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Direito das Sucessões: Sucessão em Geral

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DIREITO DAS SUCESSÕES
■ 40. SUCESSÃO EM GERAL
De forma ampla, sucessão representa a continuação de uma relação jurídica em outro sujeito, implicando a ideia de transmissão de direitos e deveres. A sucessão pode dar-se inter vivos, quando se opera durante a vida dos sujeitos envolvidos, ou causa mortis, em razão da transmissão hereditária do patrimônio do de cujus. 
O direito das sucessões é o ramo do direito civil que disciplina especificamente a sucessão decorrente do falecimento da pessoa.
Com a morte do sujeito, ocorre a imediata transferência de seu patrimônio aos herdeiros que, em conjunto, exercem a titularidade da herança até que se ultime a partilha. O princípio da saisine representa, no direito brasileiro, a ficção de transferência direta e imediata, independentemente de formalidades, da propriedade e da posse da herança aos herdeiros, com a abertura da sucessão (art. 1.784 do CC). A legislação aplicável à sucessão é a vigente ao tempo da respectiva abertura (art. 1.787). O testamento é regido pela lei vigente ao tempo de sua elaboração.
Para estar apto a suceder, o sucessor deve sobreviver ao autor da herança. Dessa forma, em caso de comoriência, assunto detalhado no estudo da parte geral, não ocorre sucessão entre os comorientes, ante a presunção de morte simultânea.
Quanto às suas espécies, a sucessão divide-se em:
■ Sucessão legítima (ab intestato): deferida em virtude da lei, na ausência de testamento válido ou em caso de bens não contemplados em testamento.
■ Sucessão testamentária: por disposição de última vontade (testamento).
■ Sucessão a título universal: o(s) herdeiro(s) sucede(m) na totalidade ou partes ideais da herança.
■ Sucessão a título singular: o beneficiário recebe bem certo e determinado, o legado.
A sucessão legítima sempre se dá a título universal. A sucessão testamentária pode se dar a título universal ou singular.
 
A herança é constituída pela universalidade ou totalidade do patrimônio do de cujus, ao passo que o legado refere-se a bens certos e determinados, integrantes da herança, deferidos a sucessor por pela via testamentária. Os herdeiros sucedem a título universal, podendo ser legítimos (indicados por lei) ou testamentários (contemplados em testamento, também conhecidos como instituídos). Legatários são sucessores a título singular, sendo contemplados com legados no testamento.
Herdeiro único ou universal é aquele que recebe a totalidade da herança, por ato de adjudicação.
Herdeiros necessários, legitimários ou reservatários são aqueles que, em virtude do vínculo familiar, recebem especial proteção pela lei, não podendo ser excluídos da sucessão pela vontade do de cujus. São, nos termos do art. 1.845, os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. Ante a sua existência, o autor da herança apenas poderá dispor pela via testamentária de metade da herança, sendo a metade resguardada de pleno direito aos herdeiros necessários constitui a legítima (art. 1.789).
Nem todo herdeiro legítimo é herdeiro necessário. Os colaterais são herdeiros legítimos mas não necessários.
O local de abertura da sucessão é o último domicílio do autor da herança (art. 1.785), onde em regra deverá ser processado o inventário (art. 48, NCPC). O inventário deve ser instaurado no prazo de 2 meses da abertura da sucessão, (art. 610, NCPC). Até a nomeação e compromisso do inventariante, os bens permanecerão sob a posse administrador provisório, conforme a ordem do art. 1.797 (art. 613, NCPC). O juízo do inventário é universal.
■ 40.1. Herança
A herança compõe-se de um todo unitário e indivisível, de titularidade dos herdeiros em condomínio, até o momento da partilha. É considerada imóvel, para efeitos legais (art. 80, III, CC). A transmissão patrimonial, que envolve ativo e passivo, opera-se nos limites das forças da herança (art. 1.792).
Qualquer disposição sobre direitos sucessórios, antes da abertura da sucessão, é eivada de nulidade. Pendente a indivisibilidade, o herdeiro apenas pode ceder seu quinhão hereditário ou o direito à sucessão aberta, em caráter aleatório, por meio de escritura pública, sendo ineficaz a alienação de bens singularmente considerados pertencentes ao acervo. Na cessão por um herdeiro, têm preferência na aquisição os demais coerdeiros. Em caso de preterimento, pode o herdeiro fazer valer seu direito por meio de ação de preempção, no prazo de 180 dias da transmissão, mediante depósito judicial do preço.
■ 40.2. Vocação hereditária 1784 a 1813
A vocação hereditária denota a legitimação para invocar a titularidade da herança, indicando os sujeitos aptos a suceder. Como regra, abrange pessoas naturais, já nascidas ou concebidas ao tempo da abertura da sucessão, de onde se extrai a legitimidade sucessória do nascituro, consolidando-se a aquisição no momento do nascimento com vida.
As pessoas jurídicas, já constituídas ou por constituir, no caso de fundações com instituição post mortem, podem ser contempladas via sucessão testamentária. Pela mesma via, admite-se ainda seja contemplada a prole ainda não concebida de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão (art. 1.799). Neste último caso, estabelece o legislador o prazo de 2 anos, contados da abertura da sucessão, para que ocorra a concepção, sob pena de os bens reservados serem distribuídos entre os herdeiros legítimos. Os bens correspondentes à quota dos filhos eventuais serão reservados sob a guarda de curador nomeado pelo juiz, aplicando-se as disposições concernentes à curatela dos incapazes.
