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INFOGRAFIA EM JORNALISMO imagem e significado Patrícia Sá Rêgo ● UVA ● Twitter: @patisa ● Instagram: Patrícia Sá IMAGEM É LINGUAGEM? “Tão pouco muitos jornalistas ou editores saberiam responder com precisão a uma pergunta deste tipo. Para eles uma foto é aquilo que faz o fotógrafo ou, quando muito, uma 《reportagem gráfica》; e um mapa é uma ilustração, desenhada por um artista.” Peltzer, 1991, p.19 Maratona de Berlim, 2013 ● Fotos: Patrícia Sá Hungria Alemanha Portugal República Checa IMAGEM É LINGUAGEM “As imagens estão - a seu modo e em muitos casos - mais perto das ideias que as palavras.” Gonzalo Peltzer Reprodução de página do Google na Internet “LEMOS” IMAGENS As placas de sinalização nos informam, nos orientam. Temos uma habilidade humana antiga: a de interpretar e manipular mensagens visuais. Pintura rupestre na Serra da Capivara ● Fonte: Parque Nacional Serra da Capivara NO PRINCÍPIO, ERA A IMAGEM As pinturas rupestres seriam provas de que a informação gráfica faz parte da cultura visual do homem desde os tempos das cavernas. HÁ 2,5 MILHÕES DE ANOS... Embora haja dúvidas sobre o significado e a função das pinturas rupestres, o homem já encarava a pintura como algo dotado de um sentido especial. CULTURA VISUAL (VISUALIDADE) Capacidade do homem de perceber uma imagem e se comunicar por meio de códigos visuais. Trata-se de um processo complexo que envolve aspectos biológicos e culturais. MAGIA DA IMAGEM O CÉREBRO RE-CONHECE “É aí que se realiza a plenitude do processo visual. A imagem toma significado ao entrar em contato com coisas antes vistas e arquivadas na memória (...)”. Silva, 1985, p.22 CULTURA VISUAL Também é chamada de alfabetismo visual, porque ela depende de um aprendizado. PERCEPÇÃO VISUAL “(...) percepção não é um processo fotográfico. Ao contrário, é uma operação que consiste em reunir e ajustar as informações visuais e compará-las com o vasto mosaico de nossas imagens mentais.” Silva, 1985, p.23 “A visualidade ou cultura visual pode ser, então, a capacidade de comunicar através dos códigos visuais, apreendidos e ensinados desde o nascimento. Como todos os códigos e como toda a educação, admite uma infinidade de graus e, apesar de serem mais universais que os códigos linguísticos, não são todos iguais para todas as pessoas.” Peltzer, 1991, p.32 CÃO PALAVRA E SIGNIFICADO “Nós, homens, entendemos a palavra cão e o seu significado, mesmo quando vemos cães tão notoriamente diferentes. O cão é um animal comum. A sua essência é código de significação para todos os homens que em castelhano lhe chamam perro, em francês chien, em inglês dog, mas todos eles possuem intelectualmente a essência de cão e desenharão cães muito parecidos se lhes for pedido que o façam nas mesmas condições. (...)” Peltzer, 1991, p.35 Reprodução da Internet A ABSTRAÇÃO Enquanto imita ou tenta representar a realidade particular, o desenho pode ser comparado com a fotografia; contudo, esse mesmo desenho pode atingir um grau de abstração - mesmo que seja o mais realista e particular possível - muito superior à de uma imagem fotográfica que tente substituir ou imitar. A ABSTRAÇÃO Os códigos icônicos de ambas as linguagens visuais, desenho e fotografia, têm como diferença fundamental precisamente o nível da sua abstração. E o nível de abstração incide diretamente no conhecimento humano. Pode-se estabelecer na linguagem visual uma clara distinção entre os códigos particularizadores e os universalizantes. PARTICULAR E UNIVERSAL CÓDIGOS PARTICULARIZADORES A fotografia é um código, uma linguagem (como sistema de códigos) particularizadora, singularizante. A fotografia é espelho, sombra, marca que representa de um modo visual a realidade singular (o universal e as essências também pertencem ao mundo real). Em contrapartida, a linguagem visual gráfica ou iconográfica implica habitualmente abstração, mesmo quando se apresente em termos de hiper-realismo. Uma imagem icônica tende sempre para a abstração por ser um modo de expressão que busca a realidade dos códigos universais. Reprodução da Internet O SINGULAR E O UNIVERSAL Quando se faz uma foto que represente o universal cavalo, pode-se procurar o cavalo típico, mas nunca deixará de ser a imagem desse cavalo determinado. O SINGULAR E O UNIVERSAL Ao desenhar um cavalo, nossas mãos tocarão de mais perto o universal cavalo arquivado na nossa mente. Pode-se estabelecer uma diferença entre a iconografia de coisas artificiais (feitas pelo homem) e as naturais. ARTIFICIAL E NATURAL Há um modelo específico, anterior à própria existência da coisa, que podemos chamar protótipo. DAS COISAS ARTIFICIAIS DAS COISAS ARTIFICIAIS Pode-se dizer que a mente humana pode abarcar a totalidade do automóvel, por exemplo, já que o automóvel é uma criação do homem e o homem pode esgotar a essência do automóvel. Não têm propriamente um modelo tipo; a sua iconografia é posterior à sua existência. DAS