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Prévia do material em texto

832 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
17. "e". 
18. "d". 
19. "b". 
20. "d". 
21. "c". 
22. "c". 
23. "c". 
24. "a". 
25. "e". 
LIVRO X 
DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E DOS MEIOS DE 
IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS 
1 
DISPOSIÇÕES GERAIS 
•1. INTRODUÇÃO 
O CPC dedica o Livro III da Parte Especial aos processos nos tribunais e aos 
meios de impugnação das decisões judiciais. No Livro I e II da Parte Especial, são 
abordados os dois tipos de processo, o de conhecimento e o de execução. O Livro 
III trata dos processos nos tribunais, sejam aqueles de sua competência originá-
ria, sejam aqueles que, iniciados em primeiro grau de jurisdição, encontram-se em 
fase de recurso. O livro contém dois títulos. O primeiro cuida da ordem dos pro-
cessos no tribunal e de alguns processos de competência originária; e o segundo, 
dos recursos·. O Título I inicia-se com um capítulo que contém disposições gerais 
sobre jurisprudência, sua força vinculante (art. 927) e a necessidade de que 
seja mantida estável, íntegra e coerente. Essas disposições serão examinadas no 
item seguinte. 
• 2. A JURISPRUDÊNCIA 
A adesão do nosso sistema ao da civillaw, e não ao da common law, e a questão 
da jurisprudência como fonte do direito já foram amplamente examinadas no Livro 
I, Capítulo 2, itens 4.3, 4.4 e, sobretudo, 5, para os quais se remete o leitor. O CPC 
reiterou a adesão ao sistema da civillaw, mas manifestou grande preocupação com a 
uniformidade e a estabilidade da jurisprudência, já que a proliferação de decisões 
judiciais divergentes a respeito da mesma questão jurídica pode prejudicar a isono-
mia e a segurança jurídica. A solução encontrada para evitar o problema foi deter-
minar aos tribunais que uniformizem a sua jurisprudência e a mantenham estável, 
íntegra e coerente. Não há mais, no CPC atual, o incidente de uniformização de ju-
risprudência, previsto nos arts. 476 e ss. da lei anterior. No entanto, a atual cria diver-
sas regras e mecanismos cuja finalidade é uniformizar a jurisprudência dos tribunais 
e torná-la íntegra e coerente. Entre as regras, está a que determina que a) juízes e 
--- --tribunais observem a jurisprudência nos casos do art. 927 do-CPC.-Entre-os 
mecanismos, destacam-se: o b) incidente de assunção de competência, tratado nos 
arts. 947 e ss., por meio do qual o julgamento de recurso, de remessa necessária ou 
de processo de competência originária, que envolva questão de direito com grande 
repercussão social, pode ser atribuído a órgão êolegiado, evitando-se a decisão pro-
ferida por órgãos fracionários, com risco de resultados conflitantes; e, sobretudo, c) 
o incidente de resolução de demandas repetitivas, que visa evitar resultados 
836 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
conflitantes, ao atribuir ao órgão colegiado do tribunal, indicado pelo regimento in-
terno, o julgamento de demandas repetitivas, isto é, que versem sobre a mesma ques-
tão jurídica, tendo a decisão desse órgão eficácia vinculante. A mesma finalidade, 
entre outras, tem o d) julgamento dos recursos repetitivos. A força da jurisprudên-
cia evidencia-se, ainda, em dispositivos esparsos do CPC, e) ·como o art. 332, que 
permite ao juiz de primeiro grau julgar liminarmente improcedente a pretensão 
que violar súmula do STF ou STJ, acórdão por eles proferidos em recurso repetitivo, 
entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou assun-
ção de competência, ou ainda enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direi-
to local; f) ou no poder do relator, de julgar monocraticamente o recurso, quando 
a respeito da questão jurídica nele debatida houver súmula do STF ou STJ ou do 
próprio tribunal, ou acórdão proferido no julgamento de recursos repetitivos pelo 
STF ou STJ, ou ainda entendimento firmado em incidente de resolução de demandas 
repetitivas ou assunção de competência; g) ou ainda na vedação à remessa necessá-
ria das sentenças proferidas contra a Fazenda Pública, quando fundadas em sú-
mula de tribunal superior, acórdão proferido pelo STF ou STJ em julgamento de re-
cursos repetitivos, entendimento firmado em resolução de demandas repetitivas ou 
assunção de competência e entendimento coincidente com orientação vinculante 
firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifes-
tação, parecer ou súmula administrativa. Faz parte, ainda, dos mecanismos legais de 
persecução da uniformidade e coerência da jurisprudência a h) edição de súmulas 
correspondentes à jurisprudência dominante. As súmulas cristalizam essa juris-
prudência e ganham enorme relevância, já que em alguns casos têm força vinculante 
e orientam as decisões das instâncias inferiores. Além disso, i) os precedentes deve-
rão ser amplamente divulgados pelos tribunais, de preferência pela "internet" e 
organizados por questão jurídica decidida. 
Todos esses mecanismos revelam a preocupação do legislador com a uniformi-
dade e a coerência da jurisprudência. O art. 926 fala ainda em estabilidade. Isso não 
quer dizer que a jurisprudência não possa ser alterada. Afinal, até mesmo a lei pode 
ser modificada, e a jurisprudência deve acompanhar as transformações, sejam aque-
las relacionadas à ciência do direito e à hermenêutica jurídica, sejam as relativas às 
condições sociais, políticas e econômicas do país, já que as decisões judiciais não se 
aplicam em abstrato, mas a situações concretas, que integram determinado contexto 
da realidade. Mas essas alterações não devem ser constantes e aleatórias. O art. 927, 
§ 2°, trata da alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julga-
mento de casos repetitivos, determinando que ela pode ser precedida de audiência 
pública ou da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir 
parn=-aiediscussão-lia·tese. O parágrafo seguinte trata da modulação dos efeitos da 
alteração da jurisprudência dominante do STF e dos tribunais superiores, bem como 
daquela·oriunda do julgamento de casos repetitivos, em decorrência do interesse so-
cial e da segurança jurídica. 
A alteração deverá ser fundamentada, e devem ser observados os princípios 
da segurança jurídica, da isonomia e da proteção da confiança. 
X m Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 837 
R 2.1. Jurisprudência vinculante? 
O disposto no art. 927 do CPC traz certa perplexidade. Ele determina aos juízes 
e tribunais que observem: I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle 
concentrado de constitucionalidade; 11 - os enunciados de súmula vinculante; 111 
-os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de deman-
das repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV 
- os enunciados de súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucio-
nal e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; e V -a orien-
tação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. 
o que traz essa perplexidade é que, diante da determinação peremptória do ca-
put do art. 927, ter-se-ia que concluir que a lei criou hipóteses de jurisprudência 
vinculante, que não estão previstas na Constituição Federal. Em relação aos dois 
primeiros incisos, a eficácia vinculante está prevista na Constituição (arts. 102, § 2°, 
e 103-A). Mas nos demais casos não há previsão constitucional, e, a nosso ver, não é 
possível a criação de novos casos por legislação ordinária. Há, inclusive, a previsão 
de reclamação, para a hipótese de descumprimento do art. 927, IIl (art. 988, III), 
embora inexista previsão constitucional de que as decisões proferidas em incidente de 
assunção de competência e de incidente de resolução de demandas repetitivas tenham 
eficácia vinculante. Isso leva à inconstitucionalidade do disposto no art. 927,III, 
IV e V, do CPC, já que lei ordinária não pode criar novas situações de jurisprudência 
vinculante. E essa inconstitucionalidade pode ser reconhecida em controle concentra-
do ou difuso de constitucionalidade. 
• 2.2. Julgamento' de casos repetitivos 
Nos capítulos e itens que se seguem, ver-se-~ que o legislador faz uso frequente 
da expressão "julgamento de casos repetitivos". Para evitar dúvida sobre a sua ex-
tensão, o art. 928 do CPC estabelece que ela engloba duas situações distintas: o inci-
dente de resolução de demandas :-epetitivas e o recurso especial e extraordinário re-
petitivos, que serão examinados em capítulo próprio. 
• 3. DA ORDEM DOS PROCESSOS NO TRIBUNAL 
Os arts. 929 a 946 regulamentam o processamento dos processos nos tribunais. 
São regras que se aplicam, de maneira geral, tanto aos processos de competência 
originária quanto aos recursos. 
Os autos são registrados no protocolo do tribunal e distribuídos pela secretaria, 
devendo em seguida serem conclusos ao relator. Como o julgamento, nos tribunais, é 
·· --~ __ _:_:_colegiado, haverá sempre o relator. que terá urna série de atribuições~ f:nyiados _<:>~ al!!O§,__ _ _ 
ele terá 30 dias para, depois de elaborar o voto, restituí-los, com relatório, à secretaria. 
• 3.1. Atribuições do relator 
Compete ao relator tomar uma série de providências, elencadas no art. 93í2. do 
CPC. Dentre elas, destacam-se a de dirigir e ordenar o processo no tribunal, inclusive 
838 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
no que concerne à produção de prova; homologar eventual autocomposição das par-
tes; apreciar os pedidos de tutela provisória; decidir pedido de desconsideração da 
personalidade jurídica, instaurado originariamente perante o tribunal; e determinar a 
intimação do Ministério Público, nos casos em que ele intervenha. 
Além disso, cabe ao relator fazer o juízo de admissibilidade do recurso, não 
conhecendo, em decisão monocrática, daqueles que forem inadmissíveis, prejudi-
cados ou que não tenham impugnado especificamente os fundamentos da decisão 
recorrida. Mas, antes de considerar inadmissível o recurso, ele concederá prazo de 
5 dias para que o vício seja sanado, quando possível, ou para que seja complemen-
tada a documentação exigível. Também pode o relator, em decisão monocrática, 
examinar o mérito do recurso, negando provimento aos que forem contrários à 
súmula do STF, do STJ ou do próprio tribunal; que contrariarem acórdão proferido 
pelo STF ou STJ em julgamento de recursos repetitivos; ou ainda que forem con-
trários a entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas 
ou de assunção de competência. Ou pode dar provimento ao recurso, quando for a 
decisão recorrida que contrariar as súmulas, acórdãos ou entendimentos firmados, 
acima mencionados. 
