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1 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTA PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ESTRUTURAL NOTAS DE AULA ESTRUTURAS METÁLICAS PROF. MSC. IGOR LEITE MARÇO/2018 2 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Sumário 1. AÇÕES E SEGURANÇA.................................................................................................................. 4 1.1 Método dos Estados Limites ........................................................................................................ 4 1.2 Critérios de Projeto ....................................................................................................................... 5 1.3 Verificação para estado limite último (ELU) ............................................................................... 5 1.4 Verificação para estado limite de serviço (ELS) .......................................................................... 5 1.5 Ações ............................................................................................................................................ 6 1.6 Carregamentos e combinações de ações ...................................................................................... 9 1.6.1 Combinações de ações para estados limites últimos ............................................................. 9 1.6.2 Combinações para estados limites de serviço ...................................................................... 11 2. DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SUBMETIDAS À TRAÇÃO .............................................. 16 2.1. Considerações Iniciais ............................................................................................................... 16 2.2. Estudo da região de ligação ....................................................................................................... 16 2.2.1. Área líquida ........................................................................................................................ 17 2.2.2. Área líquida efetiva ............................................................................................................ 18 2.2.3. Coeficiente de redução Ct ................................................................................................... 19 2.3. Identificação dos estados-limites últimos ................................................................................. 20 2.4. Dimensionamento aos estados-limites últimos ......................................................................... 21 2.5. Limitação do índice de esbeltez ................................................................................................ 22 2.6. Emprego de barras compostas ................................................................................................... 22 2.7. Barras redondas com extremidades rosqueadas ........................................................................ 22 2.8. Efeitos adicionais ...................................................................................................................... 23 2.8.1. Efeito da excentricidade da ligação .................................................................................... 23 2.8.2. Efeito do peso próprio da barra .......................................................................................... 23 3. DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SUBMETIDAS À COMPRESSÃO .................................... 30 3.1 Instabilidade global – aspectos teóricos ..................................................................................... 30 3.2. Força axial resistente nominal ................................................................................................... 34 3.3. Valor da força axial de flambagem elástica .............................................................................. 35 3.4. Valores dos comprimentos de flambagem por flexão e torção ................................................. 37 3.5. Instabilidade local – aspectos teóricos ...................................................................................... 41 3.6. Estado limite de serviço ............................................................................................................ 45 3.7. Roteiro de dimensionamento ..................................................................................................... 46 4. DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SUBMETIDAS À FLEXÃO SIMPLES.............................. 55 4.1. Mecanismo de colapso plástico ................................................................................................. 55 3 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 4.2. Flambagem lateral ..................................................................................................................... 57 4.3. Instabilidade local na flexão ...................................................................................................... 60 4.4. Dimensionamento ao momento fletor ....................................................................................... 62 4.5. Resistência à força cortante ....................................................................................................... 65 4.6. Dimensionamento dos enrijecedores ......................................................................................... 68 4.7. Aberturas na alma de Perfil I ..................................................................................................... 69 4.8. Estados limites de serviço ......................................................................................................... 70 5. DIMENSIONAMENTO DE LIGAÇÕES EM ESTRUTURAS DE AÇO ..................................... 85 5.1. Classificação e comportamento com relação à rotação ............................................................. 85 5.2. Parafusos estruturais .................................................................................................................. 87 5.3. Resistência de parafusos por ligações por contato .................................................................... 90 5.4. Solda elétrica ............................................................................................................................. 95 5.5. Verificação das soldas ............................................................................................................... 98 5.6. Elementos de ligação ............................................................................................................... 101 5.7. Ligações em base de pilares .................................................................................................... 103 6. COMPORTAMENTO DE LIGAÇÕES EM ESTRUTURAS DE AÇO ...................................... 119 6.1. Filosofia do projeto de ligações .............................................................................................. 120 6.2. Ligações das vigas com as colunas ......................................................................................... 122 6.3. Sistemas de classificação de ligações viga / coluna ................................................................ 126 6.4. Ligações viga coluna semirrígidas .......................................................................................... 129 4 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 1. AÇÕES E SEGURANÇA As estruturas devemser projetadas para resistir a todas as ações atuantes durante a sua vida útil com segurança, desempenho e durabilidade adequada a sua utilização, com custos de construção e manutenção compatíveis. 1.1 Método dos Estados Limites O método dos estados limites reconhece a natureza não determinística das ações e das resistências na formulação das equações que devem ser utilizadas em projeto. O entendimento do Método dos Estados Limites pressupõe a definição de alguns parâmetros/grandezas fundamentais. Um desses parâmetros é denominado de variância, que indica o quanto uma certa variável ou dado de ação ou resistência apresenta dispersão de valores. A Figura 1.1 mostra um exemplo de distribuição da resistência medida através da amostragem da tensão de escoamento de espécimes provenientes de um lote de aço de um determinado fabricante. Figura 1.1 – Resultados de teste de tração do material Além da variação estatística da característica do material ilustrado na Figura 1.1, a resistência de uma peça de aço é também afetada pela variação na geometria e pelas incertezas oriundas das hipóteses simplificadoras adotadas no método de cálculo. A determinação dos fatores de segurança que são apresentados na NBR 8800/2008 se faz através da fixação de uma probabilidade de ruína da estrutura que seja adequada do ponto de vista de economia e segurança. A grande vantagem apresentada pelo Método dos Estados Limites é possibilitar ao projetista o controle da probabilidade de ruína da estrutura e de componentes de ligações. Quanto menor a probabilidade de ruína desejada, maior é o custo da estrutura, e não existe necessidade de que certa estrutura projetada apresente riscos de colapso inferiores aos riscos naturais da atividade humana. Por isso, a necessidade de serem empregados os fatores de segurança recomendados por normas, de modo a ser obtida a probabilidade de ruína aceitável e que se pode pagar. 