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MARCUS VINICIUS GARRETT CHIADO Jogos Eletrônicos & Eu: Crônicas de um Passado Presente São Paulo, SP Edição do Autor 2017 Revisão: Andrea Kogan. Capa/Contracapa: Leonardo Bussadori. Diagramação: Ítalo Chianca (modelo). Marcus Vinicius Garrett Chiado. Marco Matsunaga. Assessoria: Marco Matsunaga. Chiado, Marcus Vinicius Garrett Jogos eletrônicos & eu: crônicas de um passado presente / Marcus Vinicius Garrett Chiado. – São Paulo, 2017. 128 p.: il. ; 21,0 x 14,8 cm ISBN 978-85-910970-4-3 1. Videogames. 2. Microcomputadores. 3. Crônicas. Título. CDD- B869.8 C532 ÍNDICE Prefácio.................................................................................................6 Nasci......................................................................................................9 O Primeiro Brincar Eletrônico............................................................14 Os Primeiros Videogames...................................................................22 Os Primeiros Microcomputadores......................................................38 A Grande Perda de 1987.....................................................................69 1988 e Amizades.................................................................................81 O Último "Personagem"......................................................................86 Epílogo (ou um novo começo?)........................................................103 Sobre o Autor....................................................................................105 Apêndice (Fotos de um Passado Presente).......................................107 “Sem família, o homem, sozinho no mundo, treme com o frio”. André Maurois 5 Espero que o calor de minhas palavras, registradas nestas crônicas que ecoam um passado ainda presente, possam esquentar seus corações. Palavras dedicadas à minha família de nascimento, cujos entes já se foram, mas principalmente à atual, minhas amadas filha e esposa. É claro, a dedicatória se estende, como diz o poeta, à “família que escolhemos”, os amigos, alguns dos quais são citados neste livro – e tantos outros que, embora não estejam na obra, moram em meu coração. Esta história também é de vocês. Dedico estes escritos a todas as pessoas que, em virtude de alguma circunstância, subitamente precisaram ser valentes e fortes, que viram, provavelmente despreparadas e sem aviso, a chegada de um futuro que “Muda a nossa vida / E depois convida / A rir ou chorar”. É verdade: quando menos se espera, a criança abandona o brinquedo, o adulto perde um amigo e o velho busca o sorriso perdido. Aprecie cada momento de sua vida... Ele não volta, é finito! 6 Prefácio Muita gente não sabe, mas iniciei terapia com uma psicóloga neste ano de 2017. A nostalgia excessiva, a saudade extrema de um passado que, por mais clichê que possa parecer, realmente não volta, a falta de entes queridos, fator exacerbado pelo falecimento de meu pai em 2015, tudo isto tem há anos me conduzido “ladeira abaixo” a uma grande melancolia com tendência à depressão. Não falo de uma saudade saudável, mas de algo que anula o presente em detrimento do passado. Após várias sessões, a terapeuta praticamente me desafiou a escrever este livro, a “colocar no papel” as minhas experiências, a revisitar minhas memórias de infância e adolescência em relação aos jogos eletrônicos. O processo, ela diz, pode fazer muito bem a mim. Depois de alguma ponderação, o desafio foi aceito... Não posso deixar de citar uma grande inspiração: os livros de memórias do autor Ítalo Chianca (muito obrigado, amigo!). Minha geração viveu tempos curiosos. Curiosos e maravilhosos. Vimos surgir, do nada, um mercado que paulatinamente ultrapassou o Cinema, que deixou Hollywood para trás em termos de faturamento e, quiçá, popularidade. 7 Visualizamos, pela primeira vez, um mundo inteiramente novo e peculiar em que quadradinhos rudimentares e pouco coloridos, os pixels, inauguraram um curioso balé de movimentos na tela da TV. Testemunhamos, passando de espectadores a comandantes, o descortinar de uma realidade inédita, de um universo de fantasia digital apresentado no “espelho negro” de nossos lares, o televisor, cujo reflexo nos convidava a um novo questionamento: seríamos nós, seres humanos, destinados a um futuro artificial, virtual? Seria aquele apenas o começo? Minha geração viveu tempos curiosos. Curiosos e maravilhosos. Tivemos a sorte de acompanhar o desenrolar desta história, de vê-la, com todo o frescor da novidade, aportar no Brasil quando sequer sonhávamos com o que o futuro – o hoje – nos brindaria. Conforme disse o amigo Luiz Bonaccorsi ao documentário 1983: O Ano dos Videogames no Brasil, “não foi uma coisa que foi passada de pai para filho, foi uma coisa que nasceu na minha geração”. Fiz parte da geração que viu o alvorecer dos jogos eletrônicos. Minha jornada de quase 15 anos, iniciada nos anos 70 e recontada até meados dos 90, é revelada nesta obra de modo a refletir o que vi, vivi e senti – com altos e baixos, 8 aventuras e desventuras, e até algumas tragédias, mas principalmente com muita diversão na companhia de amigos. Em alguns momentos parecerá que eu quis, por quaisquer motivos, exibir-me ao relatar os vários equipamentos que possuí. Saibam que não tive a intenção. Ao contar sobre cada videogame e microcomputador com os quais brinquei, somente pretendi que vocês acompanhassem a evolução dos jogos no Brasil – do modo como eu a testemunhei em primeira mão. Convido vocês a revisitar esta história comigo! Vamos? Marcus Garrett 9 Nasci “Nasci”. Assim se iniciava uma das histórias seminais e autobiográficas do britânico Charles Dickens, obra de caráter triste que narra a vida desafortunada do órfão David Copperfield na Inglaterra da Rainha Victoria. Diferentemente daquele menino e das mazelas que sofreu, eu tenho sido bastante afortunado desde o nascimento. Tudo começou no dia 19 de marco de 1973, uma quarta-feira, por volta das 10h10 da noite, quando vim ao mundo na Maternidade de São Paulo, hospital cujas portas se fecharam em 2003. Parafraseando David: “Se serei o herói de minha própria vida, ou se essa posição será ocupada por alguma outra pessoa, é o que estas páginas devem mostrar”. Meus pais, hoje falecidos, conheceram-se por intermédio de uma amiga em comum, acredito que o nome dela era Celina. Papai já havia sido casado, era desquitado, e mamãe, embora já houvesse tido relacionamentos anteriores, encontrava-se solteira. Ambos não eram jovens, ele, contador da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), tinha 43 anos; ela, servidora pública estadual, secretária, carregava 42 primaveras. Logo veio o casamento. Bem, não houve realmente um, o 10 desquite impedia uma nova união formal em cartório, portanto, o casal se “amigou” em 1970 mediante cerimônia religiosa na Igreja Católica Brasileira. O irmão de criação de minha mãe, um menino adotado de um orfanato quando ambos eram crianças, também morava com eles. O nome? José de Jesus Carvalho. Além devir a ser meu padrinho, o “Tio Zé” era uma pessoa muito doente e vivia à base de remédios. Vim magrinho e com baixo peso, pois mamãe desenvolveu um problema na gravidez, quase todos os nutrientes ingeridos iam para ela, sobrava-me muito pouco. Sabe-se que idade avançada pode constituir fator de risco em gestações e ela tinha 45 anos. O importante é que prontamente ganhei peso, cresci forte e “quase” saudável – não fossem as intermináveis crises de amidalite que me levaram à mesa de cirurgia em 1978, ocasião em que as “culpadas” foram subtraídas. Usei botas ortopédicas por muitos anos, pois desenvolvi uma condição conhecida como “joelho em X”, fora o pé chato. Em relação a mim, meus pais eram bem mais velhos, grosso modo, uma diferença de 45 anos. Imaginem, então, os pais de meus pais? Meus avós paternos – José Chiado e Maria 11 de Mattos – eram portugueses de Trás-os-Montes, de um local conhecido como Freixo de Espada à Cinta na região de Fornos, nordeste de Portugal. Aportaram no Brasil em 1923, no porto de Santos, com a esperança de uma vida melhor. Satisfeitos com a terra nova, por aqui ficaram. Minha avó materna, Sophia Lejcak, também era estrangeira, mulher de etnia eslava (provavelmente polonesa ou ucraniana), mas a história é longa e desnecessária, só interessa saber que mamãe mal a conheceu. Meu avô paterno, Radamés Garrett, era o que se convencionou chamar de “paulista quatrocentão”, termo que designa os paulistas de quatrocentos anos, descendentes de antigas famílias dos primeiros colonizadores e chefes das Bandeiras. Tenho três irmãos por parte de pai: Mauricio (8 anos mais velho), Marcelo (12 anos a mais) e Marcio (18 anos). Devido à pouca diferença, eu me dava muito bem com o Mauricio, brincávamos bastante, já que ele apenas estudava, ainda não trabalhava. Marcio, o mais velho, tinha idade para ser meu pai, mas gostava de jogos eletrônicos, tanto que frequentava fliperamas nos anos 70. Marcelo, o do meio, tinha outros interesses, tais como carros e garotas. Embora não 12 partilhássemos da mesma mãe, eles frequentavam minha casa e eram adorados por mamãe – de quem igualmente gostavam. Financeiramente falando, nossa vida era boa e estável. Papai se aposentou em 1980, mamãe e meu padrinho se aposentaram logo depois, acredito que ambos em 1983. Não pagávamos aluguel, nossa residência, no bairro da Aclimação em São Paulo, era própria, a casa se mantinha com os salários de três pessoas que já estavam com a “vida ganha”. Sendo assim, embora não fôssemos ricos no sentido pleno da palavra, tínhamos uma vida confortável e “sobrava” dinheiro – principalmente para o meu padrinho, ele era sozinho, não tinha nem família nem filhos. Quando bem pequeno, fiz o Jardim de Infância e o Pré- Primário no Recanto da Criança Feliz, uma escola bem pequena, perto de casa, que frequentei de 1978 a 1979. Da primeira à oitava série (de 1980 a 1987), estudei em outro colégio, o Externato Macedo Vieira, instituição antiga e tradicional de São Paulo cujo conceito era ótimo. A grande maioria das histórias que vocês terão a chance de conhecer neste livro aconteceram à época do Macedo – local de ensino do qual sinto muita falta! 