Há falta de legitimação para suceder, vedando-se a nomeação como herdeiros testamentários ou legatários, sob pena de nulidade (art. 1.801): I – da pessoa que escreveu o testamento a rogo do autor da herança, cônjuge, companheiro, ascendentes ou irmãos da mesma; II – das testemunhas do testamento; III – do concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de 5 anos; IV – do tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento. A nulidade se estende às disposições simuladas sob a forma de contrato oneroso, bem como aquelas feitas mediante interposta pessoa, como se presume expressamente nos casos de ascendentes, descendentes, irmãos e cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder (art. 1.802). É permitida, contudo, deixa ao filho do concubino, quando descendente comum com o testador.
■ 40.3. Aceitação e renúncia da herança
De acordo com o princípio da saisine a transferência da herança ocorre automaticamente com o falecimento do de cujus. Em momento posterior, contudo, dá-se ao herdeiro a possibilidade de aceitar ou recusar a herança, de maneira irrevogável (art. 1.812), confirmando ou repudiando a transferência anteriormente realizada.
Aceitação ou adição da herança é o ato de vontade pela qual o beneficiário manifesta anuência em receber a herança, tornando definitiva a transmissão (art. 1.804). A aceitação pode ser (arts. 1.805 e 1.807):
 
Não se admite aceitação parcial, condicional ou a termo, devendo a aceitação ser pura e simples. Excepcionalmente, quando o sujeito sucede a dois títulos diversos (p. ex., a título universal e a título singular; como herdeiro testamentário e herdeiro legítimo), pode ele aceitar ou renunciar à herança recebida a cada um título de forma independente. Em caso de falecimento do herdeiro antes da declaração do aceite, a faculdade passa aos seus herdeiros (art. 1.809), os quais poderão aceitar ou renunciar a primeira herança, separadamente, tendo concordado em receber a segunda.
A renúncia constitui ato formal ou solene (por instrumento público ou termo judicial) pelo qual o herdeiro declara não aceitar a herança para a qual fora chamado a suceder. Deve ser, tal como a aceitação, pura e simples, não se admitindo seja manifestada de forma parcial, condicional ou a termo. O Código Civil de 2002 não contempla a possibilidade de manifestação de renúncia translativa ou em favor de determinada pessoa.A renúncia só se admite na forma abdicativa ou em favor do monte mor (art. 1.805, § 2º). Tendo o herdeiro renunciado, seus sucessores não receberão sua quota por representação (arts. 1.810 e 1.811).
Por fim, quando a renúncia por um herdeiro importar prejuízo a seus credores, prevê o art. 1.813, a possibilidade de estes aceitarem em nome do renunciante, mediante autorização judicial nos próprios autos do inventário, desde que se habilitem no prazo de 30 dias do conhecimento do fato.
■ 40.4. Excluídos da sucessão
A exclusão da sucessão ou exclusão por indignidade constitui penalidade aplicada a sucessores, legítimos ou testamentários, que tenham praticado atos de ingratidão contra o de cujus, previstos entre as hipóteses legais (art. 1.814). Constituem hipóteses taxativas de exclusão da sucessão: I – autoria ou participação em homicídio doloso, consumado ou tentado, contra o hereditando, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; II – acusação caluniosa do de cujus em juízo (crime contra a administração da justiça) e crimes contra sua honra, de seu cônjuge ou companheiro; III – prática de atentado contra a liberdade de testar do hereditando.
A exclusão não opera de pleno direito, dependendo do trânsito em julgado de sentença proferida em ação declaratória intentada com a finalidade de se reconhecer a ocorrência de hipótese de indignidade (art. 1.815). A ação poderá ser proposta por qualquer interessado, isto é, favorecidos com a exclusão, no prazo de 4 anos, contados da abertura da sucessão. Os efeitos da exclusão são pessoais, atingindo apenas o indigno, havendo direito de representação para seus sucessores, como se morto fosse aquele ao tempo da abertura da sucessão (art. 1.816). Veda-se o benefício indireto para o indigno, na forma de direito de usufruto ou à administração dos bens destinados a seus sucessores, bem como a partir da sucessão eventual nesses bens. Em respeito à boa-fé de possíveis adquirentes, reputam-se válidos os atos de administração e alienação onerosa praticados pelo indigno, como herdeiro aparente, antes da sentença de exclusão, caso em que os prejudicados poderão demandar do excluído indenização dos prejuízos sofridos. O excluído deve restituir os frutos e rendimentos produzidos pelos bens antes da exclusão, assistindo-lhe o direito a ser indenizado pelas despesas realizadas para a respectiva conservação (art. 1.817).
A vítima pode perdoar o autor do ato de ingratidão, reabilitando-o para a sucessão, desde que o faça expressamente, em testamento ou outro ato autêntico, consistente em declaração, por instrumento público ou particular, autenticada pelo escrivão. Admite-se a reabilitação tácita quando o testador, ciente da causa da indignidade, contempla o indigno em testamento, permitindo que este compareça à sucessão no limite da disposição testamentária (art. 1.818).
