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Direito Penal SEÇÃO 2 SUA PETIÇÃO Seção 2 Direito Penal Sua causa! Olá, operadores do Direito! Não podemos deixar de lhe dar os parabéns! Afi nal, graças à sua excelente peça elaborada na primeira Seção, o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, de maneira unânime, concedeu a ordem de Habeas Corpus por você impetrada em favor do Zé da Farmácia, relaxando sua prisão, por concordar com a tese de que o fl agrante foi preparado. Assim, expedido o competente alvará de soltura, seu cliente pôde, enfi m, voltar para casa para aguardar o andamento do processo em liberdade. Entretanto, menos de uma semana após ser libertado, Zé é surpreendido pela visita de um Ofi cial de Justiça em sua casa que, após se apresentar, efetua a entrega de um documento composto de diversas páginas e o avisa que ele está notifi cado a apresentar sua defesa no prazo de 15 (quinze) dias. Zé, muito assustado, assina o recibo de entrega do documento e rapidamente vai para seu quarto ler o documento que acabara de receber. Lá, constata que, após concluídas as investigações e elaborado o relatório conclusivo pela Autoridade Policial competente, os autos do inquérito foram remetidos ao Ministério Público, que, dentro do prazo legal, ofereceu denúncia nos seguintes termos: 2 NPJ – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA VIRTUAL DIREITO PENAL - SUA PETIÇÃO - SEÇÃO 2 “Exmo. Sr. Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de Conceição do Agreste/CE O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ, por meio de seu Órgão de Execução infra-assinado, vem perante Vossa Excelência, com fulcro no art. 129, inciso I da Constituição Federal, c/c art. 41 do Código de Processo Penal, e com base no incluso Inquérito Policial, oferecer DENÚNCIA em desfavor de: JOÃO SANTOS, vulgo “João do Açougue”, (nacionalidade), (estado civil), vereador, (naturalidade), (data de nascimento), (número de identidade e cpf), residente e domiciliado à (endereço); FERNANDO CAETANO, (nacionalidade), (estado civil), vereador, (naturalidade), (data de nascimento), (número de identidade e cpf), residente e domiciliado à (endereço); MARIA DO ROSÁRIO, (nacionalidade), (estado civil), vereadora, (naturalidade), (data de nascimento), (número de identidade e cpf), residente e domiciliada à (endereço); JOSÉ PERCIVAL DA SILVA, vulgo “Zé da Farmácia”, (nacionalidade), (estado civil), vereador, (naturalidade), (data de nascimento), (número de identidade e cpf), residente e domiciliado à (endereço), pela prática do fato delituoso a seguir exposto: Em primeiro lugar, cumpre ressaltar que os denunciados, sob a liderança do Acusado José Percival da Silva (Zé da Farmácia, Presidente da Câmara dos Vereadores e liderança política do Município), valendo-se da qualidade de Vereadores do Município, se associaram, em unidade de desígnios, com o fim específico de cometer crimes. E, dentro deste propósito, no dia 3 de fevereiro de 2018, na sede da Câmara dos Vereadores desta Comarca, durante uma reunião da Comissão de Finanças e Contratos da Câmara, exigiram do Sr. Paulo Matos, empresário sócio de uma empresa interessada 33 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ em participar das contratações a serem realizadas pela Câmara de Vereadores, o pagamento de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para que sua empresa pudesse participar de um procedimento licitatório que estava agendado para o dia seguinte. Desse modo, como a mera solicitação de vantagem indevida já configura o crime de corrupção passiva, a discussão sobre a (i) legalidade da prisão em flagrante realizada é irrelevante para a configuração do delito. Ante o exposto, estão os denunciados incursos nas iras dos artigos 288 e 317, na forma do art. 69, todos do Código Penal. Pelo que requer o Ministério Público, seja recebida a presente denúncia, com a consequente citação dos réus para apresentarem defesa no prazo legal, designando-se em seguida audiência de instrução, para que ao final sejam condenados pela prática dos supracitados crimes. Apresenta-se o competente rol de testemunhas, requerendo sua intimação para oitiva em juízo: 1 - Paulo Matos, endereço. (LOCAL), (DATA) NOME DO PROMOTOR PROMOTOR DE JUSTIÇA ” Imediatamente, Zé entra em contato com você, caro aluno, para comunicar o ocorrido e solicitar que tome as medidas cabíveis para defendê-lo da forma mais adequada possível. Como é formado em Direito, apesar de não exercer qualquer função na