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AT 1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO 2 32 S U M Á R IO 3 INTRODUÇÃO 6 UNIDADE 1 - Declaração mundial de educação para todos - satisfação das necessidades básicas de aprendizagem 9 UNIDADE 2 - Declaração de salamanca – divisor de águas como perspectiva de acesso de todos à educação escolar 11 UNIDADE 3 - Convenção interamericana para eliminação de todas as formas de discrimina- ção contra a pessoa portadora de deficiência Guatemala - 1999 14 UNIDADE 4 - Declaração de Nova Delhi 16 UNIDADE 5 - Declaração de Dakar – Senegal - 2000 18 UNIDADE 6 - Declaração de Cochabamba – Bolívia- 2001 20 UNIDADE 7 - Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão 21 UNIDADE 8 - Documentos nacionais relacionados ao direito à educação das pessoas com deficiência 21 8.1 Constituição Federal do Brasil - 1988 - Os Direitos das Pessoas com Deficiência 22 8.2 Lei n.º 7.853 de 24 de Outubro de 1989 24 8.3 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9394/96 “Educação Especial” 26 8. 4 Lei nº 10.845, de 5 de Março de 2004 Programa de Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência 27 8.5 Plano Nacional de Educação 30 8.6 SEESP - Secretaria de Educação Especial 36 8.7 Decreto nº 5.626, de 22 de Dezembro de 2005 38 UNIDADE 9 - Considerações finais 39 REFERÊNCIAS 2 33 INTRODUÇÃO As políticas públicas para a inclusão estão passando por um processo de re- estruturação, o que exige um constante aprendizado, crescimento, investimento e participação pública para a prevenção e resolução dos problemas que se encon- tram presentes no cenário educativo e na sociedade. Urge que toda transformação e mudança demandam de conhecimentos, de vontade política e que esta seja trans- parente e democrática. Acredita-se que um dos maiores desa- fios dos governos e das instituições edu- cativas deste milênio é a questão da ad- ministração de financiamentos, a gestão de pessoas, as diferenças individuais e culturais num mesmo espaço, e, em mui- tos casos, as ambiguidades de leis e de- cretos que geram conflitos e interpreta- ções equivocadas e tendenciosas. No que concerne a questão das políti- cas públicas da inclusão, Mitler (2005, p. 8) ressalta que “qualquer política de inclusão precisa estar firmemente embasada na su- posição inicial de que todas as crian- ças devem ser educadas em escolas regulares. Deve-se reconhecer que os obstáculos à inclusão estão na es- cola e na sociedade e não na criança. A ideia do autor reflete a necessi- dade de repensar a questão da inclusão como direito da criança de frequentar a escola regular. É importante salientar que enquanto a escola e a sociedade não es- clarecer o que significa inclusão, ficará mais difícil a luta pela igualdade de opor- tunidades. Há anos ocorrem mudanças significati- vas nas políticas públicas mundiais e na- cionais de inclusão. Alguns conceitos de inserção de alunos com deficiências na escola e na sociedade foram se transfor- mando em vários países e épocas. Porém, a sociedade brasileira de hoje, ainda care- ce de mudanças radicais para instaurar de vez o processo de inclusão irrestrito e ver- dadeiro nos sistemas educacionais. Para discutir a questão das políticas pú- blicas em favor da inclusão serão destaca- das leis, declarações, documentos impor- tantes e órgãos que defendem a inclusão de todos em qualquer espaço social, e, em especial, na escola. É interessante ressal- tar que a inclusão de pessoas com defici- ência em várias escolas já é uma realida- de, tanto nas públicas como nas privadas. Entretanto, para vencer os obstáculos e dificuldades que tal processo demanda, há a necessidade do cumprimento das leis, bem como uma transformação dos espaços educativos e de uma formação continuada dos profissionais que lidam di- retamente com a diversidade humana. Para uma melhor reflexão das políticas públicas que defendem a inclusão de to- dos num mesmo espaço, será abordaäo a Declaração Mundial de Educação para To- dos. Cabe ressaltar que esse documento foi um avanço significativo na luta pela in- clusão. A sua importância está no fato de que, ao adotar como princípio básico que toda pessoa tem o direito à educação e que é necessário satisfazer as necessida- des básicas de aprendizagem, tal declara- ção clama por mudanças na real estrutura que sustenta a educação. 4 5 No que se refere à Declaração de Sala- manca, vale destacar que este documen- to tem uma importância fundamental, na medida em que, registra que todos têm o direito de acesso à educação, sem distin- ção. Que é necessário o aprimoramento dos sistemas de ensino para que se tor- nem ambientes inclusivos. E, ainda, atu- aliza a discussão sobre o rompimento da educação comum e especial, por isso, se afirma que tal declaração pode ser consi- derada com divisor de águas como pers- pectivas de acesso de todos na educação escolar. A seguir, mereceu destaque a Conven- ção de Guatemala que registrou a neces- sidade de eliminar todas as formas de dis- criminação contra as pessoas portadoras de deficiência. Destacou-se também, nos termos desta Convenção que a escola não pode denominar-se de “especial” com base em diferenciações fundadas nas deficiências das pessoas que pretendem matricular-se. Na Declaração de Nova Delhi ficou re- gistrado o compromisso dos governos de nove países, inclusive o Brasil, de buscar com zelo e determinação as metas defini- das pela Conferência Mundial sobre Edu- cação para Todos e pela Cúpula Mundial da Criança. Outro documento importante para a defesa dos direitos humanos refere-se à Declaração de Dakar. A mesma também registra o compromisso de assegurar uma Educação para Todos e destaca que os go- vernos têm a obrigação de assegurar que os objetivos e as metas de Educação para todos sejam alcançados e mantidos. A seguir foi abordado com pertinência a Declaração de Cochabamba. Em tal do- cumento os governos visaram atingir uma escolarização fundamental para todos, proporcionar o aprendizado da alfabeti- zação a jovens e adultos e se comprome- teram, por meta, melhorar a qualidade e a eficiência da educação. A Declaração Internacional de Montre- al selou o compromisso de defender o di- reito à igualdade e dignidade humana. As declarações intergovernamentais levan- taram a voz internacional a fim de desen- volverem políticas e práticas inclusivas. No que se refere às leis, e decretos bra- sileiros sobre a inclusão ficou destacada, primeiramente, a Constituição Federal do Brasil que garante à todos o direito à igualdade visando a promoção do bem de todos, sem preconceitos e quaisquer ou- tra formas de discriminação. Referindo-se a Lei 7.853 que dispõe so- bre o apoio às pessoas portadoras de de- ficiência e sua integração social é preciso refletir sobre a descrição do conteúdo da mesma, pois é possível observar certa distorção em relação ao que se extrai da Constituição Federal e da Convenção da Guatemala. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96, destacou a educa- ção especial em um capítulo, sem dúvida, um avanço em relação às leis da educa- ção anteriores. Porém, há de se perceber algumas controvérsias entre essa lei e a Constituição Federal no que se refere à questão da possibilidade de substituição do ensino “regular” pelo “especial”. A seguir ficou destacada a lei 10.845 que Instituiu o Programa de Complemen- tação ao atendimento Educacional Espe- cializado às Pessoas Portadoras de Defi- 4 5 ciência. Neste sentido, ficou registrado a garantia de universalização do atendi- mento especializado de educandos, in- clusive àqueles quês não têm condições de serem integrados na escola de ensino regular. O Plano Nacional de Educação, focando a Educaçãoespecial, registra duas ques- tões - o direito à educação, comum a to- das as pessoas, e o direito de receber essa educação sempre que possível junto com as demais pessoas nas escolas “regula- res”. Neste sentido, é indispensável que os sistemas de ensino adotem métodos e práticas de ensino adequados às diferen- ças. Neste capítulo foram apresentados os objetivos do Plano Nacional de Educa- ção para suscitar uma reflexão sobre o que é real e o que precisa se tornar reali- dade. A Secretaria de Educação Especial do MEC elaborou o Programa de Educação Inclusiva: Direito à Diversidade com a proposta de ações que proporcione um crescente atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas e classes comuns da rede regular de ensino. O texto registrou que houve um aumento de matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas e classes comuns. Por outro lado, afirmou que o programa tem proporciona- do melhores condições de acesso e per- manência para esses alunos. Esse texto pode favorecer uma análise de como a es- cola vem se apropriando dessas ações no seu cotidiano. A seguir, considera-se relevante confe- rir o Decreto nº 5.626 que garante às pes- soas surdas ou com deficiência auditiva, o direito à educação inclusiva, com adequa- ções necessárias para o acesso à comuni- cação, à informação e à educação. Cabe ressaltar que as propostas de leis, declarações e decretos registrados aqui denotam um caminho muito semelhante entre esses documentos: favorecer a in- clusão das pessoas com deficiência na es- cola regular de ensino e na sociedade com os mesmos direitos que são conferidos às pessoas ditas normais. Portanto, espera-se que a leitura e reflexão de tais documentos, com con- teúdos semelhantes e complementares, possam fundamentar os profissionais da educação e pessoas que defendem a inclusão, estimulando-as no sentido de continuarem na luta pela garantia dos di- reitos fundamentais das pessoas com de- ficiência. 