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Introdução à Microeconomia Economia | 11 Objetivos Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de: • Entender o funcionamento básico do mercado, bem como onde as famílias e as empresas interagem comprando e vendendo produtos, serviços e fatores de produção; • Estar familiarizado com a nomenclatura dos fatores de produção e seu significado econômico; • Compreender as divisões do estudo econômico, e como cada divisão trata dos problemas econômicos fundamentais; • Identificar os princípios econômicos que regem o comportamento dos agentes econômicos, quando tomam decisões individuais e também como eles interagem com outros agentes no mercado; • Conhecer os princípios básicos do funcionamento da economia de um país. Economia | 13 1. Fluxo Circular da Renda e Moeda a Dois Fatores – Famílias/Empresas Pare e pense! Todos os dias, milhões de trabalhadores acordam cedo e se põem a caminho do trabalho, onde passam por um longo período exercendo suas atividades profissionais, produzindo bens ou serviços que são ofertados à sociedade. Ao final de um mês, as empresas remuneram esses trabalhadores com um salário, que será consumido na aquisição de bens e serviços necessários a sua manutenção. Estes bens e serviços foram produzidos por outros agentes econômicos, que também acordaram cedo, trabalharam por todo o mês e foram remunerados pelas empresas, e que também gastam o salário com novas aquisições, e o ciclo se repete indefinidamente. Todo esse processo se concretiza sem que você o perceba, e o diagrama do fluxo circular da renda, mostrado na Figura 1, vai permitir que você observe e entenda o fenômeno com mais detalhes. Bens e serviços vendidos Receita Remuneração Bens e serviços comprados Gastos Renda Trabalho, Terra, Capital Fluxo monetário Fluxo de insumos e produtos Fatores de produção Empresas: Contratam e utilizam fatores de produção Produzem e vendem bens e serviços Famílias: Vendem os fatores de produção Compram e consomem bens e serviços Mercado de bens e serviços: as empresas vendem as famílias compram Mercados de fatores de produção: As famílias vendem As empresas compram Figura 1: Diagrama do fluxo circular da renda. Fonte: Mankiw (2005, p.23). 14 | Economia Esse diagrama é um modelo simplificado da realidade, que mostra como a economia está organizada e como os agentes econômicos interagem uns com os outros. . Ele foi colocado aqui no primeiro capítulo porque, ao longo do curso, voltaremos a fazer referências a ele, de forma que você possa entender as noções básicas da ciência econômica. Você pode entender esse processo visualizado na Figura 1 por meio de cinco passos: 1. Imagine um mercado onde constem apenas dois tipos de agentes econômicos: as famílias e as empresas. Apenas para conhecimento, um modelo mais completo incluiria o governo, arrecadando tributos e prestando serviços públicos à sociedade e, ainda, o mercado externo, com as exportações e as importações. 2. As famílias e as empresas interagem em dois mercados. No mercado de fatores de produção, as famílias ofertam às empresas a sua mão de obra e são remuneradas com o salário; ofertam seus imóveis e recebem aluguéis; ofertam capital para compra de ações das empresas, por exemplo, e são remuneradas com o lucro e os juros. Em resumo, no mercado de fatores de produção, as famílias vendem os fatores, e as empresas compram esses insumos. Já no mercado de bens e serviços, os papéis se invertem: as empresas ofertam os bens e serviços gerados com os insumos que adquiriu e transformou, e as famílias compram esses bens e serviços para satisfazer as suas necessidades. 3. Para adquirir os bens e serviços, as famílias incorrem em gastos, em despesas que, por sua vez, se convertem em receitas para as empresas. 4. As despesas ou gastos das famílias são pagos com a renda que foi auferida com a venda dos fatores de produção: salários, aluguéis e lucros/ juros. Entretanto, essa remuneração representou uma despesa para as empresas. Para honrar essas despesas, as empresas vendem os bens e serviços às famílias, já incorporando as projeções de lucro. 