Das decisões monocráticas do relator caberá sempre o agravo interno, previsto 
no art. 1.021 do CPC. 
• 3.2. Do julgamento 
Devolvidos os autos à secretaria pelo relator, eles serão apresentados ao Presi-
dente, que designará dia para o julgamento, observada a ordem estabelecida no art. 
936. Na data marcada, o relator fará uma exposição da causa. Poderá haver requeri-
mento de sustentação oral, caso em que o juiz dará a palavra ao recorrente e ao re-
corrido, e ao Ministério Público, nos casos em que intervenha, por 15 minutos para 
cada um. Mas só cabe sustentação oral no julgamento de apelação, recurso ordinário, 
especial, extraordinário, embargos de divergência, ação rescisória, mandado de se-
gurança e reclamação, e no agravo de instrumento contra decisões interlocutórias 
que versem sobre tutelas provisórias de urgência ou de evidência, sem prejuízo de 
outras hipóteses previstas em lei ou no regimento interno. 
As questões referentes à admissibilidade do recurso devem ser votadas em pri-
meiro lugar. Se houver mais de uma questão, cada qual deve ser votada separa-
damente, sob pena de falseamento do resultado. Se o recorrido argui a intempes-
tividade e a falta de preparo do recurso, cada uma das alegações deve ser votada 
isoladamente. Colhem-se os votos dos juízes a respeito da intempestividade e, em 
seguida, a respeito do preparo. Não se pode? simplesmente, votar se o recurso é ad-
missível ou não. Afinal, pode ser que um dos juízes entenda que o recurso é intem-
pestivo, e outro entenda que lhe falta preparo. As duas preliminares estarão afasta-
das, porque apenas um dos três juízes acolheu cada qual. É certo que dois juízes 
entendem que o recurso é inadmissível, mas por razões diferentes. Nenhuma das 
preliminares conseguiu a maioria. 
X lll Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 839 
Se houver o acolhimento de alguma preliminar, o recurso não será conhecido. 
Do contrário, passar-se-á ao julgamento de mérito, a respeito do qual se pronunciarão 
todos os juízes, mesmo aqueles que acolheram a preliminar. Se o relator ou algum 
juiz não se sentir habilitado a julgar, poderá solicitar vista dos autos pelo prazo má-
ximo de dez dias, após os quais o recurso será reincluído em pauta para julgamento 
na sessão seguinte à data da devolução. 
Também o julgamento do mérito deve ser decomposto: cada uma das questões 
de fato que, por si só, constitua um fundamento do pedido ou da defesa deve ser 
votada separadamente, sob pena de falseamento do resultado. 
Se o pedido não acolhido está embasado em duas causas de pedir, e houve, por 
exemplo, apelação, cada um dos fundamentos de fato será votado separadamente. 
Isso porque, para o acolhimento, é preciso que um fundamento do pedido ou da de-
fesa tenha pelo menos dois votos. É possível, por exemplo, que o pedido inicial ou a 
defesa tenham três fundamentos distintos e que cada um dos fundamentos tenha 
apenas um voto favorável e dois contrários. Nenhum deles terá sido acolhido, e o 
recurso não será provido. 
Depois de proferidos os votos, será anunciado o resultado e redigido o acórdão, 
pelo relator ou, se ele for vencido, pelo juiz que proferiu o primeiro voto vencedor. O 
voto vencido será necessariamente declarado e considerado parte integrante do acór-
dão, para todos os fins, inclusive prequestionamento. 
• 4. DO INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA 
É um mecanismo criado pelo atual CPC para permitir que relevantes questões 
de direito, com grande repercussão social, mas sem repetição em múltiplos pro-
cessos, que sejam objeto de recurso, remessa necessária ou causa de competência 
originária, sejam examinadas não pelo órgão fracionário a quem competiria o julga-
mento, mas por órgão colegiado indicado pelo Regimento Interno, com força vincu-
lante sobre os juízes e órgãos fracionários. 
Por meio desse incidente, o relator do recurso, remessa necessária ou causa de 
competência originária, de ofício ou a requerimento da parte, do Ministério Público 
ou da Defensoria Pública, constatando a existência de relevante questão de direito, 
com grande repercussão social, proporá o julgamento pelo órgão colegiado, a quem 
competirá reconhecer se há ou não o interesse público alegado. Em caso afirmativo, 
assumirá a competência e procederá ao julgamento; em caso negativo, não assumirá 
a competência, e o julgamento será feito pelo órgão originário. Caberá ao regimento 
interno dos Tribunais·indicar qual o órgão colegiado a quem competirá a assunção de 
competência, quando preenchidos os requisitos. 
A finalidade do instituto é impedir que, sobre relevantes questões de direito, 
com grande repercussão social, mas que não possam ser objeto incidente de resolu-
ção de demandas repetitivas·, ou de julgamento de recurso especial ou extraordinário 
repetitivos, possa haver divergência entre órgãós fracionários (câmaras ou turmas do 
Tribunal). Com a assunção de competência pelo órgão colegiado, assegura-se uma 
solução uniforme. Daí a razão pela qual o § 4° do art. 947 esclarece:"O disposto 
840 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
neste artigo se aplica quando ocorrer relevante questão de direito a respeito da qual 
seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre câmaras ou tur-
mas do tribunal". Consiste, portanto, em mecanismo que visa assegurar a uniformi-
dade da jurisprudência do tribunal a respeito de relevantes questões de direito. 
Proferida a solução pelo colegiado, a lei estabelece que ela terá força vinculan-
te sobre juízes e órgãos fracionários, que não poderão dar à questão de direito so-
lução distinta, sob pena de caber reclamação, nos termos do art. 988, IV, do CPC. 
• 5. DO INCIDENTE DE ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE 
• 5.1. Introdução 
O controle de constitucionalidade, no Brasil, é feito por mais de um meio. Há o 
direto, pelas ações diretas de inconstitucionalidade e declaratórias de constituciona-
lidade, propostas pelos legitimados, no STF, e o difuso, feito no caso concreto, por 
qualquer órgão jurisdicional. 
A declaração de inconstitucionalidade, tratada nos arts. 948 a 950 do CPC, 
faz parte do. controle difuso. No bojo dos processos que estão em andamento, é 
possível que o juiz decida pela inconstitucionalidade, incidentalmente. Ele não de-
clara a inconstitucionalidade, mas deixa de aplicar o dispositivo legal, reputando-o 
inconstitucional. 
A eficácia desse reconhecimento restringe-se às partes, ao contrário do que 
ocorre no controle direto, quando o STF comunica o fato ao Senado Federal, que 
retira a vigência da norma. Nesses casos, a declaração tem eficácia erg"a omnes. No 
controle difuso, inter partes. 
Este, feito por juízo singular, não tem nenhum procedimento próprio. O juiz, na 
sentença, reconhece que a norma é inconstitucional e deixa de aplicá-la. 
Nos tribunais, a declaração incidental de inconstitucionalidade efetiva-se com a 
instauração de um incidente, que cinde o julgamento do recurso. Quando há a ar-
guição de inconstitucionalidade como matéria prejudicial, seu reconhecimento não 
pode ser feito diretamente pelo órgão fracionário, incumbido do julgamento do re-
curso. Ele não pode deixar de aplicar a lei por esse fundamento. É preciso que seja 
suscitado o incidente para que haja um pronunciamento prévio do tribunal a respeito 
da questão. 
Suscitado o incidente, a competência para o julgamento fica cindida. Todo o 
tribunal por primeiro se pronuncia sobre a questão da constitucionalidade, que 
é prejudicial ao julgamento do recurso. Depois a turma decide a respeito das de-
mais questões, já tendo sido fixada a premissa referente à constitucionalidade da 
__ - norma._a ser.aplicada. 
• 5.2. Processamento 
Arguida a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, o relator, depois de 
ouvir o Ministério Público e as partes, submeterá a questão à turma ou câmara a que 
tocar o conhecimento do recurso (CPC, art. 948). 
X • Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 841 
O objeto da arguição é a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. Pode 
ser feita por qualquer das partes, seja em processo de competência originária do tri-
bunal, seja no julgamento de recur~.o. ou pelo Ministério Público que intervenha no 
processo. Ou de ofício pelo relator. quando entender inconstitucional a norma. 
A questão da inconstitucionalidade pode ter sido suscitada pelas partes em qual-
quer fase do processo. O relator a submeterá ao órgão fracionário incumbido do jul-
gamento, devendo obrigatoriamente ser ouvido o Ministério Público, já que há inte-
resse público subjacente. 
O órgão fracionário pode rejeitar a declaração de inconstitucionalidade, caso em 
que o julgamento prosseguirá. Se a acolher, encaminhará a questão ao tribunal ple-
no ou a seu órgão especial, onde houver. Somente este poderá pronunciar-se sobre a 
inconstitucionalidade. 
Não haverá necessidade de sutmeter a questão ao plenário ou ao órgão especial 
se já houver pronunciamento deste,. ou do plenário do STF sobre a questão. 
A decisão do plenário ou órgão especial vincula o órgão fracionário, no caso 
concreto sub judice, seja em que sentido for. Mas apenas no processo em concreto, 
já que se está diante de controle difuso de constitucionalidade, feito incidenter tan-
tum. Se em outro processo a mesma questão for suscitada, o órgão fracionário terá 
liberdade para entender a norma in::onstitucional ou não, independentemente do que 
foi decidido no processo anterior. 
Após a apreciação da questão prejudicial da inconstitucionalidade, o julgamento 
é restituído ao órgão fracionário, que nele prosseguirá. Por isso se diz haver um des-
dobramento da competência recursal. 