6 76 A Declaração Mundial de educação re- alizada em março de 1990 em Jomtiem, Tailândia, adotou como princípio básico que toda pessoa tem direito à educação. Ela estabeleceu metas como erradicação do analfabetismo e a universalização da educação básica. É importante destacar que esse documento comprovou o ideá- rio proposto há quarenta anos antes, pela Declaração Universal dos Direitos Huma- nos, que destaca que toda pessoa tem di- reito à educação. Para discutir o modelo de educação para todos, proposto nessa declaração, vale a pena ressaltar o artigo 1º que sa- lienta a educação como estratégia para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Assim ele ficou descrito: 1- Cada pessoa: criança, jovem ou adul- to deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades bási- cas de aprendizagem. Essas necessida- des compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas), quanto os conteúdos básicos da aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valo- res e atitudes), necessários para que os seres humanos possam sobreviver, de- senvolver plenamente suas potencialida- des, viver e trabalhar com dignidade, par- ticipar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar deci- sões fundamentadas e continuar apren- dendo. A amplitude das necessidades básicas de aprendizagem e a maneira de satisfazê-las variam segundo cada país e cada cultura, e, inevitavelmente, mudam com o decorrer do tempo. 2- A satisfação dessas necessidades confere aos membros de uma sociedade a possibilidade e, ao mesmo tempo, a res- ponsabilidade de respeitar e desenvolver sua herança cultural, linguística e espiri- tual, de promover a educação de outros, de defender a causa da justiça social, de proteger o meio-ambiente e de ser tole- rante com os sistemas sociais, políticos e religiosos que difiram dos seus, assegu- rando respeito aos valores humanistas e aos direitos humanos comumente acei- tos, bem como de trabalhar pela paz e pela solidariedade internacionais em um mun- do interdependente. 3- Outro objetivo, não menos funda- mental, do desenvolvimento da educação, é o enriquecimento dos valores culturais e morais comuns. São nesses valores que os indivíduos e a sociedade encontram sua identidade e sua dignidade. 4- A educação básica é mais do que uma finalidade em si mesma. Ela é a base para a aprendizagem e o desenvolvimento hu- mano permanentes, sobre a qual os paí- ses podem construir, sistematicamente, níveis e tipos mais adiantados de educa- ção e capacitação. Baseando-se nesse artigo é importan- te refletir que a educação foi pontuada como processo que não se restringe so- mente à escola, embora a mesma tenha um papel fundamental na construção do conhecimento. Neste sentido, portanto, UNIDADE 1 - Declaração mundial de educação para to- dos - satisfação das necessidades básicas de aprendizagem 6 77 a escola deve se empenhar na tarefa de promover o desenvolvimento das poten- cialidades de todas as pessoas. No artigo 2º ficou registrado que para lutar pela satisfação das necessidades bá- sicas de aprendizagem para todos exige mais do que a ratificação do compromisso pela educação básica, será necessário um enfoque abrangente, capaz de ir além dos níveis atuais de recursos, das estruturas institucionais, dos currículos e dos siste- mas convencionais de ensino, para cons- truir sobre a base do que há de melhor nas práticas correntes. A ideia neste artigo denota a necessi- dade de transformação do ensino para que possa favorecer uma aprendizagem holística e universal que promova a equi- dade e fortaleça alianças. O artigo 3º que trata da universaliza- ção do acesso à educação e promoção da equidade descreve que a educação bá- sica deve ser proporcionada a todas as crianças, jovens e adultos mantendo um padrão mínimo de qualidade da aprendi- zagem. Os preconceitos e estereótipos de qualquer natureza devem ser eliminados da educação. Deve haver um compromis- so efetivo para superar as disparidades educacionais. As necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de deficiências requerem atenção especial, sendo, portanto, necessário tomar medi- das que garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qual- quer tipo de deficiência. No artigo 4º ficou destacado concen- trar a atenção na aprendizagem, o que significa dizer que a educação básica deve estar centrada na aquisição e nos resulta- dos efetivos da aprendizagem, e não mais, exclusivamente, na matrícula, frequência aos programas estabelecidos e preenchi- mento dos requisitos para a obtenção do diploma. O artigo 5º descrito como ampliar os meios e o raio de ação da educação básica ressalta que a aprendizagem começa com o nascimento. Isto implica cuidados bási- cos e educação inicial na infância, propor- cionados seja através de estratégias que envolvam as famílias e comunidades ou programas institucionais, como for mais apropriado. Todos os instrumentos dis- poníveis e os canais de informação, co- municação e ação social podem contribuir na transmissão de conhecimentos essen- ciais, bem como na informação e educação dos indivíduos quanto a questões sociais. O artigo 6º prescreve propiciar um ambiente adequado à aprendizagem. A aprendizagem não ocorre em situação de isolamento. Portanto, as sociedades de- vem garantir a todos os educandos, as- sistência em nutrição, cuidados médicos e o apoio físico e emocional essencial para que participem ativamente de sua própria educação e dela se beneficiem. No artigo 7º fortalecer as alianças, as autoridades responsáveispela educação aos níveis nacional, estadual e municipal têm a obrigação prioritária de proporcio- nar educação básica para todos. Já o artigo 8º desenvolver uma política contextualizada de apoio prescreve que Políticas de apoio nos setores social, cul- tural e econômico são necessárias à con- cretização da plena provisão e utilização da educação básica para a promoção indi- vidual e social. A sociedade deve garantir 8 98 também um sólido ambiente intelectual e científico à educação básica. No artigo 9º foi prescrita a mobilização dos recursos para que as necessidades básicas de aprendizagem para todos se- jam satisfeitas mediante ações de alcan- ce muito mais amplo, para isso, será es- sencial mobilizar atuais e novos recursos financeiros e humanos, públicos, privados ou voluntários. A urgente tarefa de satis- fazer as necessidades básicas de apren- dizagem poderá vir a exigir uma realoca- ção dos recursos entre setores, como por exemplo, urna transferência de fundos dos gastos militares para a educação. O artigo 10º fortalecer solidariedade internacional afirma que todas as nações têm valiosos conhecimentos e experiên- cias a compartilhar, com vistas à elabora- ção de políticas e programas educacionais eficazes. Será necessário um aumento substancial, a longo prazo, dos recursos destinados à educação básica. Todas as nações devem agir conjuntamente para resolver conflitos e disputas, pôr fim às ocupações militares e assentar popula- ções deslocadas ou facilitar seu retorno a seus países de origem, bem como garantir o atendimento de suas necessidades bá- sicas de aprendizagem. Finalizando, os participantes da Confe- rência Mundial sobre Educação para To- dos comprometeram-se em cooperar, no âmbito da esfera de responsabilidades, tomando todas as medidas necessárias à consecução dos objetivos de educação para todos. Juntos apelaram aos gover- nos, às organizações interessadas e aos indivíduos, para que se somassem a este urgente empreendimento: atendimento às necessidades básicas de aprendizagem para todos. Vale a pena refletir sobre a importância dessa declaração para o avanço da educa- ção básica. O conteúdo da mesma refle- te a esperança de melhoria da igualdade entre as pessoas através das oportuni- dades que a educação de qualidade pode oferecer. Tal documento é de importân- cia fundamental, pois proclama educação para todos num compromisso renovado e numa visão abrangente. 