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Aquela corrente pra frente

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CLIO História – Textos e Documentos 
 
Aquela corrente pra frente 
Objeto de politicagem e de interferências por parte 
do governo, nos tempos da ditadura militar o fute-
bol brasileiro foi assunto de segurança nacional 
 
Gilberto Agostino 
 
"De repente é aquela corrente pra frente, parece 
que todo o Brasil deu a mão, todos ligados na 
mesma emoção, tudo é um só coração." 
Marcha de Miguel Gustavo para a Copa do Mundo de 1970. 
 
 
Além de conduzir os militares ao poder, a nova 
ordem instituída após a queda do presidente João 
Goulart, em 31 de março de 1964, foi também 
decisiva para os rumos do futebol brasileiro. O 
Estado, reorganizado pelos novos donos do poder, 
estabeleceu a partir daí uma série de imposições 
disciplinadoras no universo esportivo. Uma dessas 
primeiras demonstrações, com vistas a enquadrar 
nosso futebol às novas diretrizes governamentais, 
foi o cancelamento, pela Confederação Brasileira de 
Desportos (CBD), de uma partida entre as seleções 
brasileira e soviética. A medida, que expressava o 
zelo anticomunista da chamada linha-dura no po-
der, desarticulou a aproximação esportiva do Brasil 
com os países do bloco socialista, iniciada pelos 
governos anteriores. 
 
Logo em seguida, foi a aproximação da Copa do 
Mundo de 1966, na Inglaterra, que passou a mobi-
lizar o governo. Em princípio, nada havia a temer, 
pois o Brasil se apresentava como o grande favori-
to na competição. Chegou-se até a propor a con-
fecção antecipada de uma nova taça - se chamaria 
Winston Churchill -, já que era dado como certo 
que a Jules Rimet voltaria com a delegação brasi-
leira para casa, consumando a posse definitiva do 
troféu. Contrariando a expectativa, a Seleção apre-
sentou um futebol muito aquém de 1958 e 1962 
nos gramados ingleses, sendo eliminada nas oita-
vas-de-final pela seleção portuguesa. De volta ao 
Brasil, nossos jogadores desembarcaram no Aero-
porto do Galeão, vigiados por agentes do Serviço 
Nacional de Informações (SNI), um dos órgãos da 
repressão mais atuantes da ditadura. 
 
Acalmados os ânimos e demovidas as intenções 
governamentais de formar uma Comissão Parla-
mentar de Inquérito para investigar o fracasso 
brasileiro na Inglaterra, João Havelange, presiden-
te da CBD, impôs uma série de mudanças na estru-
tura da Seleção, principalmente a partir da criação 
da Comissão Selecionadora Nacional (Cosena), 
estrutura esportiva claramente inspirada no modelo 
militar que caracterizava a política brasileira no 
período. Sofrendo a pressão de interesses, clubes, 
dirigentes, federações, o órgão não conseguiu os 
resultados que dele se esperava, uma vez que a 
seleção brasileira colecionou uma série de maus 
resultados em uma excursão feita à Europa, coro-
ando o fiasco com uma derrota para o México, em 
pleno Maracanã, no Rio de Janeiro. 
 
Dissolvida a Cosena, Havelange procurava acertar 
a seleção brasileira a qualquer preço. Nesse senti-
do, sentido, nenhuma estratégia era descartável, 
até mesmo a possibilidade de contratar um técnico 
contrário aos valores golpistas, que ainda àquela 
altura a propaganda governamental insistia em 
chamar de valores revolucionários. Foi nessas cir-
cunstâncias que o jornalista e radialista João Sal-
danha assumiu a Seleção, sendo bombardeado por 
todos os lados. Os paulistas lamentaram que a CBD 
tivesse se rendido a um carioca, enquanto os mili-
tares mais conservadores também falavam em 
rendição, só que a um comunista. Em outro plano, 
jornalistas surpresos e técnicos que cobiçavam o 
cargo insistiam em que Saldanha era bom de mi-
crofone, mas que treinar uma equipe de futebol, 
ainda mais com os problemas que enfrentava a 
seleção brasileira, era coisa muito diferente. 
 
