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Cidadania UN01

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CidadaniaCidad
U1
Apresentação
Você é contra ou a favor da descriminalização da maconha? 
Você é favor ou contra a legalização das drogas?
Levou um susto? Calma, vamos por parte.
Tema polêmico não é verdade? Mas o que isso tem a ver com cidadania?
Veremos. 
Todos nós somos cidadãos. Todos nós temos uma certa noção do que isto significa. Uns com 
uma visão mais crítica, outros com uma certa descrença, mas invariavelmente todos terão 
uma opinião sobre o tema. O mesmo podemos dizer sobre alguns conceitos temas que nos 
acompanharão ao longo deste curso, como: democracia, política e direitos humanos.
Fiquem atentos! Abordaremos a cidadania numa perspectiva acadêmica e teórica sempre 
respaldada em alguma pesquisa ou teoria científica. Devemos estar atentos e procurarmos 
compreender o que está sendo passado para depois emitirmos, se necessário, um juízo 
de valor. A tarefa não é fácil pois o tema sempre nos leva a polêmicas que exaltam nossos 
ânimos, despertando debates e pensamentos emocionados. O estudo, no entanto, requer 
reflexão racional através dos dados trazidos para análise. Fica a dica.
Conhecer a teoria social é importante, pois no Brasil normalmente queremos mudar as teorias 
para que elas se encaixem no nosso pensamento, naquilo que acreditamos e se ajustem a 
realidade. Contudo, as teorias e as experiências vividas pelos outros países são referências 
para que possamos mudar a realidade. A nossa realidade, política, social e econômica é que 
precisa ser modificada para atingir as expectativas que todos nós temos no sentido de uma 
sociedade mais justa, igualitária e desenvolvida.
Vamos lá?
A Cidadania Cidadania | UNISUAM 
2
A Cidadania Cidadania | UNISUAM
3
Objetivo do estudo
- Reconhecer a importância da coletividade.
- Delimitar a diferença entre espaço público e privado.
- Conhecer o significado de cidadania e democracia.
A Cidadania
A Cidadania Cidadania | UNISUAM 
4
1 O indivíduo e a coletividade - a questão da cidadania
A cidadania refere-se a pessoa que vive na cidade (palavra de origem latina). Mais que 
isso, a pessoa que pertence a cidade, que faz parte da comunidade ou Koinonia como 
se dizia na Grécia. 
Precisamos chamar a atenção, pois a palavra comunidade na perspectiva da cidadania 
não se refere-se a uma região pobre ou uma favela. Estamos falando da vida comunitária 
que compartilhamos quando estamos juntos. O nosso prédio, a nossa rua, a universidade 
ou o trabalho são espaços de convivência comunitária. Nunca estamos isolados, sempre 
interagimos com o nosso entorno.
Na Grécia, o sentido da comunidade se constrói a partir desse conceito do homem “comum” 
– comum a comunidade, pois pertence a ela.
Ser comum é ser igual aos outros. Não é ser superior ou inferior, mas igual. Não querer 
privilégios ou ser preterido (desrespeitado) em algum direito ou benefício. Isso não impede 
que ele tenha uma personalidade ou preferencias, mas sobretudo, uma consciência de que 
há uma coletividade e que ele faz parte dela. Preservar a vida comunitária é preservar o 
espaço que vivemos no nosso cotidiano.
Não estamos falando apenas de direitos e deveres, estamos falando da tensão entre o 
indivíduo e a coletividade. Na sua origem, na Grécia antiga, ela se referia principalmente a 
esta percepção de que o exercício da cidadania deve considerar não apenas os interesses 
individuais, mas os interesses da comunidade, inclusive porque eu desejo uma vida 
comunitária pacífica e prospera.
Então é importante frisar que estamos tratando a cidadania numa perspectiva acadêmica e 
que não pode ser confundida com o uso comum e genérico que ouvimos no nosso dia a dia. 
Sendo assim, a cidadania privilegia a liberdade e a convivência comunitária muito mais do 
que qualquer questão de poder, política ou governo. Essa perspectiva nos coloca uma tensão 
permanente entre o indivíduo e a coletividade, mas cujo equilíbrio ideal deve ser procurado 
e não pode ser esquecido quando discutimos qualquer tema relevante.
