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1 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ARIDO DEPARTAMENTO DE CIENCIAS ANIMAIS CURSO: MEDICINIA VETERINÁRIA DISCIPLINA: FISIOPATOLOGIA DA REPRODUÇÃO PROFESSOR: ALEXANDRE RODRIGUES SILVA MANEJO REPRODUTIVO DE RUMINANTES ANNA AUGUSTA F. QUEIROZ HILDITA SIMÉA DE A. CHAVES MÁRCIO RAIMUNDO DE MEDEIROS ROBÉRIO OLINDA GOMES MOSSORÓ, MAIO DE 2010 2 Índice Introdução---------------------------------------------------------------------------------------- 02 Manejo Reprodutivo de Ruminantes-----------------------------------------------------03 Características anatômicas e funcionais do sistema reprodutor feminino--------------03 Características anatômicas e funcionais do sistema reprodutor masculino--------------04 Ciclo estral de ruminantes---------------------------------------------------------------------04 Fisiologia da reprodução---------------------------------------------------------------------06 Hormônios relacionados à reprodução da fêmea--------------------------------------------- 07 Hormônios relacionados à reprodução do macho--------------------------------------------09 Espermatogênese---------------------------------------------------------------------------------- 10 Fotoperíodo--------------------------------------------------------------------------------------- 11 Efeito Macho ------------------------------------------------------------------------------------12 Efeito fêmea ------------------------------------------------------------------------------------12 Métodos Reprodutivos -------------------------------------------------------------------------12 Fatores ambientais e reprodução ------------------------------------------------------------- 13 Manejo Reprodutivo de Bovinos------------------------------------------------------------15 Escore corporal---------------------------------------------------------------------------------15 Composição do rebanho---------------------------------------------------------------------16 Detecção e repetição de cio------------------------------------------------------------------16 Inseminação artificial e monta natural------------------------------------------------------16 Estação de monta-------------------------------------------------------------------------------17 Período de serviço e Intervalo entre partos--------------------------------------------18 Alimentação e Reprodução----------------------------------------------------------------18 Cessação da atividade ovariana luteal e cíclica-----------------------------------------------19 Prevenção da saúde reprodutiva-------------------------------------------------------------- 19 Manejo Reprodutivo de Caprinos e Ovinos--------------------------------------------21 Puberdade e separação de sexos--------------------------------------------------------------21 Escolha de reprodutores e matrizes--------------------------------------------------------22 Escore corporal e alimentação-------------------------------------------------------------23 Observação de estro e uso de rufiões-----------------------------------------------------26 Estação de monta-----------------------------------------------------------------------------28 Intervalo entre partos---------------------------------------------------------------------------30 Diagnóstico de gestação------------------------------------------------------------------------ 31 Conclusão---------------------------------------------------------------------------------------- 34 Referências Bibliográficas----------------------------------------------------------------35 3 Introdução Reprodução refere-se ao ato de reproduzir, proporcionando e gerando novos descendentes, o que dentro de um sistema produtivo, pode ser entendido como ampliação do rebanho, permitindo a melhoria do potencial de produção quando os cruzamentos são bem conduzidos (Ribeiro, 1997). Seguindo esta premissa, a compreensão das etapas do manejo reprodutivo de ruminantes é de fundamental importância para uma adequada condução e desenvolvimento eficaz para que ocorra o crescimento do rebanho. Assim podemos definir a conceituação para manejo reprodutivo, segundo Lago & Lafayette (2000) é composto por uma série de medidas que visam orientar o produtor desde a aquisição do reprodutor e matrizes até o manejo das crias durante a puberdade e maturidade sexual. O manejo reprodutivo visa organizar a produtividade do rebanho. Para isso, são necessárias técnicas que permitam a utilização racional dos animais. Em outras palavras, é o conjunto de medidas voltadas para a melhoria do desempenho zootécnico e econômico do rebanho. Por isso a eficiência da produção de um rebanho está diretamente relacionada com o número de produtos obtidos, independentemente do objetivo da produção. Na medida em que se obtém maior número de animais nascidos, maior será o número de animais para o processo de seleção, para a comercialização e, conseqüentemente, maior será a rentabilidade da criação. Desta forma, para que o manejo reprodutivo possa ser de fato eficiente, deve ser entendido como um item indissociável do manejo geral do rebanho. O manejo reprodutivo está inserido em aspectos diversos como, por exemplo, a alimentação, o sistema de acasalamento, as biotécnicas a serem utilizadas no processo de evolução genética, o estabelecimento de critérios para a seleção de reprodutores e matrizes e o controle de doenças da esfera reprodutiva (Cruz & Ferraz, 2009). Deve-se atentar também para os fatores ambientais principalmente a ação do fotoperiodismo, pois, os animais foram classificados em dois tipos: animais de dias longos, no qual se incluem os eqüinos e os bovinos, cuja atividade sexual se manifesta após o solstício de inverno, ou seja, quando os dias crescem, e animais de dia curto, no qual são inseridos os ovinos, caprinos e suínos, cuja atividade sexual se manifesta após o solstício de verão, ou seja, quando os dias decrescem (Sá & Sá, 2006). 4 MANEJO REPRODUTIVO DE RUMINANTES Robério Gomes Olinda 1. Características anatômicas e funcionas do sistema reprodutor feminino 1.1. Aparelho genital da fêmea 1.1.2. Vulva É a abertura externa do aparelho genital feminino, formada pelos lábios maiores que fecham a entrada dos tratos reprodutivo e urinário. 1.1.3. Vestíbulo É a região onde os tratos reprodutivo e urinário se encontram. Ela se estende da vulva até a abertura da uretra. O clitóris que tem a mesma origem embrionária do pênis, está localizada na porção ventral do vestíbulo. 1.1.4 Vagina É a porção do trato reprodutivo localizada entre o vestíbulo e a cérvice. É o órgão copulatório feminino, onde o sêmen é depositado. 1.1.5 Cérvix É a região de estreitamento do canal genital que separa a vagina do útero. Sua função primária é prevenir a passagem de microorganismos da vagina para o útero. Durante o diestro e a gestação, a produção de um muco altamente viscoso forma um tampão que obstrui a entrada do canal cervical A liquefação desse tampão mucosoe a dilatação da cérvice uterina ocorrem durante o cio, permitindo assim a passagem do ejaculado para o útero e a penetração da pipeta de inseminação. Convém lembrar que a cérvice é o ponto de transição entre o meio semi-estéril do útero e a região freqüentemente contaminada da vagina. 1.1.6. Útero É a região do trato reprodutivo que abriga o embrião ou feto durante a gestação, sendo composto de um corpo e dois cornos uterinos. A mucosa uterina contém de 70 a 120 carúnculas, que são estruturas que ligam as membranas fetais ao útero durante a gestação. 1.1.7. Ovidutos São dois túbulos que se estendem dos ovários aos cornos uterinos. Na extremidade próxima a cada ovário, o oviduto Forma o infundíbulo estrutura em forma de funil que envolve o ovário e recebe o óvulo por ocasião da ovulação. 1.1.8. Ovários 5 São as duas gônadas femininas responsáveis pela formação do óvulo, que após fertilizado dará origem ao embrião. Os ovários atuam também como glândula endócrina, produzindo os hormônios esteróides estradiol e progesterona. O estradiol é produzido pelos folículos em desenvolvimento, e a progesterona pelo corpo lúteo. 2. Características anatômicas e funcionais do sistema reprodutor masculino 2.1. Aparelho genital masculino 2.1.2. Pênis Órgão copulatório do macho. Segundo Mies Filho (1977), do testículo dependem as duas funções essenciais do macho: a espermatogênese com produção de espermatozóides imaturos do processo de espermatogênese, com duração média de 61 dias, nos ruminantes; e a androgênica através da produção do hormônio sexual masculino testosterona e outros hormônios como progesterona e estrógeno, por meio do processo de esteroidogênese. 2.1.3 Epidídimo É um túbulo coletor das secreções dos testículos. Na cabeça e corpo ocorre o transporte e maturação dos espermatozóides e a cauda tem a função de reservatório dessas. A maturação do espermatozóide significa a aquisição da capacidade fertilizante a qual inclui a obtenção da motilidade, mudanças morfológicas das características de membrana e do metabolismo dos espermatozóides (Hafez, 1995). 2.1.4 Ducto deferente É a continuação do sistema de ductos que vai da cauda do epidídimo até a uretra pélvica. 