área, Zé lhe faz os seguintes questionamentos: Essa notificação foi feita de forma correta? Seu prazo para apresentação de defesa é mesmo de 15 (quinze) dias? 44 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ ADVOGADO: Consegue responder aos questionamentos de seu cliente? O ato e o prazo estão corretos? Como deve ser elaborada esta Defesa? Quais as teses as serem arguidas? Considerando que Zé foi notifi cado em 17 de abril de 2018, date sua peça com o último dia do prazo. Fundamentando! Considerando o caso prático a você submetido e uma vez tendo sido Zé da Farmácia denunciado e notifi cado para apresentar defesa, cabe a você, caro aluno, traçar a estratégia defensiva que melhor couber ao seu cliente. Relembrando nossas aulas, sabemos que o Código de Processo Penal prevê, nos artigos 513 a 518, um procedimento especial no caso de crimes de responsabilidade dos funcionários públicos: Quadro 1.1 | Processo e julgamento dos crimes de responsabilidade CAPÍTULO II DO PROCESSO E DO JULGAMENTO DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos, cujo processo e julgamento competirão aos juízes de direito, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justifi cação que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas. 55 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do Acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias. Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do Acusado, ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar. Art. 515. No caso previsto no artigo anterior, durante o prazo concedido para a resposta, os autos permanecerão em cartório, onde poderão ser examinados pelo Acusado ou por seu defensor. Parágrafo único. A resposta poderá ser instruída com documentos e justificações. Art. 516. O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho fundamentado, se convencido, pela resposta do Acusado ou do seu defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da ação. Art. 517. Recebida a denúncia ou a queixa, será o Acusado citado, na forma estabelecida no Capítulo I, do Título X, do Livro I. Art. 518. Na instrução criminal e nos demais termos do processo, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Título I, deste Livro. Fonte: adaptado do Código de Processo Penal - Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 14 set. 2017. Tal procedimento será adotado para os crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral, previstos no Código Penal nos artigos 312 a 327. Nesses casos, antes de o Juiz realizar o juízo de admissibilidade da petição inicial (recebendo ou rejeitando a denúncia), ele deve ordenar a notificação do Acusado para que apresente uma 66 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ resposta preliminar escrita, no prazo de 15 (quinze) dias. Tudo conforme determina o artigo 514 do Código de Processo Penal.Por se tratar de processo criminal que pode vir a causar transtorno no desenvolvimento na atividade administrativa, optou o legislador por essa cautela antes de receber a denúncia e dar início ao processo. Assim, somente após a apresentação desta primeira defesa escrita é que o Juiz decide se recebe ou rejeita a inicial. Essa análise, por sua vez, é realizada nos termos do artigo 395 do CPP, que traz as hipóteses de rejeição da denúncia ou queixa. Quadro 1.2 | Hipóteses de inépcia da denúncia ou queixa Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. Fonte: adaptado do Código de Processo Penal - Decreto-Lei Nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 14 set. 2017. A denúncia ou queixa serão consideradas ineptas quando não preencherem os requisitos da petição inicial previstos no artigo 41 do CPP: Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do Acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. 77 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ A peça acusatória deverá ser apresentada contendo o máximo de informações possíveis sobre os fatos apurados. Isso tem o fim de propiciar o devido exercício da ampla defesa e do contraditório. Logo, havendo mais de um Acusado, é obrigatório que a Acusação, na petição inicial, individualize a conduta de cada um deles. Afinal, a não especificação da adequação típica de participação de cada um dos Acusados em relação ao respectivo crime, pormenorizando e subordinando sua conduta ao tipo penal, inviabiliza por completo o correto e necessário exercício defensivo do mesmo. Assim, denúncias ou queixas genéricas são ineptas. Esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal: STF: EMENTA: HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. ESTADO DE DIREITO. DIREITOS FUNDAMENTAIS. