprovação de uma Constituição, que deveria ser produzida e votada por uma 
Assembleia Constituinte que começou a se reunir no Rio de Janeiro em maio de 1823.
 Logo no início dos trabalhos da Assembleia Constituinte, começaram a surgir 
divergências entre os constituintes (na maioria, liberais moderados) e as tendências 
centralizadoras, autoritárias e absolutistas de D. Pedro I, apoiado a princípio por José 
Bonifácio.
 As desavenças entre o imperador e os constituintes se produziram em torno das 
atribuições do poder executivo (o imperador) e o legislativo – os constituintes não 
queriam que o imperador tivesse o poder de dissolver a Câmara dos Deputados, nem 
que pudesse negar a validade de qualquer lei aprovada pelo legislativo.
 Já o imperador e os círculos políticos que o apoiavam achavam que era necessário um 
executivo forte, capaz de conter as “tendências democráticas e desagregadoras”.
 Tais divergências levaram ao afastamento de José Bonifácio do ministério em julho de 
1823 , imprensado entre as críticas dos liberais e as insatisfações dos conservadores e 
posteriormente à dissolução da Assembleia Constituinte, com o apoio dos militares.
Discurso de D. Pedro I na Assembleia 
Constituinte de 1823
“A todo custo, e até arriscando a vida, se preciso for, desempenharei o título com que os
povos desse vasto e rico continente, em 3 de maio do ano pretérito, me honraram de
Defensor Perpétuo do Brasil. (...)
Como Imperador Constitucional, e mui especialmente como Defensor Perpétuo deste
Império, disse ao povo no dia 1º de dezembro do ano próximo passado, em que fui
coroado e sagrado, que com a minha espada defenderia a Pátria, a Nação e a
Constituição, se fosse digna do Brasil e de mim. Ratifico hoje mui solenemente perante vós
essa promessa, e espero que me ajudeis a desempenhá-la, fazendo uma Constituição
sábia, justa, adequada e executável, ditada pela razão, e não pelo capricho, que tenha
em vista somente a felicidade geral, que nunca será grande sem que esta Constituição
tenha bases sólidas, bases que a sabedoria dos séculos tenha mostrado, que são as
verdadeiras para darem uma justa liberdade aos povos, e toda a força necessária ao
Poder Executivo.
(...) Espero que a Constituição que façais mereça minha real aceitação.
Uma Constituição, em que os três poderes sejam bem divididos de forma que não possam
arrogar direitos que lhe não compitam, mas que sejam de tal modo organizados e
harmonizados, que se lhes torne impossível, ainda pelo decurso de tempo, fazerem-se
inimigos, e cada vez mais concorram de mãos dadas para a felicidade geral do Estado.”
Algumas reações ao discurso
 “O Imperador se constituiu ‘juiz em causa própria’ “ (Luiz Inácio de 
Andrade Lima)
 “Parece-me que o julgar se a Constituição, que se fizer, é digna do Brasil, 
só compete a nós como Representantes do Povo, e aos mais que ainda 
faltam de muitas Províncias” (José Custódio Dias)
Participação popular
 Quando o projeto da Constituição começou a ser discutido, as galerias 
ficaram lotadas, com populares acompanhando o posicionamento dos 
parlamentares a respeito dos direitos civis e suas opiniões sobre a maior ou 
menor extensão dos direitos políticos, com uma tendência clara para a não 
extensão desses direitos a todos os membros da sociedade.
 Havia a preocupação com as parcelas mestiças que podiam ser excluídas do 
processo político. Por sua vez, a participação política dos que fossem 
considerados cidadãos deveria ser graduada entre cidadãos “passivos” e 
“ativos” – para ser brasileiro, segundo o deputado Rocha Franco, não bastava 
apenas a naturalidade ou a naturalização, devendo-se somar a tais critérios, a 
residência no Brasil e a propriedade, o que significava dizer que a residência e 
a propriedade seriam os caracteres distintivos da cidadania.
 Quando se votou a proposição da extensão dos direitos de cidadãos aos 
LIBERTOS, ela foi rejeitada.
 Aos poucos, a Assembleia ia sendo pautada pelo cotidiano das ruas e pela 
intensa participação popular, até a sua dissolução.
Anteprojeto apresentado pela 
Constituinte
 Utilização de alguns princípios iluministas como a soberania e o liberalismo 
econômico.
 "Por soberania nacional entendemos a autoridade superior, que sintetiza, 
politicamente, e segundo os preceitos de direito, a energia coativa do 
agregado nacional." (Clóvis Beviláqua) - Estado não soberano ou semi-
soberano não é Estado. A soberania é uma autoridade superior que não pode 
ser limitada por nenhum outro poder. Não são soberanos os Estados membros 
de uma federação.
 Caráter anticolonialista expresso no xenofobismo contra os portugueses.
 Limitação do poder do monarca, para tanto a Câmara se tornaria indissolúvel 
e as Forças Armadas ficariam sob o comando do Legislativo.
 Eleições indiretas e o voto censitário baseado nos alqueires plantados de 
mandioca, o que garantiria à elite brasileira o domínio da vida política.
 O veto de D.Pedro I levou os constituintes ao episódio conhecido como Noite 
da Agonia.
