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SUA PETICAO S2

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Direito Penal
SEÇÃO 2
SUA PETIÇÃO
Seção 2
Direito Penal
Sua causa!
Olá, operadores do Direito! 
Não podemos deixar de lhe dar os parabéns! Afi nal, graças à 
sua excelente peça elaborada na primeira Seção, o Tribunal de 
Justiça do Estado do Ceará, de maneira unânime, concedeu a 
ordem de Habeas Corpus por você impetrada em favor do Zé 
da Farmácia, relaxando sua prisão, por concordar com a tese de 
que o fl agrante foi preparado. 
Assim, expedido o competente alvará de soltura, seu cliente 
pôde, enfi m, voltar para casa para aguardar o andamento do 
processo em liberdade. 
Entretanto, menos de uma semana após ser libertado, Zé é 
surpreendido pela visita de um Ofi cial de Justiça em sua casa 
que, após se apresentar, efetua a entrega de um documento 
composto de diversas páginas e o avisa que ele está notifi cado a 
apresentar sua defesa no prazo de 15 (quinze) dias. 
Zé, muito assustado, assina o recibo de entrega do documento 
e rapidamente vai para seu quarto ler o documento que acabara 
de receber. Lá, constata que, após concluídas as investigações 
e elaborado o relatório conclusivo pela Autoridade Policial 
competente, os autos do inquérito foram remetidos ao Ministério 
Público, que, dentro do prazo legal, ofereceu denúncia nos 
seguintes termos: 
2
NPJ – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA VIRTUAL
DIREITO PENAL - SUA PETIÇÃO - SEÇÃO 2
“Exmo. Sr. Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca 
de Conceição do Agreste/CE
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ, 
por meio de seu Órgão de Execução infra-assinado, 
vem perante Vossa Excelência, com fulcro no art. 129, 
inciso I da Constituição Federal, c/c art. 41 do Código 
de Processo Penal, e com base no incluso Inquérito 
Policial, oferecer DENÚNCIA em desfavor de:
JOÃO SANTOS, vulgo “João do Açougue”, 
(nacionalidade), (estado civil), vereador, (naturalidade), 
(data de nascimento), (número de identidade e cpf), 
residente e domiciliado à (endereço);
FERNANDO CAETANO, (nacionalidade), (estado 
civil), vereador, (naturalidade), (data de nascimento), 
(número de identidade e cpf), residente e domiciliado 
à (endereço);
MARIA DO ROSÁRIO, (nacionalidade), (estado civil), 
vereadora, (naturalidade), (data de nascimento), 
(número de identidade e cpf), residente e domiciliada 
à (endereço);
JOSÉ PERCIVAL DA SILVA, vulgo “Zé da Farmácia”, 
(nacionalidade), (estado civil), vereador, (naturalidade), 
(data de nascimento), (número de identidade e cpf), 
residente e domiciliado à (endereço), pela prática do 
fato delituoso a seguir exposto: 
Em primeiro lugar, cumpre ressaltar que os denunciados, sob 
a liderança do Acusado José Percival da Silva (Zé da Farmácia, 
Presidente da Câmara dos Vereadores e liderança política do 
Município), valendo-se da qualidade de Vereadores do Município, 
se associaram, em unidade de desígnios, com o fim específico 
de cometer crimes. 
E, dentro deste propósito, no dia 3 de fevereiro de 2018, na sede 
da Câmara dos Vereadores desta Comarca, durante uma reunião 
da Comissão de Finanças e Contratos da Câmara, exigiram do 
Sr. Paulo Matos, empresário sócio de uma empresa interessada 
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Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
em participar das contratações a serem realizadas pela Câmara 
de Vereadores, o pagamento de R$ 100.000,00 (cem mil reais) 
para que sua empresa pudesse participar de um procedimento 
licitatório que estava agendado para o dia seguinte.
Desse modo, como a mera solicitação de vantagem indevida já 
configura o crime de corrupção passiva, a discussão sobre a (i) 
legalidade da prisão em flagrante realizada é irrelevante para a 
configuração do delito. 