2.1.5. Glândulas Acessórias Vesículas seminais, Próstata, Glândulas bulbo-uretrais. Desempenham função de secretar o líquido seminal no qual estão contidas as células espermáticas. Esta secreção possui o papel de nutriente e de manutenção de pH (Mies Filho, 1977). 2.1.6. Testículos Ficam contidos no escroto que, por sua vez, auxilia na manutenção da temperatura mais baixa que a corporal favorecendo a espermatogênese. Os testículos produzem testosterona e espermatozóides, e estes são viabilizados pelos órgãos acessórios. 3. Ciclo Estral de Ruminantes O ciclo estral é o ritmo funcional dos órgãos reprodutivos femininos que se estabelece a partir da puberdade. Compreende as modificações cíclicas na fisiologia e na morfologia dos órgãos genitais e também no perfil dos hormônios relacionados. 6 Didaticamente o ciclo pode ser dividido em 4 fases que são limitadas por eventos reprodutivos coordenados pela secreção de hormônios. As fases são: (1) Pró-estro: fase que antecede o estro ou cio. Esta fase é marcada por um aumento gradativo circulante de estrógeno, devido ao início do desenvolvimento folicular. Os achados principais são decorrentes desse perfil hormonal: ocorre um aumento gradativo na vascularização e tônus muscular dos órgãos genitais, edemaciação inicial da vulva, proliferação do epitélio vaginal e relaxamento da cérvix. Tem duração média de 2 a 3 dias e termina quando a fêmea passa a aceitar a monta do macho. (2) Estro: caracteriza-se pela aceitação do macho. É a fase de mais fácil percepção. Nesta fase os níveis circulantes de estrógeno são elevados, os achados decorrem desta alta taxa. O útero e as tubas se encontram túrgidos, a cérvix relaxada, vagina e vulva com sinais de hiperemia e edema com corrimento de muco. Esta fase tem duração variada entre 10 a 18 horas, assim terminando quando a fêmea deixa de aceitar o macho. (3) Metaestro: fase de mais difícil caracterização. Após a ovulação por estímulo do LH as células da teca e da granulosa, sofrem uma diferenciação em células luteínicas que formarão o corpo lúteo (CL). O CL secreta quantidades crescentes de progesterona até atingir sua produção máxima. A ovulação na vaca ocorre nesta fase. Com a produção inicial de progesterona, a genitália tende a ficar com menor tônus, menos vascularizada e edemaciada. Em bovinos pode ocorrer uma pequena hemorragia caruncular, decorrente das alterações hormonais. Dura em média 2 ou 4 dias e termina quando o corpo lúteo atinge sua plena capacidade de produção de progesterona. (4) Diestro: fase de maior duração, que ocorre sob predomínio da progesterona. Devido à presença deste esteróide, o endométrio fica mais espesso e com maior atividade glandular, a cérvix se fecha, ocorre relaxamento da musculatura do genital e uma diminuição da vascularização com hipotrofia do epitélio vaginal. Dura cerca de 13 a 15 dias, terminando quando ocorre a regressão fisiológica do corpo lúteo, tendo início outro ciclo (Figura 1). 7 Fonte: Hafez e Hafez Figura 1. Ciclo sexual dos animais ruminantes 4. Fisiologia da Reprodução 4.1. Controle endócrino do ciclo estral O GnRH secretado pelo hipotálamo, através do sistema porta-hipotalâmico- hipofisário, atinge esta glândula e estimula a liberação das gonadotrofinas, FSH e LH. Existem dois locais de secreção e produção de GnRH no hipotálamo: os centros controladores de secreção tônica, que secretam GnRH de uma forma relativamente contínua, e os centros controladores da onda pré-ovulatória que secretam grandes quantidades de GnRH de uma só vez. As gonadotrofinas além de se distribuírem no organismo viam circulação sistêmica, atingem o hipotálamo, pelo vaso de fluxo retrógrado, onde causam um bloqueio parcial na liberação de GnRH ( mecanismo conhecido como “feed-back” negativo). Via circulação, as gonadotrofinas chegam aos ovários, especificamente aos folículos, onde o FSH principalmente estimula o desenvolvimento dos mesmos. Com isto, os folículos iniciam a produção de estrógeno, que via circulação sistêmica atingem o hipotálamo causando um efeito positivo, estimulando os centros controladores da onda pré-ovulatória, além de um efeito positivo 8 na secreção de gonadotrofinas na hipófise. Quando a quantidade de estrógeno na circulação alcança determinado nível ou limiar (devido a produção crescente/cumulativa pelos folículos em desenvolvimento) este sensibiliza áreas superiores do sistema nervoso central, fazendo com que a fêmea manifeste sinais de aceitação de cortejo e monta (estro) e age também nos centros controladores da onda pré-ovularória de GnRH, fazendo com que uma grande quantidade deste hormônio seja liberada na circulação. Na etapa final de seu desenvolvimento, os folículos secretam outro hormônio, a inibina, que via sistêmica tem a função de bloquear seletivamente a síntese de FSH na hipófise. Por este motivo, acompanhando o pico de liberação de GnRH (onda pré-ovulatória) teremos um pico maior de LH, já que a produção de FSH encontra-se parcialmente bloqueada. Este pico de LH é responsável pela ovulação dos folículos presentes nos ovários que tem desenvolvimento compatível. As células remanescentes do folículo ovulatório sofrem uma transformação chamada luteinização, se diferenciando em células luteínicas secretoras de progesterona que darão origem ao corpo lúteo. Estes eventos também são coordenadospelo LH. A produção de progesterona alcança seu limite máximo e estabiliza-se por volta de cinco a sete dias após a formação do corpo lúteo, e enquanto permanecer em níveis elevados na circulação é responsável por bloquear a liberação de GnRH e das gonadotrofinas hipofisárias, ou seja, o animal não apresenta estro novamente enquanto estiver com concentrações circulantes elevadas de progesterona devido à inibição do aumento da freqüência e pico de LH necessários à fase final de crescimento e ovulação, considerando que a fêmea não tenha ficado gestante no estro anterior, o corpo lúteo, cerca de 10 a 15 dias após a formação, iniciará a produção de ocitocina, que no endométrio estimulará a produção de prostaglandina, responsável pela regressão do corpo lúteo, processo conhecido como luteólise. Com isso, a concentração plasmática de progesterona diminui, possibilitando aumentos gradativos na secreção de GnRH, FSH e LH, iniciando um novo ciclo. Caso a fêmea fique gestante, o corpo lúteo não sofrerá regressão, pois é a principal fonte produtora de progesterona no início da gestação em todas as espécies domésticas. 5. Hormônios relacionados à reprodução da fêmea 5.1. GnRH (Hormônio liberador de gonadotrofinas) É produzido no Hipotálamo e atua na Hipófise estimulando a liberação de FSH e LH. 5.2. FSH (Hormônio folículo estimulante) Estimula o crescimento dos folículos ovarianos, maturação dos ovócitos, secreção de estrógeno pela camada da granulosa do folículo ovariano, em ação sinérgica com o LH; atuam com estrógeno na formação de receptores para LH, nas células granulosas. 5.3. LH (Hormônio Luteinizante) Os níveis basais ou tônicos de LH agem juntamente com FSH para induzir a secreção de estrógenos no folículo ovariano; a onda pré-ovulatória de LH induz uma série de alterações estruturais no folículo, que culminam com a ruptura do folículo e expulsão do óvulo do seu interior (ovulação). O LH tem ação luteotrófica e estimula as células do corpo lúteo a produzirem progesterona. 9 Figura 2: Perfil endócrino do ciclo estral na vaca (parcialmente adaptado de: MacDonalds & Pineda, Veterinary Endocrinology and Reproduction, 1989). 5.4. Hormônios com Atividade de FSH e LH 5.4.1. Gonadotrofina coriônica eqüina (eCG) A eCG, antigamente chamada de PMSG (pregnant mare serum gonadotrophin), é uma glicoproteína, com duas subunidades, alfa e beta, semelhantes ao FSH e LH, com maior conteúdo de carboidrato (ácido siálico), de efeitos biológicos prolongados (até 7 dias) devido a uma meia-vida longa. A eCG estimula o desenvolvimento folicular ovariano e tem ação de FSH e LH, sendo essencialmente estimulante. É isolada do soro da égua gestante entre 50 e 150 dias de gestação. O alto conteúdo de ácido siálico protege o hormônio da rápida degradação enzimática, prolongando sua vida média circulatória mais do que a FSH purificado (FSHp). 5.4.2. Gonadotrofina coriônica humana (hCG) A hCG é uma glicoproteína, com duas subunidades alfa e beta, com cadeias de aminoácidos e cadeias de carboidratos sintetizadas nas células sinciciotrofoblásticas da placenta (vilosidades do córion) nos primatas e nas mulheres. É obtida na urina e no soro sanguíneo da mulher gestante. É detectada por radioimunoensaio, na urina, 8 dias após a concepção na mulher (o que corresponde a um dia após a implantação). Observa-se um pico 62 dias após a última menstruação, declinando rapidamente após 150 dias. Possui funções semelhantes à do LH, sendo indicada no tratamento de ovários císticos, indução da ovulação e no estudo de receptores de LH. 5.5. Hormônios Ovarianos 5.5.1. Estrógenos São substâncias derivadas do colesterol e seus precursores imediatos são a androstenediona e testosterona. Pelo menos oito estrógenos são secretados pelos ovários dos mamíferos: estradiol, estrona, estriol e outras substâncias. O LH estimula as células tecais do folículo para secretar testosterona, a qual é convertida (aromatização) em estradiol nas células da granulosa por ação do FSH. Os estrógenos são secretados pelas 10 células da granulosa, no folículo maduro e no corpo lúteo (células luteínicas), placenta, testículos e córtex adrenal (quantidades reduzidas). Como os demais esteróides, os estrógenos não são armazenados na glândula, mas rapidamente utilizados, degradados no fígado, conjugados com sulfatos inorgânicos ou com ácido glicurônico e eliminados pela urina. 