8 99 A declaração de Salamanca é um documento assinado por represen- tantes de 88 governos e 25 organi- zações internacionais reunidos em assembléia durante a Conferência Mundial de Educação Especial, entre 7 e 10 de junho de 1994, na Espanha. Na presente assembléia foi firmado o direito de todas as pessoas à edu- cação, conforme a Declaração Uni- versal de Direitos humanos de 1948. Tal documento renova o empenho da comunidade mundial, que na Confe- rência Mundial sobre Educação para todos, de 1990, buscou garantir esse direito a todos, independentemente das suas diferenças. Esse documento indica algumas re- comendações que foram proclama- das tendo em vista serem acatadas pelo governo e organizações, dentre elas destacamos: toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunida- de de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem; toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas; sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais de- veriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades; aqueles com necessidades educacio- nais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades; escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes dis- criminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para to- dos; além disso, tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última ins- tância, o custo da eficácia de todo o siste- ma educacional. Na conjuntura da assembléia fo- ram, também, demandadas para os gover- nos as seguintes políticas: atribuir a mais alta prioridade políti- ca e financeira ao aprimoramento de seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as crian- ças, independentemente de suas diferen- ças ou dificuldades individuais. adotar o princípio de educação inclu- siva em forma de lei ou de política, ma- triculando todas as crianças em escolas regulares, a menos que existam fortes ra- zões para agir de outra forma. desenvolver projetos de demonstra- ção que encorajem intercâmbios em paí- ses que possuam experiências de escola- rização inclusiva. estabelecer mecanismos participa- tórios e descentralizados para planeja- mento, revisão e avaliação de provisão educacional para crianças e adultos com necessidades educacionais especiais. encorajar e facilitar a participação UNIDADE 2 - Declaração de salamanca – divisor de águas como perspectiva de acesso de todos à educação escolar 10 1110 de pais, comunidades e organizações de pessoas portadoras de deficiências nos processos de planejamento e tomada de decisões concernentes à provisão de ser- viços para necessidades educacionais es- peciais. investir maiores esforços em estraté- gias de identificação e intervenção preco- ces, bem como nos aspectos vocacionais da educação inclusiva. garantir que, no contexto de uma mudança sistêmica, programas de treina- mento de professores, tanto em serviço como durante a formação, incluam a pro- visão de educação especial dentro das es- colas inclusivas. Podemos perceber que esse documen- to mostra que os governos locais devem estabelecer como prioridade, o aprimo- ramento dos sistemas de ensino para que se tornem ambientes inclusivos de fato. Pode-se dizer que essa é uma referência concreta de mudança de paradigma da in- tegração para a inclusão, no momento em que propõe uma mudança social para que se torne possível lidar com as diferenças individuais. Outro ponto que merece destaque nes- sa Declaração é que a mesma atualiza a discussão sobre o rompimento da educa- ção comum e especial, avançando no sen- tido de defender o acesso e permanência de todos na escola e que esta deve primar pela qualidade, modificando atitudes dis- criminatórias e acolhendo a todos. Essas considerações são importan- tes para que haja o compartilhamento de ideias que partem de negociações polí- ticas em diversas instâncias, além disso, pode favorecer a concretização da inclu- são no cotidiano de cada unidade escolar. 10 1111 A Convenção da Guatemala, de 1999, da qual vários países sul-americanos são signatários, inclusive o Brasil foi aprovada pelo Congresso Nacional por meio do De- creto Legislativo nº 198, de 13 de junho de 2001, e promulgado pelo Decreto nº 3.956, de 08 de outubro de 2001, da Pre- sidência da República. Tal documento dis- põe que as pessoas com deficiência não podem receber tratamentos diferencia- dos que impliquem em exclusão ou restri- ção ao exercício dos mesmos direitos que as demais pessoas têm. Mesmo os trata- mentos diferenciados destinados à inte- gração das pessoas com deficiência são válidos apenas se essas pessoas puderem recusá-los. Assim, os atendimentos destinados à educação especializada, que são uma for- ma de tratamento diferenciado, não po- dem impedir o acesso de alunos com de- ficiência às escolas regulares de educação elementar ou fundamental. Para conhecermelhor esse documen- to, vale a pena destacar a sua importância através do objetivo a que ele se propôs no seu art. II. “Esta Convenção tem por obje- tivo prevenir e eliminar todas as formas de discriminação contra as pessoas portado- ras de deficiência e propiciar a sua plena integração à sociedade”. Para alcançar os objetivos desta Con- venção, os Estados Partes comprome- tem-se a tomar as medidas de caráter le- gislativo, social, educacional, trabalhista, ou de qualquer outra natureza, que sejam necessárias para eliminar a discriminação contra as pessoas portadoras de deficiên- cia e proporcionar a sua plena integração à sociedade, entre as quais as medidas abaixo enumeradas, que não devem ser consideradas exclusivas: a) medidas das autoridades governa- mentais e/ou entidades privadas para eli- minar progressivamente a discriminação e promover a integração na prestação ou fornecimento de bens, serviços, instala- ções, programas e atividades, tais como o emprego, o transporte, as comunicações, a habitação, o lazer, a educação, o esporte, o acesso à justiça e aos serviços policiais e as atividades políticas e de administração; b) Medidas para que os edifícios, os ve- ículos e as instalações que venham a ser construídos ou fabricados em seus res- pectivos territórios facilitem o transpor- te, a comunicação e o acesso das pessoas portadoras de deficiência; c) Medidas para eliminar, na medida do possível, os obstáculos arquitetônicos, de transporte e comunicações que existam, com a finalidade de facilitar o acesso e uso por parte das pessoas portadoras de deficiência; d) Medidas para assegurar que as pes- soas encarregadas de aplicar esta Con- venção e a legislação interna sobre esta matéria estejam capacitadas a fazê-lo. A Convenção da Guatemala tem no Bra- sil, o valor de uma lei ordinária, pois se re- fere aos direitos e garantias fundamentais da pessoa humana, estando acima de leis, resoluções e decretos. Com base no (art. I, nº 2 “a” Mantoan (2003) destaca que a im- portância dessa Convenção fica clara no UNIDADE 3 - Convenção interamericana para elimina- ção de todas as formas de discriminação contra a pessoa portadora de deficiência guatemala - 1999 12 13 momento em que deixa clara a impossibi- lidade de diferenciação com base na de- ficiência, definindo a discriminação como toda diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, antecedente de deficiência, consequência de deficiência anterior ou percepção de deficiência pre- sente ou passada, que tenha o efeito ou o propósito de impedir ou anular o exercício por parte das pessoas portadoras de de- ficiência de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais. É importante destacar no art. I, letra “b” da mesma, que não constitui discrimina- ção a diferenciação ou preferência adota- da para promover a integração social ou o desenvolvimento pessoal dos portadores de deficiência, desde que a diferenciação ou preferência não limite em si mesma o direito á igualdade dessas pessoas e que elas não sejam obrigadas a aceitar tal di- ferenciação ou preferência. Para que essa nova corrente de in- terpretação jurídica da educação para pessoas com deficiência, as escolas atualmente, inscritas como “especiais” devem, então, por força dessa lei, rever seus estatutos, pois, pelos termos da Convenção da Gua- temala, a escola não pode intitula- -se “especial” com base em diferen- ciações fundadas nas deficiências das pessoas que pretende receber. (Mantoan (2003. P. 42). Finalizando essa discussão, vale acres- centar a ideia registrada na cartilha da PFDC (2003. P. 11) que diz o seguinte: Percebe-se facilmente que esta Con- venção não está sendo cumprida, o que precisa ser trabalhado e observado pelas autoridades competentes. Para fazê-lo, não há necessidade de revogação expres- sa da Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional, pois a sua revogação tácita, no que se refere à Educação Especial, já ocorreu com a internalização da Conven- ção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação con- tra as Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção da Guatemala) Assim, nada impede que os órgãos responsáveis pela emissão de atos nor- mativos infralegais e administrativos à Educação (Conselhos de educação de to- dos os níveis, Ministério da Educação e Secretarias) emitam diretrizes para a edu- cação básica, em seus respectivos âmbi- tos, considerando os termos da promul- gada Convenção da Guatemala no Brasil, com orientações adequadas e suficientes para que as escolas em geral recebam com qualidade a todas as crianças e adolescen- tes. Tais diretrizes e atos devem observar, no mínimo, os seguintes aspectos funda- mentais: a) é indispensável que os estabeleci- mentos de ensino eliminem suas barreiras arquitetônicas e adotem métodos e práti- cas de ensino adequado às diferenças dos alunos em geral, oferecendo alternativas que contemplem a diversidade; b) Os critérios de avaliação e de promo- ção, com base no aproveitamento escolar não podem ser organizados de forma a descumprir os princípios constitucionais da igualdade de direito ao acesso e per- manência na escola; c) Os alunos que concluíram o ensi- no fundamental devem ser atendidos de acordo com o perfil e aptidão de cada um; 12 13 d) os serviços de apoio especializado não podem substituir o professor respon- sável pela sala de aula da escola regu- lar; e) O encaminhamento de alunos com necessidades especiais a serviço comple- mentar ou atendimento clínico deve con- tar com a concordância dos pais; f) As creches e congêneres devem es- tar preparadas para cuidar e educar as crianças com necessidades educacionais especiais; g) Não é permitida a realização de exa- mes com a finalidade de aprovação ou re- provação para o ingresso no ensino infan- til ou fundamental; h) Todos os cursos de preparação para os professores, do magistério às licencia- turas devem ser ministrados com a ado- ção de práticas adequadas a dar-lhes a consciência e a formação necessária para que recebam, em suas salas de aula, alu- nos com e sem necessidades educacio- nais especiais. Mais uma vez, fica aqui registrado a necessidade de reafirmar que as pesso- as portadoras de deficiência possuem os mesmos direitos humanos e que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o de não ser submetidas a discriminação com base na deficiência, emanam da dig- nidade e da igualdade, valores, que são essenciais a todo ser humano. 