T1
A Cidadania Cidadania | UNISUAM
5
T2 Sua emergência e vigência no espaço público.Como surge essa compreensão do indivíduo como cidadão? Isso é normal? Foi natural?
Não. Não foi algo natural e muito menos algo facilmente observável na nossa história. Nos 
últimos 5500 anos aproximadamente (desde a invenção da escrita pelo menos), as sociedades 
humanas veem organizando-se politicamente através de um modelo de governo centralizador, 
autocrático, fosse ele um rei, faraó ou algum tipo de soberano que se impunha e governava 
sobre seus súditos.
A democracia como um regime de iguais, no qual as pessoas participam da comunidade 
política para expressar e participar das decisões de interesse público foram raras. Na Grécia 
Antiga correspondeu ao período de 509 a 322 a.C e na Era Moderna a partir do século XVII 
com a Paz de Vestfália e o fim da Revolução Inglesa. Mesmo assim, podemos dizer que o 
sistema partidário Europeu adquiriu maior consistência no Século XIX e maior estabilidade 
no século XX. Então o exercício da cidadania, entendida como pautada no princípio da 
liberdade, da convivência e da participação política é algo recente e raro na história das 
sociedades humanas.
A democracia e por conseguinte o exercício da cidadania 
foi resultado de um processo histórico específico, somente 
possível em razão da vida na Polis, como eram chamadas 
as Cidades-Estados gregas, da qual derivou o termo política, 
enquanto prática de se discutir a vida coletiva e os problemas 
da Polis. Também por isso, falar de cidadania muitas vezes é 
falar de política, mas não se restringe a ela, assim como não 
se limita a direitos. O exercício da cidadania deve incorporar 
a relação com o outro e portanto deve estar presente na 
relação professor/aluno, nas relações cotidianas e até na 
relação que temos com o espaço que vivemos. Nesse sentido 
preservar o meio ambiente, não sujar a cidade, respeitar filas 
são práticas cidadãs. 
Cidade = Polis
Cidadania
Política
Discutir os problemas da Polis
http://www.mundoeducacao.com/
upload/conteudo_legenda/76940bc1d
244b2235a8fe78074659d94.jpg
A Cidadania Cidadania | UNISUAM 
6
Aprendi a não tentar convencer ninguém. 
O trabalho de convencer é uma
falta de respeito, é uma tentativa 
de colonização do outro.
Clístenes Sólon Péricles
Na sua origem, a cidadania surgiu na Grécia como reação ao governo tirano de Psístrato, 
que chegou ao poder através de um golpe militar e governou Atenas de 546 até 527 a.C. 
Seguiu-se um período turbulento sucedido pelos seus filhos que ao final foram destituídos 
por Clístenes que deu início as reformas democratizantes posteriormente aprofundadas 
por Solon e Péricles. 
A criação da democracia como um regime político no qual o poder é do cidadão que o exerce 
em igualdade foi revolucionária. Somente em um ambiente democrático as pessoas podem 
exercer sua liberdade e participar da vida comunitária de forma ativa e autônoma. Nessa 
perspectiva, as pessoas não agem de forma manipulada ou reproduzindo discursos de outros. 
Elas são capazes de desenvolver sua própria opinião a partir da análise da sua realidade.
Reflitam sobre a frase do escritor Português Premio Nobel da literatura de 1998 José Saramargo:
Compare a frase anterior com a frase proferida por Péricles 
em seu Discurso Fúnebre na Grécia Antiga: “nós cidadãos 
atenienses, decidimos as questões públicas por nós 
mesmos, ou pelo menos nos esforçamos por compreendê-
las claramente, na crença de que não é o debate que é 
empecilho à ação, e sim o fato de não se estar esclarecido 
pelo debate antes de chegar a hora da ação. ”
A Cidadania Cidadania | UNISUAM
7
T3 Cidadania como exercício da liberdade e da autonomia
A vida política que se desenvolveu na Polis grega foi portanto resultado da ação deliberada 
das pessoas que ali viveram. Se desenvolveuna esfera pública a partir da interação que os 
cidadãos estabeleciam entre si. Tudo o que tratava da vida particular ou familiar não era objeto 
da política. Essa divisão entre a esfera pública e esfera privada era essencial para o grego.