COISAS NATURAIS Dificuldade em nos aproximarmos das essências é evidentemente maior e de esmerar-se, para a sua compreensão, a analogia ou semelhança com o signo que a represente. DAS COISAS NATURAIS Fonte: Revista Época O desenho é capaz de mostrar o avião concreto acidentado (a partir de uma foto, por exemplo), se se julgar mais adequado dar a informação dessa maneira. Fonte: Zero Hora Pode também exprimir o modelo (planos da fábrica) para explicar as causas do acidente, ou mostrar uma abstração total do conceito helicóptero num esquema em que apareça o trajeto até ao local do sinistro. Mas um desenho pode igualmente mostrar o monstro do lago Ness, um possível extraterrestre, um centauro ou um fato que ocorreu sem deixar qualquer rastro fotográfico, como uma batalha. É a mesma abstração que permite ao desenho superar a natureza e suas leis (algo que a fotografia não pode fazer), mostrando a um só golpe todos os passos de um processo, o interior de um corpo opaco ou um ser imaginário. Fonte: Folha de S.Paulo Continuando... EM RESUMO O nível de abstração é a diferença fundamental entre os códigos icônicos do desenho e da fotografia. EM RESUMO A fotografia é um código particularizador, enquanto o desenho tende sempre para o universal. EM RESUMO Sobre a iconografia, há um protótipo da coisa artificial, enquanto na coisa natural, a iconografia é posterior. O CONHECIMENTO A imaginação e a memória são suficientes para organizar as sensações externas a partir da experiência organizada pelos sentidos internos, relacionando umas com as outras, universalizando, particularizando, abstraindo. A analogia (relação de semelhança) tem um papel preponderante neste processo. Deve-se distinguir entre sensações e percepções. A sensação é produzida pelos sensíveis próprios - intervém um só dos sentidos externos (cores, a vista; sons, o ouvido; cheiros, o olfato) - e sensíveis comuns, que envolvem dois ou mais sentidos externos (movimento, repouso, número, figura e magnitude). Já a percepção provém da sensibilidade interna. O objeto da percepção não são, por isso, as qualidades sensíveis nem as sensações das coisas concretas, mas os valores e conceitos abstratos. Sensação percebida pela vista: as cores, as formas. Percepção dos sentidos internos: perigo. Captar valores, para lá do agrado ou desagrado como sensações, é perceber qualidades não sensíveis, abstratas. Signo iconográfico pode ser uma abstração analógica desenhada. Estas condições distinguem o ícone de outras formas de expressão gráficae, também, de outras abstrações gráficas. A analogia com a realidade é própria do signo iconográfico e, portanto, a sua condição de signo autossignificante. Reconhecer uma imagem é certamente um processo complexo que põe em jogo muitas faculdades humanas, tanto inatas como adquiridas, e supõe no sujeito o acesso ao âmbito do publicamente interpretado. Um ícone é uma imagem reconhecível, quer este reconhecimento provenha da analogia chamada natural, quer seja estabelecida por uma convenção ou analogia convencional. A convenção é a própria analogia, com tudo o que esta afirmação supõe quanto à cultura visual, estereótipos, educação, instinto, etc., de cada homem, das comunidades culturais ou de toda a humanidade.” Uma imagem vale por mil palavras? TEXTO OU IMAGEM? “Numa competição entre ambas as linguagens - a linguística e a visual -, ganharia a mais adequada à mensagem, se a conhecer e a souber utilizar.” Peltzer, 1991, p.54 “Não existirá uma língua universal - nem sequer iconográfica - enquanto os conceitos universais, fruto da abstração, não forem iguais para todos, e isto é improvável que aconteça, pelo menos neste mundo.” Peltzer, 1991, p.54 “Assim como as letras de um alfabeto correspondem a sons (fonemas), as imagens correspondem a ideias.” Peltzer, 1991, p.71 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO A comunicação acontece a partir de uma mensagem transmitida do emissor para o receptor, por um determinado canal, um meio. PROCESSO DE COMUNICAÇÃO “O receptor organizará essa informação de acordo com os seus códigos, ou com a sua capacidade de ler, de interpretar as linguagens.” Razão do fracasso das tentativas de sistematização transliguística da linguagem visual - uma linguagem escrita (desenhada) em diferentes línguas visuais - estará nas diversas categorias e níveis de abstração dos conceitos pelas diferentes culturas e línguas que as exprimem com maior adequação. Peltzer, 1991, p.78 “As linguagens como expressão dos pensamentos estão ligadas a conceitos e nem todos os conceitos são iguais em todas as culturas.” Peltzer, 1991, p.78 “Contudo, pode-se dizer que existe uma linguagem visual que transcende as culturas em certo tipo de mensagens, como os cartazes indicadores dos aeroportos, dos hotéis, das estradas, etc., embora também neles se encontre uma importante dose de convenção já estabelecida para as pessoas de um nível de cultura determinado.” Peltzer, 