5. Ao fluxo mais interno, que gira em sentido horário, damos Economia | 15 o nome de fluxo de insumos e produtos ou fluxo real da economia. Ao fluxo mais externo, que gira em sentido anti-horário, damos o nome de fluxo monetário, pois indica como se processa o fluxo do dinheiro na economia. Economia é a ciência social que estuda como os agentes econômicos decidem empregar os recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas. (Vasconcellos; Garcia, 2008). A partir dessa definição, fica clara a associação da administração de um Estado com a administração de um lar. Em ambos, os recursos produtivos são escassos e as necessidades humanas são ilimitadas, o que, frequentemente, nos leva a tomar decisões. E, na tomada de decisão, os agentes se deparam com a questão do trade-off, já que a adoção de uma escolha implica, necessariamente, no abandono de uma segunda alternativa. Então, podemos dizer que esta é a principal questão da economia: como atender as necessidades humanas ilimitadas, que aumentam com o crescimento da renda ou com o aparecimento de novas tecnologias, e como distribuir da melhor maneira possível os recursos produtivos ou fatores de produção, que são escassos. Os mercados são, em geral, mecanismos ágeis e eficazes para lidar com a escassez e a escolha. Trade-off: Expressão utilizada para definir a tendência à relação inversa entre variáveis. Por exemplo, com uma quantia de R$ 100, você pode comprar refrigerante ou carne bovina. Você pode gastar todo o dinheiro apenas comprando refrigerantes ou apenas carne. O mais sensato, porém, é que você compre um pouco de cada bem, até o limite de R$ 100. Porém, dada essa escolha inicial, se você quiser comprar mais carne, por exemplo, terá que abrir mão de uma parcela de refrigerantes por causa da restrição orçamentária de R$ 100. Em resumo, você só terá mais carne se aceitar que isso só será possível se você tiver menos refrigerantes em sua cesta! Saiba mais 16 | Economia Fatores de Produção • Terra: Refere-se ao espaço geográfico utilizado para que se construa uma fábrica, um edifício empresarial, ou para o plantio e cultivo de produtos agrícolas e criação de animais. Inclui os recursos naturais. O Brasil, por exemplo, é muito rico neste fator de produção, pois somos grandes exportadores de commodities agrícolas e minerais. • Trabalho: São os recursos humanos, a mão de obra que aplica as faculdades físicas e intelectuais no processo produtivo, seja no chão de fábrica, na lavoura, nos escritórios, no ensino, na pesquisa etc. • Capital: É o estoque de equipamentos e estruturas necessárias ao processo produtivo ou para que se possa consumir. Compreende as edificações, as fábricas, os galpões, as máquinas e os equipamentos. • Tecnologia: Inventário dos métodos de produção conhecidos e empregados em produtos, processos, inovações, que são necessários à produção e ao desenvolvimento produtivo. • Capacidade Empresarial: Competência ou habilidade para organizar, coordenar, tomar decisões, investir, controlar e dirigir um negócio com sucesso, mesmo em ambientes sujeitos a riscos. Commodity: mercadorias em estado bruto ou com grau mínimo de industrialização; matéria-prima. São produzidas em grandes quantidadese provêm do cultivo ou da extração. Exemplos: café, soja, trigo, algodão, petróleo, minérios de ferro, de cobre ou manganês, carne bovina ou de frango etc. Saiba mais Economia | 17 2. Problemas EconômicosFundamentais Sabemos que nem todos os fatores de produção são encontrados em todos os países, ou, pelo menos, são encontrados em quantidades nas diferentes nações. As sociedades enfrentam o problema de escassez de recursos para as ilimitadas necessidades humanas. A sociedade, ou um determinado segmento dela, deve decidir, a partir das escolhas coletivas, como empregar, da melhor maneira possível, os recursos existentes e escolher como irão se desenvolver a produção e o consumo no país. Assim, aparecem os problemas econômicos fundamentais, e nos perguntamos: • O que produzir: Dentro das possibilidades existentes de produção, a sociedade deverá escolher o que será produzido; • Quanto produzir: Em razão da escassez de recursos, deve-se optar por uma quantidade que racionalize a utilização dos fatores disponíveis; • Como produzir: Quais métodos de produção eficientes devem ser escolhidos, de acordo com a tecnologia existente no país, a fim de diminuir os custos de produção e utilizar, da melhor maneira, os recursos disponíveis; • Para quem produzir: A sociedade também decidirá quais setores serão mais beneficiados e como seus membros participarão da distribuição dos resultados da sua produção. 