Hanna Arendt observava que:
“A polis diferenciava-se da família pelo fato de somente conhecer 
‘iguais’, ao passo que a família era o centro da mais severa 
desigualdade. Ser livre significava ao mesmo tempo não estar sujeito 
as necessidades da vida nem ao comando de outro e também não 
comandar. Não significava submissão. ” (ARENDT, 2003: 41)
Isso significa compreender a vida em sociedade como algo que produzimos em conjunto a 
partir das nossas ações conscientes e não como uma fatalidade. Ainda que muitas vezes a 
nossa percepção é de que as coisas são do jeito que as conhecemos desde sempre, de fato 
a realidade social está sempre se reproduzindo e mudando em função das nossas atitudes. 
Em outras palavras, até podemos observar a corrupção e a violência ao longo da história da 
humanidade mas a forma como lidamos e como elas se apresentam mudaram o tempo todo.
A Cidadania Cidadania | UNISUAM 
8
Observem que na maior parte das sociedades humanas e durante toda a nossa história 
conhecida a mulher ocupou uma posição subalterna em relação ao homem. Somente no 
século XX, principalmente na sua segunda metade, o movimento feminista conseguiu avançar 
em termos de uma igualdade e liberdade entre homens e mulheres. Mesmo hoje, casos 
de violência e desrespeito contra a mulher ainda existem. Convivemos com uma cultura 
machista ainda.
Então, temos uma tendência de pensar a vida social numa perspectiva natural. Frequentemente 
os governantes utilizam-se desse senso comum para perpetuar o sentimento de que as coisas 
não mudam. Nas ciências sociais chamamos esse processo de naturalização da vida social. 
Como se fossemos nos acostumando com uma dada situação. O grego pensava diferente. Ele 
poderia invocar uma explicação mitológica, mas compreendia a vida política como resultado 
de decisões humanas.
O espaço público, notadamente a Àgora (praça) ateniense, 
era o local de convivência e de interação social. Um 
lugar de expressão de ideias e de debate sobre questões 
comuns a todos e que deveriam ter como perspectiva o 
bem coletivo. Esse é um ponto interessante, pois a política 
foi concebida como um mecanismo para gerar o bem 
comum e atualmente ela é compreendida como uma 
forma de conseguir poder, prestigio e dinheiro. Hoje, 
consideramos natural entender a política dessa forma 
degradada do que na sua concepção mais nobre e ideal.
De fato Hanna Arendt percebia que a política, já na época 
dela (meados do século XX), não correspondia a uma prática 
moldada em princípio éticos e nobres. Justamente por isso, 
compreendia que era necessário resgatar o sentido original 
que a política tinha para os cidadãos na Grécia antiga para 
poder contrastar com a experiência empobrecida e limitada 
que temos da política hoje e que ela tinha na época dela.
Hanna Arendt
http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-
sabedoria/28/hannah-arendt-pensadora-da-politica-
e-da-liberdade-a-210008-1.asp
aprofundando
A Cidadania Cidadania | UNISUAM
9
Por ser judia e ter vivido os horrores do Nazismo, Hanna Arendt ressaltava a importância da 
liberdade para a existência de um espaço público para o exercício da cidadania através da 
política. Para ela o recurso do medo e da violência acabava com qualquer tipo de relação 
política. A política é vivida com liberdade e se opõem a violência. A exceção é o Estado 
que monopoliza o direito do uso legal da força dentro da lei, mas que não pode cercear a 
experiência política na convivência coletiva. 
