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Limnologia de aguas interiores impactos

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187
Introdução
As inte ra ções entre as con di ções cli ma to ló gi cas,
os sis te mas aquá ti cos e a bacia hidro grá fi ca têm efei -
to extre ma men te impor tan te sobre o fun cio na men to
dos pro ces sos bio geo quí mi cos e bio fí si cos. As comu -
ni da des e asso cia ções de espé cies que ocor rem são
resul tan tes de pro ces sos evo lu ti vos com ple xos e
varia dos e per ma nen te sele ção que deter mi nam a
diver si da de, as flu tua ções esta cio nais e inte ra nuais.
Adaptações às alte ra ções hidro ló gi cas, varia ções
de sali ni da de e con du ti vi da de em dife ren tes lati tu -
des, res pos tas a pul sos e à fre quên cia das modi fi ca -
ções pro du zem padrões regio nais de fauna e flora
con sis ten tes com a ori gem do sis te ma, com os pro -
ces sos evo lu ti vos e com as ações antró pi cas.
Diferentes sis te mas de dis per são regu lam a dis tri -
bui ção de orga nis mo, com po si ção das comu ni da des
e a sua varia bi li da de. Portanto, as fun ções de força e
os pro ces sos evo lu ti vos con tro lam o fun cio na men to
de lagos, rios, repre sas e áreas ala ga das.
No pre sen te capí tu lo, pre ten de-se, de forma
com pa ra ti va, sin te ti zar as prin ci pais carac te rís ti cas
lim no ló gi cas e o fun cio na men to dos ecos sis te mas
aquá ti cos con ti nen tais, dis cu tir os prin ci pais impac -
tos sobre os ecos sis te mas natu rais e arti fi ciais e apre -
sen tar suas con se quên cias, pro por meca nis mos de
con ser va ção e recu pe ra ção de ecos sis te mas de uma
forma inte gra da, levan do-se em conta os pro ces sos
bio geo fí si cos, eco nô mi cos e sociais. Discutir-se-ão e
apre sen tar-se-ão aspec tos eco nô mi cos da recu pe ra -
ção e da degra da ção ambien tal sob o ponto de vista
eco ló gi co e da apli ca ção de novas téc ni cas de geren -
cia men to. Essa não é uma revi são exaus ti va sobre os
pro ces sos lim no ló gi cos e eco ló gi cos dos ecos sis te -
mas aquá ti cos con ti nen tais. No entan to, des ta cam-se
 alguns pro ces sos fun da men tais no fun cio na men to
des tes sis te mas.
Mecanismos de fun cio na men to de lagos
de vár zea e de áreas ala ga das
Esses sis te mas depen dem de perío dos de cheia e
vazan te, quando ocor re um aumen to do nível de
água e a inun da ção de vas tas áreas adja cen tes à calha
prin ci pal. As regiões de vár zea mais exten sas estão
loca li za das nos Rios Amazonas e Paraná e em inú me -
ros tri bu tá rios do Rio Amazonas (Figura 1). Durante
o perío do de cheia, há um con tí nuo pro ces so de mis -
tu ra ver ti cal e hori zon tal e o enri que ci men to pro -
gres si vo dos lagos com nutrien tes de ori gem flu vial.
Os ciclos de C, N e P alte ram-se pro fun da men te e os
pro ces sos inter nos nos lagos de vár zea modi fi cam
estes ciclos.
A Tabela 1 (Tundisi, 1994) mos tra algu mas
carac te rís ti cas fun da men tais dos ciclos de nitro gê nio
e fós fo ro nos lagos de vár zea.
A cir cu la ção ver ti cal nos lagos apre sen ta pro ces -
sos dife ren cia dos duran te perío dos de vazan te e
José Galizia Tundisi
Takako Matsumura Tundisi
Donato Seiji Abe
Odete Rocha
Fernando Luis do Rego Monteiro Starling
07
Cap07.qxp_F-miolo06.qxp 4/13/15 8:52 PM Page 203
188
Águas doces no Brasil
cheia (Tundisi et al., 1984) e os orga nis mos apre -
sen tam carac te rís ti cas fisio ló gi cas espe ciais que
foram des cri tas por Junk (1997). As comu ni da des
de pei xes são bas tan tes carac te rís ti cas, e com pa ra -
ções entre com po si ção da fauna de pei xes de
ambien tes lóti cos e lên ti cos foram fei tas por Lima et
al. (1995) (Figura 2 e Figura 3).
De acor do com Junk & Silva (1995), os gran des
sis te mas de vár zea do Amazonas e do Pantanal apre -
sen tam pro ces sos abió ti cos e bio ló gi cos simi la res,
pois ambos estão sub me ti dos à prin ci pal fun ção de
força, que é a varia ção mono mo dal repre sen ta da
pelo pulso, entra da de gran des volu mes de água dos
rios no sis te ma. No entan to, no caso da vár zea do
Rio Amazonas, a ampli tu de da flu tua ção é maior, os
sedi men tos são mais recen tes do que os do Pantanal;
a alta diver si da de de espé cies e ende mis mo no
Amazonas é expli ca da pelo fato de esta região ter um
perío do evo lu ti vo menos con tur ba do, que não
 sofreu gran des extin ções e per tur ba ções duran te
perío dos de seca, como no caso do Pantanal. Tanto
lagos de vár zeas como áreas ala ga das e pân ta nos ao
longo de rios são "cen tros ati vos de evo lu ção"
(Margalef, 1997) e apre sen tam inú me ras inter fa ces
onde o sis te ma de orga ni za ção e reor ga ni za ção
perió di ca enri que ce os meca nis mos de com pe ti ção e
o pro ces so de fluxo gêni co.
A explo ra ção racio nal desses ecos sis te mas e prin -
ci pal men te a explo ra ção pes quei ra depen dem do
conhe ci men to des sas inte ra ções e de estu dos quan -
ti ta ti vos nos lagos de vár zea.
Um tra ba lho abran gen te que inclui pro ces sos bio -
geo quí mi cos, eco ló gi cos e sociais está sendo rea li za do
em Mamirauá, onde um plano de geren cia men to
 Fontes Sumidouros/perdas Mecanismos de reciclagem
 Entrada de N e P por advecção Sedimentação Decomposição de plantas e animais
 nos rios e absorção de P nos lagos 
 Entrada de N e P por precipitação Perda pela vazante Metabolismo de plantas e animais
 Fixação de N2 nos lagos Desnitrificação Processos nos lagos (variações diurnas, circulação
 epilimnética, circulação total no lago)
 Drenagem superficial Precipitação química 
 nos sedimentos
Tabela 1 - Entrada de nutrientes, sumidouros/perdas e processos de reciclagem em lagos de várzeas de área alagada.
FONTE: Tundisi, 1994.
Sedimentos do terciário 
terra-firme
Sedimentos do terciário 
terra-firme
Várzea holocênica Restingas,
lagos, paranás pântanos
Várzea 
pleistocênica
Figura 1 - Características principais das regiões com várzea.
FONTE: Ayres, 1995.
Nível d’água máximo (maio/junho)
Nível d’água mínimo (setembro/outubro)
Rio Amazonas Rio Japurá
Cap07.qxp_F-miolo06.qxp 4/13/15 8:52 PM Page 204
189
Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Sistemas de pulso
(várzeas, sistemas de flutuação de
nível com maré, campos de cultivo
de arroz de inundação)
rioslagos
Sistemas aquáticos
Sistemas de transição
te
rr
es
tr
e
aq
uá
ti
co
Sistemas terrestres
Áreas alagadas com nível estável
Figura 2 - Os sistemas de pulsos.
FONTE: Junk, 1997.
Solimões
canal várzea ambos
Amazonas Negro Jamari Guaporé Tocantins Paraná
Rios
%
 d
e 
es
pé
cie
s e
xc
lu
siv
as
140%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Figura 3 - Porcentagem de espécies de peixes exclusivas em canais, dos rios várzea ou nos dois ambientes.
FONTE: Araújo, Agostinho e Fabré, 1995.
Cap07.qxp_F-miolo06.qxp 4/13/15 8:52 PM Page 205
190
Águas doces no Brasil
com par ti ci pa ção da comu ni da de foi rea li za do com
muita efi ciên cia, pro du zin do um para dig ma impor -
tan te no estu do, explo ra ção racio nal e geren cia men to
de áreas ala ga das (Ayres, 1995).
Estudos deta lha dos sobre espé cies de pei xes de
uso comer cial nes sas regiões foram publi ca dos
recen te men te por Bartlem & Goulding (1997).
Mecanismos de fun cio na men to de lagos
natu rais e de repre sas 
Funcionamento de lagos natu rais 
Lagos natu rais refe rem-se especi fi ca men te a sis te -
mas aquá ti cos natu rais não conec ta dos a um rio e
que fun cio nam a par tir de fun ções de força cli ma to -
ló gi cas, sem inter fe rên cia de entra das de ener gia e
mate rial (entra das adi cio nais) a par tir dos rios.
Nesse caso, os tra ba lhos rea li za dos nos lagos do Rio
Doce e sin te ti za dos em Tundisi & Saijo (1997) são
exem plos muito impor tan tes e dife ren cia dos. A
Figura 4 mos tra a dis tri bui ção ver ti cal de orga nis -
mos no perío do de estra ti fi ca ção, como um para dig -
ma das inte ra ções fun ções de força – fato res físi cos e
quí mi cos. O fun cio na men to desses sis te mas está,
por tan to, rela cio na do com:
• iso la men to dos sis te mas no pleis to ce no;
• cir cu la ção ver ti cal e estra ti fi ca ção ver ti cal;
• dis tri bui ção de orga nis mos planc tô ni cos de
pei xes em fun ção da estra ti fi ca ção;
• inte ra ções sedi men to/águas.