13 Quase ia me esquecendo... em família meu apelido era – e ainda é – “Cuca”, mas quase fui chamado de “Big Boy”. 14 O Primeiro Brincar Eletrônico Brincar na rua nos anos 70 e no começo dos anos 80, acredito, era o mesmo brincar das gerações antecessoras. Correr com os amigos como se nossas vidas dependessem disso, jogar bola, os bons-e-velhos esconde-esconde e pega-pega, o tradicional pega-ladrão e a troca de figurinhas repetidas dos álbuns de super-heróis faziam parte do repertório da diversão. Na nossa casa reinavam as histórias em quadrinhos, chamados de “gibis”, havia brinquedos de plástico e de borracha, tais como soldadinhos, carrinhos e bonecas, e, para as crianças cujos pais eram abastados, os primeiros brinquedos eletrônicos. Exemplo de uma diversão doméstica mais sofisticada, o Autorama apareceu em solo brasileiro nos anos 60, mas ficou incrivelmente popular, embora caro, nos anos 70 e 80. Outro, o Genius, um jogo eletrônico cujo objetivo era memorizar e replicar sequências – de complexidade crescente – de cores luminosas, também era apreciado. Logo chegaram o Merlin e o robô Percival. 15 Embora eu já tivesse ouvido falar do Genius e possuísse um Autorama (modelo do Emerson Fittipaldi), o primeiro jogo eletrônico de fato que ganhei, se bem me lembro, foi o TV-Jogo 3, uma espécie de telejogo – baseado no PONG americano – semelhante ao da Philco Ford, mas de outro fabricante, a Superkit. O Telejogo, lançado em 1977 no país, era um tipo de diversão eletrônica que, ligado a um televisor comum, trazia três jogos que apareciam na tela como formas geométricas retangulares e quadradas: elas representavam raquetes, bolas e outros objetos em partidas de tênis, paredão e futebol. Tio Zé, meu querido padrinho, em um belo dia de junho de 1979 apareceu em casa com o tal TV-Jogo 3, ele vinha acondicionado em uma caixa amarela e era bem pequeno, feito de plástico e nas cores cinza e preta. Prontamente, ligamos o aparato a um televisor branco e preto e pela primeira vez em minha curta vida – e longe de ser a última – vi algo se manifestar na tela que não fosse um desenho animado, um filme ou um telejornal. Na verdade, ali mesmo naquela fatídica tarde de 1979, comecei, meio sem saber, o que seria uma longa e duradoura forma de diálogo com a tela. A partir daquele momento, eu estava no comando de algo que se movia conforme a minha 16 vontade, a experiência, de maneira inédita, deixava de ser passiva. Lembro-me nitidamente de que precisei, contrariado, deixar o TV-Jogo 3 de lado porque tinha de ir ao colégio para dançar quadrilha, afinal, era festa junina. Na mesma época, ou seja, entre 1980 e 1982, ouvíamos falar da existência de relógios que tinham jogos. O papo soava mais como boato, algo que alguém teria ouvido falar e repetia como um papagaio. Jogo em um relógio? Como? Os únicos jogos aos quais se tinha acesso ocupavam toda a imagem de um televisor... Porém, em um belo dia, meu padrinho apareceu em casa com um, o Game 10 produzido pela japonesa Casio, que trazia um divertido joguinho de nave. Quase inacreditável era a existência de um relógio, algo tão pequeno e delicado, que pudesse proporcionar a experiência de jogar. Está certo que o jogo em questão não era nada complexo, mas – o relógio – cumpria o propósito para o qual foi feito além de mostrar a hora: divertir. Enquanto jogador, você precisava destruir ondas de discos voadores inimigos no comando de um foguetinho. Havia dois botões em uma das laterais do relógio, um controlava o movimento do foguete e o outro disparava raios laser. Se o disparo do foguete atingisse o tiro do disco voador, ambos se 17 anulavam e a ação recomeçava, se fosse certeiro, o OVNI era eliminado e a dificuldade subia – existiam 9 níveis nos quais a velocidade de disparo do disco voador aumentava progressivamente. Havia também uma fase de bônus em que o inimigo podia ser alvejado livremente enquanto se movia de forma um tanto frenética. Creio até ser desnecessário dizer, mas quem levava um relógio daqueles à escola era sumariamente perseguido de maneira implacável à hora do recreio – como eram barulhentos, por causa dos efeitos sonoros da batalha espacial, não dava para jogar durante a aula, mas garanto que muita criança tentou!Posteriormente apareceram outros modelos da Casio, lembro-me do Game 30, que trazia um jogo de submarino de mecânica semelhante ao Game 10. Cheguei a tê-lo, mas confesso que era menos divertido, soava como “mais do mesmo”. Depois apareceu o Game 40, este sim mais complexo com um curioso jogo de pirâmides, lembro-me até de uma propaganda de TV na qual as pirâmides se movimentavam rapidamente. No meu caso, acredito que meus pais não permitiam que eu levasse os meus relógios ao colégio, então, brincava com eles em casa apenas. 18 Em 1982, um pouquinho depois, em uma época em que eu cursava Catecismo em uma igreja perto de casa, meu padrinho (sempre ele!) apareceu, num sábado, com uma caixinha retangular colorida na qual se via a foto de um aparelhinho cheio de botões e uma tela. Olhei para a caixa, meio sem entender, e perguntei ao Tio Zé se aquilo era uma TV portátil, pois ouvíamos falar de televisores portáteis em notícias que vinham do exterior. Eis que meu padrinho diz algo do tipo: “Não, é um joguinho portátil, é uma novidade, abra!”. Ao abrir a caixinha, deparei-me com o jogo Turtle Bridge, um minigame da série Game & Watch, produzido pela Nintendo, lançado naquele mesmo ano. O joguinho era bem bonito, com partes metalizadas e botões de borracha, e vinha acompanhado de um igualmente belo manual de instruções. Baterias colocadas, conforme as orientações de meu padrinho, e a jogatina começava. É difícil descrever, olhando-se para aquilo com a mentalidade de hoje, como aquele aparelhinho era divertido! Controlava-se um bonequinho que precisava transportar o que pareciam ser sacos de alguma espécie à margem oposta de um rio e, para tanto, ele precisava saltar sobre tartarugas enfileiradas. Ocorre que elas não paravam quietas, ora 19 emergiam, ora submergiam para apanhar peixes, o que tornava a empreitada em algo bem difícil. Era preciso planejar com cautela o uso da “ponte de tartarugas”, motivo que dava título a um joguinho cuja imagem era gerada pela tecnologia de cristal líquido. Turtle Bridge, em última instância, era bem mais divertido que o TV-Jogo 3, o telejogo que eu tinha desde 1979... e ainda era portátil! A Nintendo produziu vários modelos da série Game & Watch, inclusive o super popular Donkey Kong, uma verdadeira febre à época cuja ação se desenrolava em não uma, mas em duas telas sobrepostas. Eu gostava tanto do meu que o carregava a todo canto e, se não se trata de um caso de falsa memória, tive a cara de pau de levá-lo a um evento de cães do Kennel Clube Paulista (mamãe adorava inscrever nosso cão Akita naqueles eventos) em que, ao invés de prestar atenção à exposição, eu não parava de jogar. Lembro-me também de ter outros jogos da série Game & Watch à época: Fire, Octopus, Fire Attack, Oil Panic, Donkey Kong Jr. e Donkey Kong II. Com o sucesso, outros fabricantes japoneses produziram minigames, empresas como a Tomy e a Tiger, por exemplo, que trouxeram jogos igualmente interessantes. 20 A primeira fase (sem trocadilhos!) em que os jogos começavam a aparecer no cotidiano dos brasileiros foi bem interessante. Tudo era inédito e carregava o frescor da novidade: as coisas que a gente lia em revistas e jornais, as notícias que chegavam de fora, os boatos (alguns infundados), o “concunhado do tio-avô de um primo” que havia trazido um computador poderoso dos Estados Unidos, com jogos incríveis, ou algo parecido... A imaginação da gente, é preciso salientar, parecia não ter limites. Aos poucos aquelas histórias aumentavam e aumentavam, e, ao contrário do “concunhado do tio-avô”, elas começavam a chegar mais perto de nós – um tio ou um primo às vezes aparecia com novidades legais. Alguém de posses ou com um emprego favorável, como aeromoça ou comissário de bordo, trazia videogames quando voltava de alguma viagem principalmente dos Estados Unidos, uma das vias de entrada mais populares. Meu irmão Mauricio contava o caso de um dos tios por parte de mãe, dono de uma agência de seguros, que trouxe um Atari com vários cartuchos de Miami ou de outra cidade americana qualquer. A família, incluindo sobrinhos e sobrinhas, reunia-se para jogatinas aos finais de semana. 