Ante o exposto, estão os denunciados incursos nas iras dos 
artigos 288 e 317, na forma do art. 69, todos do Código Penal. 
Pelo que requer o Ministério Público, seja recebida a presente 
denúncia, com a consequente citação dos réus para apresentarem 
defesa no prazo legal, designando-se em seguida audiência de 
instrução, para que ao final sejam condenados pela prática dos 
supracitados crimes.
Apresenta-se o competente rol de testemunhas, requerendo 
sua intimação para oitiva em juízo: 
1 - Paulo Matos, endereço.
 (LOCAL), (DATA)
NOME DO PROMOTOR
PROMOTOR DE JUSTIÇA ” 
Imediatamente, Zé entra em contato com você, caro aluno, para 
comunicar o ocorrido e solicitar que tome as medidas cabíveis 
para defendê-lo da forma mais adequada possível. 
Como é formado em Direito, apesar de não exercer qualquer 
função na área, Zé lhe faz os seguintes questionamentos: 
Essa notificação foi feita de forma correta? Seu prazo para 
apresentação de defesa é mesmo de 15 (quinze) dias? 
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Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
ADVOGADO: Consegue responder aos questionamentos 
de seu cliente? O ato e o prazo estão corretos? Como 
deve ser elaborada esta Defesa? Quais as teses as serem 
arguidas? Considerando que Zé foi notifi cado em 17 de 
abril de 2018, date sua peça com o último dia do prazo.
Fundamentando!
Considerando o caso prático a você submetido e uma vez 
tendo sido Zé da Farmácia denunciado e notifi cado para 
apresentar defesa, cabe a você, caro aluno, traçar a estratégia 
defensiva que melhor couber ao seu cliente. 
Relembrando nossas aulas, sabemos que o Código de Processo 
Penal prevê, nos artigos 513 a 518, um procedimento especial 
no caso de crimes de responsabilidade dos funcionários 
públicos:
Quadro 1.1 | Processo e julgamento dos crimes de responsabilidade
CAPÍTULO II
DO PROCESSO E DO JULGAMENTO DOS CRIMES DE 
RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos funcionários 
públicos, cujo processo e julgamento competirão aos 
juízes de direito, a queixa ou a denúncia será instruída 
com documentos ou justifi cação que façam presumir a 
existência do delito ou com declaração fundamentada da 
impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas.
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Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou 
queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará 
a notificação do Acusado, para responder por escrito, dentro 
do prazo de quinze dias.
Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do 
Acusado, ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á 
nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta 
preliminar.
Art. 515. No caso previsto no artigo anterior, durante o 
prazo concedido para a resposta, os autos permanecerão 
em cartório, onde poderão ser examinados pelo Acusado ou 
por seu defensor.
Parágrafo único. A resposta poderá ser instruída com 
documentos e justificações.
Art. 516. O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho 
fundamentado, se convencido, pela resposta do Acusado 
ou do seu defensor, da inexistência do crime ou da 
improcedência da ação.
Art. 517. Recebida a denúncia ou a queixa, será o Acusado 
citado, na forma estabelecida no Capítulo I, do Título X, do 
Livro I.
Art. 518. Na instrução criminal e nos demais termos do 
processo, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, 
Título I, deste Livro.
Fonte: adaptado do Código de Processo Penal - Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro 
de 1941. 
Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 
14 set. 2017. 
Tal procedimento será adotado para os crimes praticados por 
funcionário público contra a administração em geral, previstos no 
Código Penal nos artigos 312 a 327. 
Nesses casos, antes de o Juiz realizar o juízo de admissibilidade 
da petição inicial (recebendo ou rejeitando a denúncia), ele 
deve ordenar a notificação do Acusado para que apresente uma 
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Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
resposta preliminar escrita, no prazo de 15 (quinze) dias. Tudo 
conforme determina o artigo 514 do Código de Processo Penal.Por se tratar de processo criminal que pode vir a causar 
transtorno no desenvolvimento na atividade administrativa, 
optou o legislador por essa cautela antes de receber a denúncia 
e dar início ao processo. 