14 1514 UNIDADE 4 - Declaração de nova delhi A Declaração de Nova Delhi sobre edu- cação para todos, aprovada por aclama- ção em 16 de dezembro de 1993 por líde- res dos nove países em desenvolvimento de maior população do mundo (Indoné- sia, China, Bangladesh, Brasil, Egito, Mé- xico, Nigéria, Paquistão e Índia) selaram os compromissos de buscar com zelo e determinação, as metas definidas pela Conferência Mundial sobre Educação para Todos e pela Cúpula Mundial da Criança, realizadas em 1990; de atender às neces- sidades básicas de aprendizagem de to- dos os nossos povos tornando universal a educação básica e ampliando as oportu- nidades de aprendizagem para crianças, jovens e adultos. A seguir, considera-se relevante o re- gistro de parte do texto desse documen- to, onde tais líderes discutem a necessi- dade de reconhecer algumas questões essenciais para atingir a meta global de educação para todos: as aspirações e metas de desenvolvi- mento de nossos países serão atendidas somente através da garantia de educação para todos os nossos povos, direito este assegurado tanto pela Declaração Univer- sal dos Direitos do Homem quanto pelas constituições e leis de cada um de nossos países; educação é o instrumentopreemi- nente de promoção dos valores humanos universais, da qualidade dos recursos hu- manos e do respeito pela diversidade cul- tural; os sistemas educacionais dos nossos países já alcançaram progressos impor- tantes na oferta de educação a contin- gentes substanciais da nossa população, mas ainda não foram plenamente suce- didos os esforços de proporcionar uma educação de qualidade a todos os nossos povos, o que indica a necessidade de de- senvolvermos enfoques criativos tanto dentro quanto fora dos sistemas formais; os conteúdos e métodos de educação precisam ser desenvolvidos para servir às necessidades básicas de aprendizagem dos indivíduos e das sociedades, propor- cionando-lhes o poder de enfrentar seus problemas mais urgentes: combate à po- breza, aumento da produtividade, me- lhora das condições de vida e proteção ao meio ambiente e permitindo que assu- mam seu papel por direito na construção de sociedades democráticas e no enrique- cimento de sua herança cultural; os programas educacionais bem su- cedidos exigem ações complementares e convergentes, no contexto do papel da família e da comunidade, nas áreas de nutrição adequada, cuidados efetivos da saúde e cuidado e desenvolvimento apro- priado para crianças pequenas; a educação e a incorporação plena de mulheres jovens e adultas à sociedade são metas importante sem si e elementos chaves do processo de desenvolvimento do bem-estar social, da educação de gera- ções presentes e futuras e da diversifica- ção das opções disponíveis à mulher para o desenvolvimento de todo o seu poten- cial; 14 1515 pressões demográficas impõem um ônus por demais pesado à capacidade dos sistemas educacionais e impedem as re- formas e melhorias necessárias; além do mais, dada a estrutura etária dos nossos países, esse processo continuará no de- correr da próxima década; a educação é, e tem que ser, res- ponsabilidade da sociedade, englobando igualmente os governos, as famílias, as comunidades e as organizações não-go- vernamentais, o que, exige o compromis- so e a participação de todos numa grande aliança que transcenda a diversidade de opiniões e posições políticas. É importante destacar que os líderes de tais países registraram que estavam cientes do papel vital que a educação terá que cumprir no desenvolvimento das suas sociedades. Neste sentido asseguraram através desta Declaração que até o ano de 2000 ou o mais rapidamente possível selariam o seguinte compromisso: garantiremos a toda criança uma vaga em uma escola ou em um programa educacional adequado às suas capacida- des, para que a educação não seja negada a uma só criança por falta de professor, material didático ou espaço adequado. Fazemos essa promessa em cumprimento ao compromisso assumido na Convenção sobre os Direitos da Criança que ratifica- mos; consolidaremos esforços dirigidos à educação básica de jovens e adultos pro- porcionada por entidades públicas e pri- vadas, melhorando e ampliando nossos programas de alfabetização e educação de adultos no contexto de uma estratégia integrada de educação básica para todo o nosso povo; eliminaremos disparidades de aces- so à educação básica em função do sexo, idade, renda, família, diferenças culturais, étnicas e linguísticas, e distância geográ- fica; melhoraremos a qualidade e rele- vância dos programas de educação bási- ca através da intensificação de esforços para aperfeiçoar o “status”, o treinamen- to e as condições de trabalho do magisté- rio; melhorar os conteúdos educacionais e o material didático e implementar outras reformas necessárias aos nossos siste- mas educacionais; em todas as nossas ações, em nível nacional e em todos os níveis, atribuire- mos a mais alta prioridade ao desenvol- vimento humano, assegurando que uma parcela crescente dos recursos nacionais e comunitários seja canalizada à educação básica e melhoria do gerenciamento dos recursos educacionais agora disponíveis; mobilizaremos todos os setores de nossas sociedades em prol da educação para todos, endossando por este instru- mento o Projeto de Ação que acompanha esta Declaração e nos comprometendo a revisar nosso progresso a nível nacional e a compartilhar nossas experiências entre nós e com a comunidade global. Finalizando a apresentação desta de- claração, fica aqui exposto mais um com- promisso político com uma educação que contemple a todos. 16 1716 UNIDADE 5 - Declaração de dakar – senegal - 2000 A Declaração de Dakar, Senegal, de 26 a 28 de abril se constitui num texto adota- do pela Cúpula Mundial de Educação que se compromete a alcançar os objetivos e as metas de Educação para cada cidadão e cada sociedade. O Marco de Ação de Dakar é um com- promisso coletivo para a ação. Os gover- nos têm a obrigação de assegurar que os objetivos e as metas de Educação para todos sejam alcançados e mantidos. Essa responsabilidade será atingida de forma mais eficaz por meio de amplas parcerias no âmbito de cada país, apoiada pela co- operação com agências e instituições re- gionais e internacionais. Considerando essa ideia, registram-se aqui os objetivos que foram comprome- tidos pelos governos participantes da Cú- pula Mundial de Educação: a) expandir e melhorar o cuidado e a educação da criança pequena, especial- mente para as crianças mais vulneráveis e em maior desvantagem; b) assegurar que todas as crianças, com ênfase especial nas meninas e crianças em circunstâncias difíceis, tenham acesso à educação primária, obrigatória, gratuita e de boa qualidade até o ano 2015; c) assegurar que as necessidades de aprendizagem de todos os jovens e adul- tos sejam atendidas pelo acesso equitati- vo à aprendizagem apropriada, a habilida- des para a vida e a programas de formação para a cidadania; d) alcançar uma melhoria de 50% nos níveis de alfabetização de adultos até 2015, especialmente para as mulheres, e acesso equitativo à educação básica e continuada para todos os adultos; e) eliminar disparidades de gênero na educação primária e secundária até 2005 e alcançar a igualdade de gênero na edu- cação até 2015, com enfoque na garantia ao acesso e o desempenho pleno e equi- tativo de meninas na educação básica de boa qualidade; f) melhorar todos os aspectos da quali- dade da educação e assegurar excelência para todos, de forma a garantir a todos re- sultados reconhecidos e mensuráveis, es- pecialmente na alfabetização, matemáti- ca e habilidades essenciais à vida. Nota-se na presente declaração um for- talecimento do discurso da importância de favorecer uma Educação para Todos, em todos os níveis e modalidades. Assim sendo, torna-se interessante ressaltar o que ficou registrado pela Cúpula o que se comprometeram a fazer para alcançar os objetivos traçados. Assim ficou registrado na presente declaração: Para atingir esses objetivos, nós, os go- vernos, organizações, agências, grupos e associações representadas na Cúpula Mundial de Educação, comprometemo- -nos a: a) mobilizar uma forte vontade política nacional e internacional em prol da Edu- cação para Todos, desenvolver planos de ação nacionais e incrementar de forma significativa os investimentos em educa- ção básica; 16 1717 b) promover políticas de Educação para Todos dentro de marco setorial