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2018226 083 AULA 8 TGE+ +Estado+liberal+e+social

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TEORIA GERAL DO ESTADO
Prof. Charles Duvoisin
Aula nº. 7
ESTADO LIBERAL E SUAS IMPLICAÇÕES (Estado Social)
O Estado como tal teve seu amadurecimento e consolidação nos séculos XVI e XVII, quando da formação dos Estados Nacionais e a consolidação da soberania, tanto enfatizada por Jean Bodin. Vivenciou-se neste período principalmente conflitos de ordem civil e religiosos, onde a primordial função do Estado era garantir a proteção à vida e à propriedade, impondo a lei e a ordem. Mantinha-se uma estrutura social injusta, com imensos privilégios e vantagens aos nobres ou quem estivesse perto do Rei, ou fosse seu protegido. Enfim, fatores que depois culminaram com o processo revolucionário francês, em 1789, rompendo com esses costumes feudais, que sustentavam uma sociedade estamental. Com a Revolução Francesa o povo passa a ter voz e vez e a classe burguesa a oportunidade que desejava. O Estado de Direito também ganha ênfase, com o positivismo jurídico. Surgem as Constituições e as Codificações que visavam regular a vida privada (vide Código Civil Napoleônico de 1806). 
Vencido o século XVIII, que encerrou-se com um sobressalto considerável dos direitos individuais, o século XIX e XX marcam uma nova ordem, vocacionada para a produção industrial e novamente recai numa dificuldade de se lidar com a coletividade. 
O Estado dito Moderno está envolvido agora com o processo de industrialização e convive com um aumento considerável da população nas cidades. De início não se visualiza uma preocupação do Estado com os abusos praticados pelos novos empreendedores. A exploração da mão de obra (da mais valia) passa à margem do Estado, que prefere não intervir. Assim, o cidadão que nos anos antes estavam presos aos reis e seus caprichos, passam a conviver com uma nova forma de espoliação; a do capitalismo. 
Acontece que em tempos de revolução francesa ou de defesa da liberdade, também se pregou a menor intervenção do Estado, tanto quanto possível. E essa mentalidade não intervencionista do poder público outorgou, ainda que tacitamente, poderes para que os burgueses e novos ricos da época aplicassem as suas próprias regras. A busca dos lucros, por sua vez, transcende o mundo das oportunidades e do bom senso, e converte a sociedade do século XVIII e XIX a uma nova forma de escravidão ou trabalho servil, com profundas sequelas. 
O liberalismo se apresentou como uma teoria antiestado. O aspecto central de seus interesses era o indivíduo e suas iniciativas. A atividade estatal, quando se dá, recobre um espectro reduzido e previamente reconhecido. Suas tarefas circunscrevem-se à manutenção da ordem e segurança, zelando que as disputas porventura surgidas sejam resolvidas pelo juízo imparcial sem recurso à força privada, além de proteger as liberdades civis e a liberdade pessoal e assegurar a liberdade econômica dos indivíduos exercitada no âmbito do mercado capitalista. O papel do Estado é negativo, no sentido da proteção dos indivíduos. Toda a intervenção do Estado que extrapola estas tarefas é má, pois enfraquece a independência e a iniciativa individuais.� 
Analisando Sahid Maluf�, o doutrinador trabalha com um conceito interessante, onde “o Estado liberal, marcando o advento dos tempos modernos, correspondia nos seus lineamentos básicos com as idéias então dominantes. Era a realização plena do conceito de direito natural, do humanismo, do igualitarismo político que os escritores do século XVIII deduziram da natureza racional do homem, segundo a fórmula conclusiva de que “os homens nascem livres e iguais em direitos; a única forma de poder que se reveste de legitimidade é a que for estabelecida e reconhecida pela vontade dos cidadãos”. 
O liberalismo tem origem em tempos de extrema efervescência política e social (revoluções populares; inglesa, norte americana – independência – e francesa). Em todas, a soberania passa a considerar a vontade do povo, com um governo não mais hereditário e vitalício, mas sim representativo e com alternâncias no uso do poder, de acordo com os interesses políticos da sociedade. 
Ganha ênfase o Estado Constitucional, onde a lei impera. Com esse novo modelo de governo o poder de mando é assegurado a três esferas; legislativo, executivo e judiciário. Invoca-se também um Estado laico e de certa neutralidade, pois ao homem cabia apenas seguir os ditames da lei, não a imposição do Estado, pura e simplesmente. Essa não intervenção do Estado nos assuntos privados ou afastamento do mesmo da ordem social, deu origem ao que ficou conhecido como “Estado Liberal”. Um Estado, como bem ressalta o próprio Maluf “baseado na concepção individualista”. 