É impor tan te salien tar que esses sis te mas são
frag men tos de rios que se esta bi li za ram como lagos
no pleis to ce no, dando ori gem, por tan to, a sis te mas
iso la dos entre si e tam bém com os rios. Isso pro du -
ziu novos meca nis mos de iso la men to gené ti co de
popu la ções, o que, sem dúvi da, intro duz novas pers -
pec ti vas tanto na pes qui sa eco ló gi ca, como nos pro -
ces sos de con ser va ção des ses ecos sis te mas.
Represas arti fi ciais 
Represas são cons truí das para um deter mi na do
uso pri má rio, o que tem uma influên cia fun da men -
tal em sua mor fo me tria, mor fo lo gia e na lim no lo -
gia. Cronologicamente, repre sas foram cons truí das
para con tro le de cheias, irri ga ção, abas te ci men to
de água, pesca, supri men to indus trial de água e,
mais recen te men te, gera ção de ener gia elé tri ca
(Straskraba et al., 1993). Muitos reser va tó rios, após
o uso pri má rio, pas saram a ter múl ti plos usos, o que
tor nou com ple xo o meca nis mo de geren cia men to.
Atualmente, a qua li da de de água de reser va tó rios
é um tema cen tral para o geren cia men to, esti mu lan -
do o apri mo ra men to do moni to ra men to, a ela bo ra -
ção de um banco de dados, a apli ca ção de mode los
eco ló gi cos e mate má ti cos e a implan ta ção de sis te -
mas de supor te à deci são, para o con tro le efe ti vo da
qua li da de da água (Straskraba & Tundisi, 1999).
Os meca nis mos de fun cio na men to de reser va tó -
rios estão, por tan to, rela cio na dos com o seu uso
múl ti plo ou com o uso da água para um único fim.
Esses meca nis mos estão rela cio na dos com o ciclo
hidro ló gi co e o volu me de água, os gra dien tes ver ti -
cais e hori zon tais e os pro ces sos de cir cu la ção pro -
du zi dos pelo vento, pelo aque ci men to e res fria men -
to tér mi co ou pelas reti ra das de água de várias pro -
fun di da des para des car gas rela cio na das com os usos.
Características dos reser va tó rios são as regiões com
influên cia do rio (a mon tan te), com a influên cia da
repre sa e das des car gas (pró xi mas à bar ra gem) ou
loca li za das no meio do reser va tó rio com fun cio na -
men to de lago. Áreas ala ga das asso cia das a repre sas
têm um papel rele van te na repo si ção de esto ques de
pei xes, na eli mi na ção de N2 por deni tri fi ca ção, na
com ple xa ção e reten ção de metais pesa dos e fós fo ro,
e no aumen to da bio di ver si da de.
A Figura 5 mos tra os prin ci pais meca nis mos de
cir cu la ção de repre sas e seus prin ci pais com po nen -
tes, pro du zi dos pela ação do vento, reti ra das de
água das tur bi nas, res sur gên cias loca li za das, ins ta bi -
li da des tér mi cas ver ti cais, cor ren tes late rais e cor -
ren tes de intru são por den si da des dife ren cia das. O
agru pa men to de orga nis mos, a com po si ção das
comu ni da des, a suces são em perío dos redu zi dos de
tempo para as comu ni da des planc tô ni cas e os pro -
ces sos de pro du ção pri má ria fito planc tô ni ca e peri -
fí ti ca, reci cla gem e ciclos bio geo quí mi cos depen dem
desse com ple xo sis te ma de cir cu la ção ver ti cal e hori -
zon tal (Tundisi & Matsumura-Tundisi, 1994;
Matsumura-Tundisi & Tundisi, 1997).
Também a entra da de poluen tes no sis te ma e sua
dis per são na repre sa estão rela cio na dos com os sis te -
mas de cir cu la ção. Existem ainda dois pon tos fun -
da men tais no fun cio na men to de repre sas que
devem ser enfa ti za dos em uma sín te se desse tipo: o
pri mei ro diz res pei to aos efei tos das repre sas a jusan -
te (ver Box) e o segun do está rela cio na do com o pro -
ces so de esta bi li za ção "evo lu ção" do reser va tó rio no
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Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Chaoborus Rotífera Calanoida Cladocera
Chaoborus Rotífera Calanoida Cladocera
0
5
10
15
20
25
30
26.0
TºC
25.5
24.0
23.7
TºC
28.0
24.0
23.0
0 2 4 6 8
0 2 4 6 8
mg / L O2
Pr
of
un
di
da
de
 (m
)
0
5
10
15
20
25
30
Pr
of
un
di
da
de
 (m
)
julho 1984
novembro 1985
Figura 4 - Distribuição vertical de organismos planctônicos em períodos de estratificação e destratificação.
FONTE: Tundisi & Saijo, 1997.
Ostracoda Turbellaria Cyclopoida
Ostracoda Turbellaria Cyclopoida
Protozoa
mg / L O2
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192
Águas doces no Brasil
tempo e esta bi li za ção da qua li da de da água, bio mas sa
vege tal e ani mal. Pursell (1939) des cre veu a sequên cia
de even tos que ocor rem duran te o perío do de enchi -
men to do reser va tó rio. As várias modi fi ca ções pelas
quais passa o sis te ma ao longo de seu pro ces so de esta -
bi li za ção depen dem dos seguin tes fato res:
• volu me de água;
• mor fo me tria de repre sas;
• tempo de reten ção;
• carac te rís ti cas da área de inun da ção (geo mor -
fo lo gia da região, tipo de solo, usos do solo,
cober tu ra vege tal exis ten te);
• usos da bacia hidro grá fi ca na área de inun da ção;
• qua li da de ini cial da água dos rios for ma do -
res da repre sa.
De um modo geral, nos pri mei ros está gios do
enchi men to há um tro phic upsur ge com o aumen to
da bio mas sa de cer tas espé cies, a dimi nui ção da
diver si da de e a ace le ra ção dos ciclos de pro du ção e
decom po si ção de maté ria orgâ ni ca. Cicha ocel la ris
e Cichla spp. são espé cies de pei xes comuns a estas
pri mei ras fases do enchi men to de repre sas na
Amazônia. A Figu ra 6 mos tra a "evo lu ção" de um
con jun to de repre sas no Brasil, em vários está gios de
esta bi li za ção. A Figura 7 mos tra a orga ni za ção da
rede ali men tar na repre sa de Tucuruí após o enchi -
men to, e com a con tri bui ção do mate rial orgâ ni co
resul tan te da inun da ção. Deve-se, tam bém, con si -
de rar que a inten si fi ca ção dos usos das bacias
hidro grá fi cas aumen ta o poten cial de eutro fi za ção
e ace le ra o ciclo de aumen to de bio mas sa, ano xia
pró xi ma do sedi men to e incre men to do fós fo ro e
nitro gê nio dis sol vi do e par ti cu la do.
A con tri bui ção dos reser va tó rios para o efei to
estu fa, espe cial men te aque les cons truí dos na Ama-
zônia, foi dis cu ti da por Fearnside (1995). Esse autor
cha mou a aten ção de que a pro du ção de gree nhou se
gases, espe cial men te meta no (CH4), pode ser sig ni fi -
ca ti va prin ci pal men te após a pas sa gem da água pelas
tur bi nas. Águas anó xi cas do fundo de reser va tó rios,
quan do des car re ga das a jusan te, pro du zem mor ta li -
da de de pei xes em massa e impe dem o uso da água
para váriasfina li da des.
Um aumen to con si de rá vel da bio mas sa de bac -
té rias ocor re na zona pelá gi ca de reser va tó rios,
prin ci pal men te duran te o perío do de enchi men to,
onde ocor re acú mu lo de mate rial em decom po si -
ção. Durante flo res ci men tos de cia no fí ceas, bac té -
rias asso cia das desen vol vem bio mas sas ele va das,
Figura 5 - Circulação em represas.
FONTE: Ford, 1990.
Cap07.qxp_F-miolo06.qxp 4/13/15 8:52 PM Page 208
193
Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Só
lid
os
 to
ta
is 
em
 su
sp
en
sã
o
Diversidade
Produção
Vulnerabilidade – Estabilidade
Carga de nutrientes
Fechamento da
barragem
Serra da Mesa Serra da Mesa Xavantes
Tucuruí
Xingó
Samuel
Itaparica
Barra Bonita
Billings
Promissão
Lobo
Água Vermelha
Volta Grande
Furnas
Ibitinga
Eutrofização não bal-
anceada
Estabilidade
vulnerável Estabilização Maturidade Eutrofização desequilibrada
Descarga de polu-
entes
N
úm
er
o 
de
 e
sp
éc
ie
s
Pr
od
uç
ão
: k
ca
l/m
2 /a
no
Figura 6 - “Evolução” de represas no tempo em função do fechamento da barragem, descarga de poluentes e eutrofização.
FONTE: Tundisi (modificado de Ballon & Coche).
Figura 7 - Rede alimentar modificada na represa de Tucuruí. Rede dependendo de detritos orgânicos.
FONTE: Tundisi et al., 1993.
´
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Alterações a jusante produzidas pelas represas
194
Águas doces no Brasil
prin ci pal men te após a decom po si ção dos flo res ci -
men tos de Mycrocystis sp. (Lial Sandes, 1998).
A Figu ra 8 mos tra a pro du ção pes quei ra de
reser va tó rios em com pa ra ção com outros ecos sis te -
mas aquá ti cos.