21 Paulatinamente ouvia-se os nomes de marcas estrangeiras, tais como Atari e Odyssey, em rodas de conversas de pessoas um pouco mais velhas, portanto, a gente acabava “pescando” uma coisa aqui, outra coisa ali... Além de ouvir, eu lia a respeito. Lia bastante. Papai e meu padrinho compravam algumas revistas para mim, em especial a Video News e a Micro & Video, voltadas a todas as novidades eletrônicas e tecnológicas. Meu amigo jornalista Mauricio Bonas, em entrevista à revista Jogos 80, chamou aquele formato especifico de publicação, muito comum naquele tempo, de “revistas para novidadeiros”. De fato, elas costumavam trazer informações e notícias acerca de filmes em vídeo (o VHS estava no auge das fitas piratas), fotografia, filmagem, microcomputadores (uma grande novidade, ninguém praticamente os tinha em casa) e assuntos correlatos. Com o sucesso dos videogames no exterior, nada mais natural que as editoras se interessassem pelo tema. Naquelas páginas e também em jornais, como a Folha de São Paulo, comecei a saber da existência de um mundaréu de coisas que não haviam chegado ao Brasil, pois vivíamos sempre atrasados. A curiosidade aumentava! 22 Os Primeiros Videogames No ano de 1983, eu brincava com alguns Game & Watch e com dois relógios da Casio, contudo, o TV-Jogo 3 já havia sido posto para descansar, de minha parte o interesse por ele caiu a praticamente zero. Acredito até que tenha sido dado a alguém. Enfim, em conversa com meu padrinho, certa vez ele me falou de um aparelho da Philips que seria – ou que havia sido – lançado, muito provavelmente porque assistiu à propaganda televisiva do Odyssey, preparada pela Philips do Brasil. Interessado, eu me recordo de ter perguntado sobre os jogos, ao que a empolgada resposta mencionava “jogos de todo tipo, tudo o que você quiser, de carros de corrida, aviões, etc.”. Conforme citei no início deste livro, faço aniversário no fim de março, mas acredito que em abril, mês de lançamento do produto, tio Zé apareceu em casa com um Odyssey. A embalagem era linda, a caixa do videogame trazia ilustrações bem coloridas, o grafismo das letras transmitia uma sensação de futurismo, em outras palavras, tudo era muito caprichado. Rapidamente abrimos o pacote. O teclado alfanumérico, um dos 23 destaques dados ao console na campanha publicitária, logo saltou aos olhos, eu tinha em mãos o aparelho mais lindo já visto em minha curta vida. Meu padrinho trouxe alguns cartuchos com o videogame, acredito que OVNI!, Come-Come! e Conflito Cósmico! Conectamos o Odyssey à TV do quarto dele e foi só alegria por bastante tempo! Os jogos que vinham de brinde também eram divertidos. Lembro-me de uma passagem em que, jogando Cryptologic! com meu irmão Mauricio, escolhi o nome de um dinossauro que eu adorava à época, o Triceratops. No jogo em questão, o jogador escolhia uma palavra e a digitava, o Odyssey a embaralhava na tela e o oponente precisava descobri-la – era um dos títulos que faziam uso do alardeado teclado. Depois de várias tentativas, meu irmão não conseguia mesmo adivinhar, mas, esperto que era e me conhecendo bem, passou bastante perto: “Poxa, está difícil, você não colocou o nome de um daqueles dinossauros, né? Não é aquele Tricerataurus?”. Quase, Mauricio! Quase! No fundo, a Philips tinharazão de alardear o teclado, ele proporcionava interações divertidas entre as pessoas. Outro detalhe de que me lembro: o cheiro dos cartuchos era bem característico – muito provavelmente devido 24 à tinta utilizada nos caprichados manuais de instrução. Todo cartucho carregava aquele cheiro gostoso e marcante... Ao longo daquele ano, ganhei outros jogos do Odyssey, tais como Golfe!, que eu adorava, Pegue o Dinheiro e Corra!, o incrível Senhor das Trevas! e o divertido Didi na Mina Encantada!, o qual se provou uma tremenda jogada comercial da Philips. Assim como toda criança brasileira, eu adorava os Trapalhões e sempre os via aos domingos na Globo. Imaginar que eu controlava o Didi Mocó na tela do televisor (a mesma, aliás, em que eu assistia ao programa), por mais ingênuo que possa parecer hoje, constituía um diferencial, um fator extra de diversão. Na época do Odyssey, eu sequer sabia da existência das chamadas locadoras, além disto, meus amigos da escola não tinham o console, portanto, eu apenas brincava com meus próprios cartuchos – e confesso que era uma diversão um tanto solitária. Ainda sobre os jogos, a gente percebia uma notória evolução em relação aos telejogos e aos minigames, a imagem era colorida, escutávamos efeitos sonoros um pouco mais complexos e o gameplay apresentava maior desafio. 25 Outro detalhe curioso de que ninguém parece se lembrar: na TV Gazeta de São Paulo, no horário da tarde, havia um programa de videoclipes que precedeu a MTV em muitos anos. Acredito que o “Realce” possa ter sido o primeiro do gênero, ele era apresentado por uma dupla, o humano Beto Rivera e o boneco Capivara, uma espécie de Muppet que só fazia bagunçar com piadas de gosto duvidoso e provocações diversas. Lembro- me de que eles sorteavam bonecos do Come-Come, produzidos oficialmente pela Philips do Brasil, e cartuchos do Odyssey, ou seja, a atração era patrocinada pela fabricante do videogame. Curiosidade: assisti, entre tantos outros, a um clipe da Madonna quando a cantora foi anunciada no programa como “lançamento”, uma novidade no exterior. Agora me senti mais velho que o Matusalém! Durante o ano de 83, cada vez mais o Atari se tornava assunto da imprensa e das rodas de amigos e familiares. Eu costumava saber das novidades em revistas e jornais, e ficava curioso. Tomando por base meu Odyssey, eu imaginava como seriam os jogos do videogame da Warner, imaginação esta que se tornava ainda mais fértil quando meu irmão tecia comentários 26 do tipo: “Os jogos são mais coloridos, tem muito mais cartucho que o seu videogame, é bem mais legal”. Em meados de setembro, soube que meu amigo Marcelo (há bastante coisa sobre ele neste livro!) havia pedido um Atari de Dia da Criança aos pais, mas, segundo ele, a procura parecia ser tão grande que havia fila de espera nas lojas. Isto mesmo, fila de espera, ou seja, nada de pronta entrega! Voltando alguns meses no tempo, meu amigo era uma pessoa de opinião, pois, apesar do lançamento do Odyssey na UD em abril, ele deliberadamente preferiu esperar pelo console da Polyvox. Embora menino, ele já era decidido! Algumas semanas se passaram e o assunto do Atari ficava cozinhando em minha cabeça, é até vergonhoso dizer, mas eu já não olhava o Odyssey com os mesmos olhos. Agora... Tentem adivinhar o que aconteceu... Não é difícil... Claro que pedi um Atari de Natal! Surpreendentemente, o pedido seria atendido se eu passasse de ano, o que estava garantido, contudo, havia uma “pegadinha” ao estilo das letras pequenas no rodapé de um contrato suspeito: eu teria que concordar em vender o videogame antigo – que de antigo não tinha nada, eu o tinha ganhado fazia pouco mais de seis meses! Nas cabeças dos adultos, dos pais da gente, possuir 27 dois consoles era inconcebível... Enfim, no meio tempo, o Marcelo recebeu um telefonema da loja para que retirasse o Atari reservado. E eu? Bem, eu precisaria esperar até o dia 24 de dezembro, véspera de Natal. O dia de comprar o tão desejado Atari chegou. Como não acreditava mais em Papai Noel (pudera, eu já tinha 10 anos de idade!), tive o prazer de acompanhar a compra do videogame ao lado de papai e de meu padrinho, sendo assim, tomamos um táxi em frente de casa e fomos à cidade (jeito paulistano de dizer que íamos ao centro). Primeiro compramos o Atari propriamente dito, adquirido no antigo magazine Mappin da Praça Ramos, imponente e tradicional loja de departamentos de São Paulo que não existe mais. O lugar estava cheio em dezembro, lembro-me da cor predominante das paredes na seção de videogames, tudo em vermelho (ou seria laranja?). Outra coisa da qual me lembro: meu padrinho retirando – literalmente – um bolo de dinheiro do bolso para efetuar o pagamento, pois ele não trabalhava com cheques, e cartões de crédito, naquela época, nem pensar! Retiramos o videogame em um balcão, porém, não encontrei na loja a maioria dos jogos pelos quais procurava. Se bem me recordo, eles só tinham cartuchos oficiais Atari, nada de jogos 28 de outras marcas, os chamados cartuchos “clones”. Acontece que meu irmão Mauricio compilou uma listinha dos que seriam, na avaliação dele, os melhores títulos jogados na casa daquele tio abastado sobre quem já comentei, jogos da Activision não licenciados pela Polyvox. O jeito era procurar em outras lojas... Saímos com o Atari debaixo do braço, mas levamos também Space Invaders e, acho, Berzerk ou Pac-Man – da Polyvox. Partimos pela rua Conselheiro Crispiniano, adjacente ao Mappin, à caça dos outros cartuchos com a listinha em mãos, eu ainda tinha esperança de achá-los. Entramos na Fotóptica, uma rede de lojas de fotografia que também vendia eletrônicos e artigos correlatos, e encontramos os jogos desejados: River Raid, Seaquest, Enduro... Curiosamente, os cartuchos eram da marca Canal 3, lembro-me bastante das embalagens, eram bonitas, vistosas e coloridas. Fiquei muito contente, contente mesmo, pois teríamos – é claro, eu pretendia chamar meu irmão – diversos cartuchos naquele Natal. Voltamos para casa no finzinho da tarde, mas o Atari já tinha um destino selado: repousar quietinho, embalado e acompanhado de outros presentes, sob a árvore, à espera da meia-noite de 24 de dezembro. Sem exceções, podia chorar, espernear, gritar... 