3. Divisão do Estudo Econômico Você já deve ter percebido que o estudo da Economia é bastante complexo. Porém, para facilitar esse estudo, os economistas costumam dividi-lo em quatro grandes áreas de especialização: • Microeconomia: Estuda os fundamentos das escolhas dos agentes econômicos, ou seja, indivíduos e firmas, e suas interações nos mercados específicos, considerando os 18 | Economia recursos escassos de que dispõem, por meio da Teoria do Consumidor e da Teoria da Firma. Usando a análise da oferta e da demanda por bens e serviços, a Microeconomia descreve como o mercado pode atingir um equilíbrio em relação aos preços e às quantidades demandadas pelos consumidores e ofertadas pelas firmas, tal como você viu no diagrama do fluxo circular da renda. A Microeconomia também estuda as estruturas de mercado em função do grau de concorrência entre as empresas e as implicações disso para a eficiência econômica. • Macroeconomia: Estuda a Economia como um todo, incluindo as causas e os mecanismos corretivos das grandes flutuações das variáveis conjunturais. Importa a determinação e o comportamento dos grandes agregados nacionais, proporcionados em parte pela reunião dos dados setoriais da Microeconomia. Sua estrutura é composta por 5 mercados: Bens de serviços, Mercado de trabalho, Mercado monetário (juros), Mercado de títulos (déficit e superávit) e Mercado de divisas (câmbio, dólar). Os preços Relação entre oferta e procura Consumidor, empresa e produção. 3 elementos Relação entre empresas e consumidores MICROECONOMIA Define-se pela: Da qual advém: Que são: O que define: Apresenta: Economia | 19 Figura 2: Elementos da Microeconomia e Macroeconomia. • Economia Internacional: Estuda as relações de troca entre um país e o resto do mundo por meio da balança comercial (exportação e importação de bens e serviços) e as relações comerciais e financeiras entre os residentes e os não residentes do país. Contempla as relações econômicas, como transações de bens e serviços e transações financeiras e, também, as relações internacionais do país. Isso se faz necessário porque não há um único país sequer no mundo que não precise efetuar trocas internacionais de bens e serviços. Renda, emprego, juros câmbio, títulos etc... Agregados econômicos Mercado de divisas: câmbio, dolar Mercado de títulos: défict e superávit Bens de serviços Mercado de trabalho Mercado monetário (juros) MACROECONOMIA 5 mercados Que são: Tem foco nos: Que são Cuja estrutura é composta de: 20 | Economia • Desenvolvimento Econômico: Apesar de possuir um caráter macroeconômico, o desenvolvimento econômico trata de questões de longo prazo, em busca de maneiras para melhorar o padrão da vida da população. Isso quer dizer a melhoria dos indicadores qualitativos da economia. Preocupa-se com o crescimento populacional (taxas de natalidade, de mortalidade, de analfabetismo, de esperança de vida ao nascer etc.), visando ao aumento do bem-estar da sociedade, ao progresso tecnológico e às estratégias de crescimento. Entenda melhor sobre Economia Internacional e Desenvolvimento Econômico, por meio da Figura 3: ECONOMIA INTERNACIONAL Relações de troca Por meio O que contempla? Se faz necessário Entre um país e o resto do mundo Relações econômicas: transações de bens e serviços e transações financeiras e as relações internacionais do país. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Caráter Macroeconômico, questões de longo prazo Não há um único país sequer que não precise efetuar trocas internacionais de bens e serviços Da balança comercial e das relações comerciais e financeiras Economia | 21 Figura 3: Economia Internacional e Desenvolvimento Econômico. 