5 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 1.2 Critérios de Projeto O dimensionamento e a execução de uma estrutura pressupõem o atendimento às funções para as quais foi concebida, considerando sua vida útil estimada. Neste sentido, devem ser verificadas condições de segurança (estado limite último) e condições de desempenho em uso (estado limite de serviço). Além disso, devem ser garantidas condições de durabilidade com custos compatíveis. Os estados limites últimos estão relacionados ao colapso total ou parcial da estrutura, comprometendo a segurança dos usuários, e associados ao esgotamento da capacidade resistente, instabilidade e perda de equilíbrio. Os estados limites de serviço estão relacionados a deficiências no desempenho para as condições de utilização, como, por exemplo, deformações e vibrações excessivas. No projeto com método dos estados limites, as ações, solicitações e resistência dos materiais são tratadas de forma semiprobabilística e a segurança é introduzida de forma qualitativa, majorando as solicitações e minorando as resistências dos materiais em função de suas variabilidades. No Brasil, os códigos de projeto adotam o método dos estados limites como critério de introdução da segurança estrutural em projeto. As ações são majoradas e combinadas adequadamente e as resistências dos materiais são divididas por coeficientes parciais de modo a garantir a segurança estrutural. A NBR 8681/2003 é a norma de ações e segurança que serve de referência para as demais normas de projeto estrutural, incluindo a NBR 8800/2008. 1.3 Verificação para estado limite último (ELU) Segundo o método dos estados limites, a segurança estrutural é introduzida de forma qualitativa e pode ser expressa por: Sd ≤ Rd Sd – solicitações de cálculo, que são os efeitos gerados por combinações apropriadas de ações de cálculos aplicadas à estrutura; Rd – resistência de cálculo, que é o limite de resistência do material associado a uma determinada forma de colapso. As solicitações de cálculo são obtidas majorando-se adequadamente as solicitações nominais, enquanto que as resistências de cálculo são obtidas minorando-se as resistências nominais. 1.4 Verificação para estado limite de serviço (ELS) As condições usuais referentes aos estados limites de serviço são expressas por desigualdades do tipo: Sser ≤ Slim 6 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Sser – representa os valores dos efeitos estruturais de interesse obtidos com base nas combinações de serviço; Slim – representa os valores limites adotados para esses efeitos em cada caso específico. 1.5 Ações Segundo a NBR 8681/2003, ações são causas que provocam esforços e deformações nas estruturas e seus elementos, podendo ser classificadas em: Ações permanentes: não variam de forma significativa em intensidade, direção ou ponto de aplicação durante a vida útil da estrutura. Exemplo: peso próprio da estrutura, revestimento, alvenaria etc. Ações variáveis: apresentam variações significativas durante a vida útil da estrutura, seja em intensidade, direção, sentido ou ponto de aplicação. Exemplo: sobrecargas de utilização. Ações excepcionais: têm baixa probabilidade de ocorrência, com duração bastante curta em comparação com a vida útil da estrutura. Exemplo: explosões, impactos, ações sísmicas etc. De um modo geral, as estruturas estão sempre sujeitas a ações permanentes e a uma ou mais ações variáveis. No caso em que apenas uma ação variável solicita a estrutura, a combinação de ações a ser utilizada pode ser obtida simplesmente pela soma do valor característico dessa ação com valores característico das ações permanentes. Caso atuem na estrutura mais de uma ação variável, é bastante improvável que todas elas estejam com valor igual ou superior ao característico ao mesmo tempo, durante o período de vida útil da edificação. Para levar isso em conta, com base em estudos probabilísticos, assume-se que o efeito mais desfavorável do conjunto de ações ocorre quando uma das ações variáveis está com seu valor característico, e as outras, com valores denominados reduzidos, que são valores inferiores ao característico em até 50%, dependendo do tipo de ação. Ao aplicar essa regra, deve-se considerar o valor característico de cada ação variável, o que produz tantas combinações diferentes quantas forem as ações variáveis. Aquela combinação que resultar no maior valor do efeito será adotada na verificação dos estados-limites últimos e as demais desprezadas. A ação variável com o valor característico na combinação é denominada ação variável principal. A Figura 1.2 mostra a atuação ao longo do tempo da ação permanente, da sobrecarga e do vento sobre um componente estrutural e os valores característico dessas ações, e, para as ações variáveis, também os valores reduzidos. Observa-se que valores iguais ou superiores ao característico não estão ocorrendo no mesmo intervalo de tempo para as ações variáveis. 7 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Figura 1.2 – Representação das ações A ação permanente é formada pelo peso próprio da estrutura e dos elementos fixos não estruturais, como vedações e revestimentos. A NBR 6120:1980 fixa os valores de peso próprio de vários materiais estruturais e elementos complementares (Figura 1.3). O peso próprio da estrutura avaliado na fase de pré-dimensionamento não deve diferir em mais de 10% do peso próprio real após o dimensionamento definitivo. Figura 1.3 – Peso específico de diversos materiais de acordo com a NBR6120/1980. 8 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Valores de sobrecarga (cargas acidentais) em função do tipo e da utilização da edificação também são indicados na NBR 6120:1980 (Figura 1.4). A ação do vento nas edificações é determinada segundo os procedimentos da NBR 6123:1987. Figura 1.4 – Valores mínimos de sobrecarga de acordo com a NBR 6120/1980. O Anexo B da NBR 8800/2008 apresenta recomendações específicas sobre as ações variáveis oriundas do uso e da ocupação para edifícios estruturados em aço. Sob essas ações é importante serem conhecidas algumas situações, as quais seguem: 1) Nas coberturas comuns, não sujeitas a acúmulos de quaisquer materiais, deve-se prever uma sobrecarga mínima de 0,25 kN/m², valor que pode englobar as cargas decorrentes de instalações elétricas e hidráulicas, isolamento térmico e acústico e pequenas peças fixadas na cobertura, até o limite de 0,05 kN/m²; 2) Na ausência de especificação mais rigorosa, todas as cargas gravitacionais variáveis, em pisos e balcões suportados por pendurais, devem ser majoradas em 33%; 3) Em lajes, na fase construção, deve-se prever uma sobrecarga mínima de 1 kN/m²; 4) Em pisos, coberturas e outros, deve-se considerar, não cumulativamente com as demais ações variáveis, uma força concentrada aplicada na posição mais desfavorável, de intensidade compatível com o uso da edificação (a ABNT NBR 6120:1980 prescreve o valor de 1 kN para terças e banzo superior de treliças, e de 2,5 kN para degraus isolados de escadas, valor que não deve ser considerado na composição das ações que atuam nas vigas que suportam os degraus); 9 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 5) A ação aplicada apenas a uma parte da estrutura ou da barra, se o efeito assim produzido for mais desfavorável que o resultante da aplicação da ação sobre toda a estrutura ou toda a barra. 6) Salienta-se que a sucção no telhado, quando supera as cargas gravitacionais, pode levar ao arrancamento das telhas, ocorrência comum em galpões e construções similares, ou até ao colapso da estrutura de cobertura, caso essa situação não tenha sido devidamente prevista. O vento também pode provocar pressão interna, que depende das posições e das dimensões das aberturas. (Figura 1.5) Figura 1.5 – Sobrepressão e sucção devido à ação dos ventos 1.6 Carregamentos e combinações de ações Um carregamento é constituído de um conjunto de ações com probabilidade de atuarem simultaneamente na estrutura. As ações devem ser combinadas de várias maneiras diferentes, objetivando determinarem-se os efeitos mais nocivos para a estrutura. Portanto, cada carregamento é formado por combinações específicas de ações que podem ser classificadas em normal, construtiva ou especial e excepcional. 