1991, p.78 “O QUE VOCÊS PENSAM SOBRE ISSO?” Autor da publicação no Facebook, o jornalista Johan Slattavik disse que queria ver como a percepção de uma imagem pode ser influenciada pelos comentários de outras pessoas. jogo das imagens “A prova de que existe linguagem e, portanto, sistema, nos modos visuais de expressão, é dada pelo próprio fato de que nem todos entendemos exatamente o mesmo dos mesmos signos (imagens)... ...cada um interpreta a mensagem de acordo com as suas experiências, estereótipos, sintaxe visual ou, resumindo, a sua cultura visual.” Peltzer, 1991, p.81 chaves do jornalismo iconográfico Como vimos, “a habilidade para desenhar existiu desde os tempos mais antigos, certamente antes de alguém conseguir escrever.” Peter Sullivan (1988, apud Peltzer, 1991, p.81) A linguagem visual, a língua, a fala e a escrita são sistemas de signos completamente diferentes. Linguagem visual -> visual Língua -> lógico Fala -> fonético Escrita -> linguístico Peltzer, 1991, p.98 A lembrança da ideia leão põe na minha cabeça a imagem do leão. Posso tentar desenhá-lo para comunicar o que vi a outra pessoa. Ou posso dizer a palavra leão: um conjunto de fonemas que unidos significam esse animal. Também posso escrever as letras que correspondem a esses fonemas, unidos para significar o referente leão (escrita fonética). Ou posso desenhar o ideograma - se soubesse fazê-lo - para comunicar a um chinês o conceito leão (escrita ideográfica). Como nas imagens das cavernas, também podemos encontrar linguagem visual, e verdadeiras mensagens para nós próprios, em tantas expressões da cultura que se realizaram com o propósito claro de emitir essas mensagens visuais. Capela Sistina, cujo afresco foi pintado por Michelangelo por volta de 1511 O papa Júlio II convenceu Michelangelo sobre o objetivo do afresco: relatar os mistérios cristãos a uma audiência muitas vezes analfabeta, que nunca leu a Bíblia e a quem é necessário dar uma mensagem visual da história sagrada. Donis Dondis (1986, apud Peltzer, 1991, p.99) O propósito do papa cumpriu-se junto dos que eram inicialmente peregrinos italianos e da Europa cristã… … e continua a cumprir-se nos nossos dias com milhares de turistas que, com mil idiomas e crenças, se aproximam, por meio dessas obras, da história sagrada. O interesse de artistas pelo como e não apenas pelo o quê também teve grande impacto na linguagem visual. Como nas imagens de Leonardo da Vinci sobre a anatomia humana, por exemplo. Também houve tentativas esperânticas na história da linguagem visual. O filósofo e matemático alemão Wilhelm von Leibnitz supunha que um dia existiria um sistema universal de signos visuais não linguísticos que se poderia ler em todos os idiomas, sem necessidade de tradução. O austríaco Otto Neurath foi o primeiro a tentar criar um sistema universal de significações visuais, na década de 1930. Ele criou o isotipo. Em inglês, ISOTYPE (International System of Typographic Picture Education). O isotipo teve grande influência na linguagem dos símbolos e pictogramas. O australiano Charles Bliss registrou a patente da sua semantografia, um alfabeto em pictogramas, em 1949. Ambos fracassaram como sistemas universais de signos. E no jornalismo? Códigos visuais se aplicam também às mensagens jornalísticas visuais. Afinal de contas, não temos dúvidas de que a imagem publicada em um jornal é linguagem. A história do jornalismo visual também é a história das tecnologias que tornaram possível o visual como linguagem informativa. Considera-se quatro grandes avanços tecnológicos relacionados com o visual nos meios de comunicação pública: a gravura, a fotomecânica, o cabo e a digitalização. GRAVURA A tecnologia de tipos móveis criada por Gutenberg no século XV não permitia a impressão de imagens. No entanto, o uso de pranchas de madeira com a imagem gravada permitiu a impressão de jornais com ilustrações, em meados do século XVII. FOTOMECÂNICA E TELÉGRAFO A fotomecânica impulsionou a linguagem jornalística visual ao conseguir imprimir imagens por meio de um processo químico com técnicas fotográficas. O telefoto permitiu a transmissão de imagem por meio de impulsos eletromagnéticos pela linha telefônica. Na primeira página do jornal, uma fotografia transmitida por telefoto. CABO E ANTENA Ao ser possível enviar fotografias por cabo ou ondas hertzianas, os serviços de notícia começaram a enviar fotografias das suas imagens e mapas, convertendo a linguagem jornalística visual em algo veloz. DIGITALIZAÇÃO A digitalização permitiu o uso generalizado, pela imprensa, da linguagem visual. DÚVIDAS? REFERÊNCIAS PELTZER, Gonzalo. Jornalismo Iconográfico. Lisboa: Planeta, 1991. SILVA, R. S. Diagramação: o planejamento visual gráfico na comunicação impressa. São Paulo: Summus, 1985. TEIXEIRA, Tattiana. Infografia e Jornalismo – Conceito, análises e perspectivas. Salvador: EDUFBA, 2010. (Disponível na web).
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