Assim, somente após a apresentação desta primeira defesa escrita 
é que o Juiz decide se recebe ou rejeita a inicial. Essa análise, por 
sua vez, é realizada nos termos do artigo 395 do CPP, que traz as 
hipóteses de rejeição da denúncia ou queixa. 
Quadro 1.2 | Hipóteses de inépcia da denúncia ou queixa
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: 
I - for manifestamente inepta; 
II - faltar pressuposto processual ou condição para o 
exercício da ação penal; ou 
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. 
Fonte: adaptado do Código de Processo Penal - Decreto-Lei Nº 3.689, de 3 de 
outubro de 1941. 
Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 
14 set. 2017. 
A denúncia ou queixa serão consideradas ineptas quando não 
preencherem os requisitos da petição inicial previstos no artigo 
41 do CPP:
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato 
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação 
do Acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa 
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o 
rol das testemunhas.
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Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
A peça acusatória deverá ser apresentada contendo o máximo de 
informações possíveis sobre os fatos apurados. Isso tem o fim de 
propiciar o devido exercício da ampla defesa e do contraditório.
Logo, havendo mais de um Acusado, é obrigatório que a Acusação, 
na petição inicial, individualize a conduta de cada um deles.
Afinal, a não especificação da adequação típica de participação 
de cada um dos Acusados em relação ao respectivo crime, 
pormenorizando e subordinando sua conduta ao tipo penal, 
inviabiliza por completo o correto e necessário exercício defensivo 
do mesmo. Assim, denúncias ou queixas genéricas são ineptas. 
Esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal: 
STF: EMENTA: HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. ESTADO 
DE DIREITO. DIREITOS FUNDAMENTAIS. PRINCÍPIO 
DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. REQUISITOS 
DO ART. 41 DO CPP NÃO PREENCHIDOS. 1 - A 
técnica da denúncia (art. 41 do Código de Processo 
Penal) tem merecido reflexão no plano da dogmática 
constitucional, associada especialmente ao direito de 
defesa. Precedentes. 2 - Denúncias genéricas, que não 
descrevem os fatos na sua devida conformação, não 
se coadunam com os postulados básicos do Estado 
de Direito. 3 - Violação ao princípio da dignidade da 
pessoa humana. Não é difícil perceber os danos que a 
mera existência de uma ação penal impõe ao indivíduo. 
Necessidade de rigor e prudência daqueles que têm 
o poder de iniciativa nas ações penais e daqueles que 
podem decidir sobre o seu curso. 4 - Ordem deferida, 
por maioria, para trancar a ação penal. (HC 84409, 
Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Relator(a) p/ 
Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, 
julgado em 14/12/2004, DJ 19-08-2005 PP-00057 
EMENT VOL-02201-2 PP-00290 RTJ VOL-00195-01 
PP-00126). 
Já as condições da ação penal são a legitimidade da parte; o 
interesse de agir; a possibilidade jurídica do pedido e a justa causa. 
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Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
Esta última, específica do processo penal, constitui uma 
condição de garantia contra o uso abusivo do direito de 
acusar, identificando-se como uma causa jurídica e fática 
que legitima e justifica a Acusação e a própria intervenção 
penal. Caracteriza-se por dois fatores: a existência de indícios 
suficientes de autoria e materialidade1. 
Portanto, deve a petição inicial trazer elementos probatórios 
mínimos que justifiquem a admissão do processo. A Acusação não 
pode, tendo em vista a inegável existência de penas processuais, 
ser leviana e despida de um suporte probatório suficiente para 
justificar o imenso constrangimento que representa a assunção 
da condição de réu2. Caso esses elementos sejam insuficientes 
para justificar a abertura de um processo, o juiz deverá rejeitar a 
Acusação. Tudo conforme prevê o artigo 395, III do CPP. 
Por outro lado, após a apresentação da resposta preliminar, 
não sendo inepta a petição inicial e estando presentes todas 
as condições da ação, a Acusação deverá ser recebida e o 
procedimento passa a seguir o rito ordinário, nos termos do artigo 
518 do CPP. 