5.6. Progestágenos A progesterona é o progestágeno natural mais importante secretado pelas células luteínicas (hormônio luteínico). Assim como os estrógenos, é derivada do colesterol sendo também secretada pela placenta, testículos e córtex adrenal (pequenas quantidades). 5.7. Prostaglandinas São substâncias orgânicas, biologicamente ativas, com efeitos fisiológicos e farmacológicos no organismo, extremamente potentes. Ocorrem naturalmente em muitos tecidos e situações biológicas. Inicialmente encontradas na próstata (Von Euler, 1934), daí o nome de prostaglandina, depois em outros órgãos. A maior parte das prostaglandinas seminais se origina das vesículas seminais e não da próstata, mas o nome primitivo permanece. 6. Hormônios relacionados à reprodução do macho 6.1. GnRH Estimula a liberação de FSH e LH 6.2. FSH Estimula a produção de inibina e estimula a produção espermática 6.3. LH Estimula a produção de testosterona no testículos dos machos 6.4. Andrógenos Testiculares São os hormônios sintetizados no parênquima testicular, com as seguintes funções: -Indução e manutenção da diferenciação testicular -Indução dos caracteres masculinos nos machos -Suporte da espermatogênese -Influência no comportamento sexual e agressivo em machos -Regulação da secreção de gonadotrofinas (testosterona) 11 Fonte: Hafez e Hafez Figura 3. Descrição anatômica do testículo de animais ruminantes. 7. Espermatogênese É definida como um conjunto de divisões e transformações por meio dos quais as células germinativas masculinas, as espermatogônias, dão origem aos espermatozóides (Castro et al., 1997). É um processo altamente organizado e precisamente sincronizado, no qual espermatogônias diplóides dividem-se por mitose para manter sua população. A espermatogênese ocorre nos testículos, de modo permanente e contínuo, a partir da puberdade, quando os níveis hormonais de FSH e LH elevam-se e ocorre o amadurecimento do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonádico, sob o controle fisiológico do sistema neuroendócrino, sofrendo influência direta da termorregulação escroto-testicular (Hafez & Hafez, 2004). O ciclo espermatogênico é o tempo gasto na divisão da espermatogônia. Em ovinos, esse ciclo leva cerca de 10 dias, mas há uma relação bastante precisa entre a duração do ciclo espermatogênico e a espermatogênese, sendo que a segunda leva em média quatro a cinco vezes o tempo do ciclo espermatogênico; portanto, o processo dura 49 dias em ovinos, iniciando-se após a puberdade (Johnson, 1991). O ciclo espermatogênico dos caprinos tem em média 10 a 11,5 dias, com a espermatogênese durando cerca de 50 a 53 dias (Hafez & Hafez, 2004). No carneiro, as espermatogônias dividem-se a cada 10,4 dias, e poderiam gerar, oito dias depois, em teoria, 64 espermatócitos I, cuja prófase dura 14 dias. Estes entram em meiose, que dura cerca de 24 horas, originando potencialmente 256 espermátides que gerarão, após 14 dias, igual número de espermatozóides (Castro et al., 1997). 12 8. Fotoperíodo 8.1. Fêmeas eMachos A regulação dos fenômenos fisiológicos tem origem na adaptação às condições climáticas inerentes ao meio que habitam esses animais, levando em consideração a questão da maior probabilidade de sobrevivência das espécies que conseguem gestar e parir em épocas mais favoráveis ao desenvolvimento de suas crias (Sá & Sá, 2006). Caprinos e ovinos são conhecidos como animais de dias curtos, ou seja, seu período de atividade sexual ocorre durante os dias de menor intensidade de luminosidade (8 horas/luz), com inibição da atividade reprodutiva durante os dias longos (16 horas/luz). Essa característica foi herdada de raças de locais de clima temperado, onde o fotoperíodo é bem caracterizado durante o ano (Abella, 1986), o que torna possível a utilização de iluminação artificial para o manejo reprodutivo dessas espécies (Chemineau et al., 1992). O tamanho da estação reprodutiva varia inversamente com a latitude, aumentando enquanto a latitude diminui. Em pequenos ruminantes, altas latitudes causam marcada estacionalidade (Leboeuf et al., 2000). A fotopercepção da luz pelo olho desencadeia uma seqüência de eventos que culminam com a estimulação da adeno- hipófise e, conseqüentemente, a produção e liberação de gonadotrofinas (Mies Filho, 1984). A luz é percebida por fotoreceptores localizados nos olhos e relacionados com um nervo monossináptico ao núcleo supraquiasmático do hipotálamo. Após a recepção no sistema circadiano (controlador da função reprodutiva), a mensagem do fotoperíodo é transmitida através do gânglio superior da glândula pineal. A pineal converte este estímulo neural em sinal hormonal que toma a forma do ritmo circadiano de secreção de melatonina. A duração da secreção elevada de melatonina, que é diretamente proporcional à duração da noite, é interpretada como indutiva ou supressiva. Sinais indutivos de melatonina estimulam o ciclo hormonal reprodutivo e sinais supressivos o inibem (Karsch, 1984), transmitindo informações relativas ao ciclo luz-escuridão para a regulação fisiológica do animal, refletindo-se em um efeito sobre a secreção de GnRH, demonstrado em estacionalidade ou ciclicidade estral (Traldi, 2006). Existem ainda os fotoreceptores extra-retinais, que mantêm os estímulos para o ciclo reprodutivo no caso de animais cegos (Mies Filho, 1984). A melatonina é uma substância presente naturalmente no organismo de todos os mamíferos. É sintetizada apenas durante o período noturno na glândula pineal a partir do triptofano e da serotonina, permite a interpretação do ciclo luz-escuridão para a regulação fisiológica do corpo, em relação à sazonalidade e ciclo circadiano (Hafez & Hafez, 2004). 9. Efeito macho A introdução de um reprodutor em um lote de fêmeas em anestro estacional que se encontrem isoladas de qualquer contato com machos há pelo menos 3-4 semanas, e que estejam na pré-estação de acasalamento (dezembro a fevereiro, nas raças européias), induzirá o estro dentro de 24 a 72 horas após sua introdução, favorecido pela interação sexual e resposta em cadeia (Chemineau, 1989). Isso se deve a liberação de LH cerca de 13 10 horas após a introdução do macho, e que atinge seu nível máximo 56 horas após o contato inicial, assim permanecendo por 10 horas. Embora menos marcante que nos ovinos, esse pique de LH pode ser insuficiente para provocar ovulações, levando a ciclos curtos, devido à formação de corpos lúteos de curta duração que regridem rapidamente, mas cuja progesterona produzida atua como “priming” que desencadeia novos ciclos ovulatórios, de duração e fertilidade normais (Martin et al., 2004). 10. Efeito Fêmea As fêmeas em estro estimulam a indução da ovulação nas companheiras em anestro, com plena manifestação de estro por todas as fêmeas submetidas à estimulação (Martin et al., 2004). 11. Métodos Reprodutivos 11.1. Monta Natural Consiste em soltar reprodutores no lote de fêmeas na proporção de 1 macho para cada 50 fêmeas. Esse método não é tão apreciável devido à exigência de um maior número de carneiros e por não ser possível determinar a paternidade, quando se tem mais de um reprodutor no rebanho. 11.2. Monta Controlada Podem-se utilizar rufiões (machos inteiros vasectomizados ou machos castrados, mas que recebem aplicação de andrógenos), com marcadores de tinta solúvel na região do peito, que permanecem junto às matrizes para a identificação dos estros; as ovelhas que forem detectadas em estro deverão receber duas coberturas, em intervalo de 12 horas, com o reprodutor indicado e, de preferência, nas horas mais frescas do dia; ou utilizar o próprio reprodutor indicado, com marcador no peito, durante a noite. (Na manhã seguinte, separar as fêmeas cobertas, as quais se encontram marcadas; neste caso, o reprodutor durante o dia deverá receber uma alimentação de qualidade principalmente rica em proteínas), água e proteção do calor. 11.3. Inseminação Artificial Entende-se por inseminação artificial a transferência de sêmen de um macho fértil para uma fêmea fértil, por via instrumental, no momento oportuno (estro) e no lugar certo (cérvix), para que a fecundação ocorra naturalmente. 