A limitação do Estado, por sua vez, estava calcada nesta nova ordem; a constitucionalização dos direitos. A Constituição americana e francesa foi um marco de positivação não só dos direitos, mas também das atribuições do Estado. Uma vez que se enumera qual o papel do Estado, ao mesmo tempo se limita sua atuação. Tempos em que a “liberdade” era uma bandeira a ser seguida, sem objeção. 
E “a finalidade do Estado constitucional do século XIX e início do século XX, até o final da Primeira Guerra Mundial, foi garantir a liberdade privada, política e econômica, assim como a segurança e propriedade. No plano político, caracteriza-se pela soberania de base popular ou nacional e pela centralização da produção jurídica; com tais atributos volta-se à consolidação da unidade nacional, expressa pela continuidade do território e das fronteiras naturais, por uma língua, uma moeda, um sistema fiscal, uma Constituição e um sistema jurídico. Aí está a base do Estado-Nação, unidade jurídico-politica que se organiza em torno dos princípios da territorialidade e da nacionalidade.”� 
Em verdade, o liberalismo que se apresentara perfeito na teoria bem cedo se revelou irrealizável por inadequado à solução dos problemas reais da sociedade, conclui o doutrinador. O sentimento individualista passou a se sobrepor ao coletivo, gerando confrontações sociais. Norberto Bobbio� chega a tecer críticas ao modelo do Estado Liberal pois “Realiza-se historicamente em sociedades nas quais a participação no governo é bastante restrita, ilimitada às classes possuidoras. Um governo democrático não dá vida necessariamente a um Estado Liberal: ao contrário, o Estado liberal clássico foi posto em crise pelo progressivo processo de democratização produzido pela gradual ampliação do sufrágio até o sufrágio universal.” 
Liberalismo (econômico) e sua gênese
O liberalismo econômico tem seu início, ainda que de forma superficial, identificado no século XVII. Desde então se percebe que essa doutrina não está apenas interessada nos ditames financeiros, mas em fazer uso do poder no campo político e social, ainda que sob a égide de seus princípios. Defende a importância da proteção dos direitos individuais dos cidadãos, onde a lei tem papel preponderante. 
O liberalismo ganha destaque ao longo do processo revolucionário francês e com o desenvolvimento da chamada “democracia americana”. O movimento iluminista tem grande ascensão sobre o Estado Liberal, justamente por ter sido a âncora ideológica contrária ao “ancien regime”. A luta travada pela descentralização do poder ou pela igualdade e maior liberdade ao povo, é marca característica do novo estado, ou Estado Liberal. 
Depura-se da obra “Os princípios filosóficos do Direito Político Moderno”� de Simone Goyard Fabre, que “logo após a Revolução Francesa, a exigência mestra do humanismo liberal tomou aos olhos de B. Constant a forma de uma evidência histórica: como o direito divino já não tem sentido, como o princípio de autoridade está caduco, chegou o tempo da liberdade dos homens. Isso, sem dúvida alguma, significa que a soberania do povo é doravante a máxima fundamental do direito político. Portanto, tem-se a razão em dizer, gosta de repetir B. Constant, que Rousseau compreendera magnificamente o sentido dessa premissa.” 
Para Denilson Luis Werle� “se não existirem princípiose regras que assegurem a convivência, coordenem as ações e estabeleçam parâmetros públicos para julgar as reinvindicações nos casos de conflito, perde-se a própria autonomia dos indivíduos livres. À luz do pluralismo de planos de vida individuais e formas de vida culturais, a questão central do Liberalismo contemporâneo passa a ser, então, saber como é possível existir uma sociedade justa, boa e estável de cidadãos que estão divididos entre si por interesses e valores não apenas divergentes, mas por vezes, irreconciliáveis entre si”. 
 
Durante um bom tempo o homem se preocupou em regulamentar os direitos individuais e a garantir a proteção à propriedade privada. A lei precisava ser respeitada. A atuação do Estado segue em segundo plano, uma vez que a própria lei ou positivismo jurídico ganha ênfase na sociedade contemporânea. 