29 Costume era costume! Passei a véspera de Natal ansioso, andava para lá e para cá, ocupava a cabeça com outras coisas, mas o tempo não passava... O relógio da cozinha parecia zombar de mim: “Ei, menino, vai lá, olha lá seu Atari debaixo da árvore, está lá embrulhadinho, mas ó, você não pode abrir, hein?”. Relógio, veja se eu estou na esquina! Enfim chegou a meia-noite! Após os cumprimentos de praxe, eu (aos 10 anos de idade) e meu irmão (aos 18) corremos para abrir o Atari! Foi a maior festa! O Mauricio ligou o videogame no quarto do meu padrinho, conectou-o a uma TV de 20 polegadas somente para ver se tudo funcionava perfeitamente. Apreciei a beleza da embalagem, colorida e cheia de imagens de jogos, fotos e ilustrações, e olhei atento a cada item que dela era retirado: manual, catálogo, papelada de garantia, os joysticks, o cartucho-brinde (Missile Command) e o Atari em si, não tão bonito esteticamente quanto o Odyssey, mas igualmente chamativo e estiloso. Fiquei maravilhado com a qualidade dos jogos, os primeiros cartuchos vistos – e jogados – foram River Raid e Missile Command, contudo, tivemos de parar porque era hora da ceia em família. Com a barriga cheia, jogamos mais um tanto e fomosdormir. O legal mesmo 30 aconteceu no dia seguinte, o dia de Natal: o Atari foi instalado em meu quarto, passamos horas e horas jogando. O Mauricio pousou em casa por uma semana (ele não morava comigo, mas com a mãe) porque a “febre do Atari” havia nos contagiado, ninguém queria parar de jogar, estávamos completamente alucinados. Quando digo que jogávamos o dia todo não há exagero na afirmação: é verdade, jogávamos da hora em que acordávamos até a hora de ir para a cama à noite. Ele anotava os recordes em um bloquinho de papel, era imbatível, implacável, parecia conhecer todos os segredos e macetes daqueles jogos. Acredito que a diferença de idade entre nós, oito anos, contava a favor dele no quesito destreza. A interminável jogatina precisou ser interrompida porque meus pais queriam passar as férias de janeiro e fevereiro de 84 no litoral. No ano anterior, eles compraram uma casa de veraneio na cidade de Mongaguá, não tão distante da bem mais conhecida Santos. Eu esperneei, briguei, reclamei, chorei, conclamei, mas... Não teve jeito! Não pude carregar o Atari conosco na viagem, queriam que eu me divertisse à moda antiga na praia, ou seja, banhos de mar, empinar pipas e andar de 31 bicicleta eram as atividades em vista. O destino, porém, viria me salvar... Havia uma menina na rua de cima, a Natalia Alvarez, cujo irmão mais velho também havia recebido um Atari de Natal, o Alexandre, um rapaz muito simpático que, acredito, fosse quase da mesma idade do meu irmão. Mais sobre o Alexandre em um instante. Quando em Mongaguá, mamãe gostava de passear em uma cidade vizinha, Itanhaém, mais urbanizada e um tiquinho maior. Andávamos pelo centro e por um calçadão, tomávamos sorvete na Kapilé e olhávamos as lojas. Em uma daquelas andanças na rua João Mariano, bati os olhos na vitrine de uma loja de roupas e notei um solitário cartucho de Atari rodeado de maiôs e calções. Um cartucho de Atari em uma loja de roupas? Sim! Era o destino! Mamãe entrou na loja – vim a saber, com a ajuda de um amigo de Itanhaém, que se tratava da Miris Boutique – para ver um maiô, ao que prontamente a atormentei para que comprasse o cartucho (da marca Star Game), afinal, o Atari do Alexandre estava disponível. Dito e feito, no mesmo dia, já de volta a Mongaguá, o presente foi parar no videogame dele! Aliás, foi na casa da 32 Natalia que vi, pela primeira vez, um dos jogos que se tornou o favorito de muita gente: Keystone Kapers. Jogos do Atari que eu mais joguei à época – entre 1983 e 1986 (em ordem alfabética) Asteroids Atlantis Decathlon Demon Attack Enduro H.E.R.O. Jungle Hunt Keystone Kapers Megamania Miner 2049er Moon Patrol Moonsweeper Pole Position Pressure Cooker River Raid Seaquest Ainda em Mongaguá, eu tive a chance de frequentar um tipo de diversão eletrônica que representava o local “sagrado” 33 para aqueles que adoravam jogos. Nossos pais não gostavam que fôssemos a tais lugares, pois segundo os mais velhos, neles havia uma desafortunada mistura de tipos indesejáveis: desocupados, desempregados, delinquentes e viciados. Claro que existia um grande exagero na forma como pais e mães encaravam aquela nova diversão fora de casa, nem todos os fliperamas estavam cheios de “maus elementos”. Aquelas casas de jogos estavam cheias sim, mas de máquinas de arcade – e também dos chamados pinballs. Bastava adentrar o recinto para que tivéssemos nossos sentidos invadidos por sons, luzes e músicas. O conjunto de sensações novas que experimentávamos vinha de uma única fonte: aparatos eletrônicos ímpares que nos desafiavam como nenhum outro. Àquela altura, nada que possuíssemos em nossas casas, fossem videogames ou computadores de última geração, conseguia competir, em termos de qualidade gráfica, sonora e jogabilidade, com os jogos de fliperama – e estar ali, naquele ambiente “corrompido”, sujo e mal frequentado, constituía a única maneira de que dispúnhamos para jogá-los na plenitude. Falo de maravilhas como Moon Patrol, Defender, Berzerk, Scramble, Elevator Action, Time Pilot, Mil Milhas (Pole 34 Position), Pleiads, Donkey Kong, Pac-Man, Exerion e tantos outros títulos que povoavam nossos sonhos. Tudo, porém, parecia conspirar contra nós: o tempo de diversão era escasso, pois geralmente nosso acompanhante, um adulto, logo queria ir embora; o passaporte para a nossa felicidade, as fichas, também acabava limitado ao dinheiro que tínhamos, conseguido com muito custo, para investir naquela diversão; o nível de dificuldade das máquinas se mostrava bem mais alto se comparado ao das versões domésticas com as quais estávamos acostumados; em outras palavras, a coisa toda acontecia muito rapidamente, a experiência era efêmera e parecia escorrer por nossos dedos. Outro detalhe é que as máquinas eram grandes (em comparação ao tamanho de uma criança), ameaçadoras e pareciam guardar uma espécie de inteligência, um instinto que se manifestava quando inseríamos a ficha. Era como se fôssemos atraídos pela mensagem Insert Coin, apresentada na tela, e levados a um mundo em que, por mais habilidosos que fôssemos, não teríamos chance de vencê- las. Naquela plenitude incrível de imagens e de sons, os jogos de arcade somente se manifestavam lá, verdadeiro templo onde reinavam supremas: o fliperama. E pareciam zombar da gente! 35 De volta a São Paulo, ainda no início de 84, em um período em que as aulas já haviam começado, papai chegou com uma notícia super legal: “Você sabia que abriu um negócio desses de videogame na Lins, lá perto da casa da avó?”. “Negócio de videogames?”, respondi. “Sim, eles emprestam jogos acho, vamos lá ver?”, foi a resposta de meu pai. Claro, não é? Que pergunta! Fomos a pé ao local, pois era próximo de casa, em realidade, ficava perto da casa da minha avó e da minha tia, mais precisamente no bairro Jardim da Glória. WarGames Vídeo, este era o nome da primeira locadora de videogames – e de filmes – que tive a chance de ver. Funcionava em um sobrado na avenida Lins de Vasconcelos, número 2.340, a caminho da Vila Mariana. O pavimento térreo continha a parte de jogos, no andar de cima se encontravam as fitas de vídeo, a maioria, acredito, já no padrão VHS. No alto de meus quase 11 anos de idade, a locadora parecia ser imensa, gigantesca. Ao lado esquerdo, se bem me lembro, havia uma espécie de fichário preso à parede no qual dezenas de "fichinhas" coloridas pairavam imóveis até que fossem escolhidas por alguém. Acredito que as fichas eram divididas em temas (ação, corrida, esportes etc.) e elas traziam nome e 36 uma breve descrição de cada cartucho de Atari à disposição em dado momento – se determinado título não constasse das fichas, o cartucho estava alugado. Pode-se dizer que se tratava de um sistema simples, mas funcional. Para fins de transporte, os jogos eram acondicionados em pequenas caixas plásticas cujo cheiro era bem característico, ainda sou capaz de senti-lo com minha memória olfativa! Papai e eu fomos à WarGames por bastante tempo. A ida à locadora era praticamente um ritual de todas as sextas-feiras após o colégio. A perua escolar me deixava em casa, almoçávamos e íamos para lá, mas às vezes íamos antes do almoço. Lembro-me de ter alugado diversos cartuchos, eis alguns dos que guardo na memória: Atlantis, Bank Heist, Flash Gordon, Superman, Spider-Man, Moonsweeper e Decathlon. Saliento que descobri estes jogos com as locações, eles eramnovidade naquele momento, inéditos! Às segundas, eu ia à escola e papai à locadora para efetuar a devolução. Curiosidade: a seção de filmes em VHS, no segundo andar, vivia repleta de pôsteres de filmes. Eu sempre admirava um do primeiro Mad Max, cobicei-o bastante, só faltava a coragem ou a cara de pau de pedi-lo ao dono. 37 Aquela locadora constituiu um lugar em que várias “primeiras vezes” aconteceram comigo, outro caso tem a ver com um cartucho do videogame que eu mais desejei na infância, um aparelho inatingível por uma série de motivos, mas mais especificamente devido ao alto preço: o ColecoVision. Certa vez, acredito que por motivos de decoração, vi lá o cartucho do jogo Zaxxon sobre uma prateleira, fato que aguçou ainda mais o meu desejo. O Coleco, como o chamávamos, assombrava devido à qualidade gráfica e sonora em comparação com a concorrência, a grande maioria dos lançamentos eram conversões domésticas de títulos favoritos do fliperama. Eu via e revia as telas dos jogos (as screenshots), lia e relia as respectivas análises feitas pela Micro & Video, nutrindo sempre a esperança de ter um. Calma! Esta história ainda não acabou! Só não revelarei ainda se o final foi feliz... Muitos amigos do Macedo Vieira iam jogar em casa: Rodrigo Gondo, Thomas Lee, Luis João S. Silva, Emerson Inada, Helton Goshima, Robert Takanami... As brincadeiras favoritas eram jogar bola no quintal, Playmobil e, claro, o Atari! 