1.6.1 Combinações de ações para estados limites últimos As combinações para verificação de estados limites últimos podem ser classificadas em normais, especiais ou construtivas e excepcionais. Combinação última normal – decorre do uso normal e previsto para a estrutura. ∑(𝛾𝑔𝑖𝐹𝐺𝑖,𝑘) + 𝑚 𝑖=1 𝛾𝑞1𝐹𝑄1,𝑘 + ∑(𝛾𝑞𝑗ψ0𝑗𝐹𝑄𝑗,𝑘) 𝑛 𝑗=2 Somatório das ações permanentes multiplicadas pelos respectivos coeficientes de ponderação mais a ação variável principal multiplicada pelo seu coeficiente de ponderação mais o somatório das demais ações variáveis multiplicadas pelos respectivos coeficientes de ponderação e de combinação. Combinação especial ou construtiva: ∑(𝛾𝑔𝑖𝐹𝐺𝑖,𝑘) + 𝑚 𝑖=1 𝛾𝑞1𝐹𝑄1,𝑘 + ∑(𝛾𝑞𝑗ψ0𝑗,𝑒𝑓𝐹𝑄𝑗,𝑘) 𝑛 𝑗=2 Combinação excepcional: 10 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite ∑(𝛾𝑔𝑖𝐹𝐺𝑖,𝑘) + 𝑚 𝑖=1 𝐹𝑄,𝑒𝑥𝑐 + ∑(𝛾𝑞𝑗ψ0𝑗,𝑒𝑓𝐹𝑄𝑗,𝑘) 𝑛 𝑗=1 Nas figuras 1.5 e 1.6 podem ser vistos os coeficientes de ponderação e combinação para cada carregamento. Figura 1.5 – Valores dos coeficientes de ponderação de ações 11 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Figura 1.6 – Valores dos fatores de combinação e redução para ações variáveis 1.6.2 Combinações para estados limites de serviço Nas verificações de estados limites de serviço devem ser utilizadas ações nominais, ou seja, com coeficiente de ponderação das ações γf = 1,0. Nas combinações de ações de serviço são usados os fatores de redução ψ1 e ψ2 conforme Figura 1.6. Essas combinações de ações são classificadas em quase permanentes, frequentes e raras. Combinações quase permanentes – podem atuar durante um período da ordem da metade da vida útil da estrutura e são utilizadas para os efeitos de longa duração e que comprometam a aparência da construção, como, por exemplo, deslocamentos excessivos. 𝐹𝑠𝑒𝑟 = ∑𝐹𝐺𝑖,𝑘 𝑚 𝑖=1 + ∑(ψ2𝑗F𝑄𝑗,𝑘) 𝑛 𝑗=1 Combinações frequentes – tem duração da ordem de 5% da vida útil da estrutura ou se repetem da ordem de 10 5 vezes em 50 anos. São utilizadas para verificação de estados limites que não causam danos permanentes e/ou que estão relacionados ao conforto do usuário, como vibrações, movimentos laterais, empoçamento, abertura de fissuras etc. 𝐹𝑠𝑒𝑟 = ∑𝐹𝐺𝑖,𝑘 𝑚 𝑖=1 + ψ1𝐹𝑄1,𝑘 + ∑(ψ2𝑗F𝑄𝑗,𝑘) 𝑛 𝑗=2 FQ1 – ação variável principal com seu valor frequente ψ1FQ1,k ψ 2FQk – demais ações variáveis com seus valores quase permanentes 12 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Combinações raras – podem atuar no máximo por algumas horas durante o período de vida da estrutura. Utilizadas para os estados limites irreversíveis, isto é, que causam danos permanentes à estrutura ou a outros componentes da construção, e para aqueles relacionados ao funcionamento adequado da estrutura, tais como formação de fissuras e danos aos fechamentos. 𝐹𝑠𝑒𝑟 = ∑𝐹𝐺𝑖,𝑘 𝑚 𝑖=1 + 𝐹𝑄1,𝑘 + ∑(ψ1𝑗F𝑄𝑗,𝑘) 𝑛 𝑗=2 FQ1,k – ação variável principal com seu valor característico ψ1FQk – todas as demais ações com seus valores frequentes Na Figura 1.7 são apresentados os valores limites de deslocamentos que devem ser obedecidos para o atendimento dos estados limites de serviço em estruturas metálicas, segundo a NBR 8800/2008. Figura 1.7 – Deslocamentos máximos segundo a NBR 8800/2008. EXERCÍCIOS PROPOSTOS: 1) Para a barra 1 da treliça em balanço que pertence à estrutura da figura abaixo, determinar os esforços de cálculo para as ações atuantes na cobertura. 13 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Ações: Peso próprio: 30 kg/m² Sobrecarga: 25 kg/m² Monovia: 15 kN Vento 1 sucção: 0,70 kN/m² Vento 2 pressão: 0,50 kN/m² Solução do problema – Determinam-se os carregamentos básicos na treliça para cada uma das ações, calculam-se os esforços na barra 1 para estes carregamentos e, posteriormente, fazem-se as combinações com estes esforços para se obterem os esforços de cálculo. Os carregamentos básicos da treliça são feitos a partir do seguinte processo: as forças aplicadas em cada nó são obtidas multiplicando-se o carregamento distribuído no telhado pela área de contribuição de cada nó, que é o produto da distância entre as treliças pela distância entre terças. No caso da monovia, será a capacidade nominal multiplicada por um coeficiente de impacto igual a 1,25, conforme a NBR 8800/2008. Carregamento permanente (CP) = 0,3 x 6 x 2= 3,6 kN Carregamento devido à sobrecarga (SC) = 0,25 x 6 x 2 = 3,6 kN Carregamento devido à monovia (M) = 1,25 x 15 = 18,75 kN Carregamento devido ao vento 1 (V1) = 0,7 x 6 x 2 = 8,4 kN Carregamento devido ao vento 2 (V2) = 0,5 x 6 x 2 = 6 kN 14 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Para determinar os esforços na barra, deve-se resolver a treliça para cada um dos carregamentos básicos, e com isso, encontram-se os esforços na barra 1. Sugere-se a utilização do software Ftool para resolução da análise estrutural. Esforços na barra 1: Carregamentos Esforço barra 1 (kN) Permanente (CP) + 17,8 (tração) Sobrecarga (SC) + 14,8 (tração) Monovia (M) + 26,5 (tração) Vento 1 (V1) - 41,6 (compressão) Vento 2 (V2) + 29,7 (tração) São possíveis as seguintes combinações para a estrutura em questão, para a obtenção dos esforços de cálculo. Combinação 1 = 1,25 CP + 1,5 (SC + M) + 1,4 x 0,6 x V2 (com todos os esforços de tração, incluindo-se a sobrecarga + monovia como ação principal. As duas podem ser somadas, pois são da mesma natureza) Combinação 2 = 1,25 CP + 1,4 V2 + 1,5 x 0,5 x (SC + M) (com todos os esforços de tração, considerando-se o carregamento vento 2 como ação principal) Combinação 3 = 1,0 CP + 1,4 V1 (com todos os esforços de compressão, e a ação permanente que deve estar em todas as combinações. A ação permanente é favorável nesta combinação) Com isso, tem-se os seguintes resultados: Comb1 = 1,25 x 17,8 + 1,5 x (14,8 + 26,5) + 1,4 x 0,6 x 29,7 = 109,1 kN Comb2 = 1,25 x 17,8 + 1,4 x 29,7 + 1,5 x 0,5 x (14,8 + 26,5) = 94,8 kN Comb3 = 1,0 x 17,8 + 1,4 x (-41,6) = -40,4 kN Portanto, os esforços de cálculo serão aqueles correspondentes às combinações críticas, ou seja, a barra deve ser dimensionada para um esforço de tração de 109,1 kN e para um esforço de compressão de 40,4 kN, respectivamente. Esses valores são denominados envoltória de esforços. 2) Seja uma coluna de uma estrutura de suporte de um reservatório elevado, calcular os esforços de projeto. Dados: Capacidade do reservatório: 30.000 litros; Altura do reservatório: 4,0 m; Altura da torre: 12,0 m; Carga de vento nominal atuante no reservatório: 20 kN; Carga permanente da torre e do reservatório: 48 kN A torre possui base quadrada de 6.0 m por 6.0 m e topo de 4.0 x 4.0 m 15 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Como os carregamento são simétricos, a análise estrutural, que pode ser realizada através do programa Ftool, da torre fornece os seguintes esforços de compressão na coluna da estrutura: - A ação permanente, chamada G, produz uma força nominal de 12 kN; - A carga do líquido, chamada Q, no reservatório cheio fornece 75 kN; - A carga de vento, chamada V, no topo do reservatório fornece uma força de compressão nominal de 23,3 kN. Considerando-se inicialmente a carga Q como sendo a carga variável principal e o vento como carga secundária, resulta na combinação 1,25 G + 1,2 Q + 1,4 x 0,6 V e a carga de projeto da coluna: NSD = 1,25 x 12 + 1,20 x 75 + 1,4 x 0,6 x 23,3 = 119,6 kN E tomando-se a segunda ação variável (vento) como ação principal, faz-se a combinação 1,25 G + 1,4 V + 0,8 x 1,2 Q: NSD = 1,25 x 12 + 1,40 x 23,3 + 0,8 x 1,2 x 75 = 124,6 kN. Com isso, essa é a ação que controla o dimensionamento. Agora, considera-se a ocorrência de um evento em que a caixa de água esteja completamente vazia (Q = 0) e neste instante a ação do vento seja predominante. Nessa situação a coluna situada a barlavento estará sujeita a uma força de tração de 23,3 kN. A combinação de ações de vento e carga permanente fornece: - 1,0 G + 1,4 W: NSD = -1,0 x 12 + 1,40 x 23,3 = 20,6 kN. Com isso, temos tração na base do reservatório. 16 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 2. DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SUBMETIDAS À TRAÇÃO 2.1. Considerações Iniciais As barras de aço tracionadas estudadas neste capítulo desta nota de aula são aquelas que são exclusivamente por força axial de tração decorrentes de ações estáticas. Nos edifícios de aço, tais barras aparecem, na maioria das vezes, compondo treliças planas que funcionam como vigas de piso e de cobertura (tesouras de cobertura – Figura 2.1) Figura 2.1 – Tesoura de cobertura Utilizam-se ainda, treliças planas nas duas faces laterais de passarelas de pedestres. Barras tracionadas também compõem treliças espaciais, geralmente empregadas em coberturas de edificações que precisam de grande área livre. Também aparecem na composição de treliças de pilares. Nos contraventamentos verticais e horizontais, usados para estabilizar as edificações, sempre há peças tracionadas. Além disso, utilizam-se tirantes e pendurais, empregados com o objetivo de transferir cargas gravitacionais de um piso para componentes estruturais situados em nível superior. Como as barras tracionadas não são suscetíveis à instabilidade, a propriedade geométrica mais importante no dimensionamento é a área da seção transversal, e os perfis mais diversos são rotineiramente utilizados (I, U, duplo U, L, duplo L, T, barra redonda lisa etc.) No entanto, deve-se considera que a área de trabalho dessas barras na região de ligação a outros componentes da estrutura pode ser inferior à área bruta da seção transversal, em razão, principalmente da presença de furos (no caso de ligação parafusada) e da distribuição não uniforme da tensão de tração em decorrência de maior concentração próxima a parafusos e soldas. 