Não cabe mais ~ecurso contra a decisão do pleno, mas caberão outros recursos 
contra a do órgão fracionário. Nesse sentido, a Súmula 513 do STF ("A decisão que 
enseja a interposição do·recurso ordinário ou extraordinário não é a do plenário, que 
resolve o incidente de inconstitucionalidade, mas a do órgão- Câmaras, Grupos ou 
Turmas -que completa o julgamento do feito"). 
• 6. DO CONFLITO DE COMPETÊNCIA 
É procedimento de competência originária dos Tribunais e vem regulada nos 
arts. 951 a 959 do CPC. O tema já foi tratado no capítulo relativo à competência, para 
o qual se remete o leitor (ver Livro li, Capítulo 3, item 6.1). 
• 7. DA HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA E DA CONCESSÃO DE 
EXEQUATUR À CARTA ROGATÓRIA 
• 7.1. Introdução 
- Os arts. 21 a 23 do CPC tratam das regras de jurisdição internacional. Os dois 
primeiros dispõem sobre a jurisdi~ão concorrente da justiça brasileira, e o terceiro 
sobre a jurisdição exclusiva. 
A decisão estrangeira não produz efeitos no Brasil senão depois de homologada 
pelo STJ (a EC n. 45/2004 alterou a competência, retirando-a do STF e atribuindo-a ao 
STJ). Então, será eficaz, como se tivesse sido proferida aqui. Uma decisão estrangeira 
842 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
que verse sobre uma das matérias do art. 23 jamais será homologada no Brasil, porque 
nossa lei só reconhece a jurisdição da justiça brasile~ra para julgá-las. Já nas hipóteses 
dos arts. 21 e 22, a jurisdição será concorrente, o qLe indica que a parte poderá optar 
entre propor a ação no Brasil ou no exterior. Se o fizer no estrangeiro, a decisão terá 
de ser homologada perante o STJ para que se torne eficaz no Brasil. 
Além disso, admite-se a execução, no Brasil, de decisão estrangeira, por meio de 
carta rogatória. Mas, para tanto, é preciso que a ca~ta obtenha o exequatur, o "cum-
pra-se" da justiça brasileira, dado pelo Superior Tribunal de Justiça. 
A homologação da decisão estrangeira pressupõe, como regra, decisão definitiva 
(art. 961, § 1°, do CPC). Mas é passível ele execuçãc a decisão estrangeira provisória, 
quando concessiva de medida de urgência, a ser feita por rogatória. Se ela tiver sido 
deferida sem a audiência do réu, ela só será executa:ia se for garantido a ela o contra-
ditório em momento posterior. Cabe à justiça brasileira decidir sobre a urgência. 
11117.2. Processamento 
A homologação ela decisão estrangeira e a concessão do exequatur na carta ro-
gatória são ele competência elo Superior Tribunal de Justiça. Mas o seu cumprimento, 
depois ela homologação ou do "cumpra-se'' na rogatória é de competência do juízo 
federal competente, conforme regras de competência estabelecidas para o cumpri-
mento das sentenças nacionais. Os requisitos para que a decisão seja homologada 
estão enumerados no art. 963 do CPC. Quanto ao procedimento, o Superior Tribunal 
de Justiça editou a Resolução n. 9, de 4 de maio de 2005, que trata da homologação, 
indicando as peças que devem instruir o pedido, c. necessidade de citação da parte 
contrária para contestar em 15 dias, o conteúdo restrito da eventual contestação e a 
necessidade de intervenção do Ministério Público.• 8. AÇÃO RESCISÓRIA 
Vem regulada nos arts. 966 e ss. O tema já foi tratado no Livro VII, Capítulo V, 
item 3, para o qual remetemos o leitor. 
• 9. DO INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS 
• 9.1. Introdução 
Trata-se de uma das mais importantes e benfazejas inovações do CPC atual. Já 
na vigência do CPC de 1973 havia sido criado o mecanismo de julgamento dos recur-
sos extraordinário e especial repetitivos, pelo qual era dado ao Supremo Tribunal 
. Federal e ao Superior Tribunal de Justiça julgar de uma única vez questão de direito 
que era objeto de uma multiplicidade de recursos, mecanismo mantido no CPC atual. 
O Presidente do Tribunal de origem, constatando a existência da multiplicidade de 
recursos envolvendo a mesma questão de direito, seleciona um ou mais deles, os mais 
representativos da controvérsia, e os remete aos Tribunais Superiores, determinando 
a suspensão dos demais recursos envolvendo a mesma matéria. Nos paradigmas, os 
Tribunais Superiores decidem a questão jurídica, uma única vez. A vantagem do 
X 1::1 Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 843 
mecanismo é permitir ao STF e ao STJ julgar uma só vez questão jurídica que, 
sem ele, teria de ser decidida inúmeras vezes. O resultado é desafogar os tribunais 
superiores, e assegurar solução uniforme, para causas que versem sobre idêntica 
questão de direito. Mas esse mecanismo pressupõe a existência de recurso extraordi-
nário ou recurso especial repetitivo. 
Com o incidente de resolução de demandas repetitivas, cria-se um mecanismo 
assemelhado, mas de extensão muito maior, que abrange as causas que correm nas 
instâncias ordinárias. A finalidade do instituto é assegurar um julgamento único da 
questão jurídica que seja objeto de demandas repetitivas, com eficácia vinculan-
te sobre os processos em curso. Pressupõe, portanto, múltiplas demandas envolven-
do a mesma questão de direito. O novo incidente vem tornar mais efetivos os princí-
pios da isonomia e da segurança jurídica, assegurando um julgamento uniforme da 
questão jurídica que é objeto de processos distintos. 
Muito se discutiu, na tramitação do projeto, se o incidente deveria ser autorizado 
bastando que houvesse risco de potencial multiplicação de processos idênticos, ou se 
seria necessária a efetiva multiplicação, tendo ao final prevalecido esta última solu-
ção. Portanto, não basta que haja a possibilidade de multiplicação, sendo necessária 
que ela existe efetivamente (art. 976, I). A lei não diz quantos processos são neces-
sários para se considerar que há a multiplicidade, o que deverá ser analisado no caso 
concreto. Se o órgão julgador entender que ela ainda não existe, indeferirá o inciden-
te, ficando aberta a possibilidade de nova suscitação, quando o requisito faltante for 
preenchido (art. 976, § 3°). 
Para a sua instauração, exige-se que os múltiplos processos contenham contro-
vérsia sobre a mesma questão unicamente de direito, com risco de ofensa à isonomia 
e à segurança jurídica. Também é condição que não tenha sido afetado· recurso nos 
tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, para definição de tese 
sobre a questão jurídica, de direito material ou processual, repetitiva. 
A Súmula 21 da ENFAM dispõe que o incidente pode ser suscitado com base em 
demandas repetitivas em curso nos juizados especiais. E a Súmula 44 acrescenta: 
"Admite-se o IRDR nos juizados especiais, que deverá ser julgado por órgão colegia-
do de uniformização do próprio sistema". 
• 9.2. Processamento 
Caso em determinado processo em curso na primeira ou na segunda instância se 
verifique a existência de questão jurídica repetitiva, o próprio juiz ou o relator, por 
ofício, ou qualquer das partes, o Ministério Público ou a Defensoria Pública, por 
petição, suscitarão o incidente, demonstrando, no ofício ou na petição, o preenchi-
mento dos requisitos. O julgamento do incidente caberá ao órgão indicado pelo regi-
mento interno dos tribunais. Se ele for suscitado quando o processo estiver em grau 
de recurso, remessa necessária ou se tratar de processo de competência originária, o 
órgão colegiado, incumbido de julgar o incidente, julgará igualmente o recurso, a 
remessa ou a causa de competência originária. Já se o processo estiver em primeiro 
grau, ele ficará suspenso aguardando a solução do incidente. 
844 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
Admitido, ele deverá ser julgado no prazo de um ano, e o relator deverá suspen-
der todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado 
ou na região, conforme se trate de justiça estadual ou federal, envolvendo a mesma 
questão jurídica, comunicando-se a suspensão aos juízes diretores dos fóruns de cada 
comarca ou seção judiciária por ofício. Ultrapassado o prazo de um ano sem julga-
mento do incidente, cessa a suspensão dos processos. 
Determina o art. 979 que a instauração e o julgamento do incidente sejam suce-
didos da mais ampla e específica divulgação, devendo os tribunais manter banco 
eletrônico de dados atualizados com as informações específicas sobre as questões de 
direito submetidas ao incidente, com comunicação ao Conselho Nacional de Justiça. 
Desse registro eletrônico, deverão constar os fundamentos determinantes da decisão 
e os dispositivos normativos relacionados à tese jurídica que tenha sido objeto do 
incidente. 
Depois que for suscitado, ainda que haja desistência ou abandono da causa que 
lhe deu ensejo, ele prosseguirá, devendo o Ministério Público assumir a sua titulari-
dade. Quando não for o suscitante do incidente, o Ministério Público será sempre 
ouvido, devendo ser intimado para manifestar-se em 15 dias. O relator ouvirá as 
partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos ou entidades com interes-
se na controvérsia, no prazo comum de 15 dias. Ele poderá ainda designar audiência 
pública, para ouvir depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento na 
matéria, solicitando em seguida dia para o julgamento. Na data designada, o relator 
fará a exposição do objeto do incidente, podendo haver sustentação oral, sucessiva-
mente, do autor e do réu do processo originário, e do Ministério Público, pelo prazo 
de 30 minutos; e dos demais interessados, no mesmo prazo, que será dividido entre 
todos eles. 