Pulsos em ecos sis te mas aquá ti cos 
natu rais e arti fi ciais 
Os sis te mas aquá ti cos natu rais e arti fi ciais
fun cio nam, em gran de parte, impul sio na dos por
flu tua ções de curta ou longa dura ção que têm
impac to na orga ni za ção das comu ni da des, nos
 ciclos bio geo quí mi cos e na suces são tem po ral e
espa cial. O conhe ci men to da mag ni tu de e fre quên -
cia des ses pul sos é de fun da men tal impor tân cia
inclu si ve para o prog nós ti co dos efei tos dos impac -
tos das ati vi da des antró pi cas.
Pulsos são defi ni dos como qual quer tipo de flu -
tua ção natu ral ou indu zi da pelo homem que afete os
sis te mas aquá ti cos natu rais e arti fi ciais. Esses pul sos
podem resul tar de uma entra da de mate rial, ou
ener gia no sis te ma, ou de uma saída de mate rial
ou ener gia do sis te ma. A Figu ra 9 mos tra a varia ção
do tempo de reten ção na repre sa de Barra Bonita
como um exem plo de pulso arti fi cial.
Pulsos de ori gem natu ral podem ser resul tan tes
de mudan ças cli má ti cas, tais como vento, pre ci pi ta -
ção; suas con se quên cias no ecos sis te ma aquá ti co são
dire tas ou indi re tas.
Esses pul sos de ori gem natu ral podem ser fre -
quen tes, esta cio nais, e podem repe tir-se; há tam bém
pul sos infre quen tes ou oca sio nais de gran de mag ni -
tu de e resul tan tes de fenô me nos cli ma to ló gi cos não
perió di cos. Pulsos de ori gem arti fi cial, no caso de
repre sas, ocor rem, por exem plo, com a mani pu la ção
dos níveis de água dos reser va tó rios e a aber tu ra de
com por tas. Uma das con se quên cias des ses pul sos
arti fi ciais é a perda de fito plânc ton e zoo plânc ton
em gran des quan ti da des, com efei tos catas tró fi cos
sobre as popu la ções des sas comu ni da des planc tô ni -
cas e perda da pro du ti vi da de pri má ria e impac tos na
suces são (Figura 10).
Uma outra con se quên cia impor tan te de pul sos
natu rais é o efei to da entra da de gran de quan ti da de
de mate rial em sus pen são no sis te ma, pro du zin do
tam bém redu ção da zona eufó ti ca, drás ti ca redu ção
da pro du ti vi da de pri má ria planc tô ni ca (em cerca de
80%) e gran de redu ção da con cen tra ção de oxi gê nio
da água com efei tos dele té rios sobre a comu ni da de
de pei xes (Calijuri, 1988).
As altas con cen tra ções de mate rial em sus pen são,
afe tam con si de ra vel men te o regi me da radia ção
Variáveis físicas
Hidrologia - Decréscimo no fluxo de água. Alte ração
no regime hidrológico.
Estrutura térmica - Decréscimo de tempe ra tura
e estratificação térmica. Heterogeneidade vertical
da temperatura.
Material em suspensão - Decréscimo da carga de
material em suspensão.
Detrito - Composição preponderantemente bió tica
a jusante.
Variáveis químicas
Oxigênio dissolvido - Decréscimo a jusante em uso de
reservatórios eutróficos.
H2O e CO2 - Aumento da concentração.
Fósforo - Decréscimo na concentração de fósforo.
Matéria orgânica - Aumenta no caso de reservatórios
eutróficos. Diminui quando não há fontes de produção
elevada de matéria orgânica na represa.
Variáveis biológicas
Plâncton -Diminui a concentração (biomassa) a jusante.
Composição do fitoplâncton -Altera-se a jusan te; depende
das condições de fluxo e velocidade de correntes e da existência
de lagoas marginais.
Produção fitoplanctônica - Pode aumentar, dependen-
do das descargas de água enriquecida a jusante, em condições
ótimas de intensidade luminosa.
Zooplâncton - Altera-se a diversidade e a com-
posição, dependendo da velocidade das correntes a
jusante, da intensidade da descarga e do tempo de
retenção do reservatório.
Bentos - Pode diminuir no caso de reser va tó rios eutró-
ficos com descargas anóxicas. É afetado por variações do
nível a jusante.
Peixes -Migração a jusante é interrompida pela repre -
sa. Há um acúmulo de biomassa logo após a represa.
FONTE: Straskraba, Tundisi & Duncan, 1993.
Cap07.qxp_F-miolo06.qxp 4/13/15 8:52 PM Page 210
195
Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Figura 8 - Produção de biomassa de peixes em sistemas aquáticos (dados comparativos).
FONTE: R. H. Lowe-McConnell, 1987.
Figura 9 - Tempo de retenção da represa de Barra Bonita.
FONTE: Tundisi et al. (Projeto Temático Fapesp).
J A S O N D J F M A M J J
160
140
120
100
80
60
40
D
ia
s
1992 1993
Tempo de retenção – represa de Barra Bonita
0.01 0.1 1.0 10 100 1,000 10,000
0.01 0.1 1.0 10 100 1,000 10,000
Oceano aberto
Lagos africanos
Lagos gerenciados
Lagos não gerenciados
Reservatórios
Várzea
Produção (kg/ha por ano)
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Águas doces no Brasil
Figura 10 - Teoria da catástrofe aplicada a florescimentos de fitoplâncton em represas.
FONTE: Tundisi, 1998 - original.
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suba quá ti ca, oca sio nan do perda da capa ci da de de
pre da ção visual pelos pei xes (Zarte & Tundisi,
resul ta dos não publi ca dos).
De acor do com Junk & Weber (1996) o pulso
de inun da ção no Rio Amazonas tem uma forma
sinoi dal e é pre di zí vel mesmo com as con si de rá veis
varia ções anuais em ampli tu de. Com a ele va ção do
nível do rio, há uma inun da ção que cobre com ple -
ta men te a zona lito ral, moven do-a de forma que
todos os habi tats, na vár zea, cons ti tuem um gra dien -
te entre regiões per ma nen te men te ter res tres e per -
ma nen te men te aquá ti cas. O pulso, neste caso, é a
fun ção de força prin ci pal que impul sio na o sis te ma
para a osci la ção entre as fases ter res tres e aquá ti ca.
As car gas de mate rial dis sol vi do e em sus pen são
 variam com as con di ções geo quí mi casda bacia
hidro grá fi ca, inter fe rin do com a mor fo me tria do
sis te ma, e o fun cio na men to da biota aquá ti ca, pro -
du zin do uma ampla varie da de de habi tats, e uma
reno va ção com ple ta da fauna e flora com refle xos
na bio di ver si da de.
Todos os ecos sis te mas aquá ti cos que fun cio nam
com esses tipos de pul sos têm o mesmo tipo de res -
pos tas, apro xi ma das. Nesses sis te mas se incluem as
vár zeas do Rio Amazonas e tri bu tá rios, o Pantanal
de Mato Grosso, as regiões e áreas ala gá veis do Rio
Paraná e do seus tri bu tá rios. Por exem plo, Neiff
(1996) e Marchese & Escurra de Drago (1992) des -
cre ve ram uma zona ção típi ca e um aumen to da
com ple xi da de (diver si da de, núme ro de espé cies,
 nichos tró fi cos) do rio prin ci pal em dire ção aos tri -
bu tá rios de menor porte no Rio Paraná como con -
se quên cia dos pul sos.
O desa pa re ci men to da estra ti fi ca ção ver ti cal, por
ação do vento, pro du zin do alte ra ções na dis tri bui -
ção dos orga nis mos, na dis tri bui ção ver ti cal do oxi -
gê nio dis sol vi do e nutrien tes, é outro exem plo de
pul sos no sis te ma.
A mag ni tu de e fre quên cia dos pul sos dife re geo -
gra fi ca men te no caso dos sis te mas natu rais, prin ci -
pal men te se levan do em conta o gra dien te lati tu di nal
e a dimen são dos sis te mas aquá ti cos no Brasil.
No caso dos reser va tó rios, esses pul sos tam bém
depen dem dos usos do sis te ma, da neces si da de de
des car gas per ma nen tes para regu la ção do nível ou
usos da água; quan do há uma cas ca ta de reser va tó -
rios, há um efei to dos pul sos a mon tan te e a jusan te.
Por exem plo, a libe ra ção de água mais fria pró xi ma
ao sedi men to, com baixa con cen tra ção de oxi gê nio
dis sol vi do, pode oca sio nar um pulso de libe ra ção de
fós fo ro para a água sobre ja cen te a jusan te.
Reservatórios em cas ca ta são, pois, sus ce tí veis a pul sos
com efei tos múl ti plos que afe tam toda a cadeia dire ta
ou indi re ta men te. A Figura 11 mos tra uma cadeia de
reser va tó rios no Médio e Baixo Tietê, Estado de São
Paulo, no qual os pul sos têm efei tos múl ti plos.
O conhe ci men to ade qua do dos pul sos e suas
carac te rís ti cas (mag ni tu de, dura ção, ori gem) per mi -
tem o esta be le ci men to de mode los eco ló gi cos e
mate má ti cos que podem prog nos ti car, até certo
ponto, as res pos tas qua li ta ti vas e quan ti ta ti vas dos
sis te mas aquá ti cos e das comu ni da des. É uma fer ra -
men ta muito impor tan te no desen vol vi men to de
prog nós ti cos que podem evi tar danos e oti mi zar o
uso dos sis te mas aquá ti cos e da água, per mi tin do
um con tro le efe ti vo da qua li da de. Por exem plo: a
intro du ção do mode lo Protech-C (Reynolds et al.,
1998) pos si bi li ta pre di zer varia ções na qua li da de da
água, incor po ran do mudan ças hidráu li cas, simu lan -
do alte ra ções esta cio nais na bio mas sa e incluir varia -
ções no volu me de lagos e repre sas. Essas simu la ções
no fun cio na men to de lagos e repre sas a par tir dos
dados exis ten tes per mi tem oti mi zar usos e dese nhar
cená rios apro pria dos da res pos ta em fun ção da
incor po ra ção dos pul sos ao mode lo eco ló gi co
(Tundisi, 1993).