38 Os Primeiros Microcomputadores Microcomputadores também eram considerados como uma novidade no começo dos anos 80, aquelas máquinas maravilhosas estavam, diferentemente do que acontece hoje, longe de fazer parte do cotidiano das pessoas. Muito pouca gente – ou, melhor dizendo, quase ninguém – tinha um em casa naquela época. A primeira vez que ouvi falar de um computador aconteceu provavelmente em 1984 e foi ou pela boca do amigo que citei algumas páginas atrás, o Marcelo Bignardi Jarretta, neto do melhor amigo do meu pai, ou por meio de algum telejornal, jornal ou revista. A primeira oportunidade em que vi um ao vivo, contudo, não deixa dúvida: aconteceu na casa do Marcelo (agora sim!) quando ele pegou emprestado um CP200 (clone nacional de um computador britânico, o ZX81) de um primo mais velho, um equipamento fabricado pela empresa Prologica. Ele digitava um programa na linguagem BASIC que, se bem me lembro, fazia um carrinho se movimentar horizontalmente pela tela. Entusiasmado, ele explicava alguns dos comandos que, para mim, faziam lembrar palavras 39 complicadas em inglês. A possibilidade de criar, de provocar alguma reação proposital na tela, em oposição ao “passivo” videogame, encantava e aguçava a imaginação. Mais ou menos naquele período, eu costumava assistir a um programa televisivo, o “Bits and Bytes”, exibido pela TV Cultura de São Paulo e que, de maneira bem didática, explicava em termos leigos o mundo do computador – desde o processo de ligá-lo à tomada ao uso propriamente dito. Estrelavam um senhor, o “leigo”, e uma senhora, a “entendida”, e o cenário era composto de computadores de várias linhas diferentes, tais como o Atari 800 e o Apple II. Curiosidade: uma produção canadense, ele foi dublado em português pelo estúdio BKS. Eu adorava, procurava não perder um episódio sequer! Outro do gênero do qual me lembro é o Globo Informática, uma produção da Rede Globo sobre o mundo dos microcomputadores, mas com enfoque maior no Brasil. Apesar das revistas e dos programas de TV, nada me prepararia para o choque de ver o próximo microcomputador ao vivo, algo que mexeria muito comigo, um divisor de águas em minha vida. Acredito que aconteceu em abril de 1984 e o palco foi a UD, a Feira de Utilidades Domésticas que acontecia todos os 40 anos no Anhembi, um centro de convenções/exposições muito famoso e popular em São Paulo. Como de praxe, lá eram apresentadas novidades tecnológicas de uso doméstico em primeira mão, as pessoas esperavam bastante para ir à UD, já que podiam analisar e decidir futuras compras para o lar. Entre geladeiras, sofás, televisores e utensílios para casa, os microcomputadores brasileiros também foram mostrados aos ansiosos visitantes. Mamãe adorava ir à UD e eu, que também não era nada bobo, a enchia para que fôssemos logo no primeiro dia. Andando calmamente por entre os corredores e olhando os estandes, repentinamente meus olhos foram atraídos para uma tela verde na qual, o que parecia ser um lutador de caratê (com direito até ao quimono), caminhava cuidadosamente e golpeava o adversário tendo um cenário japonês ao fundo. Os “bonecos” iam para frente e para trás, socavam e chutavam em uma curiosa dança de pixels que me hipnotizou. Além da luta de demonstração, havia uma espécie de filme ou apresentação, via- se um samurai interagir com lutadores e com uma garota, talvez prisioneira. Eu não havia visto nada assim! Nada! Aproximei- me, porém, eu não conseguia tocar no computador, ele estava 41 isolado dentro do estande de uma empresa ou loja. Permaneci ali hipnotizado, mesmo com o barulho típico de um evento daquele porte, por não sei quanto tempo para assistir ao que, em comparação ao Atari que eu tinha em casa, era um desenho animado. Esperei a chegada de um funcionário para, quem sabe, permitir que eu chegasse mais perto ou jogasse, porém, sem sucesso. O nome daquele jogo? Karateka. O computador? Um clone nacional do Apple II, provavelmente um Craft II. Ambos os nomes ficariam rolando em minha cabeça por meses... Curiosidade sobre a UD daquele ano: a organização da feira criou um brinde na forma de estacionamento grátis no Anhembi, bastava que a placa do carro do visitante se iniciasse pelas letras UD – justamente a placa do carro que tínhamos à ocasião, uma Brasília. Poxa! Além de Karateka, estacionamento grátis! Em um dia qualquer daquele mesmo ano o telefone tocou em casa. Atendi. “Ganhei um computador! Você precisa vir aqui ver, tem jogos muito divertidos, melhores que o Atari!”, disparou excitado meu amigo Marcelo (de novo ele!). Desliguei o telefone e tratei de visitá-lo logo, pois o convite ficaria martelando em minha cabeça. Ao chegar lá, eu fui apresentado a um certo TK2000, um equipamento produzido pela empresa 42 paulista Microdigital, fabricante do TK83 e do TK85, computadores da linha Sinclair. Meu amigo tinha aulas de Computação no Arquidiocesano, colégio tradicional de São Paulo em que estudava, e o laboratório de Informática da escola era equipado justamente com microcomputadores daquele tipo, portanto, o Marcelo pediu aos pais que lhe dessem um para que pudesse praticar em casa – e, claro, jogar! Com o micro, ele ganhou, creio, o gravador National RQ-2222, o modelo prateado que se tornou o favorito dos “computeiros”. Além de digitar programas do curso e de listagens que vinham em revistas (mais sobre isto adiante), carregavam-se jogos armazenados em fitas cassetes, mídia barata que era uma alternativa aos caros disquetes. Algumas empresas nacionais, as famosas softhouses, pirateavam jogos criados no exterior, alteravam nomes de fabricantes e traduziam para o português algumas inscrições na tela, tais como score para pontos – tudo, de certa forma, “salvaguardado” por políticas protecionistas do país como a reserva de mercado. A Plan-Soft era uma das mais famosas, mas a própria Microdigital lançou uma linha de programas sob o selo Microsoft. Naquele dia, voltei para casa e a primeira coisa que 43 falei ao entrar foi: “eu queroum TK2000!”. Certo, vai continuar querendo! A proximidade da temporada de compras do Natal trouxe propagandas televisivas de novos produtos que chegavam. Um comercial que capturou minha imaginação foi o do Intellivision II, videogame que a Sharp do Brasil licenciou da Mattel Electronics e cujo primeiro modelo havia sido lançado no país em novembro do ano anterior. Confesso que, apesar de ter ouvido falar dele anteriormente, desconhecia realmente o console, ninguém que eu conhecesse o possuía. A propaganda de TV em questão, que dava destaque ao jogo Burgertime, atiçou minha vontade de conhecer o aparelho da fabricante da Barbie. Embora não o tivesse visto ao vivo, eu lia sobre ele com frequência na Micro & Video e na Video News, e em uma jogada de puro “blefe”, pedi um de Natal aos meus pais e ao meu padrinho. Será que o blefe daria certo? Seria eu um bom jogador de pôquer? Como diz a expressão, “o não está garantido”, por isso não custa tentar. Minha família, meio a contragosto, resolveu me presentear com um Intellivision II no Natal de 84, afinal, novamente passei de ano direto, não fiquei de recuperação (a 44 coisa ia se complicar no ano seguinte, mas isto não vem ao caso). Nesta época, o Odyssey que ganhei no ano anterior já tinha sido vendido – acho – via jornal Primeiramão, o TV-Jogo 3 foi dado a alguém e o Atari da Polyvox corria “risco de vida”, porque, conforme meus pais pensavam, qual era a necessidade de se ter dois videogames em casa? Adultos têm tanta dificuldade de enxergar o óbvio... Quanto mais, melhor! Partiam de novo os “três mosqueteiros”, papai, eu e meu padrinho, em direção à cidade, mas acredito que fomos direto à Cinótica, tradicional do comércio de São Paulo cujo endereço era a famosa “Rua da Fotografia”, a Conselheiro Crispiniano, próxima ao Mappin. Aquela loja era incrível, eles pareciam ter um pouco de tudo: máquinas fotográficas diversas, lentes de vários tipos, filmes, telescópios e binóculos, mas também vendia equipamentos eletrônicos, tais como videogames e cartuchos. Lembro-me de que os consoles ficavam em um balcão envidraçado bem ao fundo e ao lado esquerdo de quem entrava. Confesso que ficávamos sem saber direito para onde olhar, tamanhas as opções de produtos, e uma coisa era mais legal e vistosa que a outra. 