Noite da Agonia
 O auge da crise ocorreu com a publicação, na ‘Sentinela’, de um texto assinado pelo 
"Brasileiro Resoluto" (pseudônimo de Francisco Antônio Soares) acusando dois oficiais lusos 
de traidores. Ofendidos, resolveram punir o autor do artigo. Na noite de 5 de novembro 
de 1823, mal informados, surraram a bengaladas o farmacêutico Daniel Pamplona Corte 
Real que nada tinha com o episódio. Pamplona, que não era brasileiro de nascimento, 
queixou-se à "soberana Assembleia" e o assunto foi discutido em plenário - onde Martim 
Francisco e Antônio Carlos, exaltados, bradavam por vingança, na sessão do dia 10 de 
novembro, com um significativo comparecimento da população.
 O tumulto resultou na suspensão da sessão. O ambiente na Assembleia era de 
insegurança, de temores e de suspeitas. As tropas começavam a mover-se e a 
população, preocupada, alarmava-se.
 Entre discursos e ânimos exaltados, nesta chamada "noite da agonia" da Assembleia - de 
11 para 12 de novembro -, os debatesforam bruscamente interrompidos pela entrada do 
brigadeiro José Manuel de Morais, portador de um decreto assinado por D. Pedro I que 
dizia: "Havendo eu convocado como tinha direito de convocar a Assembleia Geral no 
ano próximo passado (...) Hei por bem, como imperador e defensor perpétuo do Brasil, 
dissolver a mesma Assembleia e convocar uma outra (...) a qual deverá trabalhar sobre o 
projeto de Constituição que eu hei de em breve apresentar, que será duplicadamente 
mais liberal do que a extinta assembleia acaba de fazer".
Dissolução da Constituinte
 Com a dissolução da Assembleia Constituinte e a prisão de vários deputados, dentre eles 
os irmãos Andrada (José Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos), o imperador 
cuidou de criar uma comissão de “notáveis” que elaborassem um projeto de constituição 
que resultou na Constituição outorgada em 25 de março 1824.
 Apesar de OUTORGADA, essa constituição marcou o início da institucionalização da 
monarquia constitucional, configurando-se a partir daí os Poderes do Estado, as garantias 
de direitos e a contenção de abusos – a prática constitucional somente teria início em 
maio de 1826, quando se instalou o legislativo.
 A Constituição de 1824 não diferia muito da proposta dos constituintes de 1823 – a 
grande diferença é que ela foi imposta pelo imperador ao “povo”, ou seja àquela minoria 
de brancos e mestiços que tinham participação política. Mantém alguns princípios do 
antigo projeto, como a noção de soberania.
 Com relação ao alcance da Constituição de 1824, devemos destacar dois pontos 
essenciais: 
 Havia um contingente expressivo da população (os escravos) que estava excluído de 
seus dispositivos. Ainda que a Constituição representasse um avanço do ponto de vista 
da organização dos poderes, da definição de atribuições e de garantia dos direitos 
individuais, sua aplicação seria muito relativa, especialmente no campo dos direitos em 
um país onde a maioria da população livre dependia dos grandes proprietários rurais, 
onde só uma minoria (bem pequena) tinha alguma instrução e onde existia uma tradição 
autoritária. 
Constituição de 1824
 Após dissolver a Constituinte, convocada em 1823 (composta por 90 deputados representantes da 
aristocracia, grandes proprietários, membros da Igreja, bacharéis em leis), D. Pedro I outorga a 
Constituição em 25 de março de 1824.
 Marca o início da institucionalização da monarquia constitucional, adotando o princípio político da 
separação dos poderes e definindo a Assembleia Geral como um dos representantes da Nação 
brasileira.
 Essa constituição vigorou, com algumas modificações, até o final do período imperial e apresentou 
como principais características:
 Forma de governo: monarquia constitucional hereditária representativa (artigo 3º.). O império teria uma 
nobreza, mas não uma aristocracia, cujos títulos seriam concedidos pelo imperador, não sendo, 
todavia, hereditários.
 A religião católica continuou como religião oficial (o Estado Monárquico Brasileiro era CONFESSIONAL), 
permitindo-se o culto particular de outras religiões, sem que houvesse, todavia, “forma alguma exterior 
de templo” (artigo 5º.).
 O Poder Legislativo foi dividido em duas instâncias: a Câmara dos Deputados e o Senado – para a 
Câmara, a eleição era temporária, enquanto que, para o Senado, era vitalícia.
 Por outro lado, o imperador era irresponsável (não respondia pelos seus atos judicialmente).
 Foi uma das primeiras do mundo a incluir em seu texto (artigo 179) um rol de direitos e garantias 
individuais. Ainda que valha a pena ressaltar o simbolismo que representa o fato de estarem as 
disposições gerais e garantias dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros localizadas no último 
artigo da Constituição, o referido rol representa, mesmo que apenas no campo da mera 
normatividade, um grande avanço. Deve-se, então, ressaltar alguns dos seus dispositivos como 
inequívocos precursores de direitos e garantias de todas as nossas constituições, inclusive a atual.
