Buscar

jogos eletronicos e eu

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

MARCUS VINICIUS GARRETT CHIADO 
 
 
 
Jogos Eletrônicos & Eu: 
Crônicas de um Passado Presente 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo, SP 
Edição do Autor 
2017 
 
 
 
 
 
 
Revisão: Andrea Kogan. 
Capa/Contracapa: Leonardo Bussadori. 
Diagramação: Ítalo Chianca (modelo). 
 Marcus Vinicius Garrett Chiado. 
 Marco Matsunaga. 
Assessoria: Marco Matsunaga. 
 
 
Chiado, Marcus Vinicius Garrett 
Jogos eletrônicos & eu: crônicas de um passado presente / 
Marcus Vinicius Garrett Chiado. – São Paulo, 2017. 
128 p.: il. ; 21,0 x 14,8 cm 
 
ISBN 978-85-910970-4-3 
 
1. Videogames. 2. Microcomputadores. 3. Crônicas. Título. 
 
 CDD- B869.8 
 
 
 
C532 
 
 
ÍNDICE 
Prefácio.................................................................................................6 
 
Nasci......................................................................................................9 
 
O Primeiro Brincar Eletrônico............................................................14 
 
Os Primeiros Videogames...................................................................22 
 
Os Primeiros Microcomputadores......................................................38 
 
A Grande Perda de 1987.....................................................................69 
 
1988 e Amizades.................................................................................81 
 
O Último "Personagem"......................................................................86 
 
Epílogo (ou um novo começo?)........................................................103 
 
Sobre o Autor....................................................................................105 
 
Apêndice (Fotos de um Passado Presente).......................................107 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Sem família, o homem, sozinho no mundo, treme com o frio”. 
 André Maurois 
 
5 
 
Espero que o calor de minhas palavras, registradas nestas 
crônicas que ecoam um passado ainda presente, possam 
esquentar seus corações. Palavras dedicadas à minha família de 
nascimento, cujos entes já se foram, mas principalmente à atual, 
minhas amadas filha e esposa. É claro, a dedicatória se estende, 
como diz o poeta, à “família que escolhemos”, os amigos, 
alguns dos quais são citados neste livro – e tantos outros que, 
embora não estejam na obra, moram em meu coração. Esta 
história também é de vocês. 
 
Dedico estes escritos a todas as pessoas que, em virtude 
de alguma circunstância, subitamente precisaram ser valentes e 
fortes, que viram, provavelmente despreparadas e sem aviso, a 
chegada de um futuro que “Muda a nossa vida / E 
depois convida / A rir ou chorar”. É verdade: quando menos se 
espera, a criança abandona o brinquedo, o adulto perde um 
amigo e o velho busca o sorriso perdido. 
 
Aprecie cada momento de sua vida... 
 
Ele não volta, é finito! 
 
6 
 
Prefácio 
 
Muita gente não sabe, mas iniciei terapia com uma 
psicóloga neste ano de 2017. A nostalgia excessiva, a saudade 
extrema de um passado que, por mais clichê que possa parecer, 
realmente não volta, a falta de entes queridos, fator exacerbado 
pelo falecimento de meu pai em 2015, tudo isto tem há anos me 
conduzido “ladeira abaixo” a uma grande melancolia com 
tendência à depressão. Não falo de uma saudade saudável, mas 
de algo que anula o presente em detrimento do passado. Após 
várias sessões, a terapeuta praticamente me desafiou a escrever 
este livro, a “colocar no papel” as minhas experiências, a 
revisitar minhas memórias de infância e adolescência em relação 
aos jogos eletrônicos. O processo, ela diz, pode fazer muito bem 
a mim. Depois de alguma ponderação, o desafio foi aceito... Não 
posso deixar de citar uma grande inspiração: os livros de 
memórias do autor Ítalo Chianca (muito obrigado, amigo!). 
Minha geração viveu tempos curiosos. Curiosos e 
maravilhosos. Vimos surgir, do nada, um mercado que 
paulatinamente ultrapassou o Cinema, que deixou Hollywood 
para trás em termos de faturamento e, quiçá, popularidade. 
 
7 
 
Visualizamos, pela primeira vez, um mundo inteiramente novo e 
peculiar em que quadradinhos rudimentares e pouco coloridos, 
os pixels, inauguraram um curioso balé de movimentos na tela 
da TV. Testemunhamos, passando de espectadores a 
comandantes, o descortinar de uma realidade inédita, de um 
universo de fantasia digital apresentado no “espelho negro” de 
nossos lares, o televisor, cujo reflexo nos convidava a um novo 
questionamento: seríamos nós, seres humanos, destinados a um 
futuro artificial, virtual? Seria aquele apenas o começo? 
Minha geração viveu tempos curiosos. Curiosos e 
maravilhosos. Tivemos a sorte de acompanhar o desenrolar 
desta história, de vê-la, com todo o frescor da novidade, aportar 
no Brasil quando sequer sonhávamos com o que o futuro – o 
hoje – nos brindaria. Conforme disse o amigo Luiz Bonaccorsi 
ao documentário 1983: O Ano dos Videogames no Brasil, “não 
foi uma coisa que foi passada de pai para filho, foi uma coisa 
que nasceu na minha geração”. 
Fiz parte da geração que viu o alvorecer dos jogos 
eletrônicos. Minha jornada de quase 15 anos, iniciada nos anos 
70 e recontada até meados dos 90, é revelada nesta obra de 
modo a refletir o que vi, vivi e senti – com altos e baixos, 
 
8 
 
aventuras e desventuras, e até algumas tragédias, mas 
principalmente com muita diversão na companhia de amigos. 
Em alguns momentos parecerá que eu quis, por quaisquer 
motivos, exibir-me ao relatar os vários equipamentos que 
possuí. Saibam que não tive a intenção. Ao contar sobre cada 
videogame e microcomputador com os quais brinquei, somente 
pretendi que vocês acompanhassem a evolução dos jogos no 
Brasil – do modo como eu a testemunhei em primeira mão. 
 
Convido vocês a revisitar esta história comigo! Vamos? 
 
Marcus Garrett 
 
 
 
 
 
9 
 
Nasci 
“Nasci”. Assim se iniciava uma das histórias seminais e 
autobiográficas do britânico Charles Dickens, obra de caráter 
triste que narra a vida desafortunada do órfão David Copperfield 
na Inglaterra da Rainha Victoria. Diferentemente daquele 
menino e das mazelas que sofreu, eu tenho sido bastante 
afortunado desde o nascimento. Tudo começou no dia 19 de 
marco de 1973, uma quarta-feira, por volta das 10h10 da noite, 
quando vim ao mundo na Maternidade de São Paulo, hospital 
cujas portas se fecharam em 2003. Parafraseando David: “Se 
serei o herói de minha própria vida, ou se essa posição será 
ocupada por alguma outra pessoa, é o que estas páginas devem 
mostrar”. 
Meus pais, hoje falecidos, conheceram-se por intermédio 
de uma amiga em comum, acredito que o nome dela era Celina. 
Papai já havia sido casado, era desquitado, e mamãe, embora já 
houvesse tido relacionamentos anteriores, encontrava-se 
solteira. Ambos não eram jovens, ele, contador da CPFL 
(Companhia Paulista de Força e Luz), tinha 43 anos; ela, 
servidora pública estadual, secretária, carregava 42 primaveras. 
Logo veio o casamento. Bem, não houve realmente um, o 
 
10 
 
desquite impedia uma nova união formal em cartório, portanto, 
o casal se “amigou” em 1970 mediante cerimônia religiosa na 
Igreja Católica Brasileira. O irmão de criação de minha mãe, um 
menino adotado de um orfanato quando ambos eram crianças, 
também morava com eles. O nome? José de Jesus Carvalho. 
Além devir a ser meu padrinho, o “Tio Zé” era uma pessoa 
muito doente e vivia à base de remédios. 
Vim magrinho e com baixo peso, pois mamãe 
desenvolveu um problema na gravidez, quase todos os 
nutrientes ingeridos iam para ela, sobrava-me muito pouco. 
Sabe-se que idade avançada pode constituir fator de risco em 
gestações e ela tinha 45 anos. O importante é que prontamente 
ganhei peso, cresci forte e “quase” saudável – não fossem as 
intermináveis crises de amidalite que me levaram à mesa de 
cirurgia em 1978, ocasião em que as “culpadas” foram 
subtraídas. Usei botas ortopédicas por muitos anos, pois 
desenvolvi uma condição conhecida como “joelho em X”, fora o 
pé chato. 
Em relação a mim, meus pais eram bem mais velhos, 
grosso modo, uma diferença de 45 anos. Imaginem, então, os 
pais de meus pais? Meus avós paternos – José Chiado e Maria 
 
11 
 
de Mattos – eram portugueses de Trás-os-Montes, de um local 
conhecido como Freixo de Espada à Cinta na região de Fornos, 
nordeste de Portugal. Aportaram no Brasil em 1923, no porto de 
Santos, com a esperança de uma vida melhor. Satisfeitos com a 
terra nova, por aqui ficaram. Minha avó materna, Sophia Lejcak, 
também era estrangeira, mulher de etnia eslava (provavelmente 
polonesa ou ucraniana), mas a história é longa e desnecessária, 
só interessa saber que mamãe mal a conheceu. Meu avô paterno, 
Radamés Garrett, era o que se convencionou chamar de 
“paulista quatrocentão”, termo que designa os paulistas de 
quatrocentos anos, descendentes de antigas famílias dos 
primeiros colonizadores e chefes das Bandeiras. 
Tenho três irmãos por parte de pai: Mauricio (8 anos 
mais velho), Marcelo (12 anos a mais) e Marcio (18 anos). 
Devido à pouca diferença, eu me dava muito bem com o 
Mauricio, brincávamos bastante, já que ele apenas estudava, 
ainda não trabalhava. Marcio, o mais velho, tinha idade para ser 
meu pai, mas gostava de jogos eletrônicos, tanto que 
frequentava fliperamas nos anos 70. Marcelo, o do meio, tinha 
outros interesses, tais como carros e garotas. Embora não 
 
12 
 
partilhássemos da mesma mãe, eles frequentavam minha casa e 
eram adorados por mamãe – de quem igualmente gostavam. 
Financeiramente falando, nossa vida era boa e estável. 
Papai se aposentou em 1980, mamãe e meu padrinho se 
aposentaram logo depois, acredito que ambos em 1983. Não 
pagávamos aluguel, nossa residência, no bairro da Aclimação 
em São Paulo, era própria, a casa se mantinha com os salários 
de três pessoas que já estavam com a “vida ganha”. Sendo 
assim, embora não fôssemos ricos no sentido pleno da palavra, 
tínhamos uma vida confortável e “sobrava” dinheiro – 
principalmente para o meu padrinho, ele era sozinho, não tinha 
nem família nem filhos. 
Quando bem pequeno, fiz o Jardim de Infância e o Pré-
Primário no Recanto da Criança Feliz, uma escola bem pequena, 
perto de casa, que frequentei de 1978 a 1979. Da primeira à 
oitava série (de 1980 a 1987), estudei em outro colégio, o 
Externato Macedo Vieira, instituição antiga e tradicional de São 
Paulo cujo conceito era ótimo. A grande maioria das histórias 
que vocês terão a chance de conhecer neste livro aconteceram à 
época do Macedo – local de ensino do qual sinto muita falta! 
 