O estu do deta lha do dos pul sos e de seus efei tos
per mi te um avan ço con si de rá vel no geren cia men to de
sis te mas aquá ti cos con ti nen tais natu rais e arti fi ciais.
Funções de força 
As prin ci pais fun ções de força dri ving for ces que
atuam nos ecos sis te mas aquá ti cos con ti nen tais,
natu rais e arti fi ciais do Brasil são a seguir des cri tas
na Tabela 2. Essas fun ções de força estão evi den te -
men te rela cio na das com os pul sos e podem ter cau -
sas natu rais e arti fi ciais. É tam bém impor tan te
carac te ri zar essas fun ções de força nos dife ren tes sis -
te mas como base para a implan ta ção de pro gra mas
de geren cia men to. A mag ni tu de des sas fun ções de
força desen ca deia pro ces sos bio geo fí si cos fun da -
men tais nos ecos sis te mas, inter fe rin do no seu fun -
cio na men to (Tundisi, 1983). 
As Tabelas 3 e 4 sin te ti zam os resul ta dos de
nutrien tes, clo ro fi la, pro du ção pri má ria e bio mas sa
de fito plânc ton e zoo plânc ton em lagos e repre sas.
Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
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198
Águas doces no Brasil
RESERVATÓRIOS DA BACIA DO TIETÊ
Cidades Hidrografia Barragens
Legenda:
Escala gráfica aproximada
Estado de São Paulo
Figura 11 - Sequência de reservatórios no Médio Tietê, onde os vários sistemas a jusante recebem impactos dos sistemas a montante.
0 250 km
Escala gráfica aproximada
Bacia do Tietê
0 400 km
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199
Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Tabela 2 - Principais funções de força em lagos, áreas alagadas e represas e seus efeitos ecológicos.
 Sistema Principal função de força Efeitos (exemplos de efeitos)
 Rio Amazonas Flutuações hidrométricas de 
 (várzea e lagos associados grande porte (10-15 metros), 
 aos tributários) ventos (estacionais ou diurnos) 
 
 
 Áreas alagadas Flutuações hidrométricas 
 Pantanal, várzeas do (2, 5, 7 metros) 
 Rio Paraná e tributários Ventos (estacionais ou diurnos) 
 
 
 
 Lagos do Rio Doce Radiação solar - aquecimento e 
 resfriamento térmico 
 
 
 Represas Tempo de retenção 
 (usos de águas) 
 Ventos (estacionais ou 
 variações diurnas) 
 Precipitação 
 Eutrofização cultural e 
 entrada rápida de poluentes 
FONTE: Tundisi, 1983.
Tabela 3 - Nutrientes, clorofila e produção primária (média anual e desvio padrão).
 Lago NIT µg-1 PTD µg-1 Chl a µgl-1 Produção primária Referências
 mgCm-2h-1
 R. Lagoa Dourada, SP 25,25 (9.48) 2,82 (2.09) 4,22 (0.82) 2,55 (1.58)* Talamoni (1995),Pompêo (1991)
 R. Broa, SP 42,15 (10.25) 7,94 (2.91) 10,05 (2.41) 13,98 (4.84) Matheus,
 Tundisi (1998)
 R. Monjolinho, SP 204,8 (287.68) 6,80 (8.48) 8,69 (8.50) - Nogueira (1990)
 R. Pedreira, SP 788,51 (57.24) 5,67 (4.55) 43,70 (3.85) 156,40 (19.36)** Talamoni (1995)
 R. Barra Bonita, SP 656,2 (811.50) 13,31 (3.98) 28,8 (45.92) 214,61 (150.91) Tundisi et al. (1990)
 R. Paranoá, DF 662,8 (366.01) 32,41 (7.18) 56,9 (21.10) 120,22 (77.18) Branco (1991)
 Toledo & Hay (1998)
 L. Dom Helvécio, MG 17,80 (18.12) 3,62 (2.97) 2,47 (1.16) 18,85 (8.67) Okano (1980), 
 Pontes (1980)
 L. Emboaba, RS 10,58 (14.93) 4,85 (4.36) 4,47 (3.60) - Spohr-Bacchin, 
 M. (1995)
 L. Caconde, RS 654,86 (206.64) 25,52 (4.88) 9,41 (3.91) 268,96 (222.04) Güntzel (unpubl.)
 R. Jacaré-Pepira, SP 12,4 (4.99) 1,13 (1.07) 1,71 (0.62) 4,05 (1.39) Claro (1978), 
 Franco (1982)
NIT = nitrogênio inorgânico total; PTD = fósforo total dissolvido.
* Três meses de estudo na represa Lagoa Dourada.
** Estudos de um mês na represa de Pedreira, em dias alternados. Dados transformados em unidades comparáveis, em alguns casos.
FONTE: Rocha e Matsumura-Tundisi, 1997.
Alterações na sucessão de espécies, na bio-
diversidade e na organização das comu-
nidades. Efeitos na biomassa.
Deslocamento da zona litoral. Efeitos fisi-
ológicos em animais e plantas.
Alterações no ciclo de nutrientes e na
biomassa. Turbulência em lagos. Alterações
diurnas na estrutura térmica do sistema.
Alterações na sucessão, organização das
comunidades. Alterações fisiológicas.
Estratificação térmica e destratificação
térmica sazonais. Distribuição vertical
de organismos. Padrões diurnos de circu-
lação vertical.
Alterações nos padrões de circulação vertical
horizontal. Modificações nos ciclos biogeo-
químicos, alterações na distribuição vertical e
horizontal de organismos. Gradientes de
densidade e temperatura. Efeitos de catás-
trofe no fito zoo e bactéria plâncton (abertura
das comportas).
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200
Águas doces no Brasil
Impactos, recu pe ra ção e con ser va ção de
ecos sis te mas aquá ti cos 
Impactos 
Os vas tos recur sos hídri cos do Brasil têm gran de
sig ni fi ca do eco ló gi co, eco nô mi co e social. O geren -
cia men to, con ser va ção e recu pe ra ção des ses sis te mas
é, por tan to, de impor tân cia fun da men tal para os refle -
xos na eco no mia, na área social e nos usos dos sis te mas
aquá ti cos. Esse geren cia men to é muito com ple xo,
depen den do de uma forte base de dados e de desen -
vol vi men to de meca nis mos de trans fe rên cia do conhe -
ci men to cien tí fi co bási co para a apli ca ção. Como há
gran des dife ren ças geo mor fo ló gi cas, eco ló gi cas e
antro po ló gi cas nas várias lati tu des no Brasil, essa ação
torna-se evi den te men te mais com ple xa, pois depen de
de uma base local ou regio nal de dados e infor ma -
ções cien tí fi cas com pa tí veis, com os sis te mas regio nais.
A explo ra ção dos recur sos hídri cos para pro du ção
de ener gia, bio mas sa, irri ga ção, supri men to da água
para os gran des cen tros urba nos deman da uma forte
arti cu la ção entre a base de pes qui sa e conhe ci men to
cien tí fi co acu mu la do e as ações de geren cia men to e
enge nha ria. Sem essa arti cu la ção que leve em conta a
qua li da de e a quan ti da de de água, muito pouco avan -
ço con cei tual pode ser rea li za do. Além disso, é pre ci so
levar em conta não somen te o sis te ma aquá ti co, mas a
bacia hidro grá fi ca na qual ele se inse re e os usos dessa
uni da de-bacia-hidro grá fi ca-rio-lago ou reser va tó rio.
Sem esse con cei to, há pouca pro ba bi li da de de um
geren cia men to efe ti vo do sis te ma (Tundisi, 1990;
Tundisi, 1994).
Principais impac tos 
A con tí nua inter fe rên cia das ati vi da des huma nas
nos sis te mas aquá ti cos con ti nen tais do Brasil pro du -
ziu impac tos dire tos ou indi re tos, com con se quên -
cia para a qua li da de da água, a biota aquá ti ca e o
fun cio na men to de lagos, rios e repre sas.
Desmatamento – Perda da zona tam pão entre
sis te mas ter res tres e aquá ti cos, aumen to do mate rial
par ti cu la do em sus pen são na água, perda de flo res tas
ripá rias e habi tats para as aves aquá ti cas, alte ra ções na
com po si ção do sedi men to dos sis te mas aquá ti cos.
Mineração – Ati vi da des de mine ra ção de ouro,
areia e bau xi ta pro du zi ram alte ra ções físi cas e quí -
mi cas extre ma men te ele va das nos sis te mas.
Acúmulo de mer cú rio tem sido outro pro ble ma
grave como con se quên cia da mine ra ção de ouro
(Lacerda, 1993; Lacerda & Solomons, 1998).
Construção de rodo vias e fer ro vias – Remo ção
de áreas ala ga das e flo res tas, alte ra ção nos rios e
lagos ao longo de obras rodo viá rias e fer ro viá rias.
Despejo de mate rial resi dual – Mate rial resi dual
pro ve nien te de fon tes orgâ ni cas e inor gân cias, resul -
tan tes de ati vi da des indus triais, agrí co las ou de resí -
duos domés ti cos, é outra fonte extre ma men te
impor tan te de polui ção e con ta mi na ção. Deve-se
dis tin guir entre fon tes pon tuais e não pon tuais de
poluen tes e con ta mi na ção.