2.2. Estudo da região de ligação Como explicitou-se no item anterior, a área de trabalho de ligação de uma barra tracionada pode ser inferior à área bruta da seção transversal. Para se chegar à área de trabalho, a área bruta da seção transversal pode sofrer uma primeira redução, causada pela presença de furos para passagem de parafusos, resultando na chamada área líquida, e uma segunda redução, causada por distribuição 17 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite não uniforme da tensão de tração em decorrência de maior concentração junto a parafusos e soldas, resultando na denominada área líquida efetiva. 2.2.1. Área líquida Para obter a área líquida de um elemento plano parafusado, como uma chapa, é preciso, inicialmente, determinar sua linha de ruptura, definida como o percurso que passa por um conjunto de furos segundo o qual esse elemento se rompe sob solicitação de tração (Figura 2.2) Figura 2.2 – Elemento tracionado com furos Na prática, para determinar a linha de ruptura que prevalece, emprega-se um processo empírico que fornece resultados compatíveis com ensaios. Nesse processo, determina-se a área líquida de acordo com a seguinte equação: 𝐴𝑛 = 𝐴 − 𝑛. 𝑑𝑓. 𝑡 + ∑ 𝑡. 𝑠 4𝑔 2 Sendo: A – Área da seção transversal da peça n – número de furos na seção de ruptura df – diâmetro do furo t – espessura da peça s – distância horizontal entre dois furos consecutivos g – distância vertical entre dois furos consecutivos Com relação ao diâmetro dos furos, df, sabe-se que estas aberturas são executadas geralmente com broca (uma broca de metal, em movimento rotatório, efetua o furo) ou por punção (um bastão de metal com uma ponta moldada, chamado punção, pressiona o elemento a ser furado, que fica apoiado em uma matriz perfurada). Os furos broqueados podem ser feitos em elementos de qualquer espessura; já os furos puncionados são limitados a elementos cuja espessura não ultrapassea medida do diâmetro do parafuso em mais de 3 mm. Na maioria das vezes, faz-se nas estruturas de aço furos-padrão com diâmetro nominal 1,5 mm maior que o diâmetro dos parafusos. Se os furos são feitos com broca, consegue-se boa precisão na obtenção desse valor. No entanto, se os furos são feitos por punção, nas suas bordas, do lado da saída do bastão, por conta de uma característica inerente ao processo, o diâmetro resultante é da ordem de 2,0 mm superior ao valor nominal, portanto, em torno de 3,5 mm superior ao diâmetro do parafuso. Assim, será considerada aqui, simplificadamente, sempre a situação mais desfavorável do 18 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite ponto de vista estrutural, ou seja, a dos parafusos feito por punção. Dessa forma, o diâmetro dos furos deve ser tomado como: df = d + 3,5 mm onde d é o diâmetro do parafuso. 2.2.2. Área líquida efetiva Uma barra tracionada, ligada com parafusos ou soldas, por apenas alguns dos elementos componentes da seção transversal, fica submetida a uma distribuição de tensão não uniforme na região da ligação. Isso ocorre porque o esforço tem de passar pelos elementos conectados, que ficam submetidos a uma tensão média maior que a dos elementos não conectados (elementos soltos). A Figura 2.3 mostra o comportamento de uma cantoneira ligada a uma chapa por meio de parafusos (somente os furos são mostrados). Observa-se que as tensões se concentram mais no elemento conectado e, ainda, que a seção com furos é a mais solicitada na região da ligação. Figura 2.3 – Comportamento de uma cantoneira conectada por apenas uma aba A seção, portanto, fica submetida a uma tensão normal não uniforme. Essa distribuição não uniforme de tensão, para efeitos práticos, é substituída por uma tensão uniforme, de intensidade máxima, atuando em apenas uma parte da seção transversal. Em síntese, considera-se que uma parte da seção transversal trabalha sob tensão uniforme, com a parte restante sendo desprezada, conforme a figura 2.4. Figura 2.4 – Área líquida efetiva A área da parte da seção transversal que trabalha é a área líquida efetiva, representada por Ae. Essa área é dada por: Ae = Ct . An Onde Ct é um coeficiente de redução da área líquida An, fornecido no próximo subitem desta nota de aula. 19 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 2.2.3. Coeficiente de redução Ct Nas barras com seção transversal aberta, não incluindo os elementos planos (chapas), quando a força de tração é transmitida somente por parafusos ou por soldas longitudinais, ou, ainda, por uma combinação de soldas longitudinais e transversais, para alguns elementos da seção transversal (pelo menos um elemento da seção transversal fica solto), o coeficiente Ct é dado pela seguinte expressão: 𝐶𝑡 = 1 − 𝑒𝑐 𝑙𝑐 Onde: ec é a excentricidade da ligação, igual à distância do centro geométrico da seção da barra, G, ao plano de cisalhamento da ligação. Em perfis com um plano de simetria, exceto cantoneiras, a ligação deve ser simétrica em relação a esse plano, e, no cálculo de ec, consideram-se duas barras fictícias e simétricas, cada uma correspondente a um plano de cisalhamento da ligação, por exemplo, duas seções T, no caso de perfis I ou H ligados pelas mesas, ou duas seções U, no caso de esses perfis serem ligados pela alma (Figura 2.5) lc é o comprimento efetivo da ligação. Seu valor, nas ligações soldadas, é igual ao comprimento da solda na direção da força axial e, nas ligações parafusadas, é igual a distância do primeiro ao último parafuso da linha de furação com maior número de parafusos, na direção da força axial. Figura 2.5 – Valores de ec Não é permitido o uso de ligações que resultem em um valor do coeficiente Ct menor que 0,60 (caso isso ocorra, a ligação é pouco eficiente e deve ser modificada). Contudo, se o valor obtido ultrapassar 0,90, por razões de segurança, deve ser usado nos cálculos esse valor como limite superior. Se a ligação é feita por meio de todos os elementos da seção transversal do perfil, como em cantoneiras ligadas por duas abas ou perfis I ligados pela mesa e pela alma, então a tensão normal na barra tem distribuição próxima da uniforme e pode-se considerar Ct igual a 1,0. Nos elementos planos ligados exclusivamente pelas bordas longitudinais por meio de solda, como é o caso da chapa da figura 2.6, o comprimento dos cordões de solda (lw) não pode ser inferior à largura da chapa (b), que por sua vez não pode ser superior a 200 mm, e os seguintes valores para o coeficiente Ct devem ser utilizados: Ct = 1,00, para lw ≥ 2b Ct = 0,87, para 2b > lw ≥ 1,5b Ct = 0,75, para 1,5 b > lw ≥ b 20 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Figura 2.6 – Chapa soldada apenas pelas bordas longitudinais 2.3. Identificação dos estados-limites últimos Um modo de colapso de barras tracionadas está relacionado à região de ligação e se manifesta quando a tensão atuante na área líquida efetiva (Ae) atinge o valor da resistência à ruptura do aço (fu). Nessa situação, a barra se rompe, em um estado-limite último que recebe a denominação de ruptura da seção líquida. Outro modo de colapso se manifesta quando a tensão de tração atuante ao longo do comprimento da barra, portanto, na sua seção bruta (Ag), atinge o valor da resistência ao escoamento do aço (fy). Nessa circunstância, a barra está em situação de escoamento generalizado e sofre alongamento excessivo, o que pode provocar a ruína da estrutura da qual faz parte. A esse estado- limite último dá-se o nome de escoamento da seção bruta. É importante observar que o escoamento da seção líquida, ao contrário do escoamento da seção bruta, não representa um estado-limite último. No escoamento da seção bruta, praticamente toda a barra entra em estado de escoamento, o que faz seu aumento de comprimento ser excessivo. No escoamento da seção líquida, apenas a região de ligação escoa, e a barra como um todo sofre um aumento do comprimento pouco significativo. O colapso dessa seção, portanto, só fica caracterizado quando ela se rompe. A Figura 2.7 ilustra esse comportamento. A Figura 2.8 mostra a distribuição de tensões em uma chapa tracionada com furos. Figura 2.7 – Plastificação das áreas brutas e líquida efetiva 21 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Figura 2.8 – Tensões numa chapa tracionada com furos 2.4. Dimensionamento aos estados-limites últimos No dimensionamento aos estados-limites últimos de uma barra tracionada, é preciso satisfazer a seguinte relação: Nt,Sd ≤ Nt,Rd Onde Nt,Sd é a força axial de tração solicitante de cálculo, obtida com a combinação de ações de cálculo apropriada, e Nt,Rd a força axial resistente de cálculo, considerando os estados-limites últimos de escoamento da seção bruta e ruptura da seção líquida. Para o escoamento da seção bruta, tem-se: 𝑁𝑡,𝑅𝑑 = 𝐴𝑔. 