Assumindo o cargo, o novo técnico fez bom uso da 
geração privilegiada de jogadores que tinha em 
mãos e angariou uma série de triunfos, aproxi-
mando a Seleção do homem comum, dos militares 
e até mesmo dos militantes de esquerda. Estádios 
ficaram lotados e o Hino Nacional voltou a ser can-
tado sem a pecha de adesão à ditadura que passou 
a caracterizá-lo a partir de 1964. Uma pesquisa 
feita no Rio de Janeiro apontava a popularidade de 
Saldanha: 71%. Os paulistas, enfim rendidos ao 
bem-sucedido desempenho do técnico, não ficaram 
muito atrás: 68%. Mesmo com estes índices, por 
mais que Saldanha estivesse consolidado no cargo, 
as tensões políticas cresciam em um país marcado 
pela repressão, que viera à tona na esteira do AI-
5, de dezembro de 1968. Detentor do bicampeona-
to, o futebol brasileiro não podia passar incólume 
pela obsessão legitimadora que o governo militar 
perseguia permanentemente, passando a interferir 
cada vez mais nas esferas do esporte. 
 
Futebol e política se encontrariam quase sempre 
nos meses seguintes, logicamente com atritos 
crescentes entre o técnico e o governo federal. 
Este, aliás, passando por atribulações desde o dia 
27 de agosto de 1969, quando o presidente Costa 
e Silva sofreu o que se diagnosticara como um 
acidente vascular cerebral. Viajando para o Rio de 
Janeiro - um cachecol no pescoço sugeria gripe, 
 CLIO História – Textos e Documentos 
 
mas escondia a paralisia do lado direito da face -, o 
presidente foi encaminhado ao Palácio Laranjeiras. 
Em poucas horas, entraria em estado de coma, 
abrindo uma grave crise governamental. Seu vice, 
o político mineiro Pedro Aleixo, não era encarado 
como homem de confiança pelos militares, o que 
tornou necessária uma solução imediata para o 
caso, encaminhado para o comando das Forças 
Armadas. 
 
No dia 31 de agosto, o Ato Institucional nº 12, que 
transferia os poderes presidenciais para uma Junta 
Militar, foi anunciado à nação. Talvez não tenha 
sido mera coincidência que neste mesmo dia, no 
Maracanã, o Brasil jogasse sua última partida das 
eliminatórias para a Copa de 70. Pouco antes de a 
Seleção entrar em campo, já circulava no estádio o 
boato de que alguma coisa acontecera ao presiden-
te Costa e Silva. Enquanto alguns falavam em gri-
pe e outros em infarto, havia quem dissesse que o 
presidente já estava morto, apesar do governo não 
se pronunciar oficialmente. Segundo o jornalista 
João Máximo, biógrafo de João Saldanha, o general 
Elói Menezes, presidente do Conselho Nacional de 
Desportos (CND), procurou o técnico antes do jo-
go: 
 
- Saldanha, o presidente Costa e Silva acaba de 
falecer - teria dito. - O que acha de prestarmos a 
ele um minuto de silêncio antes do jogo? 
 
Saldanha fez-lhe ver que não era boa idéia. Mara-
canã cheio, decisão com Paraguai, Hino Nacional, 
clima de festa, tudo aquilo. Melhor não. Citava o 
amigo Nelson Rodrigues: "No Maracanã vaia-se até 
minuto de silêncio". 
 
A acreditar-se em Saldanha, depois foi desmentido 
pelo general, o anúncio no Maracanã da morte do 
presidente (que ainda estava em coma) seria o 
balão-de-ensaio da ditadura para testar a reação 
popular diante de uma notícia que envolvia os ru-
mos do governo. Sem minuto de silêncio ou pro-
nunciamento oficial, o público que foi ao estádio 
viu o que 
de fato queria. A seleção brasileira venceu o Para-
guai por 1 a 0 - gol de Pelé. 
 