12. Fatores Ambientais e Reprodução 12.1. Atividade espermática e hormonal A estação do ano influencia o número de saltos e a atividade espermatogênica de bodes e carneiros, verificando-se diminuição da produção e da fertilidade do sêmen. Os espermatozóides têm uma porcentagem mínima de motilidade e vigor na primavera e no verão (estação de anestro das fêmeas; Girão & Mies Filho, 1985). As variações na 14 atividade espermatogênica são influenciadas, principalmente, pelas mudanças no fotoperíodo, isto é, o aumento na duração do dia reduz a atividade espermatogênica, e a amplitude destas variações ocorre em função da raça e da latitude (Mies Filho, 1987), havendo diferenças entre países, exceto na região equatorial, sendo que em regiões tropicais o efeito ambiental parece estar relacionado também com as chuvas e sua influência na qualidade da forragem (Vieira et al., 2008). O fotoperíodo e a temperatura ambiental afetam os ciclos sexuais anuais, sendo o primeiro o mais importante, porém, diversos trabalhos têm mostrado que o estresse calórico afeta principalmente os espermatócitos primários e as espermátides, embora existam evidências de seu efeito sobre as espermatogônias e células de Sertoli (Hafez & Hafez, 2004). Contudo, não existem evidências de que as células de Leydig e a produção de andrógenos sejam diretamente afetadas (Coelho et al., 2008). A temperatura ambiental, variável com as estações do ano, pode, também, juntamente com o fotoperíodo, afetar as características reprodutivas dos machos. Altas temperaturas podem interferir negativamente na temperatura testicular e, conseqüentemente, na qualidade espermática de carneiros e bodes; dentre as características seminais mais afetadas pela temperatura destacam-se a motilidade, que sofre uma queda acentuada, e o aumento da porcentagem de espermatozóides anormais (Coelho et al., 2008). No entanto, quando a temperatura ambiental permanece dentro de um limite compatível com mecanismo termorregulador, o efeito da variação da temperatura estacional sobre a fertilidade é pouco manifestado (Ribeiro, 1997). O conhecimento do comportamento sexual, associado às variações na produção do ejaculado no período pós-puberal, permite determinar a melhor época e idade de reprodução para os ovinos e caprinos, possibilitando ao produtor a utilização mais racional dos reprodutores (Delgadillo et al., 1991). Em estação não reprodutiva, a qualidade seminal reduz-se drasticamente, principalmente quando os ejaculadossão utilizados para criopreservação na forma resfriada, apresentando fertilidade de aproximadamente 30%. Em amostras colhidas na estação reprodutiva e congeladas, sua fertilidade incrementa-se para, aproximadamente, 68% (Aleu, 1992). Os animais têm produção espermática durante o ano todo, porém sua capacidade fecundante apresenta variações, sendo superior no outono e inferior na primavera, atestando o efeito do fotoperíodo, aliado a uma boa nutrição. Já Hafez & Hafez (2004) apresentaram a concentração variável de 2 - 6 x 10 6 espermatozóides/mL. As porcentagens de espermatozóides vivos e normais são consideradas importantes indicadores da função testicular, sendo o número total de espermatozóides normais a melhor forma de avaliar-se o efeito da época do ano na viabilidade espermática (Vieira et al., 2008). 12.2. Concentração de hormônios As alterações do fotoperíodo durante o ano determinam flutuações na secreção de LH e andrógenos, causando mudanças no funcionamento do testículo (Aleu, 1992). Durante a estação reprodutiva, ocorrem pulsos de GnRH, juntamente com os de LH, que se apresentam com alta freqüência e baixa amplitude, e um aumento nas concentrações séricas de testosterona; já na estação não reprodutiva, os pulsos de LH acontecem com baixa freqüência e alta amplitude, com diminuição da testosterona, variando seus valores entre as estações de transição (Rhim et al., 1993). Lincoln et al. (1977) observaram que ocorre um ritmo circadiano nas concentrações plasmáticas de FSH, LH e testosterona, com um aumento nessas concentrações durante as primeiras horas de escuridão, que parecia estar correlacionado com o ciclo de animais sazonais. Há indicação de variação 15 estacional nas concentrações séricas de prolactina (PRL), testosterona, androstenediona, LH, FSH. A testosterona e seus derivados possuem um efeito supressivo sobre LH e FSH em carneiros, porém seus efeitos dependem da condição do animal, castrado, criptorquídico ou inteiro (Muduuli et al., 1979). Em animais criados no hemisfério norte, citados por Lincoln et al. (1990) há variações estacionais nas concentrações de FSH, inibina e testosterona, com valores mínimos na primavera (março/maio), e máximos no outono (setembro/outubro). 12.3. Influência no comportamento sexual Em machos adultos, a eficiente motivação sexual depende de secreção hormonal e comportamento social, ou seja, qual posição social o macho ocupa no rebanho. O início da estação reprodutiva é precedido por aumento na secreção testicular de andrógenos, que é revelado por um grande aumento nas concentrações plasmáticas de testosterona (Mies Filho, 1987). A posição social ocupada ajuda a modular a eficiência reprodutiva do macho pela competição e determinação da hierarquia no grupo, e também estimula a produção de sêmen e a entrada mais precoce ou tardia na puberdade. Fêmeas em cio, nutrição e estação do ano também contribuem nesse fato (Aleu, 1992). Os animais sofrem grande influência da interação social, de maneira que um animal jovem pode atingir a sua maturidade sexual antes do previsto pela convivência de animais adultos em atividade reprodutiva. Os jovens interagem com animais mais velhos e desenvolvem mais antecipadamente seu instinto reprodutivo e libido, acabando por atingir a puberdade mais cedo (Leboeuf et al., 2000). Normalmente a abordagem da libido dos caprinos é baseada adaptando-se a avaliação do comportamento dos bovinos ou de ovinos (Salviano & Souza, 2008). MANEJO REPRODUTIVO DE BOVINOS Marcio Raimundo de Medeiros 16 A eficiência reprodutiva é um dos principais fatores que influenciam a produtividade do rebanho leiteiro. Fatores nutricionais, sanitários e problemas na identificação do cio contribuem para atraso no retorno à atividade ovariana pós-parto, maior período de serviço e de intervalo entre partos, redução no período de lactação e menor produção de bezerros por ano e durante sua vida útil. Conseqüentemente, os custos de produção são elevados pela manutenção de animais com baixa produção no rebanho. 1. Escore da Condição Corporal (ECC) O escore da condição corporal é um método subjetivo, de fácil avaliação do estado nutricional dos animais, ao qual se atribuem valores numéricos. A condição corporal é obtida por observação e palpação da gordura subcutânea das costelas, processos espinhosos e transversos das vértebras lombares e/ou dorsais, tuberosidade isquiática e sacral e inserção de cauda (Braun et al., 1986, citados por BENEDETTI e SILVA, 1997) A condição corporal de uma vaca pode ser avaliada de forma subjetiva por inspeção da cobertura subcutânea, nas regiões das costelas, no dorso lombar, na anca e na inserção de cauda, determinando assim o escore de condição corporal com escala de pontuação variando de 1 a 5 em gado de leite mestiço e de 1 a 4 para raças européias. As vacas zebuínas depositam mais gordura subcutânea do que as européias, que acumulam gordura interna (visceral). Escore corporal 1 (vaca muito magra) O mais provável é que a fêmea encontre–se em anestro em função da deficiência nutricional. Apesar de ser muito rara, também existe a possibilidade da fêmea estar em gestação adiantada, (maior de sete meses) e seu escore reflete intensa perda de peso ao longo da gestação. Escore corporal 2 (vaca magra) Ocorre a mesma situação que a anterior, porém provavelmente, em caso de gestação positiva, encontra-se acima de quatro meses. Escore corporal 2,5 a 3 (regular) Caso a fêmea esteja recuperando a condição corporal (ECC-1 para ECC-2 ou para ECC-3), provavelmente estará em anestro. Se estiver perdendo peso (ECC-4 para ECC- 3), poderá estar ciclando ou em gestação. Escore corporal 3,5 a 4(bom) A fêmea poderá estar em gestação ou ciclando. Raramente estará em anestro, a não ser que apresente persistência de corpo lúteo, cisto folicular em fase avançada ou algum tempo atrás ficou longo período com escore corporal ruim. 17 Escore corporal 4,5 a 5(vaca muito gorda) Provavelmente estas fêmeas estarão em gestação ou ciclando. Algumas podem até apresentar repetição de cios. 2. Composição do Rebanho Na implantação e no acompanhamento de um trabalho de estruturação em rebanhos leiteiros, o técnico responsável deverá analisar a atual composição do rebanho a ser trabalhado visando uma avaliação zootécnica mais acurada e à correção do manejo reprodutivo e alimentar entre outros que estejam impactando de forma negativa na produção. Um baixo percentual de vacas em lactação acarretará baixo retorno financeiro do empreendimento, requerendo-se assim a adoção de medidas capazes de corrigir as distorções que causam essa situação visando a estabilização do rebanho. 3. Detecção e Repetição de Cio O cio ou estro é o período caracterizado pela receptibilidade sexual das fêmeas, com duração média de 18 horas (12 a 30 horas), em que a ovulação ocorre, em média, 12 horas (10 a 15 horas) após o fim do cio (FERREIRA, 1993b ; JAINUDEEN e HAFEZ, 1995). Neste sentido falhas nesta detecção resultarão no comprometimento da monta ou inseminação artificial e no processo de fertilização (espermatozóide óvulo). A eficiência na detecção do cio é um dos fatores mais importantes que afeta a taxa de gestação, prolonga o intervalo entre parto e, conseqüentemente, reduz a produção durante a vida útil dos animais. 