Os direitos fundamentais e suas dimensões hoje
 1ª. Dimensão: chamados de direitos civis e políticos, englobam os direitos à vida, à liberdade, à 
propriedade, à igualdade formal. São direitos relacionados à questão do próprio indivíduo 
como tal (direitos à vida e à liberdade), ou seja, direitos que limitam a atuação do Estado na 
liberdade individual. Podem ser classificados como Direitos Civis e Políticos, mas também 
chamados de Direitos de Liberdade, sendo os primeiros a constarem no documento normativo 
Constitucional. O primeiro documento que traz a instituição desses direitos é a Magna Carta de 
1215, da Inglaterra, assinada pelo rei João Sem Terra.
 2ª. Dimensão: direitos econômicos, sociais e culturais com a finalidade de obrigar o Estado a 
satisfazer as necessidades da coletividade, compreendendo o direito ao trabalho, à habitação, 
à saúde, educação e inclusive o lazer. Surgiram no final do século XIX, impulsionados pela 
Revolução Industrial europeia.
 3ª. Dimensão: denominados de direitos de solidariedade ou de fraternidade, difusos ou 
transindividuais, foram desenvolvidos no século XX, compondo os direitos que pertencem a 
todos os indivíduos, constituindo um interesse difuso e comum, transcendendo a titularidade 
coletiva ou difusa, ou seja, tendem a proteger os grupos humanos. Referem-se aos direitos à 
paz, a uma qualidade de vida saudável, à proteção ao consumidor e à preservação do meio 
ambiente.
 4ª. Dimensão: introduzidos pela globalização política, é formada pelos direitos à democracia, à 
informação, ao pluralismo e de normatização do patrimônio genético (bioética, biodireito, 
pesquisa genética). Não é unânime a aceitação desta geração de direitos fundamentais. 
Dentre os que a defendem temos Pedro Lenza, Marcelo Novelino, Erival Oliveira e Norberto 
Bobbio.
Resumindo...
 Direitos de 1ª. Dimensão: surgiram primeiro, historicamente – direitos individuais, 
liberdades públicas. (LIBERDADE)
O Estado tem o dever principal de não fazer, não agir (direito à vida, às liberdade, 
à propriedade, etc.)
 Direitos de 2ª. Dimensão: direitos sociais. (IGUALDADE)
O Estado tem o dever de fazer, de agir (direito à saúde, à moradia, à educação, 
ao trabalho, etc.)
 Direitos de 3ª. Dimensão: direitos metaindividuais/transindividuais. 
(FRATERNIDADE)
Direitos difusos e coletivos (direito ao meio ambiente, direitos do consumidor, etc.)
 Direitos de 4ª. Dimensão: ainda controverso. Há duas posições:
1. Decorrentes da evolução da ciência (clonagem, manipulação genética, 
transgênicos, etc.)
2. Direitos ligados à democracia (possibilidade de plebiscito, referendo, etc.)
Direitos e garantias individuais na Constituição de 1824
 Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem 
por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela 
Constituição do Imperio, pela maneira seguinte.
I. Nenhum Cidadão póde ser obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma cousa, senão em 
virtude da Lei.
II. Nenhuma Lei será estabelecida sem utilidade publica.
III. A sua disposição não terá effeito retroactivo.
IV. Todos podem communicar os seus pensamentos, por palavras, escriptos, e publical-os
pela Imprensa, sem dependencia de censura; com tanto que hajam de responder pelos 
abusos, que commetterem no exercicio deste Direito, nos casos, e pela fórma, que a Lei 
determinar.
V. Ninguem póde ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado, e 
não offenda a Moral Publica.
VI. Qualquer póde conservar-se, ou sahir do Imperio, como Ihe convenha, levando comsigo
os seus bens, guardados os Regulamentos policiaes, e salvo o prejuizo de terceiro.
VII. Todo o Cidadão tem em sua casa um asylo inviolavel. De noite não se poderá entrar 
nella, senão por seu consentimento,ou para o defender de incendio, ou inundação; e de dia 
só será franqueada a sua entrada nos casos, e pela maneira, que a Lei determinar.
VIII. Ninguem poderá ser preso sem culpa formada, excepto nos casos declarados na Lei; e nestes dentro 
de vinte e quatro horas contadas da entrada na prisão, sendo em Cidades, Villas, ou outras Povoações 
proximas aos logares da residencia do Juiz; e nos logares remotos dentro de um prazo razoavel, que a Lei 
marcará, attenta a extensão do territorio, o Juiz por uma Nota, por elle assignada, fará constar ao Réo o 
motivo da prisão, os nomes do seu accusador, e os das testermunhas, havendo-as.
IX. Ainda com culpa formada, ninguem será conduzido á prisão, ou nella conservado estando já preso, se 
prestar fiança idonea, nos casos, que a Lei a admitte: e em geral nos crimes, que não tiverem maior pena, 
do que a de seis mezes de prisão, ou desterro para fóra da Comarca, poderá o Réo livrar-se solto.
X. A' excepção de flagrante delicto, a prisão não póde ser executada, senão por ordem escripta da 
Autoridade legitima. Se esta fôr arbitraria, o Juiz, que a deu, e quem a tiver requerido serão punidos com as 
penas, que a Lei determinar.
O que fica disposto acerca da prisão antes de culpa formada, não comprehende as Ordenanças Militares, 
estabelecidas como necessarias á disciplina, e recrutamento do Exercito; nem os casos, que não são 
puramente criminaes, e em que a Lei determina todavia a prisão de alguma pessoa, por desobedecer aos 
mandados da justiça, ou não cumprir alguma obrigação dentro do determinado prazo.