13 
 
Quase ia me esquecendo... em família meu apelido era – 
e ainda é – “Cuca”, mas quase fui chamado de “Big Boy”. 
 
 
 
14 
 
O Primeiro Brincar Eletrônico 
 
Brincar na rua nos anos 70 e no começo dos anos 80, 
acredito, era o mesmo brincar das gerações antecessoras. Correr 
com os amigos como se nossas vidas dependessem disso, jogar 
bola, os bons-e-velhos esconde-esconde e pega-pega, o 
tradicional pega-ladrão e a troca de figurinhas repetidas dos 
álbuns de super-heróis faziam parte do repertório da diversão. 
Na nossa casa reinavam as histórias em quadrinhos, chamados 
de “gibis”, havia brinquedos de plástico e de borracha, tais 
como soldadinhos, carrinhos e bonecas, e, para as crianças cujos 
pais eram abastados, os primeiros brinquedos eletrônicos. 
Exemplo de uma diversão doméstica mais sofisticada, o 
Autorama apareceu em solo brasileiro nos anos 60, mas ficou 
incrivelmente popular, embora caro, nos anos 70 e 80. Outro, o 
Genius, um jogo eletrônico cujo objetivo era memorizar e 
replicar sequências – de complexidade crescente – de cores 
luminosas, também era apreciado. Logo chegaram o Merlin e o 
robô Percival. 
 
 
15 
 
Embora eu já tivesse ouvido falar do Genius e possuísse 
um Autorama (modelo do Emerson Fittipaldi), o primeiro jogo 
eletrônico de fato que ganhei, se bem me lembro, foi o TV-Jogo 
3, uma espécie de telejogo – baseado no PONG americano – 
semelhante ao da Philco Ford, mas de outro fabricante, a 
Superkit. O Telejogo, lançado em 1977 no país, era um tipo de 
diversão eletrônica que, ligado a um televisor comum, trazia três 
jogos que apareciam na tela como formas geométricas 
retangulares e quadradas: elas representavam raquetes, bolas e 
outros objetos em partidas de tênis, paredão e futebol. Tio Zé, 
meu querido padrinho, em um belo dia de junho de 1979 
apareceu em casa com o tal TV-Jogo 3, ele vinha acondicionado 
em uma caixa amarela e era bem pequeno, feito de plástico e nas 
cores cinza e preta. Prontamente, ligamos o aparato a um 
televisor branco e preto e pela primeira vez em minha curta vida 
– e longe de ser a última – vi algo se manifestar na tela que não 
fosse um desenho animado, um filme ou um telejornal. 
 Na verdade, ali mesmo naquela fatídica tarde de 1979, 
comecei, meio sem saber, o que seria uma longa e duradoura 
forma de diálogo com a tela. A partir daquele momento, eu 
estava no comando de algo que se movia conforme a minha 
 
16 
 
vontade, a experiência, de maneira inédita, deixava de ser 
passiva. Lembro-me nitidamente de que precisei, contrariado, 
deixar o TV-Jogo 3 de lado porque tinha de ir ao colégio para 
dançar quadrilha, afinal, era festa junina. 
Na mesma época, ou seja, entre 1980 e 1982, ouvíamos 
falar da existência de relógios que tinham jogos. O papo soava 
mais como boato, algo que alguém teria ouvido falar e repetia 
como um papagaio. Jogo em um relógio? Como? Os únicos 
jogos aos quais se tinha acesso ocupavam toda a imagem de um 
televisor... Porém, em um belo dia, meu padrinho apareceu em 
casa com um, o Game 10 produzido pela japonesa Casio, que 
trazia um divertido joguinho de nave. Quase inacreditável era a 
existência de um relógio, algo tão pequeno e delicado, que 
pudesse proporcionar a experiência de jogar. Está certo que o 
jogo em questão não era nada complexo, mas – o relógio – 
cumpria o propósito para o qual foi feito além de mostrar a hora: 
divertir. Enquanto jogador, você precisava destruir ondas de 
discos voadores inimigos no comando de um foguetinho. Havia 
dois botões em uma das laterais do relógio, um controlava o 
movimento do foguete e o outro disparava raios laser. Se o 
disparo do foguete atingisse o tiro do disco voador, ambos se 
 
17 
 
anulavam e a ação recomeçava, se fosse certeiro, o OVNI era 
eliminado e a dificuldade subia – existiam 9 níveis nos quais a 
velocidade de disparo do disco voador aumentava 
progressivamente. Havia também uma fase de bônus em que o 
inimigo podia ser alvejado livremente enquanto se movia de 
forma um tanto frenética. 
 Creio até ser desnecessário dizer, mas quem levava um 
relógio daqueles à escola era sumariamente perseguido de 
maneira implacável à hora do recreio – como eram barulhentos, 
por causa dos efeitos sonoros da batalha espacial, não dava para 
jogar durante a aula, mas garanto que muita criança tentou!Posteriormente apareceram outros modelos da Casio, lembro-me 
do Game 30, que trazia um jogo de submarino de mecânica 
semelhante ao Game 10. Cheguei a tê-lo, mas confesso que era 
menos divertido, soava como “mais do mesmo”. Depois 
apareceu o Game 40, este sim mais complexo com um curioso 
jogo de pirâmides, lembro-me até de uma propaganda de TV na 
qual as pirâmides se movimentavam rapidamente. No meu caso, 
acredito que meus pais não permitiam que eu levasse os meus 
relógios ao colégio, então, brincava com eles em casa apenas. 
 
 
18 
 
Em 1982, um pouquinho depois, em uma época em que 
eu cursava Catecismo em uma igreja perto de casa, meu 
padrinho (sempre ele!) apareceu, num sábado, com uma 
caixinha retangular colorida na qual se via a foto de um 
aparelhinho cheio de botões e uma tela. Olhei para a caixa, meio 
sem entender, e perguntei ao Tio Zé se aquilo era uma TV 
portátil, pois ouvíamos falar de televisores portáteis em notícias 
que vinham do exterior. Eis que meu padrinho diz algo do tipo: 
“Não, é um joguinho portátil, é uma novidade, abra!”. Ao abrir a 
caixinha, deparei-me com o jogo Turtle Bridge, um minigame 
da série Game & Watch, produzido pela Nintendo, lançado 
naquele mesmo ano. O joguinho era bem bonito, com partes 
metalizadas e botões de borracha, e vinha acompanhado de um 
igualmente belo manual de instruções. Baterias colocadas, 
conforme as orientações de meu padrinho, e a jogatina 
começava. É difícil descrever, olhando-se para aquilo com a 
mentalidade de hoje, como aquele aparelhinho era divertido! 
Controlava-se um bonequinho que precisava transportar o que 
pareciam ser sacos de alguma espécie à margem oposta de um 
rio e, para tanto, ele precisava saltar sobre tartarugas 
enfileiradas. Ocorre que elas não paravam quietas, ora 
 
19 
 
emergiam, ora submergiam para apanhar peixes, o que tornava a 
empreitada em algo bem difícil. Era preciso planejar com 
cautela o uso da “ponte de tartarugas”, motivo que dava título a 
um joguinho cuja imagem era gerada pela tecnologia de cristal 
líquido. Turtle Bridge, em última instância, era bem mais 
divertido que o TV-Jogo 3, o telejogo que eu tinha desde 1979... 
e ainda era portátil! 
A Nintendo produziu vários modelos da série Game & 
Watch, inclusive o super popular Donkey Kong, uma verdadeira 
febre à época cuja ação se desenrolava em não uma, mas em 
duas telas sobrepostas. Eu gostava tanto do meu que o carregava 
a todo canto e, se não se trata de um caso de falsa memória, tive 
a cara de pau de levá-lo a um evento de cães do Kennel Clube 
Paulista (mamãe adorava inscrever nosso cão Akita naqueles 
eventos) em que, ao invés de prestar atenção à exposição, eu não 
parava de jogar. Lembro-me também de ter outros jogos da série 
Game & Watch à época: Fire, Octopus, Fire Attack, Oil Panic, 
Donkey Kong Jr. e Donkey Kong II. Com o sucesso, outros 
fabricantes japoneses produziram minigames, empresas como a 
Tomy e a Tiger, por exemplo, que trouxeram jogos igualmente 
interessantes. 
 
20 
 
A primeira fase (sem trocadilhos!) em que os jogos 
começavam a aparecer no cotidiano dos brasileiros foi bem 
interessante. Tudo era inédito e carregava o frescor da novidade: 
as coisas que a gente lia em revistas e jornais, as notícias que 
chegavam de fora, os boatos (alguns infundados), o 
“concunhado do tio-avô de um primo” que havia trazido um 
computador poderoso dos Estados Unidos, com jogos incríveis, 
ou algo parecido... A imaginação da gente, é preciso salientar, 
parecia não ter limites. Aos poucos aquelas histórias 
aumentavam e aumentavam, e, ao contrário do “concunhado do 
tio-avô”, elas começavam a chegar mais perto de nós – um tio 
ou um primo às vezes aparecia com novidades legais. 
Alguém de posses ou com um emprego favorável, como 
aeromoça ou comissário de bordo, trazia videogames quando 
voltava de alguma viagem principalmente dos Estados Unidos, 
uma das vias de entrada mais populares. Meu irmão Mauricio 
contava o caso de um dos tios por parte de mãe, dono de uma 
agência de seguros, que trouxe um Atari com vários cartuchos 
de Miami ou de outra cidade americana qualquer. A família, 
incluindo sobrinhos e sobrinhas, reunia-se para jogatinas aos 
finais de semana. 
 