Desse modo, as fases do procedimento especial de crimes de 
responsabilidade dos funcionários públicos podem ser assim 
descritas: 
i) Oferecimento da Denúncia – ii) Notificação do Acusado para 
apresentação de Resposta Preliminar – iii) Apresentação da peça 
defensiva, nos termos do art. 514 do CPP – iv) Decisão judicial sobre 
o recebimento/rejeição da inicial – v) Havendo recebimento, o réu 
é citado para apresentação de Resposta à Acusação, nos termos do 
art. 396 do CPP – vi) Apresentada a Resposta à Acusação, o processo 
volta ao Juiz para ele decidir se absolve sumariamente o réu, de 
acordo com o art. 397 do CPP – vii) Não sendo de caso de se absolver 
sumariamente o réu, deve o Juiz designar audiência de instrução e 
julgamento, nos termos do art. 399, 400 e seguinte do CPP.
1 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 400. 
2 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 402.
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Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
Por fim, uma última observação deve ser feita acerca deste 
procedimento especial. Dispõe a Súmula 330 do Superior Tribunal 
de Justiça, que “é desnecessária a resposta preliminar de que 
trata o artigo 514, do Código de Processo Penal, na ação penal 
instruída por inquérito policial”.
Tal súmula foi editada a partir de uma interpretação equivocada do 
art. 513 do CPP, que sustenta que “a denúncia será instruída com 
documentos ou justificação que façam presumir a existência do 
delito ou com declaração fundamentada da impossibilidade de 
apresentação de qualquer dessas provas”.
Entretanto, não restam dúvidas de que tal dispositivo sustenta, 
apenas, que a denúncia pode ser oferecida sem prévio inquérito 
policial (o que é óbvio, diante da facultatividade deste), desde que 
existam documentos que o supram. Ensina Aury Lopes Júnior3: 
Historicamente, o art. 513 é um erro. Como explica 
Frederico Marques, referido dispositivo não passa de 
reprodução daquilo que dispunha o Código de Processo 
Criminal de 1832, mas com um importante detalhe: 
naquela época (1832) não se admitia inquérito policial 
para crimes funcionais. Daí porque, como conclui o 
autor, é incompreensível que os autores do Código 
de Processo Penal vigente não tenham atentado para 
isso, inserindo uma norma obsoleta como a do art. 513 
(que até em “justificação” fala), sem nenhum propósito. 
Agora, pretender justificar, a partir desse imbróglio, 
que a resposta preliminar do art. 514 é desnecessária 
quando a denúncia tiver por base um inquérito policial, 
como afirma a Súmula n. 330 do STJ, é um disparate. 
Com inquérito ou sem ele, pensamos que a resposta 
preliminar (nos termos do art. 396) é necessária e 
constitui uma nulidade absoluta (defeito processual 
insanável) a supressão dessa garantia procedimental. 
Com a adoção do procedimento ordinário, a Súmula 
perdeu completamente seu objeto 
Portanto, não restam dúvidas que a Súmula 330 do STJ deve ser 
desconsiderada e o artigo 514 do CPP ser aplicado, inclusive, 
3 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 1000. 
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Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
para os processos precedidos de inquérito policial. Este é o 
entendimento do Supremo Tribunal Federal: 
EMENTA: (...)IV. Nulidade processual: inobservância 
do rito processualespecífico no caso de crimes 
inafiançáveis imputados a funcionários públicos. 
Necessidade de notificação prévia (CPP, art. 514). 1. É 
da jurisprudência do Supremo Tribunal (v.g. HC 73.099, 
1ª T., 3.10.95, Moreira, DJ 17.5.96) que o procedimento 
previsto nos arts. 513 e seguintes do CPP se reserva aos 
casos em que a denúncia veicula tão somente crimes 
funcionais típicos (CP, arts. 312 a 326). 2. No caso, à luz 
dos fatos descritos na denúncia, o paciente responde 
pelo delito de concussão, que configura delito funcional 
típico e o co-réu, pelo de favorecimento real (C. Penal, 
art. 349). 3. Ao julgar o HC 85.779, Gilmar, o plenário do 
Supremo Tribunal, abandonando entendimento anterior 
da jurisprudência, assentou, como obter dictum, que o 
fato de a denúncia se ter respaldado em elementos de 
informação colhidos no inquérito policial, não dispensa 
a obrigatoriedade da notificação prévia (CPP, art. 514) 
do Acusado. 4. Habeas corpus deferido, em parte, para, 
tão somente quanto ao paciente, anular o processo a 
partir da decisão que recebeu a denúncia, inclusive, a fim 
de que se obedeça ao procedimento previsto nos arts. 