4. Inseminação Artificial (IA) e Monta Natural A interação cio e tempo para deposição do sêmen no trato reprodutivo feminino (IA ou monta controlada)é importante para maximizar taxas prenhes. Considerando-se que o óvulo é liberado do ovário com 10 a 14 horas após o final do cio (ovulação), permanecendo fértil apenas por 6 a 12 horas, e o espermatozóide por 24 horas, a sincronia deste evento é vital para fecundação e desenvolvimento embrionário. Neste sentido, maiores taxas de concepção são obtidas se a vaca for coberta ou inseminada com 12 a 18 horas após o início do cio, sendo comumente recomendado que as vacas observadas em cio pela manhã sejam inseminadas à tarde e as observadas à tarde, na manhã do dia seguinte (HAFEZ, 1995b). Em rebanhos que utilizam monta e na ocorrência de muitos animais com repetição de cio, deve-se suspeitar do reprodutor como causa do problema. Fatores como libido, dificuldade de salto, afecções no pênis e prepúcio, qualidade do sêmen, doenças transmissíveis sexualmente estão geralmente associados à baixa fertilidade do rebanho (FERREIRA, 1993c). Um outro parâmetro considerado na avaliação do manejo reprodutivo é o número de serviço por concepção, ou seja, o número de inseminações ou montas realizadas até que o animal se torne gestante. Este parâmetro fornece a avaliação da fertilidade da vaca 18 e do touro, bem como a eficiência da IA. Número médio de serviço por concepção acima de 2,5 demonstram sérios problemas reprodutivos no rebanho. Valores inferiores a 1,8 são desejáveis, porém as metas visam atingir média 1,4 a 1,6 serviços/concepção, refletindo assim a excelente fertilidade dos animais e um eficiente processo de inseminação artificial (RAWSON, 1986). 5. Estação de Monta A Estação de Monta é definida como o período estabelecido para que se obtenha a concepção das matrizes do rebanho através da monta ou da inseminação artificial. Trata-se de uma estratégia de grande utilidade para uma boa performance reprodutiva, além de facilitar todo o manejo do rebanho, pois permite a concentração dos trabalhos de observação de cios, de monta e inseminação artificial, da concentração da estação de nascimentos, da concentração das desmamas, da concentração da recria, da engorda e do abate, além de permitir uma boa avaliação da fertilidade das fêmeas, possibilitando , assim, um programa eficiente de seleção. Deve-se levar em consideração a época de melhor disponibilidade de alimentos para que a fêmea apresente condições corporais compatíveis com o pleno funcionamento do trato reprodutivo e obtenha uma melhor produtividade. Técnicas alternativas para melhorar a eficiência reprodutiova na estação de monta: Sincronização do cio Formas de acelerar o cio pós-parto; Inseminação com tempo pré-fixado Sincronização do cio A sincronização do cio é uma alternativa para se obter um grande número de animais em cio a curto prazo. Em plantéis que utilizam a estação de monta natural geralmente não se aplica esta alternativa, pois um grande número de fêmeas em estro ultrapassa a capacidade de cobertura dos touros. Pode ser utilizada no inicio da estação de monta, ao se desejar inseminar vários animais, ou no final, quando existem ainda várias fêmeas não inseminadas. Formas de acelerar o cio pós-parto A aplicação de prostaglandinas no pós-parto pode acelerar a involução uterina e um retorno mais rápido à atividade reprodutiva. Estudos que avaliaram o uso de Ciosin no pós-parto em vacas de corte demonstraram redução significativa nom período parto- primeira inseminação, no numero de serviços por concepção e no período de serviço. Inseminação com tempo pré-fixado 19 A Inseminação Artificial em tempo fixo elimina o trabalho com detecção de cio após o protocolo, facilita o manejo da IA, concentra o trabalho em dias pré- determinados, aumenta o número de animais inseminados e possibilita o planejamento dos partos e da estação d4emonta subseqüente. 6. Período de Serviço (PS) e Intervalo entre Partos (IP) O período de serviço, ou dias em aberto, é definido como período (em dias) entre o parto até a primeira concepção fértil confirmada pela gestação da vaca. O período de serviço é influenciado diretamente pela fertilidade da fêmea e do macho, pela eficiência de detecção de cio e pela inseminação artificial. Como o período de gestação nos bovinos não sofre grandes variações, em média 285 dias, o intervalo entre parto, considerado o indicador final da performance reprodutiva de um rebanho, está diretamente relacionado produção Prejuízos causados pelo longo intervalo entre partos Os principais prejuízos causados por um longo intervalo de partos são expressos por queda na produção de leite e diminuição do número de crias ao longo da vida produtiva da fêmea bovina. Para avaliar a real produtividade de uma vaca não basta que se mensure a quantidade de leite produzida em uma lactação, pois quanto maior for o período de serviço, mais tempo essa fêmea levará para iniciar uma nova lactação após a sua secagem. Sendo assim, deve-se avaliar a produção e a reprodução conjuntamente, ou seja, leite produzido (lactação)/dias de intervalo de parto. 7. Alimentação e Reprodução O planejamento alimentar dos rebanhos bovinos deve ser realizado por profissional competente nesta área, pois o impacto de um manejo nutricional inadequado poderá gerar conseqüências desagradáveis na reprodução e na produção de carne e leite. Para o planejamento nutricional do rebanho devem ser levados em consideração os recursos financeiros, humanos e logísticos de cada propriedade, pois não existe uma “receita de bolo” pronta a ser implementada em qualquer realidade de campo, e sim alguns princípios gerais para que possam ser adaptados a cada realidade. O desempenho reprodutivo da vaca sofre uma forte influencia direta e indireta, quantitativa e qualitativa da dieta ingerida, afetando o perfil dos hormônios primários e secundários à reprodução, influenciando, consequentemente, o padrão de crescimento folicular, a qualidade dos oócitos, a atividade luteínica e a atividade secretória uterina, exercendo assim efeito positivo ou negativo sobre os indicadores de performance reprodutiva, tais como, intervalo entre parto-primeiro cio, taxa de concepção, taxa de gestação, período de serviço e intervalo de partos. 8. Cessação da Atividade Ovariana Luteal e Cíclica 20 As deficiências nutricionais que levam a uma perda de condição corporal podem afetar a reprodução de várias maneiras, tais como redução e /ou liberação de FSH e LH, alterações da motricidade e das secreções tubáreas da cérvix e da mucosa vaginal, impacto sobre as secreções endócrinas, tais como modificações no sistema opióide neuropeptídeo, menor produção e/ou liberação de hormônios hipotalâmicos, menor sensitividade dos ovários aos estímulos gonadotróficos e alterações no metabolismo do homônios. 9. Prevenção da Saúde Reprodutiva A saúde reprodutiva de um rebanho bovino deve ser trabalhada de forma preventiva, evitando assim elevado custo de produção. Existem situações que dificultam a implantação de um programa preventivo de saúde geral, bem como de saúde reprodutiva. Como exemplo, podemos citar o número insuficiente ou mesmo ausência de profissionais da área veterinária na região, desconhecimento ou insensibilidade do criador em relação às vantagens de um programa preventivo e a falta de recursos financeiros para a implementação e manutenção do sistema. Em levantamento da situação reprodutiva geral (Intervalo entre Partos, período de serviço, taxa de natalidade, idade ao primeiro parto, etc.) e individual (através do exame inecológico inicial) devem ser avaliadas as seguintes situações : Vacas Lactantes (com ou sem problemas). Vacas Secas vazias (problemasrecuperáveis e irrecuperáveis). Deve-se implementar a correção dos erros de manejo reprodutivo, dos problemas individuais e descarte dos animais cuja correção seja possível economicamente inviável. Exame ginecilógico Deve ser realizado o exame periódico das fêmeas que apresentarem os seguintes problemas: Parto distócito; Retenção de Placenta; Descarga fétida ou purulenta15 DIAS APÓS O PARTO; Ausência de cio 50 dias pós-parto; Retorno ao cio após três serviços; Aborto em qualquer momento da gestação; Comportamento anormal de cio; Intervalo anormal entre dois cios; Descarga ou muco anormal. Diagnóstico de gestação 21 O diagnóstico de gestação pode ser efetuado por Veterinário capacitado a partir de 40 dias (ou menos) após a monta ou Inseminação. Normalmente é realizado somente em torno de 60 dias após a estação reprodutiva. Durante a estação reprodutiva é aconselhável fazer diagnóstico de gestação, também conhecido como "toque", ou outro diagnóstico (ultra-sonografia), em datas estratégicas, não só para simplesmente constatar a prenhes (podendo diminuir o tamanho do lote),porém o mais importante que isto é tentar diagnosticar o porquê das repetições de cio, o porquê dos anestros prolongados, dos cios irregulares, das falhas nas observações de cio, das falhas nas anotações, etc. MANEJO REPRODUTIVO DE CAPRINOS E OVINOS Anna Augusta F. de Queiroz Hildita Siméa de A. Chaves 22 1. Puberdade e separação de sexos A puberdade é a idade em que os animais começam a expressar as características sexuais secundárias e, no caso dos machos, apresentam concentração espermática capaz de fecundar uma fêmea, ou, no caso das fêmeas, apresentam o primeiro comportamento de estro, podendo variar de acordo com a raça, a época do nascimento, o desenvolvimento corporal e com o tipo de manejo nutricional/sanitário utilizado. Na fêmea, a puberdade culmina com o aparecimento do cio (estro) acompanhado de ovulação. Deve-se lembrar que a grande maioria das fêmeas dos pequenos ruminantes domésticos, especialmente