21 
 
Paulatinamente ouvia-se os nomes de marcas 
estrangeiras, tais como Atari e Odyssey, em rodas de conversas 
de pessoas um pouco mais velhas, portanto, a gente acabava 
“pescando” uma coisa aqui, outra coisa ali... Além de ouvir, eu 
lia a respeito. Lia bastante. Papai e meu padrinho compravam 
algumas revistas para mim, em especial a Video News e a Micro 
& Video, voltadas a todas as novidades eletrônicas e 
tecnológicas. Meu amigo jornalista Mauricio Bonas, em 
entrevista à revista Jogos 80, chamou aquele formato especifico 
de publicação, muito comum naquele tempo, de “revistas para 
novidadeiros”. De fato, elas costumavam trazer informações e 
notícias acerca de filmes em vídeo (o VHS estava no auge das 
fitas piratas), fotografia, filmagem, microcomputadores (uma 
grande novidade, ninguém praticamente os tinha em casa) e 
assuntos correlatos. Com o sucesso dos videogames no exterior, 
nada mais natural que as editoras se interessassem pelo tema. 
Naquelas páginas e também em jornais, como a Folha de São 
Paulo, comecei a saber da existência de um mundaréu de coisas 
que não haviam chegado ao Brasil, pois vivíamos sempre 
atrasados. 
A curiosidade aumentava! 
 
22 
 
Os Primeiros Videogames 
 
No ano de 1983, eu brincava com alguns Game & Watch 
e com dois relógios da Casio, contudo, o TV-Jogo 3 já havia 
sido posto para descansar, de minha parte o interesse por ele 
caiu a praticamente zero. Acredito até que tenha sido dado a 
alguém. Enfim, em conversa com meu padrinho, certa vez ele 
me falou de um aparelho da Philips que seria – ou que havia 
sido – lançado, muito provavelmente porque assistiu à 
propaganda televisiva do Odyssey, preparada pela Philips do 
Brasil. Interessado, eu me recordo de ter perguntado sobre os 
jogos, ao que a empolgada resposta mencionava “jogos de todo 
tipo, tudo o que você quiser, de carros de corrida, aviões, etc.”. 
Conforme citei no início deste livro, faço aniversário no fim de 
março, mas acredito que em abril, mês de lançamento do 
produto, tio Zé apareceu em casa com um Odyssey. A 
embalagem era linda, a caixa do videogame trazia ilustrações 
bem coloridas, o grafismo das letras transmitia uma sensação de 
futurismo, em outras palavras, tudo era muito caprichado. 
Rapidamente abrimos o pacote. O teclado alfanumérico, um dos 
 
23 
 
destaques dados ao console na campanha publicitária, logo 
saltou aos olhos, eu tinha em mãos o aparelho mais lindo já 
visto em minha curta vida. Meu padrinho trouxe alguns 
cartuchos com o videogame, acredito que OVNI!, Come-Come! 
e Conflito Cósmico! Conectamos o Odyssey à TV do quarto 
dele e foi só alegria por bastante tempo! 
Os jogos que vinham de brinde também eram divertidos. 
Lembro-me de uma passagem em que, jogando Cryptologic! 
com meu irmão Mauricio, escolhi o nome de um dinossauro que 
eu adorava à época, o Triceratops. No jogo em questão, o 
jogador escolhia uma palavra e a digitava, o Odyssey a 
embaralhava na tela e o oponente precisava descobri-la – era um 
dos títulos que faziam uso do alardeado teclado. Depois de 
várias tentativas, meu irmão não conseguia mesmo adivinhar, 
mas, esperto que era e me conhecendo bem, passou bastante 
perto: “Poxa, está difícil, você não colocou o nome de um 
daqueles dinossauros, né? Não é aquele Tricerataurus?”. Quase, 
Mauricio! Quase! No fundo, a Philips tinharazão de alardear o 
teclado, ele proporcionava interações divertidas entre as 
pessoas. Outro detalhe de que me lembro: o cheiro dos 
cartuchos era bem característico – muito provavelmente devido 
 
24 
 
à tinta utilizada nos caprichados manuais de instrução. Todo 
cartucho carregava aquele cheiro gostoso e marcante... 
Ao longo daquele ano, ganhei outros jogos do Odyssey, 
tais como Golfe!, que eu adorava, Pegue o Dinheiro e Corra!, o 
incrível Senhor das Trevas! e o divertido Didi na Mina 
Encantada!, o qual se provou uma tremenda jogada comercial da 
Philips. Assim como toda criança brasileira, eu adorava os 
Trapalhões e sempre os via aos domingos na Globo. Imaginar 
que eu controlava o Didi Mocó na tela do televisor (a mesma, 
aliás, em que eu assistia ao programa), por mais ingênuo que 
possa parecer hoje, constituía um diferencial, um fator extra de 
diversão. 
Na época do Odyssey, eu sequer sabia da existência das 
chamadas locadoras, além disto, meus amigos da escola não 
tinham o console, portanto, eu apenas brincava com meus 
próprios cartuchos – e confesso que era uma diversão um tanto 
solitária. Ainda sobre os jogos, a gente percebia uma notória 
evolução em relação aos telejogos e aos minigames, a imagem 
era colorida, escutávamos efeitos sonoros um pouco mais 
complexos e o gameplay apresentava maior desafio. 
 
 
25 
 
Outro detalhe curioso de que ninguém parece se lembrar: 
na TV Gazeta de São Paulo, no horário da tarde, havia um 
programa de videoclipes que precedeu a MTV em muitos anos. 
Acredito que o “Realce” possa ter sido o primeiro do gênero, ele 
era apresentado por uma dupla, o humano Beto Rivera e o 
boneco Capivara, uma espécie de Muppet que só fazia bagunçar 
com piadas de gosto duvidoso e provocações diversas. Lembro-
me de que eles sorteavam bonecos do Come-Come, produzidos 
oficialmente pela Philips do Brasil, e cartuchos do Odyssey, ou 
seja, a atração era patrocinada pela fabricante do videogame. 
Curiosidade: assisti, entre tantos outros, a um clipe da Madonna 
quando a cantora foi anunciada no programa como 
“lançamento”, uma novidade no exterior. Agora me senti mais 
velho que o Matusalém! 
Durante o ano de 83, cada vez mais o Atari se tornava 
assunto da imprensa e das rodas de amigos e familiares. Eu 
costumava saber das novidades em revistas e jornais, e ficava 
curioso. Tomando por base meu Odyssey, eu imaginava como 
seriam os jogos do videogame da Warner, imaginação esta que 
se tornava ainda mais fértil quando meu irmão tecia comentários 
 
26 
 
do tipo: “Os jogos são mais coloridos, tem muito mais cartucho 
que o seu videogame, é bem mais legal”. 
Em meados de setembro, soube que meu amigo Marcelo 
(há bastante coisa sobre ele neste livro!) havia pedido um Atari 
de Dia da Criança aos pais, mas, segundo ele, a procura parecia 
ser tão grande que havia fila de espera nas lojas. Isto mesmo, 
fila de espera, ou seja, nada de pronta entrega! Voltando alguns 
meses no tempo, meu amigo era uma pessoa de opinião, pois, 
apesar do lançamento do Odyssey na UD em abril, ele 
deliberadamente preferiu esperar pelo console da Polyvox. 
Embora menino, ele já era decidido! Algumas semanas se 
passaram e o assunto do Atari ficava cozinhando em minha 
cabeça, é até vergonhoso dizer, mas eu já não olhava o Odyssey 
com os mesmos olhos. Agora... Tentem adivinhar o que 
aconteceu... Não é difícil... Claro que pedi um Atari de Natal! 
Surpreendentemente, o pedido seria atendido se eu passasse de 
ano, o que estava garantido, contudo, havia uma “pegadinha” ao 
estilo das letras pequenas no rodapé de um contrato suspeito: eu 
teria que concordar em vender o videogame antigo – que de 
antigo não tinha nada, eu o tinha ganhado fazia pouco mais de 
seis meses! Nas cabeças dos adultos, dos pais da gente, possuir 
 
27 
 
dois consoles era inconcebível... Enfim, no meio tempo, o 
Marcelo recebeu um telefonema da loja para que retirasse o 
Atari reservado. E eu? Bem, eu precisaria esperar até o dia 24 de 
dezembro, véspera de Natal. 
O dia de comprar o tão desejado Atari chegou. Como 
não acreditava mais em Papai Noel (pudera, eu já tinha 10 anos 
de idade!), tive o prazer de acompanhar a compra do videogame 
ao lado de papai e de meu padrinho, sendo assim, tomamos um 
táxi em frente de casa e fomos à cidade (jeito paulistano de dizer 
que íamos ao centro). Primeiro compramos o Atari propriamente 
dito, adquirido no antigo magazine Mappin da Praça Ramos, 
imponente e tradicional loja de departamentos de São Paulo que 
não existe mais. O lugar estava cheio em dezembro, lembro-me 
da cor predominante das paredes na seção de videogames, tudo 
em vermelho (ou seria laranja?). Outra coisa da qual me lembro: 
meu padrinho retirando – literalmente – um bolo de dinheiro do 
bolso para efetuar o pagamento, pois ele não trabalhava com 
cheques, e cartões de crédito, naquela época, nem pensar! 
Retiramos o videogame em um balcão, porém, não encontrei na 
loja a maioria dos jogos pelos quais procurava. Se bem me 
recordo, eles só tinham cartuchos oficiais Atari, nada de jogos 
 
28 
 
de outras marcas, os chamados cartuchos “clones”. Acontece 
que meu irmão Mauricio compilou uma listinha dos que seriam, 
na avaliação dele, os melhores títulos jogados na casa daquele 
tio abastado sobre quem já comentei, jogos da Activision não 
licenciados pela Polyvox. O jeito era procurar em outras lojas... 
Saímos com o Atari debaixo do braço, mas levamos também 
Space Invaders e, acho, Berzerk ou Pac-Man – da Polyvox. 
Partimos pela rua Conselheiro Crispiniano, adjacente ao 
Mappin, à caça dos outros cartuchos com a listinha em mãos, eu 
ainda tinha esperança de achá-los. Entramos na Fotóptica, uma 
rede de lojas de fotografia que também vendia eletrônicos e 
artigos correlatos, e encontramos os jogos desejados: River 
Raid, Seaquest, Enduro... Curiosamente, os cartuchos eram da 
marca Canal 3, lembro-me bastante das embalagens, eram 
bonitas, vistosas e coloridas. Fiquei muito contente, contente 
mesmo, pois teríamos – é claro, eu pretendia chamar meu irmão 
– diversos cartuchos naquele Natal. Voltamos para casa no 
finzinho da tarde, mas o Atari já tinha um destino selado: 
repousar quietinho, embalado e acompanhado de outros 
presentes, sob a árvore, à espera da meia-noite de 24 de 
dezembro. Sem exceções, podia chorar, espernear, gritar... 
 