514 e ss. do CPP e, em caso de novo recebimento da 
denúncia, que o seja apenas pelo delito de concussão. 
(STF – HC 89.686/SP – Rel. Min. Sepulveda Pertence. 
Dj. 17/8/2007)
Como em qualquer outra peça, é fundamental o cuidado com sua 
estrutura lógica, composta de narração dos fatos, fundamentos 
jurídicos e pedidos.
Por ser tratar de uma peça direcionada apenas ao recebimento/
rejeição da denúncia, não cabe, neste momento processual, 
adentrar na discussão de mérito, limitando-se às questões 
processuais (preliminares) que poderão ensejar a rejeição da 
Acusação. 
Para isso, além das questões acima levantadas, é preciso estar 
atento às regras de competência, para saber se a ação foi proposta 
perante o Juízo correto. Para tanto, deve-se observar o que diz 
1111
Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
nossa Constituição Federal no art. 5º, incisos XXXVII e XXXVIII, 
além do previsto no Código de Processo Penal em seus artigos 
69 a 91 (em especial o art. 74) e 394.
Deve-se, ainda, analisar a necessidade de arguir alguma das 
exceções previstas no Código de Processo Penal. Para isso, 
cumpre a verificação do disposto nos artigos 95 a 111 do CPP.
Logo após, é necessária a análise da existência de alguma nulidade 
ocorrida em todo o procedimento até então realizado, nos termos 
dos artigos 563 a 573 do CPP. 
No caso em questão, Zé da Farmácia foi denunciado pela 
suposta prática dos delitos previstos nos artigos 288 e 317 do 
Código Penal: 
Quadro 1.3 | Crimes de associação criminosa e corrupção passiva
Associação Criminosa
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim 
específico de cometer crimes. 
Pena - reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos.
Corrupção passiva
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta 
ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de 
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar 
promessa de tal vantagem.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Fonte: adaptado do Código de Processo Penal - Decreto-Lei Nº 3.689, de 3 de 
outubro de 1941. 
Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 
14 set. 2017. 
1212
Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
Dessa forma, para que possa elaborar sua defesa, torna-se 
indispensável que você, caro Advogado, também faça uma análise 
acerca dos citados tipos penais.
 Nos termos do artigo 288 do Código Penal, para a caracterização 
do delito de associação criminosa, é indispensável a associação 
(reunir-se em sociedade, agregar-se ou unir-se) de três ou mais 
pessoas, para o fim específico de cometer crimes. 
A Lei 12.850/2013 deu nova redação ao art. 288 do Código Penal, 
abolindo o antigo título do delito (quadrilha ou bando), para 
adotar a nova denominação de associação criminosa. Inseriu-
se a expressão “fim específico” apenas para sinalizar o caráter de 
estabilidade e durabilidade da referida associação, distinguindo-a 
do mero concurso de pessoas para o cometimento de um só 
delito. Quem se associa (pelo menos três agentes) para o fim 
específico de praticar crimes (no plural, o que demonstra a ideia 
de durabilidade) assim o faz de maneira permanente e indefinida, 
vale dizer, enquanto durar o intuito associativo dos integrantes4. 
Já para a configuração do crime de corrupção passiva, previsto 
no artigo 317 do CP, o agente deve solicitar (pedir ou requerer) ou 
receber (aceitar em pagamento ou simplesmente aceitar algo), 
para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora 
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem 
indevida, ou aceitar promessa (consentir em receber dádiva futura) 
de tal vantagem (pode ser qualquer lucro, ganho, privilégio ou 
benefício ilícito, ou seja, contrário ao direito, ainda que ofensivo 
apenas aos bons costumes)5. 