𝑓𝑦 𝛾𝑎1 Onde o produto Ag fy é a força axial resistente nominal e, γa1 é o coeficiente de ponderação da resistência para escoamento, igual a 1,10. Para a ruptura da seção líquida, tem-se: 𝑁𝑡,𝑅𝑑 = 𝐴𝑒. 𝑓𝑢 𝛾𝑎2 Onde o produto Ae fu é a força axial resistente nominal e, γa2 é o coeficiente de ponderação da resistência para escoamento, igual a 1,35. Os coeficientes de ponderação da resistência, respectivamente iguais a 1,10 e 1,35 para os estados-limites de escoamento da seção bruta e de ruptura da seção líquida, expressammaior nível de incerteza quanto ao valor da capacidade resistente nominal deste último. 22 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 2.5. Limitação do índice de esbeltez É recomendável que o índice de esbeltez das barras tracionadas, tomado como a maior relação entre o comprimento destravado L e o raio de giração r correspondente, com exceção das barras redondas rosqueadas que são montadas com pré-tensão, não supere 300, ou seja, que: ( 𝐿 𝑟 ) 𝑚á𝑥 ≤ 300 Essa recomendação tem o objetivo de evitar que as barras tracionadas fiquem demasiadamente flexíveis e, como consequência, apresentem: Deformação excessiva causada pelo peso próprio ou por choques durante o transporte e a montagem; Vibração de grande intensidade, que pode se transmitir para toda a edificação, quando houver ações variáveis, como vento, ou quando existirem solicitações de equipamentos vibratórios, como compressores, causando sensação de desconforto aos usuários. 2.6. Emprego de barras compostas É usual projetar barras compostas, constituídas, por exemplo, por duas cantoneiras ou dois perfis U, em que a ligação entre os perfis seja feita por meio de chapas espaçadoras, soldadas ou parafusadas a esses perfis, conforme ilustra a Figura 2.9. Nesse caso, para assegurar um comportamento conjunto adequado dos perfis da barra composta, a distância máxima (l) entre duas chapas espassadoras adjacentes deve ser tal que: ( 𝐿 𝑟𝑚𝑖𝑛 ) ≤ 300 Onde rmin é o raio de giração mínimo de apenas um perfil isolado que forma a barra composta. Figura 2.9 – Barra composta tracionada 2.7. Barras redondas com extremidades rosqueadas O emprego de barras redondas com extremidades rosqueadas nas estruturas de aço é comum, principalmente como tirantes e peças de contraventamento, ligadas ao restante da estrutura por meio de porca e arruela. 23 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite O dimensionamento das barras redondas é similar ao das demais barras tracionadas. Deve-se verificar o estado limite-último de escoamento da seção bruta, com a força axial de tração resistente de cálculo, dada pela equação vista no item 2.4, na qual a área da bruta da seção transversal Ag é a área do fuste, ou seja: 𝐴𝑔 = 𝜋𝑑𝑏 2 4 sendo db o diâmetro nominal do fuste. O outro estado-limite último a se considerar é a ruptura da parte rosqueada, para o qual a força axial de tração resistente de cálculo é dada pela equação vista no item 2.4, na qual a área líquida efetiva corresponde à área efetiva à tração da rosca, igual, nas roscas usualmente utilizadas nas estruturas de aço, a aproximadamente 75% da área bruta do fuste Ab, ou seja: Ae = 0,75.Ab As barras redondas rosqueadas não precisam atender a quaisquer limitações relacionadas à esbeltez. Isso ocorre pelo fato de serem montadas com pré-tensão de tração, proporcionada por aperto forçado da porca, esticando-as perfeitamente, de modo que fiquem pouco suscetíveis a vibrações. 2.8. Efeitos adicionais 2.8.1. Efeito da excentricidade da ligação Muitas vezes, a força de tração introduzida por uma ligação não tem a resultante coincidente com o eixo da barra, o que causa flexão. A rigor, a barra estaria submetida, então, a uma solicitação de flexo-tração. No entanto, em barras de baixa rigidez à flexão, como as cantoneiras e os perfis U laminados, que possuem seção transversal de altura reduzida, com ligações de pequena excentricidade (Figura 2.9), a flexão pode ser desprezada. Figura 2.10 – Excentricidade da ligação 2.8.2. Efeito do peso próprio da barra Todas as barras estão submetidas a uma flexão decorrente do peso próprio quando não estão na posição vertical. Quando se situam nessa posição, estão submetidas à variação da força axial ao longo do comprimento e, quando se situam em posição inclinada, ficam submetidas simultaneamente à flexão e à variação da força axial. A influência do peso próprio das barras tracionadas deve ser avaliada, mas sabe-se que é pouco significativa para a maioria dos casos comuns, especialmente quando a projeção horizontal do comprimento da barra é pequena. 24 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite EXERCÍCIOS PROPOSTOS: 3) Dimensionar a diagonal da treliça AB, com comprimento de 2 m, mostrada na figura abaixo, para força axial de tração. Será utilizada cantoneira dupla em forma de tê, em aço ASTM A36. Os parafusos da ligação têm diâmetro de 16 mm. Sabe-se que as forças axiais na diagonal apresentam os seguintes valores característicos: -40 kN decorrentes de peso próprio predominantemente de estruturas metálicas; -260 kN decorrentes de sobrecarga na cobertura; 200 kN decorrentes de ação do vento. Solução do problema – Como a carga permanente e a sobrecarga reduzem a tração na barra AB, a força axial de tração solicitante de cálculo é dada pela seguinte combinação, envolvendo a carga permanente favorável à segurança e a sucção do vento: Nt,Sd = 1,0.(-40) + 1,4.(200) = 240 kN Pré-dimensionamento pelo escoamento da seção bruta: 𝐴𝑔 ≥ 1,1 × 240 25 → 𝐴𝑔 ≥ 10,56𝑐𝑚² Portanto, cada cantoneira deverá ter área mínima de 10,56/2 = 5,28 cm² e se tentará usar o duplo L 63,5 x 4,76 (Ag = 2 x 5,80 = 11,60 cm²) Ruptura da seção líquida: 𝑁𝑡,𝑆𝑑 = 240𝑘𝑁 ≤ 𝑁𝑡,𝑅𝑑 = 𝐴𝑒𝑓𝑢 𝛾𝑎1 = 𝐴𝑒 × 40 1,35 → 𝐴𝑒 ≥ 8,10𝑐𝑚² Ae = Ct . An Para o cálculo da área líquida An, obtém-se o diâmetro dos furos: Df = 16 + 3,5 = 19,5 mm = 1,95 cm Como a furação padrão uniforme, basta fazer: An = 2(5,80 – 1,95 x 0,476) = 9,74 cm² 25 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite O coeficiente Ct vale: Ct = 1 – ec / lc = 1 – 1,75 /5 = 0,65 (valor entre 0,65 e 0,90) Logo: Ae = 0,65 x 9,74 = 6,33 cm² < 8,10 cm² → insuficiente! A primeira tentativa para resolver o problema seria elevar o coeficiente Ct. Assim: Ct . An ≥ 8,10 cm² → 9,74 Ct ≥ 8,10 cm² → Ct ≥ 0,832 Como o valor necessário de Ct não supera 0,90, essa solução é viável. Para que Ct seja igual ou superior a 0,832, é preciso aumentar o comprimento da ligação lc, conforme segue: Ct = 1 – ec / lc ≥ 0,832 → 1 – 1,75 / lc ≥ 0,832 → lc ≥ 10,42 cm Esse valor de lc pode ser atingido ao se aumentar a distância entre os dois parafusos da linha de furação para 105 mm. Trata-se de uma solução interessante, apesar de, possivelmente, levar ao uso de uma chapa de nó com maiores dimensões. A segunda forma de resolver o problema é substituir o perfil por outro com maior capacidade resistente. Esbeltez Para o uso do perfil duplo L 635 x 4,76 com espaçamento entre os furos de 105 mm, tem-se: ( 𝐿 𝑟 ) 𝑚𝑎𝑥 = 200 𝑟𝑥 = 200 1,53 = 130,72 < 300 → 𝐴𝑡𝑒𝑛𝑑𝑒! Chapas espaçadoras ( 𝐿 𝑟𝑚𝑖𝑛 ) ≤ 300 → 𝑙 1,5 ≤ 300 → 𝑙 ≤ 450𝑐𝑚 Como o comprimento da diagonal é de apenas 200 cm, não são necessárias chapas espassadoras. 4) Dimensionar a barra inclinada da mão francesa da figura abaixo, usando um perfil da série “T”. O aço a ser utilizado é o MR250 e a carga P é de 50 kN e a ligação da barra é feita com parafusos ϕ3/4”. Utilizar o espaçamento entre os furos com 5 cm. 26 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite O valor da força na barra inclinada é fornecido pelo equilíbrio de forças verticais no nó de aplicação da carga P, ou seja: F.sen α – P = 0 α = arctg 2/4 = 26,56°→ F = 105,2 kN A área mínima necessária para o T é: 𝐴𝑚𝑖𝑛 = 105,2 × 1,1 25 = 4,63𝑐𝑚² Podemos, portanto, especificar incialmente um perfil T 2 x ¼”, com área de 6,05 cm². Ruptura da seção líquida: Ae = Ct . An Para o cálculo da área líquida An, obtém-se o diâmetro dos furos: Df = 19,2 + 3,5 = 22,7 mm = 2,27 cm Como a furação padrão uniforme, basta fazer: An = (6,05 – 2 x 2,27 x 0,635) = 3,16 cm² O coeficiente Ct vale: Ct = 1 – 1,5 / 5 = 1 – 1,75 /5 = 0,70 (valor entre 0,65 e 0,90) Logo: Ae = 0,70 . 3,16 = 2,12 cm² 𝑵𝒕,𝑹𝒅 = 𝑨𝒆. 𝒇𝒖 𝜸𝒂𝟏 = 𝟐, 𝟏𝟐. 𝟒𝟎 𝟏, 𝟑𝟓 = 𝟔𝟐, 𝟖𝒌𝑵 < 𝟏𝟎𝟓, 𝟐 𝒌𝑵 → 𝑵ã𝒐 𝑨𝒕𝒆𝒏𝒅𝒆! O perfil T (maior da série da Gerdau) não atende às solicitações. Para atender às solicitações, deve-se utilizar dois perfis T (um em cada lado). Com isso, dobra-se a área: 𝑵𝒕,𝑹𝒅 = 𝑨𝒆. 𝒇𝒖 𝜸𝒂𝟏 = 𝟐. 𝟐, 𝟏𝟐. 𝟒𝟎 𝟏, 𝟑𝟓 = 𝟏𝟐𝟓, 𝟔𝒌𝑵 > 𝟏𝟎𝟓, 𝟐 𝒌𝑵 → 𝑨𝒕𝒆𝒏𝒅𝒆! 27 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Esbeltez Para o uso do perfil duplo T 2 x ¼” com espaçamento entre os furos de 105 mm, tem-se: ( 𝐿 𝑟 ) 𝑚𝑎𝑥 = 447 𝑟𝑥 = 447 1,5 = 298 < 300 → 𝐴𝑡𝑒𝑛𝑑𝑒! Chapas espaçadoras ( 𝐿 𝑟𝑚𝑖𝑛 ) ≤ 300 → 𝑙 1,5 ≤ 300 → 𝑙 ≤ 450𝑐𝑚 Como o comprimento da diagonal é de 447 cm cm, não são necessárias chapas espassadoras. 