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Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 1 MED RESUMOS 2011 ARLINDO UGULINO NETTO LUIZ GUSTAVO C. BARROS YURI LEITE ELOY MEDICINA – P8 – 2011.1 MEDICINA LEGAL REFERÊNCIAS 1. Material baseado nas aulas ministradas pelos Professores Ronivaldo Barros e Luciana Trindade na FAMENE durante o período letivo de 2011.1. 2. FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004 3. ALCÂNTARA, Hermes Rodrigues de. Percia Mdica Judicial. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2006 4. SANTOS, Emílio Eduardo. 1000 perguntas de Medicina Legal. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1983 5. CÓDIGO PENAL BRASILEIRO Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 2 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. MEDICINA LEGAL PERÍCIA MÉDICO-LEGAL (Professor Ronivaldo Barros e Luciana Trindade) A Medicina Legal uma especialidade mdica e Jurdica que utiliza conhecimentos tcnico-cientficos da Medicina para o esclarecimento de fatos de interesse da Justia. Segundo o prprio Professor Genival Veloso de Frana, e Medicina Legal " a contribuio da medicina e da tecnologia e ci ncias afins s questes do Direito, na elaborao das leis, na administrao judiciria e na consolidao da doutrina". Para o Professor Ronivaldo Barros, a Medicina Legal , simplesmente, “a Medicina a servio do Direito”. Seu praticante chamado de médico legista ou simplesmente legista. A sua principal ferramenta de profisso a perícia médico-legal. Por definio, a percia mdico-legal consiste na aplicao metdica e imparcial dos conhecimentos mdicos para esclarecer fatos de interesse de autoridade legitimada. Em outras palavras, define-se a percia mdico-legal como um conjunto de procedimentos mdicos e tcnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da Justia. Ela tem a finalidade de auxiliar ou interferir na deciso de uma questo judiciria ligada a vida ou a sade do homem ou que com ele tenha relao. O executor da percia mdico-legal chamado de perito médico (mdico legista ou, simplesmente, legista), que consiste em um profissional formado na rea mdica que, conforme juzo de autoridade legitimada, detm os conhecimentos tcnicos e os atributos morais necessrios para realizao de uma percia. A partir destes levantamentos conceituais, este captulo tem por objetivo, alm de introduzir a disciplina de Medicina Legal na graduao em medicina, os seguintes: Demonstrar as peculiaridades da Medicina Legal com relao s demais reas da medicina; Apresentar e discutir a legislao que disciplina a percia mdica na seara penal; Discutir os pontos geradores de dvidas nas questes legais relativas percia mdico-legal. CONSIDERAES GERAIS A Medicina Legal se difere, em diversos pontos, das demais especialidades. Com o que foi exposto at ento, deve-se ficar claro que a finalidade da percia produzir uma prova, e a prova no outra coisa seno o elemento demonstrativo do fato. Portanto, se a vtima de uma agresso (seja fsica ou psicolgica) dirigida ao mdico legista para a confeco de uma percia, o perito no tem a pretenso de atend -lo para curar ou cuidar de sua sade, mas sim, de analisar a suposta a agresso e comunicar ao Juiz ou rgo solicitante, por meio da percia mdico-legal, a exist ncia de um eventual dano sade da vtima. Por esta razo, nas mos de um mdico-perito, a vtima deixa de ser paciente e se torna um periciando, caracterizando um objeto de anlise. Desta forma, a Medicina Legal uma especialidade mdica peculiar – ela no se exerce para atender aos interesses daquele que est diante do perito (o periciando), mas para atender aos interesses de uma autoridade (um Juiz, por exemplo) que tem dvidas acerca de um fato de natureza mdica, de caso concreto, e quer ter tal dvida desfeita atravs de uma anlise realizada por um perito habilitado para tal. Como regra, segundo o prprio Cdigo de tica Mdica, o mdico em geral est preso ao sigilo profissional, sendo ele obrigado a manter segredo quanto s informaes confidenciais de que tiver conhecimento no desempenho de suas funes. Diferentemente disso, o mdico legista, de certo modo, foge a esta regra, uma vez que ele chamado para expor acerca de um fato. Portanto, o laudo mdico-legal no documento sigiloso; mas uma pea pblica, como o boletim de ocorr ncia e o inqurito policial no qual ele anexado. Apenas quando a autoridade policial acredita que sua divulgao possa prejudicar o andamento de uma investigao, solicita a um juiz que decrete segredo de Justia sobre o caso. Entretanto, o sigilo mdico pode ser mantido para aqueles casos de natureza mdica que em nada somam ou interferem na aplicao da Lei (como por exemplo, se o paciente vtima de agresso fsica, no interessa a divulgao de sua provvel opo sexual, presena de eventuais doenas sexualmente transmissveis, dados ou doenas constrangedoras para o periciando, etc.). Por fim, vlido ressaltar que, diferentemente de qualquer outra especialidade mdica, em que o profissional opta por qual atividade ele quer se dedicar dentro da medicina, o perito-mdico pode ser solicitado a realizar uma percia quando convocado por uma autoridade legal, sendo o mdico, independente de sua especialidade, obrigado a aplicar seus mais profundos conhecimentos em Medicina Legal para a realizao de uma eventual percia, mesmo que no seja a sua vontade. Muito embora, diga-se de passagem, o perito louvado (escolhido ou ad hoc) no recebe nenhuma gratificao financeira para tal ato. Portanto, em concluso ao que foi exposto at agora, podemos destacar, pelo menos, tr s aspectos que diferem a Medicina Legal das demais especialidades mdicas que constituem a Medicina Assistencialista: Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 3 (1) A Medicina Legal no se exerce para atender aos interesses daquele que est diante do perito (o periciando), mas para atender aos interesses de uma autoridade (um Juiz, por exemplo) que tem dvidas acerca de um fato de natureza mdica, e quer ter tal dvida desfeita atravs de uma anlise realizada por um perito habilitado para tal anlise. Portanto, no existem pacientes para a Medicina Legal, mas sim, o periciando, que nada mais que um instrumento de anlise. (2) No h sigilo mdico no que diz respeito ao resultado da anlise (percia) realizada pelo perito-mdico, at certo ponto. Este ponto est relacionado com aqueles fatos de natureza mdica que no t m relao com a dvida da autoridade solicitante ou que no so necessrios para a aplicao da Lei. Estes fatos podem ser mantidos sob sigilo mdico. (3) A prtica da Medicina Legal no restrita para mdicos legistas destinados para tal funo: qualquer profissional mdico, independente de sua especialidade, pode ser louvado para fazer uso dos conhecimentos em Medicina Legal coercitivamente, desde que nomeado por uma autoridade, seja no interesse dos procedimentos policial- judicirios seja nos inquritos policial-militares. (4) Os achados clnicos encontrados no objeto de estudo mdico-legal (representado pelo periciando) no so encarados sob uma perspectiva de tratamento – o mdico-perito apenas ver e refere em um laudo a leso encontrada, sob o ponto de vista etiolgico, diagnstico e prognstico, sem se preocupar com o tratamento. OBS1: Embora o periciando com relao ao perito no goze de todos os direitos que tem um paciente com relao a um mdico, ele pode deter direitos bsicos, como a presena de um acompanhante, o direito da privacidade, etc. DESTINO DAS PERCIAS MDICAS Como vimos anteriormente, a Medicina Legal corresponde ao uso da medicinaservio do Direito. Contudo, o Direito pode ser considerado como um campo dotado de vrias reas de abrang ncia – ou, como chamado pelo prprio Direito, vrios ramos: direito civil (geralmente relacionado com indenizaes), direito trabalhista, direito militar, direito penal (ou criminal), direito administrativo, etc. A medicina contribui com o direito em todos estes diversos ramos. Muito embora, o Frum Penal seja o escolhido para centralizao do estudo pois, apenas neste ramo, o mdico pode ser solicitado para a realizao de uma percia de forma compulsria. Em todos os outros campos, o mdico louvado pode apresentar uma escusa (ou rejeio) qualquer para no realizar a percia. Em face disso, prudente, a propsito da graduao em Medicina, demonstrar apenas os modelos de perícia determinadas pelo Fórum Penal, uma vez que cada percia determinada pelos ramos do direito regulada por uma norma especfica (e, desta forma, cada uma apresenta seu modelo e particularidades especficos). