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Texto Luís Alberto Mussa Tavares Apresentação Dr. Luciano Borges San�ago (UFTM/SBP) Ilustrações Thiciana Mandú 3 Apresentação – Dr. Luciano Borges San�ago .................................................................. 9 Dedicatória .................................................................................................................... 11 Primeiras coisas ............................................................................................................. 13 Explicação inicial às mães .............................................................................................. 15 1.Você já fez o seu melhor até aqui, sabia? ................................................................... 17 2.O que é uma UTI neonatal? ........................................................................................ 19 3.Por que alguns bebês vão para a UTI neonatal? ......................................................... 20 4.Quem é a mãe de UTI? ................................................................................................ 21 5.Porque muitos bebês não conseguem ir ao seio enquanto estão na UTI? ................. 22 6.E o que é que o leite materno tem de tão importante assim? ................................... 23 7.E aquela aguinha chamada colostro? Serve pra alguma coisa? ................................. 25 8.Quando um bebê fica muito tempo na UTI sem mamar na mãe significa que ele não vai mais conseguir mamar nela? ......................................................................... 27 9.Quando uma mãe fica muito tempo longe de seu filho sem dar o peito a ele significa que ela nunca mais vai conseguir amamentar o seu bebê? ......................... 31 10.Como é uma mama por dentro? ............................................................................... 35 11.Como é que a mama fabrica o leite? ......................................................................... 37 12.Porque de vez em quando o leite vaza das mamas? ................................................. 39 13.Porque às vezes o leite não desce? ........................................................................... 40 14.Como é que se faz a ordenha do leite materno? ....................................................... 42 15.O que fazer com o leite ordenhado? ......................................................................... 51 16.E quando o peito empedra? O que fazer? Como evitar? ........................................... 56 17.As lojas vendem muitos produtos para mães que amamentam. Até que ponto se pode confiar neles? ................................................................................................ 59 18.Remédios. Podem aumentar o leite? Podem secar o leite? Podem atrapalhar tudo? E agora? ..................................................................................................................... 65 19.Para que serve um Banco de leite humano? ............................................................. 67 20.A hora da primeira mamada. ..................................................................................... 68 21.Aproveite o dia. .......................................................................................................... 70 O autor ............................................................................................................................ 73 5 ÍNDICE Edição comemora�va XIII Encontro Nacional de Aleitamento Materno Manaus, AM, 23 a 28 de novembro de 2014. I Congresso de Assistência Integral à Saúde da Mulher e da Criança Lages, SC, 09 a 11 de dezembro de 2014. Este exemplar não será vendido Livre download disponível em: www.alemdau�.com.br www.aleitamento.com 7 Apresentação Prezada Mãe de UTI, De fato este é um livrinho que pode ajudar muito. Ajudar você mãe de UTI a viver melhor este momento tão importante de sua vida. E quem é o autor desse livrinho, que tanto quer te ajudar? Seu nome é Luís Tavares! Um ser humano com alma diferenciada. Antes de tudo um poeta. Um médico pediatra nascido em Campos dos Goytacazes/RJ, que verdadeiramente e despretensiosamente se importa com mães que amamentam. Em especial com você mãe que tem um prematuro internado na UTI neonatal. Ele quer ajudar você a amamentar, mas caso não consiga, ajudar você a viver melhor essa fase da sua vida e do seu bebê. Vai entender, entre outras, como funciona sua mama por dentro, o que é um Banco de Leite Humano, como o leite materno é produzido e a importância dele pro seu bebê. Além desses conhecimentos, durante a leitura alguns sen�mentos alcançarão seu coração como paz e ternura. Vai entender que a UTI não é um ambiente assustador e que a amamentação apesar de muito importante não é obrigatória. Luís Tavares convencerá você de que não há espaço para sen�mento de culpa, pois você já é uma vitoriosa! O mais importante é que você aproveite bem o seu momento de mãe, perceba a recuperação passo a passo do seu filho e saboreie a vida nova que brota em sua vida. Luís Tavares é a pessoa certa para ajudar você! Leia esse livrinho escrito com muito amor, aliás eu diria mais que isso, u�lize-o como um guia diário. Siga-o e viverá esse momento com menos sofrimentos e mais o�mismo. Encontrará um sen�do novo em sua maternidade. Perceberá que existe humanidade nas UTIs Neonatais e por fim, nessa leitura surpreendente, descobrirá um médico pediatra amigo, que vive apenas pela paixão de ver sorrisos estampados em rostos de mães como o seu! Eu mesmo, após a leitura deste guia, percebi que Luís Tavares a cada dia, com sua poesia, seu jeito calmo, sua voz suave, sua generosidade, sua pureza de coração, sua simplicidade, sua transparência e acima de tudo sua ousadia do bem, consegue algo sublime: ele realmente amamenta! Amamenta com gotas de amor as almas de mães de UTI! Boa leitura. Que Deus nos abençoe! Dr. Luciano Borges San�ago Professor de Pediatria da Universidade Federal do Triângulo Mineiro - Uberaba/Minas Gerais) Presidente do Departamento Cien�fico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria. 9 Dedicatória Às mães de UTI, Aos que cuidam delas, Aos seus bebês, Aos que cuidam deles, Aos profissionais que atuam na Unidade Neonatal do Hospital dos Plantadores de Cana de Campos, por sua força incomum que enverga mas não quebra, que balança mas não cai, distribuindo, com seu trabalho minucioso e atento, lições diárias de amor, bom humor, tratamento cuidadoso e acertado. Uma equipe da maior qualidade, Aos profissionais que atuam no Banco de Leite Humano do Hospital dos Plantadores de Cana de Campos, responsáveis silenciosos pelo sucesso que muitas mães de UTI têm encontrado na manutenção de sua produção de leite para chegarem prontas ao sonhado dia de amamentar seus filhos pela primeira vez, Aos profissionais que atuam na UTI Neonatal Nicola Albano em Campos que há duas décadas vem cuidando com cuidado da dor de nossos filhos, transformando ciência em arte e semeando resiliência no coração de nossas famílias, Às mães de UTI, a seus filhos internados e suas famílias atônitas, para que saibam que a esperança existe sempre, mesmo adormecida, e as possibilidades são sempre caminhos a se descobrir, tentando sempre, acreditando sempre, buscando sempre com apoio sempre... “Aqueles que passam por nós Não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, Levam um pouco de nós.” (Autor desconhecido) Obrigado por deixar tanto de sua presença em mim... Desde o primeiro dia... E para sempre... Luís Tavares 11 Primeiras coisas Um agradecimento todo especial às amigas: Andreia S. Pinto e Shanna Rangel,Pela digitação cuidadosa e paciente das dezenas de páginas manuscritas da redação original desse trabalho, um esforço minucioso e cansa�vo dispendido com o obje�vo de traduzir minha letra intraduzível e permi�r que o texto completo desse livro fosse disponibilizado para a publicação. Sem palavras para agradecer tanto carinho. Registro também meu reconhecimento e agradecimento aos amigos que ofereceram sugestões de mudanças e correções ao texto original, com base em suas observações e estudos pessoais, desviando essas linhas de erros de desatenção e enganos: Ana Cecília Dias Aragão, Cris�ane Faccio Gomes, Debora Henriques, Kely de Carvalho Torres, Laura Johanson da Silva, Marcus Renato de Carvalho, Miriam Santos, Shanna Rangel. Este livro é uma obra de domínio publico. Seu conteúdo completo encontra-se disponível para download nos sites www.alemdau�.com.br www.aleitamento.com e , bem como o conjunto de desenhos que o ilustra, e pode, por isso, ser reproduzido, compar�lhado, modificado completamente ou em parte sem necessidade de autorização ou citação dos créditos autorais. É permi�do também, livremente, copiar, mostrar, baixar, distribuir, reproduzir, republicar ou retransmi�r qualquer informação, texto ou ilustração deste volume, em qualquer meio eletrônico ou �sico, além de criar qualquer trabalho derivado com base nessas imagens, textos ou documentos sem necessidade de consen�mento prévio do autor, recomendando-se somente que se evite sua comercialização. As ilustrações são de Thiciana Mandú que se entregou como ar�sta e como mãe que amamenta a esse trabalho intenso de criação única. A diagramação do material é de Fernando Luiz Soares, amigo de todas as horas e de todos os bytes. Um agradecimento mais que carinhoso vai para meu irmão, o professor Celso, pela colaboração valorosa na leitura dessas linhas e pela correção das incorreções grama�cais por mim come�das. Contatos podem ser feitos por mail: lamtavares@globo.com Luís Tavares Campos dos Goytacazes, 03 de outubro de 2014. 