XI. Ninguem será sentenciado, senão pela Autoridade competente, por virtude de Lei anterior, e na fórma
por ella prescripta.
XII. Será mantida a independencia do Poder Judicial. Nenhuma Autoridade poderá avocar as Causas 
pendentes, sustal-as, ou fazer reviver os Processos findos.
XIII. A Lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, o recompensará em proporção dos 
merecimentos de cada um.
XIV. Todo o cidadão pode ser admittido aos Cargos Publicos Civis, Politicos, ou Militares, sem outra 
differença, que não seja dos seus talentos, e virtudes.
XV. Ninguem será exempto de contribuir pera as despezas do Estado em proporção dos seus haveres.
XVI. Ficam abolidos todos os Privilegios, que não forem essencial, e inteiramente ligados aos Cargos, por 
utilidade publica.
XVII. A' excepção das Causas, que por sua natureza pertencem a Juizos particulares, na conformidade das 
Leis, não haverá Foro privilegiado, nem Commissões especiaes nas Causas civeis, ou crimes.
XVIII. Organizar–se-ha quanto antes um Codigo Civil, e Criminal, fundado nas solidas bases da Justiça, e 
Equidade.
XIX. Desde já ficam abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente, e todas as mais penas crueis.
XX. Nenhuma pena passará da pessoa do delinquente. Por tanto não haverá em caso algum confiscação 
de bens, nem a infamia do Réo se transmittirá aos parentes em qualquer gráo, que seja.
XXI. As Cadêas serão seguras, limpas, o bem arejadas, havendo diversas casas para separação dos Réos, 
conforme suas circumstancias, e natureza dos seus crimes.
XXII. E'garantido o Direito de Propriedade em toda a sua plenitude. Se o bem publico legalmente verificado 
exigir o uso, e emprego da Propriedade do Cidadão, será elle préviamente indemnisado do valor della. A 
Lei marcará os casos, em que terá logar esta unica excepção, e dará as regras para se determinar a 
indemnisação.
XXIII. Tambem fica garantida a Divida Publica.
XXIV. Nenhum genero de trabalho, de cultura, industria, ou commercio póde ser prohibido, uma vez que 
não se opponha aos costumes publicos, á segurança, e saude dos Cidadãos.
XXV. Ficam abolidas as Corporações de Officios, seus Juizes, Escrivães, e Mestres.
XXVI. Os inventores terão a propriedade das suas descobertas, ou das suas producções. A Lei lhes 
assegurará um privilegio exclusivo temporario, ou lhes remunerará em resarcimento da perda, que hajam 
de soffrer pela vulgarisação.
XXVII. O Segredo das Cartas é inviolavel. A Administração do Correio fica rigorosamente responsavel por 
qualquer infracção deste Artigo.
XXVIII. Ficam garantidas as recompensas conferidas pelos serviços feitos ao Estado, quer Civis, quer Militares; 
assim como o direito adquirido a ellas na fórma das Leis.
XXIX. Os Empregados Publicos são strictamente responsaveis pelos abusos, e omissões praticadas no 
exercicio das suas funcções, e por não fazerem effectivamente responsaveis aos seus subalternos.
XXX. Todo o Cidadão poderá apresentar por escripto ao Poder Legislativo, e ao Executivo reclamações, 
queixas, ou petições, e até expôr qualquer infracção da Constituição, requerendo perante a competente 
Auctoridade a effectiva responsabilidade dos infractores.
XXXI. A Constituição tambem garante os soccorros publicos.
XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos.
XXXIII. Collegios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das Sciencias, Bellas Letras, e Artes.
XXXIV. Os Poderes Constitucionaes não podem suspender a Constituição, no que diz respeito aos direitos 
individuaes, salvo nos casos, e circumstancias especificadas no paragrapho seguinte.
XXXV. Nos casos de rebellião, ou invasão de inimigos, pedindo a segurança do Estado, que se dispensem 
por tempo determinado algumas das formalidades, que garantem a liberdede individual, poder-se-ha fazer 
por acto especial do Poder Legislativo. Não se achando porém a esse tempo reunida a Assembléa, e 
correndo a Patria perigo imminente, poderá o Governo exercer esta mesma providencia, como medida 
provisoria, e indispensavel, suspendendo-a immediatamente que cesse a necessidade urgente, que a 
motivou; devendo num, e outro caso remetter á Assembléa, logo que reunida fôr, uma relação motivada 
das prisões, e d'outras medidas de prevenção tomadas; e quaesquer Autoridades, que tiverem mandado 
proceder a ellas, serão responsaveis pelos abusos, que tiverem praticado a esse respeito.
Voto censitário e descoberto
 O voto era INDIRETO, DESCOBERTO (não-secreto) e CENSITÁRIO –
INDIRETO (até a reforma de 1881) porque os votantes (que 
corresponderiam à massa atual de eleitores organizados pelas 
paróquias) votavam em um CORPO ELEITORAL, em ELEIÇÕES 
PRIMÁRIAS, o qual elegia os deputados, e CENSITÁRIO porque, 
para ser votante primário, fazer parte do CORPO ELEITORAL 
(COLÉGIO ELEITORAL), ser deputado ou ser senador, o indivíduo 
deveria atender a alguns requisitos, dentre os quais (e 
principalmente) de NATUREZA ECONÔMICA (artigo 90º.).