■ 40.5. Herança jacente
Herança jacente é aquela de cujos herdeiros não se tem conhecimento ou, quando conhecidos, todos os herdeiros a houverem repudiado. Diante da aparente falta de titular, os bens da herança serão arrecadados e entregues para serem guardados por um curador, até que se dê a habilitação de sucessor ou, na sua falta, a declaração da vacância (art. 1.819).
À arrecadação seguir-se-á o inventário dos bens e a publicação de editais para a convocação de herdeiros à habilitação. Durante a jacência, podem os credores exigir o pagamento das dívidas, nos limites das forças da herança (art. 1.821). Passado 1 ano da primeira publicação sem que se verifique pedido de habilitação de herdeiro, será a herança declarada vacante (art. 1.820), sendo proclamada de ninguém. A declaração de vacância será, todavia, imediata caso todos os herdeiros, conhecidos, renunciem à herança (art. 1.823). Constitui efeito da declaração de vacância a exclusão dos colaterais, que não mais poderão se habilitar na sucessão.
Se nos 5 anos após a abertura da sucessão não se habilitarem herdeiros, os bens arrecadados passarão ao domínio do poder público: do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições; da União, quando situados em território federal (art. 1.822).
Na sistemática do CC/2002, o Estado arrecada os bens vacantes, não sendo herdeiro destes.
■ 40.6. Petição de herança
A ação de petição de herança, do latim petitio hereditatis, é manejada pelo herdeiro preterido com a finalidade de ver reconhecido o seu título sucessório, assim como obter a restituição da herança pelos seus possuidores (art. 1.824). Trata-se de ação de natureza cognitiva, com pretensão declaratória e condenatória, constituindo ação real imobiliária e universal, por discutir direito à sucessão aberta, imóvel para efeitos legais. A procedência da ação produz o reconhecimento da ineficácia de partilha anteriormente realizada em relação ao autor da ação.
Tem legitimidade ativa, em regra, o herdeiro preterido, legítimo ou testamentário, podendo contemplar todo o acervo em seu pedido (art. 1.825). São legitimados passivos os possuidores da herança, sejam ou não herdeiros, de boa ou má-fé.
O herdeiro aparente exerce em princípio posse de boa-fé. Nessas condições, reconhece o legislador a eficácia das alienações de bens do monte por ele feitas, a título oneroso, a terceiros de boa-fé, cabendo àquele apenas a restituição do valor dos bens, esteja ou não de boa-fé (art. 1.827). Fica o herdeiro aparente também dispensado de responder por legados que de boa-fé pagou, em cumprimento do testamento, devendo o herdeiro verdadeiro agir diretamente contra o legatário (art. 1.828).
O legislador não estabelece regra específica sobre a prescrição da ação de petição de herança. Com base na Súmula 149 do STF, entende-se que a pretensão de reconhecimento de estado é imprescritível, ao passo que à pretensão relativa aos direitos patrimoniais decorrentes de tal reconhecimento aplica-se o prazo prescricional geral de 10 anos (art. 205).
■ 41. SUCESSÃO LEGÍTIMA
A sucessão legítima opera por forca de lei, em caso de falecimento sem que se tenha deixado testamento válido, ou quando o testamento não contempla a integralidade do patrimônio. Nesse caso, a herança será deferida conforme a ordem de vocação hereditária estabelecida no art. 1.829.
■ 41.1. Ordem de vocação hereditária
A ordem de vocação aplicável deve ser buscada na lei em vigor no momento da abertura da sucessão. O CC/2002 estabelece a seguinte ordem, que se entende representar a vontade presumida do sujeito:
 
I. A sucessão do descendente, em concorrência com o cônjuge, varia conforme o regime matrimonial de bens (art. 1.829, I). O cônjuge pode receber bens como meeiro e herdeiro.
 
O legislador estabelece regras para a divisão das quotas hereditárias entre descendentes e cônjuge (art. 1.832):
■ O cônjuge herdará quinhão igual aos que sucedem por cabeça;
■ Resguarda-se ao cônjuge a fração mínima de ¼ da herança se for ascendente dos herdeiros com quem concorrer.
De acordo com o Enunciado n. 527 do CJF, não haverá o resguardo da quarta parte em caso de concorrência do cônjuge com filiação híbrida. Resguarda-se ao cônjuge supérstite, ainda, independentemente do regime de bens, direito real de habitação sobre o imóvel destinado à residência da família (art. 1.831).
Na sucessão dos descendentes:
■ A existência de descendentes em grau mais próximo afasta a sucessão dos mais remotos, salvo direito de representação (art. 1.833);
■ Sendo os descendentes de mesmo grau, herdando por direito próprio, sucedem por cabeça, dividindo-se a herança em partes iguais conforme o número de herdeiros (art. 1.834);
■ Havendo descendentes em graus diversos, haverá herdeiros que herdam por direito próprio (por cabeça), e outros que herdam por representação de herdeiro pré-morto, sucedendo por estirpe. Nesse caso, cada estirpe fará o rateio por cabeça da quota que caberia ao representado, se vivo fosse (art. 1.835).
À luz da Constituição de 1988, não se admite diferenciação entre os filhos, em virtude da origem ou natureza da filiação.