integrado e sustentável, claramente articulado com a eliminação da pobreza e com estratégias de desenvolvimento; c) assegurar o engajamento e a parti- cipação da sociedade civil na formulação, implementação e monitoramento de es- tratégias para o desenvolvimento da edu- cação; d) desenvolver sistemas de adminis- tração e de gestão educacional que sejam participativos e capazes de dar respostas e de prestar contas; e) satisfazeras necessidades de siste- mas educacionais afetados por situações de conflito e instabilidade e conduzir os programas educacionais de forma a pro- mover compreensão mútua, paz e tole- rância, e que ajudem a prevenir a violência e os conflitos; f) implementar estratégias integradas para promover a equidade de gênero na educação, que reconheçam a necessidade de mudar atitudes, valores e práticas; g) implementar urgentemente progra- mas e ações educacionais para combater a pandemia HIV/AIDS; criar ambientes seguros, saudáveis, inclusivos e equi- tativamente supridos, que conduzam à excelência na aprendizagem e níveis de desempenho claramente definidos para todos; h) melhorar o status, a auto-estima e o profissionalismo dos professores; i) angariar novas tecnologias de infor- mação e comunicação para apoiar o esfor- ço em alcançar as metas EPT (Educação para todos); j) monitorar sistematicamente o pro- gresso no alcance dos objetivos e estra- tégias de EPT nos âmbitos internacional, regional e nacional; k) fortalecer os mecanismos existen- tes para acelerar o progresso para alcan- çar Educação para Todos. Vale a pena destacar que ficou regis- trada na declaração que a implementação dos objetivos e estratégias previamente descritas vai requerer a dinamização ime- diata de mecanismos nacionais, regionais e internacionais. E para que sejam mais efetivos estes mecanismos deverão ser participativos e, onde for possível, irão fortalecer o que já existe. Destacou-se, também que incluirão re- presentantes de todos os participantes e parceiros e irão operar de forma transpa- rente e responsável, respondendo de for- ma compreensiva à palavra, ao espírito da Declaração de Jomtien e a este Marco de Ação de Dakar. As funções desses meca- nismos incluirão, em níveis variados, de- fesa de direitos, mobilização de recursos, monitoramento e geração e disseminação de conhecimentos sobre Educação para Todos. Finalizando, pode-se perceber que a declaração de Dakar reafirma, também, de forma intensa, o compromisso de as- segurar uma Educação para Todos e que as necessidades básicas da aprendizagem podem e devem ser alcançadas com ur- gência. 18 1918 UNIDADE 6 - Declaração de Cochabamba – Bolívia- 2001 A Declaração de Cochabamba na Bolívia realizada nos dias 5 a 7 de março de 2001, com o tema Educação para Todos: cumprin- do nossos compromissos coletivos reuniu ministros da educação da América Latina e Caribe a pedido da Organização das Na- ções Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) na VII Sessão do Comitê Intergovernamental Regional do Projeto Principal para educação (PROMEDLAC VII) para discutir a execução desse Projeto no curso das duas últimas décadas, o que re- presentará o esforço mais importante por parte dos países para tornar a educação uma prioridade nas suas agendas de de- senvolvimento. Nesse documento os governos estabe- leceram como objetivos: atingir uma esco- larização fundamental para todos, propor- cionar o aprendizado da alfabetização a jovens e adultos e levar a cabo as reformas necessárias, tendo por meta, melhorar a qualidade e a eficiência da educação. Na discussão dos governos foi reconhe- cido que há sinais de esperança de que será possível transformar o potencial da educação em um fator determinante no desenvolvimento humano. Ficou claro o re- conhecimento da necessidade de promo- ver a educação por toda a vida dentro de ambientes humanos e educacionais múlti- plos e interativos e de atribuir maior impor- tância à questão de valores. Foi solicitado que a educação se fortaleça mediante uma firme fundamentação na possibilidade do aprender a ser, fazer, conhecer e viver em conjunto, absorvendo ao mesmo tempo como um fator positivo na rica diversidade cultural e étnica. A seguir, fica registrado de forma resu- mida o que foi declarado após discussão e análise de relatórios e propostas apresen- tados na sessão: a preocupação por não terem sido ain- da alcançadas as metas propostas no Pro- jeto Principal de Educação; que os sistemas educacionais preci- sam apressar o ritmo da sua transforma- ção, de modo a não se atrasarem em rela- ção às mudanças que ocorrem em outras esferas da sociedade e a conduzirem a um salto qualitativo na educação; que o papel dos professores é insubs- tituível para assegurar um aprendizado de qualidade na sala de aula, portanto, as mudanças pretendidas com a reforma se baseiam na vontade e na preparação do magistério; que sem a educação não é possível o desenvolvimento humano; que em mundo pluralista e diversifica- do, a América Latina e o Caribe têm muito a oferecer se tirarem proveito da riqueza de sua diversidade de etnias; que se faz necessário um novo tipo de escola; que, como a educação é um direito e um dever que cada pessoa compartilha com a sociedade, é necessário criar meca- nismos adequados e flexíveis para garantir a participação permanente de uma multi- plicidade de atores e estimular práticas in- tersetoriais no campo da educação. que o status dos jovens como um gru- po social estratégico na América latina e no 18 1919 Caribe exige soluções educacionais espe- cíficas que proporcionem aos jovens habi- litações para viver, para trabalhar e para a cidadania; que é necessário ampliar a atenção dirigida pela educação formal e não for- mal aos grupos de crianças de muito pouca idade e de adultos que até aqui não foram considerados adequadamente nas estra- tégias nacionais; que o ensino das tecnologias de infor- mação e comunicação deve ter lugar den- tro do contexto das políticas sociais e edu- cacionais comprometidas com a equidade e qualidade. que para melhorar a qualidade, a abrangência e a relevância da educação é necessário aumentar de forma significati- va os fundos a ela destinados; que os países da América Latina e do caribe precisam contar com uma coopera- ção internacional renovada que contribua para o desenvolvimento das tarefas e pro- postas da presente Declaração, o fortale- cimento do processo decisório e da capaci- dade de execução nacionais. que é necessário solicitar à UNESCO que tome a iniciativa de organizar, jun- tamente com os Ministros da Região, um Projeto Regional com uma perspectiva de quinze anos que inclua elementos funda- mentais desta declaração. Ao analisar o registro da Declaração de Cochabamba, percebe-se uma preocupa- ção em proporcionar o aprendizado da al- fabetização a jovens e adultos e o estabe- lecimento da meta de melhorar a qualidade e a eficiência da educação. Sem dúvida, este é mais um documento relevante que discute a necessidade de transformações e inovações para a promoção de uma edu- cação para todos. 20 2120 UNIDADE 7 - Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão A declaração internacional de Montre- al aprovada em 5 de junho de 2001 pelo Congresso Internacional “sociedade in- clusiva”, realizada em Montreal, Quebec – Canadá mereceu destaque porque se trata de mais um documento em defesa do direito à igualdade e dignidade. O texto ficou assim registrado: O acesso igualitário a todos os espaços da vida é um pré-requisito para os direi- tos humanos universais e liberdades fun- damentais das pessoas. O esforço rumo a uma sociedade inclusiva para todos é a essência do desenvolvimento social sus- tentável. A comunidade internacional, sob a li- derança das Nações Unidas, reconheceu a necessidade de garantias adicionais de acesso para certos grupos. As declara- ções intergovernamentais levantaram a voz internacional para juntar, em parceria, governos, trabalhadores e sociedade civil a fim de desenvolverem políticas e práti- cas inclusivas. O Congresso Internacional “Sociedade Inclusiva”convocado pelo Conselho Ca- nadense de Reabilitação e Trabalho apela aos governos, empregadores e trabalha- dores bem como à sociedade civil para que se comprometam com, e desenvolvam o desenho inclusivo em todos os ambientes, produtos e serviços, através das ideias: 1. O objetivo maior desta parceria é o de, com a participação de todos, identifi- car e implementar soluções de estilo de vida que sejam sustentáveis, seguras, acessíveis, adquiríveis e úteis. 2. Isto requer planejamento e estraté- gias de desenho intersetoriais, interdisci- plinares, interativos e que incluam todas as pessoas. 3. O desenho acessível e inclusivo de ambientes, produtos e serviços aumenta a eficiência, reduz a sobreposição, resulta em economia financeira e contribui para o desenvolvimento do capital cultural, eco- nômico e social. 4. Todos os setores da sociedade rece- bem benefícios da inclusão e são respon- sáveis pela promoção e pelo progresso do planejamento e desenho inclusivos. 5. O Congresso enfatiza a importância do papel dos governos em assegurar, fa- cilitar e monitorar a transparente imple- mentação de políticas, programas e prá- ticas. 6. O Congresso urge para que os princí- pios do desenho inclusivo sejam incorpo- rados nos currículos de todos os progra- mas de educação e treinamento. 