Introdução de espé cies exó ti cas – A intro du ção
de espé cies exó ti cas de plan tas, pei xes e outros orga -
nis mos pro duz exten sas modi fi ca ções nas cadeias
Tabela 4 - Média anual do fitoplâncton (cel/l) e zooplâncton (ind/m3) densidade numérica para alguns lagos e
represas.
 Lago/reservatório Fitoplâncton Zooplâncton Referências
 média + DP média + DP 
 R. Lagoa Dourada, SP 5,90 x 104 ± 4,80 x 104 4,80 x 105 ± 4,20 x 105 Talamoni (1995), Pompêo (1991)
 R. Broa, SP 1,90 x 106 ± 2,30 x 105 9,90 x 106 ± 13,10 x 106 Matsumura-Tundisi & 
 Tundisi (1976)
 R. Monjolinho, SP 1,30 x 105 ± 2,40 x 105 4,10 x 105 ± 6,40 x 105 Nogueira (1990)
 R. Pedreira, SP 6,60 x 107 ± 1,80 x 106 1,05 x 106 ± 3,10 x 106 Talamoni (1995)
 R. Barra Bonita, SP 1,90 x 107 ± 6,80 x 106 8,50 x 104 ± 4,90 x 104 Thematic Project (umpubl, 1994)
 R. Paranoá, DF 4,00 x 107 ± 2,70 x 107 4,30 x 104 ± 2,60 x 104 Castelo-Branco (1991)
 L. Dom Helvécio, MG 2,60 x 106 ± 4,20 x 106 2,90 x 103 ± 2,70 x 102 Pontes (1995); Matsumura-Tundisi & Tundisi (1986)
 L. Emboada, RS 8,60 x 106 ± 8,60 x 106 6,70 x 105 ± 3,80 x 105 Spohr-Bacchin, M. (1995)
 L. Caconde, RS 1,60 x 107 ± 8,80 x 106 1,50 x 105 ± 8,40 x 104 Güntzel (unpubl.)
 R. Jacaré-Pepira, SP 2,50 x 105 ± 2,20 x 105 5,30 x 105 ± 7,10 x 104 Franco (1982); Claro (1978)
FONTE: Rocha e Matsumura-Tundisi, 1997.
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201
Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Consequências da eutrofização em lagos, represas, rios
ali men ta res, em lagos e reser va tó rios no Brasil. Por
exem plo, a intro du ção aci den tal ou pro po si tal de
Cicha occe la ris (tucu na ré) alte rou pro fun da men te as
 cadeias ali men ta res em lagos do Rio Doce (Tundisi
& Saijo, 1997).
Remoção de espé cies crí ti cas – Espé cies crí ti cas
que têm uma impor tân cia fun da men tal para as
 cadeias ali men ta res ou para a manu ten ção da bio di -
ver si da de sus ten ta da dos ecos sis te mas aquá ti cos,
podem ser remo vi das por pres são de pesca, caça ou
polui ção, pro du zin do gran des trans for ma ções no
sis te ma. A remo ção de várias espé cies de vege ta ção
ripá ria pro duz mui tas alte ra ções no sis te ma aquá ti -
co. Por exem plo, a remo ção de espé cies de vege ta -
ção, cujos fru tos ou folhas ser vem de ali men to para
pei xes, pode cau sar alte ra ções fun da men tais na
estru tu ra da comu ni da de bio ló gi ca em ecos sis te -
mas aquá ti cos.
Construção de reser va tó rios – A cons tru ção de
repre sas pro duz inú me ros impac tos no sis te ma, com
alte ra ções qua li ta ti vas e quan ti ta ti vas. Como con se -
quên cia des ses impac tos, os sis te mas aquá ti cos pas -
sam por inú me ras mudan ças estru tu rais e fun cio nais
(ver capí tu lo ante rior).
Consequências dos impac tos
Os impac tos acima des cri tos pro du zem inú me -
ras alte ra ções nos ecos sis te mas aquá ti cos, que cau -
sam modi fi ca ções dire tas ou com efei tos indi re tos.
As ava lia ções qua li ta ti vas e quan ti ta ti vas des ses
impac tos são parte muito impor tan te dos futu ros
estu dos, diag nós ti cos e ações estra té gi cas na pes qui -
sa ambien tal.
Eutrofização – O resul ta do das inú me ras des -
car gas de água con ta mi na da, poluí da, com alta
con cen tra ção de nitro gê nio e fós fo ro é um pro ces -
so ace le ra do de eutro fi za ção cul tu ral (ou seja, pro -
du zi da pelas ati vi da des huma nas). A eutro fi za ção
ace le ra o aumen to de maté ria orgâ ni ca nos sis te -
mas, pro duz con cen tra ções inde se já veis de fito -
plânc ton (com pre do mi nân cia de Cianofíceas) e
macró fi tas aquá ti cas (geral men te Eichchornia cras -
si pes e Pistia stra tioi des) e pro mo ve um aumen to de
doen ças de vei cu la ção hídri ca. O desen vol vi men to
das ati vi da des huma nas nas bacias hidro grá fi cas
tem aumen ta do as fun ções de trans fe rên cia de sis -
te mas ter res tres para sis te mas aquá ti cos e ace le ra do
os coe fi cien tes de expor ta ção. Perdas de solo
podem atin gir 20 ton/hec/ano. Acúmulo de fós fo ro
no sedi men to é comum.
Aumento do mate rial em sus pen são e asso rea -
men to –O uso ina de qua do do solo e prá ti cas agrí -
co las anti qua das pro du zem um enor me impac to
nos sis te mas aquá ti cos. Há um aumen to con si de -
rá vel do mate rial em sus pen são na água com as
seguin tes con se quên cias: redu ção da zona eufó ti ca;
redu ção da con cen tra ção de oxi gê nio dis sol vi do na
água; redu ção da pro du ção pri má ria fito planc tô ni ca;
mor ta li da de em massa de macró fi tas e mor ta li da de
em massa de pei xes. Além disso, ocor re um asso rea -
men to rápi do, dimi nuin do a capa ci da de de usos dos
lagos e repre sas.
Perda da diver si da de bio ló gi ca – A redu ção
drás ti ca da diver si da de bio ló gi ca em mui tos sis te -
mas, pro duz alte ra ções subs tan ciais nas cadeias tró -
fi cas e mudan ças na estru tu ra e fun ção dos sis te mas
aquá ti cos. Por exem plo, a remo ção de macró fi tas
• Aumento da concentração de nitrogênio e fósforo na
água (sob forma dissolvida e particulada).
• Aumento da concentração de fósforo no sedimento.
• Aumento da concentração de amônia e nitrito no sistema.
• Redução da zona eufótica.
• Aumento da concentração de material em sus pen são par-
ticulado de origem orgânica na água.
• Redução da concentração de oxigênio dissolvido na água
(principalmente durante o período noturno).
• Anoxia nas camadas mais profundas do sistema próximas
ao sedimento.
• Aumento da decomposição em geral do sistema e
emanação de odores indesejáveis.
• Aumento das bactérias patogênicas (de vida livre ou agre-
gadas ao material em suspensão).
• Aumento dos custos para o tratamento de água.
• Diminuição da capacidade de fornecer usos múlti plos
pelo sistema aquático.
• Mortalidade ocasional em massa de peixes.
• Redução do valor econômico de residências, e pro -
priedades próximas a lagos, rios ou represas eutrofizados.
• Alteração nas cadeias alimentares.
• Aumento da biomassa de algumas espécies de fito -
plâncton, macrofitas, zooplâncton e peixes.
• Em muitas regiões, o processo de eutrofização vem
acompanhado do aumento em geral, das doenças de
veiculação hídrica nos habitantes próximos dos lagos,
rios ou represas eutrofizadas.
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202
Águas doces no Brasil
aquá ti cas, emer sas ou sub mer sas das áreas ala ga -
das, inter fe re com a capa ci da de de des ni tri fi ca ção
do sis te ma.
Alterações no nível da água e no ciclo hidro ló -
gi co – Uma das con se quên cias mais drás ti cas das
modi fi ca ções pro du zi das pelos impac tos é a dimi -
nui ção da altu ra do nível da água com efei tos nos
rios, nos lagos adja cen tes e lagos mar gi nais, nas
águas sub ter râ neas e nas flo res tas ripá rias ao longo
de rios e áreas ala ga das.
Perda da capa ci da de tam pão – Áreas ala ga das,
flo res tas ripá rias, inter fa ces entre sis te ma ter res tres e
aquá ti cos são regiões tam pão que remo vem nitro gê -
nio (por deni tri fi ca ção) e fós fo ro (por pre ci pi ta ção e
com ple xa ção no sedi men to e agre ga do em par tí cu -
las às raí zes de macró fi tas). Além disso, pre ci pi tam
 metais pesa dos e com ple xam esses ele men tos.
Removem mate rial em sus pen são, impe din do seu
trans por te para os sis te mas aquá ti cos. O desa pa re ci -
men to des sas regiões tam pão por remo ção, mor ta -
li da de por con ta mi na ção exces si va, alte ra ção do
regi me hidro ló gi co, e outras cau sas, ace le ra a dete -
rio ra ção do sis te mas aquá ti cos.
Expansão geo grá fi ca de doen ças tro pi cais de vei -
cu la ção hídri ca – A cons tru ção de reser va tó rios,
 canais e mudan ças no regi me dos rios e áreas ala ga das
pro duzem mui tos impac tos rela cio na dos com a expan -
são de veto res de doen ças tro pi cais como a "esquis tos -
so mo se", a "leis hma nio se" e doen ças enté ri cas como
cóle ra, ame bía se e outras.