O mundo caminha a passos largos e a modernização chega impactando uma estrutura social que não estava preparada para assimilar a nova filosofia mercantil, onde a prevalência dos lucros estava acima até mesmo da dignidade humana. A luta travada na Revolução Francesa acaba sendo esquecida no passado, somente sendo resgatada em torno da metade do século XIX, mas agora com uma visão coletiva. 
O Estado Liberal surge no seio da classe burguesa, que estava em ascensão no fim do século XVIII. Além da valorização dos direitos individuais do homem pregava o que mais tarde foi denominado como “Estado mínimo” ou “Estado Polícia” visto que suas funções deveriam ser bem restritas, no máximo a garantir uma ordem social através da vigilância, repressão policial (no aspecto interno) e manutenção da soberania frente aos demais países (exército – plano externo). 
Mas um detalhe interessante colhe-se de Aquaviva�, o qual afirma que “a Revolução Francesa destruiu o conceito tradicional de poder político, exaltando o indivíduo em detrimento do social”. O doutrinador chama a atenção para o fato de que a vida em sociedade impõe restrições aos possíveis excessos das liberdades cívicas e políticas”. E mais a frente, conclui que “A concepção de liberdade do liberalismo acabou por se autodestruir. O excesso de livre-concorrência gerou a exploração dos fracos pelos fortes e, com esta, a formação de um capitalismo monstruoso e a proletarização dos produtores, todas estas, paradoxalmente, condições propícias para o aparecimento dos totalitarismos e do socialismo exacerbado”. 
Com a Revolução Industrial� e a generalização da pobreza a níveis antes desconhecidos, começa-se a pensar que pode haver situações de pobreza que escapam ao controle do indivíduo. Assim, o assistencialismo (até então considerado desvio imoral do princípio “a cada um segundo seu merecimento”) passa a ser reivindicado por muitos como sendo um direito (social) e do Estado é exigida uma maior ingerência na ordem social e econômica, ou seja, suas estruturas devem intervir diretamente na melhoria do nível de vida dos menos favorecidos, preocupação esta que pode ser encontrada nos pensamentos de Hegel e Weber.
Com efeito, a expressão que Hegel� utilizava para a sociedade civil (burgerliche geselschaft – sociedade burguesa), denota o caráter burguês dessa sociedade emergente. A sociedade já não congrega os mesmos conceitos jusnaturalista, proposto pela Revolução Francesa, impondo uma associação dos cidadãos segundo os interesses econômicos. 
A ideologia Liberal, como ressalta Dalmo de Abreu Dallari, com um mínimo de interferência na vida social, trouxe, de início, alguns inegáveis benefícios: houve um progresso econômico acentuado, criando-se condições para a revolução industrial; o individuo foi valorizado, despertando-se a consciência para a importância da liberdade humana; desenvolveram-se as técnicas de poder, surgindo e impondo-se a idéia do poder legal em lugar do poder pessoal. Mas em sentido contrária, assevera Dallari, o Estado liberal criou as condições para a sua própria superação. Em primeiro lugar, a valorização do indivíduo chegou ao ultra-individualismo, que ignorou a natureza associativa do homem e deu margem a um comportamento egoísta, altamente vantajoso para os mais hábeis, mais audaciosos ou menos escrupulosos. Ao lado disso, a concepção individualista da liberdade, impedindo o Estado de proteger os menos afortunados, foi a causa de uma crescente injustiça social, pois, concedendo-se a todos o direito de ser livre, não se assegurava a ninguém o poder de ser livre. 
Na verdade, sob o pretexto de valorização do indivíduo e proteção da liberdade, o que se assegurou foi uma situação de privilégio para os que eram economicamente fortes. E, como acontece sempre que os valores econômicos são colocados acima de todos os demais, homens medíocres, sem nenhuma formação humanística e apenas preocupados com o rápido aumento de suas riquezas, passaram a ter o domínio da Sociedade. 
A ideologia pregada pelo liberalismo, de liberdade total do indivíduo, e até mesmo da exploração do capital gerou um grande abismo social, que acabou por invocar a presença do Estado nos ditames sociais, com intuito de encontrar saídas para contornar o grave problema que se instalou na Europa como um todo. 
Esses problemas sociais passam a envolver duas idéias ou teorias: de acordo com a primeira, dita liberal, o Estado deve ter pouco poder, pois apenas dessa maneira estaria assegurado o máximo de liberdade (econômica, religiosa, civil...) aos indivíduos. Já de acordo com a segunda noção, de cunho popular, o Estado deve possuir e concentrar considerável gama de poder, de modo a distribuí-lo e, assim, atenuar as desigualdades sociais.