29 
 
Costume era costume! Passei a véspera de Natal ansioso, andava 
para lá e para cá, ocupava a cabeça com outras coisas, mas o 
tempo não passava... O relógio da cozinha parecia zombar de 
mim: “Ei, menino, vai lá, olha lá seu Atari debaixo da árvore, 
está lá embrulhadinho, mas ó, você não pode abrir, hein?”. 
Relógio, veja se eu estou na esquina! 
Enfim chegou a meia-noite! Após os cumprimentos de 
praxe, eu (aos 10 anos de idade) e meu irmão (aos 18) corremos 
para abrir o Atari! Foi a maior festa! O Mauricio ligou o 
videogame no quarto do meu padrinho, conectou-o a uma TV de 
20 polegadas somente para ver se tudo funcionava 
perfeitamente. Apreciei a beleza da embalagem, colorida e cheia 
de imagens de jogos, fotos e ilustrações, e olhei atento a cada 
item que dela era retirado: manual, catálogo, papelada de 
garantia, os joysticks, o cartucho-brinde (Missile Command) e o 
Atari em si, não tão bonito esteticamente quanto o Odyssey, mas 
igualmente chamativo e estiloso. Fiquei maravilhado com a 
qualidade dos jogos, os primeiros cartuchos vistos – e jogados – 
foram River Raid e Missile Command, contudo, tivemos de 
parar porque era hora da ceia em família. Com a barriga cheia, 
jogamos mais um tanto e fomosdormir. O legal mesmo 
 
30 
 
aconteceu no dia seguinte, o dia de Natal: o Atari foi instalado 
em meu quarto, passamos horas e horas jogando. O Mauricio 
pousou em casa por uma semana (ele não morava comigo, mas 
com a mãe) porque a “febre do Atari” havia nos contagiado, 
ninguém queria parar de jogar, estávamos completamente 
alucinados. Quando digo que jogávamos o dia todo não há 
exagero na afirmação: é verdade, jogávamos da hora em que 
acordávamos até a hora de ir para a cama à noite. Ele anotava os 
recordes em um bloquinho de papel, era imbatível, implacável, 
parecia conhecer todos os segredos e macetes daqueles jogos. 
Acredito que a diferença de idade entre nós, oito anos, contava a 
favor dele no quesito destreza. 
A interminável jogatina precisou ser interrompida 
porque meus pais queriam passar as férias de janeiro e fevereiro 
de 84 no litoral. No ano anterior, eles compraram uma casa de 
veraneio na cidade de Mongaguá, não tão distante da bem mais 
conhecida Santos. Eu esperneei, briguei, reclamei, chorei, 
conclamei, mas... Não teve jeito! Não pude carregar o Atari 
conosco na viagem, queriam que eu me divertisse à moda antiga 
na praia, ou seja, banhos de mar, empinar pipas e andar de 
 
31 
 
bicicleta eram as atividades em vista. O destino, porém, viria me 
salvar... 
Havia uma menina na rua de cima, a Natalia Alvarez, 
cujo irmão mais velho também havia recebido um Atari de 
Natal, o Alexandre, um rapaz muito simpático que, acredito, 
fosse quase da mesma idade do meu irmão. Mais sobre o 
Alexandre em um instante. Quando em Mongaguá, mamãe 
gostava de passear em uma cidade vizinha, Itanhaém, mais 
urbanizada e um tiquinho maior. Andávamos pelo centro e por 
um calçadão, tomávamos sorvete na Kapilé e olhávamos as 
lojas. Em uma daquelas andanças na rua João Mariano, bati os 
olhos na vitrine de uma loja de roupas e notei um solitário 
cartucho de Atari rodeado de maiôs e calções. Um cartucho de 
Atari em uma loja de roupas? Sim! Era o destino! Mamãe entrou 
na loja – vim a saber, com a ajuda de um amigo de Itanhaém, 
que se tratava da Miris Boutique – para ver um maiô, ao que 
prontamente a atormentei para que comprasse o cartucho (da 
marca Star Game), afinal, o Atari do Alexandre estava 
disponível. Dito e feito, no mesmo dia, já de volta a Mongaguá, 
o presente foi parar no videogame dele! Aliás, foi na casa da 
 
32 
 
Natalia que vi, pela primeira vez, um dos jogos que se tornou o 
favorito de muita gente: Keystone Kapers. 
 
Jogos do Atari que eu mais joguei à época – 
entre 1983 e 1986 (em ordem alfabética) 
 
Asteroids 
Atlantis 
Decathlon 
Demon Attack 
Enduro 
H.E.R.O. 
Jungle Hunt 
Keystone Kapers 
Megamania 
Miner 2049er 
Moon Patrol 
Moonsweeper 
Pole Position 
Pressure Cooker 
River Raid 
Seaquest 
 
Ainda em Mongaguá, eu tive a chance de frequentar um 
tipo de diversão eletrônica que representava o local “sagrado” 
 
33 
 
para aqueles que adoravam jogos. Nossos pais não gostavam 
que fôssemos a tais lugares, pois segundo os mais velhos, neles 
havia uma desafortunada mistura de tipos indesejáveis: 
desocupados, desempregados, delinquentes e viciados. Claro 
que existia um grande exagero na forma como pais e mães 
encaravam aquela nova diversão fora de casa, nem todos os 
fliperamas estavam cheios de “maus elementos”. Aquelas casas 
de jogos estavam cheias sim, mas de máquinas de arcade – e 
também dos chamados pinballs. 
Bastava adentrar o recinto para que tivéssemos nossos 
sentidos invadidos por sons, luzes e músicas. O conjunto de 
sensações novas que experimentávamos vinha de uma única 
fonte: aparatos eletrônicos ímpares que nos desafiavam como 
nenhum outro. Àquela altura, nada que possuíssemos em nossas 
casas, fossem videogames ou computadores de última geração, 
conseguia competir, em termos de qualidade gráfica, sonora e 
jogabilidade, com os jogos de fliperama – e estar ali, naquele 
ambiente “corrompido”, sujo e mal frequentado, constituía a 
única maneira de que dispúnhamos para jogá-los na plenitude. 
Falo de maravilhas como Moon Patrol, Defender, Berzerk, 
Scramble, Elevator Action, Time Pilot, Mil Milhas (Pole 
 
34 
 
Position), Pleiads, Donkey Kong, Pac-Man, Exerion e tantos 
outros títulos que povoavam nossos sonhos. 
Tudo, porém, parecia conspirar contra nós: o tempo de 
diversão era escasso, pois geralmente nosso acompanhante, um 
adulto, logo queria ir embora; o passaporte para a nossa 
felicidade, as fichas, também acabava limitado ao dinheiro que 
tínhamos, conseguido com muito custo, para investir naquela 
diversão; o nível de dificuldade das máquinas se mostrava bem 
mais alto se comparado ao das versões domésticas com as quais 
estávamos acostumados; em outras palavras, a coisa toda 
acontecia muito rapidamente, a experiência era efêmera e 
parecia escorrer por nossos dedos. Outro detalhe é que as 
máquinas eram grandes (em comparação ao tamanho de uma 
criança), ameaçadoras e pareciam guardar uma espécie de 
inteligência, um instinto que se manifestava quando inseríamos 
a ficha. Era como se fôssemos atraídos pela mensagem Insert 
Coin, apresentada na tela, e levados a um mundo em que, por 
mais habilidosos que fôssemos, não teríamos chance de vencê-
las. Naquela plenitude incrível de imagens e de sons, os jogos de 
arcade somente se manifestavam lá, verdadeiro templo onde 
reinavam supremas: o fliperama. E pareciam zombar da gente! 
 
35 
 
De volta a São Paulo, ainda no início de 84, em um 
período em que as aulas já haviam começado, papai chegou com 
uma notícia super legal: “Você sabia que abriu um negócio 
desses de videogame na Lins, lá perto da casa da avó?”. 
“Negócio de videogames?”, respondi. “Sim, eles emprestam 
jogos acho, vamos lá ver?”, foi a resposta de meu pai. Claro, 
não é? Que pergunta! Fomos a pé ao local, pois era próximo de 
casa, em realidade, ficava perto da casa da minha avó e da 
minha tia, mais precisamente no bairro Jardim da Glória. 
WarGames Vídeo, este era o nome da primeira locadora 
de videogames – e de filmes – que tive a chance de ver. 
Funcionava em um sobrado na avenida Lins de Vasconcelos, 
número 2.340, a caminho da Vila Mariana. O pavimento térreo 
continha a parte de jogos, no andar de cima se encontravam as 
fitas de vídeo, a maioria, acredito, já no padrão VHS. No alto de 
meus quase 11 anos de idade, a locadora parecia ser imensa, 
gigantesca. Ao lado esquerdo, se bem me lembro, havia uma 
espécie de fichário preso à parede no qual dezenas de 
"fichinhas" coloridas pairavam imóveis até que fossem 
escolhidas por alguém. Acredito que as fichas eram divididas 
em temas (ação, corrida, esportes etc.) e elas traziam nome e 
 
36 
 
uma breve descrição de cada cartucho de Atari à disposição em 
dado momento – se determinado título não constasse das fichas, 
o cartucho estava alugado. Pode-se dizer que se tratava de um 
sistema simples, mas funcional. Para fins de transporte, os jogos 
eram acondicionados em pequenas caixas plásticas cujo cheiro 
era bem característico, ainda sou capaz de senti-lo com minha 
memória olfativa! 
Papai e eu fomos à WarGames por bastante tempo. A ida 
à locadora era praticamente um ritual de todas as sextas-feiras 
após o colégio. A perua escolar me deixava em casa, 
almoçávamos e íamos para lá, mas às vezes íamos antes do 
almoço. Lembro-me de ter alugado diversos cartuchos, eis 
alguns dos que guardo na memória: Atlantis, Bank Heist, Flash 
Gordon, Superman, Spider-Man, Moonsweeper e Decathlon. 
Saliento que descobri estes jogos com as locações, eles eramnovidade naquele momento, inéditos! Às segundas, eu ia à 
escola e papai à locadora para efetuar a devolução. Curiosidade: 
a seção de filmes em VHS, no segundo andar, vivia repleta de 
pôsteres de filmes. Eu sempre admirava um do primeiro Mad 
Max, cobicei-o bastante, só faltava a coragem ou a cara de pau 
de pedi-lo ao dono. 
 