O acórdão que julgar o incidente deverá analisar todos os fundamentos suscita-
dos concernentes à tese jurídica discutida, tanto os favoráveis como os contrários. O 
julgamento tem eficácia vinculante sobre todos os processos que tenham permaneci-
do suspensos, por envolverem a mesma questão jurídica. Manda o art. 985 que a 
tese jurídica acolhida no incidente seja aplicada a todos os processos individuais 
e coletivos, em curso ou futuros, que tramitem no território de competência do 
tribunal, inclusive nos juizados especiais do respectivo Estado ou região, sob 
pena de caber reclamação. A força vinculante do julgamento é reconhecida na 
Súmula 20 da ENFAM: "0 pedido fundado em tese aprovada em IRDR deverá 
ser julgado procedente, respeitados o contraditório e a ampla defesa, salvo se 
for o caso de distinção ou se houver superação do entendimento pelo tribunal 
competente". 
- - --Do-juigameiiió de mérito do incidente caberá recurso extraordinário ou especial, 
com efeito suspensivo, presumindo-se a repercussão geral da questão constitucional 
eventualmente discutida. Por isso, visando à garantia da segurança jurídica, permite 
o art. 982, § 3°, que as partes, o Ministério Público ou a Defensoria Pública possam 
requerer ao órgão competente para o julgamento do recurso extraordinário ou espe-
cial que, durante a tramitação do incidente, sejam suspensos todos os processos 
X 11 Dos Processos nos Tribunais e dcs Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 845 
individuais ou coletivos que versem sobre a questãojurídica objeto do incidente, 
em todo o território nacional. C:1so não venha a ser interposto o RE ou REsp, a 
suspensão ficará sem efeito. Caso seja interposto, e seu mérito venha a ser apreciado, 
a tese jurídica adotada pelo STF ou STJ deverá ser aplicada em todo o território na-
cional, nos processos individuais C·U coletivos que versem sobre idêntica questão ju-
rídica, sob pena de caber reclamação. 
•10. DA REClAMAÇÃO 
•10.1. Introdução 
Não vinha prevista no CPC de 1973. Tem previsão constitucional (arts. 102, I, L, 
e 105, I, f). Nesses dispositivos, a CF atribui competência ao STF e ao STJ, respecti-
vamente, para julgar as reclamações, destinadas a preservação de sua competência e 
garantia da autoridade de suas decisões. O CPC trata expressamente da reclamação, 
dando-lhe maior amplitude. De acordo com o art. 988, cabe reclamação da parte in-
teressada ou do Ministério Público para preservar a competência do tribunal, garan-
tir a autoridade das decisões do triJunal, garantir a observância de decisão do Supre-
mo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade, garantir a 
observância de enunciado de súmula vinculante e de precedente proferido em julga-
mento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência. O art. 928 
esclarece que se considera julgamento de casos repetitivos a decisão proferida em 
incidente de resolução de demandas repetitivas e em recursos especial e extraordiná-
rio repetitivos, abrangendo tanto questão de direito mateéial quanto processual. Pare-
ce-nos que, nos casos de julgamentos repetitivos e assunção de competência, a 
reclamação há de ser tida por inconstitucional, já que não há previsão constitucio-
nal da eficácia vinculante nessas r_ipóteses, não se podendo criá-las por lei ordinária. 
&10.2. Processamento 
A reclamação, que não tem catureza recursal, mas constitui meio autônomo de 
impugnação das decisões judiciais, deve ser proposta perante o tribunal, qualquer 
que seja ele, cuja competência se busca preservar ou cuJa :1utoridade se pretenda ga-
rantir. A inadmissibilidade ou o julgamento de eventual recurso interposto contra a 
decisão não prejudica a reclamação, mas ela não mais será admissível se a decisão 
tiver transitado em julgado. A reclamação será instruíd:1 com prova documental e 
deverá ser dirigida ao presidente do tribunal, que a mandará autuar e distribuir ao 
relator, de preferência o mesmo da causa principal. O relator requisitará as informa-
ções da autoridade a quem for imputada a prática do ato impugnado, que as prestará 
... em dez dias, orde.nll.rá a suspensão do ato impugnado, sç necessário, e determinará a 
citação do beneficiário do ato, para que apresente contestaÇão em 15 dias. Em segui- · 
da, o Ministério Público será ouvido em cinco dias, desde que não seja o autor da 
reclamação. Se acolhida, o tribunal cassará a decisão exorbitante de seu julgado ou 
determinará medida adequada à solução da controvérsia. 
2 
DOS RECURSOS 
•1. INTRODUÇÃO 
1\o Livro VII, examinamos o procedimento wmum, até a sentença. Isto é, en-
quanto o processo corre em primeiro grau de jurisdição. Vimos que, ao longo do 
processo, o juiz pode proferir variadas decisões, úe diferentes espécies. É comum 
que, contra elas, os litigantes, o Ministério Público ou terceiros interessados possam 
se insurgir, manifestando o seu inconformismo. 
O tema deste livro são os recursos, que pressupõem inconformismo, insatisfa-
ção com as decisões judiciais, e que buscam outro pronunciamento do Poder 
Judiciário a respeito das questões a ele submetidas. 
O nosso sistema jurídico permite, em regra, que as decisões judiciais sejam rea-
preciadas. Normalmente, isso é feito por um órgão diferente daquele que proferiu a 
decisão (embora haja exceções, como os embargeo.;; de declaração ou os embargos 
infringentes da Lei de Execução Fiscal). 
• 2. CONCEITO 
Recursos são os remédios processuais de que se podem valer as partes, o 
Ministério Público e eventuais terceiros prejudicJdos para submeter uma decisão 
judicial a nova apreciação, em regra por um órgão diferente daquele que a profe-
riu, e que têm por finalidade modificar, invalidar. esclarecer ou complementar a 
decisão. 
• 3. CARACTERÍSTICAS DOS RECURSOS 
Cumpre examinar aquelas características dos recursos que servem para distin-
gui-los de outros atos processuais. 
• 3.1. InterposiÇão na mesma relação processual 
Os recursos não têm natureza jurídica de ação, nem criam um novo proces-
so. Eles são interpostos na mesma relação processual e têm o condão de prolongá-la. 
Essa característica pode servir para distingui-los de outros remédios, que têm natu-
reza de ação e implicam a formação de um novo processo, como a ação rescisória, a 
reclamação, o mandado de segurança e o habeas corpus. 
X m Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 847 
• 3.2. A aptidão para retardar ou impedir a preclusão ou a coisa julgada 
Enquanto há recurso pendente, a decisão impugnada não se terá tornado 
definitiva. Quando se tratar de decisão interlocutória, não haverá preclusão; quando 
se tratar de sentença, inexistirá a coisa julgada. As decisões judiciais não se tornam 
definitivas, enquanto houver a possibilidade de interposição de recurso, ou enquanto 
os recursos pendentes não tiverem sido examinados. 
Isso não significa que a decisão impugnada não possa desde logo produzir 
efeitos: há recursos que são dotados de efeito suspensivo, e outros que não são. So-
mente no primeiro caso, a interposição do recurso implicará suspensão da eficácia da 
decisão. 
Não havendo recurso com efeito suspensivo, a decisão produzirá efeitos desde 
logo, mas eles não serão definitivos, porque ela ainda pode ser modificada. 
Podem surgir, a propósito, questões delicadas, sobretudo quando houver interpo-
sição de agravo de instrumento, nas hipóteses do art. 1.015 do CPC. 
Como eles não têm, ao menos em regra, efeito suspensivo, o processo prossegui-
rá, embora a decisão agravada não tenha se tornado definitiva. Disso resultará impor-
tante questão: o que ocorrerá com os atos processuais posteriores à decisão agravada, 
se o agravo for provido. Tal questão torna-se ainda mais relevante porque, se o agravo 
tiver demorado algum tempo para ser julgado, pode ter havido até mesmo sentença. 
Provido o agravo, todos os atos processuais supervenientes, incompatíveis 
com a nova decisão, ficarão prejudicados, até mesmo a sentença. 
Por exemplo: se o autor requereu a redistribuição do ônus da prova, nos termos 
do art. 373, § 1°, do CPC, e o juiz a deferiu, tendo sido interposto agravo de instru-
mento pelo réu, o provimento do recurso fará com que o processo retro'aja à fase em 
que foi proferida a decisão, ficando prejudicados todos os atos supervenientes, in-
cluindo a sentença. 
Como o agravo de instrumento impede a preclusão, a eficácia dos atos processuais 
subsequentes à decisão agravada, e que dela dependam, fica condicionada a que ela seja 
mantida, porque, se vier a ser reformada, o processo retoma ao status quo ante. Isso faz 
com que alguns juízes, cientes da existência de agravo de instrumento pendente, sus-
pendam o julgamento, aguardando o resultado do agravo. Mas tal conduta não é admis-
sível, já que ele não tem efeito suspensivo, a menos que o relator o conceda. 
• 3.3. Correção de erros de forma ou de conteúdo 
Ao fundamentar-o seu recurso, o interessado poderá postular a anulação ou a 
substituição da decisão por outra. Deverá expor quais as razões de sua pretensão, que 
podem ser de fundo ou de forma, tendo por objeto vícios de conteúdo ou processuais. 
Os primeiros são denominados errores in procedendo; e os segundos, errores 
in judicando. Aqueles são vícios processuais, decorrentes do descompasso entre a 
decisão judicial e as regras de processo civil, a respeito do processo ou do procedi-
mento. Estes,a seu turno, são vícios de conteúdo, de fundo, em que se alega a injus-
tiça da decisão, o descompasso com as normas de direito material. 
848 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
Em regra, o reconhecimento do error in procedendo enseja a anulação ou decla-
ração de nulidade da decisão, com a restituição dos autos ao juízo de origem para que 
outra seja proferida; e o errar injudicando leva à reforma da decisão, quando o órgão 
ad quem profere outra, que substitui a originária. 
Os embargos de declaração fogem à regra geral, porque sua finalidade é apenas 
aclarar ou integrar a decisão, e não propriamente reformá-la ou anulá-la. 
