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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO –PUC -SP Prof. Dr. Nelson Nery Jr. Prof. Dr. Georges Abboud Prof. Mestre José Carlos Van Cleef de Almeida Santos Aluno Monitor Ricardo Fernandes Aluno Monitor Victor Schneider 2014.02 TEORIA GERAL DO PROCESSO CIVIL: CONCEITOS ESTRUTURAIS 1. Direito de ação: é o direito fundamental que garante ao seu titular o poder de solicitar ao Estado a prestação da tutela jurisdicional adequada, tempestiva e efetiva para resolver um determinado conflito de interesses. É direito fundamental que decorre da garantia da inafastabilidade da jurisdição (CF 5º XXXV: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito) e do devido processo legal (LIV: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal). 2. Características: o direito de ação é um direito subjetivo, autônomo, abstrato e instrumental. 3. Ação: é um ato jurídico. Trata-se do exercício do direito de ação. A ação também é conhecida como demanda, termo que a doutrina processual civil prefere porquanto mais técnica, preciso e evita imprecisões. É ato jurídico importantíssimo porque a ação – demanda – é fato gerador do processo e fenômeno que define o objeto litigioso do processo. O direi to de a ção é Subjetivo: pois dentro do ordenamento normativo, concede ao indivíduo espaço de autonomia, um verdadeiro poder de iniciativa que é irrenunciável e insubstituível; Autônomo: pois a sua titularidade independe da existência do direito material a>irmado pelo sujeito; Abstrato: pois a sua existência não está condicionada a con>irmação através de sentença de procedência; Instrumental: porquanto o seu >im não é o enfrentamento da pretensão de direito material, mas, sim, de direito processual. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO –PUC -SP Prof. Dr. Nelson Nery Jr. Prof. Dr. Georges Abboud Prof. Mestre José Carlos Van Cleef de Almeida Santos Aluno Monitor Ricardo Fernandes Aluno Monitor Victor Schneider 2014.02 4. Demanda: O CPC emprega a expressão demanda de forma equivocada em diversas passagens, a saber: à CPC 70, III: demanda = “conflito instaurado”; “Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória: III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda.” à CPC 593 II, 835, 852, parágrafo único = “processo”; “Art. 593. Considera-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens: II - quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência;” “Art. 852. É lícito pedir alimentos provisionais: Parágrafo único. No caso previsto no nº I deste artigo, a prestação alimentícia devida ao requerente abrange, além do que necessitar para sustento, habitação e vestuário, as despesas para custear a demanda.” à CPC 321, 461 §3º = “provocar jurisdição” – concepção correta. “Art. 321. Ainda que ocorra revelia, o autor não poderá alterar o pedido, ou a causa de pedir, nem demandar declaração incidente, salvo promovendo nova citação do réu, a quem será assegurado o direito de responder no prazo de 15 (quinze) dias. “Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada”. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO –PUC -SP Prof. Dr. Nelson Nery Jr. Prof. Dr. Georges Abboud Prof. Mestre José Carlos Van Cleef de Almeida Santos Aluno Monitor Ricardo Fernandes Aluno Monitor Victor Schneider 2014.02 à Demanda é a iniciativa do processo pertencente à parte, porque o juiz não procede de ofício e não toma em exame uma controvérsia sem que assim lhe peça o interessado. É o ato de iniciação processual (de vir a juízo) com o conteúdo postulatório da pretensão processual. à É através da demanda, também, que se limita o conteúdo do provimento jurisdicional clamado pelo autor e se fixam os pontos sobre os quais a função jurisdicional será exercida. 5. Lide. Carnelutti: “conflito intersubjetivo de interesses qualificados por uma pretensão resistida (discutida)”. à Uma vez que o Estado veda a autotutela, a parte vai ao Poder Judiciário exercer uma pretensão sobre um bem (jurídico) e na medida em que esta pretensão sofre resistência pela parte contrária, que se nega em sujeitar-se à referida pretensão (alheia), instaura-se a lide, que, por sua vez, se revela como o ponto central do processo contencioso e o objeto de resolução por parte do juiz. à A lide inicia-se com o processo? Não é pressuposto para a iniciativa desse. à A lide manifesta-se no processo tal como na vida real? Não necessariamente, apenas de acordo com os contornos que o autor deu na petição inicial. 7. Objeto central de análise do juiz é o direito material? A função do direito material no processo é unicamente do ponto de vista jurídico, de um critério jurídico. Não é o objeto do litígio, tampouco, o que determina o conteúdo do objeto litigioso. No processo, a pretensão processual – a solicitação, requerida no pedido, de uma decisão judicial –, é a forma pela qual o autor faz valer o seu direito material, a sua pretensão de direito material. O direito material é protegido pelo processo de forma reflexa. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO –PUC -SP Prof. Dr. Nelson Nery Jr. Prof. Dr. Georges Abboud Prof. Mestre José Carlos Van Cleef de Almeida Santos Aluno Monitor Ricardo Fernandes Aluno Monitor Victor Schneider 2014.02 8. Elementos da ação. São os dados que individualizam a solicitação do agir da parte frente ao Poder Judiciário. Mas qual a relevância individualizar- se a demanda? à Identifica os limites do objeto que se põe perante ao juiz para enfrentamento; à Possibilita a análise da litispendência ou da coisa julgada. “CPC 301 § 3º Há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há coisa julgada, quando se repete ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso” à Quais são os elementos da ação? a) Partes: definição de Chiovenda à Parte processual (da demanda) pode ser diferente da parte material (da relação substancial)? b) Causa de pedir: são os fundamentos de fato e de direito do pedido do autor. Divide-se em: b.1) Causa de pedir próxima: são os fundamentos de fato, ou seja o inadimplemento, a ameaça, a violação do direito. É o acontecimento do fundo fenomênico que autoriza o autor a demandar. Daí porque a causa de pedir próxima ou imediata é a violação do direito do autor, isto é o fundamento do pedido do autor. A pura e simples afirmação de um direito abstrato não permite o ingresso em juízo, porque é necessário seja esclarecido qual o motivo pelo qual se necessita da tutela jurisdicional. b.2) Causa de pedir remota: é o que mediatamente autoriza o pedido. Uma vez ocorrida a lesão do direito, o ordenamento jurídico lhe fornece a base jurídica paraque deduza pretensão processual em juízo. É o título do pedido (a que título você pede?), que tanto pode se a lei, o direito o contrato. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO –PUC -SP Prof. Dr. Nelson Nery Jr. Prof. Dr. Georges Abboud Prof. Mestre José Carlos Van Cleef de Almeida Santos Aluno Monitor Ricardo Fernandes Aluno Monitor Victor Schneider 2014.02 c) Pedido: é a pretensão processual. É o que o autor pretende receber do Estado-juiz. O enfrentamento do pedido proporciona ao autor a proteção ao direito material. Divide-se em: c.1) Pedido imediato: é o provimento jurisdicional clamado. c.2) Pedido mediato: bem da vida para o qual pretende-se proteção. 9. Condições da ação: o direito de ação, conquanto autônomo e abstrato, por significar o direito ao provimento jurisdicional necessário à proteção do bem da vida (i.e. direito ao julgamento do mérito) submete-se a determinadas submissões. Ou seja, para que o julgamento do mérito seja exercido pelo juízo é necessário estejam presentes algumas condições, sempre aferíveis à luz da relação jurídica de direito material para a qual busca-se proteção. São as condições da ação, a saber: a) Legitimidade ad causam: é a pertinência subjetiva da demanda, ou seja é a posição da parte frente ao direito material para o qual se busca proteção que a autorize a conduzir o processo. a.1) Legitimidade ad causam ordinária: correspondência entre legitimidade para a causa e titularidade do direito material. Legitimado ordinário faz pedido em nome próprio; a.2) Legitimidade extraordinária: não há correspondente entre a titularidade do direito material e a legitimação para a causa. b) Interesse de agir: é o que autoriza o autor a demanda, é a justificação para clamar pela incidência da tutela jurisdicional (constata-se na causa de pedir próxima, fática). Respeita o binômio necessidade vs. utilidade. - Representa a necessidade da parte requerer a prestação jurisdicional de modo a proteger seu direito material controvertido e a utilidade de alcançar uma verdadeira vantagem que sem a prestação jurisdicional não seria possível. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO –PUC -SP Prof. Dr. Nelson Nery Jr. Prof. Dr. Georges Abboud Prof. Mestre José Carlos Van Cleef de Almeida Santos Aluno Monitor Ricardo Fernandes Aluno Monitor Victor Schneider 2014.02 c) Possibilidade jurídica do pedido: o pedido de tutela jurisdicional dirigido ao Poder Judiciário não pode ser vetado pelo ordenamento jurídico, tampouco de impossível conquista. 10. Pressupostos processuais. São elementos prejudiciais à análise do mérito e inerentes à formação válida da relação jurídica processual. A doutrina brasileira afilia-se a doutrina italiana e divide os pressupostos processuais em dois grupos: 11. Pressupostos processuais de existência. a) Petição inicial. Peça processual destinada a quebra da inércia da jurisdição. b) Órgão investido de jurisdição. Sem que o processo se estabeleça diante de um órgão estatal munido de jurisdição, não há de se falar em existência de uma relação jurídica processual, mormente porquanto a mesma ser triangular. c) Citação. Sem que ocorra o ato formal da citação, não existe processo. d) Capacidade postulatória. Sem que o autor procure o poder judiciária através de advogado, não existe processo. Exceção JECS até 20 salários mínimos. Aplica-se este pressuposto apenas para o autor, conforme artigo 13, I, CPC. Caso o Réu não compareça com advogado, será considerado revel, 13, II, CPC. e) Capacidade de ser parte. Aptidão genérica de figurar como sujeito de relação jurídica. Artigo 1º. CCB. 12. Pressupostos processuais de validade. a) Petição inicial apta. Sem que haja petição inicial apta, a teor dos artigos 282 e 295 do CPC, não há de se falar em desenvolvimento valido do processo. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO –PUC -SP Prof. Dr. Nelson Nery Jr. Prof. Dr. Georges Abboud Prof. Mestre José Carlos Van Cleef de Almeida Santos Aluno Monitor Ricardo Fernandes Aluno Monitor Victor Schneider 2014.02 b) Órgão investido de jurisdição competente e imparcial. A luz do juiz natural, não basta que haja jurisdição, o órgão que a expressa deve ser competente e imparcial para a causa. c) Citação válida. Para o processo existir ser válido, a citação deve ocorrer de forma válida. d) Capacidade de estar em juízo ou capacidade processual. Capacidade ad processum. Relaciona-se com a posição de um sujeito frente a um processo concreto. Evidencia-se que todos que tem capacidade plena, ou seja, acima de 18 anos podem estar em juízo. à No caso de não observância deste pressuposto processual, o juiz não deve extinguir o processo de imediato, mas sim, observar o disposto no artigo 13 do CPC. “Art. 13. Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das partes, o juiz, suspendendo o processo, marcará prazo razoável para ser sanado o defeito.” 13. Representação. Trata-se de fenômeno pelo qual se supre a incapacidade de estar em juízo de determinada pessoa. Evidencia-se, nesse aspecto, que o representante pede direito alheio em nome alheio (CPC 8 e 10) “Art. 8º. Os incapazes serão representados ou assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na forma da lei civil.” “Art. 10. O cônjuge somente necessitará do consentimento do outro para propor ações que versem sobre direitos reais imobiliários.” 14. Substituição processual. Trata-se dos casos de legitimação extraordinária, pelos quais o sujeito do processo pede direito alheio em nome próprio. O mesmo tem capacidade de estar em juízo, mas não tem o direito material em discussão. Decorre de lei da relação jurídica de direito material incindível. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO –PUC -SP Prof. Dr. Nelson Nery Jr. Prof. Dr. Georges Abboud Prof. Mestre José Carlos Van Cleef de Almeida Santos Aluno Monitor Ricardo Fernandes Aluno Monitor Victor Schneider 2014.02 15. Sucessão processual. Trata-se da modificação da parte na relação jurídica processual. Art. 41 e 43, CPC. “Art. 41. Só é permitida, no curso do processo, a substituição voluntária das partes nos casos expressos em lei.” “Art. 43. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 265.” “Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato entre vivos, não altera a legitimidade das partes. § 1º O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo, substituindo o alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte contrária. § 2º O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto, intervir no processo, assistindo o alienante ou o cedente. § 3º A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário.” 16. Pressupostos processuais negativos. Tratam-se de institutos que devem estar ausentes para que ocorra o desenvolvimento válido do processo. Na pendência destes pressupostos, o processo não será válido. a) Litispendência. Repetição de uma mesma ação. Extinção 267, V, CPC. b) Coisa julgada. Repetição de ação idêntica já julgada. Extinção do processo 267, V, CPC. c) Perempção. 268, CPC. Uma vez extinta a ação por três vezes, o autor não poderá repropor a quarta. 17. Caminho ao julgamento do mérito: Pode-se evidenciar, nesse sentido, que em um primeiro momento, ao concluir que todos os elementos de admissibilidade do julgamento do mérito estão presentes (pressupostos processuais e condições da ação), o juiz manifesta total desimpedimento para iniciara perquirição sobre o material restante que lhe conduzirá à solução do meritum causae (questões de mérito). PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO –PUC -SP Prof. Dr. Nelson Nery Jr. Prof. Dr. Georges Abboud Prof. Mestre José Carlos Van Cleef de Almeida Santos Aluno Monitor Ricardo Fernandes Aluno Monitor Victor Schneider 2014.02 Em ato subsequente, ao resolver as questões ligadas aos fatos e aos fundamentos jurídicos evocados pelo autor (realizando a subsunção), não está o juiz, propriamente, resolvendo o mérito, mas, apenas, enfrentando os elementos básicos e essenciais acerca dos quais restavam dúvidas (questões), e cujo enfrentamento representa caminho necessário pelo qual será o juiz conduzido ao ponto propício para dar solução ao mérito da causa propriamente dito, resolvendo-o. Realizando este passo, o juiz dá resposta à questão de mérito, que servirá de fundamento para o passo seguinte, que é a resolução (ou não) do mérito da causa.
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