aquelas da espécie ovina, ovula antes de apresentar o primeiro estro. No macho, a puberdade é antecedida pela liberação do pênis do prepúcio (desbridamento), o que possibilita a exposição do pênis e, dessa forma, torna possível a cópula. Ao alcançar a puberdade, os animais estão aptos à reprodução, porém, em geral, ainda não apresentam desenvolvimento corporal compatível para assumir e exercer a vida reprodutiva em sua plenitude. Não se recomenda que fêmeas e machos sejam usados para a reprodução logo ao atingirem a puberdade, pois mesmo tendo atingido a puberdade os animais apresentam algumas limitações reprodutivas. As fêmeas apresentam um porte físico inadequado à gestação e os machos produzem uma grande quantidade de células espermáticas inviáveis para fertilização. O desenvolvimento de uma gestação em momento inadequado causa atraso no crescimento da jovem fêmea. Primeiro, pela gestação em si, pois o feto demanda grande quantidade de nutrientes, principalmente no terço final da gestação. E, após o parto, a fêmea continua se desgastando de forma bastante acentuada pela produção de leite. Portanto, torna-se muito importante a observação dos parâmetros de puberdade em machos e fêmeas de pequenos ruminantes para que se possam evitar montas não programadas. A separação dos animais jovens por sexo deve levar em consideração o objetivo da exploração, a idade em que os indivíduos tornam-se púberes e a infra- estrutura da unidade produtiva. No caso desta última, especial atenção deve ser dada no tocante às instalações na área destinada ao pastoreio direto e à idade em que crias, principalmente, as do sexo masculino, serão abatidas ou comercializadas. Os indivíduos devem ser separados por sexo a uma idade não superior a quatro meses. Na impossibilidade da implementação da prática, a castração dos machos surge como uma alternativa, devendo-se castrar todo e qualquer macho que não se destina à reprodução com idade aproximada de 100 dias. Contudo, quando o objetivo da exploração preconiza o abate ou comercialização dos machos a uma idade de até seis meses de idade e a infra-estrutura da unidade produtiva permite a separação dos indivíduos por sexo, não há necessidade de se adotar a castração. A castração, em geral, é uma técnica simples, podendo ser realizada através dos métodos cirúrgicos e não cirúrgicos. As vantagens da castração são: docilidade; manejo comum para machos e fêmeas; maior qualidade da carne dos machos castrados (sem odor desagradável e maior maciez); a ausência da atividade induz o animal a consumir mais alimentos e, em conseqüência, engorde mais facilmente. 23 2. Escolha de reprodutores e matrizes Machos e fêmeas representam, cada um, 50% do material genético necessário para formação de sua descendência e são responsáveis diretos pelo aumento no resultado produtivo da exploração. A escolha de fêmeas e machos para reprodução deve ser feita em dois momentos. O primeiro, por ocasião do desmame, quando se consideram aspectos como a genealogia, a ausência de defeitos e/ou taras, o ganho de peso durante a fase de amamentação, o padrão racial, o tipo de nascimento, dentre outros. E o segundo, quando os indivíduos alcançam a puberdade (maturidade sexual), sendo possível considerar: a precocidade sexual; o desenvolvimento ponderal; a taxa de ovulação, avaliada através de laparoscopia; a conformação dos membros, em especial, os posteriores; o desenvolvimento e a simetria das glândulas; o desenvolvimento e a simetria dos testículos e epidídimos; a aceitação da vagina artificial; o aspecto e a qualidade do ejaculado; a libido, dentre outros. Escolha das fêmeas Devem ser escolhidas as fêmeas jovens que tiverem atingido 70% do peso adulto das fêmeas do rebanho, e da mesma raça. A seleção deve ser feita levando-se em consideração fertilidade, prolificidade e amabilidade materna, que é mensurada através da taxa de sobrevivência das crias apos o desmame. Antes de iniciar a estação de monta as fêmeas devem ser analisadas quanto aos aspectos sanitário, clínico, ginecológico e nutricional. Fêmeas doentes terão menor desempenho reprodutivo. A principal característica de uma boa matriz é a fertilidade, a produção de crias saudáveis e a produção de leite para poder alimentar-las. Na seleção de matrizes é fundamental considerar-se os seguintes pontos: Possuir boa conformação racial; Apresentar aspectos femininos; Ter um bom desenvolvimento corporal; Ausência de doenças; Ausência de defeitos físicos; Possuir histórico de gestações e partos normais; Possuir úbere bem inserido com apenas dois tetos; Boa produção de leite; Ter cascos sadios e bons aprumos; Histórico de boa fertilidade (poder de fecundação a cada cobertura); Possuir boa prolificidade (número de crias por parto). Escolha dos reprodutores É de fundamental importância que se tenha rigor ao fazer a escolha do reprodutor, pois são eles que têm maior capacidade de produzir descendentes durante um ano do que as fêmeas. 24 Os machos caprinos e ovinos são animais muito precoces, os quais, aos quatro meses de idade podem entrar na puberdade e atingir a maturidade sexual entre seis e sete meses, podendo ser usados como reprodutores iniciantes, servindo a um pequeno número defêmeas. A partir de dois anos de idade, é considerado adulto, quando atinge o peso ideal, desenvolvimento corporal e produção espermática adequada. A vida útil de um reprodutor é estimada em torno de sete a oito anos de idade, apresentando a partir daí uma diminuição no seu potencial reprodutivo. Na escolha do reprodutor deverão ser observadas as seguintes características: Procedência do animal (origem do criatório, pedigree); Padrão racial (apresentar as características típicas da raça); Os testículos devem ser simétricos, ovóides, firmes e presentes na bolsa escrotal; Observar problemas de criptorquidia (presença de um ou ambos os testículo presentes na cavidade abdominal); orquite (inflamação dos testículos); hipoplasia (diminuição dos testículos); os animais que apresentarem estas características deverão ser descartados como reprodutores; Ausência de alterações penianas e prepuciais; Presença de boa libido (interesse sexual pela fêmea) Ausência de doenças; Presença do aspecto masculino: porte, pescoço, voz, libido, desenvolvimento testicular e peniano; Ausência de agnatismo e prognatismo; Presença de bons cascos e aprumos; Presença de chifres ou amochados, devendo ser evitados os animais mochos, já que podem portar características hermafroditas; Recomenda-se tecnicamente, a realização de um espermograma (avaliação dos espermatozóides) antes de adquirir um reprodutor. Além das características corporais e do comportamento sexual, também devem ser consideradas duas características: a capacidade de gerar filhos com boa produção leiteira e/ou ganho de peso, tendência a partos gemelares (no caso de ovinos e caprinos para corte). 3. Escore corporal e alimentação A escala utilizada, preconizada por Ribeiro (1997), varia do escore 0 ao 5, como apresentado na Tabela 2. Em caprinos, o estado corporal é freqüentemente confundido com estado de gordura, mas este reflete apenas o nível de reservas adiposas, enquanto o estado corporal é apreciado pelo conjunto de massa adiposa (estoque de reservas energéticas) e de massa muscular (acúmulo de proteínas). De acordo com Ribeiro (1997), os critérios da avaliação utilizados para bovinos e ovinos não se aplicam aos caprinos, pois estes, mesmo quando aparentemente magros, apresentam grande quantidade de tecido adiposo no abdome. Em cabras, a avaliação deve basear-se na palpação da região lombar e do esterno. Na avaliação lombar, a mão deve mimetizar um movimento de pinças com aplicação de pressão constante ao redor e entre as apófises (transversais, articulares e espinhais). Na palpação esternal deve-se avaliar a quantidade de pele e a densidade muscular e de gordura que cobre o esterno. Como a avaliação da CC consiste 25 em notas baseadas nos resultados dos exames da região lombar e da região esternal, o ECC será um valor equilibrado e intermediário entre os escores dessas regiões. Em geral, as matrizes jovens, com até dois anos de idade, mostram variação de CC individual menor do que aquelas mais velhas. ECC Avaliação Região lombar Região esternal 0 Magreza extrema: esqueleto bastante aparente. As junções das vértebras são nitidamente percebidas ao toque (aspecto de “pele e osso”). As articulações condroesternais são bastantes salientes. A superfície óssea do esterno é perceptível ao toque. Há pouca mobilidade entre a pele e o tecido subcutâneo. 1 Magreza severa: cobertura muscular de no máximo dois terços da apófise transversa. Há facilidade para palpar e localizar as apófises articulares. As articulações condroesternais estão mais arredondadas, mas perceptíveis ao toque. A cavidade da zona esternal não está preenchida. Há grande mobilidade entre o tecido subcutâneo e a pele. 2 As apófises transversas e as apófises espinhais são salientes. As cavidades dos espaços entre as apófises transversas são palpáveis sem pressão. A pele determina uma linha côncava entre os pontos da apófise. As articulações condroesternais são pouco detectáveis ao toque. A quantidade de gordura interna é apreciável e forma um sulco no meio do esterno. A gordura subcutânea preenche o sulco no afloramento das bordas laterais do esterno e se limita posteriormente à cavidade esternal. 