Toxicidade – Há um aumen to con si de rá vel da
toxi ci da de de todos os sis te mas aquá ti cos no Brasil.
Essa con ta mi na ção é con se quên cia do uso de pes ti -
ci das, her bi ci das, polui ção atmos fé ri ca e tam bém
em algu mas regiões de chuva ácida. Recentemente
Lacerda & Salomons (1998) publi ca ram uma sín te -
se sobre as con ta mi na ções pro du zi das por mer cú rio
nos sis te mas aquá ti cos ter res tres e tam bém con ta mi -
na ção atmos fé ri ca. A Tabela 5 mos tra a con cen tra -
ção de mer cú rio em teci do mus cu lar de pei xes. E a
Figura 12 mos tra o ciclo do mer cú rio nos sis te mas
ter res tres e aquá ti cos e em repre sas.
A Figura 13 mos tra os prin ci pais impac tos nos
sis te mas aquá ti cos, e as Figuras14, 15, 16 e 17 mos -
tram impac tos nos ciclos da água e os ciclos de sódio
e chum bo rela cio na dos com o ciclo da água.
Recuperação de ecos sis te mas aquá ti cos 
A recu pe ra ção de lagos, repre sas, rios e áreas ala -
ga das deman da um con jun to de ações inte gra das
que envol vem a bacia hidro grá fi ca, o ecos sis te ma
aquá ti co e seus com po nen tes, físi cos, quí mi cos e
Figura 12 - Ciclo de mercúrio em sistemas aquáticos e terrestres.
FONTE: Lacerda & Solomons, 1998.
´
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Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Tabela 5 - Concentração de mercúrio (*g g-1 peso úmido) em tecido muscular de peixes com diferentes hábitos
alimentares. Os dados e as áreas de concentrações, como eles se apresentam nos artigos originais, foram coleta-
dos de diferentes fontes literárias.
 Local Hábito Conteúdo de Hg Autores
 Rio Madeira, rio a cima/contra corrente de C 0,07-2,89 Martinelli et al. (1988);
Porto Velho, reserva de minério NC 0,02-0,65 Malm (1991)
 Rio Madeira, rio a baixo/correnteza a baixo C 0,67-1,47 Malm et al. (1990);
da reserva de minério NC 0,05-1,01 Martinelli et al. (1988)
 Região Poconé, mineração e resíduos C 0,06-0,68 Oliveira et al. (1990);
 NC <0,04-0,16 CETEM (1989)
 Rio Paraíba do Sul, SE do Brasil C 0,16-0,37 Lima et al. (1990);
 NC 0,01-0,22 Pfeiffer et al. (1989)
 Rio San Juan, Choco, Colômbia C 0,66-1,26 CODECHOCO (1991)
 NC 0,04-1,87
 Região de minério do Rio Teles Pires, C 0,05-3,82 Farid (1991);
sul do Amazonas, Brasil NC 0,02-0,19 Akagi et al. (1994)
 Represa Tucuruí, SE do Amazonas, Brasil C 0,99-2,90 Aula et al. (1994)
 NC 0,05-0,60
 Distrito de minério Carajás, SE do C 0,11-2,30 Lacerda et al. (1994)
Amazonas, BrasilNC <0,01-0,31
 Rio Tapajós, SE do Amazonas, Brasil C 0,04-2,58 Akagi et al. (1994); 
 NC 0,01-0,31 Rodrigues et al. (1992)
 Rio Lerderderg, Victoria, Austrália C 0,03-0,64 Bycroft et al. (1982)
 Davao del Norte, Filipinas C 0,05-2,60 Torres (1992)
 Rio Negro, Amazonas, Brasil C ?-4,20 Malm et al. (1994); 
 NC 0,14-0,35 Forsberg et al. (1994)
 Rio Cuyuní, Guyana, Venezuela C 0,07-0,86 Nico and Taphorn (1994)
 NC <0,03-0,24
 Rios do Amazonas não contaminados C <0,17 Pfeiffer et al. (1989)
 NC <0,10
C = carnívoros; NC = não carnívoros de várias áreas de mineração.
FONTE: Lacerda & Solomons, 1998.
Tabela 6 - Distribuição de mercúrio em compartimentos bióticos e abióticos da represa de Tucuruí, sudeste do
Amazonas.
 Compartimento Área de concentração de Média (quando disponível
 Hg (µg/kg) (µg/kg)
 Partículas suspensas 59-300 -
 Sedimentos do fundo 37-130 -
 Macró fitas aquáticas 30-120 -
 Invertebrados aquáticos 11-170 57
 Mamíferos aquáticos 7-26 15
 Jacaré 1700-3600 1900
 Peixes 60-2600 -
 Cabelo humano 6-241 65
FONTE: Lacerda & Solomons, 1998.
bio ló gi cos. Essa recu pe ra ção tem as seguin tes eta pas
bem defi ni das:
• diag nós ti co ini cial do sis te ma e seu está gio de
con ta mi na ção ou degra da ção;
• diag nós ti co dos cus tos e per das envol vi das com os
pro ces so de degra da ção, depre cia ção em pro prie da -
des, per das da bio di ver si da de e per das de pro ces sos;
• ava lia ção das alter na ti vas para a recu pe ra ção e
cus tos da recu pe ra ção.
Várias téc ni cas de recu pe ra ção de lagos e repre -
sas foram uti li za das e publi ca ções sobre estu dos de
casos e pro ces sos gerais de res tau ra ção foram fei tas
por Vollenweider (1987), Rast et al. (1989),
Cairns et al. (1992) e Cooke et al. (1993).
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Águas doces no Brasil
Figura 13 - Principais processos de contaminação e poluição das águas e suas consequências.
FONTE: Ilec, 1996.
Transporte de
superfície alterado
Degradação da
qualidade da água
Diminuição dos
recursos hídricos
Aumento do materi-
al em suspensão
Declínio do
nível de água
Contaminação
tóxica Eutrofização Acidificação
Uso excessivo do solo,
desmatamento, agricultura não
sustentável
Uso excessivo de águas
Industrialização
Perda da diversi-
dade biológica
Desaparecimento
dos ecossistemas e
da biota
Perturbação e dete-
rioração da pesca
Aumento de população conse-
quência da economia global
Figura 14 - Esta figura mostra os materiais naturais transportados pelos rios que são de origem diversa e que constituem um desenho
básico do ciclo biogeoquímico dos elementos. Erosão mecânica das rochas vulcânicas (1), plutônicas (2) e sedimentares (3), das
entradas atmosféricas de origem vulcânica (4), oceânica (5) e terrestre (6 e 7) e dalavagem dos rolos orgânicos (8). Uma vez na rede
hidrográfica, esses elementos estão submetidos a processos de intercâmbios com os aluviais (10), as zonas úmidas próximas aos rios
(11), a atmosfera (12) e a processo internos (13), biológicos e físicos. Na interface oceano-continente (14), os aportes fluviais estão
também submetidos a variados intercâmbios químicos.
FONTE: Meybeck, 1990.
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Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Figura 15 - A contaminação das águas superficiais tem-se diversificado sob os efeitos do desmatamento (1), a erosão antrópica (2), da construção de
represas (3), canalização (4), colmatação de áreas alagadas (5), agricultura tradicional (6), tratamento individual de águas servidas (7) têm impactos
limitados na qualidade das águas. A agricultura industrial (9) e a irrigação maciça (8) têm grande impacto; as águas residuais são dirigidas para as
redes hidrográficas com ou sem depuração das indústrias (10), as cidades (14), as minas (16) e as centrais nucleares (18). A contaminação atmosférica
(19) procedente de origens múltiplas (11,12, 13) também tem um impacto nas águas superficiais. A eutrofização afeta lagos, represas e rios (20 e 21).
As águas pluviais das cida des (22) e os acidentes (23) produzem contaminações de curta duração, muitas vezes graves. A contaminação das águas subter -
 râneas pela aquicultura, (9) a cidade e a indústria (15) ou a mineração acabam por chegar às águas superficiais.
FONTE: Meybeck, 1990.
Figura 16 - Os aportes fluviais permitem reconstruir o ciclo externo dos elementos e sua modificação em escala global pelas atividades humanas. Os aportes
naturais de sódio são de 385.106 ton/ano. A figura mostra os vários componentes do ciclo. Em 1970, o conjunto das atividades humanas aportavam
78.106 ton/ano de sódio dissolvido. Em 1990, esses aportes já eram de 150 x 106 ton/ano.
FONTE: Meybeck, 1990.
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Águas doces no Brasil
Em todas as expe riên cias sobre recu pe ra ção de
lagos e repre sas, ficou evi den te que cada sis te ma
neces si ta de um tra ta men to espe cial e de sis te mas
de moni to ra men to, ava lia ção e mode la gem mon -
ta dos para cada lago, repre sa ou área ala ga da. A
tabe la reti ra da de Ryding & Rast (1989) mos tra
os prin ci pais pro ble mas tra ta dos com as téc ni cas
de res tau ra ção de lagos.