13 Explicação inicial às mães Querida mamãe Se você está lendo as páginas desse livrinho, deve ser porque seu bebê está numa Unidade Neonatal, longe de você. Mas se você, por isso mesmo, con�nua lendo essa página deve ser porque mesmo com seu filho na Unidade Neonatal tão distante, você ainda assim deseja amamenta-lo. Então se seu bebezinho está na Unidade Neonatal e se mesmo longe dele você ainda assim deseja amamenta-lo, também é exatamente por isso que estamos nos encontrando aqui e agora nas páginas desse livrinho. Muitos livrinhos e páginas da internet tem sido lançados para ajudar mães a amamentar seus filhos. A maioria deles oferece ajuda àquelas mães que tem filhos saudáveis que vão com ela para casa e ainda assim enfrentam as dificuldades eventuais da amamentação. Alguns outros livrinhos oferecem ajuda a mães com bebês que apresentam caracterís�cas especificas: fendas na boca, síndrome de Down, prematurinhos, gêmeos. A todos esses, com orientação certa, a amamentação é possível quando corretamente orientada e apoiada. Mas há muito tempo temos percebido que existe um grupo de mães que não recebe as informações e o apoio que deveriam receber por simplesmente não serem reconhecidas e iden�ficadas como um grupo: são as mães de UTI, mães que desejam e podem amamentar assim que seus filhos forem para seus braços, mas que estão sozinhas, tristes, com medo e se ves�ndo basicamente das esperanças de um dia tê-los de volta para seus dias. É então para você, mãe de UTI, que escrevemos essas páginas. A par�r destas linhas as mães de UTI deixam de ser mulheres invisíveis e passam a formar um grande grupo de mães com filhos distantes e mergulhadas em dor e esperança, mas que mantém vivas suas grandes possibilidades de amamentar seus bebês. Este livrinho, mamãe de UTI, é seu guia. Através de 21 pequenos textos, escritos em linguagem amigável, maternal e nada cien�fica, totalmente ilustrados para facilitar sua compreensão, o universo da maternidade de UTI vai se clareando e as possibilidades de você manter uma produção de leite suficiente vão se tornando reais à medida e que você se envolve com esse universo pelo tempo necessário que custar para a chegada da primeira mamada. Entenda que esses 21 pequenos capítulos formam uma técnica. É possível para grande parte das mães, mesmo para aquelas mães de bebês que ficam muitas semanas internados, manter uma produção de leite que facilite a amamentação quando ela for oportuna e possível. 15 Já não podemos aceitar ver tantas mães se despedirem desse seu sonho por conta da falta de intervenção e de apoio sistema�zado que nós, profissionais de saúde, teríamos o dever de oferecer e que muitas vezes, por omissão, não fazemos. Por isso hoje aqui estamos então, juntos e por um mesmo desejo. Boa leitura. Segue confiante. Força. Aproveite o dia. Luís Tavares 16 1. Você já fez o seu melhor até aqui, sabia? A primeira coisa que precisa ficar bem claro é: Amamentar é possível. Mas tem um detalhe: Você já fez o seu melhor até aqui. Oh! Já? Sim. Claro que já. E sabe por quê? Porque a estrada em que você e seu bebê caminharam para chegar até aqui neste dia não deixa dúvidas: vocês são dois vencedores. Dois grandes vitoriosos. Foi uma longa viagem enfrentando medos, dores, solidão, esperanças, dificuldades, pesadelos, pensamentos inconfessos, e tudo isso fez de você e de seu bebê seres muito especiais, já testados e aprovados, já possuidores das melhores e mais caras medalhas da vida. Vocês dois são dois gigantes, isso sim. E chegamos ao momento de percebermos crescer as possibilidades de amamentar. Conseguir fazer com que tudo dê certo seria maravilhoso. Pra você e pro seu belo bebê. Mas não tome isso como um divisor que vai classificar as mães entre mães bem sucedidas e mães fracassadas, entre mães que conseguiram e mães que falharam. Nunca. O mais importante vocês já alcançaram: sobreviveram e trouxeram com essa vitória força suficiente para seguir em frente com muito orgulho e dignidade. Então, não se cobre tanto, pelo muito que você já viveu para chegar até aqui. Porque se você não conseguir amamentar você não terá fracassado. Se você não conseguir amamentar você não terá falhado. Porque você e seu bebê já são vencedores. Vocês dois já fizeram o seu melhor. Decorou isso? Ou prefere que eu desenhe? Não se alimente com essa obrigação como se ela fosse mais um peso sobre as suas costas, mais uma pressão sobre o seu coração. O melhor de você, você já deu, por isso não se machuque com nenhum sen�mento de frustração caso você não consiga, apesar de todo esforço, amamentar seu bebê. Porque você já deu o melhor da sua vida pelo amor de seu filho e ele, o melhor da vida dele por amor a você. O bebê prematuro e a mãe prematura são os dois lados de uma história de superações e vitórias, independente dos resultados alcançados. 17 É por isso que nesse livrinho traçamos informações importantes que vão ajudar você a tentar conseguir amamentar. Mas ainda assim eu repito: você já fez o seu melhor. Então se tranquilize. Porque é exatamente quando você se sen�r livre do peso da obrigação e da cobrança, então é nessa hora, é justo nesse momento, que talvez você realmente consiga. Porque falará mais alto em seu coração a maternidade. E a maternidade é o mais nobre dos gestos. Mais saboroso inclusive que a amamentação. Então é assim. Você tem tudo pra dar certo. Mas você já fez o seu melhor até aqui. Porque sua história e a história de seu bebê já deram certo. Porque sua história ea história de seu bebê já são capazes de transbordar lágrimas nos olhos daqueles que a conhecem. Você venceu, Seu bebê venceu, E embora você possa mais E possa sempre, Ainda assim, acredite. Essa vitória é de seu filho, E essa vitória é sua Porque, defini�vamente, Você já fez o seu melhor até aqui... 18 2. O que é uma UTI neonatal? Não. Não é um lugar apavorante. Nem é um lugar para onde vão os bebês que têm alguma chance de morrer. Não. Lembre-se de que se um copo está metade cheio então ele também está metade vazio. Nenhuma verdade tem um lado só. Então: Uma UTI Neonatal não é um lugar assustador. É uma sala toda formada de alarmes e luzes e tubos e barulhinhos e agulhas e frascos e muita gente em volta fazendo um monte de coisas ao mesmo tempo com um único obje�vo: cuidar o melhor possível de seu bebê e cuidar da melhor maneira possível da sua vida. E isso não é nada apavorante. É maravilhoso saber da existência de um lugar assim. Pensar que em nossos dias homens e máquinas se unem para recuperar a saúde e restabelecer a vida não é fantás�co? A UTI Neonatal é apavorante? Assustadora? Não. Acima de tudo a UTI Neonatal é um lugar fantás�co e maravilhoso. Lembra da história do copo meio cheio que é também meio vazio? Então. Assim também é a UTI Neonatal. Fantás�ca apesar do pavor que provoca e maravilhosa acima de sua condição assustadora. Todas as coisas dependem da forma como você as vê. Cada um daqueles monitores e tubos e agulhas e numerozinhos piscando e soros e máquinas e incubadoras, cada um daqueles profissionais caminhando apressadamente de um lado pra outro por turnos inteiros e dias sem fim não são um pavor, mas a grande chance de devolver seu bebê para os seus braços, recuperando a vida e valorizando a vida e a família para a humanidade inteira, percebe? Apavorante? Talvez. Assustadora? Pode ser. Mas maravilhosa, certamente. Fantás�ca, por certo. É da UTI Neonatal que nasce a esperança sem o que nenhum dia seguinte seria possível de ser vivido. A UTI Neonatal é um complexo criado para o tratamento de bebês para que estes possam voltar recuperados para suas famílias. 