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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO COMPONENTE CURRICULAR: DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO PROFESSOR: DR. HUGO CÉSAR GUSMÃO ALUNA: BEATRIZ CUNHA ALVES MATRÍCULA: 161220010 ANÁLISE TEÓRICA DOS FILMES “NO” (2012) E “BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE” (2012) SOB A PERSPECTIVA DO PODER E DO PROCESSO CONSTITUINTE CAMPINA GRANDE – PB 2017 2 Esta presente análise crítica, a qual possui o intuito de correlacionar a conceituação do Poder Constituinte com os filmes “No” (dirigido por Pablo Larrain – 2012) e “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (dirigido por Christopher Nolan – 2012), requer uma introdução teórica prévia acerca da dinâmica do processo constituinte abordado neste estudo. Sabe-se, dessa forma, que o veículo do Poder Constituinte são as revoluções, sob a natureza política e jurídica das decisões fundamentais capazes de criar ou impor, de modo original, uma nova ordem constitucional. Essa vontade, cuja força tem capacidade de decidir sobre os modos e as formas da própria existência política, é o que BARACHO (1981) teoriza como “Poder Constituinte”. Nessa perspectiva, com a base teórica para compreensão a respeito do processo constituinte, é possível observar a aplicação deste conceito, de fato, na temática abordada no filme “No”, o qual está inserido no contexto histórico do Chile em 1988, das pressões internacionais que ensejaram na convocação de um plebiscito para que a população votasse “sim” ou “não” para a permanência do General Augusto Pinochet por mais 8 anos no poder. Durante um mês, a televisão deveria transmitir, sob a forma de marketing político, duas campanhas distintas: “SI”, a favor da permanência ditatorial e “NO”, a favor da democracia. O personagem principal, René Saavedra, que trabalha em agências publicitárias, é convidado pela esquerda a participar da campanha do “NO” e, assim, ele produz um material baseado na esperança alegre da democracia, longe da opressão e do sofrimento causado pela ditadura. O início desse processo revolucionário pode ser diretamente relacionado ao elemento dionisíaco do “momento constituinte”. Há, nessa condição histórica, a ruptura político-social impactante imprevisível, um fenômeno condicionado à urgente reflexão das mudanças da experiência política retratada no filme. Não obstante, o governo chileno demonstrava acreditar veemente no fracasso da campanha de oposição, assumindo impossível haver uma unidade política estrategista de disputa com base na suposição de que ninguém assistiria aos programas ou que Pinochet já havia ganho o reverendo. Ainda assim, a agressividade do governo é explicitada através de ameaças, perseguições e manipulação ideológica quando nota-se uma mudança na conjuntura da opinião popular. 3 Nesse contexto, é notório o medo do autoritarismo que permeava todo o país e, embora existisse a grande vontade de mudança, a pesada repressão eximia a vontade de muitas pessoas de ir às ruas lutar pelo fim da ditadura. É possível identificar esta justificativa na abordagem teórica de Locke no que se refere à soberania que, para ele, deve se situar no povo e não no Poder Legislativo, embasando também o direito de resistência que inaugura uma nova etapa para o Chile. No filme “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, também é possível identificar o fenômeno do momento constituinte ocorrido na cidade de Gotham, e é cabível tornar a citar o aspecto da soberania do povo, pois é nele que está o fundamento do poder. O enredo do filme é voltado para o núcleo em que o vilão, Bane, ascende no controle da cidade e consegue a transformar em uma cidade-Estado isolada: prende a maioria dos policiais civis no subsolo dos esgotos urbanos, causa explosões em todas as conexões da cidade, segregando-a do contato externo e ameaçando-a com uma bomba nuclear. A conquista de poder por parte de Bane acontece aliado com uma grande ofensiva político-ideológica. Com um pensamento análogo a Robin Hood, há a condenação dos ricos e abastados, com a promessa de “devolver o poder ao povo”, convencer às pessoas a “tomarem a cidade de volta” e “derrubar as elites sociais”. Por isso, é imprescindível evidenciar que a conjuntura sociopolítica de Gotham pode ser analisada sob da relação entre sociedade, Estado e poder. O fim do Estado consiste na justificativa para a existência do poder estatal, sobretudo daquele que cria as normas jurídicas, ou seja, que legitima o seu exercício. Nessa perspectiva, o direito atua como fonte de regulação da relação entre indivíduo e sociedade/Estado e, partindo da premissa de que na Constituição há os fins do Estado Democrático de Direito, bem como a legitimidade e a legalidade, seria ideal que as ações do Estado estejam de acordo com a vontade de seu povo. Assim, a ideia de “poder do povo” reverbera em julgamentos e execuções dos ricos, crime nas ruas e terror popular. Quando Bruce Wayne consegue fugir da prisão em que foi colocado, retorna a Gotham como Batman para desarmar a bomba nuclear antes que ela exploda. Posto que o poder autêntico do povo e os próprios movimentos “reais” de emancipação radical 4 trouxeram consequências exorbitas com horror violento, cabe a reflexão sobre a soberania da nação. A sujeição do poder político ao aspecto jurídico, neutralizando o âmbito absoluto da noção de soberania, é a essência deste paradigma: como o poder nas mãos do povo poderia ter se tornado algo extremamente negativo? O filme evidencia que a criminalidade não consegue ser revertida pelo poder público, principalmente, devido à corrupção das instituições políticas. Assim, Gotham torna-se uma cidade em pleno caos, demarcada pela crise de desigualdade em diversos aspectos: social, político, econômico, etc. Diante desse cenário, marcado pela ruína do Estado, abrem-se lacunas para o surgimento de poder não-institucionalizados, cujas fontes não são legais. Encontram-se socialmente ineficazes, decorrente da decadência do ordenamento jurídico e do falho exercício do poder de punir pelo Estado e, portanto, trata-se de um poder não jurídico, indesejado, ilegal, cercado pela revolução momentânea que emerge as características de poder constituinte. Sendo assim, o poder constituinte é um poder de fato e encontra-se vinculado à realidade efetiva da vida social em determinado espaço. Sob este panorama, dizer que é um poder de fato equivale a dizer que um poder político e, se não há Estado, não há Direito. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria Geral do Poder Constituinte. Revista Brasileira de Estudos Políticos. UFMG, 1981. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. Malheiros Editores, 9. Ed. GUSMÃO, Hugo César Araújo de. Leituras complementares de direito constitucional: teoria do Estado. A Posse Ad Esse: Uma análise dos pressupostos histórico-conceituais do poder constituinte enquanto fato político e categoria científica. Cap. IV. Editora JusPodivm, 2009.
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