A classificação do Brasil sugeria que o treinador 
tinha agora um período de estabilidade pela frente, 
preocupando-se apenas com o Mundial do México. 
De fato, poderia ter sido assim, mas não foi. Ao 
mesmo tempo em que a repressão política aumen-
tava, a relação entre o esporte mais popular do 
país e a política se intensificou. Emílio Garrastazu 
Médici, que tomou posse como presidente da Re-
pública no dia 30 de outubro de 1969, sucedendo a 
Costa e Silva, era um apaixonado pelo esporte, a 
ponto de interromper reuniões ministeriais para 
saber os resultados dos jogos. Grudado no radinho 
de pilha - imagem que o aproximava do "homem 
comum" -, o novo presidentese arriscou várias 
vezes a freqüentar estádios lotados, não raro tendo 
sua presença anunciada pelos alto-falantes. Pro-
movia-se assim uma importante estratégia de pro-
paganda da Assessoria Especial de Relações Públi-
cas da Presidência (AERP), no sentido de transfor-
mar o general Médici em torcedor número 1 da 
nação, articulando os trunfos futebolísticos à ima-
gem de Brasil-potência que o governo se esforçava 
em difundir. 
 
À medida que a Copa de 1970 se aproximava, as 
possibilidades da interação futebol-poder se ampli-
avam. Ainda em 1969, apresentou-se uma oportu-
nidade sem igual para o governo: a festa comemo-
rativa em torno do milésimo gol de Pelé, conquis-
tado pelo craque em novembro, no Maracanã, em 
partida contra o Vasco. Nos dias seguintes ao seu 
feito sensacional, Pelé desfilou em carro aberto em 
Brasília, sendo recebido pelo presidente Médici, que 
lhe concedeu a medalha de mérito nacional e o 
título de comendador. No jogo seguinte do Santos 
no Mineirão, o atleta recebeu uma coroa de ouro 
do tempo do Império, ao mesmo tempo em que 
era produzida uma infinidade de marcos comemo-
rativos, como medalhas, selos, bustos, placas e 
troféus. 
 
Enquanto os ecos do milésimo gol ainda se faziam 
ouvir no mundo todo, disputando espaço com a 
epopéia do homem na lua em todas as retrospecti-
vas de fim do ano, 1970, pelo menos no campo 
esportivo, foi aberto sob o signo da expectativa. 
Médici assinava o decreto que instituía a Loteria 
Esportiva no país, procurando conciliar o esporte 
com a sorte, o enriquecimento fácil e a chance de 
mobilidade social para todos. Válido inicialmente 
para Rio de Janeiro e São Paulo, o presidente pro-
metia que até a Copa o jogo lotérico seria ampliado 
para todo o Brasil. A Seleção, entretanto, vinha 
acumulando uma série de problemas, entre derro-
tas em amistosos, polêmicas com outros treinado-
res, e divisões internas. Tudo parecia conspirar 
contra a tranqüilidade que Saldanha precisava para 
trabalhar o time, ainda considerando-se que não 
contava com uma comissão técnica de sua inteira 
confiança. 
 
Para tumultuar ainda mais o ambiente, veio à tona 
toda uma polêmica envolvendo o artilheiro Dario, 
jogador que encantava o próprio presidente Médici, 
que, aliás, na sua paixão pelo futebol, também 
admirava o esquema de jogo de Saldanha e os 
resultados obtidos nas eliminatórias. Dizia-se que o 
presidente queria ver o jogador na Seleção Na ver-
dade, se tudo estivesse correndo bem nas quatro 
linhas, possivelmente o caso Dario não ganhasse a 
projeção que ganhou. Mas com o time em desacer-
to, tudo era motivo para o questionamento, levan-
do Saldanha a retrucar as opiniões que os repórte-
res diziam ser do presidente com a mais célebre de 
suas tiradas: "Pois olha: o presidente escala o mi-
nistério dele que eu escalo o meu time". Não se 
sabe ao certo se Médici estava tão empenhado na 
escalação de um jogador específico, em um mo-
mento em que os desafios governamentais eram 
muito grandes. Certo sim é que a figura de Salda-
nha era considerada muito inconveniente pelo seu 
destempero e por sua propalada independência 
 CLIO História – Textos e Documentos 
 