II. A sucessão do ascendente dá-seem concorrência com o cônjuge, independentemente do regime matrimonial de bens (art. 1.829, II). Ocorre na falta de descendentes na linha sucessória.
Na sucessão dos ascendentes (art. 1.836):
■ Não há direito de representação (art. 1.852).
■ Os ascendentes de grau mais próximo excluem os de grau mais remoto, sem distinção de linhas (paterna e materna).
■ No cálculo das quotas, a herança divide-se primeiramente por linha – e não por cabeça – à fração de ½ para cada, dividindo-se o acervo de cada linha entre os componentes de mesmo grau.
Assim, ascendentes de mesmo grau podem ser contemplados com quinhões diferentes, pertencendo a linhas diversas.
No que tange à concorrência do cônjuge (art. 1.837):
■ Se concorrer com ascendentes em 1º grau, a herança será dividida em partes iguais conforme o número de pessoas – 1/2 para cônjuge e 1/2 para único ascendente; 1/3 para cada se houver dois ascendentes;
■ Se concorrer com ascendentes em 2º ou maior grau, caberá ao cônjuge a metade da herança.
III. O cônjuge sobrevivente receberá a totalidade da herança, na falta de descendentes e ascendentes.
Para que faça jus à herança, exige-se:
■ que não esteja separado nem divorciado, judicial ou administrativamente;
■ que não esteja separado de fato há mais de 2 anos ou, em estando, que a convivência se tenha impossibilitado sem culpa sua.
IV. O colaterais em até o 4º grau, sucederão o de cujus, na falta de herdeiros das classes superiores (art. 1.839).
Os colaterais são herdeiros legítimos, mas não necessários. Na sucessão colateral (art. 1.840):
■ os mais próximos excluem os mais remotos, não havendo em regra direito de representação;
■ admite-se direito de representação excepcionalmente em favor dos filhos de irmãos, em concorrência com tios.
Para o cálculo dos quinhões, estabelece o legislador diferenciação entre irmãos bilaterais ou germanos, isto é, filhos de mesmo pai e mesma mãe, e irmãos unilaterais, com apenas um ascendente comum. A herança do irmão unilateral corresponderá à metade da herança dos irmãos bilaterais (art. 1.841). Na falta dos irmãos, defere-se a herança na linha colateral na seguinte ordem, sucessiva: sobrinhos e tios (art. 1.843).
Em caso de sucessão apenas por sobrinhos (filhos de irmãos falecidos), estes herdarão por cabeça. Também releva observar tratar-se de filhos de irmãos unilaterais ou filhos de irmãos bilaterais, pois o quinhão deferido a cada um dos primeiros equivalerá à metade do quinhão entregue a cada um dos segundos.
Na falta de parentes sucessíveis, ou tendo todos renunciado à herança, o acervo será deferido ao Estado: ao Município ou Distrito Federal, se a herança se localizar nas respectivas circunscrições; à União, se herança em território federal (art. 1.844).
■ 41.2. Sucessão do companheiro
Muito se critica a forma como o legislador estabeleceu a sucessão do companheiro, por desrespeito à organização sistemática do Código, sendo inserida na parte destinada à disposições gerais à sucessão e não no capítulo que trata da vocação hereditária, e também pela violação do equiparação constitucional entre casamento e união estável, como formas de constituição de família.2
Na decisão do RE 878694/MG, o STF entendeu pela inconstitucionalidade do art. 1.790, CC, por violação aos princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade e da proteção da família, estabelecendo a tese de que “no sistema constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002”.2 Deve-se aplicar à sucessão do companheiro o regime previsto para a sucessão do cônjuge, conforme os arts. 1.829 e s.
■ 41.3. Herdeiros necessários
Herdeiros necessários, legitimários ou reservatários são aqueles que, em virtude de disposição legal, não podem ser afastados da sucessão por disposição de última vontade, fazendo jus à reserva ou legítima, ou seja, ao resguardo de metade dos bens da herança (art. 1.846). São eles: descendentes, ascendentes e cônjuge (art. 1.845).
 
A legítima corresponde à metade do espólio, que compreende o valor dos bens existentes ao tempo da abertura da sucessão, somado ao valor dos bens sujeitos à colação, e abatido do montante referente às dívidas e despesas de funeral (art. 1.847).
Limita o legislador a possibilidade de o autor da herança estabelecer cláusulas limitativas aos direitos dos titulares dos bens da legítima, apenas admitindo a imposição de cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, diante da existência de justa causa declarada em testamento.
Não há necessidade de justa causa para a clausulação da parte disponível da herança.
 
Não se admite a imposição de cláusula de conversão dos bens da legítima em outros de espécie diversa (art. 1.848, § 1º). Permite-se excepcionalmente a alienação dos bens gravados, mediante autorização judicial e verificação de justa causa, mas os bens adquiridos com o produto da alienação ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros (art. 1.848, § 2º).
■ 41.4. Direito de representação
O herdeiro pode suceder por direito próprio ou por direito de representação. Na primeira situação o sujeito é chamado a suceder em virtude de sua própria relação de parentesco, casamento ou união estável com o de cujus. Na segunda, o representante comparece à sucessão em substituição de ascendente pré-morto, que sucederia por direito próprio caso fosse vivo (art. 1.851). O quinhão correspondente à estirpe do herdeiro representado será partilhado em partes iguais entre os diversos representantes (art. 1.855).