“Os sistemas totalitários, cujo surgimento Hannah Arendt analisou 
em seu grande livro sobre o totalitarismo, são a forma mais extrema 
de desnaturação da coisa política, posto que suprimem por completo 
a liberdade humana, submetendo-a ao fluxo de uma determinação 
histórica ideologicamente fundamentada, contra a qual é impossibilitada 
toda resistência individual livre por meio do terror e do domínio da 
ideologia. ” (ARENDT, 2003: p.3)
A experiência grega com a política foi muito rica e a contribuição que ela trouxe para a 
civilização ocidental é determinante da nossa cultura. O Discurso Fúnebre de Péricles é o 
que melhor traduz a distinção entre esses espaços e como o ateniense conduzia sua vida 
na esfera política: 
Conduzimo-nos liberalmente em nossa vida pública, e não 
observamos com uma curiosidade suspicaz a vida privada de nossos 
concidadãos, pois não nos ressentimos com nosso vizinho se ele 
age como lhe apraz, nem o olhamos com ares de reprovação que, 
embora inócuos, lhe causariam desgosto. Ao mesmo tempo que 
evitamos ofender os outros em nosso convívio privado, em nossa vida 
pública nos afastamos da ilegalidade principalmente por causa de 
um temor reverente, pois somos submissos às autoridades e às leis, 
especialmente àquelas promulgadas para socorrer os oprimidos e às 
que, embora não escritas, trazem aos transgressores uma desonra 
visível a todos. (Tucídides, 1987: p. 155)
Em contrapartida, o espaço privado dizia respeito somente ao indivíduo e sua família. Qualquer 
coisa que as pessoas fizessem ou deixassem de fazer não interessava aos outros. Conforme 
citado acima, até mesmo opinar na vida do outro poderia trazer um descontentamento ou 
criar um problema para a convivência social.
O espaço privado correspondia também ao espaço da economia, entendida como Oikos 
(casa) nomia (regras) ou `regras da casa` e estava separada efetivamente da vida política. 
Isto porque, era responsabilidade do chefe da família prover, organizar e administrar o 
trabalho e a riqueza gerada por seu grupo. Da mesma maneira, todos os problemas, 
costumes e regras internas a um determinado núcleo familiar e seus agregados não diziam 
respeito a comunidade.
Oikos = casa Nomia = regras Economia
A Cidadania Cidadania | UNISUAM 
10
o comportamento 
pode ser individual 
mas a consequência 
é coletiva.
Por isso também que somente o homem livre e autônomo 
podia exercer plenamente a cidadania e participar da 
política, uma vez que todos aqueles que dependiam dele 
economicamente teriam sua opinião influenciada. Assim, 
a democracia grega, que era exercida diretamente pelos 
cidadãos, era ela própria seletiva deixando de fora as 
mulheres, escravos e os filhos dependentes. A autonomia 
econômica era um pré-requisito para a vida política afim de 
garantir a liberdade de expressão de opinião.
Atualmente, grande parte da política refere-se a questões 
econômicas ou de política econômica. Isto ocorre porque a 
economia deixou o espaço privado da `casa` para ocupar 
um espaço público. Cabe ao Estado contemporâneo discutir 
sobre a destinação de recursos, a provisão de políticas 
sociais, educacionais e de saúde. O Estado passa a ter 
um papel importante ao controlar a moeda, os juros e a 
regulação da economia.
Mais que isso, se de um lado a economia passa a ser uma 
preocupação cada vez maior do Estado, o Estado por sua 
vez começa a interferir cada vez mais na vida das pessoas. 
Leis são criadas para proibir o fumo de cigarro em ambientes 
fechados, a proibição de beber e dirigir, a união estável 
entre tantos exemplos que poderíamos trazer aqui para 
descrever o controle cada vez maior do Estado na regulação 
do comportamento das pessoas e das relações sociais em 
todas as dimensões.
Em certo sentido, essa mudança é importante porque o 
comportamento pode ser individual mas a consequência 
é coletiva. A pessoa pode decidir dirigir um carro bêbada 
mas essa decisão pode acarretar danos a terceiros, 
engarrafamentos em função de acidente ou despesas 
públicas com atendimento médico. Então, se as escolhas 
individuais repercutem na sociedade, a sociedade se senteno direito de interferir nelas. A questão é definir qual o limite 
e de que forma deve ocorrer essa intervenção.