política. Temia-se que o treinador chegasse ao 
México com uma lista de presos políticos no bolso, 
e, em entrevista coletiva, diante de microfones e 
câmeras do mundo todo, denunciasse o desrespei-
to aos direitos humanos que vinha ocorrendo no 
Brasil. Mais do que Dario ou episódios envolvendo 
outros jogadores e técnicos, esta era uma preocu-
pação muito séria para a imagem que a ditadura 
queria promover de si mesma no exterior. E como 
bem ou mal Saldanha era popular, pretextos para-
lelos ganharam mais projeção do que deviam, con-
dicionando a queda do treinador principalmente a 
problemas com Pelé, com Yustrich - técnico que 
cobiçava o cargo - ou com um amistoso contra o 
Bangu, em que a seleção brasileira jogou muito 
mal. Alguns dias depois a comissão técnica foi "dis-
solvida" e Mário Jorge Lobo Zagallo, que treinava o 
Botafogo, foi apresentado como sucessor de Salda-
nha. 
 
Com as transformações na comissão técnica, João 
Havelange tinha agora o caminho aberto para a 
militarização da delegação que conduziria o Brasil 
ao México. Esta era chefiada pelo major-brigadeiro 
Jerônimo Bastos, com a segurança ficando a cargo 
do major Ipiranga dos Guaranys, além de contar 
ainda com os militares Cláudio Coutinho, Raul Car-
lesso e José Bonetti, alguns deles integrantes da 
antiga Cosena. Cabelos cortados no estilo da ca-
serna, preparação física coordenada por militares, 
contraditoriamente a Seleção se transformaria, 
dentro de campo, em paradigma do verdadeiro 
futebol-arte que tanto se fala desde então.A cada 
vitória, uma aclamação popular que parecia legiti-
mar o próprio regime. Tudo indica que a Presidên-
cia fez questão de aproveitar o embalo da seleção 
brasileira para anunciar à nação o projeto da Tran-
samazônica em junho de 1970, temendo talvez que 
o encanto propiciado pelo fantástico desempenho 
da Seleção no México se quebrasse. Consumada a 
vitória, o governo explorou o tricampeonato de 
todas as formas possíveis, procurando potencializar 
o futebol como um fator capaz de promover a "uni-
dade na diversidade". Os responsáveis pela AERP, 
entretanto, não encontrariam maiores dificuldades 
em convencer as autoridades da importância do 
momento. Paralelamente ao presidente Médici, que 
recebeu todos os jogadores em Brasília antes de 
qualquer outra autoridade, já que a delegação vo-
ou direto do México para a capital, instituindo feri-
ado nacional para valorizar a recepção, não foram 
poucos os governadores, prefeitos e vereadores 
que fizeram de tudo para posar do lado dos cra-
ques. Para os mais diretamente ligados ao gover-
no, repetir o discurso oficial era fácil, uma vez que 
bastava relacionar o desempenho da Seleção ao 
momento de euforia econômica que se convencio-
nou chamar de "Milagre Brasileiro". 
 