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. REQUISITOS DO ART. 41 DO CPP NÃO PREENCHIDOS. 1 - A técnica da denúncia (art. 41 do Código de Processo Penal) tem merecido reflexão no plano da dogmática constitucional, associada especialmente ao direito de defesa. Precedentes. 2 - Denúncias genéricas, que não descrevem os fatos na sua devida conformação, não se coadunam com os postulados básicos do Estado de Direito. 3 - Violação ao princípio da dignidade da pessoa humana. Não é difícil perceber os danos que a mera existência de uma ação penal impõe ao indivíduo. Necessidade de rigor e prudência daqueles que têm o poder de iniciativa nas ações penais e daqueles que podem decidir sobre o seu curso. 4 - Ordem deferida, por maioria, para trancar a ação penal. (HC 84409, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 14/12/2004, DJ 19-08-2005 PP-00057 EMENT VOL-02201-2 PP-00290 RTJ VOL-00195-01 PP-00126). Já as condições da ação penal são a legitimidade da parte; o interesse de agir; a possibilidade jurídica do pedido e a justa causa. 88 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ Esta última, específica do processo penal, constitui uma condição de garantia contra o uso abusivo do direito de acusar, identificando-se como uma causa jurídica e fática que legitima e justifica a Acusação e a própria intervenção penal. Caracteriza-se por dois fatores: a existência de indícios suficientes de autoria e materialidade1. Portanto, deve a petição inicial trazer elementos probatórios mínimos que justifiquem a admissão do processo. A Acusação não pode, tendo em vista a inegável existência de penas processuais, ser leviana e despida de um suporte probatório suficiente para justificar o imenso constrangimento que representa a assunção da condição de réu2. Caso esses elementos sejam insuficientes para justificar a abertura de um processo, o juiz deverá rejeitar a Acusação. Tudo conforme prevê o artigo 395, III do CPP. Por outro lado, após a apresentação da resposta preliminar, não sendo inepta a petição inicial e estando presentes todas as condições da ação, a Acusação deverá ser recebida e o procedimento passa a seguir o rito ordinário, nos termos do artigo 518 do CPP. Desse modo, as fases do procedimento especial de crimes de responsabilidade dos funcionários públicos podem ser assim descritas: i) Oferecimento da Denúncia – ii) Notificação do Acusado para apresentação de Resposta Preliminar – iii) Apresentação da peça defensiva, nos termos do art. 514 do CPP – iv) Decisão judicial sobre o recebimento/rejeição da inicial – v) Havendo recebimento, o réu é citado para apresentação de Resposta à Acusação, nos termos do art. 396 do CPP – vi) Apresentada a Resposta à Acusação, o processo volta ao Juiz para ele decidir se absolve sumariamente o réu, de acordo com o art. 397 do CPP – vii) Não sendo de caso de se absolver sumariamente o réu, deve o Juiz designar audiência de instrução e julgamento, nos termos do art. 399, 400 e seguinte do CPP. 1 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 400. 2 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 402. 99 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ Por fim, uma última observação deve ser feita acerca deste procedimento especial. Dispõe a Súmula 330 do Superior Tribunal de Justiça, que “é desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514, do Código de Processo Penal, na ação penal instruída por inquérito policial”. Tal súmula foi editada a partir de uma interpretação equivocada do art. 513 do CPP, que sustenta que “a denúncia será instruída com documentos ou justificação que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas”. Entretanto, não restam dúvidas de que tal dispositivo sustenta, apenas, que a denúncia pode ser oferecida sem prévio inquérito policial (o que é óbvio, diante da facultatividade deste), desde que existam documentos que o supram. Ensina Aury Lopes Júnior3: Historicamente, o art. 513 é um erro. Como explica Frederico Marques, referido dispositivo não passa de reprodução daquilo que dispunha o Código de Processo Criminal de 1832, mas com um importante detalhe: naquela época (1832) não se admitia inquérito policial para crimes funcionais. Daí porque, como conclui o autor, é incompreensível que os autores do Código de Processo Penal vigente não tenham atentado para isso, inserindo uma norma obsoleta como