19 3. Por que alguns bebês vão para a UTI neonatal? Sempre que existe grande risco para um bebê, a sua transferência para a UTI é indicada. Às vezes isso acontece imediatamente após o nascimento. Às vezes algum tempo depois. E os bebês vão para a UTI por dificuldade respiratória, por infecção, por icterícia (porque ficam muito amarelinhos), por serem muito prematuros, ou por serem muito grandes, ou por nascerem com probleminhas aqui e ali. Nem todo bebê, no entanto, é igual. Há prematuros e prematuros, cansadinhos e cansadinhos, infecções e infecções e bebês grandões e bebês grandões. Cada bebê leva consigo sua própria história, suas próprias chances, seus próprios riscos, e suas possibilidades. A tecnologia tem possibilitado que as UTIs sejam cada vez mais bem montadas, permi�ndo que bebês cada vez menores e mais graves possam a cada dia sobreviver cada vez mais. A UTI é uma enfermaria cara e especializada. Haverá um dia em que os pais do bebê terão livre acesso ao seus filhos durante as 24 horas do dia, evitando a separação e permi�ndo a permanência do vínculo. Os bebês vão pra a UTI porque estão graves. Mas os bebês vão para a UTI, principalmente, para que voltem saudáveis e fortes para os braços de suas mães. Bebês que precisam de ajuda para respirar são sempre beneficiados pelo tratamento disponível nas UTIs. 20 4. Quem é a mãe de UTI? Uma mãe que leva seu bebê com ela pra casa logo após o nascimento, certamente ama esse bebê de todo coração e sua força, e de forma incondicional. Mas uma Mãe de UTI que deixa seu filho no hospital e segue sozinha pra casa, sem filho, sem barriga, sem alegria e muitas vezes sem esperança, ama igualmente seu filho com esse mesmo amor, o mesmo amor daquela primeira mãe que deixa o Hospital com seu filho nos braços. A mãe de UTI, entretanto, se caracteriza por uma única e desproporcional diferença: a de um amor testado até seus mais distantes limites, desfibrilado, despedaçado pedaço por pedaço, testado e arrancado do peito e posto à prova mais dura e ainda assim resiste e se preserva inteiro, e empurra essa mãe para cima e para frente e não se retrai e nem se diminui e nem se enfraquece e nem desacelera. Uma Mãe de UTI é quase sempre a prova viva de que no fundo intocado do coração de uma mãe existe uma força sem nome e de tamanho desconhecido, capaz de fazê- la enfrentar as tempestades com a delicadeza de uma borboleta que se banha na brisa fresca de uma manhã de sol. A Mãe de UTI é o que pode se chamar de mãe extremada. Mãe Dolorosa. E pode se dizer também que uma Mãe de UTI é para sempre. De um amor sem limites nem fronteiras. De uma dor que se refaz a cada dia, se renova, se sublima, mas não passa. A Mãe de UTI traz na alma o amor que, por sua natureza, somente às mães é capaz de tocar. Que possamos todos um dia, familiares, amigos e profissionais, nos dedicar a apoiá- la na sua história de vida, compar�lhando suas dores e bebendo, ao lado dela, sua força e sua grandiosidade para sempre. Uma mãe de um bebezinho que vai para a UTI é uma Mãe de UTI. Por que chamá-la assim se uma mãe de UTI tem por seu filho o mesmo e extremíssimo amor que toda e qualquer mãe tem por seu filho, estando ele numa UTI ou não? A mãe de UTI vive a dor da separação de um modo intenso e inexplicável. 21 5. Por que muitos bebês não conseguem ir ao seio enquanto estão na UTI? Durante os dias de UTI é muito frequente a separação entre a mãe e o bebê. Este é talvez o mo�vo mais comum para um bebê de UTI não mamar em sua mãe. O mais comum, mas não o único. Durante os dias de UTI os bebês estão: * Muito fraquinhos. * Cheios de tubos na boca, o que dificulta muito a elezinhos a possibilidade de sugar. * Passando seus dias em incubadoras, o que dificulta o contato diário e con�nuo com a mamãe. * Precisando de oxigênio para respirar, o que impede esses bebês de mamar no peito de sua mãezinha pelo cansaço e pelo esforço que fazem quando são afastados da fonte de oxigênio. * Deixando uma coisinha no estômago chamada "resíduo" (que é como se fosse um "resto de alimento"), e bebês com resíduos frequentes (como são os bebês de UTI) não podem receber alimento, por isso não podem mamar. O tempo que um bebê de UTI precisa para viver a primeira experiência de mamar no peito de sua mãe varia de algumas horas até muitas dezenas de dias. E para alguns bebês isso nem vai chegar a acontecer por conta de situações muito especiais como HIV e algumas malformações, entre outras. Cada bebê é um bebê, e cada condição de possibilidade de sucção vai ser alcançada a seu tempo. É a equipe que está cuidando do bebê quem iden�fica o momento apropriado para trazê-lo ao seio: um bebê estável, um bebê que não dependa de aparelhos e oxigênio, um bebê sem "resíduos" (restos alimentares), um bebê que respira bem e que já é capaz de respirar e deglu�r o leite sugado ao mesmo tempo em que respira. É um longo caminho, mas que precisa ser traçado com segurança e muito apoio. E o importante é você entender que, para a grande parte dos bebês, mesmo durante seus dias de UTI, muita coisa é possível ser feita enquanto se espera a tão sonhada hora de ir ao seio. Esse período, quando menos se espera, já passou. Vamos viver esses dias sem imaginar que eles serão dias para sempre. Dias melhores virão. Vocês verão... O afastamento de sua mãezinha é a causa mais comum da dificuldade que um bebê de UTI tem em mamar na sua mãe. 22 6.E o que é que o leite materno tem de tão importante assim? *O leite materno é um alimento completo. * Algumas pessoas que trabalham com a amamentação chamam o leite materno de padrão ouro. E nem é só alimento: * É materno porque só a mãe do bebê pode produzir. * Contém desde a água que o bebê precisa até o açúcar, a proteína, a vitamina, a gordura. * Contém células vivas que vão ajudar o bebê a se defender contra infecções. * Contém elementos que facilitam o crescimento e desenvolvimento ideal do sistema nervoso, que é responsável por tomar conta da vida da gente pela vida inteira. * Permite o contato do bebê com a mãe, e, por conta desse contato, facilita a proteção, o vínculo, o afeto. * Possibilita para esse bebezinho, que um dia vai completar 100 anos a prevenção de muitos problemas da vida adulta, como obesidade, hipertensão, diabetes, doenças alérgicas (asmas, rinites e derma�tes), taxas elevadas de gordura no sangue, infartos... * Ajuda o crescimento correto dos ossos da face, permi�ndo o fechamento correto da boca (os den�stas chamam isso boa oclusão dentária), e prevenindo problemas como a mordida aberta e a respiração bucal. * Prepara o bebê para a fala correta, acertando a posição da língua para formação adequada de certos fonemas como "de", "tê" e "lê". Isso equivale a dizer que o bebê que mama no peito acaba se preparando para falar as palavras corretamente. Seus órgãos formadores da fala são todos preparados pela amamentação. * Protege o bebê contra as diarréias, as prisões de ventre, as intolerâncias alimentares, os erros alimentares tão comuns, os riscos dos alimentos industriais etc. O leite materno tem um papel importan�ssimo na recuperação de um bebê de UTI. 23 O leite materno, antes de tudo, e acima de tudo, é um elemento que permite à mãe exercer de modo pleno a maternidade integral. O fato mais importante de tudo isso é saber hoje em dia que usando as técnicas adequadas e recebendo todo apoio, o merecido e de direito, esses bene�cios estão ao alcance de nossos bebês prematurinhos e aqueles outros internados em UTI, permi�ndo a eles as mesmas vantagens oferecidas aos bebês nascidos a termo. É o que aprenderemos nas páginas a seguir. Me acompanhem. 24 7. E aquela aguinha chamada colostro? Serve pra alguma coisa? Uma aguinha chamada colostro. É assim que tudo começa. Quando o leite começa a sair do peito, bem no iniciozinho, ele se parece com uma aguinha. E é dessa forma que muita mãe chama seu primeiro leite: Uma aguinha. Colostro nem é uma aguinha, embora se pareça muito com uma aguinha. Colostro é o leite inicial. É leite materno, ainda transparente, que em poucos dias vai ganhar a cor branca que é como ele vai ser reconhecido enquanto exis�r e até o dia em que secar. O colostro se parece com uma aguinha sim. Mas uma aguinha que carrega tanta saúde dentro dela, que faz com que essa aguinha se torne o principal responsável pelo crescimento do bebê, pela sua primeira dose de vacina recebida e pelo desenvolvimento do cérebro desse bebezinho, o que vai interferir em toda sua vida e todo seu aprendizado até a idade adulta. A qualidade e a concentração dos elementos encontrados no colostro são tão grandes e tão importantes que jamais vão se repe�r por toda a história da amamentação desse bebê. Resumindo: o colostro é um leite transparente como uma aguinha, mas rico como um tesouro. Você pensa que é uma aguinha. Chama ele de aguinha. Mas ele tem superpoderes de matar o super-homem de inveja. E por que "uma aguinha"? * Porque é em go�nhas. * Porque é muito pouquinho (se não, seria um aguaceiro). * Porque é transparente do jeito como se fosse uma aguinha mesmo. A maioria das mães nem acha que essa aguinha chamada colostro é leite. Quando a gente pergunta a elas: - Você já está tendo leite? Elas respondem: - Leite ainda não. Só uma aguinha. Uma aguinha? Não. O colostro é como uma aguinha que tem a cor de um diamante e vale ouro. 25 Você pensa que é pouquinho, mas nenhum "muito leite" tem tanta força quando a gente compara com ele, e pelo resto da vida vai ser assim. E acredite: é tão pouquinho quanto o pouquinho que cabe na barriguinha do bebê assim que ele nasce e durante seus primeiros dias. Então é um pouquinho do tamanho certo. Por isso nem é um pouquinho. É a quan�dade ideal. Natureza sabe-tudo né? O colostro é como uma pedra de diamante: é transparente, mas de valor impagável. Por durar só poucos dias, quando é subs�tuído pelo leite maduro, o colostro é a forma mais rara entre as formas de leite materno que existem. O colostro também é a forma de leite materno mais indicada para a alimentação de bebês prematurinhos. E é tão importante para esses bebês que suas mães, por serem mães de prematuros, con�nuam produzindo colostro por muito mais tempo que as mães de bebês que nascem no tempo adequado. Algumas mães prematuras produzem colostro até quase um mês após o parto. E com isso produzem o que há de mais essencial e importante para seus bebês. Impressionante a natureza, não acha? A mãe permanece produzindo o colostro que seu bebê precisa pra crescer e se desenvolver por muito mais tempo, porque é exatamente disso que o bebê dela precisa. Impressionante a perfeição dessas coisas, concorda comigo? O nome dele é colostro. Mas pode chamar de aguinha Porque, mesma forma que a água, O colostro é vida. E vida