45 Pedimos o Intellivision ao vendedor e prontamente ele também nos mostrou alguns cartuchos, sendo que compramos Burgertime, Lock ‟N‟ Chase, Bump „N‟ Jump e algum outro, talvez o excelente Desafio Estelar, uma das obras-primas daquele sistema. Ainda em dezembro, já perto das festividades, mamãe e eu fomos dar uma volta na Lins de Vasconcelos, a mesma da locadora WarGames, mas no sentido oposto desta, pois a avenida era (ainda é) bem extensa e ia do bairro do Cambuci ao da Vila Mariana. Nos anos 80 o comércio da Lins era muito forte, existiam lojas de variados tipos de produtos além de doçarias, bancos e serviços, e minha mãe adorava caminhar a pé por aquela avenida à noite – comer um doce antes de ir para casa era tradição! Passamos em uma loja de que eu gostava bastante, a Colorcenter, uma espécie de Fotóptica em miniatura, já que, além de laboratório fotográfico, eles também comercializavam produtos de foto, vídeo e som. Lembro-me de ter comprado lá, já sabendo que seria presente de Natal de minha mãe, o jogo Shark! Shark! do Intellivision, título que se tornou um dos favoritos. A véspera de Natal de 84 foi parecida com a do ano antecessor. Quase tudo o que comentei sobre o Atari se aplica 46 ao Intellivision: embrulho sob a árvore, a espera, a ansiedade, a hora que não passava etc. etc. Quando soou a meia-noite, os familiares se cumprimentaram e, ao contrário de 83, não guardo lembrança se o Mauricio me ajudou a ligar o videogame, acredito que não. Recordo-me de ter acordado cedo na manhã do dia de Natal para, aí sim, ver os jogos com calma. De cara, os controles – em formato de disco – eram estranhos e bem diferentes dos joysticks tradicionais, mas a qualidade dos gráficos do videogame da Mattel saltava aos olhos, eles constituíam uma evolução perceptível em relação aos concorrentes da Philips e da Polyvox. Tinha-se a impressão de mais cores na tela em relação ao Atari, os desenhos eram maiores e, além de efeitos sonoros, alguns jogos traziam música. Assim como fizemos com o Atari um ano antes, meu irmão e eu realizamos diversas jogatinas, Mauricio se enamoraria do Intellivision e até se especializaria no Desafio Estelar (The Dreadnaught Factor), tendo se tornado exímio jogador daquele título da Activision. Passados alguns meses, tive outros cartuchos bem bacanas dos quais destaco Masters of the Universe: The Power 47 of He-Man, um campeão de qualidade gráfica baseado no desenho animado de mesmo nome exibido pela Rede Globo. Jogos do Intellivision que eu mais joguei à época – entre 1984 e 1986 (em ordem alfabética) Auto Racing Beamrider Burgertime Lock 'n' Chase Masters of the Universe: The Power of He-Man NASL Soccer (Futebol) Shark! Shark! The Dreadnaught Factor (Desafio Estelar) Lembram-se do TK2000, o microcomputador que citei algumas páginas atrás? Bem, atazanei tanto a minha família que finalmente o ganhei em algum momento entre o fim de 84 e meados de 85 (difícil ter certeza da data) usando a velha desculpa de que o equipamento também seria útil para outras finalidades fora jogar (apesar de verdade, meu interesse imediato eram os jogos). Lembro-me de que tomamos um táxi 48 em frente de casa e fomos, eu e meu padrinho, à Sears, uma antiga rede de lojas de departamento americana que operou no Brasil por um período, mas abandonou o país. A unidade para qual fomos, aliás, ficava onde hoje existe o Shopping Pátio Paulista. Compramos o micro, um gravador National RQ-2222, inclusive como indicação do vendedor, um joystick da própria Microdigital e algumas fitas cassetes com jogos. Ao voltar para casa, corri para ligá-lo à TV do meu quarto – a qual já prestava serviços ao Atari e ao Intellivision II. Conectei o gravador ao micro, preparei tudo (o Marcelo havia previamente me orientado) e carreguei alguns jogos, processo extremamente fácil. Não me recordo de quais títulos compramos na Sears, mas com o tempo cheguei a ter diversos cassetes para o TK2000: Multi Flipper, Papa Tudo, Ceiling Zero, Minotauro e Auto Estrada. Os jogos do TK eram uma evolução até mesmo sobre o Intellivision, além de gráficos superiores aos do console da Mattel, havia maior complexidade e profundidade em termos de enredo, alguns traziam “historinhas” e apresentações. 49 Agora... Lembram-se da historinha do Karateka, não? Pois bem, o Marcelo (ele merece um Oscar!) apareceu em casa, no meu aniversário do ano seguinte, com uma fita daquele jogo – da marca Plan-Soft – para o TK2000. Eu quase tive um treco, Como se carregava um jogo em fita cassete no computador? Com o TK2000 ligado, inseríamos a fita no gravador. De modo geral, o manual de instruções, além de conter uma breve descrição do jogo em questão e de como jogá-lo, trazia o comando a ser digitado no prompt do BASIC para que o carregamento acontecesse: LOADT. Na sequência, pressionávamos a tecla PLAY do aparato e logo a coisa toda, um processo que parecia mágico, começava. No rodapé da tela, ao lado esquerdo, aparecia um “conta-giros” (na realidade, um contador hexadecimal de blocos de bytes) cujo progresso aumentava até a marcação final, então, o programa “rodava”. Em algunscasos, fatores como desgaste do cassete, qualidade da gravação da fita ou regulagem do “azimute” do gravador podiam ocasionar erros, sendo assim, o programa não funcionava. O processo era lento, mas até favorecia a leitura do manual! Curiosidade: ao ouvir o áudio da fita (que curioso nunca fez isto?), a gente constatava: aquele som nada mais era que um ruído agudo e sem sentido, em realidade, ouvíamos os “bytes”... 50 não conseguia acreditar! Eu teria a chance, pela primeira vez, de brincar com o jogo dos sonhos que vi na UD – e na minha própria casa! Joguei tanto, mas tanto que acredito ter até gasto o coitadinho do cassete, incontáveis horas de combate se passaram e eu o finalizei por diversas vezes. Jogá-lo, na verdade, ficou fácil. Aliás, tive um amigo na escola, o Marcelo Berger, que adorava artes marciais e que, ao ver Karateka, ficou tão alucinado que não queria parar de jogar. Curiosidade: há pouco eu soube que a versão para o TK2000 foi adaptada da original em disquete para o Apple II, conversão feita pelo brasileiro Luis Nakanishi na Plan-Soft. Ele precisou realizar uma série de adaptações para que o programa funcionasse perfeitamente, já que o TK não era uma cópia exata do micro da Apple, mas um clone de uma variação chinesa deste, o Microprofessor II (MPF II). A mudança de disquete para fita deixou o jogo mais curto, ou seja, com menos oponentes e menos salas. Ainda assim, me diverti demais! O tempo passou... Em setembro de 85 fiz um curso de BASIC no colégio, um treinamento ministrado por uma escola de Informática, a Computrol, em parceria com o Externato Macedo Vieira. Em uma das salas, eles instalaram diversos 51 computadores CP300, da Prologica, bem como os respectivos televisores. O ambiente ficou super bacana. Embora eu já tivesse o TK2000 em casa, no qual digitava programas tirados de revistas, as famosas “listagens”, ou criava os meus, aprender com um instrutor de verdade foi mais eficaz. O curso durou de setembro a dezembro e ainda tenho o certificado de conclusão – carga horária de 15 horas! Os microcomputadores começavam a ficar um tiquinho mais populares e a chamar a atenção de “pessoas normais”, que os achavam interessantes. Aos poucos, “briguinhas” para ver qual linha era melhor se iniciavam nas escolas, discussões acaloradas à hora do recreio em que cada moleque procurava defender o seu micro ao citar, por exemplo, quantidade de memória RAM ou número de cores na tela. Soa como algo enfadonho hoje, mas aqueles bate-bocas, realizados por crianças de 10 ou 11 anos de idade, eram engraçados e até curiosos, acreditem em mim! 52 As "revistas para novidadeiros" sobre as quais comentei anteriormente, além de algumas publicações específicas de Informática, traziam, entre tantas coisas, as chamadas "listagens". Na grande maioria, elas continham linhas em BASIC que, se digitadas, rodariam um jogo ou um programa sem muita complexidade. Às vezes, parte do código vinha em outra linguagem, geralmente o Assembly, ou podia conter caracteres gráficos específicos de determinada plataforma. Aliás, havia seções dedicadas a cada linha de computadores do período: TRS-80, Sinclair, Apple II, TK2000 etc. Digitar as tais listagens, uma atividade que não era consenso quanto à diversão, acabava por ser uma forma de aprendizado, afinal, bastava alterar alguns parâmetros dos programas para que eles apresentassem comportamentos diferentes. Claro que, se as alterações fossem feitas ao acaso, elas resultariam em uma mensagem de erro na tela, algo como "ERRO NA LINHA 40". Outro fato costumeiro era que os próprios programas publicados contivessem erros ou falhas de impressão, não era nada incomum aos leitores que precisassem corrigi-los – corrigindo e aprendendo... A vida era dura naquela época! 