O direito de representação, presente apenas no âmbito da sucessão legítima, configura-se na linha descendente e, excepcionalmente, na linha colateral, em relação aos filhos de irmãos em concorrência com tios (art. 1.853). O fato de ter o sujeito renunciado à herança de uma pessoa não a impede de representá-la na sucessão de outra (art. 1.856).
■ 42. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
Sucessão testamentária é a que deriva da manifestação de última vontade do de cujus, expressa em testamento ou codicilo. Por meio dela, podem ser instituídos herdeiros e legatários.
■ 42.1. Testamento em geral
O testamento constitui um negócio jurídico unilateral, de caráter personalíssimo, solene, gratuito, causa mortis e eminentemente revogável, pelo qual alguém pode dispor de bens do seu patrimônio – na totalidade ou parte – para depois de sua morte, admitindo-se também outras disposições de conteúdo não patrimonial. Pode ter por conteúdo a parte disponível da herança, sendo vedada a ofensa à legítima (arts. 1.857 e 1.858).
■ 42.2. Capacidade de testar
Para estar apto a dispor de bens por testamento, deve o agente ser capaz (art. 1.857), ou maior de 16 anos (art. 1.860, parágrafo único). São impedidos de testar os juridicamente incapazes, bem como aqueles que não tiverem pleno discernimento no momento da elaboração do testamento (art. 1.860). A capacidade é aferida no momento da elaboração do testamento (art. 1.861). Eventual impugnação do testamento por invalidade deve ser manifestada no prazo decadencial de 5 anos do seu registro em juízo, após a abertura da sucessão (art. 1.859).
Tratando-se o testamento de negócio jurídico solene, não há liberdade de forma para a sua confecção, estabelecendo a lei três formas ordinárias (art. 1.862) e três formas especiais (art. 1.886).
 
Proíbe-se a elaboração de testamento conjuntivo ou de mão comum, entendido como aquele cujo conteúdo envolve a vontade de dois ou mais testadores no mesmo instrumento, seja ele:
■ Simultâneo: os testadores dispõem conjuntamente em favor de terceiro;
■ Recíproco: os testadores instituem-se mutuamente herdeiros um do outro; ou
■ Correspectivo: os testadores efetuam disposições em retribuição de outras correspondentes.
■ 42.3. Formas ordinárias do testamento
Os testamentos ordinários podem ser públicos, cerrados ou particulares.
 
■ 42.4. Formas especiais de testamento
Testamentos especiais constituem modalidades de testamentoelaborados sob circunstâncias extraordinárias, que impedem a manifestação de vontade pelas formas ordinárias. Suas hipóteses são restritas às previstas no art. 1.886: marítimo, aeronáutico e militar. O testamento marítimo é feito a bordo de navio nacional perante o comandante e duas testemunhas. O aeronáutico é elaborado a bordo de aeronave perante pessoa designada pelo comandante, também diante de duas testemunhas. É militar o testamento elaborado por membro das Forças Armadas, em situação de campanha, estado de sítio e comunicações interrompidas. Em todas as hipóteses, superadas as circunstâncias extraordinárias, tem o sujeito prazo decadencial de 90 dias para elaboração de testamento ordinário.
■ 42.5. Codicilos
Entende-se por codicilo a manifestação de última vontade, realizada por escrito pelo próprio autor da herança, datada e assinada, que estabelece disposições extrapatrimoniais e patrimoniais de pequena monta (art. 1.881). Pode dispor sobre a nomeação ou substituição de testamenteiros (art. 1.883).
O codicilo revoga-se pela apresentação de novo codicilo ou testamento, se este não confirmar ou modificar aquele (art. 1.885). Pode ser elaborado de forma cerrada, aplicando-se as normas da abertura do testamento cerrado (art. 1.885).
■ 42.6. Disposições testamentárias
Quanto ao conteúdo, o testamento pode incluir disposições de caráter patrimonial e não patrimonial. Em relação à nomeação de herdeiros, as disposições podem ser pura e simples, condicional, modal e em razão de certo motivo. Não se admite, em regra, nomeação a termo, a qual será tida por não escrita, salvo nas disposições fideicomissárias ou em relação a legatários (art. 1.898).
Admite-se sejam feitas disposições em favor de pessoa incerta, mas determinável, ou de caráter remuneratório dos serviços prestados ao testador antes do falecimento (art. 1.901). Ainda, na metade patrimonial disponível por testamento, admite-se a aposição de cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, em caráter temporário ou vitalício, total ou parcial, absoluto ou relativo. Eventual alienação dos bens implicará na sub-rogação dos bens adquiridos com o produto da venda nas limitações impostas (art. 1.911).
São nulas (art. 1.900) as disposições que I – importem instituição de herdeiro sob condição captatória, isto é, de que este disponha via testamento em favor do testador ou terceiro; II – se refiram a pessoa incerta, indeterminável; III – favoreçam pessoa incerta, a ser identificada por terceiro; IV – deleguem ao herdeiro ou terceiro a prerrogativa de fixar o valor do legado; V – favoreçam as pessoas referidas nos arts. 1.801 e 1.802, que estabelecem respectivamente pessoas que não podem ser nomeadas herdeiros nem legatários e a nulidade da disposição simulada de modo a favorecer os que não podem ser nomeados.