No Brasil, há um con jun to gran de de repre -
sas, lagos, rios que neces si tam de pro gra mas
inten si vos de pro te ção, con ser va ção e tam bém,
em mui tos casos, de recu pe ra ção. Alguns exem -
plos são:
Represas urbanas
Lago Paranoá – Brasília
Represa Pampulha – Belo Horizonte
Represa Billings – São Paulo
Represa Guarapiranga – São Paulo
Represa Jundiaí – São Paulo
Represa Taiaçupeba – São Paulo
Represas de abastecimento de água de Salvador –
Bahia
Hidrovias
Hidrovia do Tietê – Paraná
Hidrovia do Paraguai – Paraná
Lagoas costeiras
Lagoas costeiras do Rio Grande do Sul
Lagoas costeiras do Estado do Rio de Janeiro
Lagos dos lençóis maranhenses
Rios
Rios de cerrado, rios de região costeira
Áreas alagadas
Áreas alagadas do Rio Paraná
Pantanal mato-grossensse
Ecossistemas de interface
Regiões de mangue
Regiões estuarino-lagunares
Figura 17 - Os compostos de chumbo são menos solúveis e mais voláteis. Os aportes naturais são 95% em forma particulada (330 x 103
ton/ano). A erosão mecânica das rochas é a fonte principal. As atividades humanas mobilizam aproximadamente 1.150.103 ton/ano de
chumbo. A maior parte do chumbo mobilizado, permanece nos solos, nos vertedouros e especialmente nos resíduos de mineração.
FONTE: Meybeck, 1990.
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Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Gerenciamento de lagos, rios, repre sas e
áreas ala ga das
O geren cia men to de ecos sis te mas aquá ti cos con -
ti nen tais requer con tí nuas ações inte ra ti vas e inte -
gra do ras que envol vem os seguin tes aspec tos:
a) geren cia men to das bacias hidro grá fi cas e seus
prin ci pais com po nen tes: solo, vege ta ção,
con tro le de fon tes pon tuais e não pon tuais
de poluen tes e de nitro gê nio e fós fo ro;
b) geren cia men to in situ do sis te ma aquá ti co e
medi das ade qua das para con ser va ção, pro te -
ção e recu pe ra ção. É fun da men tal cen trar o
geren cia men to em con tro le de pro ces sos,
redu ção das entra das e uso de téc ni cas ade qua -
das para a mani pu la ção in situ nos sis te mas;
c) ela bo ra ção de novas meto do lo gias ade qua das
a cada sis te ma, com preen den do as seguin tes
eta pas: moni to ra men to, con tro le, uso e tra ta -
men to dos resul ta dos, banco de dados, mode -
la gem eco ló gi ca e de implan ta ção de sis te mas
de supor te à deci são com base nes ses dados.
A mode la gem eco ló gi ca é uma das impor tan tes
fer ra men tas do sis te ma com con di ções ade qua das para
prog nós ti cos e alter na ti vas de con tro le e recu pe ra ção.
Um outro com po nen te fun da men tal do sis te ma
de geren cia men to é a ela bo ra ção de solu ções geren -
ciais con ser va do ras, e as do tipo eco cên tri cas, em
que a capa ci da de de pro du zir prog nós ti cos e pro cu -
rar solu ções alter na ti vas é impor tan tís si ma.
O efeito da eutrofização na emissão de
gases de efeito estufa para a atmosfera
O lançamento de esgotos domésticos em sistemas
aquáticos é considerado como um dos maiores cau-
sadores da eutrofização em sistemas aquáticos no
Brasil, principalmente aqueles produzidos em
grandes áreas urbanas. Isso se deve principalmente à
ineficiência ou mesmo à inexistência de tratamento
adequado no País, o qual resulta em um elevado
aporte de matéria orgânica e de nutrientes nos sis-
temas aquáticos. Em um levantamento realizado
pelo Projeto Brasil das Águas (Abe et al. 2006), no
qual foram amostrados 1.162 pontos em corpos de
água do território brasileiro utilizando um avião
anfíbio, verificaram-se que as maiores concentrações
de fósforo total foram observadas nos corpos de água
localizados nas regiões hidrográficas Nordeste
Oriental, Costeira Sul, Costeira Sudeste, Paraná e
Costeira Leste, as quais apresentam maior densidade
demográfica, cuja população representa 75 % do
total nacional.
Tabela 7 - Problemas da qualidade da água.
 Medida de Odores Mortalidade Algas Interferên- Redução Crescimento Água de abas- Florescimen- 
 controle de peixes tóxicas cia com da pesca excessivo tecimento de tos excessivos 
 natação comercial de macrófitas baixa qualidade de algas
 Dragagem X X X
 Aeração X X X X 
 hipolimnética
 Inutiunção de X X X X
 nutrientes
 Alteração da X X X
 circulação
 Algicidas X X
 Biomanipulação X XX X
 Diluição/aumento X X X X
 do fluxo
 Remoção de águas X X X 
 hipolimnéticas
 Secagem do lago X X X
 Coleta de biomassa X X X
 Cobertura de X X 
 sedimentos 
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Águas doces no Brasil
Além dos impactos resultantes do aumento da
eutrofização cultural em sistemas aquáticos já evi-
denciados neste capítulo, tais como a redução da
zona eufótica, o surgimento de florações de ciano-
bactérias potencialmente tóxicas, o crescimento
excessivo de macrófitas aquáticas, a anoxia e a mor-
tandade de peixes, existe o fato de que o incremento
das cargas de matéria orgânica e de nitrogênio nos
corpos de água pode promover, também, o aumento
da produção e da emissão de gases de efeito estufa.
Com entrada de esgotos domésticos sem tratamento
em um reservatório, por exemplo, ocorre um aumen-
to significativo na concentração de carbono,
nitrogênio e fósforo no sistema que, por sua vez, induz
o aumento da biomassa autóctone na coluna de água.
Com o afundamento da biomassa na forma de
organismos mortos ou partículas fecais, ocorre um
aumento no acúmulo de matéria orgânica nos sedi-
mentos. A precipitação exerce forte influência no
aporte de material orgânico no sistema, porém de
origem alóctone, e que, em grande parte, também
será depositado nos sedimentos. Com o acúmulo de
matéria orgânica nos sedimentos, haverá um aumen-
to na ciclagem de carbono, nitrogênio e fósforo medi-
ada por microorganismos e que, em última instância,
resulta na produção, no acúmulo e, consequente-
mente, na emissão de gases naquele compartimento.
Um diagrama esquemático do processo está apresen-
tado na Figura 19.
Dentre esses gases, o CO2, o CH4 e o N2O têm
recebido maior ênfase nos últimos anos visto que as
concentrações atuais desses gases na atmosfera exce-
dem em muito os valores pré-industriais observados
em registros de testemunhos de gelos polares da
composição atmosférica datando 650.000 anos.
Várias linhas de evidência confirmam que o aumen-
to pós-industrial desses gases não decorre de meca-
nismos naturais (IPCC, 2007). Com a alteração da
climatologia global, em grande parte causada pela
emissão crescente de gases de efeito estufa originária
de atividades antrópicas, são previstos impactos sig-
nificativos no território brasileiro, tais como: redução
do excedente hídrico em todas as grandes bacias,
com quedas na geração de hidroeletricidade, em
Figura 18 - Relação entre densidade demográfica e concentração média de fósforo total nas regiões hidrográficas brasileiras. *: dados do
Censo 2000 do IBGE. **: dados obtidos em 1162 pontos nos corpos de água em todo o território brasileiro pelo Projeto Brasil das Águas. 
FONTE: Adaptado de Abe et al. (2006).
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Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Figura 19 - Diagrama esquemático do efeito da eutrofização na emissão de gases de efeito estufa em reservatórios. 
FONTE: Abe et al. (2008).
especial na Bacia do rio São Francisco (Salati et al.
2009; Schaeffer et al. 2008), assim como perdas muito
significativas na produção agrícola, sendo que a soja
será a cultura mais afetada (EMBRAPA, 2008).
Estudos realizados por Abe et al. (2008) de-
monstraram que reservatórios mais eutrofizados
apresentam maiores fluxos difusivos de gases de
efeito estufa quando comparados com reservatórios
menos eutrofizados. No reservatório de Furnas, no
Estado de Minas Gerais, por exemplo, verificaram-
-se concentrações de matéria orgânica, nitrogênio
total Kjeldhal e de fósforo total superiores no braço
Sapucaí quando comparado com os valores obser-
vados no braço Grande. O braço Sapucaí do reser-
vatório de Furnas se encontra mais impactado em
relação ao braço Grande por concentrar um maior
número de áreas urbanas na sua bacia, havendo,
portanto, uma maior contribuição das cargas
orgânica e de nutrientes para o braço. Como con-
seqüência, foram observados fluxos difusivos de
CO2 e CH4 superiores no braço Sapucaí em com-
paração com os valores observados no braço
Grande (Abe et al. 2008). 
A influência do estado trófico de um reservatório
se tornou ainda mais evidente em um estudo reali-
zado por Abe et al. (2003) e Abe et al. (2009) nos
reservatórios do médio rio Tietê, no Estado de São
Paulo. Ao atravessar a Região Metropolitana de
São Paulo, o rio Tietê recebe cargas muito significa-
tivas de esgotos domésticos sem tratamento, cujo
impacto se estende a centenas de quilômetros à ju-
sante na sua porção média, decaindo gradualmente
pelo processo de autodepuração do rio. Como conse-
qüência, os reservatórios do médio Tietê dispostos em
cascata apresentam um gradiente decrescente de
eutrofização, ou seja, o reservatório de Barra Bonita é
classificado como eutrófico-hipereutrófico, o reser-
vatório de Ibitinga como eutrófico e o reservatório de
Promissão como oligotrófico-mesotrófico (Figura 20).
Tendo em vista essas características do médio rio
Tietê, foi realizado um estudo para a quantificação
das emissões de gases de efeito estufa ao longo des-
ses três reservatórios. Os autores verificaram que os
fluxos máximos de CH4, CO2 e N2O foram obser-
vados no reservatório de Barra Bonita, ou seja, o
mais eutrofizado, sendo que os menores fluxos
foram observados no reservatório de Promissão, o
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Águas doces no Brasil
menos eutrofizado dentre os três sistemas estudados
(Figura 21). Em termos de CO2, os reservatórios de
Ibitinga e Promissão atuaram como sumidouros
desse gás. Os autores também observaram que os
fluxos difusivos de CH4 e N2O apresentaram alta
correlação com as concentrações de fósforo total e
de nitrogênio total nos diferentes reservatórios, o
que demonstra que as taxas de emissão destes gases
estão diretamente relacionadas ao grau de eutrofiza-
ção do sistema.