Essa antítese, entre Estado Social/Estado Liberal, reflete, por sua vez, uma outra, mais profunda: a antítese entre as idéias de igualdade e liberdade. Se tomadas apenas em seu sentido jurídico ou formal, não há colisão entre essas idéias e a própria democracia pode ser considerada como prosseguimento do liberalismo. Se tomadas num sentido mais substancial - “igualdade” como “justa distribuição de riqueza” -, por exemplo, aí a contradição faz-se presente, principalmente no chamado regime capitalista. 
Contudo, os defensores das idéias liberais não consideraram que a aplicação destas caberia aos homens, sujeitos à ganância, egoísmo, e todos os trejeitos daquelas pessoas que se deixam influenciar quando se detém o poder. 
Assim, a sociedade passa a se preocupar com o aparecimento dos movimentos proletários e as grandes massas empobrecidas das cidades que, muitas vezes se constituíam não por demérito pessoal ou simples preguiça, mas por razões que escapavam a seu controle (baixa de preços de determinado produto devido a sua grande oferta, surgimento de novas máquinas que ocasionavam o aumento do desemprego, etc.). Como o Estado encontrava-se afastado da coordenação das atividades econômicas e sociais, a preocupação se faz presente. 
Os distúrbios e a violência aumentaram consideravelmente. A sociedade estava adoentada e o grupo dos descontentes crescia assustadoramente. Aumentava o clamor público para que o Estado ampliasse as funções que a ele eram tradicionalmente atribuídas pela doutrina liberal: além da segurança, justiça e construção de obras públicas, ele deveria distribuir renda, melhorar o nível de vida dos menos favorecidos. 
A exploração da classe operária precisava ter um fim ou pelo menos um regramento que amenizasse a situação. A tão apregoada “democracia liberal” cede espaço para um “Estado Social” ou “Estado de Justiça”, que buscava reequilibrar a vida em sociedade, enfatizando a igualdade restringindo os excessos da liberdade. O “Estado de Direito” ou “Liberal” não atendia aos anseios de uma massa de trabalhadores, gerando um distanciamento social perigoso. 
Para Karl Marx, o maior crítico do capitalismo, alegava que sistema econômico liberal não é racional, pois sua suposta racionalidade, que é tão somente a definição de seu interesse próprio, está impregnada de contradições: procura prosperidade através da geração de pobreza; liberdade,através da subordinação e o bem comum, através da emancipação da preferência própria. Somente a regeneração do homem resultaria numa economia realmente racional.�
Marx entendia que o Estado servia de proteção a uma minoria vencedora, frente a uma maioria vencida, sendo incapaz de zelar pela coletividade, evitando abusos do poder econômico. 
O Estado Liberal foi então perdendo espaço para o Estado Social, onde a legislação que passava a ser produzida preocupava-se com direitos trabalhistas e previdenciários. 
A nova faceta do Estado já pregava a necessidade de se tratar “desigualmente os desiguais”, fundamento não defendido ou invocado ao longo do movimento iluminista ou pelos doutrinadores do Estado Liberal. Como exemplo podemos citar a Lei 8.112/90, que prescreve, em art. 5º, § 2º, cotas de até 20% para os portadores de deficiências no serviço público civil da união, cotas raciais em faculdades, vagas em estacionamento para deficientes ou idosos e a isenção de desconto na folha salarial para quem ganha baixos salários.
Os defensores do liberalismo esqueceram de que o princípio associativo do homem, a convivência em sociedade é o que move a humanidade. O homem, na sua individualidade é mera abstração e sequer envolve a necessidade de se discutir direitos e deveres. As codificações legais são tem utilidade ou aplicação quando se dirige a uma pluralidade, e nunca a uma única pessoa. Uma concepção individualista não se coaduna com a convivência social pois tende a acentuar as desigualdades sociais, com a eliminação dos chamados mais fracos. 
Do Welfare State
O Estado Constitucional dos séculos XX e XXI difere da modalidade aplicada no século XIX. Segundo Nina Ranieri�, sua finalidade, além da garantia da liberdade, é a ampliação da igualdade em sentido social. Daí ser denominado Estado social (muito embora tal expressão só venha a ser constitucionalizada pel Lei Fundamental de Bonn de 1948, em seu art. 20, I). Também identificado como Estado intervencionista, Estado providência, Estado do bem-estar ou Welfare State. 