é tudo que a gente precisa nessa hora. 26 8 . Quando um bebê fica muito tempo na UTI, sem mamar no peito da mãe, significa que ele nunca mais vai conseguir mamar nela? Bem. Todos nós sabemos que o ideal é deixar o bebê, logo assim que ele nasce, bem junto do peito da mãe, para que ele, que morou por toda gravidez na sua barriga, não sinta a separação de modo tão brusco e possa já desde o nascimento conhecer e começar a mamar no peito da mamãe. Isso é o que há de mais an�go e primi�vo na história do homem. E é também o que há de mais moderno e atual. Mas isso não acontece quando um bebezinho vai para a UTI assim que nasce. Quando um bebezinho vai para a UTI, na maioria das vezes o primeiro contato com o peito só vai ocorrer muitos dias depois do nascimento, dependendo das condições do bebê. Mas o que à primeira vista pode parecer um caso perdido, o tempo e a história têm provado que é possível manter a pron�dão do bebê para mamar quando a gente toma alguns cuidados durante a sua internação. Quais são esses cuidados que permitem ao bebê estar pronto para sugar no seio da sua mãezinha quando ele for ter contato com ela? A primeira medida é tentar manter o bebê calminho durante os dias de UTI. Para isso as UTIs a cada dia tomam mais cuidado com o barulho feito nas unidades (barulho das pessoas e dos aparelhos), com a luz que tem que permanecer acesa o tempo todo para vigiar o bebê, com a preservação do sono do bebê, com a proteção da dor que ele sente, com a necessidade de manipulação excessiva que precisa ser controlada e organizada. O melhor carinho que se pode oferecer a um bebê durante seus dias de internação na UTI é fazer ele não se estressar, tentando com isso que ele chegue o mais calmo possível ao dia em que finalmente for para o colo de sua mamãe para a primeira experiência com a amamentação. Isso tem feito com que muitas UTIs pelo mundo afora reestruturem de forma muito cuidadosa os cuidados com a manipulação do bebê, com o barulho, com a luz, tentando torná-la menos intensa para esse bebê e com a dor inevitável dos procedimentos e das "agulhadas", tentando amenizá-las para acalmar o bebê. Um bebê na incubadora vai precisar ser tratado com todo respeito para que possaestar preparado no momento de ir ao seio. 27 Mas outra coisa muito importante para preparar esse bebê para o momento da amamentação é saber que uma das preocupações mais sérias das Unidades Neonatais deve ser tentar afastar desse bebezinho as chupetas e os bicos das chucas e das mamadeiras enquanto ele es�ver na UTI. Isso evita que o bebê conheça outros bicos antes de conhecer o bico do peito da sua mãe. E esse é o maior aliado para uma boa pega. Nada de bicos estranhos. Nada que possa confundir seu cerebrozinho tão delicado e ainda em formação. O uso do copinho ao invés da mamadeira é adotado em muitos hospitais porque o uso do copinho permite aos profissionais oferecer leite ao bebê sem precisar colocá- lo em contato com os bicos das chucas, como já explicamos aqui. Isso ajuda imensamente o bebê na hora da mamada porque a mama fica sendo o primeiro bico a entrar em contato com o bebê, e não a chuca. Por isso o copinho tem sido u�lizado com frequência cada vez maior por profissionais pelo mundo inteiro. Então bebês são protegidos da luz direta por tecidos sobre suas incubadoras, são colocados enroladinhos em ninhos feitos de panos para ficarem na mesma posição que estavam na barriga da mamãe, são cuidados por profissionais que a cada dia aprendem lições de não estressá-lo e a tratá-lo com respeito... Um bebê fica bem mais confortável quando passa seus dias envolvido em rolinhos de pano que chamamos de ninhos. O leite oferecido no copinho não deixa o bebê conhecer os bicos de chucas e assim deixa o bebê mais pron�nho pra sugar no peito da mamãe. 28 Vale lembrar que a assistência de uma fonoaudióloga durante os dias de UTI é essencial para trabalhar a boquinha do bebê, preparando elezinho para o momento de sucção. Quanto menor for o prematurinho maior vai ser a necessidade da atuação do fonoaudiólogo para avaliar sua boca e permi�r que ele chegue ao instante do contato com o peito da sua mãe sabendo respirar, sugar o leite e engolir o leite que ele sugou sem se engasgar e sem se sufocar. O maior aliado da amamentação em bebês prematurinhos nas UTIs Neonatais tem sido entretanto o Método Mãe Canguru, desde 1980, quando foi criado. O Método Mãe Canguru permite a permanência de bebês muito pequenininhos, com pesos muitas vezes próximos a mil gramas, junto de sua mãe. Esse contato afasta o bebê do ambiente estressante da Unidade Neonatal e facilita numa única inicia�va o reequilíbrio da mãe e o do bebê. Infelizmente muitos Hospitais ainda têm dificuldades para adotá-lo, optando pela tecnologia das máquinas no lugar da tecnologia do contato pele a pele. Mas sabemos que é questão de tempo para a ciência se curvar diante das capacidades maternas de cuidar de seu próprio bebê. Outros recursos como ofuroterapia, massagem, banho humanizado, agrupamento de cuidados, medidas de proteção contra a dor, busca incessante da preservação da organização desses bebês e mesmo a redinha tem sido também u�lizados para reduzir o stress muito caracterís�co do ambiente da UTI, embora esse conjunto de técnicas esteja longe de formar um consenso amplamente aceito e u�lizado pelas UTIs do mundo inteiro... O método mãe canguru traz bebês de muito baixo peso para o contato pele a pele com sua mãezinha. Isso ajuda muito o bebê a conseguir mamar na sua mamãe. 29 É esse então o trabalho que as equipes de saúde fazem na direção de preservar o bom estado do bebê para o momento da mamada. Quase sempre um trabalho minucioso e lento. Mas, conhecendo as vantagens do aleitamento materno, é indiscu�vel que devemos fazer todo possível ao nosso alcance para permi�r que o bebezinho, mesmo o mais prematurinho, mesmo o de menor peso de nascido, mesmo após longos dias numa UTI Neonatal, permi�r que ele possa um dia mamar no peito de sua mãezinha. É muito bom saber que se a gente andar no caminho certo as coisas têm mais chances de se resolverem bem. E é isso que no fundo todos nós, profissionais e pais desejamos, não é mesmo? A vida é bela. E cheia de oportunidades imperdíveis. Então: Mãos à obra.... Os bebês de incubadora ficam mais confortáveis quando colocados em redinhas. Isso diminui muito para eles o stress dos dias de UTI. 30 9. Quando uma mãe fica muito tempo longe do seu filho e sem dar o peito a ele significa que ela nunca mais vai conseguir amamentar seu bebê? Não. Não significa. Toda mãe tem possibilidade de amamentar. Mesmo aquelas mães de bebês muito pequenininhos têm essa possibilidade. Mas para que as coisas fiquem bem para a mãe e para o bebê é preciso oferecer muito apoio à mamãe, é preciso ter um mínimo de conhecimento de como amamentação se dá, como o leite é fabricado dentro da mama, como ele vai da mama para o bebê, é preciso oferecer à mãe as condições de cuidado necessárias para que tudo saia dentro do planejado, sem imprevistos e sem improvisos. Mas é claro: Seria mais fácil e mais simples se essa separação não exis�sse ou se acabasse durando o menor tempo possível. Mas apesar de nem sempre as coisas saírem como nós desejaríamos que saíssem, a natureza é sabia e grandiosa e por isso permite que as mães não percam sua capacidade de amamentar mesmo nas vezes que enfrentam situações de grande dificuldade como é a internação de um filho numa UTI Neonatal. Vamos então conhecer alguns passos que podem ajudar a mãe de UTI a manter em dia uma boa produção de leite, afinal de contas é disso que ela precisa. Em primeiro lugar manter calma é fundamental. Sabemos como é di�cil, mas é necessário. E como manter a calma quando um filho está na UTI? * Orando. * Apegando seu coração a Deus. * Aceitando o apoio da família (e isso inclui a colaboração dos familiares nas tarefas de casa como arrumar, lavar, passar e cozinhar). Estar separada do filho traz tristeza e essa tristeza não deixa muitas vezes o leite de peito descer. 