Tratando-se de petição a ser apresentada com o único objetivo 
de se evitar o recebimento da denúncia ou queixa, não há 
nenhum requerimento de prova a ser formulado. Estes devem ser 
realizados apenas em sede de resposta à Acusação, nos termos 
dos artigos 396-A do CPP.
⁴ NUCCI, Guilherme Souza. Manual de direito penal. 13. ed. Forense, 2017. VitalBook file. p. 971. 
⁵ NUCCI, Guilherme Souza. Manual de direito penal. 13. ed. Forense, 2017. VitalBook file. p. 1053.
1313
Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
Do processo e 
julgamento dos crimes 
de responsabilidade dos 
funcionários públicos
Arts. 513 a 518 do CPP.
Competência 
Art. 5º, incisos XXXVII e 
XXXVIII da CF/88 e arts. 69 a 
91 e 394 do CPP.
Exceções Arts. 95 a 111 do CPP.
Nulidades Arts. 563 a 573 do CPP.
Hipóteses de Rejeição da 
Denúncia
Art. 395 do CPP.
Crime de Associação 
Criminosa
Art. 288 do CP.
Crime de Corrupção Passiva Art. 317 do CP.
Fonte: elaborado pelo autor.
Por fim, com relação aos pedidos, deve-se atentar para que todas 
as teses arguidas ao longo da peça tenham seu respetivo pedido, 
sob pena de inépcia da mesma. 
No tocante à data da peça, vale analisar o disposto no art. 798 
do CPP.
Observe o quadro a seguir com uma síntese dos fundamentos 
legais: 
Quadro 1.4 | Quadro síntese
Com todos os elementos fornecidos, vocês agora já estão aptos 
a elaborar a resposta preliminar adequada à defesa de Zé da 
Farmácia? 
Mãos à obra!
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Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
PRIMEIRA FASE! 
Questão 1
Texto-base: Dispõe o artigo 514 do CPP que nos crimes de 
responsabilidade dos funcionários públicos, estando a denúncia 
ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará 
a notificação do Acusado, para responder por escrito, dentro do 
prazo de quinze dias. 
Enunciado: São crimes considerados crimes de responsabilidade 
dos funcionários públicos, EXCETO: 
a) Peculato.
b) Corrupção ativa.
c) Violação de sigilo funcional.
d) Prevaricação.
e) Concussão.
Resposta: LETRA B. 
Comentário: Os crimes de responsabilidade dos funcionários 
públicos são aqueles previstos no Código Penal nos artigos 
312 a 327. O crime de corrupção ativa está previsto no artigo 
333 e se trata de crime praticado por particular contra a 
administração pública. 
Questão 2
Texto-base: Silvia é denunciada pelo Ministério Público pela 
suposta prática do crime de estelionato. Em seguida, os autos 
vão conclusos ao Juiz para juízo de admissibilidade acerca do 
(não) recebimento da inicial. 
Enunciado: Em todas as circunstâncias abaixo, o Juiz poderá 
rejeitar a denúncia contra Silvia, EXCETO: 
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Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ 
a) Se faltar de justa causa para a ação penal.
b) Se faltar interesse de agir.
c) Se extinta a punibilidadede Silvia.
d) Se a denúncia for inepta.
e) Se faltar legitimidade ao Ministério Público.
Resposta: LETRA C. 
Comentário: Artigo 395 e 397 do CPP. 
Vamos peticionar!
Você já sabe que qualquer peça começa pelo endereçamento, 
que, obviamente, não pode estar errado.
Como em qualquer outra peça, é fundamental o cuidado com sua 
estrutura lógica, composta de narração dos fatos, fundamentos 
jurídicos e pedidos.
Com relação aos pedidos, deve-se atentar para que todas as 
teses arguidas ao longo da peça tenham seu respetivo pedido.
Lembre-se de que no Exame de Ordem você será avaliado pela 
correta indicação do foro competente, preâmbulo, qualifi cação das 
partes, fundamentação jurídica, pedidos e requerimentos, lógica e 
argumentação, além de ortografi a e gramática. Vamos peticionar?
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Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ

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