Da mesma forma, como o Estado é cada vez mais importante 
na economia, a possiblidade de misturar interesses públicos 
com interesses privados aumenta. A possiblidade do uso do 
Estado para conseguir acumular riqueza privada também 
aumenta. Por isso, mesmo hoje procuramos estabelecer 
essa distinção entre esfera pública e esfera privada e 
condenamos sua mistura quando o indivíduo se utiliza 
das suas prerrogativas junto ao Estado para se beneficiar 
particularmente.
https://natransversaldotempo.files.wordpress.
com/2012/07/charge-politica-humor1.jpg
A Cidadania Cidadania | UNISUAM
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T4
Resumindo, na Grécia antiga a separação entre o público e o privado era importante para definir 
o espaço e o objeto das decisões políticas. Atualmente, essa separação diminuiu e assumiu 
novas dinâmicas, mas deve ser respeitada, principalmente em relação aos interesses individuais 
de alguém que se utilize das prerrogativas de um cargo ou poder para adquirir privilégios.
A vida em sociedade é estruturada politicamente a partir da participação dos cidadãos na 
política. Ela é resultado de decisões conscientes e somente podem se desenvolver em 
ambientes democráticos que estimulem a liberdade, o uso da violência restringe a experiência 
política e nos coloca em um contexto, na verdade, pré-político ou quase selvagem.
Movimentos sociais, organizações sociais e 
cidadania
A cidadania é condição da pessoa que vive na cidade e por isso ultrapassa sua condição 
política, jurídica, econômica ou social. E, no entanto, tem relação com todas essas dimensões 
da vida humana em sociedade.
Por isso a cidadania reside na garantia da liberdade e no respeito da alteridade (no respeito 
ao outro) com quem convivemos. 
Desde o princípio os governos se colocaram como o meio natural e único que possibilita essa 
convivência. As leis, a segurança e a ordem são acréscimos necessários para possibilitar a 
efetivação da vida coletiva. Essa estrutura governamental se desenvolveu de tal forma ao 
longo do tempo que no século XVIII, Rousseau já escrevia em seu livro clássico Do Contrato 
Social: “o homem nasce livre e em todos os cantos encontra-se a ferros”. Prisioneiro das 
convenções que ele mesmo criou na pretensão de torna-lo mais livre e feliz.
Segundo Augusto de Franco, nada disso era verdadeiramente 
necessário. A constituição de uma organização autocrática 
garantidora da ordem social tem sido o modelo padrão 
adotado. Parece que a vida coletiva só é possível com 
estruturas de controle cada vez mais abrangentes até cercear 
toda a liberdade humana. Elas são desenvolvidas com base 
em um discurso que autoriza e incentiva seu desenvolvimento 
e é suportado com base em fatos que desafiam o nosso 
cotidiano. Mas essas circunstancias não são absolutas.
Em outras palavras, quando presenciamos o crescimento 
da criminalidade e da desordem urbana, ficamos com a 
sensação de que somente a repressão pode reverter este 
quadro. Esta percepção está correta quando não temos 
outros recursos. Se pensarmos em termos de uma lógica 
concentradora de riqueza, na exclusão social, na falta 
de perspectiva e numa sociedade esvaziadas de valores 
sociais substituídos por valores econômicos possessivos 
e egoísta poucas alternativas teremos. Resta aumentar o 
uso da força para preservar uma ordem desfavorável para 
a maioria da população.
https://pensamentosdeumacoruja.files.wordpress.
com/2014/05/caos_urbano_by_musicdor.jpg
A Cidadania Cidadania | UNISUAM 
12
h t t p s : / / w w w . y o u t u b e . c o m /
watch?v=224w44q9ogw
A democracia que nós temos tem sido 
amplamente questionada, como em vídeo 
clássico de José Saramargo que afirmou:
h t t p s : / / w w w . y o u t u b e . c o m /
watch?v=m1nePkQAM4w
aprofundando
aprofundando
Não se trata de uma crítica a sociedade capitalista ou socialista uma vez que cada qual 
apresentou seus desvios e inviabilizou a emergência de uma sociedade democrática. Também 
não se trata de criarmos uma receita pronta para solução de todos os males. Destacamos, a 
necessidade de recuperar o diálogo e a convivência fraterna para criar novas experiência sociais. 