31 *Aceitando o apoio da Equipe de Saúde, entendendo que aqueles profissionais tem uma única especialidade e obje�vo: devolver seu filho a você da melhor maneira possível. * Abrindo seu coração com o pai do bebê. Isso ajuda você a enfrentar ao lado dele um problema que é dos dois. * Evitando ficar a todo instante repe�ndo e lembrando coisas tristes como o nascimento di�cil e a ida para a UTI. * Procurando ver o nascimento di�cil como a oportunidade do socorro imediato e a ida para a UTI como a possibilidade de sobrevivência do bebê. * Animando-se. * Não se entregando. * Sofrendo sem se destruir * Trocando experiências com outras mães que viveram o mesmo problema e passaram pelas mesmas culpas, mesmos medos, mesmos sustos e experimentaram, apesar de toda dor, um final feliz para sua história. Seu bem estar vai ser seu aliado pra você se tornar uma boa aliada do seu filho. Procure conhecer o leite materno: o que é, para que serve, como é fabricado, como sai da mama. Conhecer as coisas como elas são evita medo de fantasmas que não existem e de fantasias que não são verdadeiras. Por isso procure ler, procure aprender. Isso fará de você a dona da situação, e como dona da situação, estará em suas mãos dirigir seus caminhos. Neste livrinho você aprenderá alguns conceitos básicos explicados através de textos e imagens muito fáceis e escritos (em linguagem fácil) para facilitar sua compreensão. Então faça do conhecimento seu grande aliado. Aprenda que quanto mais vezes você esvaziar sua mama todos os dias, mais leite sua mama vai produzir. Sabia disso? Imaginemos um bebê em casa, com a mãe, mamando só no peito. Vamos supor que esse bebezinhomame a cada duas horas. Isso significa que ele vai esvaziar sua mama doze vezes por dia. Concorda? Quando a equipe iden�fica as fraquezas da mãe e oferece carinho e apoio, a dor da mãe diminui e suas chances de amamentar aumentam muito. Buscar informação e aprender como as coisas funcionam na amamentação é um passo muito importante que nunca deve ser deixado de lado. 32 Vamos dar um desconto. Vamos tentar �rar leite da mama a cada duas horas começando às oito da manhã e �rando pela úl�ma mamada às dez da noite. Isso daria dez "esvaziadas" ou "ordenhadas" por dia, e agindo assim chegaríamos muito perto do que acontece com um bebê sadio quando mama no peito. É esse número de vezes que ele suga o seio de sua mãezinha. Dez ou doze vezes a cada 24 horas. É esse o número de vezes que o peito informa ao cérebro que está saindo leite do peito. É esse o número de vezes que o cérebro manda o peito fabricar mais leite. Acha que ordenhar a mama dez vezes cada dia é cansa�vo? Pode até ser. Mas é a forma mais natural de imitar a natureza. Fazendo re�radas do leite do peito a cada duas horas sem se incomodar se você conseguiu ordenhar cinco ou quarenta gramas cada vez. Não importa. O que importa é você conhecer o processo e não desis�r dele. O que importa é você dar con�nuidade à re�rada de leite a cada duas horas. Enquanto você passa o tempo se envolvendo com as re�radas de leite a cada intervalo de duas horas, seu coração fica concentrado nessa re�rada e isso não deixa você se preocupar com outras coisas mais tensas que podem secar o leite. E enquanto isso você também vai se preparando para o momento tão esperado em que a equipe chamará você para começar a amamentar seu filho. E nessa hora você poderá dizer: Eu me preparei. Eu tenho leite. Eu tenho poder. Eu tenho força. A re�rada do leite do peito pela mãe com as próprias mãos a cada 2 ou 3 horas só faz aumentar a produção e evitar que o leite seque. As mães de bebês muito pequenininhos ou muito graves, que ficam muito tempo em UTI tem mais dificuldades de amamentar, mas com boa orientação nada está perdido. 33 É preciso, então, cada vez mais calma e confiança. Se não podemos �rar o leite da mama dez vezes por dia, �ramos cinco vezes. Se não conseguimos �rar quarenta ml de cada re�rada, �ramos quinze ml ou dez ml. Nenhum esforço é pequeno. Nenhuma quan�dade é desprezível. Um único ml de leite materno contém mais vida que muitas mamadeiras de leite em pó vendido em farmácia, por mais caro que ele seja. Nenhum esforço será feito em vão. Nenhum resultado será pequeno, todo empenho será recompensado. Leite materno é vida Mãe é amor. E isso é o princípio de tudo. Nós vamos, em outra parte desse livrinho, mostrar como se esvazia uma mama – chamamos isso de ordenha. Como é que isso pode ser feito com sua mão e também com a ajuda de alguns modelos de bombas de �rar leite. Vamos explicar direi�nho como você pode �rar seu leite com suas mãos e também usando essas tecnologias mais modernas. Esse quadrinho vai ajudar você a ir con�nuando as re�radas (para não se esquecer de pular nenhum horário). Serve também pra você ter uma ideia de quanto seu leite começa a render cada vez que você vai conseguindo cumprir as re�radas. Mães que ficam por meses longe de seus filhos, prematuros extremos por exemplo, devem estar preparadas para que mesmo colhendo diariamente o leite de suas mamas, perceberem que com o tempo a produção do leite acaba diminuindo. A internação de um bebê na UTI é muito ingrata para a mãe que acaba sofrendo muito. A preocupação com o filho e as dificuldades para a permanência da sua presença ao seu lado acabam dificultando esse esvaziamento das mamas a cada duas horas que é o que permi�ria a manutenção de uma boa produção. Uma coisa muito boa é desenhar uma tabelinha e anotar diariamente a hora e a quan�dade de leite re�rada. Isso faz a mãe ter certeza de que tudo vai bem e perceber depressa quando alguma coisa vai mal. 34 10. Como é que é uma mama por dentro? A mama, vista pelo lado de fora, é uma formação arredondada, como se fosse uma montanha. Então é assim: Uma mama dá tanto mais leite quanto mais leite produzem esses "cachinhos de uva" em seu interior. O bico (ou mamilo) é o seu ponto mais alto. Em volta do bico existe uma pele escura e mais grossa que é chamada de aréola. Por dentro da mama encontramos centenas de raminhos que se parecem cachinhos de uva. Esses cachinhos estão mais concentrados na ponta da mama, bem abaixo da aréola, o que explica a saída do leite ser maior quando o bebê abocanha a aréola ou quando a mãe ordenha corretamente a mama, como aprenderemos a seguir. O peito tem a forma de uma montanha. O bico do peito é rodeado por uma pele mais escura e gordurosa chamada aréola. Em volta da aréola está a mama propriamente dita. Dentro da mama existem centenas de coisinhas que se parecem com cachinhos de uva. Imagine assim: o leite é produzido nas uvas e corre pelos galhinhos menores até chegar ao galho principal de onde vai pra fora da mama. A gente vê um numero muito maior desses cachinhos de uva perto da ponta do peito que da sua base. Por isso o topo da mama (logo atrás da aréola) é o melhor lugar para a gente fazer a ordenha manual. 35 Mamas muito grandes são cheias de muita gordura e mamas muito pequenas têm pouca gordura. E é isso que faz umas mamas serem grandes e outras, pequenas: o fato de elas serem na verdade mamas gordas e mamas magras. Isso explica por que tanto faz se a mama for muito grande ou se for muito pequena, ela pode produzir a mesma quan�dade de leite. Portanto: Não é verdadeiro dizer que mamas grandes produzem muito leite. Não é verdadeiro dizer que mamas pequenas produzem pouco leite. O que faz a mama ser grande ou pequena é a gordura dentro dela, e gordura não produz leite, então ser uma mama grande ou pequena não significa produzir mais ou menos leite. O que faz uma mama produzir mais ou menos leite é a capacidade de seus “cachinhos de uva" produzirem leite. O número e a capacidade de cada um desses cachinhos produzirem leite varia de mulher pra mulher. Há mulheres cujas mamas possuem muitos “cachinhos de uva”. Há outras que possuem menos. Há algumas que possuem cachinhos muito espertos, que sabem fazer muito leite rapidamente. Há outras que possuem menos cachinhos ou cachinhos mais lentos, mais vagarosos. Mas uma coisa precisa ficar bem clara: Esses cachinhos só produzem leite quando são es�mulados. Quando a mãe “manda” eles produzirem leite. Se isso não acontecer, por mais “espertos” ou numerosos que eles sejam, vão trabalhar pouco e produzir pouco leite. Então se você entendeu bem isso, está na hora de ir para a próxima pergunta. 36 11. Como é que a mama fabrica o leite? Uhullll ! Boa pergunta. É mais ou menos assim: quando o leite sai da mama (e o leite sai da mama quando o bebê suga ou quando a gente esvazia ela, como aprenderemos mais adiante) a mama manda um recado para o cérebro assim: Esvaziei. Preciso voltar a encher. Então o cérebro mais que depressa manda uns hormoniozinhos trabalharem e esses hormoniozinhos mandam aqueles "cachinhos de uva" produzirem mais leite (você lembra daqueles “cachinhos de uva” que existem aos montes dentro da mama? Então. São eles que recebem a ordem do cérebro para produziremmais leite sempre que o bebê suga ou que você ordenha a mama...). A regra é clara: Esvaziou, produziu. Se o leite sai da mama, então a mama produz mais leite. E é sempre assim: A gente esvazia a mama; a mama avisa o cérebro; o cérebro manda a mama fazer mais leite. Quando o bebê suga o peito (ou quando o leite do peito é ordenhado) a produção de leite aumenta. A re�rada do leite (por sucção ou ordenha) é o maior es�mulo para a produção de leite pela mãe. Por isso é que o melhor que se pode fazer para ter leite é fazer o leite sair da mama. Quanto mais leite a mama bota pra fora, mais leite a mama fabrica. Se a gente �ra leite da mama a cada duas horas, então a cada duas horas a mama vai produzir mais leite. Viu que beleza? Se a gente economiza leite, deixando de �rar leite da mama, ou atrasando as ordenhas, ou �rando leite poucas vezes por dia, essa mama quase não vai ser es�mulada, quase não vai ser esvaziada, quase não vai avisar ao cérebro que esvaziou e quase não vai receber desse cérebro a ordem para voltar a encher. Por isso vai produzir menos leite do que produziria se fosse esvaziada várias vezes. 37 Deu pra entender? Esvaziar a mama faz a mama ficar mais cheia, e não ficar mais vazia. Já quando a gente “economiza” re�rada de leite, deixando de esvaziar a mama, é aí que ela produz menos, cada vez menos, e tão menos até que um dia o peito para de produzir e o leite seca... Tem gente que diz que canjica faz render leite. Cerveja preta. Mate. E outras coisas. Mas uma coisa de verdade a gente sabe: seja qual for o mito popular em que você acredite, nada é tão importante para a mama produzir leite quanto esvaziar a mama. Perto disso, todas as outras coisas são menos importantes que esvaziar a mama. E sem esvaziar a mama, qualquer outra forma de tentar fazer a mama render leite é tempo perdido. Essa foi fácil aprender. Mas tem mais. Então, Vamos para a próxima. 