 Para votar, a pessoa precisava ter renda anual de, pelo menos, 
100 mil réis. Para ser candidato a deputado, a renda anual deveria 
ser de 400 mil réis, para senador a renda deveria ser maior: 800 mil 
réis. Só os ricos podiam votar e ser eleitos (artigos 90º. a 97º.). A 
renda era calculada ao equivalente em alqueires de farinha de 
mandioca (“Constituição da mandioca”).
 Eleitores: cidadãos brasileiros em seu gozo dos seus direitos políticos 
e estrangeiros naturalizados, maiores de 25 anos.
Poderes na Constituição de 1824
Poderes constitucionais
 Poder executivo e poder moderador: exercidos pelo imperador.
 Poder moderador (art. 98º. – 101º.) – ‘suprapoder’, apenas exercido 
pelo imperador assessorado pelo Conselho de Estado. Podia 
dissolver a Câmara dos Deputados, demitir livremente os ministros, 
suspender magistrados.
 Poder legislativo: Assembleia Geral (Câmara dos Deputados e 
Senado).
 Poder judiciário (art. 151º. – 164º.): Supremo Tribunal de Justiça, 
magistrados escolhidos pelo imperador (pela Constituição de 1988, 
art. 101º., os ministros do Supremo Tribunal Federal são indicados e 
nomeados pelo presidente da República, após sabatina no 
Senado).
Poder moderador
 A partir de uma teoria política idealizada pelo pensador franco-suíço Henri-
Benjamin Constantde Rebeque* (1767 – 1830), se imaginou um quarto poder 
ao lado dos demais (executivo, legislativo e judiciário), que teria a função 
sistêmica de equilibrar os demais.
 Segundo a concepção de Constant de Rebeque, a função natural do poder 
real em uma monarquia constitucional seria a de um mediador neutro, capaz 
de resolver os conflitos entre os três poderes instituídos e também entre as 
facções políticas. Os únicos países a aplicarem essa teoria foram o Brasil, entre 
1824 e 1889, e Portugal, entre 1826 e 1910.
 Na prática, a aplicação da teoria de Constant provou ser uma verdadeira 
anomalia, com apelo somente ao monarca, que via em seu mecanismo um 
meio de intervir pessoalmente nas decisões dos três poderes básicos definidos 
desde a época de Montesquieu e sua teoria da separação de poderes de 
1748.
*Não confundir com Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1836-1891), militar, 
professor e um dos articuladores do levante republicano de 1889.
Superpoderes
 O imperador nomeava os membros vitalícios do Conselho de Estado, os 
presidentes das províncias, as autoridades eclesiásticas (padres, bispos) da 
Igreja Católica (padroado).
 Nomeava e suspendia os magistrados do poder judiciário, assim como 
nomeava e destituía os ministros do poder executivo.
 Aprovava ou não as decisões da Assembleia Geral, além de convocar ou 
dissolver a Câmara dos Deputados.
 O imperador concentrava um poder sem paralelo, demonstrando um caráter 
centralizador e autoritário da organização política. Tal situação dividia a 
sociedade imperial. O protesto mais violento ocorreu em Pernambuco, no 
episódio conhecido como Confederação do Equador, em 1824 (movimento 
antimonarquista, originou-se nas constantes crises da economia regional e as 
cargas tributárias impostas pelo governo. Iniciou com a ação de lideranças e 
populares pernambucanos, logo tomou corpo e conseguiu a adesão de outros 
estados do nordeste: Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba).
Dezesseis envolvidos na 
Confederação do Equador 
foram acusados e 
executados pelas 
instituições judiciárias do 
Império. Entre eles, Frei 
Caneca teve como pena a 
morte por fuzilamento.
Poder judicial
 Diferentemente de outras Constituições da época, a atividade jurisdicional no império 
era também exercida pelo poder moderador, que a si resguardava não só as 
competências para perdoar e moderar as penas, como também as de suspender os 
magistrados do exercício de suas funções. Organização:
 PRIMEIRA INSTÂNCIA
 Juízes de Paz – para conciliação prévia das contendas cíveis e, pela Lei de 15 de outubro 
de 1827, para instrução inicial das causas criminais, sendo eleitos em cada distrito. 
 Juízes de Direito – para julgamento das contendas cíveis e criminais, sendo nomeados 
pelo Imperador. 
 SEGUNDA INSTÂNCIA
 Tribunais de Relação (Provinciais) - Para julgamento dos recursos das sentenças (revisão 
das decisões).
 TERCEIRA INSTÂNCIA 
 Supremo Tribunal de Justiça - Para revista de determinadas causas e solução dos conflitos 
de jurisdição entre Relações Provinciais (O Supremo Tribunal de Justiça foi efetivamente 
criado pela Lei de 18 de setembro de 1828, compondo-se de 17 Ministros - ao mesmo 
tempo em que foi extinta a Casa da Suplicação, o Desembargo do Paço e a Mesa da 
Consciência e Ordens). 