A compreensão do outro e a tolerância com o diferente é essencial. O objetivo da política desde 
sua origem foi possibilitar a convivência pacifica da diversidade, foi preservar a pluralidade. Até 
porque, quando todos pensam e vivem da mesma maneira não há necessidade da política.
Certamente, a proposta desses autores não é uma tarefa fácil, tendo em vista que as pessoas 
estão cada vez mais individualistas e egoístas. Recolhidas em seus espaços privados, estão 
pouco dispostas ao debate. A sociedade em rede que emerge dessa realidade, altamente 
conectada pela internet pode ser ou não um fator de mudança. De um lado, as pessoas podem 
interagir mais discutindo os temas relevantes da sua vida em comum com outras, mas por 
outro lado, reforça a distância, a falsificação de ideias e a intolerância entre elas.
Segundo Augusto de Franco a democracia é sempre um movimento de desconstituição de 
autocracia. Democracia no sentido forte do conceito refere-se ao governo de todos e não 
apenas de uma maioria opressora por argumentos falaciosos e manipuladores. A democracia 
pressupõe a garantia e a preservação das minorias. Requer um envolvimento do cidadão e 
não apenas participação em uma tomada de decisão ou processo eleitoral, cujo objetivo tem 
de ser a liberdade das pessoas.
Historicamente, a primeira experiência democrática foi registrada na Grécia e era exercida 
diretamente, a segunda experiência democrática criada na modernidade (e que nós 
vivenciamos) é representativa. Os representantes são escolhidos em um processo eleitoral 
e a participação do cidadão comum se restringe a votar.
A Democracia Representativa se utiliza de pessoas 
escolhidas pelo povo e organizadas em partidos políticos 
para deliberarem sobre leis e políticas de governo. Os 
sindicatos, conselhos municipais e estaduais com a presença 
de membros da sociedade civil organizada são outros 
mecanismos de participação e mesmo assim temos visto 
uma distância entre o desejo das pessoas no mundo todo e 
as ações dos governos. Isto porque, democracia no sentido 
forte não é participação ou eleição, mas envolvimento com 
as questões de interesse coletivo.
Saramargo critica a democracia que nós temos em um 
sentido bem interessante. E, muitos de nós questionamos 
a política e os políticos. Por mais tosca que seja nossa 
experiência democrática, ela produz um certo grau de 
rotatividade. Pense nos governadores do seu Estado nos 
últimos 20 anos. O Rio de Janeiro, por exemplo, já foi o 
Estado do Leonel Brizola, do Moreira Franco, do Marcelo 
Allencar, do Garotinho, do Sergio Cabral. Foram poderosos, 
hoje exercem mais ou menos influência na política regional. 
Agora perguntamos: Quanto tempo as mesmas famílias 
estão no comando da Rede Globo, SBT e outros grupos 
econômicos? Por quanto tempo terão o comando dessas 
organizações? A resposta é: enquanto forem propriedade 
delas pode durar para sempre.
A Cidadania Cidadania | UNISUAM
13
Percebemos que a relação entre política e economia são intensas. Uma influência a outra. 
Porém, conseguimos muito mal ter algum controle sobre a esfera política. Por mais frágil 
que nossa experiência presente seja, no passado era ainda mais precária. A democracia e o 
exercício da cidadania deve ser um exercício continuo de aprimoramento.
Como na frase de Winston Churchill, “a democracia é a pior forma de governo, salvo todas 
as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”. Essa constatação 
não pode nos impedir de buscar aprimorar essa experiência que somente pode prosperar 
se compreendermos que ela deve favorecer a liberdade e a humanidadee não fazê-la refém 
de uma organização política.
Winston Churchill:
http: / /www.arqnet .pt /portal /biograf ias/
churchill.html
aprofundando
Ao contrário, as experiências ditatórias que presenciamos 
em nosso país ou em outros países demonstram que elas 
sempre sofrem algum tipo de degeneração ampliando 
a opressão e impondo uma realidade repressiva com o 
cerceamento da liberdade.
Porque é tão necessário discutirmos a 
cidadania, a democracia e os direitos 
humanos?