E prosseguindo a doutrinadora, atesta que o Estado Social equipara-se ao Estado liberal no que diz respeito ao império da lei, à divisão de Poderes e à expressa previsão constitucional de direitos individuais. Dele se distingue em razão de duas alterações principais:
a) substituição da posição absenteísta do Estado liberal por uma posição ativa, necessária à efetivação dos novos direitos de crédito reconhecidos aos indivíduos e traduzidos como poder de exigibilidade em face do Estado (saúde, proteção social, vida familiar normal, instrução e cultura, solidariedade nacional, etc.); 
b) adição, à função liberal de aplicação vinculada da lei como norma geral e abstrata, por meio de autorizações, proibições, habilitações etc., da função de gestão direta de serviços públicos. 
A esse processo – que pode ser visto como extensão e aprofundamento do Estado garantidor clássico, sendo os direitos econômicos e sociais uma extensão dos direitos civis e políticos – agrega-se a necessidade de serem corrigidos e compensados os desvios socioeconômicos por ele provocados. Em comparação com o tipo liberal, o Estado social é bem mais complexo, em decorrência, justamente, do reconhecimento ampliado dos direitos dos indivíduos. 
A intervenção estatal no domínio econômico não cumpre papel socializante; antes, muito pelo contrário, cumpre, dentre outros, o papel de mitigar os conflitos do Estado Liberal através da atenuação de suas características – a liberdade contratual e a propriedade privada dos meios de produção - , a fim de que haja a separação entre os trabalhadores e os meios de produção. Decorre daí a necessidade de impor uma função social a estes institutos e a transformação de tantos outros.�
Como inicialmente ressaltado, esta condiçao de estado intervencionista foi denominada de Welfare State, de nomeclatura americana. Consiste em um Estado preocupado com o bem estar social de seus cidadãos, cujas atitudes são visualizadas por políticas de intervenção. Trata-se de um modelo de Estado de conotação social, mas sem valorizar e respeitar as garantias individuais e a liberdade de seu povo. O caráter intervencionista não deve ser confundido com políticas protecionistas ou ditatoriais. O regime democrático não é substituido, ao contrário, é maximizado neste modelo de administraçao pública. O compromisso com a sociedade, na concretização de medidas tendentes a garantir uma gestão voltada para o social, é a institucionalização de um país generoso e progressista. 
A intervenção, por sua vez, tem que prezar pelo equilíbrio e respeito a ordem jurídica vigente. O Estado passa a ser um instrumento da aplicabilidade deste “Estado Providência”, que trabalhará para garantir um desenvolvimento equilibrado, reduzindo as diferenças sociais existentes. 
Mas essa formataçao de Estado não é tão recente. A Constituição de Weimar (1919 – 1933), uma das mais famosas e importante de toda a Europa, de concepção democrática, tornou o papel do Estado mais ativo na administraçao e organizaçao dos chamados “direitos sociais” como a educação, saúde, trabalho, previdência social, etc. Papel que ficou configurado nas futuras Constituições. 
Claro que muita coisa foi revista após a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, mas a vocação para o texto vocacionado para às questões sociais só foi aprimorado. 
J. M. Keynes (1883 – 1946), com sua filosofia social, voltada para a geração de empregos e certa intervençao do Estado na economia, foi talvez o grande nome da economia no século XX�. Ao doutrinador inglês a participação do Estado no fomento de linhas de trabalho, visando combater o desemprego, era muito importante. Enfim, mais um pensador que encontra no Estado um papel decisivo perante a sociedade, no intuito de se encontrar a felicidade ou harmonia social. Seu pensamento vai influenciar o New Deal (Novo Plano), implantando nos EUA, logo após ao “Crack” da Bolsa de Nova Iorque. Em 1933, quando assumiu o governo norte americando, Flanklin Delano Roosevelt impôs uma política agressiva e impactante, com forte interverência do Estado no regramento economico. 
Na década de 70, com a crise do petróleo e outros problemas conjunturais da época, Keynes acaba sendo criticado por outros economista, como Milton Fridmann (1912 – 2006), o qual entendeu nefasta uma maior intervenção do Estado junto à economia e outros setores ligados ao fomento mercantil. Pregava a defesa do livre mercado e é claro, uma mínima intervenção estatal. Considerado o segundo maior economista do século XX (o maior seria Keynes). 