!!I 3.4. Impossibilidade, em regra, de inovação 
Em regra, não se pode invocar, em recurso, matérias que não tenham sido 
arguidas e discutidas anteriormente. Ou seja, não se pode inovar no recurso. 
Mas a regra comporta exceções. O art. 493 do CPC autoriza que o juiz leve em 
consideração, de ofício ou a requerimento da parte, fatos supervenientes, que reper-
cutam sobre o julgamento. Esse dispositivo não tem aplicação restrita ao primeiro 
grau, mas pode ser aplicado pelo órgão ad quem, que deve levar em consideração 
os fatos novos relevantes, que se verifiquem até a data do julgamento do recurso. 
Outra exceção é a do art. 1.014, que permite ao apelante suscitar questões de fato 
que não tenha invocado no juízo inferior, quando provar que deixou de fazê-lo por 
motivo de força maior. 
Há ainda a possibilidade de alegar questões de ordem pública, que podem ser 
conhecidas a qualquer tempo. Ainda que não se tenha discutido em primeiro grau a 
falta de condições da ação, ou de pressupostos processuais, ou prescrição e decadên-
cia, elas poderão ser suscitadas em recurso. 
• 3.5. O sistema de interposição 
Salvo uma única exceção, os recursos são interpostos perante o órgão a quo, 
e não perante o órgão ad quem. A exceção é o agravo de instrumento, interposto 
diretamente perante o Tribunal. 
Há alguns recursos interpostos e julgados perante o mesmo órgão; não se pode 
falar, nesses casos, em órgão a quo e ad quem, como nos embargos de declaração e 
embargos infringentes da Lei de Execução Fiscal. 
No CPC de 1973, cumpria ao órgão a quo fazer um prévio juízo de admissibi-
lidade dos recursos, decidindo se eles tinham ou não condições de ser enviados ao 
órgão ad quem. No CPC atual, não cabe ao órgão a quo fazer esse juízo de admissi-
bilidade, que será feito exclusivamente pelo órgão ad quem. A função do órgão a quo 
será apenas fazer o processamento do recurso, enviando-o oportunamente ao ad 
quem, que fará tanto o exame de admissibilidade quanto, se caso, o de mérito. 
. ~ã,()J!!:tverá pr:éy~o. exame de admissibilidade pelo órgão a quo, nem na apelação 
· (art:l:009, f3°), nem ho recurso cirdiiiádo (art. 1.028, § 3°), nem em recurso especial 
e extraordinário (art. 1.030, parágrafo único). 
Antes de examinar a pretensão recursal, o órgão ad quem fará o juízo de admissi-
bilidade, verificando se o recurso está ou não em condições de ser conhecido. Em caso 
negativo, não conhecerá do recurso; em caso afirmativo, conhecerá, podendo dar-
-lhe ou negar-lhe provimento, conforme acolha ou não a pretensão recursal. 
X • Dos Processos nos Tribunais e dcs Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 849 
• 3.6. A decisão do órgão ad qt1em em regra substitui a do a quo 
Quando o órgão ad quem examina o recurso, são várias as alternativas, assim 
resumidas: 
• pode não conhecer do recurso. Nesse caso, a decisão do órgão a quo preva-
lece, e não é substituída por uma nova; 
• pode conhecer do recurso, apenas para anular ou declarar a nulidade da 
decisão anterior, determinando o retorno dos autos para que s~ja proferida 
outra; 
• pode conhecer do recurso, negando-lhe provimento, caso em que a decisão 
anterior está mantida; ou dando-lhe provimento, para reformá-la. No caso de 
mantença ou reforma, a decisão proferida pelo órgão ad quem substitui a do órgão 
a quo, ainda que aquela tenha se limitado a manter, na íntegra, a anterior. O que 
deverá ser cumprido e executado é o acórdão, e não mais a decisão ou sentença. 
• 3.7. O não conhecimento do recurso e o trânsito em julgado 
Questão que sempre trouxe Cificuldades ao julgador é a de saber a partir de 
quando pode considerar-se transitada em julgado uma sentença, quando a apelação 
não foi sequer conhecida pelo órgão ad quem. Se uma das partes apela, e o Tribunal 
não conhece do recurso, porque, por exemplo, não havia preparo, ou ela é intempes-
tiva, terá a apelação tido o condão de impedir o trânsito em julgado? 
O entendimento que prevalecia, anteriormente, era de que o recurso não conhe-
cido equivalia a não interposto, se:n aptidão para evitar a coisa julgada. Não conhe-
cida a apelação, era considerada não apresentada, e o trânsito em julgado retroagia 
para o dia subsequente aos quinze dias que o apelante tinha para apresentá-la. 
Mas esse entendimento não prevalece mais, porque gera insegurança. Afinal, 
ainda que o apelante tivesse inter?OSto o recurso de boa-fé, nunca era possível, de 
antemão, saber se seria conhecido ou não. E, às vezes, ocorria de, entre a interposi-
ção do recurso e o seu julgamento, passar prazo superior a dois anos. Se o recurso 
não era conhecido, e o trânsito em julgado retroagia para mais de dois anos antes, 
estava já perdida a oportunidade para a ação rescisória, cujo prazo conta do trânsito 
em julgado da sentença. Isso criav;:. uma situação injusta, pois o interessado perdia o 
prazo, sem nunca ter tido a oportunidade de ajuizá-la. 
Em razão disso, o Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que 
o recurso, ainda que não venha a ser conhecido, impede o trânsito em julgado, 
salvo em caso de má-fé. Ele só oc:merá daí para diante, e não mais retroagirá, salvo 
má-fé .. Nesse sentido: "Segundo entendimento que veio a prevalecer no Tribunal, o 
te~mo inicial para o prazo decadencial da ação rescisória é õ prúnéiro dia apos-o 
trânsito em julgado da última decisão proferida no processo, salvo se provar-se que o 
recurso foi interposto por má-fé do recorrente" (RSTJ 102/330). 
Esse entendimento acabou pacificando-se com a edição da Súmula 401 do STJ, que 
assim estabelece: "O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não 
for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial". O entendimento 
850 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
da súmula, que é anterior ao CPC atual, foi acolhido pelo seu art. 975, caput, que 
assim estabelece: "O direito à rescisão se extingue em dois anos contados do trân-
sito em julgado da última decisão proferida no processo". 
• 4. ATOS PROCESSUAIS SUJEITOS A RECURSO 
Só cabe recurso contra pronunciamento do juiz, nunca do Ministério Públi-
co ou de serventuário ou funcionário da Justiça. E é preciso que tenha algum 
conteúdo decisório. 
Não cabe, portanto, dos despachos, atos judiciais de mero andamento do processo. 
Os recursos são cabíveis contra: 
1\B as sentenças, pronunc:amentos do juiz por meio dos quais ele, com funda-
mento nos arts. 485 e 487 do CPC, põe fim à fase cognitiva do procedimento 
comum, bem como extingue a execução. Contra elas caberá a apelação e, even-
tualmente, embargos de C.eclaração; 
li!iil as decisões interlocutórias, atos judiciais de conteúdo decisório, que se pres-
tam a resolver questões incidentes, sem pôr fim ao processo ou à fase condena-
tória. O sistema do CPC atual permite, sempre, a possibilidade de impugnação 
das decisões interlocutórias por meio de recursu. Mas é preciso fazer uma distin-
ção: há as decisões interlocutórias que são recorríveis em separado, isto é, por 
meio de um recurso próprio e específico, interposto contra elas, que é o agravo 
de instrumento (são as enumeradas no art. !.OiS do CPC); e há aquelas que não 
são recorríveisem separado, por meio de agra-,·o de instrumento (as que não in-
tegram o rol do art. 1.015), mas que podem ser reexaminadas, desde que susci-
tadas como preliminar na apelação ou nas L'"Ontrarrazões. Não se pode dizer, 
propriamente, que tais decisões sejam irrecorríveis. Elas apenas não são recorrí-
veis em separado, isto é, por meio de recurso autônomo, devendo ser impugna-
das quando do oferecimento da apelação ou das contrarrazões. Contra as deci-
sões interlocutórias, agraváveis ou não, também cabem embargos de declaração; 
llill as decisões monocráticas proferidas pelo relator. O relator dos recursos ou 
dos processos de competência originária dos tribunais tem uma série de atribui-
ções, elencadas no art. 932. Pode até mesmc, em determinados casos, julgar 
monocraticamente o recurso, dando-lhe ou negando-lhe provimento (art. 932, 
IV e V). Da decisão do relator cabe agravo interno; 
lii os acórdãos, decisões colegiadas dos Tribunais (art. 204); contra elas, além 
dos embargos de declaração, poderão caber :-ecurso extraordinário e especial, 
em caso de ofensa à Constituição ou à lei federal. Também será admissível o 
recurso ordinário, nos casos previstos na Constituição Federal. 
• 5. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO DOS RECURSOS 
Da mesma forma como, antes de examinar o mérito, o juiz deve verificar se estão 
preenchidos os pressupostos processuais e as condições da ação, antes de examinar a 
pretensão recursal, deve-se analisar os requisitos de admissibilidade do recurso. 
X CJ Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 851 
O exame é feito pelo órgão ad quem. Os requisitos de admissibilidade consti-
tuem matéria de ordem pública e, por isso, devem ser examinados de ofício. 
Constituem os pressupostos indispensáveis para que o recurso possa ser conhecido. 
O não preenchimento leva a que a pretensão recursal nem sequer seja examinada. 
• 6. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS 
Há vários critérios de classificação dos requisitos de admissibilidade dos recur-
sos. Parece-nos que o mais completo é aquele sugerido por Barbosa Moreira, que os 
divide em duas grandes categorias: os intrínsecos e os extrínsecos, sendo os primei-
ros aqueles que dizem respeito à relação entre a natureza e o conteúdo da decisão 
recorrida e o recurso interposto, e os segundos, os que levam em conta fatores que 
não dizem respeito à decisão impugnada, mas que são externos a ela. 