3 O espaço do ângulo vertebral está preenchido. A pele determina uma linha reta entre os pontos das apófises, mas as apófises espinhais são bem detectáveis. O esterno não é mais detectável, mas as costelas são perceptíveis ao toque. A espessura da gordura interna faz um contorno arredondado pelas bordas laterais do esterno. A gordura subcutânea forma uma massa móvel que se estende sobre uma fina camada atrás da cavidade da extremidade do esterno. Quando a mão prende em pinça, ao mesmo tempo, a massa dos tecidos colocados sobre o esterno, duas fortes depressões entre essa massa e os ossos podem ser detectadas de cada lado. 4 As apófises dificilmente são detectadas. A pele determina uma linha convexa entre as pontas da apófise. Os músculos do dorso formam uma zona plana, porém estreita entre as pontas das apófises espinhais. O esterno e as costelas não são mais perceptíveis. A gordura subcutânea forma uma massa adiposa pouco móvel. Na palpação detecta-se ainda ligeira depressão de cada lado. Em direção ao posterior do animal, a depressão sobre a extremidade esternal permanece. 5 A marca da linha do dorso é pronunciada e os músculos estão arredondados de cada lado. A zona em torno da apófise espinhal é firme e compacta e relativamente larga sobre o dorso. A massa gordurosa subcutânea não tem mais mobilidade. Os contornos são arredondados, sem depressões de cada cota. A cavidade sobre o extremo esternal está preenchida. Importância do Escore corporal para o manejo de caprinos 26 O estado nutricional dos caprinos oscila ao longo do ano em função da disponibilidade quantitativa e qualitativa de nutrientes na dieta e do estado fisiológico (lactação ou gestação). Reservas corporais muito baixas no acasalamento e no parto comprometem a lactação e a reprodução das cabras. Porém, o excesso de reservas nessas épocas favorece distocias e doenças metabólicas no periparto, que repercutem na produção leiteira e na sobrevivência das crias (SIMPLÍCIO e SANTOS, 2005). Próximo ao final da gestação e no início da lactação, o balanço energético é negativo e as reservas corporais são rapidamente mobilizadas. Ao progredir a lactação, a ingestão de nutrientes (energia, proteína, vitaminas e minerais) aumenta e excede aos requerimentos, de modo que o balanço se torna positivo e o excedente energético é estocado como tecido adiposo, o excesso protéico aumenta a cobertura muscular e os minerais são armazenados, principalmente nos ossos (CEZAR e SOUZA, 2006). Assim, as avaliações mensais do ECC permitem constatar se está ocorrendo estocagem ou mobilização de reservas corporais. Essas informações são úteis para ajustar a dieta, estabelecer estratégias de manejo (época de monta, etc.) e verificar a condição da fêmea para o seu próximo ciclo de produção (ciclo estral, gestação, parto e lactação). Importância do Escore corporal para o manejo de ovinos Avaliações mensais de CC são recomendáveis ou, pelo menos, nos períodos estratégicos do ciclo de reprodução das fêmeas ou de produção dos borregos (SIMPLÍCIO e SANTOS, 2005; CEZAR e SOUZA, 2006), tais como na pré-estação reprodutiva, no pré-parto e na fase de engorda das crias. Nessas ocasiões é possível realizar ajustes nutricionais, se forem necessários. A função reprodutiva é prejudicadapelo déficit nutricional, principalmente de energia, que é o nutriente chave na relação nutrição−reprodução. Segundo Cezar e Souza (2006), a CC a ser alcançada durante períodos prévios ao parto deve restabelecer as reservas corporais, para mobilização futura no médio prazo. Esse efeito estático da energia tem ação reguladora sobre a reprodução e se reflete não só na taxa de parição, mas também na prolificidade das ovelhas. Portanto, ECCs muito baixos ou muito altos no início do período de monta são indesejados. Já flutuações na CC durante a estação reprodutiva, fruto do aporte de energia, têm efeito dinâmico na reprodução, desde que a ovelha se encontre nos escores intermediários da CC (CEZAR e SOUZA, 2006). Quando o consumo de energia for maior do que os requerimentos, o balanço energético é positivo e o ECC aumenta. Nesse contexto, enquadra-se o flushing, que é uma técnica baseada no fornecimento de dieta rica em energia, poucas semanas antes e no início do período de monta, para aumentar rapidamente o ECC das ovelhas e estimular ovulações múltiplas, com reflexo positivo direto sobre a prolificidade e a fertilidade do rebanho. Numa situação oposta (consumo menor do que a demanda energética), o balanço é negativo, o ECC diminui e instala-se um efeito dinâmico negativo sobre o desempenho reprodutivo da ovelha. A CC ao parto tem influência na duração do anestro pós-parto e portanto tem impacto no período de serviço e no intervalo de partos. Nos sistemas intensivos (três 27 partos em dois anos, p. ex.) torna-se imperativo manter as ovelhas com alto ECC na época da parição. De fato, González-Stagnaro e Rámon (1991) demonstraram que em clima tropical tanto ovelhas quanto cabras com ECCs extremos (baixos) apresentaram anestro pós-parto mais longo, menor taxa de fertilidade e menor índice de prolificidade do que matrizes com ECC alto. Além disso, a sobrevivência e o crescimento dos cordeiros no aleitamento são diretamente influenciados pela CC da ovelha ao parto (AWI, 2004). De fato, cordeiros melhor criados também têm ECC maior à desmama, com repercussão direta no seu desempenho durante a recria e a engorda. 4. Observação de estro e uso de rufiões A correta observação do estro (cio) constitui-se numa das mais importantes atividades dentro de um programa de controle reprodutivo em pequenos ruminantes, pois a demonstração do comportamento de estro pelas fêmeas indica a chegada da fase do seu ciclo reprodutivo, na qual ocorre a ovulação: o estro. Dessa forma, é nesse momento que as fêmeas devem ter acesso ao reprodutor ou à inseminação artificial. O ciclo estral é o período compreendido entre dois estros consecutivos e apresenta duas fases: folicular, quando os hormônios principais na corrente sangüínea são os estrógenos; e a luteal, quando o hormônio predominante no sangue é a progesterona, originada do corpo lúteo (formado após a ovulação). Caprinos e ovinos explorados em regiões muito próximas ao equador, desde que bem nutridos e portadores de boa saúde, apresentam estro e ovulam ao longo de todo o ano, sendo, portanto, considerados como poliéstricos contínuos, embora seja observada uma maior proporção de fêmeas em estro durante o período chuvoso. Por outro lado, em regiões de clima temperado os animais mostram estro apenas no período que coincide com os dias mais curtos, sendo, portanto, definidos como poliéstricos estacionais. Neste caso, o fotoperíodo é o principal responsável pela estacionalidade reprodutiva, também denominada de anestro estacional, ou seja, o período em que a cabra e a ovelha não apresentam estro. Independente do clima, períodos de anestro (ausência de estro) ocorrem em situações como: na gestação, no período pós-parto, na subnutrição, na presença de doença, principalmente de origem crônica debilitante. A duração média do ciclo estral na cabra é de 21 dias, variando de 17 a 24 dias. Já na ovelha, o ciclo estral médio é de 17 dias, sendo a variação de 14 a 19 dias considerada normal. Em caprinos é muito comum aparecerem fêmeas com ciclo estral anormal, sobretudo aqueles muito curtos (inferiores a 10 dias). No nordeste brasileiro, as ovelhas deslanadas apresentam o ciclo estral com uma duração média de 18,2 dias, sendo de 17,4 dias na raça Morada Nova, 18,4 dias na Santa Inês e 18,9 dias na Somalis Brasileira. O ano e a época, chuvosa ou seca, não influenciam a duração do ciclo estral. É fundamental saber identificar corretamente a fêmea em estro para não se perder o momento certo da cobertura ou da inseminação artificial. Recomenda-se realizar a 28 cobertura em regime de monta controlada, no capril ou ovil (aprisco), 16 a 20 horas após a fêmea ter sido observada em estro e repeti-la uma vez mais, obedecendo o mesmo intervalo de horas. Para a realização da observação do estro, um elemento extremamente importante é o rufião (Figura 4). O rufião é um animal com comportamento de macho, mas sem condições de fecundar. Em pequenos criatórios, o estro pode ser percebido apenas pela observação do comportamento das fêmeas, mas é conveniente o uso do rufião quando se faz inseminação artificial, para detectar o momento mais adequado para inseminar, ou em criatórios que utilizam mais de um bode e monta controlada. Há diversos tipos e formas de se preparar um rufião, como segue: Deferentectomia ou vasectomia: nesse processo, se interrompe o ducto deferente, através de cirurgia, impedindo que os espermatozóides alcancem as ampolas e uretra, não sendo ejaculados. A retirada da cauda ou do corpo do epidídimo são cirurgias com objetivo semelhante e, nesse caso, aguardam-se pelo menos dois meses após a cirurgia para se iniciar o uso desse rufião. Embora o animal se torne infértil, a cobertura ocorre, e é necessária atenção à saúde do rufião, para que o mesmo não se torne um disseminador de doenças. Desvio de pênis: por esse processo, o óstio prepucial é deslocado lateralmente, de tal forma que, quando ocorre a monta, o pênis é exposto lateralmente. A vantagem é