37 
 
Aquela locadora constituiu um lugar em que várias 
“primeiras vezes” aconteceram comigo, outro caso tem a ver 
com um cartucho do videogame que eu mais desejei na infância, 
um aparelho inatingível por uma série de motivos, mas mais 
especificamente devido ao alto preço: o ColecoVision. Certa 
vez, acredito que por motivos de decoração, vi lá o cartucho do 
jogo Zaxxon sobre uma prateleira, fato que aguçou ainda mais o 
meu desejo. O Coleco, como o chamávamos, assombrava 
devido à qualidade gráfica e sonora em comparação com a 
concorrência, a grande maioria dos lançamentos eram 
conversões domésticas de títulos favoritos do fliperama. Eu via 
e revia as telas dos jogos (as screenshots), lia e relia as 
respectivas análises feitas pela Micro & Video, nutrindo sempre 
a esperança de ter um. Calma! Esta história ainda não acabou! 
Só não revelarei ainda se o final foi feliz... 
Muitos amigos do Macedo Vieira iam jogar em casa: 
Rodrigo Gondo, Thomas Lee, Luis João S. Silva, Emerson 
Inada, Helton Goshima, Robert Takanami... As brincadeiras 
favoritas eram jogar bola no quintal, Playmobil e, claro, o Atari! 
 
38 
 
Os Primeiros Microcomputadores 
 
Microcomputadores também eram considerados como 
uma novidade no começo dos anos 80, aquelas máquinas 
maravilhosas estavam, diferentemente do que acontece hoje, 
longe de fazer parte do cotidiano das pessoas. Muito pouca 
gente – ou, melhor dizendo, quase ninguém – tinha um em casa 
naquela época. A primeira vez que ouvi falar de um computador 
aconteceu provavelmente em 1984 e foi ou pela boca do amigo 
que citei algumas páginas atrás, o Marcelo Bignardi Jarretta, 
neto do melhor amigo do meu pai, ou por meio de algum 
telejornal, jornal ou revista. A primeira oportunidade em que vi 
um ao vivo, contudo, não deixa dúvida: aconteceu na casa do 
Marcelo (agora sim!) quando ele pegou emprestado um CP200 
(clone nacional de um computador britânico, o ZX81) de um 
primo mais velho, um equipamento fabricado pela empresa 
Prologica. Ele digitava um programa na linguagem BASIC que, 
se bem me lembro, fazia um carrinho se movimentar 
horizontalmente pela tela. Entusiasmado, ele explicava alguns 
dos comandos que, para mim, faziam lembrar palavras 
 
39 
 
complicadas em inglês. A possibilidade de criar, de provocar 
alguma reação proposital na tela, em oposição ao “passivo” 
videogame, encantava e aguçava a imaginação. 
Mais ou menos naquele período, eu costumava assistir a 
um programa televisivo, o “Bits and Bytes”, exibido pela TV 
Cultura de São Paulo e que, de maneira bem didática, explicava 
em termos leigos o mundo do computador – desde o processo de 
ligá-lo à tomada ao uso propriamente dito. Estrelavam um 
senhor, o “leigo”, e uma senhora, a “entendida”, e o cenário era 
composto de computadores de várias linhas diferentes, tais 
como o Atari 800 e o Apple II. Curiosidade: uma produção 
canadense, ele foi dublado em português pelo estúdio BKS. Eu 
adorava, procurava não perder um episódio sequer! Outro do 
gênero do qual me lembro é o Globo Informática, uma produção 
da Rede Globo sobre o mundo dos microcomputadores, mas 
com enfoque maior no Brasil. Apesar das revistas e dos 
programas de TV, nada me prepararia para o choque de ver o 
próximo microcomputador ao vivo, algo que mexeria muito 
comigo, um divisor de águas em minha vida. 
Acredito que aconteceu em abril de 1984 e o palco foi a 
UD, a Feira de Utilidades Domésticas que acontecia todos os 
 
40 
 
anos no Anhembi, um centro de convenções/exposições muito 
famoso e popular em São Paulo. Como de praxe, lá eram 
apresentadas novidades tecnológicas de uso doméstico em 
primeira mão, as pessoas esperavam bastante para ir à UD, já 
que podiam analisar e decidir futuras compras para o lar. Entre 
geladeiras, sofás, televisores e utensílios para casa, os 
microcomputadores brasileiros também foram mostrados aos 
ansiosos visitantes. 
Mamãe adorava ir à UD e eu, que também não era nada 
bobo, a enchia para que fôssemos logo no primeiro dia. 
Andando calmamente por entre os corredores e olhando os 
estandes, repentinamente meus olhos foram atraídos para uma 
tela verde na qual, o que parecia ser um lutador de caratê (com 
direito até ao quimono), caminhava cuidadosamente e golpeava 
o adversário tendo um cenário japonês ao fundo. Os “bonecos” 
iam para frente e para trás, socavam e chutavam em uma curiosa 
dança de pixels que me hipnotizou. Além da luta de 
demonstração, havia uma espécie de filme ou apresentação, via-
se um samurai interagir com lutadores e com uma garota, talvez 
prisioneira. Eu não havia visto nada assim! Nada! Aproximei-
me, porém, eu não conseguia tocar no computador, ele estava 
 
41 
 
isolado dentro do estande de uma empresa ou loja. Permaneci ali 
hipnotizado, mesmo com o barulho típico de um evento daquele 
porte, por não sei quanto tempo para assistir ao que, em 
comparação ao Atari que eu tinha em casa, era um desenho 
animado. Esperei a chegada de um funcionário para, quem sabe, 
permitir que eu chegasse mais perto ou jogasse, porém, sem 
sucesso. O nome daquele jogo? Karateka. O computador? Um 
clone nacional do Apple II, provavelmente um Craft II. Ambos 
os nomes ficariam rolando em minha cabeça por meses... 
Curiosidade sobre a UD daquele ano: a organização da feira 
criou um brinde na forma de estacionamento grátis no Anhembi, 
bastava que a placa do carro do visitante se iniciasse pelas letras 
UD – justamente a placa do carro que tínhamos à ocasião, uma 
Brasília. Poxa! Além de Karateka, estacionamento grátis! 
Em um dia qualquer daquele mesmo ano o telefone 
tocou em casa. Atendi. “Ganhei um computador! Você precisa 
vir aqui ver, tem jogos muito divertidos, melhores que o Atari!”, 
disparou excitado meu amigo Marcelo (de novo ele!). Desliguei 
o telefone e tratei de visitá-lo logo, pois o convite ficaria 
martelando em minha cabeça. Ao chegar lá, eu fui apresentado a 
um certo TK2000, um equipamento produzido pela empresa 
 
42 
 
paulista Microdigital, fabricante do TK83 e do TK85, 
computadores da linha Sinclair. Meu amigo tinha aulas de 
Computação no Arquidiocesano, colégio tradicional de São 
Paulo em que estudava, e o laboratório de Informática da escola 
era equipado justamente com microcomputadores daquele tipo, 
portanto, o Marcelo pediu aos pais que lhe dessem um para que 
pudesse praticar em casa – e, claro, jogar! Com o micro, ele 
ganhou, creio, o gravador National RQ-2222, o modelo prateado 
que se tornou o favorito dos “computeiros”. Além de digitar 
programas do curso e de listagens que vinham em revistas (mais 
sobre isto adiante), carregavam-se jogos armazenados em fitas 
cassetes, mídia barata que era uma alternativa aos caros 
disquetes. 
Algumas empresas nacionais, as famosas softhouses, 
pirateavam jogos criados no exterior, alteravam nomes de 
fabricantes e traduziam para o português algumas inscrições na 
tela, tais como score para pontos – tudo, de certa forma, 
“salvaguardado” por políticas protecionistas do país como a 
reserva de mercado. A Plan-Soft era uma das mais famosas, mas 
a própria Microdigital lançou uma linha de programas sob o selo 
Microsoft. Naquele dia, voltei para casa e a primeira coisa que 
 
43 
 
falei ao entrar foi: “eu queroum TK2000!”. Certo, vai continuar 
querendo! 
A proximidade da temporada de compras do Natal 
trouxe propagandas televisivas de novos produtos que 
chegavam. Um comercial que capturou minha imaginação foi o 
do Intellivision II, videogame que a Sharp do Brasil licenciou da 
Mattel Electronics e cujo primeiro modelo havia sido lançado no 
país em novembro do ano anterior. Confesso que, apesar de ter 
ouvido falar dele anteriormente, desconhecia realmente o 
console, ninguém que eu conhecesse o possuía. A propaganda 
de TV em questão, que dava destaque ao jogo Burgertime, 
atiçou minha vontade de conhecer o aparelho da fabricante da 
Barbie. Embora não o tivesse visto ao vivo, eu lia sobre ele com 
frequência na Micro & Video e na Video News, e em uma 
jogada de puro “blefe”, pedi um de Natal aos meus pais e ao 
meu padrinho. Será que o blefe daria certo? Seria eu um bom 
jogador de pôquer? Como diz a expressão, “o não está 
garantido”, por isso não custa tentar. 
Minha família, meio a contragosto, resolveu me 
presentear com um Intellivision II no Natal de 84, afinal, 
novamente passei de ano direto, não fiquei de recuperação (a 
 
44 
 
coisa ia se complicar no ano seguinte, mas isto não vem ao 
caso). Nesta época, o Odyssey que ganhei no ano anterior já 
tinha sido vendido – acho – via jornal Primeiramão, o TV-Jogo 
3 foi dado a alguém e o Atari da Polyvox corria “risco de vida”, 
porque, conforme meus pais pensavam, qual era a necessidade 
de se ter dois videogames em casa? Adultos têm tanta 
dificuldade de enxergar o óbvio... Quanto mais, melhor! Partiam 
de novo os “três mosqueteiros”, papai, eu e meu padrinho, em 
direção à cidade, mas acredito que fomos direto à Cinótica, 
tradicional do comércio de São Paulo cujo endereço era a 
famosa “Rua da Fotografia”, a Conselheiro Crispiniano, 
próxima ao Mappin. Aquela loja era incrível, eles pareciam ter 
um pouco de tudo: máquinas fotográficas diversas, lentes de 
vários tipos, filmes, telescópios e binóculos, mas também vendia 
equipamentos eletrônicos, tais como videogames e cartuchos. 
Lembro-me de que os consoles ficavam em um balcão 
envidraçado bem ao fundo e ao lado esquerdo de quem entrava. 
Confesso que ficávamos sem saber direito para onde olhar, 
tamanhas as opções de produtos, e uma coisa era mais legal e 
vistosa que a outra. 
 