4. Os Dez Princípios Básicos da Economia Logo no primeiro capítulo de seu livro Princípios de Microeconomia, o economista americano N. Gregory Mankiw relacionou os dez princípios da Economia, sendo quatro os que regem as tomadas de decisão individuais, mais três princípios que dizem respeito a como as pessoas interagem entre si e, por fim, três princípios relacionados ao funcionamento da Economia. Vamos a eles! Figura 4: Os princípios da Economia. Os 10 princípios da Economia Princípios 1, 2, 3 e 4 Tomadas de decisão individuais Princípios 8, 9, e 10 Funcionamento da Economia Princípios 5, 6, e 7 Interações entre pessoas Preocupação Objetivo Crescimento populacional Aumentar o bem-estar da sociedade, o progresso tecnológico e as estratégias de crescimento Natalidade Analfabetismo Esperança de vidaMortalidade 22 | Economia Princípios Relacionados à Tomada de Decisão Individual Princípio nº 1 - As pessoas enfrentam trade-offs. Você já deve ter ouvido a frase “Não existe almoço grátis”! E não existe mesmo, pois até mesmo quando vamos a um almoço do tipo “boca livre”, incorremos em um custo de oportunidade, pois sacrificamos uma alternativa ou outra atividade qualquer que poderíamos estar executando. Porém, a tomada de decisão nos levou a escolher a opção de ir a esse almoço, em detrimento de alguma outra atividade concorrente. Vejamos mais um exemplo: Podemos ter um meio ambiente mais limpo, menos poluído, mais sustentável. Mas, para isso, temos que reduzir as atividades industriais poluidoras. Isso pode gerar o desemprego, o que é indesejável. Este é o trade-off: menos poluição, mais desemprego. Como alternativa, o governo poderia obrigar as empresas a instalarem mecanismos de controle da poluição. Só que isso vai encarecer o preço dos produtos, ou seja, vai gerar inflação. Percebe por que não existe almoço grátis? Como agentes econômicos, estamos constantemente às voltas com decisões e escolhas mutuamente excludentes e, por isso, se faz necessário reconhecer e avaliar os trade-offs em nossa vida, porque somente podemos tomar boas decisões se compreendermos muito bem as opções que estão disponíveis. Princípio Nº 2 - O custo de alguma coisa é aquilo de que você desiste para obtê-la. Como os agentes econômicos enfrentam trade-offs, a tomada de decisão entre as diversas alternativas existentes exige a comparação dos custos com os benefícios em cada uma das alternativas. Em muitos casos, porém, a identificação dos custos pode não estar assim tão clara como você gostaria que estivesse. Considere a seguinte hipótese: você Economia | 23 trabalha para uma empresa, é um assalariado, e ganha R$ 2.000 por mês. Em dado momento de sua vida, você decideter o seu próprio negócio, uma pet shop, por exemplo. Você monta um plano de negócios para avaliar o empreendimento e, nele, você indica todas as entradas de receita e todos os seus custos fixos e variáveis. E chega à conclusão de que vale a pena fazer o investimento, que vai lhe garantir retiradas mensais em valores iguais ou até superiores ao salário que você ganhava como assalariado. Um pequeno detalhe pode ter escapado ao seu controle: em seus cálculos, você considerou como perda o salário mensal de R$ 2.000 que você ganhava como assalariado? Se a sua resposta a essa pergunta for “não”, será necessário rever os cálculos, e a razão é simples: ao optar pelo seu próprio negócio, você está abrindo mão de seu status atual. Em outras palavras, e traduzindo em valores, você está sacrificando a alternativa de continuar como assalariado, o que tem um custo mensal de R$ 2.000. Isto nos remete ao conceito de custo de oportunidade, que nada mais é que o valor da alternativa que foi sacrificada. Neste exemplo, o seu custo de oportunidade é de R$ 2.000, equivalente ao salário mensal a que você renunciou. Ele também é chamado de custo alternativo ou custo implícito, pois não envolve desembolso monetário. Princípio 3 – As pessoas racionais pensam na margem. Você conhece expressões do tipo “Comigo é tudo ou nada” ou ainda, “Ou vai ou racha”? Elas pressupõem decisões extremas, radicais, mas você sabe que na vida as coisas não são bem assim. Em Economia, você aprende que as melhores decisões são tomadas “na margem”, ou seja, próximas dos extremos, daquilo que você está fazendo. Por exemplo, se você acabou de saborear um sorvete do tipo “banana split”, sua próxima decisão poderá ser a de aceitar (ou não) uma colher a mais de sorvete (na margem), mas não a de tomar outra taça de sorvete. 