que a cópula não se completa, mas, algum tempo depois, os machos podem aprender a se deslocar, de tal forma que consigam efetuar a penetração. Melhores resultados são obtidos quando o óstio prepucial é transportado para a prega inguinal. Pode-se associar o desvio de pênis à deferentectomia. Aderência: processo também cirúrgico, no qual o pênis é preso pelo “S” peniano, impedindo sua exposição e evitando a penetração. Avental: utiliza-se um avental de pano ou couro amarrado na direção das últimas costelas que, ao efetuar-se a monta, impede a penetração. Mas existe a possibilidade do deslocamento acidental desse avental, acarretando coberturas indesejáveis. É uma técnica de uso provisório e permite que o próprio reprodutor seja usado como rufião. Fêmeas masculinizadas: há fêmeas naturalmente masculinizadas (intersexos). São animais estéreis, com diversos graus e masculinização, característica que pode ser exacerbada através da aplicação de testosterona, preferencialmente, por via intramuscular, a partir de sete a cinco dias antes do início da estação de monta e, ao longo desta, com sete a dez dias de intervalo. As fêmeas com maior grau de masculinização constituem-se excelentes rufiões, pois não há qualquer risco de fecundação, não existe penetração e não é necessária a cirurgia. Além disso, justamente por não haver ejaculação, o animal é capaz de detectar o estro de várias fêmeas em seguida, sem perder a libido. Fêmeas que serão descartadas também podem ser tratadas com testosterona (androgenização), comportando-se como machos. Machos criptorquídicos: nascem sem os dois testículos na bolsa escrotal e, portanto,são estéreis e rufiões naturais. Geralmente os testículos estão na cavidade abdominal, incapazes de produzir espermatozóides. Quando o animal apresenta um único testículo na bolsa escrotal (monorquidismo), o mesmo pode ser removido e o animal também ser utilizado como rufião, pois o testículo que 29 permanece na cavidade abdominal está na mesma situação já descrita. Raramente, os testículos podem não existir. É importante conhecer as atitudes do macho diante da fêmea em estro, pois é o mesmo comportamento assumido pelo rufião e facilitará o reconhecimento do estro. O bode ou o carneiro, para sentirem os feromônios presentes na urina, realizam o reflexo de Flehmen (retraem o lábio inferior e expõem o superior, cheirando o ar), lambem e cheiram o úbere e a vulva da fêmea, cheiram onde ela urina, exteriorizam e retraem a língua seguidas vezes, emitem sons característicos, batem e raspam os cascos no chão, batem no flanco da fêmea empurram-na com os membros anteriores. Na realidade, o macho está fazendo a corte, testando se a fêmea está realmente no estro. Quando a fêmea permanece parada e receptiva à monta, acontece a cobertura (cópula). O movimento de arranque efetuado pelo macho, durante a cópula, é uma característica comum aos pequenos ruminantes domésticos. Após a cobertura, é comum a fêmea retrair o posterior, quando se observa, às vezes, parte do líquido seminal fluindo através da vulva. Em geral, a cabra em estro apresenta inquietação, urina e berra com freqüência, diminui a ingestão de alimentos, agita a cauda com movimentos rápidos e no sentido horizontal, procura se aproximar do macho e apresenta a vulva edemaciada, isto é, levemente inchada e avermelhada. A vagina mostra-se úmida, com presença de muco de aspecto cristalino, semelhante à clara de ovo, no início do estro; creme claro, durante o terço médio é esbranquiçado – viscoso, semelhante a requeijão, no terço final do estro. A ovelha, geralmente, não urina e não berra com freqüência e nem apresenta corrimento de muco. O movimento da cauda é feito, principalmente, no sentido vertical e a fêmea volta a cabeça para os costados e flancos sempre que é cortejada pelo macho. Nem todas essas características são evidentes na mesma fêmea, caprina ou ovina, além de variar em diferentes períodos de estro. 5. Estação de monta Em regiões de clima temperado, a estacionalidade reprodutiva nos caprinos e ovinos é bem marcada, e o aparecimento do estro é controlado pelo fotoperíodo, isto é, pelo número de horas de luz do dia. Entretanto, em regiões tropicais, onde a luminosidade não sofre grandes variações ao longo do ano, como o nordeste brasileiro, as cabras e ovelhas locais apresentam estro e ovulam ao longo de todos os meses, estando em atividade reprodutiva mais relacionada com a disponibilidade e qualidade das forragens e o estado de saúde dos animais. De uma maneira geral, cabras e ovelhas no Nordeste do Brasil se reproduzem ao longo de todo o ano, daí ser possível programar estações de monta para qualquer período do ano, sem necessariamente lançar mão do uso de hormônios para induzir o estro a ovulação. Em raças leiteiras exploradas na região Centro-Sul do Brasil, onde ocorre variação fotoperiódica significativa, verifica-se, também, estacionalidade reprodutiva, ocorrendo concentração da atividade sexual nos meses de fevereiro a julho (verão/outono), com maior intensidade no mês de abril (Ribeiro, 1997). 30 O estabelecimento da estação de monta deve ser feito com critérios que deverão guardar estreita relação com os objetivos da exploração. Portanto, depende de uma série de fatores, como: o estado reprodutivo das fêmeas e dos machos; a disponibilidade de sêmen; o período em que transcorrerá o terço final da prenhez, em face de sua importância para o peso da cria ao nascer e sua sobrevivência; a época na qual ocorrerão os partos, em virtude na sua importância para a produção de leite e conseqüente sobrevivência e desenvolvimento da cria e idade ou o peso em que as crias serão desmamadas e comercializadas. Outro fator que deve ser levado em consideração é que, em criações leiteiras, dependendo da demanda da região e do comportamento reprodutivo das fêmeas, deve-se manter, sempre que possível, em média, 25% das cabras em lactação, por trimestre ou em torno de 50% por semestre, o que garantirá a oferta de leite constante ao mercado. A duração do período entre o parto e o reinício da atividade fisiológica dos ovários é condição fundamental e interfere diretamente na duração do intervalo entre partos. A importância desses fatores está atrelada ao regime de manejo em uso na exploração, isto é, extensivo, semi-intensivo ou intensivo. Pois, dependendo do regime de manejo, o rebanho estará mais ou menos sujeito aos efeitos de fatores do meio ambiente. Assim, a precipitação e a curva de distribuição pluvial da região repercutirão na disponibilidade e na qualidade das forragens, bem como na umidade relativa do ar e do solo, o que poderá exigir práticas de manejo diferenciadas, em especial para as crias em seus primeiros dias de vida. Por outro lado, a insolação refletirá nos cuidados sanitários impostos ao rebanho. A estação de monta é uma prática de manejo e baixo custo e de aplicação relativamente fácil. A sua adoção não visa a obtenção de índices máximos de fertilidade e de sobrevivência que possibilite uma maior renda ao sistema de produção. Quando realizada pela primeira vez no rebanho, sugere-se que a estação de monta tenha duração de 63 dias para os caprinos e de 51 dias para ovinos, o que corresponde ao aproveitamento de três ciclos estrais para cada uma delas. Contudo, após a realização de uma ou duas estações de monta e o conseqüente descarte das fêmeas portadoras de problemas de fertilidade e de má habilidade materna, recomenda-se reduzir a duração da estação de monta para 49 dias e 42 dias, para caprinos e ovinos, respectivamente. A estação de monta pode estar associada à monta a campo, à monta no capril ou ovil, à inseminação artificial (AI), à sincronização do estro e à transferência de embriões (TE). Uma vez definida a época e se a opção é pelo uso da monta natural, atenção especial deve ser dada ao macho, principalmente no que diz respeito aos sistemas locomotor e reprodutor, bem como à nutrição. É importante considerar que a espermatogênese nos pequenos ruminantes domésticos tem uma duração aproximada de 52 dias, o que suporta recomendação de se dar início à suplementação alimentar dos reprodutores a partir das 8 a 6 semanas antes da data do início da estação de monta. Por outro lado, a condição corporal das fêmeas também deve ser considerada, sugerindo-se que somente aqueles que apresentam escore de, pelo menos, 2,0 e no máximo 4,0 sejam colocadas em estação de monta (em uma escala que vai de 1,0 ao 5,0, sendo o 1 = muito magra e 5 = muito gorda). Quando necessário, recomenda-se a adoção do flushing, isto é, a suplementação nutricional das fêmeas, que deve ter início entre 3 a 2 semanas antes do início da estação de monta. É muito importante que durante a estação de monta as fêmeas sempre estejam em condições de ganho de peso. Uma boa condição corporal favorece o 31 aumento nas taxas de ovulação e concepção, a sobrevivência embrionária e, em decorrência, a fertilidade ao parto. A estação de monta concentra os nascimentos, exigindo mais mão-de-obra em certas fases da produção, mas também, facilita o manejo dos animais quanto à nutrição, ao estado fisiológico, como o terço final da prenhez, o início da lactação à faixa etária. Ainda favorece a implementação de práticas de manejo, como corte de umbigo e tratamento
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