45 
 
Pedimos o Intellivision ao vendedor e prontamente ele 
também nos mostrou alguns cartuchos, sendo que compramos 
Burgertime, Lock ‟N‟ Chase, Bump „N‟ Jump e algum outro, 
talvez o excelente Desafio Estelar, uma das obras-primas 
daquele sistema. Ainda em dezembro, já perto das festividades, 
mamãe e eu fomos dar uma volta na Lins de Vasconcelos, a 
mesma da locadora WarGames, mas no sentido oposto desta, 
pois a avenida era (ainda é) bem extensa e ia do bairro do 
Cambuci ao da Vila Mariana. Nos anos 80 o comércio da Lins 
era muito forte, existiam lojas de variados tipos de produtos 
além de doçarias, bancos e serviços, e minha mãe adorava 
caminhar a pé por aquela avenida à noite – comer um doce antes 
de ir para casa era tradição! Passamos em uma loja de que eu 
gostava bastante, a Colorcenter, uma espécie de Fotóptica em 
miniatura, já que, além de laboratório fotográfico, eles também 
comercializavam produtos de foto, vídeo e som. Lembro-me de 
ter comprado lá, já sabendo que seria presente de Natal de 
minha mãe, o jogo Shark! Shark! do Intellivision, título que se 
tornou um dos favoritos. 
A véspera de Natal de 84 foi parecida com a do ano 
antecessor. Quase tudo o que comentei sobre o Atari se aplica 
 
46 
 
ao Intellivision: embrulho sob a árvore, a espera, a ansiedade, a 
hora que não passava etc. etc. Quando soou a meia-noite, os 
familiares se cumprimentaram e, ao contrário de 83, não guardo 
lembrança se o Mauricio me ajudou a ligar o videogame, 
acredito que não. Recordo-me de ter acordado cedo na manhã 
do dia de Natal para, aí sim, ver os jogos com calma. De cara, os 
controles – em formato de disco – eram estranhos e bem 
diferentes dos joysticks tradicionais, mas a qualidade dos 
gráficos do videogame da Mattel saltava aos olhos, eles 
constituíam uma evolução perceptível em relação aos 
concorrentes da Philips e da Polyvox. Tinha-se a impressão de 
mais cores na tela em relação ao Atari, os desenhos eram 
maiores e, além de efeitos sonoros, alguns jogos traziam música. 
Assim como fizemos com o Atari um ano antes, meu irmão e eu 
realizamos diversas jogatinas, Mauricio se enamoraria do 
Intellivision e até se especializaria no Desafio Estelar (The 
Dreadnaught Factor), tendo se tornado exímio jogador daquele 
título da Activision. 
Passados alguns meses, tive outros cartuchos bem 
bacanas dos quais destaco Masters of the Universe: The Power 
 
47 
 
of He-Man, um campeão de qualidade gráfica baseado no 
desenho animado de mesmo nome exibido pela Rede Globo. 
 
Jogos do Intellivision que eu mais joguei à época – 
entre 1984 e 1986 (em ordem alfabética) 
 
Auto Racing 
Beamrider 
Burgertime 
Lock 'n' Chase 
Masters of the Universe: The Power of He-Man 
NASL Soccer (Futebol) 
Shark! Shark! 
The Dreadnaught Factor (Desafio Estelar) 
 
Lembram-se do TK2000, o microcomputador que citei 
algumas páginas atrás? Bem, atazanei tanto a minha família que 
finalmente o ganhei em algum momento entre o fim de 84 e 
meados de 85 (difícil ter certeza da data) usando a velha 
desculpa de que o equipamento também seria útil para outras 
finalidades fora jogar (apesar de verdade, meu interesse 
imediato eram os jogos). Lembro-me de que tomamos um táxi 
 
48 
 
em frente de casa e fomos, eu e meu padrinho, à Sears, uma 
antiga rede de lojas de departamento americana que operou no 
Brasil por um período, mas abandonou o país. A unidade para 
qual fomos, aliás, ficava onde hoje existe o Shopping Pátio 
Paulista. Compramos o micro, um gravador National RQ-2222, 
inclusive como indicação do vendedor, um joystick da própria 
Microdigital e algumas fitas cassetes com jogos. 
Ao voltar para casa, corri para ligá-lo à TV do meu 
quarto – a qual já prestava serviços ao Atari e ao Intellivision II. 
Conectei o gravador ao micro, preparei tudo (o Marcelo havia 
previamente me orientado) e carreguei alguns jogos, processo 
extremamente fácil. Não me recordo de quais títulos compramos 
na Sears, mas com o tempo cheguei a ter diversos cassetes para 
o TK2000: Multi Flipper, Papa Tudo, Ceiling Zero, Minotauro e 
Auto Estrada. 
Os jogos do TK eram uma evolução até mesmo sobre o 
Intellivision, além de gráficos superiores aos do console da 
Mattel, havia maior complexidade e profundidade em termos de 
enredo, alguns traziam “historinhas” e apresentações. 
 
49 
 
 
Agora... Lembram-se da historinha do Karateka, não? 
Pois bem, o Marcelo (ele merece um Oscar!) apareceu em casa, 
no meu aniversário do ano seguinte, com uma fita daquele jogo 
– da marca Plan-Soft – para o TK2000. Eu quase tive um treco, 
Como se carregava um jogo em fita cassete no computador? 
 
Com o TK2000 ligado, inseríamos a fita no gravador. De modo 
geral, o manual de instruções, além de conter uma breve descrição 
do jogo em questão e de como jogá-lo, trazia o comando a ser 
digitado no prompt do BASIC para que o carregamento 
acontecesse: LOADT. Na sequência, pressionávamos a tecla PLAY 
do aparato e logo a coisa toda, um processo que parecia mágico, 
começava. No rodapé da tela, ao lado esquerdo, aparecia um 
“conta-giros” (na realidade, um contador hexadecimal de blocos de 
bytes) cujo progresso aumentava até a marcação final, então, o 
programa “rodava”. Em algunscasos, fatores como desgaste do 
cassete, qualidade da gravação da fita ou regulagem do “azimute” 
do gravador podiam ocasionar erros, sendo assim, o programa não 
funcionava. O processo era lento, mas até favorecia a leitura do 
manual! Curiosidade: ao ouvir o áudio da fita (que curioso nunca 
fez isto?), a gente constatava: aquele som nada mais era que um 
ruído agudo e sem sentido, em realidade, ouvíamos os “bytes”... 
 
 
50 
 
não conseguia acreditar! Eu teria a chance, pela primeira vez, de 
brincar com o jogo dos sonhos que vi na UD – e na minha 
própria casa! Joguei tanto, mas tanto que acredito ter até gasto o 
coitadinho do cassete, incontáveis horas de combate se passaram 
e eu o finalizei por diversas vezes. Jogá-lo, na verdade, ficou 
fácil. Aliás, tive um amigo na escola, o Marcelo Berger, que 
adorava artes marciais e que, ao ver Karateka, ficou tão 
alucinado que não queria parar de jogar. Curiosidade: há pouco 
eu soube que a versão para o TK2000 foi adaptada da original 
em disquete para o Apple II, conversão feita pelo brasileiro Luis 
Nakanishi na Plan-Soft. Ele precisou realizar uma série de 
adaptações para que o programa funcionasse perfeitamente, já 
que o TK não era uma cópia exata do micro da Apple, mas um 
clone de uma variação chinesa deste, o Microprofessor II (MPF 
II). A mudança de disquete para fita deixou o jogo mais curto, 
ou seja, com menos oponentes e menos salas. Ainda assim, me 
diverti demais! 
O tempo passou... Em setembro de 85 fiz um curso de 
BASIC no colégio, um treinamento ministrado por uma escola 
de Informática, a Computrol, em parceria com o Externato 
Macedo Vieira. Em uma das salas, eles instalaram diversos 
 
51 
 
computadores CP300, da Prologica, bem como os respectivos 
televisores. O ambiente ficou super bacana. Embora eu já 
tivesse o TK2000 em casa, no qual digitava programas tirados 
de revistas, as famosas “listagens”, ou criava os meus, aprender 
com um instrutor de verdade foi mais eficaz. O curso durou de 
setembro a dezembro e ainda tenho o certificado de conclusão – 
carga horária de 15 horas! 
Os microcomputadores começavam a ficar um tiquinho 
mais populares e a chamar a atenção de “pessoas normais”, que 
os achavam interessantes. Aos poucos, “briguinhas” para ver 
qual linha era melhor se iniciavam nas escolas, discussões 
acaloradas à hora do recreio em que cada moleque procurava 
defender o seu micro ao citar, por exemplo, quantidade de 
memória RAM ou número de cores na tela. Soa como algo 
enfadonho hoje, mas aqueles bate-bocas, realizados por crianças 
de 10 ou 11 anos de idade, eram engraçados e até curiosos, 
acreditem em mim! 
 
 
52 
 
 
 
As "revistas para novidadeiros" sobre as quais comentei 
anteriormente, além de algumas publicações específicas de 
Informática, traziam, entre tantas coisas, as chamadas 
"listagens". Na grande maioria, elas continham linhas em 
BASIC que, se digitadas, rodariam um jogo ou um programa 
sem muita complexidade. Às vezes, parte do código vinha em 
outra linguagem, geralmente o Assembly, ou podia conter 
caracteres gráficos específicos de determinada plataforma. 
Aliás, havia seções dedicadas a cada linha de computadores do 
período: TRS-80, Sinclair, Apple II, TK2000 etc. Digitar as tais 
listagens, uma atividade que não era consenso quanto à 
diversão, acabava por ser uma forma de aprendizado, afinal, 
bastava alterar alguns parâmetros dos programas para que 
eles apresentassem comportamentos diferentes. Claro que, se 
as alterações fossem feitas ao acaso, elas resultariam em uma 
mensagem de erro na tela, algo como "ERRO NA LINHA 40". 
Outro fato costumeiro era que os próprios programas 
publicados contivessem erros ou falhas de impressão, não era 
nada incomum aos leitores que precisassem corrigi-los – 
corrigindo e aprendendo... A vida era dura naquela época! 
 