“
”
O sistema judicial colonial foi um dos alvos da luta independentista. A justiça era
considerada anacrônica e distanciada do povo. Contudo, alcançada a emancipação, a 
despeito de um breve período de práticas liberais, assim na política como na área judicial, o 
sistema que foi construído manteve o perfil elitista e centralizador. Por essa época, havia 
muitas contradições na sociedade brasileira. Ao mesmo tempo em que eram defendidas 
ideias liberais na economia e na luta contra o colonialismo, pouco se avançava no âmbito 
social. Pesava o medo da Revolução Francesa. Rousseau era proibido. A sociedade se 
compunha de uma elite culta, de proprietários e altos servidores do Estado, de um lado, e 
escravos, libertos e pobres, de outro. A elite era altamente educada, tanto que mais de 80% 
dos ministros e dos senadores do período 1822-1831 possuía curso superior. No entanto, um 
recenseamento de 1872 indicou que apenas 18% da população era alfabetizada; 
obviamente, na década de 20 a situação era muito pior. 
WILSON CARLOS RODYCZ 
(<https://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/memorial_judiciario_gauc
ho/revista_justica_e_historia/issn_1676-5834/v3n5/doc/02-Wilson_Rodycz.pdf>).
Após a Independência, uma lei de 15 de outubro de 1827 operou profunda 
modificação na estrutura judicial vigente. Essa lei regulamentou a função do 
Juiz de Paz, de provimento eletivo, com ampla competência jurisdicional, 
trilhando o caminho da descentralização e da submissão da nação aos 
cidadãos.
Lei dos juízes de paz
 Em cada freguesia ou paróquia devia haver um Juiz de Paz e um suplente. Eram eleitos 
ao mesmo tempo e maneira por que se elegiam os vereadores. Não se admitia recusa, a 
não ser por motivo de moléstia ou emprego cujo exercício conjunto fosse impossível. 
Tinham competência para promover a conciliação das partes e para julgar certas 
demandas, tendo ainda atribuições policiais.
 Ao Juiz de Paz competia conciliar as partes antes da demanda, processar e julgar as 
causas cíveis cujo valor não excedesse a dezesseis mil réis; manter a ordem nos 
ajuntamentos (reuniões públicas), dissolvendo-os no caso de desordem; pôr em custódia 
os bêbados durante a bebedice; corrigi-los por vício e turbulência e as prostitutas 
escandalosas, obrigando-os a assinar termo de bem viver, com a cominação de penas; 
fazer destruir os quilombos; fazer autos de corpo de delito; interrogar os delinquentes, 
prendê-los e remetê-los ao juiz competente; ter uma relação dos criminosos para fazer 
prendê-los; fazer observar as posturas policiais das câmaras; informar o juiz de órfãos 
sobre incapazes desamparados e acautelar suas pessoas e bens, enquanto aquele não 
providenciasse; vigiar sobre a conservação das matas públicas e obstar nas particulares 
ao corte de madeiras reservadas por lei; participar ao presidente da província quaisquer 
descobertas úteis que se fizessem no seu distrito (minas); procurar a composição das 
contendas e dúvidas sobre caminhos particulares, atravessadouros e passagens de rios 
ou ribeiros, sobre uso das águas empregadas na agricultura ou na mineração, dos pastos, 
pescas e caçadas, sobre limites, tapagens e cercados das fazendas e campos, e os 
danos feitos por familiares ou escravos; dividir o distrito em quarteirões.
Magistrado leigo
 A criação do juiz de paz, em 1827, foi a primeira grande reforma que 
sofreu o sistema judicial brasileiro, sinalizando os propósitos do Partido 
Liberal, então aspirante ao poder. O juiz de paz foi concebido como um 
magistrado leigo, sem treinamento e não remunerado, sobretudo para 
conciliar os litigantes potenciais e jurisdicionar nas vilas e nas causas de 
pequena importância. 
 De fato, entretanto, significava muito mais. Representava a concretização 
da autonomia e da descentralização administrativa então defendida por 
aquele partido. A instituição do juiz de paz tornou-se o símbolo da luta 
contra a herança colonial e foi o núcleo de intensa polêmica jurídica-
política que dominou o cenário no nascedouro do Estado brasileiro. Seus 
adversários viam nele o germe da erosão da autoridade central e uma 
ameaça ao controle social; seus defensores, a descentralização e a 
democratização da justiça.
O juiz de paz na roça (1838)
Peça teatral de Martins Pena (1815-1848)
ESCRIVÃO - (LENDO: ) Diz Francisco Antônio, 
natural de Portugal, porém brasileiro que tendo 
êle casado com Rosa de Jesus, trouxe esta por 
dote uma égua. "Ora, acontecendo ter aégua de minha mulher um filho, o meu vizinho 
José da Silva diz que é dêle, só porque o dito 
filho da égua de minha mulher saiu malhado 
como o seu cavalo. Ora, como filhos 
pertencem às mães e a prova disto é que a 
minha escrava Maria tem um filho que é meu, 
peço a V.S.a mande o dito meu vizinho 
entregar-me o filho da égua que é de minha 
mulher".
JUIZ - É verdade que o senhor tem o filho da 
égua prêso?
JOSÉ D/SILVA - É verdade; porém o filho me 
pertence. Pois é meu, que é do cavalo.
JUIZ - Terá a bondade de entregar o filho a seu 
dono, pois é aqui da mulher do senhor.
JOSÉ D/SILVA - Mas, Sr. Juiz...
JUIZ - Nem mais nem meios mais, entregue o 
filho, senão, cadeia.
JOSÉ D/SILVA - Eu vou queixar-me ao 
Presidente.