38 12. Porque é que de vez em quando o leite vaza da mama? Às vezes, quando a mãe menos espera, o leite começa a vazar do peito dela. Por que é que isso acontece? Porque sempre quando a mãe está calma e com pensamentos tranquilos ela sem querer faz seu leite descer da mama e começar a vazar pela roupa, e a escorrer pelo peito, como uma cachoeira. Algumas mães, sabendo disso, chegam até a usar uma fralda debaixo da blusa para evitar que o leite molhe sua roupa, de tanta quan�dade que às vezes desce, e sempre quando ela menos espera... E isso funciona sempre assim. Vimos no texto anterior que quanto mais o leite é re�rado da mama mais a mama FABRICA o leite. Mas agora vamos aprender que quanto mais calma e mo�vada a mãe está, mais facilmente o leite consegue sair da mama dela. Exatamente desse jeito: A mãe calma e relaxada sente uma fisgada na mama que faz o leite dela vazar. Essa fisgada é como se ela “espremesse” aqueles “cachinhos de uva” que conhecemos alguns textos atrás. A mãe calma espreme os cachinhos que estão dentro do seu peito que assim, com a mãe calma, fisgam os cachos e vazam seu leite, fazendo o leite descer. Ficar calma e relaxada então ajuda na ordenha com a mão, na ordenha com a bomba, na sucção do bebê e mesmo na saída espontânea do leite, quando o leite desce sozinho, sem precisar ser sugado pelo bebê ou ordenhado pela mãe. O leite vaza sozinho quando o coração da mãe está tranquilo e mo�vado. Basta pensar no bebê e o leite vaza. Basta visitar o bebê na UTI e o leite vaza, às vezes; basta pensar no bebê com carinho, ou ver um bebê na TV, ou lembrar de crianças que fazem pensar em seu filho e o leite vaza. O bom humor é o maior aliado da mãe para fazer brotar o leite de seu peito para o seu filho. Mães bem apoiadas facilitam e ajudam a descida do leite. Por isso é importante você procurar se sen�r bem, confortável, orientada em relação a seu bebê (para não criar fantasmas e alimentar medos que acabam atrapalhando tudo). Relaxa, que o leite baixa... É muito bom. Não acha? Uma mãe tranquila deixa o leite sair da mama. Nada é mais poderoso que o bem estar pra fazer o leite descer e muitas vezes até vazar, mesmo sem o bebê sugar. 39 13. Porque é que às vezes o leite não desce? Experimente deixar uma mãe que amamenta nervosa. Sabe o que acontece? O leite para de descer. Nem com bomba, nem com sucção, nem com ordenha com as duas mãos, nada vai conseguir extrair leite das mamas de uma mãe nervosa, tensa. O leite trava dentro do peito. E o que deixa uma mãe nervosa? * O medo de seu filho piorar. * A preocupação que ela tem de não conseguir �rar leite * Conversar com os médicos e não entender o que eles dizem (e quando a gente não entende o que um médico diz a gente �ra conclusões perigosas). * Não ter apoio em casa (ou ter o apoio somente de uma família que precisa tanto de apoio quanto ela, de uma família que está tão triste e fraca e preocupada como ela, incapaz de apoiá-la como ela precisa por também estar precisando muito de apoio). * Não ter no hospital alguém que escute seus medos e acalme suas dúvidas, que a tome no colo como ela deseja tomar no colo seu filho indefeso. Somente as mães são capazes de entender o coração materno. A maternidade é um dom de Deus. A maternidade dolorosa sofre e deixar de dar leite é um dos sinais através dos quais a gente pode perceber essa dor. E mesmo quando a mama está cheia de leite, se a mãe es�ver triste e preocupada, fraca e ansiosa, tensa e agitada, ela não consegue fazer o leite sair de seu peito. E o leite se junta na mama, e o leite junto, empedra. Uma mãe preocupada prende o leite no peito. Daí nem usando mão nem bomba, nem pondo o bebê pra sugar, nada faz com que o leite consiga descer da mama. A tensão materna trava a descida do leite. 40 E é assim: A tensão e a falta de apoio complicando tudo. Às vezes isso piora quando a mãe em vez de ficar tranquila para seu leite descer, prefere dar uma mamadeira pro seu bebezinho, por acreditar que ela não tem leite (mas na verdade ela tem um leite que não consegue sair porque ela está muito nervosa). Daí o bebê vai aprendendo a mamar na mamadeira e deixando pouco a pouco o seio que passa a produzir cada vez menos leite de uma mãe que acredita cada vez menos nela e na sua capacidade de amamentar seu filhote. Mas tudo é uma questão de corrigir os problemas desde o início. Acreditar que é possível. Conhecer os mecanismos para evitar pensar em tristezas que só fazem mal. Ficar tranquila e saber que seu sorriso é essencial para descer seu leite. Gen�leza gera gen�leza. Tranquilidade gera leite materno. 41 14. Como é que se faz a ordenha manual do leite materno? O nome é esse mesmo: ordenha. A re�rada do leite das mamas. Um bebê, quando suga o peito, ele ordenha o peito. Como já vimos, quando o bebê apresenta dificuldades para mamar no peito da mãe é preciso "ordenhar" essa mama para a mama não empedrar nem secar e para não deixar a mãe perder a possibilidade de amamentar. O leite ordenhado, re�rado das mamas, pode ser oferecido ao bebê ainda fresco, guardado na geladeira, doado a um Banco de Leite Humano ou, em alguns casos, jogado fora quando não houver outro jeito, mas acredite: é melhor ordenhar e jogar fora o leite e com isso tentar manter a produção em alta do que não ordenhar para não precisar jogar fora e ver com isso a produção cair a cada dia o que afinal de contas é tudo que não queremos. E como se faz a ordenha do leite? Qual o jeito correto de �rar o leite do peito? Antes de mais nada, é precisodeixar uma coisa bem clara: a ordenha do leite materno é coisa muito séria e deve ser feita de forma muito correta para que se tenham bons resultados e se possa aproveitar esse gesto que somente as mães conseguem fazer por seus filhos. Um lugar limpinho e arrumado, silencioso e tranquilo e longe de animais e instalações sanitárias é o lugar correto para se ordenhar uma mama. 42 43 Escolha um can�nho da casa bem silencioso, longe da barulhada diária e da movimentação das pessoas, dos aparelhos, do som das TVs e dos rádios, embora às vezes uma música ambiente bem calminha possa ajudar você a relaxar... É importante também que a ordenha seja feita num local limpinho e bem arrumado. Nada de ordenhar perto de banheiros (muito menos de banheiros com porta aberta), ralos e instalações sanitárias. Assim você evita o risco perigoso de contaminação do leite. Lembre que a contaminação é invisível e você só percebe que foi contaminada depois que a contaminação machuca você. Lembre-se: o cheiro do cigarro e de perfumes estraga o leite ordenhado porque o leite tem capacidade de “roubar” o cheiro do ambiente, estragando seu cheiro e impedindo sua u�lização. Nada de usar perfumes ou ordenhar perto de pessoas que fumam. Pro bem de seu bebê. Por isso vale lembrar: nada de animais por perto: gatos, cachorros, passarinhos, hamsters... Esses bichinhos podem eliminar pelos e penas que podem cair no leite sem você perceber e estragar todo seu trabalho, colocando em risco a saúde de seu bebê. Prepare-se para a ordenha colocando um lenço comum de cabelo (ou uma fralda de pano limpa) sobre a sua cabeça e cobrindo seu nariz e sua boca com um lencinho de pano limpo (re�rado da gaveta) para evitar que fios de cabelo, caspa, poeira juntada no cabelo e go�culas invisíveis de saliva, que saem da sua boca quando você fala (um mo�vo bem verdadeiro para evitar conversas durante a ordenha), caiam no leite ordenhado. Cobrir os cabelos e o nariz com um lenço evita contaminar o leite ordenhado. Por isso evite conversas durante a ordenha. Como acabamos de ler, falar durante a ordenha pode contaminar o leite. Mas conversar às vezes também desconcentra e dependendo do assunto pode irritar ou entristecer você ou deixar você mais tensa, por isso o melhor amigo nessa hora é o silencio. Um úl�mo detalhe: já estamos quase iniciando nossa ordenha, mas embora possa parecer óbvio, não custa nada lembrar. Antes de ordenhar suas mamas, lave bem as suas mãos com água e sabão. Mas não só as mãos: lave também o braço e o antebraço (acima do cotovelo) também com água e sabão. Depois se enxugue bem usando uma toalha limpa re�rada da gaveta. Qualquer descuido pode ser prejudicial nessa hora, por isso não custa nada tomar esses cuidados. Finalmente a ordenha propriamente dita é dividida em duas partes: * A massagem das mamas * A extração manual do leite de peito Vamos então aprender como massagear uma mama? A massagem das mamas A massagem da mama serve para "amaciar" a mama e facilitar a re�rada do leite de dentro dela pela ordenha. Uma mama que precisa ser ordenhada está na maioria das vezes muito cheia e muito tensa. Às vezes, até muito quente. A massagem que vamos aprender aqui permite um amaciamento preparatório desta mama. E como fazemos a massagem da mama? A massagem é feita pela própria mãe. Usando as próprias mãos. O passo inicial é aplicar movimentos circulares com a ponta do dedo indicador sobre a parte escura da mama, aquela em volta do bico (chamada aréola). A massagem da aréola é feita usando dois dedos que pressionam a aréola alisando em círculos (sem arranhar a mama) e circulando toda a aréola. Essa massagem deve ser repe�da 3 vezes ou mais para um bom resultado. As mãos devem ser lavadas com água e sabão até acima do cotovelo pra garan�r a higiene da ordenha. 