7. As ações de seguimento deste Con- gresso deverão apoiar as parcerias con- tínuas e os compromissos orientados à solução, celebrados entre governos, em- pregadores, trabalhadores e comunidade em todos os níveis. Portanto, ficam aqui destacadas as ideias sobre inclusão de um documento de porte relevante para a promoção e de- fesa dos Direitos Humanos e das liberda- des fundamentais das pessoas com defi- ciências. 20 2121 8.1 Constituição Federal do Brasil - 1988 - Os Direitos das Pessoas com Deficiência Este capítulo trata de discutir alguns aspectos importantes da educação inclu- siva com questão governamental. Neste sentido é preciso partir de alguns precei- tos da nossa Constituição Federal, desta- cando o que ela prescreve como direito do cidadão. Valendo-se da cartilha “O acesso de pessoas com deficiência às classes co- muns da rede regular de ensino emitida pela (PFDC) Procuradoria Federal dos di- reitos do cidadão, destacamos o que o diz a Constituição Federal”: A Constituição Federal do Brasil elegeu como fundamentos da República a Cidada- nia e a Dignidade da pessoa humana (art. 1º, incisos II e III), e como um de seus ob- jetivos fundamentais a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, sexo idade, e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, inciso IV). A mesma garante, também, o direito à igualdade (art. 5º), e trata, nos artigos 205 e seguintes, que todos têm o direito à educação e que esse direito deve visar o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Nos artigos (206 e 208) elege como um dos princípios para o ensino, a igualdade de condições e permanência na escola, destacando que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a ga- rantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artísti- ca, segundo a capacidade de cada um. Vale lembrar que o texto da Constitui- ção Federal ao tratar do direito de Edu- cação para todos, a mesma não usou ad- jetivos, o que estabelece que toda escola deva atender aos princípios constitucio- nais, não podendo excluir nenhuma pes- soa em razão de qualquer característica física ou mental. É importante ressaltar um aspecto re- lacionado ao termo “preferencialmente” que consta no texto da Constituição Fe- deral no art. (208, inciso III) e que, entre- tanto, tem causado algumas polêmicas pela forma de interpretação do mesmo. Segundo a PDFG (2004), o advérbio pre- ferencialmente refere-se a atendimento educacional especializado, devendo ser, portanto, relacionado àquilo que é ne- cessário para diferenciar o ensino para melhor atender às especificidades dos alunos com deficiências e que por alguns motivos não se encontram disponíveis, ainda, na escola regular. Como exemplo, pode-se citar o ensino da Língua de Sinais – Libras, do código Braille, uso de recursos de informática, dentre outros. Diante dessa ideia, acrescenta-se que o atendimento educacional especializado deve estar disponível em todos os níveis de ensino, de preferência na rede regular de ensino, pelo fato de que este é o am- biente mais adequado para se garantir o relacionamento dos alunos com seus pa- res da mesma idade cronológica e para a estimulação de todo o tipo de interação que possa beneficiar seu desenvolvimen- UNIDADE 8 - Documentos nacionais relacionados ao direito à educação das pessoas com deficiência 22 23 to cognitivo, motor e afetivo. Além disso, é importante refletir que é no contexto de curso “livre” que a Constituição admite que o atendimento educacional especializado também pode ser oferecido fora da rede regular de en- sino, em qualquer instituição, já que seria apenas um complemento (como qualquer curso livre) e não um substitutivo do ensi- no ministrado na rede regular para todos os alunos. É preciso entender que esse atendimento não deve substituir o escolar e precisa, preferencialmente, ser ofereci- do nas escolas comuns da rede regular. Partindo dessa ideia, vale a pena des- tacar que a Constituição Federal garante a educação a todos, o que significa que todos têm o direito de aprender num mes- mo ambiente, independentemente, das diferenças individuais presentes nesse espaço. E que esse ambiente educativo seja diversificado e favoreça o pleno de- senvolvimento humano e o preparo para a cidadania. 8.2 Lei n.º 7.853 de 24 de Outubro de 1989 APOIO ÀS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA Esta lei decretada e sancionada pelo Presidente da República dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiên- cia, sua integração social e sobre a Coor- denadoria para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – (CORDE) que institui a tutela jurisdicional de interes- ses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. A seguir destaca-se parte relevante do texto da referida Lei, com o intuito de analisar o conteúdo da mesma. Arti. 1º. Ficam estabelecidas normas ge- rais que asseguram o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiências, e sua efetiva integração social, nos termos desta Lei. Art. 2º. Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorren- tes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômi- co. Parágrafo Único. Para o fim estabe- lecido no caput deste artigo, os órgão e entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência e finalidade, aos assuntos objetos desta Lei, tratamen- to prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas: I – na área da educação: a) a inclusão, no sistema educacional, da Educação Especial como modalidade educativa que abranja a educação pre- coce, a pré-escolar, as de 1º e 2º graus, a supletiva, a habilitação e reabilitação pro- fissional, com currículos, etapas e exigên- cias de diplomação próprios; b) o oferecimento obrigatório de pro- gramas de Educação Especial em estabe- lecimentos públicos de ensino; 22 23 c) a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em estabelecimentospúblicos de ensino; d) o oferecimento obrigatório de pro- gramas de Educação Especial em nível pré-escolar e escolar, em unidades hos- pitalares e congêneres nas quais estejam internados, por prazo igual ou superior a um (um) ano, educandos portadores de deficiência; e) o acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios conferidos aos demais educandos, inclusive material es- colar, merenda escolar e bolsa de estudo; f) a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares de pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem ao sistema regular de ensino. Vale a pena destacar que esta lei realça a oferta de educação especial em estabe- lecimentos públicos, mas é preciso enten- der que a modalidade educação especial não deve substituir o ensino regular. De acordo com PFDC (2003), a Lei 7853/89, como também o Decreto 3.298/99 e outras normas infraconsti- tucionais e infralegais, também refletem certa distorção em relação ao que se ex- trai da Constituição Federal e da Conven- ção da Guatemala. E preciso refletir o que se encontra re- gistrado numa lei, no momento em que essa lei diz “a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares de pessoas por- tadoras de deficiência capazes de se in- tegrarem ao sistema regular de ensino”, pode denotar um retrocesso a uma épo- ca histórica em que a “integração” (movi- mento no qual é o portador de deficiência quem tem que se adaptar à escola, e não necessariamente, a escola que deve criar condições para evitar a exclusão) esteve bastante efetiva, principalmente no Bra- sil. Vale lembrar que o movimento de in- tegração é a contraposição do atual movi- mento mundial de inclusão. A PFDC (2003), destaca a seguinte ideia: Fazendo uma interpretação progres- siva, consentânea com princípios e objetivos constitucionais atuais de “promoção do bem de todos, sem qualquer discriminação”, podemos verificar que essas normas, quan- do falam em “sempre que possível, desde que capazes de adaptar”, só podem estar se referindo a pessoas com severos comprometimentos de saúde. Pessoas em estado de vida vegetativa, sem quaisquer condi- ções de interação com o meio ex- terno, que não são sequer público de chamadas escolas especiais, pois necessitam de cuidados de saúde e não de educação escolar. Além disso, acrescenta que caso ocorra uma melhora da condição da saúde, essas pessoas têm o direito e o desafio de fre- quentar escolas comuns da rede regular. É nesse ambiente que vão ter a oportu- nidade de se desenvolver melhor no as- pecto social, e quanto aos conteúdos, vão ter a chance de aprender aquilo que lhes for possível. E mesmo que não consigam aprender os conteúdos tradicionalmente transmitidos, que são também muito im- portantes, mas não podem ser o único ob- jetivo da escola, há que se dar às pessoas 24 25 com severas limitações o direito a simples convivência na escola, entendida como espaço privilegiado da formação global das novas gerações. Para finalizar, a intenção aqui ao regis- trar parte da Lei 7.853 se fez no sentido de chamar atenção para a fragilidade do texto no que diz respeito à questão da inclusão. Lembrando que nesse proces- so é indispensável que a escola de ensino regular se adapte às mais diversas situa- ções, conforme as necessidades dos alu- nos que se encontram matriculados no seu espaço. 