24 | Economia Veja o que acontece numa companhia aérea, citada por Mankiw em seu livro: se um avião tem 130 lugares, e a passagem custa US$ 500, você venderia uma passagem por menos de US$ 500? A resposta é “não”! Imagine que este avião está prestes a decolar e que há 10 assentos vagos. Se aparece um passageiro disposto a pagar US$ 300 pela passagem, a empresa deve recusar? Claro que não, uma vez que os US$ 300 cobrem, com margem folgada, os custos adicionais (custos marginais) para ter um passageiro a mais na aeronave. Figura 5: Decisões de estoque, custo, logística, produto e local de desembaraço. Princípio nº 4 – As pessoas reagem a incentivos. Os agentes econômicos tomam decisões por meio de comparações entre custos e benefícios e, se houver alguma alteração nessas variáveis, o comportamento dos agentes pode mudar. Vejamos este exemplo: imagine que você está empenhado em uma campanha antitabaco. Você acha que um imposto de R$ 3 por cada maço de cigarros vendido é um forte incentivo econômico contra a venda de cigarros? Ou você acha que a proibição do fumo em restaurantes e bares é um poderoso incentivo social, mais importante que o imposto? Ou você implementaria as duas medidas simultaneamente? Pense nisso, mas aqui vai uma dica: se olharmos para a indústria automobilística, existem estudos contundentes que indicam que o número de acidentes e de vítimas fatais aumentou muito após a adoção de mecanismos de segurança, como os freios ABS e os airbags instalados nos automóveis. Decisões de Estoque Decisões de Custo Decisões de Logística Decisões de Produto Decisões de Local de Desembaraço Economia | 25 Por quê? Simples! Com esses mecanismos, os maus motoristas se sentem mais seguros para dirigir de forma imprudente, na certeza de que os mecanismos vão preservar a sua vida. Sobre o Princípio nº 4, veja um belo exemplo de mudança de comportamento em função da mudança nos incentivos: no ano de 2013, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro começou a aplicar multas às pessoas que jogam lixo nas ruas. É a campanha “Lixo Zero”. As ações da Prefeitura tiveram ampla divulgação em rádios e TV´s, e os resultados apareceram rapidamente: segundo a COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) o lixo descartado irregularmente no chão teve uma redução de 50%. E você? Após conhecer o conteúdo destas duas matérias, se sente motivado a modificar sua atitude diante do problema? Na sua visão, o lixo jogado na rua diminuiu porque as pessoas rapidamente se conscientizaram sobre o seu papel frente ao meio ambiente ou foi simplesmente porque esse gesto pode doer no bolso? Princípios Relacionados à Interação Entre os Agentes Econômicos Princípio nº 5 – O comércio pode ser bom para todos. Você já pensou em confeccionar em casa as suas próprias roupas? Fabricar o seu próprio sapato? Montar a sua própria bicicleta? Cortar, você mesmo, o seu cabelo? Certamente não, pois, agindo assim, você estaria gastando muito mais dinheiro e tempo, ou seja, dois dos recursos mais escassos da humanidade, para produzir esses bens e serviços, e com grande risco de produzir tudo isso em qualidade muito inferior aos existentes no mercado. Há milhares de empresas especializadas em confecções, centenas de lojas e fabricantes de sapatos, montadores de bicicleta e, talvez, um salão de beleza em cada rua! Por isso, o comércio racionaliza os recursos, gerando benefícios para todos! Saiba mais 26 | Economia Princípio nº 6 - Os mercados são, geralmente, uma boa maneira de organizar a atividade econômica. Adam Smith, um dos “pais” da Economia, em seu livro A Riqueza das Nações, indicou que as famílias e as empresas, ao interagirem nos mercados, agem como se fossem guiadas por uma “mão invisível” que as leva a resultados de mercados desejáveis, muito embora, individualmente, cada agente esteja defendendo seus próprios interesses. A isso chamamos de economia de mercado, na qual milhões de empresas decidem quem contratar e o que produzir. Milhões de famílias decidem em que empresas irão trabalhar e o que comprar com seus rendimentos. Os preços são o instrumento pelo qual a mão invisível conduz a atividade econômica, o que será aprofundado na segunda unidade deste curso. Os preços refletem tanto o valor de um bem para a sociedade quanto o custo social de produzi-lo. Como as famílias e as empresas observam os preços para decidir o que comprar