5) Dimensionar a diagonal de apoio da treliça da figura abaixo para a envoltória de esforços obtida no exercício 1 desta nota de aula. No pré-dimensionamento foi definida uma seção dupla cantoneira 2L 63 x 4,75 mm em aço ASTM A36. O detalhe da ligação na extremidade da barra também é apresentado na figura. Neste exemplo, a seção 2L 63 x 4,75 mm será verificada para o esforço de tração de cálculo Nsd = 109 kN. Verificação do estado limite último de escoamento da seção bruta: 𝑁𝑡,𝑅𝑑 = 11,6 × 25 1,1 = 263,6𝑘𝑁 Verificação do estado limite último de ruptura da seção efetiva: Ae = Ct.An An = Ag – 2t (dt + 0,35) = 11,6 – 2 x 0,475 (1,25 + 0,35) = 10,08 cm² Ct = 1 – ec / L → 1 – 1,75 / 8 = 0,78 ≥ 0,6 Ae = 0,78 x 10,08 = 7,86 cm² 𝑁𝑡,𝑅𝑑 = 7,86 × 40 1,35 = 231,2𝑁 Portanto, a resistência de cálculo à tração do elemento é Nt,Rd = 233 kN. Para a verificação da segurança: Nt,Rd ≥ Nt,Sd = 190 kN (Ok!) 28 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Para a verificação do estado limite de serviço, a esbeltez da seção composta de dupla cantoneira, não poderá superar 300. A esbeltez de uma cantoneira isolada em relação ao eixo de menor inércia também não poderá superar 300. 𝜆𝑥 = ( 𝐿 𝑟𝑥 ) = 282,8 1,98 = 143 < 300 → 𝐴𝑡𝑒𝑛𝑑𝑒! 𝜆𝑦 = ( 𝐿 𝑟𝑦 ) = 282,8 2,87 = 98,5 < 300 → 𝐴𝑡𝑒𝑛𝑑𝑒! 𝜆𝑧 = ( 𝐿 𝑟𝑧 ) = 282,8 1,24 = 228 < 300 → 𝐴𝑡𝑒𝑛𝑑𝑒! Portanto, a seção 2L 63 x 4,75 mm está verificada para os estados limites últimos e de serviço. 6) As barras redondas rosqueadas Ac e BD compõem um contraventamento em forma de X, como se vê na figura a seguir. Supondo apena a atuação da força característica Hk de vento mostrada, que pode ser os dois sentidos indicados, determine o diâmetro das barras redondas, sabendo-se que elas serão fabricadas com aço ASTM A36. O valor de cálculo da força decorrente do vento é: Hw,d = 1,4 x 280 – 392 kN Considerando a força de vento com sentido da esquerda para a direita, o que faz a barra redonda AC ficar tracionada e a barra BD não trabalhar, e estabelecendo as equações de equilíbrio do nó C, tem-se: ΣFH = 0 → 392 – NAC,Sd cos α = 0 𝑐𝑜𝑠 ∝= 6 √62 + 42 = 0,832 NAC,Sd = 392 / 0,832 = 471,15 kN Escoamento da seção bruta: 𝑁𝑡,𝑆𝑑 ≤ 𝑁𝑡,𝑅𝑑 = 𝐴𝑔 × 𝑓𝑦 𝛾𝑎1 → 471,75 ≤ 𝐴𝑔 × 25 1,10 → 𝐴𝑔 ≥ 20,73𝑐𝑚² 29 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Portanto, a barra redonda rosqueada deverá ter área bruta mínima de 20,73 cm², e se tentará usar o diâmetro comercial de 52,39 mm (5,239 cm), correspondente a uma área bruta de 21,56 cm². Ruptura da parte rosqueada: 𝑁𝑡,𝑆𝑑 ≤ 𝑁𝑡,𝑅𝑑 = 𝐴𝑒 × 𝑓𝑢 𝛾𝑎2 = 0,75𝐴𝑔𝑓𝑢 1,35 = 0,75 × 21,56 × 40 1,35 = 479,11𝑘𝑁 > 471,15𝑘𝑁 (𝑂𝑘, 𝐴𝑡𝑒𝑛𝑑𝑒!) Conclusão: podem ser usadas barras redondas rosqueadas com diâmetro de 52,39 mm nas barras AC e BD, mas deve-se observar que, quando o sentido da força de vento se inverte, a barra BD fica tracionada e a barra AC deixa de trabalhar. 30 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 3. DIMENSIONAMENTO DE PEÇAS SUBMETIDAS À COMPRESSÃO O projeto de treliças e de pórticos com ligações rotuladas envolve o dimensionamento de barras submetidas a uma carga axial de compressão que passa no centro da área da seção transversal. No projeto de pórticos com ligações rígidas, a ocorrência de barras com compressão pura não é tão frequente, ocorrendo apenas em pilares interiores onde os momentos provenientes das vigas se anulam. Em geral, nesses pórticos o dimensionamento leva em conta a ação conjunto de compressão e flexão. Ainda que membros sujeitos a compressão pura, sem flexão, não ocorram com muita frequência na prática, o estudo de seu comportamento é fundamental para o entendimento de membros sujeitos a flexo-compressão. O estudo do comportamento de membros comprimidos envolve, além do fenômeno de plastificação no estudo de peças tracionadas, o fenômeno de instabilidade. Outros fenômenos que contrastam o comportamento de peças tracionadas com o comportamento de peças comprimidas é o fenômeno de imperfeições iniciais. Outro fenômeno recorrente é a flambagem local dos elementos componentes da seção transversal da barra, como a flambagem da alma ou das mesas de uma seção I ou H. 3.1 Instabilidade global – aspectos teóricos A flambagem, que é um problema de estabilidade estrutural, se caracteriza pela ocorrência de grandes deformações transversais em elementos submetidos a esforços de compressão. Em estruturas metálicas, os problemas de instabilidade são particularmente importantes, já que os seus elementos apresentam elevada esbeltez em função da grande resistência do aço. O fenômeno da flambagem foi inicialmente estudado por Euler. Nos seus estudos, Euler considerou uma barra ideal com as seguintes simplificações e/ou aproximações: Material é homogêneo, de comportamento elástico linear perfeito; Barra é prismática e sem imperfeições; Extremidades rotuladas (vínculos ideais); Força aplicada sem excentricidade; Não ocorre instabilidade local dos elementos da seção. Segundo essas hipóteses simplificadoras, e admitindo-se o equilíbrio da barra em uma posição levemente deformada, é possível deduzir a equação diferencial que rege o problema partindo-se da equação da linha elástica provocada por uma flexão (Figura 3.1). Como o equilíbrio do elemento estrutural é estabelecido na posição deformada, trata-se de uma análise não linear geométrica ou análise de 2 a ordem. 𝐸𝐼 𝑑²𝑣 𝑑𝑥² = 𝑀 = −𝑁𝑣 𝑜𝑢 𝑑2𝑣 𝑑𝑥2 + ( 𝑁 𝐸𝐼 ) 𝑣 = 0 31 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Figura 3.1 – Barra para estudo da flambagem A solução geral para essa equação diferencial homogênea de segunda ordem é do tipo: 𝑣 = 𝐶1𝑠𝑒𝑛 (√ 𝑁 𝐸𝐼 𝑥) + 𝐶2𝑐𝑜𝑠(√ 𝑁 𝐸𝐼 𝑥) As constantes C1 e C2 podem ser determinadas utilizando-se as condições de contorno nos apoios. Ou seja, no caso de apoios rotulados, tem-se v = 0 em x = 0 e x = L, que resulta em, respectivamente: C2 = 0 e 𝐶1𝑠𝑒𝑛 (√ 𝑁 𝐸𝐼 𝐿) = 0 A segunda condição será satisfeita se 𝑠𝑒𝑛 (√ 𝑁 𝐸𝐼 𝐿) = 0, o que ocorre para (√ 𝑁 𝐸𝐼 𝐿) = 𝑛𝜋, o que permite determinar a carga crítica: 𝑁 = 𝑛2𝜋2𝐸𝐼 𝐿2 Na Figura 3.2, pode-se ver os modos de flambagem de uma coluna. O primeiro modo de flambagem ocorre para n = 1, e a força correspondente é a força crítica de Euler: 𝑁 = 𝜋2𝐸𝐼 𝐿2 Figura 3.2 – Modos de flambagem 32 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite A fim de auxiliar o entendimento do fenômeno de instabilidade, será estudado o comportamento de uma barra birrotulada com curvatura inicial submetida a uma força axial de compressão crescente até o colapso (Figura 3.3). Figura 3.3 – Barra com curvatura inicial Esse comportamento, estabelecido com base na relação entre a força axial atuante Nc, e o deslocamento transversal na seção central, vt, é composto das seguintes etapas (Figura 3.4): 1) Etapa elástica: a etapa elástica se inicia quando a força axial começa a atuar o deslocamento é igual ao inicial, ou seja, v0, e se encerra quando a força axial alcança Ncr, valor correspondente ao início do escoamento da seção central. A seção central é tomada como referência por ser a seção em que o momento fletor atuante é máximo. 2) Etapa elastoplástica: a etapa elastoplástica começa com o aumento do valor da força axial para além de Ncr. O escoamento se propaga para o interior da seção central do lado da face interna, se inicia e propaga para o interior da seção transversal também do lado da face externa e avança para as seções vizinhas, o que faz a rigidez da barra à flexão se reduzir gradativamente, uma vez que as regiões plastificadas não suportam acréscimo de tensão, com o deslocamento transversal aumentando em ritmo mais acelerado. 3) Etapa de colapso: o escoamento atinge toda a seção central da barra, que entra em colapso por instabilidade. A força axial que causa o colapso é a força máxima suportada pela barra, ou seja, é a força axial resistente nominal, representada por Nc,Rkin. Após o escoamento da seção transversal, o deslocamento vt aumenta muito, a força axial se reduz e a barra se torna um mecanismo “V”. Figura 3.4 – Colapso das barras com curvatura inicial por instabilidade 33 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Matematicamente, esse efeito é expresso da seguinte forma: considere a coluna estudada com uma imperfeição v0 no estado de carregamento nulo. Ao ser aplicado a carga axial N, o modelo se deslocará para uma nova posição (como já visto) e o equilíbrio de forças internas e externas é dado por: 𝑁(𝑣 + 𝑣0) = 𝐾(2𝛼 − 2𝛼0) = 4𝑘 𝑙 𝑣 Ou usando-se que 4k/l é igual a Ncr 𝑁(𝑣 + 𝑣0) = 𝑁𝑐𝑟𝑣 Então: 𝑣 = 𝑁 𝑁𝑐𝑟 − 𝑁 𝑣0 E o deslocamento total será: 𝑣𝑡 = 1 1 − ( 𝑁 𝑁𝑐𝑟 ) 𝑣0 O comportamento de colunas com imperfeições iniciais v0 não apresentam bifurcação, pois segundo a última expressão vista, vt = v0 quando N = 0 e a curva carga-deslocamento rapidamente torna-se não linear com o aumento de carga axial, tendendo a atingir um deslocamento infinito quando N se aproxima de Ncr, como é mostrada na Figura 3.5 Figura 3.5 – Diagrama carga/deslocamento de coluna com imperfeição inicial Consequentemente, uma coluna imperfeita não atinge Ncr, mas chega ao colapso por flexão com deslocamentos excessivos quando a carga aproxima Ncr. O termo 1 1−( 𝑁 𝑁𝑐𝑟 ) é conhecido como “Fator de Amplificação”, uma vez que representa a amplificação do deslocamento inicial em função do nível de carga axial aplicado. 