8.3 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9394/96 “Educação Especial” Neste momento, cabe destacar o que diz a LDB/9394/96, (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) sobre a edu- cação escolar de pessoas com deficiência, tendo em vista discutir como a mesma tra- ta a questão. Sobre essa discussão Manto- an (2003) destaca que a LDB de 1996 não contempla o direito de opção das pessoas com deficiência e de seus pais ou respon- sáveis, favorecendo situações em que se dará a educação especial, por imposição da escola ou da rede de ensino. Para entender a concepção in- clusiva da nova LDB é preciso anali- sar o texto que assim ficou registrado no capítulo V: DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Art. 58. Entende-se por educação es- pecial, para os efeitos desta Lei, a modali- dade de educação escolar, oferecida pre- ferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessida- des especiais. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. § 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, duran- te a educação infantil. Art. 59. Os sistemas de ensino asse- gurarão aos educandos com necessidades especiais: I - currículos, métodos, técnicas, re- cursos educativos e organização específi- cos, para atender às suas necessidades; II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino funda- mental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com especializa- ção adequada em nível médio ou supe- rior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capa- citados para a integração desses educan- dos nas classes comuns; IV - educação especial para o tra- balho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem ca- 24 25 pacidade de inserção no trabalho compe- titivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomoto- ra; V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares dis- poníveis para o respectivo nível do ensino regular. Art. 60. Os órgãos normativos dos sis- temas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições priva- das sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação es- pecial, para fins de apoio técnico e finan- ceiro pelo Poder Público. Parágrafo único. O Poder Público ado- tará, como alternativa preferencial, a am- pliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, indepen- dentemente do apoio às instituições pre- vistas neste artigo. A PDFC (2003) faz a seguinte dis- cussão sobre esse texto da LDB/9394/96: Na Lei de Diretrizes e bases da Educa- ção Nacional consta que há possibilidade de substituição do “regular” pelo “espe- cial”. Contudo, essa substituição não está de acordo com a Constituição Federal, que prevê atendimento educacional especia- lizado, conforme ficou destacado, e não educação especial. É importante verificar que a Constituição Federal prevê o aten- dimento educacional especializado para os portadores de deficiência, justamente por se tratar esse atendimento do ofere- cimento de instrumentos de acessibilida- de ao ensino. O ensino regular e as demais modali- dades de ensino devem ter como regra a utilização de métodos que contemplem às mais diversas necessidades dos estudan- tes, inclusive eventuais necessidades es- peciais ligadas ao conceito de educação, o que não se justifica a manutenção de um ensino especial, apartado. Mantoan (2003), destaca que o caráter ambíguo da educação especial é acentua- do pela imprecisão dos textos legaisque se baseiam os planos e a as propostas educacionais, o que evidencia a dificul- dade de distinção entre o modelo médi- co-pedagógico do modelo educacional escolar dessa modalidade de ensino. Essa falta de clareza favorece um retrocesso às iniciativas que visam à adoção de posi- ções inovadoras para a educação de alu- nos com deficiência. Problemas conceituais, desrespeito a preceitos constitucionais, inter- pretações tendenciosas de nossa legislação educacional e preconcei- tos distorcem o sentido da inclusão escolar, reduzindo-a unicamente à inserção de alunos com deficiência no ensino regular. Essas são, do meu ponto de vista, grandes barreiras a serem enfrentadas pelos que de- fendem a inclusão escolar, fazendo retroceder, por sua vez, as iniciativas que visam à adoção de posições ino- vadoras para a educação de alunos em geral. Estamos diante de avan- ços, mas de muitos impasses da le- gislação. (MANTOAN, 2003. P. 35) Para garantir uma educação inclusiva de fato, Mantoan (2003) ressalta que é necessário discutir e ultrapassar as con- trovérsias entre a Lei de Diretrizes e Ba- 26 27 ses da Educação Nacional (Lei 9394/96) e a Constituição Federal de 1988. É preciso refletir que os caminhos propostos por nossas políticas de educação continuam insistindo em “apagar incêndios”. Elas não avançam como deveriam, não acompa- nham as inovações. Continuam mantendo um distanciamento das verdadeiras ques- tões que levam à exclusão escolar. 8. 4 Lei nº 10.845, de 5 de Março de 2004 Programa de Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência A lei 10.845 de 5 de março de 2004, decretada e sancionada pelo Presidente da República Institui o Programa de Com- plementação ao atendimento Educacio- nal Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência, e dá outras providências. Art. 1o Fica instituído, no âmbito do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, Programa de Comple- mentação ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência - PAED, em cumprimento do disposto no inciso III do art. 208 da Consti- tuição, com os seguintes objetivos: I - garantir a universalização do aten- dimento especializado de educandos por- tadores de deficiência cuja situação não permita a integração em classes comuns de ensino regular; II - garantir, progressivamente, a inser- ção dos educandos portadores de defici- ência nas classes comuns de ensino regu- lar. Art. 2o Para os fins do disposto no art. 1o desta Lei, a União repassará, direta- mente à unidade executora constituída na forma de entidade privada sem fins lu- crativos que preste serviços gratuitos na modalidade de educação especial, assis- tência financeira proporcional ao número de educandos portadores de deficiência, conforme apurado no censo escolar reali- zado pelo Ministério da Educação no exer- cício anterior, observado o disposto nesta Lei. Ao analisar cada artigo acima citado, vale a pena refletir sobre o próximo artigo que estabelece alguns direitos que ainda não são, totalmente, reais na realidade das escolas regulares de ensino. Assim foi registrado: Art. 3o Para os fins do disposto no art. 1o desta Lei e no art. 60 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, é facultado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu- nicípios prestar apoio técnico e financeiro às entidades privadas sem fins lucrativos que oferecem educação especial, na for- ma de: I - cessão de professores e profissio- nais especializados da rede pública de ensino, bem como de material didático e pedagógico apropriado; II - repasse de recursos para constru- ções, reformas, ampliações e aquisição de equipamentos; III - oferta de transporte escolar aos educandos portadores de deficiência ma- triculados nessas entidades. Acredita-se que uma das maiores barreiras para a inclusão é a falta reivin- dicação de direitos, a distorção do sentido 26 27 de leis, a ausência de enfrentamento de desafios, o não cumprimento de leis e de- cretos, a ambiguidade presente nas leis, dentre outras. 8.5 Plano Nacional de Edu- cação EDUCAÇÃO ESPECIAL O Plano Nacional de Educação decre- tado pelo Congresso Nacional no ano de 2000, com duração de dez anos regis- tra a Educação Especial com o seguin- te diagnóstico: A Constituição Federal estabelece o direito de as pessoas com necessidades especiais receberem edu- cação preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208, III). A diretriz atual é a da plena integração dessas pessoas em todas as áreas da sociedade. Trata-se, portanto, de duas questões - o direito à educação, comum a todas as pessoas, e o direito de receber essa educação sempre que possível junto com as demais pessoas nas escolas “regulares”. A legislação, no entanto é sábia em de- terminar preferência para essa modalida- de de atendimento educacional, ressal- vando os casos de excepcionalidade em que as necessidades do educando exigem outras formas de atendimento. As políti- cas recentes do setor têm indicado três situações possíveis para a organização do atendimento: participação nas classes co- muns, de recursos, sala especial e escola especial. Todas as possibilidades têm por objetivo a oferta de educação de qualida- de. A seguir considera-se necessário apresentar os objetivos estabelecidos no Plano Nacional de Educação – Edu- cação especial para o atendimento às pessoas portadoras de necessidades especiais: 1. Organizar, em todos os Municípios e em parceria com as áreas de saúde e assis- tência, programas destinados a ampliar a oferta da estimulação precoce (interação educativa adequada) para as crianças com necessidades educacionais especiais, em instituições especializadas ou regulares de educação infantil, especialmente, cre- ches. 2. Generalizar, em cinco anos, como parte dos programas de formação em ser- viço, a oferta de cursos sobre o atendi- mento básico a educandos especiais, para os professores em exercício na educação infantil e no ensino fundamental, utilizan- do inclusive a TV Escola e outros progra- mas de educação à distância. 