e o que vender, elas levam em consideração, involuntariamente, os custos e benefícios sociais de suas ações. Princípio nº 7 - Às vezes os governos podem melhorar os resultados dos mercados. Os mercados só funcionam bem quando os direitos de propriedade são garantidos, assim como os demais direitos e marcos regulatórios, visando promover a eficiência e a equidade. Se você fosse um fazendeiro, só cultivaria os alimentos se tivesse a certeza de que suas colheitas não seriam roubadas. Se você fosse dono de um restaurante, só serviria as refeições se tivesse a garantia de que todos os clientes pagariam as contas antes de ir embora. Todos nós confiamos no governo para providenciar a segurança e a justiça e fazer valer nossos direitos sobre aquilo que produzimos. No caso dos consumidores, ainda temos a proteção legal , por meio do Código de Defesa do Consumidor – Lei no 8.078 de 11 de setembro de 1990. Economia | 27 Figura 6: Ação do Estado x Consumidor. Em relação ao Princípio nº 7, a Sadia e a Perdigão eram duas grandes companhias brasileiras na área de alimentos processados e carnes. Em 2009, na esteira da crise internacional de 2008, as duas empresas anunciaram uma fusão e a criação de uma nova empresa, a BRF – Brasil Foods. Visando evitar a concentração do mercado nas mãos da nova empresa, que poderia resultar em eventuais prejuízos aos consumidores, o governo, por meio do CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, estabeleceu um conjunto de restrições à fusão. Princípios Relacionados ao Funcionamento da Economiaem um País Princípio nº 8 - O padrão de vida de um país depende de sua capacidade de produzir bens e serviços. De acordo com dados do FMI – Fundo Monetário Internacional, a renda per capita dos países, no ano de 2011, assumiu os seguintes valores, para os países citados: Ação do Estado Consumidor/Cliente Política de defesa da concorrência Concorrência Eficiência econômica Preços mais baixos Maior escolha Melhor qualidade Inovação Saiba mais 28 | Economia Países Em Dólares Em Reais Luxemburgo 113500 244025 Estados Unidos 48000 103200 Coreia do Sul 22000 47300 Brasil 12800 27520 China 5400 11610 Bolívia 2300 4945 Paquistão 1200 2580 Afeganistão 600 1290 Congo 200 430 Figura 7: Renda per capita de alguns países. Fonte: FMI – Renda per capita anual – Base 2011. É fácil observar que as diferenças de padrão de vida somente nesse conjunto de países são assustadoras. A renda per capita se reflete em diversos outros indicadores de qualidade de vida. Os cidadãos de países de renda elevada têm mais escolaridade, mais televisores e carros, melhor nutrição, melhores moradias, melhor assistência médica e uma expectativa de vida mais longa do que os cidadãos dos países de baixa renda. Quase todas as variações de padrão de vida podem ser atribuídas a diferenças de produtividade entre países, ou seja, à quantidade de bens e serviços produzidos em uma hora de trabalho. Em países onde os trabalhadores podem produzir uma grande quantidade de bens e serviços por unidade de tempo, a maioria das pessoas desfruta de padrões de vida elevados; em nações onde os trabalhadores são menos produtivos, a maioria das pessoas precisa enfrentar uma existência com maior escassez e, portanto, menos confortável. Princípio nº 9 - Os preços sobem quando o governo emite moeda demais. Economia | 29 O que causa a inflação? Em quase todos os casos de inflação elevada ou persistente, o culpado é o mesmo: um aumento na quantidade de moeda. Quando um governo gasta mais do que arrecada em tributos, precisa emitir grandes quantidades de moeda e, assim, o valor da moeda diminui. A moeda se desvaloriza, e precisamos de mais moeda para comprar a mesma quantidade de alimentos, por exemplo. O Brasil passou por grandes surtos inflacionários nas décadas de 1980 e 1990, que somente foram debelados após a adoção do Real como moeda, em 1994, além de um conjunto de medidas saneadoras. Princípio nº 10 - A sociedade enfrenta um trade-off de curto prazo entre inflação e desemprego. Quando a taxa de desemprego está baixa, significa que a maior parte dos trabalhadores está empregada, recebendo salários que serão gastos na compra de bens e serviços, conforme vimos no fluxo circular da renda, no início desta unidade. Se muitas