São anuláveis as disposições viciadas por erro, dolo e coação, contando-se da ciência do vício o prazo decadencial de 4 anos para que o interessado demande a anulação (art. 1.909).
No que tange à interpretação das disposições testamentárias, estabelece o legislador:
■ A interpretação deve buscar o sentido que melhor assegure a observância da vontade do testador (art. 1.899).
■ Em caso de disposições genéricas em favor dos pobres ou de estabelecimentos de caridade ou de assistência pública, considerar-se-ão os do lugar do domicílio do testador (art. 1.902).
■ Em caso de indicação de pluralidade de herdeiros sem discriminação das quotas, a partilha será feita por igual (art. 1.904).
■ Eventuais bens remanescentes da metade disponível serão distribuídos entre os herdeiros legítimos (art. 1.906).
■ Se determinado bem for expressamente afastado de herdeiro instituído, será encaminhado aos herdeiros legítimos (art. 1.908).
■ 42.7. Legados
O legado implica uma atribuição de certo ou certos bens ou direitos a outrem por meio de declaração de última vontade, a título singular.
Diferencia-se da herança pois nesta não há referência a bens específicos, e sim à totalidade ou quota do patrimônio do falecido.
Legatário ou honrado é a denominação atribuída ao beneficiário de um legado, podendo ser contemplado como tal qualquer pessoa, sujeito de direitos. Prelegatário ou legatário precípuo é o sujeito que recebe simultaneamente bens a título universal, como herdeiro legítimo, e a título individual, na forma de legados. Nesse caso, o legado será chamado de prelegado ou legado precípuo. O herdeiro encarregado de cumprir o legado é o onerado ou gravado. Colegatários são os beneficiários conjuntos de um mesmo legado.
■ 42.7.1. Modalidades de legado
O legado pode ser: I – puro e simples; II – condicional, quando a aquisição do direito fica subordinada a evento futuro e incerto; III – a termo, quando a eficácia fica subordinada a evento futuro e certo; IV – modal ou com encargo, quando se estabelece obrigação acessória para o legatário, caso em que a aceitação do legado importa assunção do ônus (arts. 1.924 e 1.938); V – sub causa ou por certa causa, quando o testador declara o motivo que o levou a instituir o legado.
Quanto ao objeto, o legado pode ser: a) de coisas; b) de crédito; c) de alimentos; d) de usufruto; e) de imóvel; f) de dinheiro; g) de renda ou pensão periódica; h) alternativo. Admite-se o estabelecimento de legado determinado pelo gênero ou de coisa incerta, caso em o cumprimento poderá envolver bens não pertencentes ao patrimônio do de cujus (art. 1.915).
Sendo a coisa legada comum, ou apenas parcialmente da titularidade do testador, apenas quanto a essa parte valerá o legado, sendo a disposição ineficaz quanto ao restante (art. 1.914).
■ 42.7.2. Caducidade do legado
Opera-se a caducidade do legado pela superveniência das causas, elencadas no art. 1.939, não existentes à época da instituição da deixa, a qual se torna ineficaz. Constituem causas da caducidade: I – a modificação substancial do bem legado; II – a alienação da coisa legada; III – o perecimento ou evicção da coisa, sem culpa do onerado; IV – a declaração da exclusão do legatário por indignidade, nas hipóteses do art. 1.815; V – o falecimento do legatário antes da abertura da sucessão. Perecendo a coisa legada, em legado alternativo, ou parte da coisa legada, subsistirá a deixa quanto à coisa restante ou à parte remanescente, respectivamente (art. 1.940).
■ 42.8. Direito de acrescer entre herdeiros e legatários
A questão do direito de acrescer surge quando, na falta de algum herdeiro ou legatário, por impedimento ou recusa em receber a deixa testamentária, sua porção tiver de ser dividida entre os demais sucessores testamentários, instituídos conjuntamente via disposição idêntica ou distinta. Ocorre direito de acrescer nas hipóteses em que parte da herança ou legado se torna vaga em virtude de: I – pré-morte do nomeado; II – sua exclusão por indignidade; III – falta de sua legitimação; IV – não implemento de condição suspensiva de sua instituição; V – sua renúncia (art. 1.943).
A conjunção ou disposição conjunta pode ser real, mista ou verbal, só ocorrendo direito de acrescer nas duas primeiras, isto é, quando o testador não tiver estabelecido a quota-parte de coerdeiro ou colegatário.
 
Não havendo direito de acrescer, o quinhão vago será distribuído entre os herdeiros legítimos. Em caso de colegatários sem direito de acrescer, a quota do que faltar será destinada ao herdeiro ou ao legatário incumbido de satisfazer o legado, ou a todos os herdeiros, na proporção dos seus quinhões, se o legado se deduziu da herança (art. 1.944).
Não é possível ao beneficiário recusar ao acréscimo, aceitando a parte original que lhe cabe no legado ou herança, exceto se o acréscimo comportar encargos especiais impostos pelo testador. Nesse caso o acréscimo será revertido ao beneficiário dos encargos (art. 1.945).