34 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 3.2. Força axial resistente nominal A força axial de compressão resistente nominal de uma barra para instabilidade, de acordo com a NBR 8800/2008 é dada por: 𝑁𝑐,𝑅𝑑 = 𝜒𝑄𝐴𝑔𝑓𝑦 𝛾𝑎1 Nessa expressão, o produto Ag fy é a força de escoamento da seção bruta, que, assim como nas barras tracionadas, representa a capacidade resistente nominal da seção bruta, Q é igual a 1,0 na ausência de instabilidade local (ver item 3.5), γa1 é tomado como 1,10 e χ é um redutor da capacidade resistente, tendo em vista as tensões residuais e a curvatura inicial da barra. Denominado fator de redução associado à resistência à compressão, esse redutor é obtido por meio de ensaios laboratoriais e análises numéricas e, conforme a NBR 8800/2008, para barras com curvatura inicial de geométrica praticamente senoidal e deslocamento transversal v0 da ordem de L/1500, deve ser tomado como: Para λ0 ≤ 1,5: 𝜒 = 0,658λ0 2 Para λ0 > 1,5 𝜒 = 0,877 λ0 2 Sendo λ0 é o índice de esbeltez reduzido da barra. Esse índice é dado pela seguinte expressão: λ0 = √ 𝑄. 𝐴𝑔𝑓𝑦 𝑁𝑒 Onde Ne é a menor força crítica entre as flambagens por flexão, torção e flexotorção. A distribuição de tensões residuais varia de perfil para perfil e, como o fator χ depende dessa distribuição, a rigor deveriam existir inúmeras curvas para esse fator. Apesar disso, a NBR 8800/2008 adota uma curva única, que conduz obviamente a resultados superiores para uma série de situações, mas dentro de limites considerados aceitáveis em relação à segurança estrutural. (Figura 3.6) Figura 3.6 – Relação entre χ e λ0 conforme NBR 8800/2008 35 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 3.3. Valor da força axial de flambagem elástica O menor valor de Ne (força axial de flambagem elástica) deve ser determinado com os possíveis modos de flambagem da barra, que dependem do tipo de simetria da seção transversal. Como nas estruturas metálicas em geral se utiliza seção transversal duplamente simétrica ou monossimétrica, somente essas duas seções serão estudadas neste item. Deve-se sempre procurar fazer a resultante das forças de compressão introduzida pelas ligações coincidir com o eixo longitudinal da barra comprimida, evitando, assim, a transmissão de momento fletor. Uma exceção é o caso das cantoneiras simples conectadas por uma das abas, muito comum na prática. Seção duplamente simétrica As barras com seção duplamente simétricas, como as I ou H, podem flambar por flexão em relação aos eixos centrais de inércia x e y, com as forças axiais de flambagem elásticas dadas, respectivamente, por: 𝑁𝑒𝑥 = 𝜋2𝐸𝐼𝑥 (𝐾𝑥𝐿𝑥)² 𝑁𝑒𝑦 = 𝜋2𝐸𝐼𝑦 (𝐾𝑦𝐿𝑦)² onde KxLx e KyLy são os comprimentos de flambagem por flexão em relação aos eixos x e y, respectivamente. Essas barras também podem flambar por torção, situação em que a força axial de flambagem elástica é igual a: 𝑁𝑒𝑧 = 1 𝑟0 2 [ 𝜋2𝐸𝐶𝑤 (𝐾𝑧𝐿𝑧)² + 𝐺𝐽] Nessa equação: KzLz é o comprimento de flambagem por torção; J é a constante de torção (dado em tabela do anexo A); Cw é a constante de empenamento da seção transversal (fornecida na Figura 3.7); r0 é o raio de giração polar da seção transversal em relação ao centro de cisalhamento, dado por: 𝑟0 = √𝑟𝑥2 + 𝑟𝑦2 + 𝑥0 2 + 𝑦0 2 onde rx e ry são os raios de giração em relação aos eixos centrais de inércia x e y, respectivamente, e xo e y0, as distâncias do centro geométrico da seção G ao centro de cisalhamento S na direçãodos eixos x e y, respectivamente. 36 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Figura 3.7 – Valor da constante de empenamento Cw e posição do centro de cisalhamento S em seções duplamente simétricas O valor da força axial de flambagem elástica por torção envolve duas rigidezes, a saber: a rigidez à torção uniforme GJ e a rigidez ao empenamento ECw. Isso ocorre porque, na flambagem por torção, a barra apresenta, além da torção uniforme, outro tipo de movimento, denominado empenamento, caracterizado por deslocamentos longitudinais diferentes de pontos das seções transversais, seções estas que perdem a forma plana, conforme mostra a Figura 3.8. Figura 3.8 – Movimentos de torção uniforme e empenamento na flambagem por torção Só é necessário verificar a possibilidade de flambagem por torção se a barra tiver: seção transversal com constante de empenamento nula, como seções cruciformes; comprimento de flambagem por torção (KzLz) superior ao comprimento de flambagem por flexão ao eixo de menor inércia, independente da forma da seção; Barras monossimétricas As barras monossimétricas somente podem flambar por flexão em relação ao eixo centro de inércia que não é o eixo de simetria e por flexão em relação ao eixo central de inércia de simétrica combinada com torção (flambagem por flexo-torção), com as forças axiais de flambagem elásticas dadas respectivamente: 37 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 𝑁𝑒𝑥 = 𝜋2𝐸𝐼𝑥 (𝐾𝑥𝐿𝑥)² 𝑁𝑒𝑦𝑧 = 𝑁𝑒𝑦 + 𝑁𝑒𝑧 2[1 − ( 𝑦0 𝑟0⁄ )²] [1 − √1 − 4𝑁𝑒𝑦𝑁𝑒𝑧[1 − ( 𝑦0 𝑟0⁄ )²] (𝑁𝑒𝑦 + 𝑁𝑒𝑧)² ] No cálculo de Nez, as constantes de empenamento são fornecidas na Figura 3.9. Figura 3.9 – Valor da constante de empenamento Cw e posição do centro de cisalhamento S em seções monossimétricas Uma explicação simples para a ocorrência da torção associada à flambagem por flexão em relação ao eixo y é que as forças transversais fictícias que provocam a flambagem em relação ao eixo y têm a direção do eixo x e não passam pelo centro de cisalhamento S da seção transversal, mas sim pelo centro geométrico G. Como toda força excêntrica a S provoca torção, a flexão em relação ao eixo y é acompanhada necessariamente de torção da seção em relação a S. 3.4. Valores dos comprimentos de flambagem por flexão e torção Para elementos isolados com as seis condições de contorno mais comuns, o comprimento de flambagem por flexão, igual ao produto entre o coeficiente de flambagem por flexão K e o comprimento destravado L é fornecido na Figura 3.10. Nesta figura, a primeira linha mostra os valores teóricos de K. Como na prática, raramente consegue-se executar um engastamento perfeito, a NBR 8800/2008 prescreve a utilização dos valores recomendados, apresentados na segunda linha. Observa-se que a imperfeição do engastamento permite à barra uma pequena rotação, o que faz o coeficiente de flambagem K ser um pouco maior que o teórico. 38 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Figura 3.10 – Comprimento de flambagem por flexão de elementos isolados O comprimento de flambagem por torção, por sua vez, é igual ao produto KzLz, onde Kz é o coeficiente de flambagem por torção, que pode ser tomado como: a) Kz = 1,00 – para rotação impedida e empenamento livre em ambas extremidades; b) Kz = 2,00 – uma extremidade com rotação e empenamento livres e a outra com rotação e empenamento impedidos (Figura 3.11) Figura 3.11 – Representação do coeficiente de flambagem por torção. Segundo a NBR 8800/2008, o valor de K = 1,0 pode ser usado para as colunas de pórticos, cuja estabilidade lateral seja garantida por um sistema estrutural adequado. Valores menores que 1,0 são permitidos desde que justificados por uma análise estrutural. Para colunas de pórticos, cuja estabilidade lateral depende da rigidez, da flexão das vigas e dos pilares, o parâmetro de flambagem K, segundo a NBR 8800 deve ser determinado por uma análise estrutrual e não deve ser menor que 1,0. 39 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite A análise estrutural a que se refere a NBR 8800 para a determinação de K nas colunas de pórticos, pode, tanto envolver um cálculo sofisticado de cargas de flambagem com o uso de computador, quanto envolver simplesmente o uso de ábados. A CISC06 (Canadian Institute of Steel Construction) recomenadam o uso de um ábaco mostrado na Figura 3.12 para pórticos contraventados. O valor de K, segundo o ábaco, é obtido pela reta que une os valores de GA e Gb, onde: 𝐺𝐴 = ∑( 𝐼𝑐 𝑙𝑐 ) ∑ ( 𝐼𝑣 𝑙𝑣 ) Ic e lc são os momentos de inércia e os comprimentos das colunas que chegam ao nó A (ver Figura 3.13). Iv e lv são os momentos de inércia e os comprimentos das vigas que chegam ao nó A. O somatório é feito para todas as vigas e colunas ligadas rigidamente à coluna em consideração. Figura 3.12 – Ábaco para o cálculo do coeficiente de flambagem de colunas de pórticos contraventados O cálculo de GB é análogo ao de GA apenas referido à extremidade B da coluna em consideração. Utilizar o valor de G = 10 para base de colunas rotuladas e G = 1 para base de colunas engastadas. A equação que fornece os resultados do coeficiente de flambagem, é tomada de forma aproximada como: 𝐾 = 0,64 + 1,4(𝐺𝐴 + 𝐺𝐵) + 3𝐺𝐴𝐺𝐵 1,29 + 2(𝐺𝐴 + 𝐺𝐵) + 3𝐺𝐴𝐺𝐵 40 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Figura 3.13 – Pórtico