JUIZ - Pois vá , que eu tomarei a apelação.
JOSÉ D/SILVA - E eu embargo.
JUIZ - Embargue ou não embargue, embargue 
com trezentos mil diabos, que eu não 
concederei revista no auto do processo!
JOSÉ D/SILVA - Eu lhe mostrarei, deixe estar.
JUIZ - Sr. Escrivão, não dê anistia a êste rebelde, 
e mande-o agarrar para soldado.
JOSÉ D/SILVA - (COM HUMILDADE) Vossa 
senhoria não se arrenegue! Eu entregarei o 
pequira.
JUIZ - Pois bem, retirem-se; estão conciliados. 
(SAEM OS DOIS) Não há mais ninguém?
Bom, está feichada a sessão. Hoje cansaram-
se!
Criação dos cursos jurídicos
 Lei de 11 de agosto de 1827 – cria dois cursos de Ciências Jurídicas e Sociais, um na 
cidade de São Paulo e outro em Olinda (transferido para Recife em 1854).
 Para Wolkmer, “as escolas de Direito foram destinadas a assumir duas funções 
específicas: primeiro, ser polo de sistematização e irradiação do liberalismo enquanto 
nova ideologia político-jurídica capaz de defender e integrar a sociedade; segundo, dar 
efetivação institucional ao liberalismo no contexto formador de um quadro administrativo 
profissional.”
 “A Faculdade de Direito pernambucana expressaria tendência para a erudição, a 
ilustração e o acolhimento de influências estrangeiras vinculadas ao ideário liberal”. 
 “O intento do Grupo do Recife foi tratar o fenômeno jurídico a partir de uma pluralidade 
temática, reforçada por leituras naturalistas, biologistas, cientificistas, históricas e 
sociológicas, apoiando-se fortemente num somatório de tendências que resultavam 
basicamente no Evolucionismo e no monismo, sem desconsiderar a crítica sistemática a 
certas formulações jusnaturalistas e espiritualistas.”
 “Já a Academia de São Paulo, cenário privilegiado do bacharelismo liberal e da 
oligarquia agrária paulista, trilhou na direção da reflexão e da militância política, no 
jornalismo e na ‘ilustração’ artística e literária. Aliás, foi o intenso periodismo acadêmico o 
traço maior que predominou na tradição do Largo de São Francisco, levando os 
bacharéis ao desencadeamento de lutas em prol de direitos individuais e liberdades 
públicas.”
O bacharelismo brasileiro
 A criação dos cursos jurídicos brasileiros se dá em 1827, com o 
objetivo explícito de formar quadros de recursos humanos para a 
administração pública e para a atividade política no período 
imperial, ou seja, tinha o condão de formação de uma elite 
intelectual, cultural e burocrática capaz de exercer atividades 
inerentes a essa formação.
 Formavam-se então bacharéis aptos a serem Deputados e 
Senadores, além de essa formação atender à ocupação de 
lugares diplomáticos e demais empregos do Estado.
 Essa tradição de formação de uma elite cultural e burocrática é 
advinda da antiga metrópole de então, pois que os cursos jurídicos 
tinham o objetivo de uma formação baseada em conhecimentos 
universais, humanísticos e filosóficos.
“
”
O bacharelismo é, em geral, descrito como o 
fenômeno social caracterizado pela 
predominância do bacharel na vida social do 
país, ocupando ele posição proeminente na 
atividade política e exercendo funções alheias 
às sua especialidade ou formação, à falta de 
profissionais qualificados para exercê-las.
MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa. Do bacharelismo à bacharelice: reflexos desses fenômenos nos cursos jurídicos, ao 
longo do tempo. In: ENSINO Jurídico: literatura e ética. Brasília: OAB, 2009.
“Na vida pública, o prestígio do bacharel só era contrastado, nas 
comunidades do interior do país, pelo coronel, protagonista de fenômeno 
semelhante em termos de influência política, que foi o coronelismo.”
Algumas outras legislações
 1826 – Inglaterra exige renovação dos tratados de redução da 
tarifa alfandegária (15% para produtos ingleses).
 1826 – Renovado por mais 15 anos o Tratado de Aliança e Amizade 
com a Inglaterra, com meta de extinção do tráfico negreiro até 
1830.
Direito penal 
 Artigo 179º. da Constituição de 1824 abole açoites, tortura, marca de ferro 
quente, penas cruéis em geral. 
 1830 – Entra em vigor o primeiro Código Criminal brasileiro. Representou uma 
novidade, precedendo, em algumas das suas disposições, códigos europeus. 
Seu texto considerado conciso, e elogiado por isso, foi inclusive traduzido para 
o francês, demonstrando a sua importância para inúmeros juristas daqueles 
tempos. 
 Influenciado pelas ideias de Cesare Beccaria (1738-1794), pensador iluminista 
italiano que, aos 23 anos, escreve a obra-prima Dos Delitos e Das Penas (1764). 
 Exigia a legalidade e a anterioridade como princípios da tipificação penal e a 
‘humanização’ das penas, embora ainda permitisse: trabalhos forçados, prisão 
perpétua, pena de morte em certos casos. 
 PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL EM MATÉRIA PENAL - ART. 1º 
 nullum crimen nulla poena sine lege scripta et praevia (ninguém será punido 
sem que haja uma lei prévia, escrita, estrita e certa) 
Código Criminal (1830) 
 Maior incoerência: Inviolabilidade dos direitos civis, igualdade jurídica em uma 
sociedade escravista. 
 Não prevê crime culposo (conduta voluntária, sem intenção de produzir 
resultado ilícito, porém, previsível, que poderia ser evitado; resultado de 
negligência, imperícia ou imprudência). Só há dolo – em que o agente prevê o 
resultado lesivo de sua conduta (art. 2º. § 1º., reforçado no art. 3º.). 
 Estabelecia três tipos de crimes: 
1)os públicos, entendidos como aqueles contra a ordem política instituída, o 
império e o imperador - dependendo da abrangência seriam chamados de 
revoltas, rebeliões ou insurreições; 
2)os crimes particulares, praticados contra a propriedade ou contra o indivíduo; 
3)os policiais contra a civilidade e os bons costumes. Nesses últimos incluíam-se 
os vadios, os capoeiras, as sociedades secretas e a prostituição. O crime de 
imprensa era também considerado policial. 
 Em todos esses casos, o governo imperial poderia agir aplicando as penas que 
constavam no Código - como prisão perpétua ou temporária, com ou sem 
trabalhos forçados, banimento ou condenação à morte. 
Código Criminal de 1830 - penas 
 Proporcionalidade entre o crime e a pena. 
 Pena exclusiva do condenado. 
 Humanização da pena de morte (sem tortura). 
 Proibição das penas cruéis. 
 Persistência das penas de degredo, banimento, galés, 
multas, privação dos direitos políticos, desterro (exílio). 
 Art. 19 – Influirá também no agravamento ou atenuação da 
pena a sensibilidade do ofendido (status social). 
 Maioridade penal: 14 anos (pelas Ordenações Filipinas: 7 
anos, sem pena de morte).
 Código liberal X aplicação conservadora
Vigiar e punir - cap. 1: O corpo dos 
condenados (Michel Foucault) 
 Desaparece, destarte, em princípios do século XIX, o grande espetáculo da punição 
física: o corpo supliciado é escamoteado; exclui-se do castigo a encenação da dor. 
Penetramos na época da sobriedade punitiva. Podemos considerar o desaparecimento 
dos suplícios como um objetivo mais ou menos alcançado, no período compreendido 
entre 1830 e 1848. 
 Oafrouxamento da severidade penal no decorrer dos últimos séculos é um fenômeno 
bem conhecido dos historiadores do direito. Entretanto, foi visto, durante muito tempo, de 
forma geral, como se fosse fenômeno quantitativo: menos sofrimento, mais suavidade, 
mais respeito e “humanidade”. Na verdade, tais modificações se fazem concomitantes 
ao deslocamento do objeto da ação punitiva. Redução de intensidade? Talvez. 
Mudança de objetivo, certamente. 
 Se não é mais ao corpo que se dirige a punição, em suas formas mais duras, sobre o que, 
então, se exerce? (...) Pois não é mais o corpo, é a alma. À expiação que tripudia sobre o 
corpo deve suceder um castigo que atue, profundamente, sobre o coração, o intelecto, 
a vontade, as disposições. Mably formulou o princípio decisivo: “Que o castigo, se assim 
posso exprimir, fira mais a alma do que o corpo”. 
Aplicação: articulação teoria e prática
 Sabe-se que a Constituição Imperial foi a única da história do Brasil que 
adotou a "divisão" do poder por quatro Poderes. Porém, em 
mensagem transmitida na abertura do ano judiciário de 2018, a 
ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, afirmou que o Poder 
Judiciário precisa ser um poder suficientemente forte para enfrentar 
constantemente as pressões de toda ordem, além de poder fazer face 
a uma das suas principais características, que é a de um poder 
moderador ? isto é, capaz de efetivar o seu controle externo sobre os 
atos dos demais poderes públicos, quando for necessário.
 Pergunta-se:
 a) O que caracterizou o chamado Poder Moderador no âmbito do 
Primeiro Império?
 b) Relacione a fala da Ministra com a crítica de que a atuação do 
Poder Judiciário como um poder moderador acaba desaguando em 
uma judicialização da política.
PARA A PRÓXIMA AULA
 Acessar o ambiente virtual da disciplina no SAVA (no SIA, entrar em 
Sala de Aulas Virtuais e Minhas disciplinas presenciais), assistir à 
videoaula 5 e observar outras indicações de materiais para 
aprofundamento deste conteúdo. 
 Ler o livro texto - Livro didático de História do Direito Brasileiro, da 
Estácio, até a página 76.
 Ler o artigo A teoria do poder moderador de Benjamin Constant e a 
experiência constitucional brasileira no século XIX, de Bonifácio José 
Suppes de Andrada, disponível em: https://www.diritto.it/a-teoria-do-
poder-moderador-de-benjamin-constant-e-a-experiencia-constitucional-
brasileira-no-seculo-xix/
 Para saber mais sobre a maioridade penal nas legislações brasileiras: 
Conceito e evolução histórica da maioridade penal no Brasil, de Silvia 
Rabello Neves Oliveira, disponível em: 
https://silviarabello.jusbrasil.com.br/artigos/344812010/conceito-e-
evolucao-historica-da-maioridade-penal-no-brasil

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