De acordo com essa classificação, os requisitos intrínsecos são o cabimento, a 
legitimidade para recorrer e o interesse recursal; e os extrínsecos são a tempestivida-
de, o preparo, a regularidade formal e a inexistência de fato extintivo ou impeditivo 
do direito de recorrer. 
Esses requisitos são os gerais. Alguns recursos vão exigir, além deles, outros 
específicos, que serão examinados com os recursos em espécie. 
116.1. Requisitos de admissibilidade intrínsecos 
Assemelham-se, em grande parte, às condições da ação. O recurso não tem 
natureza de ação, mas os requisitos intrínsecos são as condições para que ele possa 
ser examinado pelo mérito. 
• 6.1.1. Cabimento 
Os recursos são apenas aqueles criados por lei. O rol legal é numerus clausus, 
taxativo. Recurso cabível é aquele previsto no ordenamento jurídico e, nos termos da 
lei, adequado contra a decisão. Esse requisito aproxima-se da possibilidade jurídica 
do pedido, que integra o interesse de agir. 
O art. 994 do CPC enumera os recursos: apelação, agravo de instrumento, agra-
vo interno, embargos de declaração, recurso ordinário, recurso especial, recurso ex-
traordinário e embargos de divergência. Nada impede que lei especial crie outros, 
como os embargos infringentes na Lei de Execução Fiscal, ou o recurso inominado 
contra a sentença no Juizado Especial Cível. 
• 6.1.2. Legitimidade recursal 
. -Para interpor recúi:so é preciso ter legitimidade .. São legitimados: . 
• 6.1.2.1. As partes e intervenientes 
As partes - o autor e o réu - são os legitimados por excelência. Além de-
les, podem interpor recurso aqueles que tenham sido admitidos por força de inter-
venção de terceiros. Alguns deles tornam-se partes, como o denunciado, o chamado 
852 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
ao processo e o assistente litisconsorcial, tratado como litisconsorte ulterior. Outros 
não adquirem essa condição, mas têm a faculdade de recorrer, como o assistente 
simples. No entanto, a participação deste é subordinada à parte, e lhe será vedada a 
utilização de recurso, se o assistido manifestar o desejo de que a decisão seja manti-
da. O único terceiro interveniente que não tem legitimidade recursal é o amicus 
curiae, exceto para opor embargos de declaração e para recorrer da decisão que julga 
o incidente de resolução de demandas repetitivas (art. 138, §§ lo e 3°). 
1116.1.2.2. O Ministério Público 
O Ministério Público pode atuar no processo como parte ou fiscal da ordem 
jurídica. O primeiro caso recai no item anterior; mas o Promotor pode recorrer 
ainda quando atue como fiscal da ordem jurídica. Nem é preciso que ele já esteja 
intervindo no processo, pois ele pode recorrer exatamente porque lhe foi negada a 
intervenção. Em qualquer condição em que recorra, o Ministério Público terá prazo 
em dobro, na forma do art. 180, caput, do CPC. 
1116.1.2.3. O recurso de terceiro prejudicado 
O art. 996 do CPC, que cuida da legitimidade para recorrer, menciona, entre os 
legitimados, o terceiro prejudicado. 
Quem é ele? Aquele que tenha interesse jurídico de que a sentença seja favo-
rável a uma das partes, porque tem com ela uma relação jurídica que, conquan-
to distinta daquela discutida em juízo, poderá ser atingida pelos efeitos reflexos 
da sentença. Em suma, aquele mesmo que pode ingressar no processo como assis-
tente simples: os requisitos para ingressar nessa condição são os mesmos que 
para recorrer como terceiro prejudicado. 
Mas a figura do assistente simples não pode se confundir com a do terceiro que 
recorre. 
As posições em si são diferentes. O que ingressa como assistente simples não 
entra em defesa de um interesse próprio, mas para auxiliar uma das partes a sair vi-
toriosa. Tem, portanto, atuação subordinada. Pode recorrer, desde que a parte não lhe 
vede tal conduta. Já o terceiro prejudicado entra em defesa de direito próprio, 
que, conquanto não seja discutido no processo, será afetado reflexamente pela sen-
tença. Por isso, não tem atuação subordinada, de sorte que a parte não poderá vetar 
o processamento do seu recurso. Mas, de acordo com o art. 996, § 1°, do CPC: "Cum-
pre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica sub-
metida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa 
discutir em juízo como substituto processual". 
• 6.1.2.4. Pode o advogado recorrer em nome próprio? 
O advogado não postula, em juízo, direito próprio, mas age na condição de man-
datário da parte. Portanto, não tem legitimidade para recorrer em nome próprio, mas 
tão somente no da parte. 
X 11 Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 853 
Mas há uma parte da sentença que diz respeito diretamente a ele, que versa sobre 
direito dele, e não da parte. É a condenação em honorários advocatícios, que, de 
acordo com o art. 23 da Lei n. 8.906/94, constituem direito autônomo do advogado, 
que pode promover-lhes a execução em nome próprio. 
Nessa circunstância, é preciso admitir que o advogado terá legitimidade para 
recorrer, quando o objeto do recurso forem os seus honorários. Não o terá para recor-
rer dos demais pontos da sentença, mas tão somente daquele que os fixar. Mas se preferir 
não recorrer em nome próprio, pode fazê-lo em nome da parte que o constituiu e que 
também tem legitimidade recursal. A legitimidade de parte para recorrerdos honorá-
rios é extraordinária, já que estes pertencem não a ela, mas ao advogado. 
Como decidiu o Superior Tribunal de Justiça, "têm legitimidade, para recorrer da 
sentença, no ponto alusivo aos honorários advocatícios, tanto a parte como o seu patro-
no" (STJ- 4• Thrma, REsp 361.713/RJ, Rei. Min. Barros Monteiro, j. 17/02/2004). 
A interposição de apelação apenas sobre os honorários advocatícios não impedi-
rá a execução do restante da sentença, sobre o qual não pende recurso com efeito 
suspensivo. 
• 6.1.2.5. Não tem legitimidade recursal 
Não tem legitimidade recursal o próprio juiz, já que a ninguém é dado recorrer 
da própria decisão. A remessa necessária, como condição de eficácia da sua senten-
ça, não tem natureza recursal. 
Também não têm os funcionários da justiça. Há controvérsia sobre a possibilida-
de de haver recurso. do perito, especificamente no que concerne ao valor dos seus 
honorários fixados judicialmente. A resposta há de ser negativa, podendo o perito, se 
assim desejar, discutir os seus honorários em ação própria, mas não por meio de 
recurso, dada a sua posição, no processo, de auxiliar do juízo. 
• 6.1.3. Interesse recursal 
O último dos requisitos intrínsecos é o interesse recursal, que se assemelha ao 
interesse de agir, como condição de ação. 
Para que haja interesse é preciso que, por meio do recurso, se possa conseguir 
uma situação mais favorável do que a obtida com a decisão ou a sentença. Ela 
não existirá, se a parte ou interessado tiver já obtido o melhor resultado possível, de 
sorte que nada haja a melhorar. 
O interesse está condicionado à sucumbência do interessado. 
Só tem interesse em recorrer quem tiver sofrido sucumbência, que existirá quando não 
se tiver obtido o melhor resultado possível no processo. 
É preciso, no entanto, ressalvar os embargos de declaração, cuja apreciação está 
condicionada à existência de outro tipo de interesse: não o de modificar para melho-
rar a decisão judicial, mas o de aclarar, sanar alguma contradição, integrá-la ou cor-
rigir erro material. 
854 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
Nos itens seguintes, serão examinadas algumas situações específicas, que pode-
riam gerar dúvida sobre a existência do interesse recursal. 
I! 6.1.3.1. É possível recorrer de sentença apenas para sanar-lhe algum vício? 
Às vezes, o recorrente obteve resultado favorável, mas a sentença prolatada 
tem algum vício. Por exemplo, é extra ou ultra petita. A parte vitoriosa pode recor-
rer para que o vício seja sanado, pois o melhor resultado possível pressupõe que 
a sentença esteja hígida, sem máculas. Uma sentença favorável, mas eivada de 
nulidades, não trará tranquilidade àquele que a obteve, porque permitirá ao adver-
sário valer-se de medidas como a ação rescisória, para desconstituí-la. Há interes-
se em recorrer apenas com a finalidade de sanar eventuais nulidades, ainda 
que disso pudesse advir um aparente prejuízo ao recorrente. Por exemplo: o 
autor pede um tanto na sentença, e o juiz concede-lhe mais que o postulado. O 
próprio autor pode recorrer para reduzir a condenação aos limites do julgado, sa-
nando com isso o vício. 
• 6.1.3.2. É possível ao réu recorrer da sentença de extinção sem resolução 
de mérito? 
Que o autor possa recorrer dessa sentença não há qualquer dúvida, porque ele 
não obteve aquilo que pretendia. Mas e o réu? Parece-nos que. como regra, a respos-
ta há de ser afirmativa, porque, sendo a sentença meramente terminativa, inexisti-
rá a coisa julgada material, a questão poderá ser novamente posta em juízo. 
Melhor para o réu se a sentença fosse de improcedência, o que impediria a rediscus-
são. Portanto, há interesse recursal do réu para apelar da sentença extintiva, postulan-
do julgamento definitivo de improcedência. 
• 6.1.3.3. É possível recorrer para manter o resultado, mas alterar a funda-
mentação da sentença? 
Aquele que obteve a vitória no processo não tem interesse de recorrer, pos-
tulando que a decisão seja mantida, mas que seja alterada a fundamentação. 
Para que haja interesse, é necessária a possibilidade de que seja alterado o resultado. 
Aquilo sobre o que recairá a coisa julgada material é o dispositivo (incluindo as ques-
tões prejudiciais, decididas na forma do art. 503, § 1 °), não a fundamentação. 