contraventado lateralmente Situação particular das cantoneiras simples Muitas vezes se utiliza como barra comprimida uma cantoneira simples ligada nas duas extremidades por meio da mesma aba (a outra aba fica solta), como mostra a Figura 3.14. Nessas circunstâncias, haverá uma excentricidade da força de compressão, assumida como a distância do plano de cisalhamento da ligação ao centro geométrico da barra, que provocará momento fletor na cantoneira. No entanto, a influência dessa excentricidade pode ser considerada simplificadamente se a ligação for feita por solda ou por pelo menos dois parafusos na direção da solicitação. Figura 3.14 – Situação da cantoneira simples conectada nas duas extremidades pela mesma aba Nessa consideração simplificada, parte-se do princípio de que o movimento de flexão da cantoneira em relação ao eixo centroidal y (perpendicular à aba conectada) fica restringido e a flambagem ocorre com flexão em relação ao eixo centroidal x. Para o comprimento de flambagem, utiliza-se a seguinte proposição: Para Lx / rx ≤ 80 KxLx = 72 rx + 0,75 Lx Para Lx / rx > 80 KxLx = 32 rx + 1,25 Lx 41 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 3.5. Instabilidade local – aspectos teóricos Além da instabilidade global descrita anteriormente, os perfis metálicos também podem apresentar o fenômeno de instabilidade local, que é a perda de instabilidade dos elementos que compõem a seção transversal da barra e que pode ocorrer antes que a tensão crítica determinada na análise global seja atingida. Na Figura 3.15, vê-se um elemento que sofreu flambagem local. Figura 3.15 – Exemplo de flambagem local em perfis de aço As chapas que compõem a seção transversal dos perfis de aço solicitadas por esforços de compressão ou de flexão estão submetidas a tensões axiais de compressão e, consequentemente,sujeitas à instabilidade. Trata-se, portanto, de instabilidade de chapas, e é denominada local porque o eixo da barra permanece indeformado. A tensão crítica de flambagem elástica para uma chapa quadrada com bordas apoiadas é dada pela expressão: 𝑓𝑐𝑟 = 𝑘𝜋²𝐸 12(1 − 𝑣2) ( 𝑏 𝑡) ² Para o entendimento do fenômeno, é possível fazer uma analogia com o caso da instabilidade da barra. A tensão crítica depende: do material representado pelo seu módulo de elasticidade; de uma esbeltez – aqui denominada esbeltez local (relação largura-espessura b/t); do coeficiente de Poisson, por se tratar de um fenômeno bidimensional; e de um coeficiente de flambagem, que, para este caso, é função das condições de vinculação, das condições de carregamento e da relação entre largura e comprimento do elemento – Figura 3.16. No caso de plastificação da seção, ou seja, sem ocorrência de flambagem local, a tensão crítica de flambagem será igual à tensão de escoamento do material. Fazendo-se a expressão vista anteriormente igual a fy, define-se a esbeltez limite para a flambagem de chapa. 𝑓𝑐𝑟 = 𝑘𝜋²𝐸 12(1 − 𝑣2) ( 𝑏 𝑡) ² = 𝑓𝑦 → ( 𝑏 𝑡 ) 𝑙𝑖𝑚 = λ𝑙𝑖𝑚 = 0,95√ 𝐾𝐸 𝑓𝑦 42 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Figura 3.16 – Coeficientes de flambagem local Portanto, em chapas com relação b/t inferior a (b/t)lim não há flambagem local, e a mesma consegue atingir a plastificação. Ao contrário do que ocorre nas barras, a flambagem de chapa não implica no esgotamento de sua capacidade resistente. Nestes elementos, existe a possibilidade de redistribuição de tensões, e em função disto, ocorre o fenômeno denominado efeito pós-crítico ou pós-flambagem, que permite que a resistência ao escoamento seja alcançada. A partir da observação desse comportamento pós-crítico, foi possível definir o conceito de largura efetiva. Ou seja, despreza-se, para efeito de cálculo, a região da chapa que apresenta instabilidade e considera-se uma largura efetiva com a mesma resultante de tensões aplicadas na largura real do elemento. Este procedimento implica em considerar a redução da resistência da seção de forma indireta, por meio da redução da área. 𝑏𝑒𝑓 = 1,92𝑡√ 𝐸 𝜎 [1 − 0,34 𝑏/𝑡 ]√ 𝐸 𝜎 ≤ 𝑏 Portanto, se não houver instabilidade local, a largura efetiva é a própria largura do elemento e, em caso de instabilidade, passa-se a trabalhar com uma largura efetiva menor. Desta forma, a redução na resistência de um elemento estrutural em função da instabilidade local pode ser considerada reduzindo-se as propriedades geométricos da seção transversal, que passam a ser determinadas com base nas larguras efetivas. A expressão acima, com ajustes devidos a imperfeições iniciais e baseada em ensaios experimentais, é a mesma que aparece nas normas de dimensionamento, inclusive a NBR 8800/2008. Coeficiente de Instabilidade Local O coeficiente de instabilidade local, Q, considera a influência da flambagem local na resistência do elemento e é dividido em dois coeficientes: 43 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Qs – coeficiente de redução da resistência devido à flambagem local em elementos apoiados e livres – AL, por exemplo, a mesa de perfis tipo I; Qa – coeficiente de redução da resistência devido à flambagem local em elementos apoiados e apoiado – AA, por exemplo, almas de perfis tipo I. Em seções compostas de elementos AA e Al, como, por exemplos, perfis I e U, o coeficiente Q é dado pelo produto dos coeficientes Qs e Qa: Q = Qs Qa Em seções compostas apenas de elementos AL, como por exemplo, perfis L e T, o coeficiente Q será o menor dos coeficientes Qs entre os diversos elementos que compõem a seção. Para seções compostas apenas de elementos AA, como em seções caixão, o coeficiente de redução Q será o menor dos coeficientes Qa. O parâmetro de instabilidade local Q será igual 1 se a relação largura-espessura dos elementos componentes da seção não ultrapassar os limites indicados nas Figuras 3.17 e 3.18. Isto indica que não há redução de resistência em função da instabilidade local, ou que esta não ocorre. Seções com essas características podem ser denominadas de seções compactas. Figura 3.18 – Limites de relação largura-espessura (NBR 8800/2008) Para barras submetidas à força axial de compressão, nas quais elementos componentes da seção transversal possuem relações b/t maiores que os valores de (b/t)lim da Figura 3.18 e 3.19, deve- se determinar o parâmetro de instabilidade local para elementos AA e elementos AL, de acordo com as expressões apresentadas nas Figuras 3.19 e 3.20. 44 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Figura 3.19 - Limites de relação largura-espessura (NBR 8800/2008) Figura 3.20 – Expressões para o cálculo do parâmetro de instabilidade local Q – Elementos AL 45 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Figura 3.21 – Expressões para o cálculo do parâmetro de instabilidade local Q – Elementos AA Interação entre instabilidade local da barra e flambagem local: Viu-se anteriormente que o fator de redução total relacionado à flambagem local Q, provoca diminuição no valor da força de escoamento Ag fy da seção transversal. Assim, essa força menor deve ser utilizada na determinação do índice de esbeltez reduzido, que passa a ser: λ0 = √ 𝑄𝐴𝑔𝑓𝑦 𝑁𝑒 Essa equação, portanto, deve ser utilizado no dimensionamento no lugar da mesma equação, no item 3.2, sempre que houver flambagem local do elemento. 3.6. Estado limite de serviço Os estados limites de serviço em barras comprimidas estão ligados à esbeltez da barra. Nesse sentido, a NBR 8800/2008 limita em 200 a esbeltez de barras comprimidas. Em barras com seção composta formadas por mais de um perfil, o índice de esbeltez de qualquer perfil não deve ultrapassar ½ do índice de esbeltez máxima do conjunto. Podem ser utilizadas chapas espaçadoras a intervalos de comprimentos que garantam essa condição – Figura 3.22 Figura 3.22 – Verificação de esbeltez em barras compostas comprimidas 46 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite 3.7. Roteiro de dimensionamento A fim de resumir todo o conteúdo visto no Capítulo 3 desta nota de aula, segue na Figura 3.23 um roteiro de dimensionamento de acordo com a NBR 8800/2008. Figura 3.23 – Roteiro de dimensionamento de acordo com a NBR 8800/2008. EXERCÍCIOS PROPOSTOS: 7) O pilar ABC a seguir, travado por contraventamento, está submetido a uma força axial de compressão solicitante de cálculo igual a 1.500 kN. Propõe-se verificar se o perfil soldado escolhido para o pilar, produzido em aço estrutural ASTM A242, resiste a essa força. Notar que o eixo x do perfil é paralelo ao eixo global U. Supor que em A (base do pilar) o empenhamento e a rotação em torno do eixo longitudinal estejam impedidos, e que em B e C apenas a rotação esteja impedida. 47 Estruturas Metálicas – Pós-Graduação em Engenharia Estrutural – Prof. Msc. Igor Leite Aço estrutural: ASTM A242, com chapas de espessura t ≤ 19 mm → fy = 345 MPa ou 34,5 kN/cm² Flambagem local: - Mesas: 𝑏 𝑡 = 400/2 9,5 = 21,05 (𝑏/𝑡)𝑙𝑖𝑚 = 0,64√ 𝐸𝑘𝑐 𝑓𝑦 𝑘𝑐 = 4 √ℎ/𝑡𝑤 = 4 √(650 − 2.9,5)/8 = 0,45 (𝑏/𝑡)𝑙𝑖𝑚 = 0,64√ 20000.0,45 34,5 = 10,34 Verificação
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