■ 42.9. Substituições testamentárias
O fenômeno da substituição refere-se à possibilidade de o testador indicar por declaração de última vontade, além de herdeiros e legatários para lhe suceder, substitutos para receber a herança na faltadaqueles ou ao fim de certo termo. A substituição pode ser vulgar e fideicomissária.
A substituição vulgar ou ordinária ocorre quando o testador designa substitutos para receber caso o herdeiro ou o legatário recuse ou não possa aceitar (art. 1.947). Ela pode ser simples ou singular (designação de apenas um substituto), coletiva ou plural (nomeiam-se dois ou mais substitutos a serem chamados simultaneamente), e recíproca (nomeiam-se dois ou mais beneficiários para reciprocamente se substituir).
Na substituição fideicomissária (art. 1.951), o de cujus (fideicomitente) realiza uma dupla vocação, nomeando herdeiro ou legatário (fiduciário ou gravado), e desde logo um substituto (fideicomissário) que receberá depois daquele. Apenas pode ser instituída sobre a metade disponível e limitada ao segundo grau (art. 1.959).
O fideicomisso pode ser vitalício, a termo e condicional.
 
Atualmente, só se admite a substituição fideicomissária em favor de pessoas não concebidas ao tempo da morte do testador, ou seja, da prole eventual.
■ 42.10. Deserdação
A deserdação consiste na manifestação de vontade pelo testador, a partir do qual este exclui de sua sucessão herdeiros necessários, diante da verificação e expressa declaração de causas legais (arts. 1.961 e 1.964). Os efeitos da deserdação são pessoais, de modo que os herdeiros do deserdado comparecerão à sucessão por direito de representação. O direito de provar a causa da deserdação incumbe ao herdeiro instituído ou beneficiado com a deserdação, extinguindo-se no prazo de 4 anos, contados da abertura da sucessão (art. 1.965).
■ 42.11. Redução das disposições testamentárias
A redução das disposições testamentários consiste em prerrogativa conferida aos herdeiros necessários, prejudicados na parte que lhes toca por lei (legítima), de requerer a diminuição das liberalidades do finado que excedam a quota disponível. Faz-se por meio de ação de redução, para a qual é legitimado o herdeiro necessário preterido ou seus sucessores.
■ 42.12. Revogação do testamento
Constituindo o testamento negócio jurídico unilateral, pode o testador revogá-lo, independentemente de motivação, retirando sua eficácia, pelos mesmos modos e formas como pode ser elaborado (art. 1.969), exceto quanto à disposição que importa reconhecimento de filhos. Considera-se não escrita qualquer cláusula de irrevogabilidade.
A revogação pode ser total ou parcial, conforme se refira à integralidade do testamento ou cláusulas específicas (art. 1.970). Pode ainda ser expressa, por declaração em novo testamento, ou tácita, quando há incompatibilidade das disposições de um novo testamento com as do anterior, ou em caso de dilaceração ou abertura do testamento cerrado pelo testador ou pessoa por ele autorizada (art. 1.972). Não se reconhece efeito repristinatório sobre as disposições revogadas em caso de revogação do testamento posterior, salvo declaração expressa.
■ 42.13. Rompimento do testamento
Dá-se o rompimento do testamento quando, após sua elaboração, o testador venha a ter conhecimento da existência de descendente sucessível, contanto que este sobreviva àquele (art. 1.973). Não haverá a ruptura caso o testamento posterior seja feito sabendo-se da existência dos herdeiros necessários, respeitada a legítima (art. 1.975).
■ 42.14. Testamenteiro
Testamenteiro é a pessoa encarregada da execução do testamento, facultando-se ao autor da herança a sua nomeação, por meio de testamento ou codicilo. Pode houver a nomeação de um ou mais testamenteiros, para atuação conjunta ou separada (art. 1.976), solidária ou sucessiva. Na falta da nomeação, o múnus será conferido sucessivamente ao cônjuge sobrevivente ou outro herdeiro indicado pelo juiz (art. 1.984). A função, intransferível ou de cunho intuitu personae, pode ser exercida por qualquer pessoa capaz, não se admitindo a nomeação de pessoa jurídica.
O testamenteiro pode ser instituído, dativo, universal e particular.
 
Ao testamenteiro incumbe promover a execução do testamento, apresentando-o ou requerendo que se apresente em juízo, para registro (art. 1.979) e promoção do inventário. O cumprimento das disposições e prestação de contas deve dar-se no prazo máximo de 180 dias da aceitação do encargo, salvo disposição diversa do testador ou motivação relevante (art. 1.983). Cabe também ao testamenteiro a defesa da validade do testamento e da posse dos bens da herança, reconhecendo-se-lhe legitimidade ativa e passiva nas ações que tenham estes objetos (art. 1.981).
Será cabível remuneração do testamenteiro pelos serviços prestados, por meio da chamada vintena, fixada livremente pelo testador ou deixada ao arbitramento do juiz, em importe entre 1% e 5% do valor líquido da herança. A remuneração será deduzida da metade disponível da herança (art. 1.987).
■ 43. Inventário e partilha
Inventário é a ação pela qual se alistam, descrevem, avaliam e liquidam os bens do patrimônio do de cujus, a fim de que sejam entregues a seus herdeiros. No procedimento, realiza-se o ativo e o passivo do de cujus, pagando-se também os legados e o imposto causa mortis. Sua abertura deve ser requerida no prazo de 2 meses contados da abertura da sucessão, devendo ser encerrado nos 12 meses subsequentes, salvo extensão do prazo pelo juiz (art. 611, NCPC).