Se o autor formula o pedido inicial com dois fundamentos, e o juiz o acolhe 
por força do primeiro, não tem interesse de apelar pedindo que a sentença seja 
.... mantida; mas o fundamento alterado, uma vez que essa modificação não terá reper- · 
cussão prática. 
Excepcionalmente, porém, será possível recorrer da fundamentação quando, por 
exemplo, ela não for compatível com a conclusão a que chegou o juiz, ou quando, 
ao formulá-Ia, o juiz extrapolar os limites objetivos da ação. Nesse caso, haverá 
nulidade, cujo saneamento justificará o interesse do litigante, apesar do resultado 
favorável. 
X El Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 855 
Há casos, ainda, em que a fundamentação repercute sobre a formação da coisa 
julgada material. São aqueles em que, por força da lei, a coisa julgada é secundum 
eventum litis. Os exemplos mais importantes são as ações civis públicas e as ações 
populares, nas quais a sentença de improcedência por insuficiência de provas 
não faz coisa julgada material. 
Sendo assim, não é indiferente para o réu que a sentença de improcedência este-
ja fundada em insuficiência de provas ou em outro motivo, porque, no primeiro caso, 
inexistirá coisa julgada material. O réu tem interesse em apelar de improcedência por 
insuficiência de provas para alterar-lhe a fundamentação porque, se lograr êxito, ob-
terá uma sentença mais favorável, de improcedência por outras razões, que se reves-
tirá da autoridade da coisa julgada. 
111! 6.1.3.4. Há interesse para recorrer de sentenças homologatórias de transa-
ção, reconhecimento jurídico do pedido ou renúncia ao direito em que se 
funda a ação? 
Aquele que fez acordo, reconheceu o pedido ou renunciou ao direito em que se 
funda a ação, em princípio, não tem interesse recursal, uma vez que o juiz se li-
mitou a homologar a sua manifestação de vontade. Há preclusão lógica para a 
apresentação de recurso. Poderá fazê-lo, no entanto, para alegar que a homologação 
desbordou dos limites do acordo, do reconhecimento ou da renúncia. 
11 6.1.3.5. Há interesse em recorrer quando o juiz acolhe um dos pedidos 
alternativos? 
Se o autor, na inicial, formulou pedidos alternativos, sem manifestar preferência 
por nenhum deles, o acolhimento de um pelo juiz não autorizará a interposição de 
recurso para o acolhimento do outro, porque não terá havido sucumbência. Mas, se 
houver formulação de um pedido principal e um subsidiário, e o juiz acolher 
este em detrimento daquele, o autor terá interesse de recorrer. 
• 6.2. Requisitos extrínsecos 
São aqueles que não dizem respeito à decisão recorrida, e à relação de pertinên-
cia entre ela e o recurso interposto, mas são exteriores, relacionam-se a fatores exter-
nos, que não guardam relação com a decisão. São eles: 
• 6.2.1. Tempestividade 
Todo recurso deve ser interposto dentro do prazo estabelecido em lei. Será iri: ~ 
tempestivo, e, portanto, inadmissível, o recurso que for apresentado fora do prazo, 
devendo ser observado quanto à contagem e à possibilidade de prorrogação o dispos-
to no CPC, arts. 219 e 224. Quanto ao início da contagem do prazo devem ainda 
observar-se as regras do art. 1.003 do CPC, que' estabelecem como dies a quo a data 
da intimação dos advogados ou sociedade de advogados, da Advocacia Pública, da 
Defensoria Pública ou do Ministério Público. 
856 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
Todos os recursos do CPC, salvo os embargos de declaração, devem ser inter-
postos no prazo de15 dias. Os embargos de declaração serão opostos no prazo de 
cinco dias. 
O Ministério Público, a Fazenda Pública, a Advocacia Pública e a Defensoria 
Pública têm os prazos recursais e de contrarrazões em dobro. O prazo será dobrado 
também para a interposição de recurso adesivo. Os litisconsortes com advogados 
diferentes, de escritórios distintos, desde que o processo não seja eletrônico, têm em 
dobro o prazo para recorrer - sob a forma comum ou adesiva - e também para 
contrarrazoar. 
A oposição de embargos de declaração por qualquer dos litigantes inter-
rompe o prazo para a apresentação de outros recursos. A interrupção beneficia 
todos os litigantes (CPC, art. 1.026). A eficácia interruptiva vale também no Juiza-
do Especial Cível, já que o art. 1.065 do CPC alterou a redação do art. 50 da Lei 
n. 9.099/95. 
1111 6.2.2. O preparo 
Aquele que recorre deve pagar as despesas com o processamento do recurso, 
que constituem o preparo. A beneficiária é a Fazenda Pública, por isso os valores 
devem ser recolhidos em guia própria e pagos na instituição financeira incumbida do 
recolhimento. Além do preparo, também haverá o recolhimento do porte de remessa 
e retorno, quando o recurso tiver de ser examinado por órgão diferente daquele que 
proferiu a decisão, salvo quando se tratar de processo eletrônico. 
Cabe à legislação pertinente estabelecer quais são os recursos que exigem o re-
colhimento do preparo. Ficam ressalvados os embargos de declaração, que não o 
exigirão, porque julgados pelo mesmo juízo ou órgão que prolatou a decisão, visando 
apenas integrá-la ou aclará-la. 
É possível que leis estaduais isentem de preparo outros recursos. Assim, durante 
longo tempo, a revogada lei estadual de custas de São Paulo isentava de preparo o 
agravo de instrumento. 
Não havendo isenção, prevista na legislação pertinente, o recurso deverá vir 
acompanhado do comprovante de recolhimento. 
Há, porém, recorrentes que, dada a sua condição, estão isentos (art. 1.007, § 1°). 
São eles: 
11 o Ministério Público; 
11 a Fazenda Pública; 
11:osberteficiários da justiça gratuita. 
• 6.2.2.1. Há necessidade de preparo no recurso especial e no extraordinário? 
O regimento interno do Superior Tribunal de Justiça dispensava o recolhimento 
de preparo, mas não o do porte de remessa e de retorno, que corresponde às despesas 
com o encaminho do recurso ao órgão ad quem. 
X • Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Cecisões Judiciais 857 
No entanto, a Lei n. 11.636/2007 o exige expressamente: agora é preciso 
àquele que interpõe recurso especial recolher o preparo e o porte de remessa 
e retorno. 
Com relação ao recurso extraordinário, o regimento interno do Supremo Tribu-
nal Federal também exige o recolhimento de preparo e porte de remessa e retorno. 
• 6.2.2.2. Qual o valor do preparo? 
O valor depende da legislação pertinente. No Estado de São Paulo vigora a Lei 
n. 11.608, de 29 de dezembro de 2ü03, que fixa como base do:: cálculo do preparo o 
valor da condenação, ou, não havendo, o valor da causa. 
• 6.2.2.3. Há preparo em recurso adesivo? 
O art. 997, § 2°, do CPC dispõe que são aplicáveis ao recurso adesivo as mesmas 
regras do recurso independente, quanto aos requisitos de adnissibilidade. Se o re-
curso principal recolhe preparo, o adesivo também recolht:rá. 
• 6.2.2.4. Qual a ocasião oportuna para comprovar o recolhimento? 
O art. 1.007 do CPC é o dispcsitivo que cuida, de maneira geral, do preparo. O 
caput não deixa dúvidas quanto ao momento de comprová-lo: no ato de interposição 
do recurso, ocasião em que também deve ser comprovado o porte de remessa e 
retorno. 
Um problema que o advogado poderá enfrentar é o do encerramento do expe-
diente no banco respon~ável pelo recolhimento antes do término do expediente fo-
rense, no último dia do prazo. Seria isso empecilho a justificar a prorrogação para o 
dia seguinte? 
O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça têm posicionamen-
tos diferentes a respeito. 
No primeiro, prevalece o entffidimento de que o fechamento dos bancos antes 
do encerramento do expediente for·::nse não constitui óbice a j Lsti ficar a prorrogação 
para o dia seguinte, uma vez que o recorrente sabe de antemão os horários e tem de 
precaver-se, recolhendo o preparo oportunamente. Foi o que f~:ou decidido no Acór-
dão do Pleno do STF, publicado em RTJ 305/103. 
Já no Superior Tribunal de Justiça prevalece entendimento diverso: o preparo 
poderá ser tempestivamente recolhido no dia seguinte ao último dia do prazo, em 
...... _ .Jª2:!íO __ ~()-~X.Peci!l'!.nte bancário encerrar~~e ~nt~~ do forense. E ::sse entendimento pa- _ 
Cificóu~se naquela Corte, com a edição da Súmula484; que assim estabelece: "Admi~ · 
te-se que o preparo seja efetuado no primeiro dia útil subsequente, quando a interpo-
sição do recurso ocorrer após o encerramento do expediente bancário". Esse é o 
entendimento que há de prevalecer, já que o recolhimento d:' preparo não envolve 
matéria constitucional, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça a última palavra a 
respeito do tema. 
858 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
Com essas hipóteses, não se confunde a de haver encerramento do expediente 
bancário ou forense fora do horário convencional, :;aso em que haverá motivo para a 
prorrogação até o dia útil seguinte. 
A falta de comprovação do recolhimento do preparo no ato de interposição não 
é causa de rejeição liminar do recurso. O recorrente deverá ser intimado, na pessoa 
de seu advogado, para prpceder ao recolhimento em dobro, sob pena de deserção. 
Não cabe ao juízo a quo fazer o prévio juízo de admissibilidade do recurso. Assim, 
ainda que sem preparo, ele deve determinar a subida dos autos ao Tribunal. Mas o 
relator, se verificar que o preparo não foi recolhic!.o, ou foi recolhido fora do prazo, 
mas pelo valor singelo e não em dobro, deverá determinar a intimação do advogado 
do recorrente para recolhimento ou complementação, sob pena de deserção, no prazo 
de cinco dias. As mesmas regras aplicam-se ao porte de remessa e retorno. 