53 Em algum momento entre meados de 85 e o início de 86, adivinhem quem – de novo – telefonou para mim com novidades? Darei uma dica... O nome começa com “M” e termina com “O”. Isto mesmo, o Marcelo! “Eu vendi o TK2000 e ganhei outro computador, agora é um Apple II de verdade (ele pronunciava como “Eipôl”), é o Exato Pro”, despejando a bomba em meu ouvido. “Escuta só os sons”, posicionando o bocal do telefone ao lado do alto-falante do micro. “Este jogo é um de caça a jato, é o Skyfox”, emendando com “ouve o tema dos Ghostbusters, ó...”. Uma vez mais eu me dirigia à casa do Marcelo para “sofrer” com a novidade daquele menino que parecia insaciável no tocante à tecnologia. O resto do episódio pode ser um tanto óbvio... Tempos depois meu TK2000 acabou vendido ao “tio” da perua escolar, o senhor José Carlos, e daria espaço ao “Eipôl de verdade”, o tal Exato. A coisa aconteceu na tarde de um dia de semana de 86, provavelmente entre os meses de abril e maio. Depois do almoço, fomos eu, meu padrinho e meu amigo à Garra Computadores, uma loja de microcomputadores e artigos correlatos que se situava à rua Abílio Soares, número 775. O Exato do Marcelo foi comprado lá, portanto, ele os recomendou. 54 De cara, uma decepção: não havia aquele micro da CCE para pronta entrega, eu teria que esperar por uma reposição dos estoques. A saída era comprar um Apple II de outra marca, lembro-me de que vendiam o Craft II e, acredito, também um modelo da Milmar, sendo que ambos estavam em estoque. Meu amigo, contudo, convenceu-me a esperar pelo Exato, pois ele trazia a possibilidade de caracteres em português e teclado programável – em outras palavras, era superior aos concorrentes. E assim foi... Voltei para casa chupando o dedo, mas com a esperança de que o equipamento voltasse logo ao estoque, já que eu estava na fila de espera. Só dependia do fabricante! Falando da espera, ela parece ter levado um longo, longo tempo. Semanas se passaram e nada. A gente sabe que a passagem do tempo, na cabeça de uma criança, difere do que acontece na cabeça de um adulto, mas minha impressão era de aguardar durante meses. Eu telefonava para a Garra ao menos uma vez por semana: “Oi, tudo bem? Já chegou o Exato?”, eis que a resposta era: “não, talvez na semana que vem, mas ligue no fim desta semana...”. Na semana seguinte, a cena se repetia. E na outra, e na outra, e na outra... No meio tempo, meu amigo 55 Marcelo jogava Skyfox e Conan, e eu me virava com o TK2000, pois acredito que ele não havia sido vendido ainda. A maratona seguiu assim até que, para minha grata surpresa, a resposta a um de meus telefonemas foi: “Sim, acabou de chegar um lote, chegou agora mesmo”. Agradeci, desliguei o telefone e saí correndo pela casa! “Chegou! Chegou! Chegou!”. Telefonei prontamente para o Mauricio, meu companheirão de sempre que se prontificou a ir conosco à loja de carro. Acredito que, entre o telefonema e a ida ao local, meu pai ou meu padrinho tenham telefonado novamente à Garra para que se certificassem de que o produto havia chegado e reafirmar que estávamos a caminho. Chegando lá, retiramos o micro, uma interface de drive, um disk drive da marca NPH e uma caixa de disquetes com jogos gravados que meu padrinho encomendou para mim (mesmo sabendo que o Marcelo os copiaria). Se bem me lembro, pedi ao vendedor que “espetasse” a interface (nada mais que uma placa) e deixasse tudo pronto para uso. Em casa, tratei de conectar o Exato a um dos televisores do meu padrinho, via RF, liguei-o à tomada e pronto! O primeiro disco que inseri no disk drive foi Spy Vs. Spy, jogo baseado nos personagens da revista Mad dos quais eu tanto gostava. Que linda imagem!56 Tudo era bem colorido e detalhado, havia músicas, sons... É difícil para alguém que não tenha visto aquela evolução, que não tenha acompanhado o que hoje parecem mudanças sutis, mas a diferença entre os softwares de computadores como o Apple II e os jogos de videogame do período eram grandes. Ah! Quase me esqueci de um fato engraçado. Antes de telefonar para a loja, eu fazia um trabalho de Desenho Geométrico para a escola, ele devia ser entregue no dia seguinte. Bem... Finalizei-o de qualquer jeito e o entreguei, mas, claro, tirei nota vermelha... Aliás, já que toquei no assunto da escola, na aula eu só pensava em chegar logo em casa para brincar com o Exato. Na verdade, apesar de nunca ter repetido de ano, eu passei a ir mal desde que ganhei o Atari, mas a coisa degringolou de vez com o Apple II. Como ser motivado a fazer a lição de Matemática se eu tinha Karateka para jogar? Como me interessar por Ciências se Captain Goodnight esperava por mim confortavelmente no cockpit de seu caça? Como encarar Desenho Geométrico, a matéria mais chata, se os Goonies estavam lá quietinhos no disquete esperando que eu carregasse o jogo? Não dava! 57 Assim como em outros computadores do período, os jogos do Apple II eram superiores aos dos consoles em qualidade de imagem, som e complexidade. Eles eram armazenados nos chamados discos flexíveis de 5,25 polegadas (ou disquetes), mídias que apresentavam bem mais espaço de memória se comparadas, por exemplo, a um cartucho de videogame ou a um cassete. Os discos ainda proporcionavam a comodidade de se listar, mediante um simples comando (CATALOG no Apple II), os diversos jogos e programas que armazenavam, algo que facilitava a localização dos arquivos. Ao contrário das fitas cassetes, a carga de software via disquetes acontecia de forma sensivelmente mais rápida, alguns jogos levavam segundos para que rodassem – as fitas, em comparação, podiam levar minutos. Outra grande vantagem era a possibilidade de se copiar os discos com rapidez e facilidade, processo que podia ser realizado em casa mesmo – algo impossível de se executar com cartuchos, pois requeriam equipamento profissional de duplicação e conhecimento de Eletrônica. 58 Minha biblioteca de jogos, aliás, aumentava sempre devido à facilidade de se copiar os discos. Bastava usar um dos copiadores manjados, como o Locksmith ou o Copy II Plus, e voilà. Diferentemente dos videogames, alimentados por cartuchos que não eram baratos, o Exato parecia abrir um enorme leque de opções. Bem, nem tudo eram flores, nossos pais ainda precisavam comprar os disquetes, eles não davam cria nem brotavam em árvores, só que o produto também não era tão barato quanto as fitas. Existiam várias marcas de discos, lembro-me da Nashua (o Marcelo pronunciava como Na-shú-a), da Verbatim e da cara Maxell, a favorita por ser, em tese, mais confiável e bem-feita. A troca de softwares funcionava assim: eu ia à casa do Marcelo ou ele ia à minha, cada qual possuía jogos novos conseguidos em outras trocas ou adquiridos em lojas como a já citada Garra ou a Labracom (ficava perto da minha casa), mostrávamos os títulos novos um ao outro, ou seja, jogávamos um pouquinho, e depois começava o longo e tedioso processo de cópias. Carregávamos o copiador Locksmith para a maior parte do serviço, contudo, alguns jogos, mais “enjoados” de se copiar devido a algum esquema de proteção, requeriam copiadores mais “invasivos” e o processo demorava. Ao fim do 59 dia, após um “árduo trabalho”, a jogatina seguia por horas e horas até que arrumássemos novos jogos. O ciclo, então, recomeçava. Em relação ao Exato, uma recordação vívida que carrego aconteceu em junho de 86, época de festa junina, mas também ocasião em que acontecia a Copa do Mundo do México, a “Mexico 86”. Lembro-me nitidamente de assistir a algum jogo da Copa, meu padrinho ao lado, enquanto eu jogava Karateka ou Conan. De vez em quando eu ia ao quintal para ver os balões, alguns bem grandes e com “cangalhas” recheadas de fogos de artifício, época em que não eram proibidos e ainda polvilhavam os céus de junho. Há outra memória conjugada, igualmente daquele período do Exato, quando mamãe ingressou em um curso de pintura a óleo, pois queria aprender a pintar quadros. Lá também fizemos aulas de natação, a academia e o ateliê, na verdade, pertenciam à mesma dona e ficavam em um mesmo local. A lembrança à qual me referi era chegar em casa, após a natação, e ligar o micro para jogar. O computador da CCE ainda renderia diferentes “causos” engraçados e curiosos. Na já citada cidade de Mongaguá, nas férias fiz amizade com um menino muito 60 educado, o Luis Fernando Prandina Rodrigues, que morava na rua de cima (a mesma da Natalia Alvarez, irmã do Alexandre, aquele do Atari de muitas páginas atrás). Em São Paulo, convidei-o a conhecer o computador e, claro, não deu outra: o Luisinho ficou maravilhado! Jogávamos bastante Karateka, Conan e outros, mas um título em especial se tornou um dos favoritos: Microbe. O jogo, aparentemente baseado na premissa do filme "Viagem Fantástica", parecia complexo porque havia várias etapas que antecediam o gameplay propriamente dito. Ao ter o submarino miniaturizado, o jogador precisava adentrar o corpo humano de um paciente previamente escolhido por ele e, de acordo com a doença ou o problema, traçar uma linha de ação em que se aplicava um remédio ou se realizava um procedimento. A gente não entendia quase nada, estava tudo em inglês, mas a imersão parecia tão grande que não conseguíamos deixá-lo de lado. O efeito da