No Brasil podemos atestar que não temos, de forma visível, esse Welfare State, mas em alguns programas governamentais essa formatação é reconhecida, em especial com os programas Bolsa Família, Fies ou Ciência Sem Fronteiras. São formas de transferência de renda ou geração de oportunidades, a pessoas de baixa renda. 
Por fim, podemos citar que no Brasil, nos artigos 1º, III – dignidade da pessoa humana e IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional; 
Cita-se ainda o artigo 6º., “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”. Por fim, também não menos importante, o artigo 170 da CF, onde menciona que a ordem econômica brasileira é fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, com intuito de assegurar a todos uma existência digna, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviçose de seus processos de elaboração e prestação; 
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. 
		A justiça social ou esse “Estado Social” luta por um equilíbrio entre os membros de sua sociedade, principalmente no campo das oportunidades e direitos. Preza também por uma competente prestação de serviços públicos, visando atender a todos, indistintamente. A igualdade é a regra e a liberdade, em excesso, deve ser coibida. 
ESSÊNCIA E ESTRUTURA DO ESTADO – FINS DO ESTADO
Desde a Grécia Antiga a questão do “fim” do Estado constitui um problema fundamental para todas as doutrinas. 
Estava reservado ao romantismo combater, pela primeira vez, a legitimidade deste modo de traçar um plano do problema, afirmando que o Estado, “como as plantas e os animais”, é um fim em si mesmo. A partir de então a questão do fim do Estado aparece desatendida pela doutrina, que a rechaça por considera-la um problema fictício e supérfluo, de impossível solução.
Se em algum caso reconhece que tal questão está justificada, sua resposta não é, em geral, nada satisfatória cientificamente. E, em todo caso, a Teoria do Estado está muito longe de ver nela seu problema fundamental. 
A eliminação do conceito de Estado deste momento teleológico estava, sem dúvida, justificada se tomada em consideração a concepção que do Estado teria o Direito Natural da Ilustração em que a questão do fim aparecia unilateralizada de maneira racionalista ao considerar equivocadamente o Estado como uma criação arbitrária de indivíduos para um fim consciente. É também a exata objeção só os homens e em grupos podem propor fins subjetivos. Não cabe por em dúvida que o Estado não é uma unidade de fim no sentido de que seus membros persigam nele e com ele os mesmos fins. 
Há que reconhecer a si mesmo que tem razão os que declaram que, desde o ponto de vista científico, não pode chegar-se a estabelecer objetivamente a “missão” política concreta de um Estado determinado. Pois esta missão, ainda que se queira deduzir, a maneira dos geopolíticos do dia do dia, com uma pretendida objetividade, da situação geográfica do Estado de que se trate – depende sempre exclusivamente, o mesmo que aqueles fins psicológicos, das ideologias, de maneira alguma unitárias, de determinados grupos humanos dentro do Estado. Por último, há que considerar também como mal planejada a questão do fim “transcendente-objetivo” do Estado, em relação com a vontade divina e com o destino último do gênero humano, porque essa questão se refere ao sentido universalmente válido, verdadeiro e justo, do Estado, o problema de sua justificação, problema que não cabe confundir com o do “fim do Estado”. 
Uma vez aceito que tais objeções se encontram justificadas, há que reconhecer, sem contestação, que a questão do “fim” do Estado não só constitui um problema de importância para a Teoria do Estado, mas a mais fundamental desta. Pois bem, é certo que só os homens são capazes de propor conscientemente fins, não é menos que o Estado, como toda instituição humana, tem uma função objetiva chamada de sentido que nem sempre concorda com os fins subjetivos dos homens que o formam. 
TEORIA DEL ESTADO – HERMANN HELLER – PG. 218 
 
 
� STRECK. Lenio Luiz. Ciência Política e Teoria do Estado. 8 edição. Editora Livraria do Advogado. Porto Alegre. 2014. Pág. 62. 
� MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. 26 edição. Editora Saraiva. São Paulo. 2003. 
� RANIERI. Nina Beatriz Stocco. Teoria do Estado: do Estado de Direito ao Estado Democrático de Direito. Editora Manole. Burueri, São Paulo 2013. 
� BOBBIO. Norberto. Liberalismo e Democracia. Editora Campus. São Paulo. 2000. 