Por que essa é uma configuração social difícil de ser 
produzida. Uma sociedade capaz de se estruturar com bases 
nesses princípios de uma maneira verdadeiramente efetiva 
não é facilmente atingida. Ao mesmo tempo, não pode deixar 
de ser o nosso horizonte enquanto uma coletividade que 
busca uma organização social pacifica e justa.
A democracia foi alvo de várias críticas na Grécia antiga. 
Primeiro pelos filósofos que viam nela o domínio da Doxa 
(opinião) sobre a episteme (conhecimento) que advinha 
da filosofia. A opinião é sempre facilmente modificável 
transformando a democracia em demagogia pelo uso do 
discurso retórico. Por isso, os filósofos viam com certa 
descrença a democracia. 
O argumento é elitista por considerar que nem todos 
conseguem acompanhar o debate e emitir uma opinião 
fundamentada em uma reflexão própria. Certamente, 
o argumento técnico, cientificamente fundamentado 
pretende ser melhor do que qualquer outro e normalmente 
encontra boas razões para isso. Entretanto, mesmo uma 
pessoa comum é capaz de discernir quando uma questão 
a favorece ou a prejudica. Quando uma determinada 
realidade lhe é favorável ou não. Existem temas que são 
mais complexos, mas isso não justifica a exclusão das 
pessoas do exercício da cidadania.
Os sofistas tinham uma posição ambígua em relação 
a democracia. Eles eram um grupo de pessoas que 
dominavam a arte da retórica e ensinavam suas regras a 
quem podia pagar. Em certo sentido, eles defendiam que 
qualquer um poderia participar da democracia, uma vez 
que a base da política é a retórica e não o conhecimento. 
Demos = povo
Kratos = poder
DEMOCRACIA
A Cidadania Cidadania | UNISUAM 
14
confundimos 
o direito de 
expressão 
com direito 
de ofensa
Assim, qualquer um é capaz de participar dos debates 
utilizando-se da lógica. Contudo, ao admitir que nunca 
conhecemos a verdade na sua plenitude, e pouco 
podemos fazer para mudar a realidade, abordavam a 
política com um certo ceticismo (descrença).
A democracia, enquanto regime político, coloca o desafio 
para o cidadão de viabilizar sua participação nas decisões 
políticas, mas ao mesmo tempo essa participação pode ser 
prejudicial aos próprios cidadãos quando as informações 
técnicas ou quando o discurso emocionado influencia 
as opiniões e gera um resultado indesejado. Por isso, a 
democracia tem de estar constantemente se renovando 
e se aperfeiçoando.
Um exemplo desta situação são os discursos de ódio e 
preconceito que observamos nos meios de comunicação 
e nas mídias sociais. Quando confundimos o direito de 
expressão com direito de ofensa. Quando confundimos 
o direito de defender os nossos interesses com a guerra 
contra quem pensa diferente. E, observamos isso de 
forma generalizada tanto para quem defende os grupos 
LGBT e afins quanto aqueles que defendem valores 
sociais mais conservadores. O mesmo pode ser visto 
em outros temas.