3. Garantir a generalização, em cinco anos, da aplicação de testes de acuidade visual e auditiva em todas as instituições de educação infantil e do ensino funda- mental, em parceria com a área de saúde, de forma a detectar problemas e oferecer apoio adequado às crianças especiais. 4. Nos primeiros cinco anos de vigência deste plano, redimensionar conforme as necessidades da clientela, incrementan- do, se necessário, as classes especiais, salas de recursos e outras alternativas pedagógicas recomendadas, de forma a favorecer e apoiar a integração dos edu- candos com necessidades especiais em classes comuns, fornecendo-lhes o apoio adicional de que precisam. 5. Generalizar, em dez anos, o atendi- mento dos alunos com necessidades es- peciais na educação infantil e no ensino 28 29 fundamental, inclusive através de consór- cios entre Municípios, quando necessário, provendo, nestes casos, o transporte es- colar. 6. Implantar, em até quatro anos, em cada unidade da Federação, em parceria com as áreas de saúde, assistência social, trabalho e com as organizações da socie- dade civil, pelo menos um centro espe- cializado, destinado ao atendimento de pessoas com severa dificuldade de desen- volvimento. 7. Ampliar, até o final da década, o nú- mero desses centros, de sorte que as di- ferentes regiões de cada Estado contem com seus serviços. 8. Tornar disponíveis, dentro de cinco anos, livros didáticos falados, em braille e em caracteres ampliados, para todos os alunos cegos e para os de visão sub-nor- mal do ensino fundamental. 9. Estabelecer, em cinco anos, em par- ceriacom as áreas de assistência social e cultura e com organizações não-governa- mentais, redes municipais ou intermuni- cipais para tornar disponíveis aos alunos cegos e aos de visão sub-normal livros de literatura falados, em braille e em carac- teres ampliados. 10. Estabelecer programas para equi- par, em cinco anos, as escolas de educa- ção básica e, em dez anos, as de educação superior que atendam educandos surdos e aos de visão sub-normal, com aparelhos de amplificação sonora e outros equipa- mentos que facilitem a aprendizagem, atendendo-se, prioritariamente, as clas- ses especiais e salas de recursos. 11. Implantar, em cinco anos, e gene- ralizar em dez anos, o ensino da Língua Brasileira de Sinais para os alunos surdos e, sempre que possível, para seus familia- res e para o pessoal da unidade escolar, mediante um programa de formação de monitores, em parceria com organizações não-governamentais. 12. Em coerência com as metas nº 2, 3 e 4, da educação infantil e metas nº 4.d, 5 e 6, do ensino fundamental: a) estabelecer, no primeiro ano de vi- gência deste plano, os padrões mínimos de infraestrutura das escolas para o rece- bimento dos alunos especiais; b) a partir da vigência dos novos pa- drões, somente autorizar a construção de prédios escolares, públicos ou privados, em conformidade aos já definidos requi- sitos de infraestrutura para atendimento dos alunos especiais; c) adaptar, em cinco anos, os prédios escolares existentes, segundo aqueles padrões. 13. Definir, em conjunto com as enti- dades da área, nos dois primeiros anos de vigência deste plano, indicadores básicos de qualidade para o funcionamento de instituições de educação especial, públi- cas e privadas, e generalizar, progressiva- mente, sua observância. 14. Ampliar o fornecimento e uso de equipamentos de informática como apoio à aprendizagem do educando com neces- sidades especiais, inclusive através de parceria com organizações da sociedade civil voltadas para esse tipo de atendi- mento. 15. Assegurar, durante a década, trans- porte escolar com as adaptações neces- 28 29 sárias aos alunos que apresentem dificul- dade de locomoção. 16. Assegurar a inclusão, no projeto pedagógico das unidades escolares, do atendimento às necessidades educacio- nais especiais de seus alunos, definin- do os recursos disponíveis e oferecendo formação em serviço aos professores em exercício. 17. Articular as ações de educação es- pecial e estabelecer mecanismos de coo- peração com a política de educação para o trabalho, em parceria com organizações governamentais e não-governamentais, para o desenvolvimento de programas de qualificação profissional para alunos especiais, promovendo sua colocação no mercado de trabalho. Definir condições para a terminalidade para os educandos que não puderem atingir níveis ulteriores de ensino. 18. Estabelecer cooperação com as áreas de saúde, previdência e assistência social para, no prazo de dez anos, tornar disponíveis órteses e próteses para to- dos os educandos com deficiências, assim como atendimento especializado de saú- de, quando for o caso. 19. Incluir nos currículos de formação de professores, nos níveis médio e supe- rior, conteúdos e disciplinas específicas para a capacitação ao atendimento dos alunos especiais. 20. Incluir ou ampliar, especialmente nas universidades públicas, habilitação específica, em níveis de graduação e pós- -graduação, para formar pessoal especia- lizado em educação especial, garantindo, em cinco anos, pelo menos um curso des- se tipo em cada unidade da Federação. 21. Introduzir, dentro de três anos a contar da vigência deste plano, conteúdos disciplinares referentes aos educandos com necessidades especiais nos cursos que formam profissionais em áreas rele- vantes para o atendimento dessas neces- sidades, como Medicina, Enfermagem e Arquitetura, entre outras. 22. Incentivar, durante a década, a rea- lização de estudos e pesquisas, especial- mente pelas instituições de ensino supe- rior, sobre as diversas áreas relacionadas aos alunos que apresentam necessidades especiais para a aprendizagem. 23. Aumentar os recursos destinados à educação especial, a fim de atingir, em dez anos, o mínimo equivalente a 5% dos recursos vinculados à manutenção e de- senvolvimento do ensino, contando, para tanto, com as parcerias com as áreas de saúde, assistência social, trabalho e pre- vidência. 24. No prazo de três anos a contar da vigência deste plano, organizar e pôr em funcionamento em todos os sistemas de ensino um setor responsável pela educação especial, bem como pela ad- ministração dos recursos orçamentários específicos para o atendimento dessa modalidade, que possa atuar em parceria com os setores de saúde, assistência so- cial, trabalho e previdência e com as orga- nizações da sociedade civil. 25. Estabelecer um sistema de infor- mações completas e fidedignas sobre a população a ser atendida pela educação especial, a serem coletadas pelo censo educacional e pelos censos populacionais. 26. Implantar gradativamente, a partir 30 31 do primeiro ano deste plano, programas de atendimento aos alunos com altas ha- bilidades nas áreas artística, intelectual ou psicomotora. 27. Assegurar a continuidade do apoio técnico e financeiro às instituições priva- das sem fim lucrativo com atuação exclu- siva em educação especial, que realizem atendimento de qualidade, atestado em avaliação conduzida pelo respectivo sis- tema de ensino. 28. Observar, no que diz respeito a essa modalidade de ensino, as metas pertinen- tes estabelecidas nos capítulos referen- tes aos níveis de ensino, à formação de professores e ao financiamento e gestão. Vale a pena refletir que o Plano Na- cional de Educação poderia ter partido de uma construção coletiva que envolves- se mais a sociedade para a discussão dos desdobramentos na política educacional brasileira. Convém ressaltar que a luta pela democratização da educação é parte da luta pela democratização da sociedade em seu conjunto. Este é mais um exemplo de que a perspectiva de melhorias educa- cionais depende de mudanças. 8.6 SEESP - Secretaria de Educação Especial Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade A inclusão escolar exige inovações no processo educacional e propõe uma con- vivência harmoniosa com as diferenças individuais num mesmo espaço. Neste sentido, e valendo-se da leitura de leis e documentos internacionais e nacionais vale a pena destacar o programa de Edu- cação Inclusiva do MEC que traz o seguin- te texto: Em consonância com os pressupos- tos legais e conceituais de uma educação de qualidade para todos o Programa Edu- cação inclusiva: direito à diversidade tem o objetivo de disseminar a política de edu- cação inclusiva nos municípios brasileiros e apoiar a formação de gestores e edu- cadores para efetivar a transformação dos sistemas educacionais em sistemas educacionais inclusivos, adotando como princípio, a garantia do direito dos alunos com necessidades educacionais especiais de acesso e permanência, com qualidade, nas escolas da rede regular de ensino. Iniciado em 2003, o Programa conta atualmente com a adesão de 144 municí- pios-pólo que atuam como multiplicado- res da formação para mais 4.646 municí- pios da área de abrangência. Por meio do Programa, o Ministério da Educação / Secretaria de Educação Espe- cial assumiu o compromisso de fomentar a política de construção de sistemas edu- cacionais inclusivos apoiando o processo de implementação nos municípios brasi- leiros, reunindo recursos da comunidade e firmando convênios e parcerias para garantir o atendimento das necessidades educacionais especiais dos alunos. Numa ação compartilhada,
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