 
53 
 
Em algum momento entre meados de 85 e o início de 86, 
adivinhem quem – de novo – telefonou para mim com 
novidades? Darei uma dica... O nome começa com “M” e 
termina com “O”. Isto mesmo, o Marcelo! “Eu vendi o TK2000 
e ganhei outro computador, agora é um Apple II de verdade (ele 
pronunciava como “Eipôl”), é o Exato Pro”, despejando a 
bomba em meu ouvido. “Escuta só os sons”, posicionando o 
bocal do telefone ao lado do alto-falante do micro. “Este jogo é 
um de caça a jato, é o Skyfox”, emendando com “ouve o tema 
dos Ghostbusters, ó...”. Uma vez mais eu me dirigia à casa do 
Marcelo para “sofrer” com a novidade daquele menino que 
parecia insaciável no tocante à tecnologia. O resto do episódio 
pode ser um tanto óbvio... Tempos depois meu TK2000 acabou 
vendido ao “tio” da perua escolar, o senhor José Carlos, e daria 
espaço ao “Eipôl de verdade”, o tal Exato. 
A coisa aconteceu na tarde de um dia de semana de 86, 
provavelmente entre os meses de abril e maio. Depois do 
almoço, fomos eu, meu padrinho e meu amigo à Garra 
Computadores, uma loja de microcomputadores e artigos 
correlatos que se situava à rua Abílio Soares, número 775. O 
Exato do Marcelo foi comprado lá, portanto, ele os recomendou. 
 
54 
 
De cara, uma decepção: não havia aquele micro da CCE para 
pronta entrega, eu teria que esperar por uma reposição dos 
estoques. A saída era comprar um Apple II de outra marca, 
lembro-me de que vendiam o Craft II e, acredito, também um 
modelo da Milmar, sendo que ambos estavam em estoque. Meu 
amigo, contudo, convenceu-me a esperar pelo Exato, pois ele 
trazia a possibilidade de caracteres em português e teclado 
programável – em outras palavras, era superior aos 
concorrentes. E assim foi... Voltei para casa chupando o dedo, 
mas com a esperança de que o equipamento voltasse logo ao 
estoque, já que eu estava na fila de espera. Só dependia do 
fabricante! 
Falando da espera, ela parece ter levado um longo, longo 
tempo. Semanas se passaram e nada. A gente sabe que a 
passagem do tempo, na cabeça de uma criança, difere do que 
acontece na cabeça de um adulto, mas minha impressão era de 
aguardar durante meses. Eu telefonava para a Garra ao menos 
uma vez por semana: “Oi, tudo bem? Já chegou o Exato?”, eis 
que a resposta era: “não, talvez na semana que vem, mas ligue 
no fim desta semana...”. Na semana seguinte, a cena se repetia. 
E na outra, e na outra, e na outra... No meio tempo, meu amigo 
 
55 
 
Marcelo jogava Skyfox e Conan, e eu me virava com o TK2000, 
pois acredito que ele não havia sido vendido ainda. A maratona 
seguiu assim até que, para minha grata surpresa, a resposta a um 
de meus telefonemas foi: “Sim, acabou de chegar um lote, 
chegou agora mesmo”. Agradeci, desliguei o telefone e saí 
correndo pela casa! “Chegou! Chegou! Chegou!”. Telefonei 
prontamente para o Mauricio, meu companheirão de sempre que 
se prontificou a ir conosco à loja de carro. Acredito que, entre o 
telefonema e a ida ao local, meu pai ou meu padrinho tenham 
telefonado novamente à Garra para que se certificassem de que 
o produto havia chegado e reafirmar que estávamos a caminho. 
Chegando lá, retiramos o micro, uma interface de drive, 
um disk drive da marca NPH e uma caixa de disquetes com 
jogos gravados que meu padrinho encomendou para mim 
(mesmo sabendo que o Marcelo os copiaria). Se bem me 
lembro, pedi ao vendedor que “espetasse” a interface (nada mais 
que uma placa) e deixasse tudo pronto para uso. Em casa, tratei 
de conectar o Exato a um dos televisores do meu padrinho, via 
RF, liguei-o à tomada e pronto! O primeiro disco que inseri no 
disk drive foi Spy Vs. Spy, jogo baseado nos personagens da 
revista Mad dos quais eu tanto gostava. Que linda imagem!56 
 
Tudo era bem colorido e detalhado, havia músicas, sons... É 
difícil para alguém que não tenha visto aquela evolução, que não 
tenha acompanhado o que hoje parecem mudanças sutis, mas a 
diferença entre os softwares de computadores como o Apple II e 
os jogos de videogame do período eram grandes. 
Ah! Quase me esqueci de um fato engraçado. Antes de 
telefonar para a loja, eu fazia um trabalho de Desenho 
Geométrico para a escola, ele devia ser entregue no dia seguinte. 
Bem... Finalizei-o de qualquer jeito e o entreguei, mas, claro, 
tirei nota vermelha... Aliás, já que toquei no assunto da escola, 
na aula eu só pensava em chegar logo em casa para brincar com 
o Exato. Na verdade, apesar de nunca ter repetido de ano, eu 
passei a ir mal desde que ganhei o Atari, mas a coisa 
degringolou de vez com o Apple II. Como ser motivado a fazer 
a lição de Matemática se eu tinha Karateka para jogar? Como 
me interessar por Ciências se Captain Goodnight esperava por 
mim confortavelmente no cockpit de seu caça? Como encarar 
Desenho Geométrico, a matéria mais chata, se os Goonies 
estavam lá quietinhos no disquete esperando que eu carregasse o 
jogo? Não dava! 
 
 
57 
 
 
Assim como em outros computadores do período, os jogos 
do Apple II eram superiores aos dos consoles em qualidade 
de imagem, som e complexidade. Eles eram armazenados 
nos chamados discos flexíveis de 5,25 polegadas (ou 
disquetes), mídias que apresentavam bem mais espaço de 
memória se comparadas, por exemplo, a um cartucho de 
videogame ou a um cassete. Os discos ainda 
proporcionavam a comodidade de se listar, mediante um 
simples comando (CATALOG no Apple II), os diversos jogos 
e programas que armazenavam, algo que facilitava a 
localização dos arquivos. Ao contrário das fitas cassetes, a 
carga de software via disquetes acontecia de forma 
sensivelmente mais rápida, alguns jogos levavam segundos 
para que rodassem – as fitas, em comparação, podiam levar 
minutos. Outra grande vantagem era a possibilidade de se 
copiar os discos com rapidez e facilidade, processo que 
podia ser realizado em casa mesmo – algo impossível de se 
executar com cartuchos, pois requeriam equipamento 
profissional de duplicação e conhecimento de Eletrônica. 
 
 
58 
 
Minha biblioteca de jogos, aliás, aumentava sempre 
devido à facilidade de se copiar os discos. Bastava usar um dos 
copiadores manjados, como o Locksmith ou o Copy II Plus, e 
voilà. Diferentemente dos videogames, alimentados por 
cartuchos que não eram baratos, o Exato parecia abrir um 
enorme leque de opções. Bem, nem tudo eram flores, nossos 
pais ainda precisavam comprar os disquetes, eles não davam 
cria nem brotavam em árvores, só que o produto também não 
era tão barato quanto as fitas. Existiam várias marcas de discos, 
lembro-me da Nashua (o Marcelo pronunciava como Na-shú-a), 
da Verbatim e da cara Maxell, a favorita por ser, em tese, mais 
confiável e bem-feita. A troca de softwares funcionava assim: 
eu ia à casa do Marcelo ou ele ia à minha, cada qual possuía 
jogos novos conseguidos em outras trocas ou adquiridos em 
lojas como a já citada Garra ou a Labracom (ficava perto da 
minha casa), mostrávamos os títulos novos um ao outro, ou seja, 
jogávamos um pouquinho, e depois começava o longo e tedioso 
processo de cópias. Carregávamos o copiador Locksmith para a 
maior parte do serviço, contudo, alguns jogos, mais “enjoados” 
de se copiar devido a algum esquema de proteção, requeriam 
copiadores mais “invasivos” e o processo demorava. Ao fim do 
 
59 
 
dia, após um “árduo trabalho”, a jogatina seguia por horas e 
horas até que arrumássemos novos jogos. O ciclo, então, 
recomeçava. 
Em relação ao Exato, uma recordação vívida que carrego 
aconteceu em junho de 86, época de festa junina, mas também 
ocasião em que acontecia a Copa do Mundo do México, a 
“Mexico 86”. Lembro-me nitidamente de assistir a algum jogo 
da Copa, meu padrinho ao lado, enquanto eu jogava Karateka ou 
Conan. De vez em quando eu ia ao quintal para ver os balões, 
alguns bem grandes e com “cangalhas” recheadas de fogos de 
artifício, época em que não eram proibidos e ainda polvilhavam 
os céus de junho. Há outra memória conjugada, igualmente 
daquele período do Exato, quando mamãe ingressou em um 
curso de pintura a óleo, pois queria aprender a pintar quadros. 
Lá também fizemos aulas de natação, a academia e o ateliê, na 
verdade, pertenciam à mesma dona e ficavam em um mesmo 
local. A lembrança à qual me referi era chegar em casa, após a 
natação, e ligar o micro para jogar. 
O computador da CCE ainda renderia diferentes 
“causos” engraçados e curiosos. Na já citada cidade de 
Mongaguá, nas férias fiz amizade com um menino muito 
 
60 
 
educado, o Luis Fernando Prandina Rodrigues, que morava na 
rua de cima (a mesma da Natalia Alvarez, irmã do Alexandre, 
aquele do Atari de muitas páginas atrás). Em São Paulo, 
convidei-o a conhecer o computador e, claro, não deu outra: o 
Luisinho ficou maravilhado! Jogávamos bastante Karateka, 
Conan e outros, mas um título em especial se tornou um dos 
favoritos: Microbe. O jogo, aparentemente baseado na premissa 
do filme "Viagem Fantástica", parecia complexo porque havia 
várias etapas que antecediam o gameplay propriamente dito. Ao 
ter o submarino miniaturizado, o jogador precisava adentrar o 
corpo humano de um paciente previamente escolhido por ele e, 
de acordo com a doença ou o problema, traçar uma linha de 
ação em que se aplicava um remédio ou se realizava um 
procedimento. A gente não entendia quase nada, estava tudo em 
inglês, mas a imersão parecia tão grande que não conseguíamos 
deixá-lo de lado. O efeito da miniaturização, aliás, era um show 
à parte! Na etiqueta do disquete, o nome estava grafado 
erroneamente como “Macrober”. 
Esta outra história é tão surreal que começo a rir só de 
relembrá-la. Existia um software sintetizador de voz para o 
Apple II, o S.A.M. (Software Automated Mouth), que 
 
61 
 
reproduzia, com as limitações sonoras do micro, sílabas e 
palavras em inglês que o usuário digitasse. A síntese parecia 
bacana – ao menos para dois meninos de 12 ou 13 anos de idade 
– e havia uma série de parâmetros que podiam ser alterados 
conforme o resultado desejado. Nosso repertório em inglês 
estava longe de ser extenso, portanto, palavras como “cat”, 
“mouse” e “airplane” se esgotaram rapidamente. Foi quando 
alguém teve a brilhante ideia de tentar palavras em português – 
seguida pela “mais brilhante ainda” ideia de experimentar... 
palavrões! Só que nenhum palavrão soava de maneira tão 
engraçada quanto a palavra “mandioca”. O Luisinho a digitava, 
pressionava a tecla RETURN e, em um sotaque estranhíssimo, o 
alto-falante do Exato pronunciava: “MAN-DE-OOOOOCA”. 
Ríamos incontrolavelmente! Mas... Por que a palavra mandioca? 
Luis, esta você responde! 
A época do Exato foi muito marcante para mim, guardo 
excelentes lembranças daquela caixinha mágica. Com o tempo 
cheguei até a ter uma tábua gráfica (para desenhar) e um 
joystick analógico da marca Anko. Surpresa: além do Exato, 
outro Apple II entraria em minha vida... Detalhes nas próximas 
páginas! 
 