44 Esses movimentos circulares vão percorrer toda essa parte escura por uma, duas ou três voltas completas, após o que será possível perceber que esta aréola está mais macia e menos endurecida quando comparamos essa aréola com a aréola da mama que ainda não foi massageada. Depois que essa área escura em volta do bico (aréola) foi massageada é hora de massagear a mama. Vamos dividir a massagem da mama em três partes: * A massagem com a palma da mão * O chacoalho das mamas * O "pente fino" com os dedos sobre as mamas Após estes três procedimentos a mama estará finalmente pronta para ser ordenhada. A massagem com a palma das mãos é simples: Usando a palma da mão, faça uma leve pressão sobre a sua mama, tentando amaciá-la. É preciso que você saiba iden�ficar as partes mais endurecidas da mama e pressionar essas partes mais endurecidas da mama com a palma da sua mão fazendo amaciar essas partes. Aplique sobre sua mama uma pressão que tenha uma força necessária não apenas para apalpá-la, mas para empurrá-la e apertá-la contra seu corpo. É você quem precisa sen�r e decidir com que força você deve massagear sua mama com a palma de sua mão. Uma força que deve ser firme o suficiente para amaciá-la, mas não tão forte que possa causar dor a você. Enquanto com uma mão você massageia o seu seio, com a outra você faz uma base para "dar firmeza" à mama entre a mão que massageia e a que dá suporte, fazendo com que essa massagem se torne mais eficiente. E essa pressão deve ser feita através de movimentos circulares e firmes em volta de toda a mama, tentando amaciar ela inteira. A massagem das mamas deve ser feita com a palma da mão e precisa rodear toda a mama até amacia-la. 45 Para conseguir amaciar uma mama muito tensa, pode ser necessário rodear essa mama umas duas ou três vezes com a palma, massageando e tentando tornar a mama menos endurecida e menos tensa. Após algumas “rodadas” com massagens na mama, ela deverá estar mais macia, e quando isso acontece significa que a massagem foi bem sucedida. Compare a mama massageada com a outra. Isso vai provar a você realmente se sua massagem foi acertada. Se a mama ainda es�ver muito dura e tensa seja paciente, persistente e de forma tão tranquila quanto a situação exige, permaneça em seu exercício que só tem um caminho: você consegue ou consegue. Não tem erro. Chacoalhando suas mamas Uma vez que você amaciou as suas mamas, está na hora de dar uma chacoalhada de leve nelas. Cer�fique-se de que as mamas estão mais macias depois da massagem. Então passemos ao passo seguinte: Acomode-se num assento que faça você se sen�r bem confortável. Incline seu corpo ligeiramente para frente e, com a mão em concha colocada debaixo da mama como se sua mão fosse uma colher e sua mama fosse um bolo, tome sua mama pela palma da mão da mesma forma um menino segura uma bola e jogue sua mama várias vezes para cima, de modo que o conteúdo da sua mama (o leite materno que está dentro do seu peito) seja chacoalhado ou "misturado" antes de ser ordenhado. Chacoalhar as mamas agita o seu conteúdo e relaxa as fibras musculares, facilitando a descida do leite. 46 Esse balanço ou chacoalho deve ser repe�do algumas vezes. Umas cinco ou dez "jogadas para cima" ou chacoalhadas são suficientes para misturar o leite que está dentro do seu peito e deixando ele pronto pra ser ordenhado (ou mamado pelo bebê). Chacoalhar a mama ajuda também a relaxar os músculos do peito e as estruturas de dentro da mama. É um passo importante para a ordenha ser bem sucedida. Pronto. Passamos agora para a ul�ma etapa: o pente fino com os dedos sobre a mama. Os mais an�gosensinavam passar um pente fino sobre a mama, e diziam que isso ajudava a descer o leite. Ué. Mas por é que eles diziam isso? Porque alisar a mama com um pente devagarzinho, e de forma bem levinha, es�mula a sensibilidade da mama do mesmo modo que um carinho sobre a pele é capaz de es�mular, em quem o recebe, um arrepio. O toque suave, como um carinho que o pente faz nas mamas, é imitado aqui pela ponta dos dedos. O que os dedos, armados como um pente, fazem é es�mular as terminações nervosas da mama facilitando a descida do leite. Esse toque leve dos dedos imitando um pente fino sobre a mama vai fazendo com que ela seja es�mulada lá dentro e esse es�mulo vai fazendo com que aqueles “cachinhos de uva” que existem dentro do peito espremam o leite que está dentro deles e facilitem assim a descida e a saída do leite. Então, terminada a massagem das mamas que pode durar de 5 a 10 minutos, chegou a hora de começar a ordenha ou re�rada do leite das mamas. Esse tempo foi o que gastamos para massagear a mama, es�mular sua sensibilidade e misturar seu conteúdo porque isso vai ajudar nos nossos resultados. 47 A extração manual do leite de peito Aqui vamos aprender basicamente a usar as nossas mãos para a ordenha do leite. Mas, por que as mãos e não as bombinhas? Porque a ordenha manual pode até ser mais cansa�va. Mas é natural e é gratuita. É acessível a todas as mães, sem dis�nção. E funciona sem bateria. E pode ser usada à hora que você quiser, no lugar onde você es�ver e é sempre eficiente e está sempre disponível. Não estraga nunca nem precisa de manutenção ou de encontrar tomada por perto. E uma tomada na voltagem certa do aparelho. Que nada. A mão está sempre on-line. Nunca está desligada ou fora da área de cobertura. Não machuca. Não fere o peito. Não causa dor. É tudo uma questão de treino e aceitação, perseverança por você, para o seu filho. É um exercício que requer compreensão e paciência. E com o tempo você perceberá que é tudo uma questão de hábito e não é tão di�cil de se acostumar. Quando você faz opção por ordenhar as mamas com uma bombinha manual, do �po "buzina", ou usando uma bombinha do �po “seringa”, que extrai o leite de forma agressiva, você perceberá o quanto isso é ruim e por conta disso essas bombinhas não são recomendadas. Elas são grosseiras e muito ruins. Evite seu uso. O uso das mãos pode ser mais cansa�vo, mas é muito mais saudável. Ordenhar com bombas �ra leite mecânicas do �po ga�lho ou com bombas �ra leite elétricas é uma opção bem melhor. Existem diversas marcas e qualidades de bombas �ra leite mecânicas do �po ga�lho e elétricas no mercado. Algumas são muito boas, outras são muito grosseiras. A opção vai depender de combinar a qualidade da bomba com a sua capacidade de compra e a disponibilidade no comércio. Por essas e por muitas variáveis é que a gente escolhe como padrão para nossa leitura e aprendizado a u�lização das mãos para a re�rada do leite. Os dedos usados para a extração do leite são o indicador e o polegar. A re�rada do leite é feita usando uma sequência de movimentos de contato entre esses dedos e a mama. A ordenha se inicia tocando com esses dedos a mama e executando três movimentos que aprenderemos a seguir. O ponto exato da mama que vai receber o contato dos seus dedos é a pele da mama que vem imediatamente depois da aréola. Um erro então muito frequente (que acaba tornando a ordenha menos produ�va) é tocar a aréola (errado) e não a área da pele que fica em volta dela (a área certa). O local exato da pressão dos dedos para a ordenha da mama é a pele imediatamente em volta da aréola. 48 Com os dedos polegar e indicador colocados neste ponto da mama, vamos aplicar e exercitar con�nuadamente três movimentos que vão se repe�r por toda a ordenha: Empurre a mama para dentro do peito com os dedos indicador e polegar. Aperte a mama juntando esses dois dedos (como se eles imitassem a ação de uma pinça). Solte completamente seus dedos da mama, deixando ela livre voltar para a posição normal. A mama deve ser empurrada contra o peito fazendo um primeiro movimento para a ordenha. Os dedos devem se unir sobre a mama, apertando-a, executando o segundo movimento para a ordenha. Num terceiro e ul�mo movimento os dedos se soltam da mama, fazendo-a relaxar. Con�nue esses movimentos, repe�ndo-os várias vezes: Empurre a mama contra você com seus dois dedos. Aperte a mama, pinçando com seus dois dedos a pele logo atrás da aréola. Solte seus dedos da mama, deixando ela livre. Empurre. Aperte. Solte. E mais muitas vezes essa mesma sequência, de forma bem lenta: Empurre. Aperte. Solte. É possível, desde o início, numa mama trabalhada, perceber a saída do leite. Repita sempre esse exercício. Aos poucos você perceberá a descida do leite. Aos poucos comece a mudar a posição dos seus dedos, circulando a mama, tentando apertar todas as suas “fa�as”. Vá ordenhando dessa forma a mama inteira, de modo que você consiga re�rar o leite de várias posições da mama e quan�dades de leite armazenadas em vários lugares do interior do peito. No início, go�culas de leite vão escorrer pelo peito. Pouco a pouco jatos finos de leite começarão a espirrar da mama indicando que a ordenha está se saindo bem sucedida. 