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 4 AUTORIDADES LEGITIMADAS Nem toda autoridade competente, legalmente, para ordenar a realizao de uma percia. Por lei, apenas uma autoridade legitimada tem o direito de solicitar a realizao de uma percia (o que no inclui, por exemplo, Prefeitos, Presidentes, Lderes Comunitrios, Padres, etc.). dever desta autoridade, uma vez solicitada a percia, convocar um mdico que detenha conhecimentos tcnicos mnimos e atributos morais necessrios para realizao de uma percia. No teria valor um laudo elaborado por um mdico com o nome sujo por acusaes concretas ou sob suspeita. No que diz respeito s Percias Penais (regidas pelo Frum Penal), que sero foco de nossa abordagem ao longo desta Disciplina, devemos entender quais so as autoridades que assistem ao direito de convocar ou determinar a sua realizao. Para isso, devemos entender o que est pautado, principalmente, no Código do Processo Penal (CPP), que a legislao responsvel por regular a percia penal. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 156. A prova da alegao incumbir a quem a fizer, sendo, porm, facultado ao juiz de ofcio: [“de ofcio” significa em funo de seu cargo] I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ao penal, a produo antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequao e proporcionalidade da medida; [a percia , portanto, um meio de provar um determinado fato] II – determinar, no curso da instruo, ou antes de proferir sentena, a realizao de dilig ncias para dirimir dvida sobre ponto relevante.” (NR) [desta forma, um Juiz de Direito pode determinar a realizao de uma percia] Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prtica da infrao penal, a autoridade policial dever: VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras percias; [Autoridade policial: Delegado de Pol cia Civil e de Pol cia Federal; a Polcia Militar no tem a funo de autoridade policial pois, em alguns casos, eles so simplesmente nomeados, e no concursados] Art. 13. O encarregado do inqurito policial militar (IPM) dever, para a formao deste: f) determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outros exames e percias. [considerado uma exceo, o Presidente ou Encarregado de Inqurito Policial Militar (IPM) tamb m pode determinar a realizao de uma percia] Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a percia requerida pelas partes, quando no for necessria ao esclarecimento da verdade. [exame de corpo de delito, como veremos mais adiante, igual percia m dico- legal] [OBS: Para todos os efeitos, os termos “determinar” e “ordenar” significam “mandar fazer”] CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 DO MINISTÉRIO PÚBLICO Art. 129. So funes institucionais do Ministrio Pblico (MP): VI - expedir notificaes nos procedimentos administrativos de sua compet ncia, requisitando informaes e documentos para instru-los, na forma da lei complementar respectiva; VIII - requisitar dilig ncias investigatrias e a instaurao de inqurito policial, indicados os fundamentos jurdicos de suas manifestaes processuais. [O termo “requisitar” no tem o mesmo poder de “determinar e obrigar”; portanto, o Promotor de Justia (representante do MP) no pode ordenar a realizao de uma percia, mas pode requisitar ao Delegado de Polcia ou ao Juiz de Direito, sendo estes os responsveis por determinar a realizao da mesma ou indeferi-la quando julg-la impertinente] LEI ORGÂNICA NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO LEI Nº 8.625, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1993 Art. 26. No exerccio de suas funes, o Ministrio Pblico poder: b) requisitar informaes, exames periciais e documentos de autoridades federais, estaduais e municipais, bem como dos rgos e entidades da administrao direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios; CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 168. Em caso de leses corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se- a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. [este Artigo do CPP ratifica o poder do Juiz de Direito e da Autoridade Policial em ordenar a realizao da percia, enquanto que ao Promotor de Justia, cabe apenas requerer a eles] Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 5 Portanto, em ltima anlise, os seguintes agentes podem determinar (leia-se, obrigar) a realizao de uma percia penal: Juiz de Direito Autoridade Policial (no que diz respeito ao Delegado de Polcia Civil e ao Delegado de Polcia Federal) Presidente ou Encarregado de Inqurito Policial Militar (IPM) Portanto, como rege a Lei, o Promotor de Justia, representante maior do Ministrio Pblico, no tem a capacidade legal de ordenar a realizao de uma percia, mas tem o direito de requerer a realizao da mesma s autoridades competentes (Juiz de Direito e Autoridade Policial), as quais podem abraar a causa e instituir a realizao da percia como tambm podem neg-la, quando achar o requerimento impertinente. Entretanto, na realidade prtica, muitos legistas realizam a percia sob comando do Ministrio Pblico (como o prprio Professor Ronivaldo Barros justifica esta tese: “Manda quem pode; obedece quem tem juzo”). DISCIPLINA JURDICA Neste momento, pertinente descrever o modo de como feita a percia em Frum Penal. A partir daqui, sero estabelecidos alguns conceitos que demonstraro quais so as principais necessidades que o Direito tenta extrair da Medicina. Antes disso, alguns conceitos no que diz respeito terminologia jurdica devem ser explorados para melhor entendimento das tiras de Legislao que sero apresentados nos prximos tpicos: Infração penal: todo tipo de atentado ou contraveno ao Cdigo de Processo Penal ser considerado uma infrao penal. Corpo de delito: conjunto de vestgios materiais decorrentes de uma ao criminosa. CORPO DE DELITO Seja qual for o enfoque dado ao corpo de delito, ainda que diverso no seu campo conceitual, h de se o admitir como um elenco de leses, alteraes ou perturbaes, e dos elementos causadores desse dano, em se tratando dos crimes contra a vida e contra a sade do ser humano, desde que possa isso contribuir para provar a ao delitosa. Ipso facto, corpo de delito uma metfora, pois supe que o resultado do delito, considerado nos seus aspectos fsicos e psquicos, registre umconjunto de materiais, mais ou menos interligados, dos quais se compe e que lhes constituem uma reunio de provas ou de vestgios da exist ncia de um fato criminoso. Em outras palavras, o corpo de delito corresponde ao conjunto de vestgios materiais decorrentes da ao criminosa. Seria, tomando como exemplo um crime cometido por arma de fogo, o conjunto eventual de todos os elementos que tem a ver com a prtica deste crime e vestgio material: corpo da vtima na cena do crime, arma utilizada no crime, eventuais manchas de sangue nas mos ou nas roupas do criminoso, assim como os resqucios de sangue ao longo do trajeto de fuga do criminoso, etc. Todos estes elementos constituem a prova da prtica do crime e, portanto, constitui o corpo de delito. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 CAPÍTULO II - Do Exame do Corpo de Delito, e das Perícias em Geral Art. 158. Quando a infrao deixar vestgios, ser indispensvel o exame de corpo de delito, direto ou indireto, no podendo supri-lo a confisso do acusado. Portanto, para devido reconhecimento da verdade jurdica que se quer restabelecer a partir de um fato, o direito processual penal, em seu Artigo 158, se vale do corpo de delito para a formao da convico do julgador: sempre que a infrao deixar qualquer tipo de vestgio ou de provas, a realizao da anlise do corpo de delito (direito ou indireto) dever ser procedida, como forma de materialidade da ofensa. Por esta razo, sempre que h um crime, a cena isolada e mantida de forma mais fiel possvel, no intuito de evitar alteraes no corpo de delito. A isolao da cena de crime e proteo do corpo de delito responsabilidade o perito criminal, e no do mdico perito. O perito criminal responsvel por recolher todos os vestgios do corpo de delito e levantar as evid ncias dos envolvidos com a infrao. Todos os materiais coletados devem ser enviados para o Instituto de Polcia Cientfica, de onde partiro para setores especficos (laboratrios qumicos e biolgicos, laboratrios de balstica forense, Instituto Mdico Legal, etc.). Todos estes setores possuiro peritos especficos que analisaro cada vestgio separadamente e, ao final de um prazo predeterminado, devero enviar laudos para anlise da autoridade pertinente. Portanto, como vimos at ento, todo vestgio deixado por uma infrao deve ser analisada na forma de um exame de corpo de delito, que no responsabilidade apenas do mdico. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 6 O corpo de delito pode ser classificado, ento, de duas formas, influenciando tambm na forma de classificao da sua percia: Corpo de delito direto (Perícia percipiendi): o conjunto de vestgios materiais decorrentes da ao criminosa que podem ser “percebidos”, atravs da percia, pelo prprio examinador. Quando este tipo de percia realizada, o documento emitido chamado de laudo pericial. So exemplos: Corpo da pessoa ou coisa; Instrumentos, utenslios, objetos, arma etc. Outros vestgios. Corpo de delito Indireto (Perícia deducendi): ocorre quando impossvel a realizao do exame direto, o que pode ocorrer, pelo menos, em tr s situaes: Por terem desaparecido (por ao da natureza ou do tempo) – ver OBS2; Por terem sido perdidos (por ao do homem – culpa ou dolo); Por estarem inacessveis (natureza) Desta forma, o corpo de delito indireto constitui-se na prova testemunhal e documental, na forma de pareceres médico-legais (perícia deducendi): manifestao tcnica acerca de fatos suscitados por meio de fichas clnicas, pronturios, atestados, fotos, filmes, depoimentos, etc. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 CAPÍTULO II - Do Exame do Corpo de Delito, e das Perícias em Geral Art. 167. No sendo possvel o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestgios, a prova testemunhal poder suprir-lhe a falta. [É importante ressaltar que, independente de ser uma prova testemunhal ou não, os tipos de provas, no Brasil, não sejam tarifados, ou seja: a forma de como foram apresentadas as provas de um crime não pesam na determinação do crime; cabe ao Juiz decidir e justificar as relevâncias das provas que o fizeram tomar uma determinada decisão jurídica] OBS2: Existe um aforismo em Medicina Legal que diz: “o tempo é inimigo da prova pericial”. Quanto mais se demora para a realizao de uma percia, menos evid ncias so disponveis. O cadver, por exemplo, quando entra em putrefao gasosa, perde todas as suas caractersticas morfolgicas, limitando as concluses que poderiam ser feitas. OBS3: O Professor Genival Veloso de Frana, citando outros autores, afirma tambm que no corpo de delito devem ser considerados: (1) Corpus criminis – a pessoa ou a coisa sobre a qual se tenha cometido uma infrao e em que se procura revelar o corpo de delito; (2) Corpus instrumentorum – a coisa material com a qual se perpetuou o fato criminoso e na qual sero apreciadas sua natureza e efici ncia; (3) Corpus probatorum – o elemento de convico: provas, vestgios, resultados ou manifestaes produzidas pelo fato delituoso (ou seja, o conjunto de todas as provas materiais de um crime). Classifica tambm como (1) carter permanente (delicta factis permanentis, como uma perfurao bala); e (2) passageiro (delicta factis transeuntis, como uma equimose). DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS Documento toda anotao escrita que tem a finalidade de reproduzir e representar uma manifestao do pensamento. No campo mdico-legal da prova, so expresses grficas, pblicas ou privadas, que t m o carter representativo de um fato a ser avaliado em juzo. Os documentos, de interesse da Justia, so: as notificaes, os atestados, os relatrios e os pareceres; alm destes, os esclarecimentos no escritos no mbito dos tribunais, constituem os depoimentos orais. Laudo ou auto. O Laudo e o Auto so documentos frutos da percia percipiendi. O Laudo confeccionado quando o prprio perito redige suas impresses; o Auto confeccionado quando ele dita para que um escrivo redija. As partes destes documentos (que so em comum com o parecer) so: Prembulo: descreve quem determinou a percia (autoridade legitimada), quem a realizar (perito), local onde est sendo realizada (rgo ou instituio) e em quem ser realizada (periciando). Quesitos: so perguntas pr-formuladas para cada tipo de percia penal. Histrico: deve ser colhida com o periciando e, quando no for possvel, colhida com terceiros. Consiste no relato detalhado da infrao. Descrio: consiste no relato em detalhes do exame que est sendo realizado. Nesta etapa, podem existir vrios termos mdicos que devem ser explicados na discusso (para melhor entendimento da autoridade). Constitui a parte mais importante do Laudo. Discusso: espao reservado para prestao de esclarecimentos de termos mdicos e cientficos que possam suscitar dvidas para a autoridade legitimada. Isso importante, como por exemplo, para os casos de aborto Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 7 que, pelo menos sob o ponto de vista legal, no configura uma morte (pois o que no nasceu, no pode morrer). Concluso: consiste em um sumrio, com termos claros e diretos, do que foi relatado no histrico e da descrio. Resposta aos quesitos. OBS4: Para evitar problemas legais durante a edio do laudo mdico, o perito pode citar que o relato foi, de fato, feito pelo periciando, ressaltando o fato contado pelo prprio periciando (Ex: “conforme relata o periciando”, “como informa o periciando”, etc.). Parecer médico-legal. O parecer mdico-legal , pois, a definio do valor cientfico de determinado fato, dentro da mais exigentee criteriosa tcnica mdico-legal, principalmente quando esse parecer est alicerado na autoridade e na compet ncia de quem o subscreve, como capaz de esclarecer a dvida constitutiva da consulta. Diferentemente do Laudo, o parecer mdico-legal o documento emitido no caso de um corpo de delito indireito, quando impossvel a realizao do exame direto. O parecer constitudo pelas mesmas partes do Laudo mdico – contudo, diferentemente deste, a Discusso e a Concluso so os pontos de maior importncia (e no a Descrio), uma vez que a coisa a ser estudada no se encontra disponvel. Portanto, compartilhando das mesmas partes do Laudo, o Parecer constitudo por: Prembulo; Quesitos; Histrico; Descrio; Discusso; Concluso; Respostas aos quesitos. Outros documentos médico-legais. Outros documentos muito utilizados pela Medicina Legal e de grande importncia esto listados logo a seguir. Devido a sua importncia, o seu modelo de edio ser melhor detalhado em captulos futuros. Atestado mdico: documento que tem por objetivo firmar a veracidade de um fato ou a exist ncia de determinado estado, ocorr ncia ou obrigao. uma declarao pura e simples, por escrito, de um fato mdico e suas possveis consequ ncias. Declarao simples; Declarao de bito. PROVA PERICIAL A Lei no 11.690, de 9 junho de 2008 altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Cdigo de Processo Penal), relativos prova pericial, e d outras provid ncias. Por esta razo, o estudo do CPP feito a partir de ento ser realizada j em face destas alteraes. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 159. O exame de corpo de delito [ou seja: a perícia médico-legal] e outras percias sero realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. § 1º Na falta de perito oficial, o exame ser realizado por 2 (duas) pessoas idneas [capacitadas], portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na rea especfica, dentre as que tiverem habilitao tcnica relacionada com a natureza do exame. [em função do que está escrito neste Parágrafo, é possível a outros profissionais da área de saúde formados, como Enfermeiros, a realização de um exame pericial em área médica] § 2º Os peritos no oficiais prestaro o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. § 3º Sero facultadas ao Ministrio Pblico, ao assistente de acusao, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulao de quesitos e indicao de assistente técnico. § 4º O assistente tcnico atuar a partir de sua admisso pelo juiz e aps a concluso dos exames e elaborao do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta deciso. [...] Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 8 [...] § 5º Durante o curso do processo judicial, permitido s partes, quanto percia: II – indicar assistentes tcnicos que podero apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audi ncia. [Portanto, este assistente t cnico, uma funo remunerada (diferentemente do perito louvado ou ad hoc), pode ser indicado por qualquer uma das partes para auxiliar no esclarecimento do processo] § 7º Tratando-se de percia complexa que abranja mais de uma rea de conhecimento especializado, poder-se- designar a atuao de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente tcnico. (NR) § 6º Havendo requerimento das partes, o material probatrio que serviu de base percia ser disponibilizado no ambiente do rgo oficial, que manter sempre sua guarda, e na presena de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossvel a sua conservao. Portanto, o Cdigo de Processo Penal, agora com as corrigendas da Lei no 11.690, de 9 junho de 2008, diz em seu Artigo 159: o exame de corpo de delito e outras percias podero ser realizados, preferencialmente, por perito oficial, portador de diploma de curso superior e concursado. Na falta de perito oficial, o exame ser realizado por duas pessoas idneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na rea especfica (peritos ad hoc). A autoridade que preside o inqurito poder nomear, nas causas criminais, dois peritos. Em se tratando de peritos no oficiais, eles assinaro um termo de compromisso cuja aceitao obrigatria como um “compromisso formal de bem e fielmente desempenharem a sua misso, declarando como verdadeiro o que encontrarem e descobrirem e o que em suas consci ncias entenderem”. O mesmo diploma ainda assegura, como dever especial, que os peritos nomeados no podem recusar