Figura 20 - Concentrações médias anuais de fósforo total e nitrogênio total na água ao longo dos reservatórios do médio rio Tietê. 
FONTE: Adaptado de Abe et al. (2008).
Figura 21 - Concentrações médias anuais de fósforo total e nitrogênio total na água ao longo dos reservatórios do médio rio Tietê. 
FONTE: Adaptado de Abe et al. (2008).
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Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Porém, deve-se considerar que as elevadas emis-
sões de gases de efeito estufa observadas no reser-
vatório de Barra Bonita no médio rio Tietê, bem
como no braço Sapucaí no reservatório de Furnas,
não podem ser atribuídas apenas ao efeito do barra-
mento desses rios, visto que grande parte do mate-
rial causador dessas emissões é proveniente das
atividades antrópicas fora do reservatório, nesses
casos, do aporte de efluentes domésticos sem trata-
mento de grandes áreas urbanas nos principais rios
formadores. Certamente as emissões seriam
menores caso não houvesse tais barramentos, uma
vez que o rio teria uma condição lótica e menos
favorável para o acúmulo de materialorgânico no
leito e, consequentemente, para a produção de gases.
Portanto, os barramentos contribuem, de alguma
forma, à maior emissão de gases de efeito estufa
nesses rios. Por outro lado, deve-se considerar fun-
damentalmente que as elevadas emissões têm sua
origem à falta de gerenciamento adequado dos
recursos hídricos à montante dessas bacias e não
apenas à presença dos reservatórios em si. Caso
houvesse tratamento satisfatório de esgotos domés-
ticos e industriais na Região Metropolitana de São
Paulo, por exemplo, as emissões de gases de efeito
estufa no reservatório de Barra Bonita seriam
semelhantes ou até inferiores às emissões obser-
vadas no reservatório de Promissão. 
Esses resultados demonstram que o gerenciamento
dos recursos hídricos visando a redução da eutrofiza-
ção se torna imperativo não apenas para evitar os
problemas mais evidentes, tais como mortandade de
peixes e florescimento de cianobactérias potencial-
mente tóxicas, mas também para evitar o aumento da
emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera e,
consequentemente, contribuindo ainda mais para o
aquecimento global (Tundisi et al., 2006).
Figura 22 - Correlação entre o nitrogênio total, o fósforo total e as taxas de emissão de CH4 e N2O através da interface água-ar nos reser-
vatórios do médio rio Tietê. 
FONTE: Sidagis-Galli et al. (2009).
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212
Águas doces no Brasil
Lago Paranoá: Um exemplo de recupe-
ração por Ecotecnologia
Histórico e tratamento terciário dos esgotos:
O Lago Paranoá foi um dos muitos exemplos de
reservatórios urbanos tropicais que teve a qualidade
das suas águas severamente deteriorada por um ace-
lerado processo de eutrofização. Este reservatório
(15º 47’ S, 47º 48’ W; 38 km2 de espelho d’água,
profundidade média de 14 m, e tempo de residência
de 299 dias) foi criado em 1959, a jusante da nova
Capital Federal, como alternativa de recreação dos
brasilienses e para melhoria do microclima local,
geração de energia e recebimento de efluentes e
drenagem pluvial de Brasília (Figura 23). Especial-
mente durante as décadas de 1970 a 1990, o lago
recebeu aportes crescentes de nutrientes, oriundos
de esgotos brutos e não convenientemente trata-
dos, responsáveis pelo aparecimento dos sintomas
indesejáveis da eutrofização, i.e., florações de Cia-
nobactérias (especialmente Microcystis aeruginosa e
Cylindrospermopsis raciborskii) e causando mortan-
dades de peixes, principalmente as espécies exóti-
cas carpa comum (Cyprinus carpio) e as tilápias
(Oreochromis niloticus e Tilapia rendalli), por déficit
de oxigênio dissolvido (Starling et al., 2002). A
sinergia entre o agravamento do processo de eutrofiza-
ção e a proliferação de peixes onívoros como as tilápias,
levou o Lago Paranoá a experimentar uma situação de
ampla dominância destes peixes exóticos (representan-
do mais de 90% das capturas da pesca informal) e
atingindo biomassas da ordem de 791 kg ha–1 ou 355
toneladas no Braço do Riacho Fundo e 564 kg ha–1 ou
304 toneladas no Braço do Bananal (Lazzaro et al.,
1998; Lebourges-Dhaussy et al., 1999 a,b). 
O Programa de Despoluição do Lago Paranoá,
implantado a partir de meados da década de 1990,
concentrou esforços em atuar tanto no controle do
aporte externo de fósforo (fator limitante ao cresci-
mento do fitoplâncton) como também no seu aporte
interno, tendo em vista o papel da superpopulação de
peixes onívoros na reciclagem de fósforo do sedimento
para a coluna d’agua (Starling, 1998). 
A tecnologia de tratamento terciário dos esgotos
adotada foi Sul-africana, denominada “Phoredox” ou
Bardenpho Modificado, capaz de remover a matéria
orgânica e os nutrientes por meio biológico, através da
passagem dos microrganismos por diferentes ambien-
tes no reator. Após a última etapa de polimento final
Figura 23 - Localização do Lago Paranoá no Distrito Federal, indicando as áreas dos Braços do Riacho Fundo, Gama, Torto, Bananal
e Barragem bem como a localização das Estações de Tratamento de Esgotos Sul (ETE-Sul) e Norte (ETE-Norte).
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213
com sulfato de alumínio férrico, é alcançada uma
remoção de 97% de DBO, e de 90% a 95% do
nitrogênio e do fósforo presentes no esgoto bruto
afluente. (Burnnet et al., 2001). Foram feitos também
investimentos em novas elevatórias e na ampliação da
malha de interceptores e redes coletoras de esgotos dis-
tribuídas por toda a cidade de Brasília e suas cidades
satélites. A Nova Estação de Tratamento de Esgotos
Sul (ETE-Sul) passou a ter a capacidade de tratar, a
nível terciário, uma vazão de entrada de esgotos da
ordem de 1.500 L/s enquanto a nova Estação de
Tratamento de Esgotos Norte (ETE-Norte) ampliou
sua capacidade para 920 L/s.
Com a inauguração de duas novas Estações de
Tratamento de Esgotos nos anos de 1993 (ETE-
Sul) e 1994 (ETE-Norte), houve uma redução de
70% no aporte externo de fósforo ao Lago Paranoá,
passando de 418 kg/dia em 1992 para níveis próxi-
mos de 100 kg/dia a partir de 1995 até os dias atuais
(Figura 24). No entanto, este dramático corte nas
cargas de fósforo aportadas ao lago não se refletiu
prontamente nas esperadas quedas da concentração
de fósforo e da biomassa algal na coluna d’água bem
como no aumento da transparência da água nos
primeiros anos que se seguiram (Cavalcanti et al.
1997), sendo esta uma evidência da importância do
aporte interno de nutrientes para sustentar o proces-
so de eutrofização do reservatório. 
Somente a partir da adoção de medidas comple-
mentares de manejo baseadas tanto na ecohidrologia
(manejo do tempo de residência) e na biomanipu-
lação (controle do aporte interno de nutrientes via
peixes) que o Lago Paranoá sofreu uma profunda
transformação, consolidando um processo sustentá-
vel de oligotrofização.
Ecohidrologia: Manejo do tempo de residência
A idéia de utilizar o deplecionamento do Lago
Paranoá ao final da estação seca como medida de
manejo para melhoria da qualidade da água foi conce-
bida em 1990 a partir de uma manobra operacional
da Companhia Energética de Brasília (CEB) que
resultou em melhorias apreciáveis, mas transitórias, na
qualidade da água do reservatório. Com base na nítida
correlação entre o tempo de retenção hidráulico do
lago e a produtividade primária do fitoplâncton, a
CAESB propôs em 1994 que fosse adotada mani-
pulação do tempo de residência do lago como medi-
da de manejo para restauração da qualidade da água
(Burnnet et al., 2001). 
No final da estação seca de 1998, coincidindo
com o fim do período de circulação anual da coluna
d’água do lago e re-alimentação da zona eufótica
com nutrientes de fundo, houve uma elevação mais
acentuada do tempo de residência do lago para níveis
superiores a 800 dias. Nestas circunstâncias, as mi-
croalgas são estimuladas à elevação da sua biomassa
pelo aumento da insolação numa condição de maior
estagnação da água e enriquecimento nutricional.
Imediatamente após este crescimento maciço do
Limnologia de águas interiores: impactos, conservação e recuperação de ecossistemas aquáticos
Figura 24 - Evolução das Cargas Pontuais Globais de Fósforo Total, aportadas ao Lago Paranoá desde 1992 até 2012. 
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Águas doces no Brasil
fitoplâncton, ocorreu a repentina descarga (ou flu-
shing) sendo a água enriquecida com microalgas e
nutrientes prontamente liberada para jusante, tendo o
volume do lago sido imediatamente restabelecido a
partir do aporte de água de chuva. A Figura 25 mostra
a resposta da biomassa algal do mês subsequente frente
às oscilações sazonais do tempo de residência do Lago
Paranoá, manejado pela Companhia Energética de
Brasília (CEB). Nota-se claramente que no final do
ano de 1998, houve uma intensificação do processo de
manejo do tempo de residência que desestabilizou a
biomassa fitoplanctônica,

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