:·; 6.2.2.5. Complementação do preparo 
O art. 1.007, § 2°, do CPC trata da hipótese de insuficiência do preparo, estabe-
lecendo que o recurso será considerado deserto se a diferença não for recolhida em 
cinco dias. O dispositivo trata apenas da insuficiência, não da falta de recolhimen-
to. Havendo apenas insuficiência, a complementação poderá ser feita pela diferença. 
Havendo falta de recolhimento, pelo dobro do que era devido, originalmente, como 
preparo. As mesmas regras valem para o porte de remessa e retorno. Se o recorrente 
que não recolheu preparo for intimado para recoL1ê-lo em dobro, e o fizer a menor, 
não haverá oportunidade de complementação, e c recurso será julgado deserto (art. 
1.007, § 5°). 
:!li 6.2.3. Regularidade formal 
Os recursos são, em regra, apresentados por escrito. No entanto, a lei autori-
za interposição oral, em casos excepcionais. É o caso dos embargos de declaração no 
Juizado Especial (art. 49 da Lei n. 9.099/95). Conquanto a interposição seja oral, há 
necessidade de que o recurso seja reduzido a termo, para que o órgão julgador possa 
conhecer-lhe o teor. 
Todo recurso deve vir acompanhado das respectivas razões, já no ato de interpo-
sição. Distinguem-se, nesse passo, os recursos cíveis dos criminais, em que há um 
prazo de interposição e outro de apresentação das razões. 
Não será admitido o recurso que venha desacompanhado de razões, que 
devem ser apresentadas, em sua totalidade, no ato de interposição. Não se admi-
te que as razões sofram acréscimos, sejam modificadas ou aditadas, posteriormente. 
Fica ressalvada, porém, a eventual modificação, alteração ou complementação da 
sentença por força de embargos de declaração. Se uma das partes apela e outra opõe 
embargos de declaraçãoque provocam alteração ou complementação da sentença, 
aquele que apelou poderá acrescentar novos pedidos ou fundamentos ao seu recurso, 
relacionados àquilo que foi acrescido ou modificado. 
X !;! Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 859 
Ao apresentar o recurso, a parte deve formular a sua pretensão recursal, aduzin-
do se pretende a reforma ou a anulação da decisão, ou de parte dela, indicando os 
fundamentos para tanto. 
'i'! 6.2.4. Inexistência de fato extintivo ou impeditivo do direito de recorrer 
São os pressupostos negativos de admissibilidade, isto é, circunstâncias que não 
podem estar presentes para que o recurso seja admitido. Os fatos extintivos são a 
renúncia e a aquiescência; o fato impeditivo é a desistência do recurso. 
i;J 6.2.4.1. Renúncia e aquiescência 
São sempre prévias à interposição, ao contrário da desistência, que pressu-
põe recurso já apresentado. 
A renúncia é manifestação unilateral de vontade, pela qual o titular do direito de 
recorrer declara a sua intenção de não o fazer. Sua finalidade, em regra, é antecipar 
a preclusão ou a coisa julgada. Caracteriza-se por ser irrevogável, prévia e unilateral, 
o que dispensa a anuência da parte contrária. 
A aquiescência é a manifestação, expressa ou tácita, de concordância do titu-
lar do direito de recorrer, com a decisão judicial. Impede que haja recurso, por 
força de preclusão lógica. Pode ser expressa quando o interessado comunica ao juízo 
a sua concordância com o que ficou decidido; e tácita, quando pratica algum ato in-
compatível com o desejo de recorrer. Por exemplo, cumprindo aquilo que foi deter-
minado na decisão ou sentença. 
Não se admite renúncia prévia, formulada antes da decisão ou sentença, salvo 
nos casos em que já seja possível conhecer de antemão o seu teor. É o que ocorre, por 
exemplo, quando as partes fazem acordo e pedem que o juiz o homologue, renun-
ciando ao direito de recorrer. Nesse caso, conquanto a renúncia seja anterior à homo-
logação, as partes já sabem qual será o teor do julgamento. 
A renúncia vem tratada no art. 999 do CPC, que explícita a desnecessidade de 
aceitação da outra parte; e a aquiescência, no art. 1.000: "A parte que aceitar expres-
sa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer". O parágrafo único conceitua acei-
tação tácita como " ... a prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a 
vontade de recorrer". 
Parece-nos que, havendo renúncia ou aquiescência, ficará vedada a admissibili-
dade do recurso, seja sob a forma comum ou adesiva, uma vez que a decisão ou 
sentença precluirá ou transitará em julgado. 
Há situações em que poderá ser difícil distinguir se houve renúncia ou aquies-
cência, mas isso não terá importância, dado que ambas constituem causas extintivas 
do direito de recorrer. 
• 6.2.4.2. A desistência do recurso 
É causa impeditiva, tratada no art. 998 do CPC: "O recorrente poderá, a qual-
quer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso". 
860 Direito Processual Civil Esquematizado® Marcus Vinicius Rios Gonçalves 
O que distingue a desistência da renúncia é que ela é sempre posterior à inter-
posição: só se desiste de recurso já apresentado, e só se renuncia ao direito de recor-
rer antes da interposição. 
O recorrente tem sempre o direito de desistir do recurso, independente-
mente de qualquer anuência, ainda que o adversário tenha oferecido já as con-
trarrazões, diferentemente da desistência da ação que, após o oferecimento de res-
posta, exige o consentimento do réu. 
A desistência pode ser manifestada até o início do julgamento do recurso e ser 
expressa ou tácita. Será expressa quando o recorrente manifestar o seu desejo de 
que ele não tenha seguimento; e será tácita quando, após a interposição, o recor-
rente praticar ato incompatível com o desejo de recorrer. 
Não pode haver retratação da desistência, porque, desde que manifestada - e 
ainda que não tenha havido homologação judicial -, haverá preclusão ou coisa 
julgada. 
• 7. MODO DE INTERPOSIÇÃO DOS RECURSOS- O RECURSO PRINCIPAL E O 
ADESIVO 
O recurso adesivo não é uma espécie, mas uma forma de interposição de 
alguns recursos. Podem ser opostos sob a forma adesiva a apelação, o recurso es-
pecial e o extraordinário. 
Caberá ao recorrente, quando possível, optar entre interpô-los sob a forma prin-
cipal ou adesiva. 
São dois os requisitos do recurso adesivo: 
m que tenha havido sucumbência recíproca, isto é, que nenhum dos litigantes 
tenha obtido no processo o melhor resultado possível; 
11!!1 que tenha havido recurso do adversário. 
Mas quando o recurso deve ser interposto como principal, ou adesivo? 
Imagine-se, por exemplo, que A ajuíza em face de B uma ação de cobrança de 
100 e que o juiz julga parcialmente procedente o pedido, condenando o réu a pagar 
ao autor 80. Houve sucumbência recíproca. 
Pode ocorrer que essa sentença não satisfaça nenhum dos litigantes e que ambos 
queiram que seja reformada pelo órgão ad quem. Intimadas, as partes apresentarão o 
seu recurso sob a forma principal. Serão recursos autônomos, cujos requisitos de 
admissibilidade serão examinados pelo juiz, individualmente. 
Mas pode ocorrer, por exemplo, que A, conquanto não tenha obtido o resultado _ . 
mais favorável, o aceite e esteja disposto a não recorrer, para que, havendo logo 
o trânsito em julgado, a sentença passe a produzir efeitos. Sendo assim, deixará 
transcorrer o seu prazo in albis. Mas A descobre que o seu adversário recorreu, o que 
impede o trânsito em julgado: os autos terão de ser remetidos ao tribunal. O autor, se 
soubesse que o réu interporia recurso e que os autos subiriam, também teria recorri-
do, para tentar obter um resultado ainda mais favorável. 
X 1!1 Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais 861 
Nessa circunstância, a lei processual lhe dá uma segunda oportunidade de 
recorrer, desta feita sob a forma adesiva. É como se o autor "pegasse carona" no 
recurso do adversário, apresentando também o seu. Essa breve explicação esclarece 
por que é indispensável que tenha havido sucumbência recíproca e recurso do adver-
sário, pois do contrário não haveria como "pegar a carona". 
Aquele que recorreu adesivamente preferiria que a sentença transitasse 
logo em julgado; mas, como houve recurso do adversário, ele aproveita para 
também recorrer. 
Isso explica o caráter acessório do recurso adesivo. Se o principal não for ad-
mitido, ou se houver desistência, ele ficará prejudicado, pois só sobe e é examinado 
com o principal. 
P.l7.1. Processamento do recurso adesivo 
Publicada a sentença ou acórdão, fluirá o prazo para a apresentação de recurso 
principal, que pode ser interposto por ambas as partes. Havendo sucumbência recí-
proca, se só uma delas recorrer, a outra será intimada a oferecer contrarrazões. Nes-
se prazo, poderá apresentar o recurso adesivo. Este deve ser apresentado no prazo 
das contrarrazões, mas em peças distintas. Afinal, os fundamentos serão completa-
mente diferentes: nas contrarrazões, o apelado postulará a manutenção do que lhe foi 
concedido; e, no recurso adesivo, a reforma da sentença, naquilo que lhe foi negado. 
Recebido o recurso adesivo, o juiz intimará a parte contrária para oferecer-lhe 
contrarrazões. Haverá, portanto, contrarrazões ao recurso principal e ao adesivo. 
Os requisitos de admissibilidade são os mesmos do recurso principaL tanto os 
extrínsecos como os intr-ínsecos (art. 997, § 2°, do CPC). 
Como ele é subordinado ao principal, se este não for admitido, for julgado 
deserto ou houver desistência, aquele ficará prejudicado (art. 997, § 2°, III). 
Aquele que apelou sob a forma principal, não pode, posteriormente, recorrer 
sob a forma adesiva. Imagine-se, por exemplo, que uma das partes tenha apelado 
sob a forma principal e que seu

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