a indicao, a no ser por escusa atendvel. Alm disso, como vimos a propsito da legislao recm analisada, as partes so livres para indicar seus assistentes técnicos, quase sempre em nmero nico e de aceitao espontnea (e que ser remunerado). Assim, assistente t cnico o rtulo que a lei processual civil empresta ao profissional especializado em determinada rea, indicado e contratado por uma das partes, no sentido de lhe ajudar na elaborao da prova pericial. Em tese, os peritos e assistentes tcnicos t m os mesmos privilgios, como ouvir testemunhas, solicitar documentos e obter as devidas informaes, a no ser a questo de prazo, pois o do assistente tcnico de apenas 10 dias aps a entrega do laudo do perito. Entende-se, por outro lado, que no cabe ao assistente tcnico a produo de prova pericial, tarefa esta do perito judicial. E ficaria a pergunta: Qual a funo do assistente tcnico? Ao que nos parece, cabe-lhe fiscalizar a elaborao da prova e do laudo pericial, conferindo a meios avaliativos utilizados a verificao do nexo causalidade, a utilizao dos meios subsidirios procedentes, a possvel omisso de detalhes, alm de manifestar por escrito suas prprias concluses sobre o fato. PRAZO PARA ELABORAR O LAUDO Nas percias de natureza penal, o perito apresentar seu laudo no prazo fixado pelo juiz, at 10 (dez) dias antes da audi ncia de instruo de julgamento. Os assistentes tcnicos entregaro seus pareceres 10 (dez) dias aps a apresentao do laudo do perito, sem necessidade de intimao. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 160. Os peritos elaboraro o laudo pericial, onde descrevero minuciosamente o que examinarem, e respondero aos quesitos formulados. Parágrafo único. O laudo pericial ser elaborado no prazo máximo de 10 (dez) dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos. (Redao dada ao artigo pela Lei n 8.862, de 28.03.1994) [o prazo para elaborao de, no mximo 10 dias; embora a lei no seja clara quanto ao prazo mximo para entrega do laudo, a jurisprudncia e a doutrina adotam o termo “elaborar” como “entregar”; muito embora seja possvel, em face da complexidade da percia, a prorrogao do prazo de entrega do laudo, desde que seja aceita pela autoridade] Art. 161. O exame de corpo de delito poder ser feito em qualquer dia e a qualquer hora. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 9 PRAZO PARA REALIZAR A NECROPSIA CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 162. A autópsia será feita pelo menos 6 (seis) horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto. Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante. Art. 163.Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado. Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará do auto. Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime. (Redao dada ao artigo pela Lei n 8.862, de 28.03.1994) Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados. Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações. Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver. EXAME COMPLEMENTAR CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. § 1º No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo. § 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no artigo 129, § 1º, I, do Código Penal [“Presena de leso corporal que cause incapacidade para as condies habituais de trabalho por mais de 30 dias”], deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 (trinta) dias, contado da data do crime. § 3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 10 PERÍCIA CONTRADITÓRIA CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 180. Se houver diverg ncia entre os peritos, sero consignadas no auto do exame as declaraes e respostas de um e de outro, ou cada um redigir separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos. VALOR DA PROVA CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 155. O juiz formar sua convico pela livre apreciao da prova produzida em contraditrio judicial, no podendo fundamentar sua deciso exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigao, ressalvadas as provas cautelares, no repetveis e antecipadas. Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas sero observadas as restries estabelecidas na lei civil. Art. 182. O juiz no ficar adstrito ao laudo, podendo aceit-lo ou rejeit-lo, no todo ou em parte. OBJETIVO DA PERÍCIA CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negar a percia requerida pelas partes, quando no for necessria ao esclarecimento da verdade. DOS PERITOS O perito deve atuar da seguinte maneira: apontar o observado no local do crime, nas armas, nos objetos (criminal) e no exame do cadver e do vivo (mdico-legista). Ele no julga, no defende e nem acusa – apenas v e refere (visum et repertum) durante a descrio do laudo, sendo a ele proibido a realizao de algum juzo de valor. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 275. O perito, ainda quando no oficial, estar sujeito disciplina judiciria. [Auxiliares eventuais da justiça:Suspeições e impedimentos; Sanções disciplinares e legais; Subordinados à autoridade] Art. 276. As partes no interviro na nomeao do perito. [mas poderão indicar assistentes técnicos] Art. 277. O perito nomeado pela autoridade ser obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-ris, salvo escusa atendvel. [a não atualização da moeda tornou a multa inexistente] Parágrafo único. Incorrer na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada imediatamente: a) deixar de acudir intimao ou ao chamado da autoridade; b) no comparecer no dia e local designados para o exame; c) no der o laudo, ou concorrer para que a percia no seja feita, nos prazos estabelecidos. Art. 278.No caso de no-comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poder determinar a sua conduo. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 11 Peritos: suspeições. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 280. É extensivo aos peritos, no que lhes for aplicável, o disposto sobre suspeição dos juízes. Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo. Peritos: impedimentos. De uma forma geral, o perito pode ser impedido de realizar uma perícia quando ele apresenta um dos seguintes critérios: Indignidade Incompatibilidade Incapacidade CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Art. 279. Não poderão ser peritos: I - os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos ns. I e IV do art. 69 do Código Penal; [O Art. 69 do Código Penal, a que se refere este inciso I, foi revogado com a vigência da nova parte geral do referido estatuto, prevendo-se o impedimento agora como penas restritivas de direitos, de interdição temporárias de direitos (Art. 47, I e II, CP)] II - os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da perícia; III - os analfabetos e os menores de 21 anos. CÓDIGO PENAL DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Art. 47 - As penas de interdição temporária de direitos são: I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo; II - proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 12 FALSA PERÍCIA A falsa perícia constitui um crime contra a administração da Justiça (Artigo 342). CÓDIGO DE PROCESSO PENAL DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Falso testemunho ou falsa perícia Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. § 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime épraticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. § 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação: Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa. Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. “A justia se concretiza a partir e antes de tudo, do conhecimento da verdade” TIPOS DE PERCIAS MDICAS Podem as perícias médicas ser realizadas nos vivos, nos cadáveres, nos esqueletos, nos animais e nos objetivos. Nos vivos, visam o diagnóstico de: Lesões corporais (traumatológicos); Determinação de idade, sexo, grupo social; Crimes sexuais; Determinação de maternidade e paternidade; Doenças profissionais e acidente de trabalho; Embriaguez; Diagnóstico de gravidez, aborto, puerpério. Nos cadáveres, visam: Diagnóstico de causa da morte; Causa jurídica da morte; Identificação do morto; Diagnóstico de veneno em vísceras; Retirada de projéteis. Nos esqueletos, podemos proceder com a identificação do cadáver e/ou da causa da morte. O estudo antropológico dos ossos pode garantir informações sobre a raça, sexo e idade da vítima. FINALIDADE DA PERCIA MDICA Ao longo deste capítulo, podemos concluir que a principal finalidade da perícia médico-legal é a constituição de uma prova. A prova é um elemento da autenticidade ou da veracidade de um fato. Seu objetivo é formar a convicção do juiz sobre os elementos necessários para a decisão final da causa. Para que esta prova seja de boa qualidade, é necessário que alguns critérios sejam obedecidos: Objetivo: convicção do juiz Autenticidade ou veracidade de um fato Imparcial e verdadeira, devendo o perito evitar juízo de valor (visum et repertum) Boa qualidade da prova Dano pessoal (caracterizar, avaliar dano prévio). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 13 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino; CORREIA, Luiz Gustavo. MEDICINA LEGAL TRAUMATOLOGIA MÉDICO-LEGAL (Professor Ronivaldo Barros) A traumatologia mdico-legal a rea temtica voltada para o reconhecimento dos tipos de leses traumticas, bem como a sua avaliao completa. Atualmente, o mdico generalista, ou o especialista, deve reconhecer as leses traumticas e, identificar a sua possvel causa. Neste Captulo, teceremos informaes para melhor reconhecimento de cada tipo de leso e, ainda, avaliar caractersticas que possam identificar o mecanismo e agente do trauma. O conhecimento jurdico bsico algo de extrema importncia aps o reconhecimento da possvel leso traumtica: o mdico, na sua condio profissional, assume, alm do papel tcnico, uma funo de agente social, devendo informar s autoridades competentes, possveis agresses fsicas. No caso da criana, o Conselho Tutelar, Delegado de Policia ou Vara da Infncia e da Juventude devem ser informados. Os idosos, por sua vez, devem ser encaminhados para o Juizado do Idoso ou para a prpria Delegacia de Polcia. CONCEITOS GERAIS A medicina legal tem, por funo nesta ocasio, estudar as leses produzidas por viol ncia ao corpo humano. Nesta vertente, tr s principais fatores devem ser avaliados: (1) etiologia, (2) diagnstico e (3) prognstico. Diferentemente de outras especialidades mdicas, a medicina legal no se responsabiliza pelo tratamento das leses traumticas. No geral, as leses traumticas, sob a perspectiva jurdica, podem causar implicaes legais em todas as esferas do Direito: penal, civis e trabalhistas, etc., o que nos denota a importncia do reconhecimento adequado das leses. Entretanto, assim como foi enfatizado no captulo anterior, a anlise feita neste captulo vai ter foco a anlise na seara penal. Os danos estudados pela traumatologia mdico-legal podem ser causados por vrios tipos de energias, conforme listadas abaixo: Mecnica; Fsica; Qumica; Fsico-Qumica; Bioqumica; Biodinmica; Mistas. OBS1: Em relao ao mecanismo de leso importante conceituar e saber diferenciar o “meio”. Em medicina legal, mais especificamente em traumatologia, o termo meio utilizado para descrever o objeto utilizado para causar a leso, conforme citado acima. Tomando este conceito como refer ncia o meio pode ser ativo ou passivo, ativo quando o meio atinge o corpo humano, ou seja, o meio estava em movimento; passivo quando o corpo humano est em movimento e o objeto parado e mista, quando ambos esto em movimento. ENERGIA DE ORDEM MECNICA A energia de ordem mecnica aquela capacitada em alterar o estado de movimento e de repouso de um corpo. Podem ser causadas por vrios objetos, que possuem um espectro varivel de mecanismos de ao, desde presso, compresso, descompresso, percusso, trao, toro, exploso, deslizamento, contrachoque, at as leses mistas. O mecanismo de ao, bem como os tipos de leses traumticas podem ser avaliadas e descritas pelo mdico perito, em contradio ao agente causal, que, eventualmente, no pode ser identificado. O perito mdico, na vig ncia da avaliao da leso traumtica, no possui subsdios suficientes para determinar qual o meio responsvel pela leso. Assim sendo, praticamente impossvel a identificao que uma tesoura, numa situao hipottica, foi a agente causadora da leso. A tesoura, que um instrumento slido, pode provocar vrios tipos de leses no indivduo, de acordo com a sua insero na pele, desde uma ao contundente (quando se utiliza o cabo), at prfuro-cortante (utiliza as lminas). Assim sendo, as leses causadas pela energia de ordem mecnica devem ser classificadas de acordo com o tipo de ao (e no de acordo com o instrumento utilizado ou com o meio envolvido; a no ser que o instrumento esteja instalado no foco da leso) e, para cada tipo de ao, forma-se um tipo especfico de ferida. A ao da agresso mecnica pode ser classificada em seis tipos: perfurante, cortante e contundente e suas combinaes (prfurto-cortante, perfuro-contundente e corto-contundente). O tipo de ferida provocada por estes mecanismos de ao esto resumidos na tabela anterior e, a partir de agora, sero vistos detalhadamente. Tipo de ação Tipo de ferida Perfurante Punctiforme Cortante Cortada Contundente Contusa Prfuro-cortante Prfuro-cortada Prfuro-contundente Prfuro-contusa Corto-contundente Corto-contusa Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 14 AÇÃO PERFURANTE A ao perfurante causada por objetos com extremidades finas (leia-se “pontiagudas”), dimetro transverso reduzido (finos), que possuem maior comprimento do que espessura (longos); portanto, so pontiagudos, finos e longos. O principal instrumento, que serve como prottipo desta ao, a agulha, que mensura as tr s caractersticas anteriormente descritas. Apesar disto, a agulha tambm pode promover outros tipos de aes, alm da perfurante, tal como a cortante. As leses que so promovidas por objetivos com ao cortante so denominadas de lesões ou feridas punctiformes. So feridas que possuem, no seu orifcio de entrada, uma leso em forma de ponto, bastante estreito, cujo dimetro menor do que o do meio causador.Raramente sangram, ou sangram muito pouco, e possuem um trajeto estreito, com profundidade relacionada com o comprimento do meio e da presso de penetrao, podendo terminar em fundo cego, penetrar em cavidades e ainda atingir rgos vitais. J o orifcio de sada, quando transfixa alguma estrutura, tem formato irregular, e seu dimetro menor do que o da entrada. OBS2: Leis de Filhos (Edouard Filhos). As feridas puntiformes, quando promovidas por objetos perfurantes de médio calibre (perfurador de gelo, por exemplo), podem cursar com alteraes do padro-tpico das feridas promovidas por objetos pontiagudas. Neste sentido, Filhos (2001) criou a “Lei dos Filhos”, na inteno de melhor avaliar as feridas punctiformes relacionadas aos objetos de mdio calibre. Lei primeira: O orifcio de entrada parece ter sido produzido por instrumentos de dois gumes, ou ainda, tem aspecto de casa de boto (botoeira); Lei segunda: Em uma mesma regio, o seu maior eixo tem sempre o mesmo sentido (pois este sentido determinado pelas linhas de tenso da pele). OBS3: Lei de Langer (Karl Ritter Von Langer). Na conflu ncia de regies de linhas de foras diferentes, a extremidade da leso toma o aspecto de ponta de seta, de tringulo, ou mesmo de quadriltero. Como foi visto o formato de uma leso perfurante de mdio calibre, de acordo com a primeira Lei de Filhos, tem o formato de casa de boto. Entretanto quando a leso ocorre em regies de transio entre linhas de tenso, pode adquirir formas caractersticas diferentes, como quadriltero, tringulo, etc. Imagem aumentada de leso punctiforme na fossa antecubital por penetrao por Jelco 14, demonstrado que o orifcio pequeno, mas a leso profunda, pouco sangrante. Imagem de uma ferida cortante, de aspecto no-puntiforme, promovida por agulha durante puno venosa para exame de sangue (hemograma). Note que, apesar de ter sido provocada por uma agulha, a leso foi de carter cortante. AÇÃO CORTANTE A ao cortante a que produzida por meios cortantes que possuem, no mnimo, a presença de gume (bisel) afiado e que atuam por deslizamento. So exemplos de objetos que cursam com ao cortante: bisturi frio, faca peixeira (mais comumente utilizada em nosso meio), punhal (dois gumes), faca, navalha. As principais caractersticas das feridas cortadas so: Forma linear e bordas regulares (deve-se ao gume mais ou menos afiado do intrumento usado) Margens oblquas (vertentes) Fundo regular Aus ncia de contuso na periferia Hemorragia abundante: na maioria das vezes o sangramento vultuoso, devido facil seco dos vasos, que, no sofrendo hemostasia traumtica, deixam seus orifcio naturalmente permeveis. Por isso, esses tipos de leses podem sangrar mais que traumas contusos, pois nestes, geralmente h uma maior liberao de substncias hemostticas que reduzem o sangramento. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 15 Predomnio do comprimento sobre a profundidade Presena de cauda de escoriao: o instrumento cortante, agindo por deslizamento e seguindo uma direo em semicurva condicionado pelo brao do agressor ou pela curvatura da regio ou segmento atingido, deixa, no final do ferimento, e apenas na epiderme, uma cauda de escoriao. Com isso, podemos dizer que cauda de escoriao leso que se restringe a epiderme, relacionando-se com o afastamento ou aproximao do instrumento causador da leso. Perfil de corte angular ou em bisel O sinal de Chavigni o que descreve que quando duas feridas cortadas se cruzam, coaptando-se as margens de uma das feridas, sendo ela a primeira que foi produzida, a outra no segue um trajeto em linha reta. OBS4: As feridas promovidas pelos bisturis frios, durante o ato cirrgico, apesar de conceberem uma ao cortante, devem ser descritas como feridas incisas, pois a sua profundidade do centro igual a dos ngulos. J as feridas que cursam pela ao cortante, possuem profundidade maior no centro, enquanto que so mais superficiais nos ngulos (em funo do mecanismo de gangorra). A imagem demonstra um individuo vtima de ao cortante produzida por garrafa de vidro quebrada. A leso tem borda regular, sangrante, e com formato linear. O perfil do corte se ajusta ao estereotipado para o tipo de ao, que o formato em bisel. Leses cortantes mltiplas, provavelmente ocasionadas com inteno de ocasionar sofrimento e tortura ao agredido. A imagem demonstra mltiplas feridas cortantes, apresentando cauda de escoriao, que uma escoriao restrita ao estrato epidrmico relacionada, principalmente, com a sada do bisel. O padro mais comum que ocorre nas leses por ao cortante o predomnio do comprimento sobre a profundidade. O termo esgorjamento (que significa pôr a garganta para fora) pode ser utilizado no sentido de caracterizar as leses cortantes que expe os planos anatmicos profundos da regio anterior ou ntero-lateral do pescoo, expondo as vias areas e/ou vasos profundo. Ele pode ser por ao suicida ou homicida. Na imagem, podemos visualizar o indivduo foi submetido a uma ao cortante caracterstica do esgorjamento por ao homicida (sugerida devido presena de duas leses), em regio anterior do pescoo. O mecanismo de morte por asfixia (note a presena de “cogumelo de espuma”). A imagem demonstra uma jovem de 8 anos, vtima de ao cortante (ou corto-contudente) na regio posterior do pescoo, caracterizando a degola. Aps a disseco, podemos evidenciar que vrias camadas profundas foram comprometidas, o que fala mais a favor de uma ao corto-contudente, pois, um mesmo objeto pode exercer diversas aes e, portanto, promover distintos tipos de feridas. Neste caso em especial, o agente causador foi uma faca, que hora se manifestou com uma ao cortante e, hora determinou uma presso associada ao cortante (ao corto-contundente). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 16 OBS5: No geral, podemos diferenciar degola e esgorjamento quando a lesão se localizar posteriormente na região cervical (no caso daquela) ou anteriormente (caracterizando este). O indivíduo exposto ao lado foi vítima de tortura corporal, que cursou com a decapitação. Professor Genival Veloso de França descreve que este caso está mais relacionado com a ação cortante, mas para o Professor Ronivaldo Barros (2011), trata-se de uma ação corto-contudente. Na imagem, podemos evidenciar individuo que foi vítima de esquartejamento obtido pela ação corto-contudente de uma faca. Vale a pena frisar que, determinados objetos, podem apresentar vários tipos de ações de acordo com o seu manuseio. Alguns autores também citam que a lesão se enquadra em espostejamento (semelhante a um atropelamento ferroviário). AÇÃO CONTUNDENTE A ação contundente é a que ocorre pelo contato entre o corpo e uma superfície sólida, na maioria das vezes. Há ainda a ação contundente promovida por onda gasosa ou coluna líquida. As feridas contusas podem ser causadas por vários tipos de instrumentos, tais como martelo, explosões, atropelamentos terrestres, cinto de segurança, acidente aéreo, etc. A ação contundente promove vários aspectos distintos de lesões. Abaixo, são descritos as principais lesões produzidas: Rubefação Escoriação Equimose Hematoma Bossa sanguínea Fraturas Luxações Entorses Roturas de vísceras internas Encravamento Empalamento A ferida promovida pela ação contundente é denominada de ferida contusa, possuindo as seguintes características: Forma estrelada, sinuosa ou retilínea Bordas irregulares Margens irregulares (vertentes) Fundo irregular Contusão na periferia Hemorragia escassa Pontes de tecidoíntegro Retração das bordas da ferida A imagem demonstra uma ferida contundente, possuindo bordas irregulares, com contusão na periferia. Evidenciamos ainda que o seu fundo é irregular, e pouco sangrante. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 17 Podemos visualizar uma ferida contundente na região submentoniana, com a presença de contusão periférica, semelhante a uma equimose perilesional. Geralmente, o mecanismo de trauma é o de impacto entre o queixo e a região sólida qualquer. Rubefação. São as lesões contundentes que não possuem alterações anatomopatológicas. Por possuir uma duração passageira (leia-se “efmera”), deve ser avaliada o mais rapidamente possível. As feridas são manchas avermelhadas, que ocorrem por um mecanismo fisiopatológico de congestão vascular, podendo se assemelhar ao tipo de objeto que a provocou (tal como a palma da mão). A rubefação é um tipo de lesão relativamente comum em traumatismos físicos promovidos pela classe policial, por se tratar de uma lesão que cursa com um período curto de permanência. Escoriação. Refere-se à erosão epidérmica ou ainda a sua abrasão. Geralmente se ajusta a dinâmica do evento, ou seja, possui um desenho símile ao que a provocou. A escoriação típica não compromete a derme, sem sangramento (pois não compromete as papilas dérmicas), com no máximo a presença de um exsudato seroso, não cicatriza e regenera. Do ponto de vista médico-legal, a escoriação típica é um tipo de lesão corporal leve. Já a escoriação que curse com regeneração e, eventualmente, deformidades, pode ser considerada uma lesão corporal grave, cuja pena de reclusão é de 12 anos. A imagem retrata escoriação, que somente compromete o estrato epidérmico da pele, sem sangramento. Equimose. A equimose ocorre por conta de uma infiltração sanguínea nas malhas dos tecidos, por conta de uma ruptura dos capilares. Quando a equimose se localiza dentro de alguma víscera, passa a ser denominada de infiltrado hemorrágico. Possui um espectro amplo de apresentação, desde a sugilao (que tem formato de grão de arroz ou púrpura), pet quias (símiles às cabeças de alfinetes), equimoma (quando atinge grandes proporções), até as vbices (equimoses em forma de estrias, com formato linear, que ocorrem nos traumas obtidos pelos cassetetes policiais). As equimoses possuem uma diversificação de coloração, de acordo com o período de sua análise. No 1º dia, o seu aspecto é vermelho, somente desaparecendo, em torno do 15º dia. Neste sentido, Legrand Du Saulle, criou o espectro equimótico, conforme segue abaixo: 1º dia: vermelha 2º e 3º dia: violácea 3º ao 6º dia: azul 7º ao 10º dia: esverdeada 12º dia: amarelada 15º dia: desaparece OBS6: Não é incomum a tentativa de criação de cenas de traumatismo corporal, principalmente, na realidade entre as mulheres e seus maridos. Uma das principais alternativas de se avaliar uma possível equimose traumática é a mensuração de sua coloração, aliado às informações declaradas pelo paciente. Supondo a presença de equimose azul em periciando do sexo feminino, que relata agressão há 12 horas, fica fácil de prever que, na realidade, a informação não bate com o que foi declarado, possivelmente, seria uma difamação ao seu companheiro. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 18 OBS7: A equimose, sob o ponto de vista mdico-legal, possui uma capacidade de gerar provas contra o individuo agressor. No incomum a presena de equimoses com desenhos, tal como cpias, do objeto traumtico. Em atropelamentos externos, a placa do carro pode desenvolver equimoses id nticas a sua forma. A imagem retrata leso do tipo equimose na regio medial do brao, de colorao avermelhada, que suscita uma leso aguda, vista no 1 dia. A imagem evidencia equimose periorbital ou palpebral. Podemos visualizar uma colorao violcea periorbital, como tambm uma amarelada prximo a superfcie anterior no nariz. Esta variedade de apresentaes cromticas determina o grau varivel, em relao ao aspecto temporal, das leses. A presena da colorao levemente amarelo-esverdiada sugere que a leso tem pelo menos mais de 2 a 3 dias. Atropelamento terrestre. Nesta ocasio, podemos visualizar a contuso-tatuagem, que quando se tem a presena de partes do carro impressionando o individuo; alm dela, as estrias pneumticas de Simonin, que so marcas de pneus no corpo da vtima do atropelamento, podem tambm serem evidenciadas. Antigamente, a identificao do condutor, simplesmente pelos aspectos da leso era algo rotineiro, visto pela impresso do volante no trax anterior do individuo. A imagem demonstra individuo vtima de atropelamento terrestre, com leso extensa da parede torcica e pelve, com exteriorizao visceral. Atropelamento ferroviário. O atropelamento ferrovirio cursa com uma reduo do corpo a diversos e irregulares fragmentos, termo conhecido por espostejamento (despojos). Hematoma. o que ocorre por conta da rotura de vasos de maior calibre dos que causam as equimoses, cursando com relevo na pele. Quando a coleo de sangue se faz dentro dos tecidos, o hematoma passa a se chamar de cavitao. O hematoma subdural, embora seja uma coleo de sangue dentro de uma cavidade, no gera relevo na pele. Bossa sanguínea. a coleo de sangue sobre a superfcie ssea, tambm denominada de “galo”. Nos recm-nascidos, em partos laboriosos, o caput secundum considerado uma bossa sangunea, pois, o sangue e o edema se formaram na intimidade dos tecidos. Encravamento. a penetrao de um meio slido em qualquer parte do corpo, geralmente, o meio que causa a ao possui uma ponta afiada e com grande eixo longitudinal, tal como uma estaca, ocorrendo em grandes traumatismos. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 19 Empalamento. uma forma especial de encravamento, na qual a penetrao do meio slido ocorre pela regio perineal, nus ou vagina. AÇÃO PÉRFURO-CORTANTE Os meios prfuro-cortantes possuem gume cortante e ponta afiada, cujo maior representante a faca. Alguns autores tambm utilizam da seguinte definio: “So aqueles que alm de perfurar o organismo exercem lateralmente uma ao de corte”. As feridas prfuro-cortadas so caracterizadas pelos seguintes aspectos: Forma de botoeira (devem ser diferenciadas das leses perfurantes pela 2 lei de filhos) ngulos, no lado do bisel so mais agudos. Entrada maior que a lmina do instrumento Bordas afastadas e regulares Cauda de escoriao Contuso provocada pelo cabo do instrumento Trajeto A imagem demonstra o mesmo paciente logo acima com uma faca inserida na parte anterior do trax. Na avaliao pericial, podemos visualizar uma ferida com aspecto enegrecido, por conta de seu resfriamento ps-bito. A faca de mesa possui um gume de serra, pouco afiada, provocando esta leso com aspecto de botoeira. A imagem demonstra ferida prfuro-cortante, cujo bisel, provavelmente, estava dirigido para direita. Os ngulos so distintos em cada uma das bordas, o que denota que foi causada por instrumento de um nico bisel (faca, por exemplo). A imagem demonstra uma ferida prfuro-cortada, possuindo uma cauda de escoriao, possivelmente causada por faca peixeira (com a presena de um nico bisel). Observamos ainda uma contuso ao redor da leso que foi causada pelo cabo da faca. Observamos mltiplas leses com forma de casa de boto em dorso, realizadas por ao prfuro-cortante, tal como uma faca. Podemos afirmar que as leses so prfuro-cortantes (e no s perfurantes) devido segunda Lei de Filhos: se as leses fossem apenas perfurantes (causadas, por exemplo,por um perfurador de gelo), veramos leses vizinhas (como as destacadas na figura) com o seu maior eixo retificado na mesma direo (pois o sentido do eixo estaria a merc das linhas de tenso da pele daquela regio). Contudo, note que leses vizinhas, no exemplo ao lado, se mostram em sentidos aleatrios (pois as fibras e as linhas foram cortadas) e, portando, houve uma leso prfuro-cortante (de modo que o sentido do maior eixo determinado pelo sentido pelo qual o meio foi introduzido). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 20 AÇÃO PÉRFURO-CONTUNDENTE As feridas prfuro-contusas so produzidas por um mecanismo de ao que perfura e contunde, simultaneamente. Na maioria das vezes, esses instrumentos so mais perfurantes do que contundentes. Esses ferimentos so produzidos quase sempre por projéteis de arma de fogo (PAF); no entanto, podem estar representados por meios semelhantes, como, por exemplo, a haste de um guarda-chuva. As armas de fogo so as peas constitudas de um ou dois canos, aberto numa das extremidades e parcialmente fechados na parte de trs, por onde se coloca o projtil. So classificadas: Quanto dimenso: portteis, semiportteis e no portteis. Quanto ao modo de carregar: Antecarga e Retrocarga. Quanto ao modo de percusso: Perdeneira e Espoleta Quanto ao calibre O projtil desloca-se da arma graas a combusto da plvora, quando ganha movimento de rotao e propulso. Ao atingir o alvo atuam por presso, havendo afastamento e rompimento das fibras. O alvo tambm atingido por compresso de gases que acompanha o projtil. Uma leso completa por projtil de arma de fogo constituda de tr s partes: (1) Orifcio de entrada, (2) Trajeto e (3) Orifcio de sada. De um modo geral, as leses causadas por PAF causam os seguintes sinais: Zona de Contuso: Deve-se ao arrancamento da epiderme motivado pelo movimento rotatrio do projtil antes de penetrar no corpo, pois sua ao de incio contundente. Arola Equimtica: e representada por uma zona superficial e relativamente difusa da hemorragia oriunda da ruptura de pequenos vasos localizados nas vizinhanas do ferimento. Orla de Enxugo: uma zona que se encontra nas proximidades do orifcio, de cor quase sempre escura que se adaptou s faces da bala, limpando-as dos resduos de plvora. Zona de Tatuagem: mais ou menos arredondada, nos tiros perpendiculares, ou de formas crescentes nos oblquos. resultante da impregnao de partculas de plvora incombustas que alcanam o corpo. Zona de Esfumaamento: produzida pelo depsito de fuligem da plvora ao redor do orifcio de entrada. Zona de Chamuscamento ou Queimadura: Tem como responsvel a ao super aquecida dos gases que atingem e queimam o alvo. Zona de Compresso de Gases: Vista apenas nos primeiros instantes no vivo. produzida graas a ao mecnica dos gases, que acompanha o projtil quando atingem a pele. Para o diagnstico das leses por instrumentos prfuro-contundente, devem-se estudar cuidadosamente os caracteres acima registrados, somando-se ao exame das vestes e objetos e correlacionado com leses do corpo da vtima. As caractersticas envolvidas na leso podem fornecer dados para evidenciar a natureza da origem dos ferimentos. Os ferimentos prfuro-contusos podem causar morte, perda da funo de um membro ou rgo ou prejuzo da funo e ou deformidade local. A consequ ncia vai depender: do tipo de arma, nmero de tiros, o calibre, a distncia, idade e condies de sade prvia da vtima, do tempo decorrido entre o recebimento do tiro e os primeiros socorros. Orifício de entrada. A depender da distncia entre a arma de fogo e a vtima, podemos classificar o tiro da seguinte maneira: Tiros encostados: os ferimentos ocasionados por tiros encostados ( queima-roupa), com a boca da arma apoiada no alvo, t m forma irregular, denteada ou com entalhes, devido ao resultante dos gases que descolam e dilaceram os tecidos. Em geral, nesses casos, não há zona de tatuagem nem de esfumaçamento, pois todos os elementos da carga penetram pelo orifcio da bala e, por isso, suas vertentes mostram-se enegrecidas e desgarradas, com aspecto de cratera de mina (de Hoffman). O dimetro dessas leses pode ser maior do que o do projtil em face da exploso dos tecidos pelo efeito “de mina”, e suas bordas algumas vezes voltadas para fora, em decorr ncia do levantamento dos tecidos pela exploso dos gases. Tiros a curta distância: podem mostrar-se de vrias formas: forma arredondada ou ovalar, com orla de esfumaamento e orla de escoriao, bordas invertidas, halo de enxurgo e tatuagem, zona de queimadura, arola equimtica e zona de compresso de gases. De determinao de um tiro a curta distncia no est relacionada com a distncia em si do “cano” da arma e a vtima, mas sim, as caractersticas das leses. o Forma: A forma dos ferimentos de entrada em tiros a curta distncia geralmente arredondada ou ovalar, dependendo da incid ncia do projtil. Quando maior a inclinao do tiro sobre o alvo, maior ser o eixo longitudinal do ferimento. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 21 o Orla de escoriação ou contusão: deve-se ao arrancamento da epiderme motivado pelo movimento rotatório do projétil antes de penetrar no corpo. Apresenta-se como uma orla escoriada ou desepitelizada ao redor do ponto de impacto do projétil. o Bordas Invertidas: devem-se à ação traumática de fora para dentro sobre a natureza elástica da pele. o Halo de enxurgo (orla de Chavigny): é explicado pela passagem do projétil através dos tecidos, atritando e contundindo, limpando neles suas impurezas. É concêntrico nos tiros perpendiculares, ou meia-lua, nos oblíquos. o Halo ou Zona de tatuagem: é mais ou menos arredondado nos tiros perpendiculares, ou em forma de crescente, nos oblíquos. Essa tatuagem varia de cor, forma, extensão e intensidade conforme a pólvora. É resultante da impregnação de grãos de pólvora que alcançam o corpo. o Orla de esfumaçamento: é decorrente do depósito deixado pela fuligem que circunscreve a ferida de entrada, formando pelos resíduos finos e impalpáveis da pólvora combusta. o Zona de quiemadura: também chamada de zona de chama ou de chamuscamento, tem como responsável a ação superaquecida dos gases que atingem e queimam o alvo. o Aréola Equimótica: é representada por uma zona superficial e relativamente difusa, decorrente da sufusão hemorrágica oriunda da rotura de pequenos vasos localizados nas vizinhanças do ferimento. Tiros a distância: possuem um diâmetro menor que o do projétil, forma arredondada ou ovalar, orla de escoriação, halo de enxurgo, aréola equimótica e bordas reviradas para dentro. Lesão por PAF à queima-roupa (encostado) na região da fronte. Lesão por PAF à longa distância. Lesão por PAF à curta distância Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 22 Ferimento de Saída. A lesão de saída as feridas produzidas por PAF tem forma irregular, bordas reviradas para fora, maior sangramento e não apresenta orla de escoriação nem halo de enxurgo, nem mesmo a presença dos elementos químicos resultantes da decomposição da pólvora. Sua forma é irregular e tem diâmetro geralmente maior que o do orifício de entrada. A deformidade se dá pela resistência encontrada nos diversos planos e nunca conserva seu eixo longitudinal. As bordas são reviradas para fora, em virtude de ação do projétil se processar em sentido contrário ao de entrada, ou seja, de dentro para fora. São mais sangrantes pelo maior diâmetro, pela irregularidade de sua forma e pela eversão das bordas, permitindo, assim um maior fluxo sanguíneo. Ferimento de saída porPAF. AÇÃO CORTO-CONTUNDENTE São instrumentos que possuem gume rombo, de corte embotado e que agindo sobre o organismo, rompe a integridade da pele, produzindo feridas irregulares, retraídas e com bordas muito traumatizadas. É mais frequente no homicídio e no acidente, sendo raro no suicídio. Os principais instrumentos são machado, foice, facão, enxada, moto-serra, rodas de trem etc. Agem por pressão e percussão ou deslizamento. A lesão se faz mais pelo próprio peso e intensidade de manejo, do que pelo gume de que são dotados. A forma das feridas varia conforme a região comprometida, a intensidade de manejo, a inclinação, o peso e o fio do instrumento. São em regra mutilantes, abertas, grandes, fraturas, contusões nas bordas, perda de substância e cicatrizam por segunda intenção. Em geral, o prognóstico é grave quanto à vida ou em hipótese mais benigna, quanto à importância de um dano, incapacitando para o trabalho, deformando, inutilizando membro etc. Na perícia, o aspecto da escoriação é suficiente para indicar se o ferimento foi feito num indivíduo vivo ou num cadáver. Permite também conclusões quanto ao objeto usado e a natureza do atentado. As escoriações produzidas no vivo formam crosta. No cadáver são lisas e muito semelhantes ao aspecto de couro ou de pergaminho Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 23 ASFIXOLOGIA MDICO-LEGAL É a parte da Medicina Legal que trata das asfixias. No Código Penal Brasileiro, art. 61, inciso II, letra "d", diz que o emprego da asfixia como meio de produzir a morte constitui circunstância agravante do crime, pela crueldade de que se reveste este recurso. O termo asfixia, significa não pulsar, termo etnologicamente inadequado, devendo sua origem à antiga concepção de que o pulsar das artérias produzia-se por efeito do ar nelas introduzidas nos movimentos respiratórios. A melhor definição de asfixia é a que se denota como a suspensão da função respiratória por qualquer causa que se oponha à troca gasosa, nos pulmões, entre o sangue e o ar ambiente. Sob o contexto clínico, podem apresentar-se em duas fases: 1) de irritação e 2) de esgotamento. Na fase de irritação, ocorre dispnéia inspiratória (1 minuto = consciência) e dispnéia expiratória (30 segundos = inconsciência e convulsões). Na fase de esgotamento, ocorre a pausa (morte aparente) e o período terminal (morte). Os principais sinais relacionados a asfixia estão listados na tabela ao lado: ENFORCAMENTO É a asfixia mecânica em que existe impedimento a livre entrada e saída do ar no aparelho respiratório por uma constrição no pescoço feita por laço que é acionado pelo peso da própria vítima. Preso o laço no seu ponto de apoio e passando ao redor do pescoço da vítima e esta projetada no espaço. É mais comum nos suicídios, podendo, no entanto, ter como etiologia o acidente, o homicídio e a execução judicial. Mecanismo de ação. Natureza do laço: gravata, lenço, toalha, cinta, fio de arame, ramos de árvore (cipó). Nó: pode faltar corrediço, frouxo, situado adiante, atrás ou em ambos os lados. Ponto de suspensão: prego, batente da porta, porta entre aberta, ramo de árvore. Modo de suspensão do laço: completa e incompleta. Prognóstico. Ao longo do enforcamento, alguns fenômenos estão presentes: dor local, interrupção da circulação cerebral: zumbido, calor na cabeça, sopros no ouvido, perda da consciência. O tempo necessário para morte varia de acordo com as condições de cada caso, em geral de 5 a 10 minutos. Fenômenos respiratórios (anoxemia, hipercapnéia, convulsões) Parada respiratória e cardíaca (morte). Lesões externas. Aspecto do cadáver: cabeça inclinada para o lado contrário do nó, rosto branco ou cianótico, boca e narina com cogumelo de espuma, língua e olhos procedentes. No enforcamento completo, os membros inferiores estão suspensos, e os superiores, colados ao corpo, com os punhos cerrados mais ou menos fortemente. Lesões externas: sulco único ou mais de um, com trajeto ascendente que se interrompe no lugar do nó. Este sulco pode estar ausente em situações especiais como nas suspensões de curta duração, nos laços excessivamente moles ou quando é introduzido, entre o laço e o pescoço, um corpo mole. Nos sulcos dos enforcados, também podemos evidenciar os seguintes sinais: Sinal de Ponsold: livores cadavéricos, em placas, por cima e por baixo das bordas dos sulcos. Sinal de Thoinot: zona violácea ao nível das bordas do sulco; Sinal de Azevedo Neves: livores puntiformes por cima e por baixo das bordas do sulco; Sinal de Neyding: infiltrações hemorrágicas puntiformes no fundo do sulco; Sinal de Ambroise Paré: pele enrugada e escoriada do fundo do sulco; Sinal de Lesser: vesículas sanguinolentas no fundo do sulco; Sinal de Bonnet: marcas da trama do laço. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – MEDICINA LEGAL – MEDICINA P8 – 2011.1 24 Lesões internas. Sinais locais: Lesões da parte profunda da pele e da tela subcutânea do pescoço (sufusões hemorrágicas e equimoses, por exemplo); Lesões dos vasos: Sinal de Amussat (secção transversal da túnica íntima da artéria carótida comum ao nível de sua bifurcação); Sinal de Etienne Martin (desgarramento da túnica externa); Sinal de Friedberg (sufusão hemorrágica da túnica externa da artéria carótida); Lesão do Aparelho Laríngeo (fraturas da cartilagem tireóide e da cricóide, bem como do osso hióide); Lesões da coluna vertebral (fraturas ou luxações de vértebras cervicais). Sinais dos planos profundos do pescoço Musculares: infiltração hemorrágica dos músculos cervicais (sinal de Hoffmann-Haberda) e rotura transversal, e hemorragia do músculo tireo-hióideo (Sinal de Lesser); Cartilagens e ossos: fratura do corpo do hióide (sinal de Morgagni-Valsava-Orfila-Roemmer); Fratura das apófises superiores; fratura do corpo (sinal de Helwig); e cricóide - fratura do corpo (sinal de Morgagni-Valsava-Deprez); Ligamentos: ruptura dos ligamentos cricóideo e tireóideo (sinal de Bonnet) Vasculares: carótida comum - ruptura da túnica íntima em sentido transversal abaixo da bifurcação (sinal de Amussat-Divergie-Hoffmann); infiltração hemorrágica da túnica adventícia (sinal de Friedberg); carótidas internas e externas - ruptura das túnicas adventícias (sinal de Lesser); jugulares interna e externa - ruptura da túnica interna (sinal de Ziemke). Neurológicos: ruptura da bainha mielínica da bainha do vago (sinal de Dotto). Vertebrais: fratura da apófise odontóide do axis (sinal de Morgagni); Fratura do corpo de C1 e C2 (sinal de Morgagni); luxação da segunda vértebra cervical (sinal de Ambroise Paré). Faríngeo: equimose retrofaríngea (sinal de Brouardel-Vibert-Descoust). Laríngeo: ruptura das cordas vocais (sinal de Bonnet). Sinais à distância: São sinais encontrados nas asfixias em geral, como congestão polivisceral, sangue fluído e escuro, pulmões distendidos, equimoses viscerais e espuma sanguinolenta na traquéia e brônquios. Mecanismo da morte por enforcamento. Hoffmann fundamenta a morte por enforcamento em 3 princípios: 1) Morte por asfixia mecânica; 2) Morte por obstrução da circulação: neste caso o mais importante seria a obstrução ao nível das carótidas acarretando perturbações cerebrais pela anóxia; 3) Morte por inibição devido à compressão dos elementos nervosos do pescoço: a compressão seria principalmente sobre o nervo vago ou o centro respiratório do bulbo. Diagnóstico. O diagnóstico é feito principalmente na identificação do sulco característico ao nível do pescoço, identificação dos fenômenos relacionados com a asfixia, bem como, da posição do cadáver; somando-se a isto, convém estudar e analisar a presença das alterações externas e internas já citadas anteriormente. Prognóstico.
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