� GOYARD-FABRE, Simone. Os princípios filosóficos do direito politico moderno. Tradução Irene A. Paternot. Editora Martins Fontes. São Paulo. 1999. 
� WERLE, Denilson Luis. Manual de Filosofia Política. O liberalismo Contemporâneo e seus Críticos. Editora Saraiva. São Paulo. 2012. 
� AQUAVIVA. Marcus Cláudio. Teoria Geral do Estado. 3ª edição. Editora Manole. Barueri-SP. 2010. 
� Somente em 1834 foram aprovadas na Inglaterra as primeiras Leis Fabris, que proibiam o trabalho de crianças com menos de nove anos e limitavam a doze horas por dia o período de trabalho de pessoas com menos de dezoito anos. Em 1844, uma lei proibiu as mulheres de trabalhar mais de doze horas por dia. Em 1847, o Parlamento inglês aprovou jornada de trabalho não excedente a dez horas por dia, contudo ela só foi aplicada a todas as fábricas a partir de 1874, ao passo que outros trabalhadores, principalmente os empregados em lojas e no serviço doméstico, só começaram a ter horário de trabalho limitado no inicio do século XX. Os demais países da Europa relutaram ainda mais para impor tais regras. A Alemanha, por exemplo, só implantou a limitação de doze horas por dia em 1871. 
Fica evidenciado o importante papel que coube ao Estado, na regulamentação das condições de trabalho, dentro da esfera do bem-estar público. 
Legislação sobre saúde como a limpeza das ruas, obrigatoriedade de certas vacinas, fornecimento de água potável, etc, inicia também na mesma época, por volta de 1848 (data da promulgação da primeira lei de saúde pública). 
� Georg Wilhelm Friedrich Hegel, nasceu em Stuttgart, em 1770. Vivenciou o chamado “romantismo” alemão. Juntamente com Schelling e outros românticos da época viam a razão mais profunda da existência no chamado espírito do mundo. Quando Hegel fala de espírito do mundo ou “razão do mundo”, ele está se referindo à soma de todas as manifestações humanas. Isto porque, a seu ver, só o homem possui um espírito. 
Devemos destacar que a grande maioria dos pensadores (filósofos) que antecederam Hegel procuraram estabelecer conceitos imutáveis, criando estigmas e “verdades”, que com o passar dos anos tornaram-se totalmente obsoletas. Justamente neste ponto Hegel dispunha que as bases do conhecimento do homem mudavam de geração para geração. Assim, seu pensamento era no sentido de que não haviam “verdades absolutas”. O doutrinador germânico cita que a razão também é algo dinâmico, um processo. A “verdade”, então, é um processo de evolução continuado, agregado a um contexto histórico. Neste sentido, não se pode afirmar que Platão se enganou ou que Aristóteles tinha razão. 
Hegel dizia que o espírito do mundo progredia rumo a uma consciência cada vez maior de si mesmo. Os rios também ficam cada vez mais largos, à medida que se aproximam do mar. Segundo o doutrinador, a história descreve a saga do espírito do mundo, que pouco a pouco desperta para a consciência de si mesmo. O mundo sempre existiu, mas por meio de cultura e da evolução do homem o espírito do mundo se torna cada vez mais consciente de suas peculiaridades. 
Para Hegel, a história é a única e longa cadeia de pensamentos, cujos elos não se unem ao acaso, mas segundo determinadas regras. Quem se dedica ao estudo sério da história percebe que geralmente um novo pensamento surge com base em outros formulados anteriormente. Uma vez formulado, porém, o novo pensamento será inevitavelmente contradito por outro. Aparecem, assim, duas formas de pensar que se opõem e entre elas há uma tensão. Esta tensão é quebrada quando um terceiro pensamento é formulado, dentro do qual se acomoda o que havia de melhor nos dois pontos de vista precedentes. É isto que Hegel chama de evolução dialética. 
� BARBOSA. Vivaldo. O pensamento político – do iluminismo aos nossos dias. Editora Revan. Rio de Janeiro. 2010. 
� RANIERI. Nina Beatriz Stocco. Teoria do Estado: do Estado de Direito ao Estado Democrático de Direito. Editora Manole. Burueri, São Paulo 2013.
� STRECK. Lenio Luiz. Ciência Política e Teoria do Estado. 8 edição. Editora Livraria do Advogado. Porto Alegre. 2014. Pág. 75 .
� Em 1999, a revista Time mencionou Keynescomo uma das cem pessoas mais influentes do século XX
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