a do art. 513 (que até em “justificação” fala), sem nenhum propósito. Agora, pretender justificar, a partir desse imbróglio, que a resposta preliminar do art. 514 é desnecessária quando a denúncia tiver por base um inquérito policial, como afirma a Súmula n. 330 do STJ, é um disparate. Com inquérito ou sem ele, pensamos que a resposta preliminar (nos termos do art. 396) é necessária e constitui uma nulidade absoluta (defeito processual insanável) a supressão dessa garantia procedimental. Com a adoção do procedimento ordinário, a Súmula perdeu completamente seu objeto Portanto, não restam dúvidas que a Súmula 330 do STJ deve ser desconsiderada e o artigo 514 do CPP ser aplicado, inclusive, 3 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 1000. 1010 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ para os processos precedidos de inquérito policial. Este é o entendimento do Supremo Tribunal Federal: EMENTA: (...)IV. Nulidade processual: inobservância do rito processualespecífico no caso de crimes inafiançáveis imputados a funcionários públicos. Necessidade de notificação prévia (CPP, art. 514). 1. É da jurisprudência do Supremo Tribunal (v.g. HC 73.099, 1ª T., 3.10.95, Moreira, DJ 17.5.96) que o procedimento previsto nos arts. 513 e seguintes do CPP se reserva aos casos em que a denúncia veicula tão somente crimes funcionais típicos (CP, arts. 312 a 326). 2. No caso, à luz dos fatos descritos na denúncia, o paciente responde pelo delito de concussão, que configura delito funcional típico e o co-réu, pelo de favorecimento real (C. Penal, art. 349). 3. Ao julgar o HC 85.779, Gilmar, o plenário do Supremo Tribunal, abandonando entendimento anterior da jurisprudência, assentou, como obter dictum, que o fato de a denúncia se ter respaldado em elementos de informação colhidos no inquérito policial, não dispensa a obrigatoriedade da notificação prévia (CPP, art. 514) do Acusado. 4. Habeas corpus deferido, em parte, para, tão somente quanto ao paciente, anular o processo a partir da decisão que recebeu a denúncia, inclusive, a fim de que se obedeça ao procedimento previsto nos arts. 514 e ss. do CPP e, em caso de novo recebimento da denúncia, que o seja apenas pelo delito de concussão. (STF – HC 89.686/SP – Rel. Min. Sepulveda Pertence. Dj. 17/8/2007) Como em qualquer outra peça, é fundamental o cuidado com sua estrutura lógica, composta de narração dos fatos, fundamentos jurídicos e pedidos. Por ser tratar de uma peça direcionada apenas ao recebimento/ rejeição da denúncia, não cabe, neste momento processual, adentrar na discussão de mérito, limitando-se às questões processuais (preliminares) que poderão ensejar a rejeição da Acusação. Para isso, além das questões acima levantadas, é preciso estar atento às regras de competência, para saber se a ação foi proposta perante o Juízo correto. Para tanto, deve-se observar o que diz 1111 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ nossa Constituição Federal no art. 5º, incisos XXXVII e XXXVIII, além do previsto no Código de Processo Penal em seus artigos 69 a 91 (em especial o art. 74) e 394. Deve-se, ainda, analisar a necessidade de arguir alguma das exceções previstas no Código de Processo Penal. Para isso, cumpre a verificação do disposto nos artigos 95 a 111 do CPP. Logo após, é necessária a análise da existência de alguma nulidade ocorrida em todo o procedimento até então realizado, nos termos dos artigos 563 a 573 do CPP. No caso em questão, Zé da Farmácia foi denunciado pela suposta prática dos delitos previstos nos artigos 288 e 317 do Código Penal: Quadro 1.3 | Crimes de associação criminosa e corrupção passiva Associação Criminosa Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes. Pena - reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos. Corrupção passiva Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Fonte: adaptado do Código de Processo Penal - Decreto-Lei Nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 14 set. 2017. 