Em 1971, como demonstração que a interação 
futebol-poder para a ditadura não se limitaria à 
Copa do Mundo, tinha início um campeonato com 
clubes da maioria dos estados brasileiros, substi-
tuindo a fórmula anterior que só agregava os cinco 
maiores estados da federação. Paralelamente, es-
tádios eram inaugurados em todo o Brasil, geral-
mente com a presença de autoridades do governo, 
em muitos casos do próprio presidente. Morumbi, 
em São Paulo; Rei Pelé, em Maceió; Castelão, no 
Ceará, além de vários outros, eram monumentos 
que aproximavam o governo do conjunto da popu-
lação, enquadrando-se no modelo de grandes 
obras que marcava o período. Em 1972, procuran-
do ainda canalizar a fórmula do tricampeonato, tão 
satisfatória para o governo, João Havelange orga-
nizou a Taça Independência, comemorando o ses-
quicentenário da Independência do Brasil e pavi-
mentando seu caminho para a presidência da Fede-
ração Internacional de Futebol (FIFA). Vinte sele-
ções atuaram nesta verdadeira Minicopa, embora 
Alemanha, Inglaterra e Itália não participassem, 
afirmando que a competição possuía fins políticos 
que se sobrepunham aos esportivos. Pelé também 
se negou a jogar, alegando que sua imagem vinha 
sendo utilizada pelo regime para legitimar a ditadu-
ra no exterior. Sem empolgar a nação como o go-
verno esperava, a competição teve um jogo em-
blemático: Brasil e Portugal. Cento e cinqüenta 
anos depois, Colônia e Metrópole se encontravam, 
marcadas por um trágico destino comum: os dois 
sob governos ditatoriais - Portugal ainda vivia sob 
o regime salazarista. 
 
Apesar de não ter jogado a Taça Independência, 
Pelé foi uma figura central na eleição de Havelange 
para a FIFA. Desde o final dos anos 60, a relação 
entre os dois vinha se estreitando, muito em parte 
em função das necessidades financeiras do joga-dor, que perdera um bom dinheiro em uma série 
de negócios realizados em Santos. Em 1969, em 
um dos lances mais citados da carreira do Rei, 
Havelange organizou uma excursão da equipe san-
tista à África, já pensando nos votos que poderiam 
ser colhidos nas federações africanas. Após passa-
rem por diversos países, o pretendente ao cargo 
maior da FIFA divulgou a história de que o carisma 
de Pelé interrompera a guerra civil na Nigéria, ver-
são até hoje repetida como demonstração não só 
do mito em torno do jogador, mas também da ca-
pacidade de conciliação que o esporte pode propi-
ciar. Posteriormente, à medida que a relação entre 
os dois foi esfriando, Pelé apresentou uma versão 
um pouco menos romântica da história. 
 
"Nós jogamos na capital da Nigéria [a região de 
Biafra estava em guerra, iniciada em 1967 e encer-
rada três anos mais tarde], e o que aconteceu foi 
que o governo destacou um baita contingente mili-
tar para nos proteger, impedindo que a cidade 
fosse invadida enquanto estivéssemos lá." 
 
Em 1974, quando Havelange conseguiria ser final-
mente eleito para a FIFA, vencendo o então presi-
dente Stanley Rous, o desgaste com o governo 
militar, já na presidência de Ernesto Geisel, chegou 
ao auge. A esta altura, tanto o dirigente como Pelé 
eram vigiados pelo DOPS, um dos braços represso-
res do regime. Em janeiro de 1975, Havelange 
acabou finalmente sendo afastado da CBD, tendo o 
comando da entidade passado para o almirante 
 CLIO História – Textos e Documentos 
 
Heleno Nunes. Neste novo quadro, a interferência 
do governo ditatorial no esporte ganharia ainda 
mais relevo. Foi daí que surgiu a máxima, atribuída 
à administração de Nunes, sobre as relações entre 
o futebol e a Aliança Renovadora Nacional (Arena), 
o partido do governo: "Onde a Arena vai mal, um 
time no Nacional". 
 
Revista Nossa História, nº. 14, dezembro 2004 
 
Gilberto Agostino é historiador associado ao Laboratório 
de Estudos do Tempo Presente da Universidade Federal 
do Rio de Janeiro e autor de Vencer ou morrer, futebol, 
geopolítica e identidade nacional. Rio de Janeiro: Mauad, 
2002. 
 
 
Referencia: 
Agostino, G. Aquela corrente pra frente. Revista 
nossa História, Editora Vera Cruz. n. 14, 2004.

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