http://1.bp.blogspot.com/-Bmt1V4v1lxA/UTf7L_8ClYI/
AAAAAAAAAS4/r3LY37udvSw/s400/lgbt.png
http://2.bp.blogspot.com/-ljf5pfL9Fn8/UbAWJfm3zPI/
AAAAAAAAVqw/kv3pqo5jYhE/s640/06.jpg
http://4.bp.blogspot.com/_0Pi_X-ntZLY/SCtqwxKnqxI/
AAAAAAAAADM/0JxoWDTnANw/s400/amarildo_
aborto_camisinha%255B1%255D.jpg
A Cidadania Cidadania | UNISUAM
15
a democracia 
para permitir 
o exercício 
continuo da 
cidadania tem de 
ser compreendida 
como processo 
muito mais do 
que uma reta de 
chegada
Ainda assim, com todas as críticas e poucas experiências bem sucedidas a democracia e 
a cidadania se colocam como necessárias para avançarmos num modelo societário mais 
equilibrado e desenvolvido. Que não pode se construir com base na luta pelo poder. Como 
nos ensina Augusto de Franco, a democracia: 
“é uma insubordinação contra o poder vertical, entendido como o poder 
de obstruir, separar e excluir, aquele poder que se estrutura instalando 
centralizações na rede social para tornar seus agentes capazes de 
mandar alguém fazer alguma coisa contra sua vontade. “ (Franco, p.19)
Completa John Dewey apud Franco (Idem. p.22): 
“A ideia de democracia é uma ideia mais ampla e mais completa do 
que se possa exemplificar no Estado, ainda no melhor dos casos. Para 
que se realize, deve afetar todos os modos de associação humana, a 
família, a escola, a indústria, a religião. Inclusive no que se refere às 
medidas políticas, as instituições governamentais não são senão um 
mecanismo para proporcionar a essa ideia canais de atuação efetiva”
Atualmente, vivemos em uma sociedade em rede, aonde as pessoas estão conectadas e 
interagindo entre elas graças a tecnologia da internet. As relações que estabelecemos uns 
com outros permitem o fluxo de informação e a tecnologia tem diminuído a distância entre 
nós. Essa nova realidade permite também a ação coletiva e mecanismo de expressão de 
opinião capaz de pressionar governos virtualmente ou numa intervenção real incluindo número 
crescente de pessoas com cada vez mais velocidade.
Todos esses recursos podem ser uma maravilhosa ferramenta 
para expansão da democracia, e uma verdadeira ameaça, 
quando usado para formar consensos que impactam sobre 
grande contingente de pessoas. Esse também tem sido o 
desafio de todos aqueles que um dia sonharam com um 
mundo melhor partindo do princípio da igualdade entre todas 
as pessoas, mas também é a grande tarefa e o que permite 
a democracia sempre se atualizar. Em outras palavras, a 
democracia para permitir o exercício continuo da cidadania 
tem de ser compreendida como processo muito mais do que 
uma reta de chegada. No caminho, na sua dinâmica ela se 
renova e aperfeiçoa.
Chegamos ao final e agora podemos voltar a pergunta 
inicial com a certeza de que ela permite múltiplas 
respostas. Não só em razão das diferentes opiniões 
sobre o tema, assim como das alternativas disponíveis 
ou que podem vir a ser criadas para evitar algum 
maleficio para a sociedade.
Sem dúvida é um debate que não se esgota nesse 
exercício ou neste momento e como todos os outros 
devem ser renovados e trazidos a esfera pública para que 
todos possam se envolver com ele, pois afinal ele está 
presente no nosso cotidiano, seja na casa, no trabalho ou 
na sociedade sob forma de criminalidade.
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Sugiro uma reflexão sobre o tema da descriminalização 
e a legalização do uso de drogas ou da maconha em 
particular.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/
foto/0,,17925430,00.jpg
 Com base no estudado nesta unidade vocês 
devem considerar se deve prevalecer o princípio 
da liberdade (pautado no direito individual) ou o 
interesse coletivo (em função dos gastos públicos 
com tratamento entre outros)? Devemos nos pautar 
nos argumentos técnicos que apontam benefícios 
terapêuticos ou os argumentos que apontam para 
a dependência e efeitos negativos sobre a saúde? 
Ainda que se considere esses argumentos, será 
que a forma e os controles sociais hoje disponíveis 
trazem melhorias ou prejuízo para a sociedade 
como um todo?
aprofundando
Bibliografia:
ARENDT, Hannah. A condição humana. Editora Forense. Rio de Janeiro, 2003
______________. O que é política? Editora Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 2002.
FRANCO, Augusto de. A terceira invenção da democracia. São Paulo: 2013 Disponível 
em: http://pt.slideshare.net/augustodefranco/a-terceira-inveno-da-democracia-29335826Acessado em: 13/10/2014
____________ Democracia: um programa auto didático de aprendizagem São Paulo: 
2010.
SARAMARGO, José: Onde está então a democracia? Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=HRX5j9OYrrE Acessado em: 13/10/2014.
TUCÍDIDES. História da guerra do Peloponeso. Trad. Mário da Gama Kury.– Editora UNB, 
Brasília: Editora, 1987, pg. 108-114.
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