62 
 
 
Jogos do Apple que eu mais joguei à época – 
entre 1986 e 1988 (em ordem alfabética) 
 
Beyond Castle Wolfenstein 
Captain Goodnight 
Castle Wolfenstein 
Chivalry 
Choplifter 
Conan 
Fat City 
Karateka 
Lucifer’s Realm 
Microbe 
Moon Patrol 
Pinball Construction Set 
Power Bots 
Rescue Raiders 
Spy Vs. Spy 
Stellar 7 
Summer Games 
The Bard’s Tale 
Zaxxon63 
 
Outro amigo da escola, o Luis João Sousa Silva, ganhou 
um microcomputador de presente dos pais, acredito, entre o 
final de 1986 e o início de 1987. Maravilhado, contava para a 
gente no recreio sobre o tal TK95, o gravador cassete que usava 
para carregar os programas, a embalagem colorida do produto 
etc. Em um sábado fui convidado a conhecer o micro – e o que 
se sucedeu foi como amor à primeira vista. Claro, eu tinha o 
Exato Pro à ocasião, uma plataforma, em tese, muito mais 
poderosa que o TK95, este que era o segundo clone nacional do 
britânico ZX Spectrum, micro lançado em nosso país pela 
Microdigital. Havia também a questão das fitas cassetes, mídia 
que eu havia abandonado após o TK2000, ou seja, acostumei-
me com os disquetes. Ainda que o hardware fosse mais simples, 
o aparelho tivesse bem mais cara de brinquedo que de 
computador e fosse usado com fitas, os jogos me encantaram 
logo de cara! 
Primeiro, as barras horizontais coloridas e o áudio do 
cassete eram coisas hipnotizantes. As barras, no caso, serviam – 
desde que contínuas e tremulantes – para que o usuário tivesse a 
certeza de que a carga de determinado programa estava bem 
sucedida, uma sacada genial da Sinclair, a fabricante original 
 
64 
 
daquela linha de micros. Em segundo lugar, a maioria dos jogos 
apresentavam quase sempre uma bela tela de abertura para que a 
pessoa se entretivesse durante o processo – e uma mais bonita 
que a outra. Lembro-me da tela do jogo Dan Dare, ela era 
especialmente linda! O Luis João e eu descobrimos, 
praticamente juntos, uma gama de jogos bons apesar da 
quantidade de memória menor – 48 KBytes – que o Spectrum 
apresentava e do som simplório. Nada importava, a jogabilidade 
era excelente. Commando e Green Berent, por exemplo, eram 
conversões de fliperama cuja jogabilidade foi praticamente 
mantida, não fazia tanta diferença se os gráficos não eram iguais 
aos do arcade. Eram jogos gostosos de se jogar! 
Dan Dare, Cybernoid, Exolon, Enduro Racer, Knight 
Lore, Sabre Wulf, Terra Cresta, Jet Set Willy... Havia uma 
infinidade de títulos bons. Aliás, algo de que me lembro bem é 
das revistas inglesas dedicadas à plataforma, mais precisamente 
a Crash e a Your Sinclair, publicações que meu amigo adquiria 
em uma livraria que ficava na região da rua Santa Efigênia em 
São Paulo, a popular – entre os aficionados – Litec. As revistas 
eram praticamente a única forma pela qual os donos do TK 
sabiam das novidades que saíam no Reino Unido, sendo que a 
 
65 
 
maioria das edições vinham acompanhadas, cada qual, de uma 
fita cassete com demonstrações de jogos e previews, as 
chamadas “Cover Tapes”, que proporcionavam horas de 
diversão. Outra particularidade que guardo na memória é a troca 
de fitas cassetes que o Luis fazia com donos de Spectrum, 
geralmente realizadas por meio de contatos encontrados em 
anúncios do jornal Primeiramão. Se pararmos para pensar com a 
mentalidade de hoje, aquilo era até surreal: trocavam-se listas de 
jogos, cada parte interessada gravava um número X de títulos 
em uma fita cassete de acordo com a escolha do outro, fazia a 
respectiva embalagem e enviava o pacote via Correios. Com a 
chegada de um novo cassete, garantiam-se horas e horas de 
ruídos intermináveis e – quase sempre – de diversão, pois em 
muitos casos o sistema se mostrava ineficaz, ou seja, as fitas não 
funcionavam ou funcionavam parcialmente. Uma aventura! 
Os gravadores em uso à época podiam ser bem diferentes 
em termos de regulagem de fábrica, portanto, uma fita gravada 
na casa do fulano Y podia não funcionar perfeitamente no 
gravador do amigo Z. Isso era extremamente comum, um fato 
que gerava frustração. Existia, contudo, uma maneira de 
contornar o problema, bastava ajustar um controle chamado de 
 
66 
 
“azimute” no gravador, uma espécie de parafusinho que, ao 
girado, alterava propriedades da leitura. O ajuste se fazia meio 
na “orelhada”, a pessoa, de posse de uma chave de fenda, girava 
o tal azimute e testava a carga. Girava e testava... Girava e 
testava... Até que determinado jogo, geralmente um dos 
favoritos, carregasse perfeitamente do cassete. Aquilo era 
mesmo uma aventura! Certa vez o Luis João perdeu a paciência 
e, atônito, presenciei uma cena que parecia realmente inevitável: 
ele esmurrava o gravador e o xingava de todos os nomes 
possíveis e imagináveis, pois o azimute não queria colaborar! 
A única alternativa às fitas era a chamada Interface Beta. 
Ela nada mais era que uma interface de drive, conectada à porta 
de expansão do TK, para que disquetes pudessem ser usados no 
Spectrum em vez de fitas. As Betas seriam a salvação da 
lavoura se não custassem tão caro! Se bem me lembro, elas 
custavam praticamente o mesmo que um micro e nem sempre 
estavam disponíveis, uma vez que eram produzidas 
praticamente de maneira artesanal por poucas empresas, tais 
como a CBI (Centro Brasileiro de Informática) e a C.A.S. 
(Cheyenne Advanced Systems). Certa vez a mãe de meu amigo, 
de tanto que ele a atormentou, pediu-lhe que telefonasse a 
 
67 
 
algumas lojas e visse o preço do produto – somente para que ela 
“caísse para trás” com o valor. Não havia como, a Beta era algo 
que estava fora de cogitação, o jeito era voltar ao azimute e 
castigar novamente o gravador se ele fizesse por merecer! 
Voltando aos programas, existiam outras formas de se 
consegui-los além das trocas via jornal. Softhouses nacionais, 
tais como a Disprosoft e a Plan-Soft, começaram a reproduzir e 
a distribuir os jogos do TK – traduzindo-os quando possível e 
alterando as marcas comerciais na tela pelas próprias – para 
grandes magazines como o Mappin, a Mesbla e a Bruno Blois. 
Os cassetes vinham acondicionados em embalagens ilustradas e 
com manuais em português. Além das lojas, pequenas e médias 
empresas que geralmente funcionavam em salas de edifícios 
comerciais, como a Paulisoft em São Paulo e a Ciência Moderna 
no Rio, vendiam as novidades da semana, muitas das quais 
copiadas na mesma hora, à pronta entrega, enquanto os clientes 
ali aguardavam se acotovelando em frente aos balcões de 
atendimento. Clubes como o CNTK (Clube Nacional dos 
Usuários do TK) e o tardio SCUS (Super Clube Usuários do 
Spectrum), e encontros presenciais regulares como os do SESC 
Maria Antonia, em São Paulo, também debutaram graças à 
 
68 
 
popularização do micro em vários estados do Brasil. Demoraria 
um pouco, mas após namorá-lo por um bom tempo, eu 
conseguiria meu próprio TK... 
 
Jogos do ZX Spectrum que eu mais joguei à época – 
entre 1987 e 1989 (em ordem alfabética) 
 
Barbarian (Palace Software) 
Camelot Warriors 
Cobra 
Commando 
Cybernoid 
Cybernoid II 
Dan Dare 
Enduro Racer 
Exolon 
Fist II 
Green Beret 
Gunfright 
Knight Lore 
Renegade 
Terra Cresta 
Tornado Low Level 
Trantor: The Last Stormtrooper 
Turbo Esprit 
 
69 
 
A Grande Perda de 1987 
 
O ano de 1987 se mostraria muito agitado, mas também 
acabaria marcado como o primeiro em que tive uma grande 
perda na vida. Meu padrinho, uma pessoa muito doente e que 
vivia com medicações constantes (certamente leram sobre isto 
no prefácio), faleceu depois de passar mal no banheiro e 
desmaiar. Foi um baque incrível para mim. Até então eu já havia 
perdido meu avô paterno – eu era muito pequeno, mal me 
lembro dele – e um cão de estimação, mas a ausência do tio Zé 
abriu um buraco em meu coração. Ele atuava como um segundo 
pai, não teve esposa ou filhos e dedicava amor e atenção a mim. 
Ao escrever estas linhas, emociono-me ao me lembrar do que 
ele

Outros materiais