O inventário e partilha pode ser feito por meio de quatro procedimentos distintos, regulados pelo Código de Processo Civil: inventário judicial, arrolamento sumário, arrolamento comum e inventário administrativo.
 
■ 43.1. Bens sonegados na herança
A sonegação consiste no ocultamento intencional, pelo inventariante, herdeiro ou testamenteiro, de bens que deveriam ser inventariados ou colacionados. A pena para a sonegação varia conforme o agente que a praticou:
■ se herdeiro, este perderá o direito sobre o bem sonegado (art. 1.992) ou responderá pelo respectivo valor acrescido de perdas e danos, caso já o tenha alienado (art. 1.995);
■ se inventariante, será removido da inventariança (art. 1.993), e perderá o direito sobre o bem sonegado, se for também herdeiro ou meeiro. Neste caso, apenas se configura a sonegação após a prestação das primeiras e últimas declarações, com omissão intencional de bens e a afirmação de não existirem outros a inventariar (art. 621, NCPC; art. 1.996, CC);
■ se testamenteiro, perderá a inventariança e o direito à remuneração ou vintena (art. 625, VI, NCPC).
Para a imposição da pena, deve o herdeiro ou credor interessado propor ação de sonegados (art. 1.994), no foro do inventário, aplicando-se o prazo prescricional geral de 10 anos.
■ 43.2. Pagamento das dívidas do falecido
As dívidas do falecido transmitem-se aos herdeiros, nos limites das forças da herança, isto é, até o limite do quinhão por cada um recebido (art. 1.997), presumindo-se a aceitação em benefício do inventário. Havendo impugnação dos débitos, o juiz determinará a reserva em poder do inventariante de bens suficientes para seu pagamento, desde que o credor inicie a cobrança no prazo de 30 dias (art. 1.997, §§ 1º e 2º).
■ 43.3. Colação
A fim de que não se beneficie em vida um herdeiro em detrimento dos demais, fraudando-se a legítima dos herdeiros necessários, estatui o legislador que a doação importará adiantamento do que cabe ao beneficiário na herança (art. 544). Considera-se inoficiosa a doação que excede a parte disponível do patrimônio do sujeito.
Colação é o ato pelo qual os descendentes e cônjuge do de cujus beneficiados em vida com liberalidades declaram no inventário as doações que receberam a fim de que se confiram e igualem as legítimas, sob pena de sonegação (arts. 2.002 e 2.003). A declaração deve ser feita no prazo conferido às partes, nos autos do inventário, para manifestar-se sobre as primeiras declarações (art. 639).
Dispensa-se da colação as doações realizadas pelo de cujus com indicação, via contrato ou testamento, de que devam ser deduzidas da parte disponível, desde que não ultrapassem os limites desta (arts. 2.005 a 2.007). Também não se colaciona o valor dos gastos ordinários do ascendentecom o descendente, enquanto este for menor (art. 2.010), bem como as doações remuneratórias de serviços feitos ao ascendente (art. 2.011).
■ 43.4. Partilha
A partilha consiste na divisão do espólio, apurado durante o inventário, entre os herdeiros e cessionários da herança, após a dedução de eventual meação do cônjuge. Em caso de herdeiro único, opera-se simples adjudicação. Pode ser feita de forma judicial ou amigável, em vida ou post mortem.
A partilha em vida é feita de modo amigável pelo de cujus por ato entre vivos ou indicação no testamento, desde que respeite a legítima dos herdeiros necessários (arts. 2.015 e 2.018). Pode haver partilha amigável post mortem, no curso do inventário ou arrolamento, por meio de acordo entre herdeiros capazes sob a forma de escritura pública, termo nos autos ou instrumento particular. A partilha judicial é exigível sempre que entre os herdeiros conste menor ou incapaz, ou quando divergirem sobre as respectivas quotas-parte, caso em que as partes formularão seus pedidos de quinhão, o juiz deliberará sobre as pretensões e o partidor organizará a partilha a partir de tais deliberações (arts. 647 e 651, NCPC).
■ 43.5. Garantia dos quinhões hereditários
Após o julgamento da partilha, em decisão de caráter declaratório, extingue-se o espólio, desfazendo-se a comunhão indivisível de bens, ficando o direito de cada herdeiro limitado aos bens do seu quinhão (art. 2.023). Os coerdeiros são reciprocamente obrigados a indenizar-se no caso de evicção dos bens aquinhoados, cessando tal obrigação caso se convencione distintamente, na hipótese de evicção por culpa do evicto ou por fato posterior à partilha (arts. 2.024 e 2.025).
■ 43.6. Anulação da partilha
Dispõe o art. 657 do NCPC, que a partilha amigável, lavrada em instrumento público, reduzida a termo nos autos do inventário ou constante de escrito particular homologado pelo juiz, pode ser anulada por dolo, coação, erro essencial ou intervenção de incapaz. Por sua vez, a partilha judicial, julgada por sentença, é rescindível por dolo, coação, erro essencial ou intervenção de incapaz; se feita com preterição de formalidades legais; se preteriu herdeiro ou incluiu quem não o seja (art. 658, NCPC).

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