famílias vão às compras, demandando bens, pode ser que os comerciantes percebam esse movimento, e aumentem os preços para aproveitar a “maré de sorte” e também para se precaver na renovação dos estoques. Se falta produto no mercado, os preços sobem, e isso gera um aumento de preços, que é a inflação. Logo, teremos desemprego em baixa, mas com inflação elevada. Se o governo adota medidas fiscais e monetárias para conter a inflação (medidas restritivas) , ocorre o inverso: o crédito fica mais caro, a sociedade paga mais tributos, as intenções de compra se congelam, reduz-se a produção de bens, e as fábricas e o comércio demitem trabalhadores. Menos trabalhadores com renda, menores as vendas, surgindo a necessidade de ajustar os estoques, por meio da baixa de preços, o que vai reduzir a inflação. Agora, então, teremos inflação baixa, sob controle, mas com elevado desemprego. Exemplo: Ponto A: Para uma taxa de inflação baixa, de apenas 2%, a taxa de desemprego é alta = 5%. Ponto B: Para uma taxa de inflação alta, de 6%, a taxa 30 | Economia de desemprego se reduz para 3%. Inflação (%) 6% 2% 3% 5% Desemprego % B A Figura 8: Ambiente inflacionário e a curva de Philips. Economia | 31 Síntese O fluxo circular da renda nos ajuda a ter uma ideia sobre o funcionamento básico da economia, onde as famílias e as empresas interagem nos mercados de fatores de produção e de bens e serviços. As trocas no mercado de bens e serviços representam despesas para as famílias e, simultaneamente, receitas para as empresas. Os fatores de produção são a terra, o trabalho, o capital, a tecnologia e a capacidade empresarial. São eles que ajudam a resolver os problemas fundamentais da Economia: o que produzir, quando produzir, como produzir e para quem produzir. O estudo econômico se divide em quatro grandes áreas: a Microeconomia, a Macroeconomia; a Economia Internacional e o Desenvolvimento Econômico. Os princípios econômicos mostram que os agentes econômicos reagem a incentivos e enfrentam trade-offs em suas decisões, incorrendo em custos de oportunidade, mesmo quando tomam decisões na margem. Eles também mostram que o comércio pode ser bom para todos e que os mercados podem ser uma boa maneira de organizar a atividade econômica, mas a intervenção governamental pode ser necessária para melhorar os resultados do mercado. Os princípios econômicos evidenciam que o padrão de vida de um país depende de sua capacidade em produzir bens e serviços de forma eficiente e competitiva. Se o governo se mostra ineficiente na condução de seus gastos, ele pode precisar emitir moeda, gerando inflação, que pode afetar diretamente o mercado de trabalho. Economia | 33 Leitura Complementar A fim de complementar os conhecimentos adquiridos nesta unidade de aprendizagem, faça a leitura das as seguintes sugestões: JORNALISMO TV CULTURA. Cade aprova fusão. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Skyaroo_oO0. Acesso em: 20 jan. 2017. OLAVO AUGUSTO. Adam Smith - Breve Vida e Obra. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=J9HSmizOhDs. Acesso em: 20 jan. 2017. TV CANÇÃO NOVA. CN Notícias: Programa Lixo Zero começa a funcionar no RJ - 20/08/13. Disponível em: http://www. youtube.com/watch?v=y7va_uxx9i8. Acesso em: 20 jan. 2017. ZH ESPORTES. Operação Lixo Zero reduz sujeira pela metade no Rio de Janeiro. Disponível em: http://zh.clicrbs.com.br/ rs/esportes/noticia/2013/11/operacao-lixo-zero-reduz-sujeira-pela- metade-no-rio-de-janeiro-4341370.html. Acesso em: 20 jan. 2017. Economia | 35 Referências Bibliográficas MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage Learning, 2005. PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de Economia. 5 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS. Marco A. S. de (org.). Manual de Economia. Equipe de professores da USP. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. ROSSETI, José Paschoal. Introdução à Economia. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2010. VASCONCELLOS, Marco A. S. de; GARCIA, Manuel E. Fundamentos de Economia. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2008. ________________. Economia: micro e macro. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2009.
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