1212 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ Dessa forma, para que possa elaborar sua defesa, torna-se indispensável que você, caro Advogado, também faça uma análise acerca dos citados tipos penais. Nos termos do artigo 288 do Código Penal, para a caracterização do delito de associação criminosa, é indispensável a associação (reunir-se em sociedade, agregar-se ou unir-se) de três ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes. A Lei 12.850/2013 deu nova redação ao art. 288 do Código Penal, abolindo o antigo título do delito (quadrilha ou bando), para adotar a nova denominação de associação criminosa. Inseriu- se a expressão “fim específico” apenas para sinalizar o caráter de estabilidade e durabilidade da referida associação, distinguindo-a do mero concurso de pessoas para o cometimento de um só delito. Quem se associa (pelo menos três agentes) para o fim específico de praticar crimes (no plural, o que demonstra a ideia de durabilidade) assim o faz de maneira permanente e indefinida, vale dizer, enquanto durar o intuito associativo dos integrantes4. Já para a configuração do crime de corrupção passiva, previsto no artigo 317 do CP, o agente deve solicitar (pedir ou requerer) ou receber (aceitar em pagamento ou simplesmente aceitar algo), para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa (consentir em receber dádiva futura) de tal vantagem (pode ser qualquer lucro, ganho, privilégio ou benefício ilícito, ou seja, contrário ao direito, ainda que ofensivo apenas aos bons costumes)5. Tratando-se de petição a ser apresentada com o único objetivo de se evitar o recebimento da denúncia ou queixa, não há nenhum requerimento de prova a ser formulado. Estes devem ser realizados apenas em sede de resposta à Acusação, nos termos dos artigos 396-A do CPP. ⁴ NUCCI, Guilherme Souza. Manual de direito penal. 13. ed. Forense, 2017. VitalBook file. p. 971. ⁵ NUCCI, Guilherme Souza. Manual de direito penal. 13. ed. Forense, 2017. VitalBook file. p. 1053. 1313 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ Do processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos Arts. 513 a 518 do CPP. Competência Art. 5º, incisos XXXVII e XXXVIII da CF/88 e arts. 69 a 91 e 394 do CPP. Exceções Arts. 95 a 111 do CPP. Nulidades Arts. 563 a 573 do CPP. Hipóteses de Rejeição da Denúncia Art. 395 do CPP. Crime de Associação Criminosa Art. 288 do CP. Crime de Corrupção Passiva Art. 317 do CP. Fonte: elaborado pelo autor. Por fim, com relação aos pedidos, deve-se atentar para que todas as teses arguidas ao longo da peça tenham seu respetivo pedido, sob pena de inépcia da mesma. No tocante à data da peça, vale analisar o disposto no art. 798 do CPP. Observe o quadro a seguir com uma síntese dos fundamentos legais: Quadro 1.4 | Quadro síntese Com todos os elementos fornecidos, vocês agora já estão aptos a elaborar a resposta preliminar adequada à defesa de Zé da Farmácia? Mãos à obra! 1414 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ PRIMEIRA FASE! Questão 1 Texto-base: Dispõe o artigo 514 do CPP que nos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do Acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias. Enunciado: São crimes considerados crimes de responsabilidade dos funcionários públicos, EXCETO: a) Peculato. b) Corrupção ativa. c) Violação de sigilo funcional. d) Prevaricação. e) Concussão. Resposta: LETRA B. Comentário: Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos são aqueles previstos no Código Penal nos artigos 312 a 327. O crime de corrupção ativa está previsto no artigo 333 e se trata de crime praticado por particular contra a administração pública. Questão 2 Texto-base: Silvia é denunciada pelo Ministério Público pela suposta prática do crime de estelionato. Em seguida, os autos vão conclusos ao Juiz para juízo de admissibilidade acerca do (não) recebimento da inicial. Enunciado: Em todas as circunstâncias abaixo, o Juiz poderá rejeitar a denúncia contra Silvia, EXCETO: 1515 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ a) Se faltar de justa causa para a ação penal. b) Se faltar interesse de agir. c) Se extinta a punibilidadede Silvia. d) Se a denúncia for inepta. e) Se faltar legitimidade ao Ministério Público. Resposta: LETRA C. Comentário: Artigo 395 e 397 do CPP. Vamos peticionar! Você já sabe que qualquer peça começa pelo endereçamento, que, obviamente, não pode estar errado. Como em qualquer outra peça, é fundamental o cuidado com sua estrutura lógica, composta de narração dos fatos, fundamentos jurídicos e pedidos. Com relação aos pedidos, deve-se atentar para que todas as teses arguidas ao longo da peça tenham seu respetivo pedido. Lembre-se de que no Exame de Ordem você será avaliado pela correta indicação do foro competente, preâmbulo, qualifi cação das partes, fundamentação jurídica, pedidos e requerimentos, lógica e argumentação, além de ortografi a e gramática. Vamos peticionar? 161616 Direito Penal - Sua petição - Seção 2NPJ
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