49 Enquanto você perceber que a saída é volumosa não desista, con�nue. Enquanto você perceber que a saída é lenta e não passa de go�nhas, não desista, con�nue. Esguichando ou gotejando, é sua tranquilidade que garan�rá uma boa coleta. A ordenha se faz com as mãos, mas se faz também com o coração e com o pensamento. A pressão dos seus dedos só faz deixar sair da mama o que seu coração tranquilo e mo�vado libera para ser ordenhado. Não exija das suas mãos o que o seu coração não consegue: tranquilidade para permi�r que elas façam. Ordenha manual é metade mãos e metade seu coração tranquilo e com muita vontade. É assim que a coisa funciona. Estamos quase lá. 50 15. O que fazer com o leite ordenhado? Cada vez que você ordenha um pouquinho que seja de leite de seu peito, você está ajudando o seu peito a fabricar mais leite. Mas o que fazer com o leite que você ordenha? Em primeiro lugar, antes de falar dos des�nos do leite ordenhado vamos aprender a preparar um frasco de vidro para recebê-lo? ü O leite ordenhado deve ser coletado num frasco de vidro com tampa plás�ca. Desses vidros de café solúvel. ü O disco de papelão que fica dentro da tampa deve ser re�rado. ü O vidro e a tampa devem ser colocados numa panela com água fervendo por 15 minutos. Esse tempo é suficiente para limpar o frasco de vidro e garan�r a coleta higiênica do leite. ü Depois de ferver por 15 minutos, o vidro e a tampa devem ser colocados para secar sobre um pano limpo. ü Depois que es�ver seco, o frasco está pronto para ser u�lizado imediatamente. ü Guardar um frasco preparado desta forma tão simples para que seja u�lizado mais tarde ou outro dia é uma economia sem sen�do e um risco desnecessário que nós, defini�vamente, não recomendamos aqui. Aqui então estamos prontos para guardar o leite ordenhado e seguir com ele por cinco caminhos, como veremos a seguir. Como já vimos algumas letras atrás, o leite materno depois de ordenhado pode seguir cinco caminhos dis�ntos: 1. O leite ordenhado pode ser oferecido imediatamente e ainda fresco ao seu bebê. 2. Pode ser armazenado e conservado na geladeira 3. Pode ser armazenado e conservado no congelador 4. Pode ser armazenado e conservado no congeladorpara ser doado a um Banco de Leite Humano 5. Pode ser dispensado, jogado fora. Os vidros de café solúvel são ideais para a coleta domes�ca de leite. A tampa plás�ca do vidro de café solúvel deve ter seu fundo de papelão re�rado antes de ser colocada em uso para a coleta. 51 Oferecer o leite imediatamente a seu bebê é seguro, mas você precisa observar alguns aspectos: ü O leite ordenhado não deve ir à geladeira. É leite ordenhado para ir direto d a coleta para o bebê. ü É preciso lembrar também que esse leite deve ser oferecido de imediato ao bebê, não deixando-se o frasco com leite que acabou de ser ordenhado ficar exposto à temperatura ambiente porque isso faz cair a qualidade do leite e aumentar os riscos de contaminação. ü Esse leite é de uso exclusivo para seu filho. Não deve em hipótese alguma ser oferecido a outro bebê, porque contraria as normas de segurança tão necessárias nos dias atuais e recomendadas pelo Ministério da Saúde. ü A melhor forma de oferecer esse leite a seu bebê é através de um copinho pequenininho, evitando que esse leite tão perfeito seja oferecido em chucas que vão prejudicar a amamentação. ��ü Atenção para um detalhe muito importante: se o bebê que for receber o leite es�ver no hospital, colha o leite no próprio hospital, nunca em casa, porque o leite deve ser colhido sempre onde o bebê es�ver, evitando dúvidas sobre a técnica correta da ordenha e diminuindo as chances de risco para o bebê. O leite que a mãe �ra de seu peito tem 5 des�nos possíveis. 52 O leite ordenhado pode também ser guardado em geladeira. Essa é uma alterna�va para quando você precisa se afastar por pouco tempo da companhia de seu bebê e não quer oferecer a ele leite de lata. Siga nesse caso as seguintes regras: ü O leite guardado em geladeira deve ficar na primeira prateleira. E em hipótese alguma pode ser guardado na porta. ü O leite conservado dessa forma deve ser aquecido em banho maria (água aquecida com fogo desligado) antes de ser oferecido a seu bebê, de forma que ele chegue a seu filho numa temperatura agradável. ü Para saber se o leite está na temperatura ideal, você deve encostar o recipiente na parte interna do seu braço. Quando a temperatura do frasco de leite a�ngir a temperatura corporal, o leite já pode ser oferecido a seu bebê, porque essa é a temperatura adequada. ü Uma vez aquecido, o leite não deve voltar a ser guardado em geladeira, devendo ser consumido imediatamente, não devendo ser refrigerado novamente. ü Esse leite é de uso exclusivo para seu filho. Não deve em hipótese alguma ser oferecido a outro bebê porque contraria as normas de segurança tão necessárias nos dias atuais e recomendadas pelo Ministério da Saúde. ü A geladeira comum conserva esse leite por um período máximo de 12 horas. Passado esse tempo, todo conteúdo não u�lizado deve ser desprezado e em hipótese nenhuma ser congelado para aproveitamento posterior. ü A melhor forma de oferecer esse leite a seu bebê é através de um copinho pequenininho, evitando que esse leite tão perfeito seja oferecido em chucas que vão prejudicar a amamentação. A geladeira é o principal equipamento domes�co u�lizado para a conservação do leite ordenhado que pode ser guardado no congelador ou na porta. 53 Quando houver possibilidade, o leite ordenhado pode ser guardado no congelador, também obedecendo algumas regrinhas básicas: ü O congelador conserva o leite ordenhado por 15 dias. Após esse período, esse leite deve ser desprezado por ser impróprio para consumo e impróprio da mesma forma para doação. ü Quando uma quan�dade de leite é colocada no congelador para ser conservada por 15 dias, a data e a hora de entrada do leite no congelador devem ser anotadas no lado de fora do frasco, para evitar ficar mais tempo que o permi�do. Use uma fita crepe para anotar a data e a hora da colocação do leite no congelador. ü Uma vez colocado para ser conservado no congelador, o frasco de leite pode receber novas quan�dades de leite ordenhado. Esse leite deve ser coletado em outro frasco ou em um copo de vidro previamente fervido, porque não se pode usar o frasco de leite congelado para ir recebendo o leite durante a ordenha. Re�re o frasco que está no congelador apenas na hora de adicionar o volume colhido nesse novo frasco e recoloque imediatamente no congelador para evitar o risco de descongelar. Durante os 15 dias de validade desse leite (contadas a par�r da primeira adição de leite ao frasco de vidro) podem ser adicionadas tantas quan�dades quantas forem necessárias, sendo que a data de validade será SEMPRE a data do PRIMEIRO VOLUME ANOTADO. Passados 15 dias, todo volume não u�lizado deverá ser desprezado. ü Não é permi�do recongelar o leite após o mesmo ter sido descongelado. A quan�dade não u�lizada deve ser desprezada. Nunca devolva o leite ao congelador depois de seu uso. ü O frasco de vidro, uma vez descongelado, deve ser consumido em no máximo 12 horas se conservado em geladeira (ou imediatamente, se não houver essa disponibilidade). Após esse período, deve ser desprezado. Os Bancos de Leite Humano são uma inovação tecnológica genial de apoio ao aleitamento de prematuros no Brasil e no mundo. O lixo vai servir de des�no para o leite ordenhado sempre que for preciso manter a produção e não houver possibilidade de conservá-lo. 54 Um quinto e inesperado des�no para o leite ordenhado é jogá-lo fora. Um desperdício aparente, mas que está jus�ficado quando não houver opção de conservação em geladeira, congelador, oferecimento ao bebê ou doação a um Banco de Leite. Ordenhar durante uma viagem longa ou no meio de um engarrafamento, ou quando se está em casa de estranhos, longe da sua casa, podem ser algumas dessas situações. Esse desperdício aparente tem como grande beneficio a grande regra da amamentação: quanto mais leite sai da mama, mais leite a mama fabrica. Então jogar fora um leite ordenhado durante uma situação como essas favorece a con�nuidade da produção. É um pequeno sacri�cio por uma grande causa. Jogar leite fora não é uma sugestão que fazemos aqui, mas é certo afirmar que faz menos mal que ver a produção diminuir por conta da diminuição da re�rada. Entendeu bem? O leite ordenhado pode também ser doado a um Banco de Leite Humano. Para isso, ele pode ser ordenhado no próprio Banco de Leite para doação ainda fresco ou pode também ser congelado em casa para ser doado depois (dentro do prazo de validade do leite congelado). Quando um leite é congelado para ser doado, não se pode doar no décimo quinto dia, porque os Bancos de Leite não “pasteurizam” leite todos os dias. Então é bom que esse leite seja doado com no máximo 7 dias de congelamento (porque ele pode passar mais 5 dias no Banco aguardando pasteurização sem estragar). A doação de leite é muito importante pra ajudar no tratamento de bebês prematurinhos internados nas UTIs, e doar faz bem pra quem recebe e faz muito mais bem pra quem doa, concorda? Mas cuidado: uma boa parte do leite doado aos Bancos de Leite do Brasil todo acaba, não podendo ser aproveitada, porque o leite chega com impurezas como cabelos, cílios, poeira, ou contaminado com cheiros de cigarro e perfume, impedindo sua u�lização. Portanto, todo cuidado é pouco na hora da ordenha para uso ou doação. Os Bancos de Leite Humano não recebem leite de mães fumantes ou que fazem uso de medicamentos incompa�veis com a amamentação (consulte o Banco de Leite de sua região, se houver, e verifique se o medicamento que você faz uso de ro�na é contraindicado
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