miniaturização, aliás, era um show à parte! Na etiqueta do disquete, o nome estava grafado erroneamente como “Macrober”. Esta outra história é tão surreal que começo a rir só de relembrá-la. Existia um software sintetizador de voz para o Apple II, o S.A.M. (Software Automated Mouth), que 61 reproduzia, com as limitações sonoras do micro, sílabas e palavras em inglês que o usuário digitasse. A síntese parecia bacana – ao menos para dois meninos de 12 ou 13 anos de idade – e havia uma série de parâmetros que podiam ser alterados conforme o resultado desejado. Nosso repertório em inglês estava longe de ser extenso, portanto, palavras como “cat”, “mouse” e “airplane” se esgotaram rapidamente. Foi quando alguém teve a brilhante ideia de tentar palavras em português – seguida pela “mais brilhante ainda” ideia de experimentar... palavrões! Só que nenhum palavrão soava de maneira tão engraçada quanto a palavra “mandioca”. O Luisinho a digitava, pressionava a tecla RETURN e, em um sotaque estranhíssimo, o alto-falante do Exato pronunciava: “MAN-DE-OOOOOCA”. Ríamos incontrolavelmente! Mas... Por que a palavra mandioca? Luis, esta você responde! A época do Exato foi muito marcante para mim, guardo excelentes lembranças daquela caixinha mágica. Com o tempo cheguei até a ter uma tábua gráfica (para desenhar) e um joystick analógico da marca Anko. Surpresa: além do Exato, outro Apple II entraria em minha vida... Detalhes nas próximas páginas! 62 Jogos do Apple que eu mais joguei à época – entre 1986 e 1988 (em ordem alfabética) Beyond Castle Wolfenstein Captain Goodnight Castle Wolfenstein Chivalry Choplifter Conan Fat City Karateka Lucifer’s Realm Microbe Moon Patrol Pinball Construction Set Power Bots Rescue Raiders Spy Vs. Spy Stellar 7 Summer Games The Bard’s Tale Zaxxon63 Outro amigo da escola, o Luis João Sousa Silva, ganhou um microcomputador de presente dos pais, acredito, entre o final de 1986 e o início de 1987. Maravilhado, contava para a gente no recreio sobre o tal TK95, o gravador cassete que usava para carregar os programas, a embalagem colorida do produto etc. Em um sábado fui convidado a conhecer o micro – e o que se sucedeu foi como amor à primeira vista. Claro, eu tinha o Exato Pro à ocasião, uma plataforma, em tese, muito mais poderosa que o TK95, este que era o segundo clone nacional do britânico ZX Spectrum, micro lançado em nosso país pela Microdigital. Havia também a questão das fitas cassetes, mídia que eu havia abandonado após o TK2000, ou seja, acostumei- me com os disquetes. Ainda que o hardware fosse mais simples, o aparelho tivesse bem mais cara de brinquedo que de computador e fosse usado com fitas, os jogos me encantaram logo de cara! Primeiro, as barras horizontais coloridas e o áudio do cassete eram coisas hipnotizantes. As barras, no caso, serviam – desde que contínuas e tremulantes – para que o usuário tivesse a certeza de que a carga de determinado programa estava bem sucedida, uma sacada genial da Sinclair, a fabricante original 64 daquela linha de micros. Em segundo lugar, a maioria dos jogos apresentavam quase sempre uma bela tela de abertura para que a pessoa se entretivesse durante o processo – e uma mais bonita que a outra. Lembro-me da tela do jogo Dan Dare, ela era especialmente linda! O Luis João e eu descobrimos, praticamente juntos, uma gama de jogos bons apesar da quantidade de memória menor – 48 KBytes – que o Spectrum apresentava e do som simplório. Nada importava, a jogabilidade era excelente. Commando e Green Berent, por exemplo, eram conversões de fliperama cuja jogabilidade foi praticamente mantida, não fazia tanta diferença se os gráficos não eram iguais aos do arcade. Eram jogos gostosos de se jogar! Dan Dare, Cybernoid, Exolon, Enduro Racer, Knight Lore, Sabre Wulf, Terra Cresta, Jet Set Willy... Havia uma infinidade de títulos bons. Aliás, algo de que me lembro bem é das revistas inglesas dedicadas à plataforma, mais precisamente a Crash e a Your Sinclair, publicações que meu amigo adquiria em uma livraria que ficava na região da rua Santa Efigênia em São Paulo, a popular – entre os aficionados – Litec. As revistas eram praticamente a única forma pela qual os donos do TK sabiam das novidades que saíam no Reino Unido, sendo que a 65 maioria das edições vinham acompanhadas, cada qual, de uma fita cassete com demonstrações de jogos e previews, as chamadas “Cover Tapes”, que proporcionavam horas de diversão. Outra particularidade que guardo na memória é a troca de fitas cassetes que o Luis fazia com donos de Spectrum, geralmente realizadas por meio de contatos encontrados em anúncios do jornal Primeiramão. Se pararmos para pensar com a mentalidade de hoje, aquilo era até surreal: trocavam-se listas de jogos, cada parte interessada gravava um número X de títulos em uma fita cassete de acordo com a escolha do outro, fazia a respectiva embalagem e enviava o pacote via Correios. Com a chegada de um novo cassete, garantiam-se horas e horas de ruídos intermináveis e – quase sempre – de diversão, pois em muitos casos o sistema se mostrava ineficaz, ou seja, as fitas não funcionavam ou funcionavam parcialmente. Uma aventura! Os gravadores em uso à época podiam ser bem diferentes em termos de regulagem de fábrica, portanto, uma fita gravada na casa do fulano Y podia não funcionar perfeitamente no gravador do amigo Z. Isso era extremamente comum, um fato que gerava frustração. Existia, contudo, uma maneira de contornar o problema, bastava ajustar um controle chamado de 66 “azimute” no gravador, uma espécie de parafusinho que, ao girado, alterava propriedades da leitura. O ajuste se fazia meio na “orelhada”, a pessoa, de posse de uma chave de fenda, girava o tal azimute e testava a carga. Girava e testava... Girava e testava... Até que determinado jogo, geralmente um dos favoritos, carregasse perfeitamente do cassete. Aquilo era mesmo uma aventura! Certa vez o Luis João perdeu a paciência e, atônito, presenciei uma cena que parecia realmente inevitável: ele esmurrava o gravador e o xingava de todos os nomes possíveis e imagináveis, pois o azimute não queria colaborar! A única alternativa às fitas era a chamada Interface Beta. Ela nada mais era que uma interface de drive, conectada à porta de expansão do TK, para que disquetes pudessem ser usados no Spectrum em vez de fitas. As Betas seriam a salvação da lavoura se não custassem tão caro! Se bem me lembro, elas custavam praticamente o mesmo que um micro e nem sempre estavam disponíveis, uma vez que eram produzidas praticamente de maneira artesanal por poucas empresas, tais como a CBI (Centro Brasileiro de Informática) e a C.A.S. (Cheyenne Advanced Systems). Certa vez a mãe de meu amigo, de tanto que ele a atormentou, pediu-lhe que telefonasse a 67 algumas lojas e visse o preço do produto – somente para que ela “caísse para trás” com o valor. Não havia como, a Beta era algo que estava fora de cogitação, o jeito era voltar ao azimute e castigar novamente o gravador se ele fizesse por merecer! Voltando aos programas, existiam outras formas de se consegui-los além das trocas via jornal. Softhouses nacionais, tais como a Disprosoft e a Plan-Soft, começaram a reproduzir e a distribuir os jogos do TK – traduzindo-os quando possível e alterando as marcas comerciais na tela pelas próprias – para grandes magazines como o Mappin, a Mesbla e a Bruno Blois. Os cassetes vinham acondicionados em embalagens ilustradas e com manuais em português. Além das lojas, pequenas e médias empresas que geralmente funcionavam em salas de edifícios comerciais, como a Paulisoft em São Paulo e a Ciência Moderna no Rio, vendiam as novidades da semana, muitas das quais copiadas na mesma hora, à pronta entrega, enquanto os clientes ali aguardavam se acotovelando em frente aos balcões de atendimento. Clubes como o CNTK (Clube Nacional dos Usuários do TK) e o tardio SCUS (Super Clube Usuários do Spectrum), e encontros presenciais regulares como os do SESC Maria Antonia, em São Paulo, também debutaram graças à 68 popularização do micro em vários estados do Brasil. Demoraria um pouco, mas após namorá-lo por um bom tempo, eu conseguiria meu próprio TK... Jogos do ZX Spectrum que eu mais joguei à época – entre 1987 e 1989 (em ordem alfabética) Barbarian (Palace Software) Camelot Warriors Cobra Commando Cybernoid Cybernoid II Dan Dare Enduro Racer Exolon Fist II Green Beret Gunfright Knight Lore Renegade Terra Cresta Tornado Low Level Trantor: The Last Stormtrooper Turbo Esprit 69 A Grande Perda de 1987 O ano de 1987 se mostraria muito agitado, mas também acabaria marcado como o primeiro em que tive uma grande perda na vida. Meu padrinho, uma pessoa muito doente e que vivia com medicações constantes (certamente leram sobre isto no prefácio), faleceu depois de passar mal no banheiro e desmaiar. Foi um baque incrível para mim. Até então eu já havia perdido meu avô paterno – eu era muito pequeno, mal me lembro dele – e um cão de estimação, mas a ausência do tio Zé abriu um buraco em meu coração. Ele atuava como um segundo pai, não teve esposa ou filhos e dedicava amor e atenção a mim. Ao escrever estas linhas, emociono-me ao me lembrar do que ele
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